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FMN – Curso de Psicologia
Disicplina – Ciência e Profissão
Profa – Angela Marques
MAIS OBJETIVIDADE
 Cleto Brasileiro Pontes[1: Médico psiquiatra, professor do Curso de Medicina da Universidade Federal do Ceará.]
	Os jovens nas décadas de 60 e 70 do século passado eram mais românticos e ávidos por liberdade do que os de hoje. Nós, estudantes de Psiquiatria, além da repressão do Estado, éramos blindados por correntes como marxismo e freudismo. Relendo a história, ambas eram anárquicas nos âmbito social e intelectual. Aliás, o pensador francês Edgar Morin foi feliz em afirmar que, apesar da ciência ter sido o ápice do saber humano, ela é a arte de mentir e aceitar ser reformulada.
	No ardor juvenil, nós deliramos como dom Quixote de Cervantes com as ideias do colega Franco Basaglia. A lei 180, de 1978, determinava o fechamento dos hospitais psiquiátricos públicos do seu país. Verdadeiramente um gozo edipiano cujo resultado foi pior do que a emenda no soneto. Moral da história: hoje, os hospitais psiquiátricos estão sucateados e no Ceará o bicho pegou. Retornamos à Idade Média com a miséria nos leitos hospitalares e nos ambulatórios, maquiados com a sigla Centro de Atenção Psicossocial (Caps).
	Sendo mais pragmático, podemos perceber uma saída pelo menos na área jurídica. Na década de 1970, a Central de Medicamento foi constituída pelo Governo Federal com objetivo de disponibilizar medicação de alto custo. No fim de 1998, o Ministério da Saúde aprovou a Política Nacional de Medicamentos e a Portaria nº 3916 ditando o seguinte princípio: “garantir a necessária segurança, eficácia e qualidades destes produtos, a promoção do uso racional e o acesso da população àqueles considerados essenciais”. Em 2000 foi criada a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Em agosto de 2011, sob forma de Resolução Normativa 262, reforçou a obrigatoriedade de pagamento pelo atendimento e acompanhamento em hospital-dia psiquiátrico (Caps) por parte dos planos de saúde. Vale ressaltar que o brasileiro é o segundo maior consumidor de planos de saúde do mundo, só perdendo apenas para os EUA. São 48 milhões de usuários de planos de saúde, dentre eles, dois milhões são pacientes psiquiátricos.
	Mais pragmático do que romântico, tento passar esses e outros dados aos nossos pacientes e parentes de transtorno mental. A ideia é utilizar ferramentas legais a fim de lutar pelos nossos direitos, nas arenas pública e privada. Se existem leis e resoluções, que elas de fato efetivadas.
	Como não há paraolimpíadas para portadores de transtornos mentais, como existe para deficientes visuais, cadeirantes e outros, sem necessidade de espetacularizar, vamos lutar pelo fim da estigmatização do doente psiquiátrico. É uma postura proativa diferente das demagógicas cotas racistas, buscando sinalizar uma ascensão social.
	Por outro lado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, além de continuar focando burocraticamente pela feitura dos receituários, como a caligrafia correta e legível dos médicos, deve cumprir com a sua função de controle e qualidade dos remédios similares e genéricos, vendidos em farmácias e registros nos serviços públicos de saúde. Infelizmente, a impressão que tenho é que o maior inimigo do Brasil são alguns brasileiros que agem de forma nada ética.

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