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Programa Médicos pelo Brasil EIXO 4 | ATENÇÃO À SAÚDE Abordagem a problemas de vias urinárias MÓDULO 21 Programa Médicos pelo Brasil EIXO 4 | ATENÇÃO À SAÚDE Ministério da Saúde Universidade Federal do Maranhão - UFMA 2022 Abordagem a problemas de vias urinárias MÓDULO 21 Instituições patrocinadoras: Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Ministério da Saúde Secretaria de Atenção Primária à Saúde (SAPS) Secretaria-Executiva da Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS) Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Universidade Federal do Maranhão (UFMA) Diretoria de Tecnologias na Educação (DTED/UFMA) Universidade Aberta do SUS da Universidade Federal do Maranhão (UNA-SUS/UFMA) B823a Brasil. Ministério da Saúde. Abordagem a problemas de vias urinárias [módulo 21] / Ministério da Saúde, Universidade Federal do Maranhão. Brasília :Fundação Oswaldo Cruz, 2022. Inclui referências. 95p. : il., tabs., organogs., color. (Programa Médicos pelo Brasil. Atenção à saúde ; 4). ISBN: 978-65-88309-22-3 1. Sistema urinário. 2. Atendimento clínico. 3. Sistema Único de Saúde.5. UNA-SUS. I. Título II. Universidade Federal do Maranhão. III. Série. CDU 610 Bibliotecário: Fhillipe de Freitas Campos | CRB1 3282 Ficha Técnica © 2022. Ministério da Saúde. Sistema Universidade Aberta do SUS. Fundação Oswaldo Cruz. Universidade Federal do Maranhão. Alguns direitos reservados. É permitida a reprodução, disseminação e utilização dessa obra, em parte ou em sua totalidade, nos termos da licença para usuário final do Acervo de Recursos Educacionais em Saúde (ARES). Deve ser citada a fonte e é vedada a sua utilização comercial. Referência bibliográfica MINISTÉRIO DA SAÚDE. UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO. Abordagem a problemas de vias urinárias [módulo 21]. In: MINISTÉRIO DA SAÚDE. Programa Médicos pelo Brasil. Eixo 4: atenção à saúde. Brasília: Ministério da Saúde, 2022. 95 p. Ministério da Saúde Marcelo Antônio Cartaxo Queiroga Lopes | Ministro Secretaria de Atenção Primária à Saúde (SAPS) Raphael Câmara Medeiros Parente | Secretário Departamento de Saúde da Família (DESF) Renata Maria de Oliveira Costa | Diretor Coordenação Geral de Provisão de Profissionais para Atenção Primária (CGPROP) Carlos Magno dos Reis Venturelli | Coordenador Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Nísia Trindade Lima | Presidente Secretaria-executiva da Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS) Maria Fabiana Damásio Passos | Secretária-executiva Coordenação de Monitoramento e Avaliação de Projetos e Programas (UNA- SUS) Alysson Feliciano Lemos | Coordenador Assessoria de Planejamento (UNA-SUS) Sybele Avelino Pereira Assessoria Pedagógica UNA-SUS Márcia Regina Luz Sara Shirley Belo Lança Vânia Moreira Revisão Ministério da Saúde - Secretaria de Atenção Primária à Saúde Luciana Guimarães Nunes de Paula Revisão Técnico-Científico UNA-SUS Paula Zeni Miessa Lawall Rodrigo Pastor Alves Pereira Rodrigo Luciano Bandeira de Lima Universidade Federal do Maranhão - UFMA Natalino Salgado Filho | Reitor Diretoria de Tecnologias na Educação – DTED/UFMA Ana Emilia Figueiredo de Oliveira | Diretora Coordenação da UNA-SUS/UFMA Ana Emilia Figueiredo de Oliveira | Coordenadora Geral Universidade Federal do Maranhão (UFMA) Diretoria de Tecnologias na Educação – DTED/UFMA Universidade Aberta do SUS da Universidade Federal do Maranhão – UNA-SUS/UFMA Endereço: Avenida dos Portugueses, 1966, Bacanga. Cidade/Estado: São Luís - MA. 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Unidade 1 - Infecções do trato urinário Introdução da unidade 1.1 Cistite 1.1.1 Diagnóstico 1.1.2 Investigação e exames complementares 1.1.3 Abordagem terapêutica 1.1.4 Cistites não complicadas recorrentes 1.2 Prostatite 1.2.1 Investigação e exames complementares 1.2.2 Diagnóstico 1.2.3 Abordagem terapêutica 1.3 Pielonefrite 1.3.1 Investigação e exames complementares 1.3.2 Diagnóstico 1.3.3 Abordagem terapêutica 1.4 Uretrite 1.4.1 Diagnóstico 1.4.2 Investigação e exames complementares 1.4.3 Abordagem terapêutica 1.5 Bacteriúria assintomática 1.5.1 Indicações de abordagem terapêutica 1.6 Potenciais complicações para ITUS Fechamento da unidade 2. Unidade 2 - Cólica renal Introdução da unidade 2.1 Epidemiologia da nefrolitíase e da cólica renal 2.2 Sinais e sintomas de cólica renal 2.3 Investigação, função e interpretação dos exames complementares 2.4 Abordagem do quadro agudo na APS 2.5 Critérios para encaminhamento para outros níveis de atenção Fechamento da unidade 3. Unidade 3 - Afecções relacionadas à próstata 10 12 13 13 14 14 16 17 19 19 21 22 27 27 28 28 29 29 31 31 34 34 35 36 37 37 38 40 41 43 47 48 49 Introdução da unidade 3.1 Sintomas do trato urinário inferior (STUI) 3.1.1 Abordagem diagnóstica 3.1.2 Exames complementares e encaminhamentos para outros níveis de atenção 3.2 Hiperplasia prostática benigna (HPB) 3.2.1 Avaliação diagnóstica 3.2.2 Abordagem terapêutica 3.3 Neoplasia de próstata 3.3.1 Rastreamento 3.3.2 Avaliação diagnóstica 3.3.3 Abordagem na APS 3.4 Cateterização vesical 3.4.1 Indicações de cateterização vesical 3.4.2 Como realizar a sondagem vesical 3.4.3 Abordagem na APS Fechamento da unidade 4. Unidade 4 - Incontinência urinária Introdução da unidade 4.1 Epidemiologia e definição de incontinência urinária 4.2 Classificação 4.3 Investigação e exames complementares 4.4 Abordagem terapêutica 4.4.1 Terapia não medicamentosa 4.4.2 Terapia medicamentosa 4.5 Critérios de encaminhamento para outros níveis de atenção Fechamento da unidade 5. Unidade 5 - Insuficiência renal (IR) Introdução da unidade 5.1 Epidemiologia da doença renal crônica e da lesão renal aguda 5.2 Rastreamento e estratificação de lesão renal 5.3 Abordagem na APS 5.4 Nefrotoxicidade de fármacos 5.5 Critérios de encaminhamento para outros níveis de atençãocomo uma falha/defeito de enchimento no sistema coletor urinário. Avaliação metabólica Consiste na investigação para determinar a causa da urolitíase, visando verificar anormalidades metabólicas predisponentes à formação de cálculos recorrentes. É possível realizar a análise direta da composição química e da etiologia dos cálculos depois deles serem extraídos durante uma cirurgia ou após expulsão pelo paciente. Tal avaliação é indicada quando há necessidade de tratamento medicamentoso preventivo de novos cálculos. Você deve solicitá-la quando houver: cálculos recorrentes, cálculos bilaterais ou múltiplos, história familiar fortemente positiva, doença inflamatória intestinal, aumento de cálculo preexistente, passagem recorrente de cristais, litíase em crianças ou adolescentes, diarreia crônica, cirurgia ou má absorção intestinal, hiperparatireoidismo primário, gota, acidose tubular renal e nefrocalcinose. A avaliação metabólica completa é composta pelas seguintes dosagens séricas e urinárias: • Pelo menos duas coletas de urina de 24 horas com dosagem urinária de cálcio, ácido úrico, oxalato, fósforo, cistina, citrato, sódio e creatinina. • Dosagem sérica de cálcio, fósforo, albumina, creatinina, bicarbonato e ácido úrico. 2.4 ABORDAGEM DO QUADRO AGUDO NA APS 1) Analgesia: O primeiro objetivo na abordagem do episódio agudo de cólica renal é o controle álgico, e a maioria dos casos conseguirá ser manejada com as medicações disponíveis na APS: anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) ou dipirona, tanto para a analgesia inicial quanto para controle no caso de recorrência em dias ou semanas subsequentes. Os opióides (morfina e tramadol) também são eficazes, porém apresentam maior taxa de efeitos adversos, como vômitos. Duncan et al. (2022) considera mais efetivo que qualquer monoterapia a associação de opióide e AINE. EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias 44 Leia esta Segunda Opinião Formativa da Biblioteca Virtual de Saúde da APS, que mostra, de forma sistematizada, que condutas adotar para uma paciente gestante com quadro de nefrolitíase. Disponível em: https://aps.bvs.br/aps/ que-condutas-adotar-para-uma-paciente-gestante-com-quadro-de- nefrolitiase/ Estudos com escopolamina até o momento mostraram pouca ou nenhuma eficácia para a dor da cólica renal, de forma que você não deve utilizar a escopolamina como opção terapêutica para seus pacientes com tal quadro. Há evidências fracas sobre o benefício da acupuntura. Outros sintomáticos, como antieméticos, podem ser necessários, a depender dos sintomas associados. 2) Hidratação: Não foi demonstrado benefício da hidratação forçada no episódio agudo de cólica renal, a não ser que o paciente apresente desidratação em algum grau (TELESSAÚDE RS, 2014). 3) Terapia expulsiva: Em sua maioria, os cálculos menores do que 10mm são expelidos espontaneamente em até seis semanas. A prescrição de medicamentos para aumentar tal probabilidade e diminuir o tempo até a expulsão é chamada terapia expulsiva, e seu benefício está mais evidenciado em cálculos distais maiores que 5mm. Os bloqueadores alfa-adrenérgicos são considerados a terapia expulsiva medicamentosa de primeira linha: Doxazosina (2 a 4mg/dia) OU Tansulosina (0,4mg/dia por até 4 a 6 semanas). • O Nifedipino foi muito utilizado no passado como terapia expulsiva, mas seu uso passou a ser desaconselhado após um grande estudo multicêntrico no Reino Unido (PICKARD et al. 2015) não ter demonstrado benefício e ter registrado efeitos colaterais mais frequentes que com o uso da Tansulosina. • O chá de quebra-pedra (Phyllanthu sniruri) mostrou-se eficaz em um estudo com cálculos pós-litotripsia e seu uso é regulamentado pela Anvisa desde 2010 (ANVISA, 2010). Leia a “Cartilha das Plantas Medicinais” da Política Intersetorial de Plantas Medicinais e Fitoterápicos do Rio Grande do Sul, que apresenta as plantas mais utilizadas pela população do Rio Grande do Sul, com base em estudos e pesquisas. Disponível em: https://saude.rs.gov.br/upload/arquivos/202112/23154715- cartilha-das-pm-da-pipmf-projeto-aplpmfito-rs-2021.pdf https://aps.bvs.br/aps/que-condutas-adotar-para-uma-paciente-gestante-com-quadro-de-nefrolitiase/ https://aps.bvs.br/aps/que-condutas-adotar-para-uma-paciente-gestante-com-quadro-de-nefrolitiase/ https://aps.bvs.br/aps/que-condutas-adotar-para-uma-paciente-gestante-com-quadro-de-nefrolitiase/ https://aps.bvs.br/aps/que-condutas-adotar-para-uma-paciente-gestante-com-quadro-de-nefrolitiase/ https://saude.rs.gov.br/upload/arquivos/202112/23154715-cartilha-das-pm-da-pipmf-projeto-aplpmfito-rs-2021.pdf https://saude.rs.gov.br/upload/arquivos/202112/23154715-cartilha-das-pm-da-pipmf-projeto-aplpmfito-rs-2021.pdf 45 EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias 4) Prevenção secundária: A taxa de recorrência de nefrolitíase é de 50% em 5 anos e de 80% em 10 anos, sendo maior em pacientes com anormalidades metabólicas adjacentes e nos que não aderem às orientações alimentares e de hidratação. Para prevenir o surgimento de novos cálculos, as orientações alimentares e o tratamento metabólico são as possibilidades terapêuticas. • Alimentação: Você deve recomendar uma ingesta hídrica de 2,5 a 3 litros por dia para produção de, no mínimo, 2 litros de débito urinário; uma ingesta normal de cálcio alimentar (1000mg a 1200mg/dia); a redução da ingesta de sódio (máximo de 4 a 5g/dia) e de proteína animal (0,8 a 1g/kg de peso corporal por dia); e uma dieta rica em fibras, legumes e frutas (que são fontes de citrato). • Tratamento farmacológico metabólico: Há indicação de encaminhamento para o Nefrologista quando houver alteração na investigação etiológica dos cálculos e recorrência deles com o tratamento conservador. O Nefrologista prescreverá as medicações indicadas para o tratamento farmacológico metabólico e realizará o acompanhamento conjunto do paciente. Abaixo, vamos citar os princípios gerais desse tipo de tratamento conforme a alteração metabólica encontrada: A) Cálculos de ácido úrico • Pode ser realizada a alcalinização da urina com bicarbonato de sódio ou citrato de potássio (medicação de primeira linha), geralmente numa dose de 10 a 20mEq, 3 vezes ao dia. Deve-se ter cautela em pacientes com insuficiência cardíaca congestiva ou insuficiência renal. • Recomenda-se a ingestão de urato em até 500mg por dia (presente em alimentos como fígado, rins, pele de frango, sardinha e anchova). • Utiliza-se alopurinol se hiperuricosúria numa dose de 100mg (100mg, 1 vez ao dia) a 300mg/dia (100mg, de 8/8h). B) Hipercalciúria e cálculos de cálcio recorrentes • Indicado o uso de diurético tiazídico até o cálcio urinário normalizar: Hidroclorotiazida 25mg/dia OU Clortalidona. • É recomendada a alcalinização da urina com citrato ou cloreto de potássio. EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias 46 C) Hiperoxalúria • Utilizado quelante de oxalato (cálcio, magnésio ou colestiramina). • Pode ser recomendada a alcalinização com citrato de potássio, principalmente se houver acidose metabólica ou hipocalemia associadas. • Recomenda-se a piridoxina na hiperoxalúria primária. D) Cistinúria • Recomenda-se a alcalinização da urina com citrato ou cloreto de potássio. • Se a terapia conservadora e a alcalinização falharem, são utilizados agentes quelantes (como Tiopronina ou Penicilamina). E) Cálculos de estruvita • Utiliza-se o inibidor de urease (ácido aceto-hidroxâmico) no caso de cálculos complexos e recorrentes em que a abordagem cirúrgica foi esgotada. É um tratamento que deve ser acompanhando pelo especialista focal para o monitoramento de efeitos adversos graves por hipercoagulabilidade. F) Hipocitratúria • Recomenda-se o uso de citrato de potássio, geralmente numa dose de 10 a 20mEq, 3 vezes ao dia. 5) Nefrolitíase assintomática: Cerca de metade dos pacientes terá sintomas nos próximos cinco anos. A investigação metabólica e o tratamento intervencionistapodem ser considerados em pacientes de alto risco laboral (pilotos de avião e outras profissões de risco) ou clínico (como rim único, imunossuprimidos ou neuropatas). Leia o artigo de revisão “Tratamento da nefrolitíase: onde está a evidência dos ensaios clínicos?”, publicado no Jornal Brasileiro de Nefrologia em 2016, em que são discutidas as evidências dos ensaios clínicos nas condutas de tratamento da nefrolitíase. Disponível em: https://doi.org/10.5935/0101-2800.20160015 https://doi.org/10.5935/0101-2800.20160015 47 EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias REFLEXÃO Em pacientes idosos com dor relevante, principalmente naqueles que nunca tiveram episódio prévio de cólica renal, os diagnósticos diferenciais, como aneurisma de aorta abdominal e outras causas de abdômen agudo, precisam ser excluídos. Com os recursos disponíveis na APS, isso normalmente não é possível apenas com a história clínica e o exame físico num contexto de apresentação aguda do quadro, de forma que este perfil de pacientes geralmente se beneficia do encaminhamento ao pronto-atendimento para avaliação complementar. Ao Urologista: • Quando houver cálculos > 10mm, sintomáticos ou não; • Se não houver expulsão de cálculo entre 4-10 mm após seis semanas de tratamento conservador; • Sempre que houver cálculos vesicais (de qualquer tamanho); • Sempre que houver cálculos coraliformes; • Quando houver cálculos renais recorrentemente sintomáticos (por dor, hematúria ou infecções de trato urinário). 2.5 CRITÉRIOS PARA ENCAMINHAMENTO PARA OUTROS NÍVEIS DE ATENÇÃO Ao pronto-atendimento: • Se houver suspeita de infecção concomitante (quadro de febre, toxemia ou alteração em exame/fita de urina); • Se houver cálculo obstrutivo unilateral em paciente de alto risco (transplantado renal ou portador de rim vicariante); • Se o paciente apresentar obstrução bilateral/anúria; • Se houver analgesia refratária ao tratamento clínico otimizado na UBS; • Se houver suspeita de insuficiência renal aguda; • Na incerteza diagnóstica; • Se existir a possibilidade de gravidez ectópica (mulher em idade fértil sem uso de método contraceptivo, com atraso menstrual ou com teste de gravidez positivo); • Se um exame de imagem de controle solicitado mostrar piora do padrão de hidronefrose. EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias 48 Ao Nefrologista • Se houver nefrolitíase recorrente com indicação de tratamento farmacológico metabólico adjuvante (cálculo de ácido úrico, hipercalciúria, hiperoxalúria ou cistinúria); • Quando houver indicação de investigação metabólica da litíase e impossibilidade de solicitar os exames necessários pela APS. FECHAMENTO DA UNIDADE Sendo a nefrolitíase um quadro bastante prevalente e como cerca de metade das pessoas com litíase urinária apresentará mais de um episódio de cólica renal, é de extrema importância que você se sinta seguro quanto à seu abordagem no contexto da Unidade Básica de Saúde. Grande parte dos casos não necessitará de exames complementares complexos ou de encaminhamento. O tratamento analgésico otimizado, a terapia expulsiva ambulatorial e as medidas comportamentais para diminuir recidivas são as abordagens essenciais indicadas e de competência do médico de família e comunidade. 49 EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias INTRODUÇÃO DA UNIDADE As afecções relacionadas à próstata são motivos de consulta que levam homens que não costumam frequentar os serviços de saúde a buscarem atendimento. Há uma influência midiática e de campanhas de rastreamento que fazem com que muitas vezes eles cheguem a esses encontros com muito medo de câncer e com ideias preconcebidas bastante sedimentadas sobre qual o tipo de abordagem terapêutica é a mais adequada para seus sintomas e/ou seus anseios. A fim de preparar você para receber esses usuários na Atenção Primária à Saúde, nesta unidade serão abordados os seguintes tópicos: • Perfil epidemiológico dos sintomas do trato urinário inferior; • Situações de referenciamento oportuno no contexto dos Sintomas do Trato Urinário Inferior (STUI); • Diagnóstico de hiperplasia prostática benigna; • Abordagem terapêutica para hiperplasia prostática benigna; • Principais sintomas associados ao quadro de prostatismo agudo e crônico; • Diagnóstico das principais causas de prostatismo agudo e crônico; • Indicações de solicitação dos principais exames complementares; Afecções relacionadas à proposta UNIDADE 03 EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias 50 • Interpretação dos principais achados de exames complementares; • Indicações de abordagem terapêutica não medicamentosa e medicamentosa; • Identificação de situações de correção cirúrgica para encaminhamento oportuno para outros níveis de atenção; • Rastreamento de neoplasia de próstata e sua abordagem na APS; • Identificação de situações para indicação de cateterismo vesical (de demora e de alívio); • Indicação de cateterismo vesical e sua abordagem na APS. Desta forma, esperamos que, ao final do estudo desta unidade, você se sinta mais preparado para analisar problemas do sistema urinário, identificando sintomas de prostatismo, diagnosticando as etiologias mais frequentes, tratando os quadros sensíveis à APS e encaminhando, quando necessário, para outros níveis de atenção. 3.1 SINTOMAS DO TRATO URINÁRIO INFERIOR (STUI) O termo prostatismo – bastante utilizado antigamente - foi substituído por sintomas do trato urinário inferior (STUI, em português, LUTS, em inglês), sendo que um terço dos homens apresentará algum grau de retenção urinária ao atingir 70 anos de idade (GUSSO; LOPES; DIAS, 2019). São tradicionalmente divididos entre sintomas de armazenamento/irritativos (polaciúria, urgência, noctúria ) e sintomas de esvaziamento/micção/obstrutivos (fluxo fraco, jato intermitente, gotejamento pós-miccional, hesitação, sensação de esvaziamento incompleto, esforço), porém os pacientes frequentemente apresentarão sintomas mistos. A etiologia predominante dos STUI na APS é a hiperplasia prostática benigna, mas não devemos esquecer de realizar diagnóstico diferencial com as outras causas possíveis: infecções urinárias (prostatite, cistite e uretrite), cálculo ureteral, hiperatividade detrusora, estenose de uretra, bexiga neurogênica, câncer de próstata, câncer vesical e uso de medicamentos (anticolinérgicos e alfa-adrenérgicos) (REGULA MAIS BRASIL, 2019). A figura 08 que aparece a seguir, reúne algumas dessas principais causas de STUI. 3.1.1 ABORDAGEM DIAGNÓSTICA A investigação deve focar em dados da história clínica e do exame físico direcionado que sugiram patologias alternativas (que não a hiperplasia prostática benigna). • Anamnese: pesquisar por febre, dor e disúria, que sugerem infecção. Hematúria e tabagismo levantam hipótese de neoplasia. Cólica renal é indicativo de cálculo ureteral. Doença neurológica de longa data e perda urinária por transbordamento aumentam a probabilidade de bexiga neurogênica. História de traumas ou cateterizações vesicais prévias estão relacionadas a estenose de uretra. 51 EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias Descompensação de quadros cardiovasculares e renais podem cursar com poliúria e noctúria. Noctúria associada a incontinência urinária e urgência costuma ocorrer na síndrome da bexiga hiperativa. O uso de medicações diuréticas, anticolinérgicas e alfa-adrenérgicas alteram o padrão de diurese e o tônus vesical. • Exame físico: observe os sinais vitais (principalmente alterações na temperatura corporal, frequência cardíaca e pressão arterial), avalie o abdômen (procurando bexiga ou massa palpáveis), inspecione o meato uretral externo (na hipótese de uretrite), realize o toque retal (avaliando tônus do esfíncter anal, próstata) e realize exame neurológico sumário se suspeita de bexiga neurogênica. Figura 08 - Causas de STUI. Fonte: Elaborado pelos conteudistas. 3.1.2 EXAMES COMPLEMENTARESCada 3cm de próstata palpável equivale a aproximadamente um volume de 30g. (TELESSAÚDE RS, 2015). Lembre-se! EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias 56 com horário definido para ir ao banheiro); • Urinar sentado (pode diminuir os sintomas de esvaziamento incompleto); • Redução do consumo de álcool, café e nicotina; • Tratamento da constipação (se houver); • Evitar uso de diuréticos e medicamentos que aumentem a retenção urinária. • Tratamento farmacológico É indicado a todos os pacientes cujos sintomas causam prejuízo, principalmente naqueles com sintomas moderados a graves, chegando a reduzir de 5% a 2% a probabilidade de tratamento invasivo durante 4 anos de tratamento. As reavaliações devem ser realizadas a cada 6 a 12 meses, a depender da gravidade dos sintomas. A) Alfa- bloqueadores • É a terapia de primeira linha, reduzindo os sintomas após poucos dias por meio do relaxamento da musculatura lisa vesical e da uretra e cápsula prostáticas. • Não houve diferença de eficácia entre tansulosina e os bloqueadores não seletivos (Doxazosina). • Os efeitos colaterais costumam ser bem tolerados e incluem: hipotensão ortostática (com risco de queda e fratura), disfunção ejaculatória (principalmente com tansulosina), cefaleia, vertigem, congestão nasal e síncope. Utilize: • Doxazosina 2a 8mg 1 vez ao dia, antes de dormir. • (Inicie com doses baixas de 1mg a 2mg, à noite para diminuir hipotensão ortostática, e aumente a cada uma a duas semanas conforme tolerância e resposta do paciente.) • OU Tansulosina 0,4 a 0,8 mg, uma vez ao dia (A dose de 0,8 mg/dia não evidenciou melhores resultados que a de 0,4 mg.) B) Inibidores da 5-alfa-redutase • É indicado quando há alto risco de retenção urinária aguda (situações com próstata > 40g ou PSA >1,4 ng/ml) e como primeira linha em pacientes que têm contraindicação ou não toleram alfa-bloqueadores. A melhora dos sintomas inicia após três a seis meses, levando cerca de um ano até seu máximo efeito: chegando a reduzir em até 40% o volume prostático (REGULA MAIS BRASIL, 2019). • Os efeitos adversos mais comuns são a disfunção sexual (com diminuição da libido e disfunção ejaculatória em cerca de 5 a15%), a disfunção erétil e a ginecomastia. 57 EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias Utilize: • Finasterida 5mg, uma vez ao dia OU Dutasterida 0,5mg, uma vez ao dia. C) Inibidores da 5-fosfodiesterase • Considere sua prescrição em pacientes com disfunção erétil, pois melhoram os STUI e a função erétil após alguns dias de tratamento. • Possui efeitos colaterais de rubor facial, refluxo gastroesofágico, cefaleia, dor lombar e congestão nasal. • Há contraindicação se o paciente faz uso de nitratos ou alfa-bloqueador não seletivo (no uso de tansulosina, oriente um intervalo de 4 a 6 horas entre as medicações), angina instável, infarto agudo do miocárdio há 150ml. • Os efeitos colaterais principais incluem boca seca, constipação e tontura. Utilize: • Oxibutinina 5mg, uma a três vezes ao dia. O uso de inibidores da 5-alfa-redutase reduz o valor do PSA total. Para avaliação adequada do risco de câncer de próstata, é necessário multiplicar por dois o valor do PSA total nos pacientes em tratamento há mais de seis meses. Lembre-se! EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias 58 E) Terapia combinada de alfa-bloqueador e inibidor da 5-alfa-redutase • Utilize em pacientes com sintomas graves (pela avaliação do escore I-PSS), com alto risco de retenção urinária aguda (próstatas > 40g ou PSA > 1,4 mg/ml) ou refratários ao tratamento em monoterapia em dose adequada. • Para diminuir a chance de hipotensão, oriente um intervalo de 4 a 6 horas entre a ingestão dos medicamentos. F) Terapia combinada de alfa-bloqueador e anticolinérgico Utilize em pacientes com STUI refratários a monoterapia com qualquer uma das drogas. • Tratamento cirúrgico É indicado quando há retenção urinária recorrente ou refratária ao tratamento clínico otimizado, se houver hematúria recorrente, insuficiência renal ou cálculo vesical. As opções de tratamento incluem terapias minimamente invasivas (ablação prostática com laser), ressecção transuretral da próstata (tratamento cirúrgico padrão-ouro) e prostatectomia aberta (quando volume prostático for superior a 80–100ml). Dentre as complicações mais comuns estão: ejaculação retrógrada (relatada por cerca de 50% dos pacientes); disfunção erétil (1% a 12%); sintomas miccionais irritativos, contratura do colo vesical (2,7%); infecção urinária; hematúria recorrente; incontinência urinária (12 a 16%) (GUSSO; LOPES; DIAS, 2019). Considere os seguintes critérios de encaminhamento para outros níveis de atenção: Ao pronto-atendimento (SILVA NETO, 2017): • Se houver episódio de retenção urinária aguda após insucesso de tentativa de sondagem vesical de alívio na UBS. Sobre a realização da sondagem vesical, você poderá aprender no tópico 3.4 deste material. Ao Urologista (SILVA NETO, 2017): • Em caso de doença renal crônica associada à obstrução (hidronefrose, resíduo pós-miccional > 300ml ou bexiga palpável após exclusão de bexigoma por retenção); • Em caso de episódio de retenção urinária aguda (após avaliação na urgência); • Se houver infecção urinária recorrente associada; • Se houver litíase vesical associada; • Quando os STUI são refratários ao tratamento clínico otimizado. 59 EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias 3.3 NEOPLASIA DE PRÓSTATA O câncer de próstata é a neoplasia maligna não cutânea mais comumente diagnosticada em homens no Brasil (aproximadamente 61.200 novos casos por ano), sendo a segunda com maior mortalidade (taxa anual de 12 óbitos por 100.000 homens). Os adenocarcinomas correspondem a mais de 95% dos casos e os fatores de risco conhecidos são: idade (mais comum a partir dos 50 anos), etnia negra, antecedente familiar positivo (principalmente se for de primeiro grau antes dos 65 anos) e mutação do BRCA (WALLACE; ANSCHER, 2020). Esse tipo de neoplasia raramente causa sintomas nos estágios iniciais, cursando com STUI obstrutivos (frequência, noctúria e hesitação), hematúria, hematospermia, hidronefrose, disfunção erétil ou insuficiência renal no caso de doença localmente avançada. Os casos metastáticos manifestam-se com dor óssea (pelve e coluna), fraturas patológicas, anemia, edema e paralisia de membros inferiores. 3.3.1 RASTREAMENTO • Recomendações atuais: • INCA (Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva) e Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade: não recomendam o rastreamento do câncer de próstata como abordagem populacional e sugerem discussão de riscos e benefícios com indivíduos que espontaneamente procurarem o serviço com tal demanda. • USPTF (U.S Preventive Task Force): para homens com idades entre 55 e 69 anos, a decisão de se submeter à triagem periódica baseada na medida do PSA deve ser individual e deve incluir a discussão dos possíveis benefícios e danos da triagem com seu médico. Deve-se considerar o equilíbrio de benefícios e danos com base na história familiar, etnia, condições médicas e comorbidades. A USPTF não recomenda o rastreamento rotineiro em homens com idade igual ou superior a 70 anos. • SBU (Sociedade Brasileira de Urologia): não recomenda o rastreamento universal, mas a consulta médicaa partir dos 50 anos de idade, especialmente para homens saudáveis, com expectativa de vida maior que 10 anos. A partir da avaliação médica, o médico e o paciente podem discutir e decidir em conjunto sobre os riscos e benefícios de realizar o exame de PSA. Duas exceções se aplicam: negros e seus descendentes e aqueles com histórico de câncer de próstata na família, que devem começar a fazer exame de próstata aos 45 anos. A frequência acordada do exame é bastante variável, podendo ser anual ou mesmo a cada 4 anos. EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias 60 Conheça o material elaborado pelo Telessaúde RS, intitulado “Saúde do homem é mais do que cuidar apenas da próstata”. É um informativo para compartilhamento com o paciente sobre saúde do homem e rastreamento do câncer de próstata. Disponível em: https://www. ufrgs.br/telessauders/prostata-docs/dicas_ novembro_azul.pdf Benefícios divulgados do rastreamento • Estudos clínicos randomizados (SCHRODER et al., 2009; MARTIN et al., 2018; ANDRIOLE et al., 2012) mostraram que o rastreamento pode evitar cerca de duas mortes por câncer de próstata a cada mil homens testados e prevenir cerca de três casos de câncer de próstata metastático a cada mil homens testados. Tais resultados baseiam-se em desfechos intermediários e em mortalidade específica, mas sem redução na mortalidade geral e com aumento no número de intervenções que não representaram um aumento na sobrevida na população rastreada. Danos conhecidos do rastreamento • Sobrediagnóstico ocorre em 25% a 50% dos casos. O sobrediagnóstico ocorre quando alguém é diagnosticado com uma doença que não causaria nenhum dano (nem em mortalidade nem em qualidade de vida), muitas vezes como resultado da realização de programas de rastreamento, o que pode levar a tratamentos desnecessários e desperdício de recursos da saúde (GUSSO; LOPES; DIAS, 2019). • Resultados falso-positivos com potenciais danos físicos pela solicitação excedente de procedimentos que por si já categorizam iatrogenia, bem como os efeitos adversos destes e danos psicológicos (como ansiedade pela hipótese de neoplasia e/ou pelo tempo de espera pelo resultado do exame). Cerca de 2/3 dos homens com PSA elevado não têm câncer de próstata detectado na biópsia; • Sequelas do tratamento cirúrgico/ prostatectomia, como: disfunção erétil (2 a cada 3 homens a longo prazo), incontinência urinária (relatado por cerca de 20% dos pacientes) e sintomas intestinais (seja constipação ou incontinência). Observe a seguir quais são os principais danos e benefícios do rastreamento. https://www.ufrgs.br/telessauders/prostata-docs/dicas_novembro_azul.pdf https://www.ufrgs.br/telessauders/prostata-docs/dicas_novembro_azul.pdf 61 EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias Observe abaixo uma ferramenta de apoio à decisão compartilhada no rastreamento do câncer de próstata: • O estudo Finnish Prostate Cancer Screening Trial (KILPELÄINEN et al., 2013) mostrou diminuição da incidência de câncer de próstata avançado, porém os cânceres detectados no braço do rastreamento foram mais localizados e de menor grau quando comparados ao braço do controle, fato explicado pelo aumento no diagnóstico. Figura 10 - Ferramenta de apoio à decisão compartilhada no rastreamento do câncer de próstata. Fonte: Adaptado de INCA (2019). EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias 62 Antígeno prostático específico (PSA): O PSA é uma protease para liquefação do líquido seminal produzido pela próstata. Pode ser encontrado no sangue na sua forma livre ou ligado às proteínas plasmáticas. O PSA não é específico, podendo estar elevado devido a diversas causas que não o câncer de próstata, como: HPB/ABP, prostatite, após manipulação (massagem prostática, biópsia, cistoscopia) e por retenção urinária. Elevações pequenas e transitórias (por 48 a 72h) podem ocorrer por toque retal, ejaculação recente, após ciclismo de longa distância e uso recorrente de motocicletas. • Características do exame • Não existe valor abaixo do qual não haja risco de câncer de próstata: o PSA está normal em até 20% dos homens com câncer clinicamente significativo. • O valor preditivo positivo (VPP) é cerca de 33%, ou seja, 67% dos homens com PSA elevado serão submetidos a uma biópsia sem necessidade. Esse valor aumenta quando o PSA > 10ng/ml: o VPP passa a 42% a 67%, porém menos da metade destes casos são cânceres confinados à próstata (BRASIL, 2010). • O exame não consegue distinguir entre tumores agressivos que estejam em fase inicial e aqueles que não são agressivos ou que não teriam nenhum significado clínico ao paciente. Toque retal: No rastreamento, ele não é essencial e corrobora para aumentar o valor preditivo positivo para neoplasia (e, portanto, ajudar na decisão quanto à biópsia) quando o PSA se mostra elevado: VPP de 22%, se toque retal normal e de 49%, se toque retal alterado. Os tumores identificados apenas por alteração em toque retal (sem sintomas) com PSA 3ng/mL; - Suspeita clínica de neoplasia de próstata por toque retal suspeito (com nódulo, endurecimento ou assimetria). *não se esqueça de excluir as situações não patológicas que elevam o PSA citadas no item sobre PSA. - Neoplasia em biópsia prostática. Fonte: Silva Neto et al. (2017). em conta: achados de nódulo à ultrassonografia, idade do paciente, volume da próstata, presença de inflamação e uso de inibidores da 5-alfa-redutase. EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias 64 3.3.3 ABORDAGEM NA APS O tratamento pode variar entrevigilância ativa (nos tumores localizados de baixo grau), prostatectomia radical, radioterapia, quimioterapia e bloqueio hormonal. O médico de família e comunidade deve estar preparado para o acompanhamento conjunto e integral do paciente oncológico e das sequelas do tratamento, como: dor crônica, ejaculação retrógrada, estenose de uretra, impotência sexual, incontinência urinária e consequências do âmbito psíquico/emocional. Após a prostatectomia radical ou a terapia antiandrogênica, espera-se que o PSA fique suprimido. Você deve encaminhar para investigação de recidiva pós-tratamento se o seu paciente apresentar valores maiores do que 0,2ng/mL. 3.4 CATETERIZAÇÃO VESICAL A cateterização vesical pode ser realizada via uretral (de demora ou alívio) ou suprapúbica (cistostomia percutânea). Pode ser realizada por profissional de saúde médico ou enfermeiro. A cateterização suprapúbica deve ser realizada por profissional médico treinado e está indicada em situações em que a via uretral esteja contraindicada ou para realização de drenagem vesical (FRIGLER, 2017). 3.4.1 INDICAÇÕES DE CATETERIZAÇÃO VESICAL A sondagem vesical é indicada nas seguintes situações (BMJ BEST PRACTICE, 2020): • Obtenção de urina para exame; • Aferição de débito urinário em pacientes graves internados; • Drenagem urinária; • Alívio da retenção urinária (obstrutiva ou funcional/bexiga neurogênica) e em alguns casos de incontinência urinária e imobilidade; • Injeção de meios de contraste radiopacos ou administração de medicamentos diretamente na bexiga; • Perioperatório; • Trauma e lesões de pelve e períneo; • Irrigação vesical. As contraindicações da sondagem uretral incluem estenose ou trauma uretral, infecção urinária em curso, cirurgia vesical ou de reconstrução uretral ou hiperplasia prostática importante (esta é uma contraindicação considerada relativa e pode ser mais fácil de realizar a sondagem com um calibremaior, como 16 French, devido a sua maior rigidez). 65 EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias As contraindicações da sondagem suprapúbica são a impossibilidade de definição adequada da localização da bexiga, a possibilidade de aderências pélvicas ou abdominais inferiores (histórico de cirurgias ou procedimentos invasivos na região) e uma bexiga vazia. 3.4.2 COMO REALIZAR A SONDAGEM VESICAL As sondas vesicais variam quanto ao calibre (1 unidade French = 0,33mm), à configuração da ponta (maioria retas), ao número de vias, ao tamanho do balão (2,5 a 5mL em balões em crianças e de 10 a 30mL em balões em adultos), ao tipo de material (plástico, látex ou cloreto polivinílico para uso intermitente e látex com silicone, hidrogel ou polímero revestido de liga de prata para uso contínuo) e ao comprimento. Os tamanhos variam de 14 a 24Fr para adultos e de 6 a 10Fr para crianças e na HPB volumosa com estenose importante da uretra. Cateteres de menores tamanhos (Fr) são suficientes para drenagem urinária simples e estenose uretral; cateteres maiores (maiores unidades Fr) são utilizados para a irrigação da bexiga e em alguns casos de hemorragia pelo risco de obstrução. O cuidado com sondas e ostomias costuma ser manejado primordialmente pela equipe de enfermagem após a prescrição médica. Figura 11 - Fixação da sonda vesical de demora. Fonte: UNA-SUS/UFMA. EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias 66 Se você não conseguir inserir o cateter uretral em duas ou mais tentativas, encaminhe para um profissional mais experiente na própria Unidade Básica de Saúde ou no pronto-atendimento. Um cateter de ponta curva, maior ou de irrigação de três vias pode facilitar a sondagem nestes casos. 3.4.3 ABORDAGEM NA APS As complicações do cateterismo vesical são: • Lesão uretral ou vesical com sangramento ou hematúria microscópica: pequenos sangramentos são comuns e cessam de forma espontânea. • Obstrução do cateter: por coágulos ou outros detritos. Tente lavar/irrigar o cateter com água estéril para desobstrução. • ITU: remova a sonda e inicie tratamento com antibiótico. As recomendações para minimizar as infecções do trato urinário incluem: remoção dos cateteres o mais rápido possível, técnica estritamente asséptica de inserção do cateter, manutenção da esterilidade e do fechamento do sistema de drenagem, higiene do meato urinário com água e sabão no banho e às trocas de fralda, desprezar a urina quando o volume atingir 2/3 da capacidade da bolsa (até 6h/6h). • Criação de falsos trajetos: evite o uso de força durante o cateterismo. • Cicatrizes e estenoses. • Perfuração vesical: complicação rara. Não há evidência definitiva na literatura sobre intervalo ótimo para troca da sonda vesical de demora, mas sugere-se realizar a troca quando houver incrustações, obstruções persistentes após irrigação, febre de origem desconhecida, vazamentos e conforme indicado pelo fabricante da sonda (geralmente, a cada 12 semanas) (FERRAZ; OLIVEIRA; RIBEIRO, 2018). Assista aos seguintes vídeos para aprender mais sobre sondagem vesical: “Sondagem vesical de alívio”: https://ares.unasus.gov.br/acervo/handle/ ARES/1336 “Sondagem vesical de demora feminino e masculino”, disponível em: https://ares.unasus.gov.br/acervo/handle/ARES/1334 https://ares.unasus.gov.br/acervo/handle/ARES/1336 https://ares.unasus.gov.br/acervo/handle/ARES/1336 https://ares.unasus.gov.br/acervo/handle/ARES/1334 67 EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias FECHAMENTO DA UNIDADE Na sua prática nos serviços de saúde, com frequência você atenderá homens que buscam serviços de saúde com sintomas do trato urinário inferior ou com a demanda de rastreamento para câncer de próstata, especialmente com o passar da idade e durante a campanha do ‘’Novembro Azul’’. A abordagem investigativa e terapêutica adequada dos sintomas, com vistas à prevenção quaternária e a decisão compartilhada dessa medida preventiva controversa, são um desafio para o médico na Atenção Primária em Saúde. É fundamental entender esses encontros, ainda que motivados por demandas específicas, como uma excelente oportunidade de abordagem integral do cuidado, por ser um dos raros motivos que mobilizam os homens para procura espontânea da unidade básica de saúde. Com o conteúdo desta unidade, esperamos que você tenha aumentado seu repertório de ferramentas e dados para abordar com excelência tais situações na prática clínica. EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias 68 INTRODUÇÃO DA UNIDADE Nesta unidade, você estudará um problema bastante frequente na APS: a inconti- nência urinária. Além dos desconfortos físicos que ela causa, é um problema social significativo. As pessoas que sofrem com ela vivem frequentemente situações cons- trangedoras, como a perda urinária durante um evento social e mau odor nas roupas, por exemplo. Assim, por ser de um problema que leva a situações vexató- rias, estima-se que um terço das pessoas acometidas nunca buscam o serviço de saúde para sanar esta queixa (SIMON et al., 2020). Você poderá (e deverá) investigar em sua população esta condição. Além disso, pode tomar uma série de medidas importantes, de forma a cuidar dos pacientes acometidos por incontinência urinária, seja através de medidas medicamentosas ou de trabalho não medicamentoso, com o apoio de equipe multiprofissional. Nesta unidade, você estudará os seguintes assuntos: Incontinência urinária UNIDADE 04 69 EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias • Conceito de incontinência urinária; • Identificação das causas e dos fatores de risco para ocorrência da incontinência urinária; • Indicações de solicitação dos principais exames complementares; • Interpretação dos principais achados de exames complementares • Indicações de abordagem terapêutica não medicamentosa; • Indicações de abordagem terapêutica medicamentosa; • Encaminhamento oportuno de paciente para a equipe multiprofissional e para outro nível de atenção; • Reconhecimentodos prejuízos na qualidade de vida dos pacientes acometidos por incontinência urinária. Dessa forma, esperamos que, ao final do estudo desta unidade, você se sinta mais preparado para realizar a investigação dos quadros de incontinência urinária, tratando-a adequadamente no contexto da APS e reconhecendo as situações com indicação de encaminhamento para outros níveis de atenção. 4.1 EPIDEMIOLOGIA E DEFINIÇÃO DE INCONTINÊNCIA URINÁRIA Incontinência urinária (IU) é qualquer perda involuntária de urina que seja demonstrável e cause um problema social, desconforto e problema de higiene ao paciente. Você deve perceber que esta condição atinge significativamente mais mulheres que homens adultos. Ao atingir a terceira idade, esta diferença diminui, ainda mantendo predomínio de idosas; no entanto, a predominância da condição aumenta significativamente para ambos os sexos com o passar da idade. Há maior prevalência com idosos institucionalizados e com hospitalização recente. Há relatos que um terço dos pacientes vão buscar assistência assim que o sintoma aparece, porém um terço não procura ativamente (SIMON et al., 2020). Além de sexo e idade, você identificará outros fatores associados à condição, como gestação, paridade, número de partos vaginais, diabetes, terapia de reposição hormonal, história familiar e índice de massa corporal (IMC) elevado. 4.2 CLASSIFICAÇÃO Classificamos as IUs em quatro principais tipos: IU de esforço, IU de urgência ou urge- incontinência, IU mista e IU por extravasamento. EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias 70 Incontinência urinária de esforço • Ocorre quando o esfíncter uretral não se fecha completamente logo antes de um esforço físico, como tossir, exercício físico ou mesmo sorrir. O paciente não apresenta vontade de urinar e nem alteração do músculo detrusor. Habitualmente está associada à fraqueza na musculatura do assoalho pélvico. Incontinência urinária de urgência ou urgeincontinência • Causa mais comum em idosos, acontece quando há perda urinária seguida da vontade intensa e repentina de urinar. Não está associada à manobra de esforço e frequentemente se deve à contração involuntária do músculo detrusor. Incontinência urinária mista • Ocorre quando a disfunção está associada ao músculo detrusor e à insuficiência do esfíncter da uretra, com características tanto de esforço quanto de urgência. Incontinência urinária por extravasamento • Ocorre devido a um enchimento excessivo da bexiga por urina. Quando isso acontece, a pressão vesical supera a resistência uretral. Habitualmente, ocorrem pequenas perdas urinárias. Pode ocorrer por hipoatividade do músculo detrusor, por obstrução vesical (marcadamente, a hiperplasia prostática benigna) ou por ambas. A Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo, em conjunto com a Universidade Federal do Amapá, criou a cartilha “Conhecer para prevenir e cuidar: Autocuidado da mulher com incontinência urinária”. Este material discute de forma clara sobre alguns tipos de IU e pode ser utilizado diretamente pela paciente. Disponível em: http://www.ee.usp.br/cartilhas/cartilha_Conhecer_prevenir. pdf Observe na imagem a seguir a representação anatômica desses tipos de incontinência urinária. http://www.ee.usp.br/cartilhas/cartilha_Conhecer_prevenir.pdf http://www.ee.usp.br/cartilhas/cartilha_Conhecer_prevenir.pdf 71 EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias Figura 12 - Tipos de Incontinência Urinária. Fonte: Adaptado de medicinapersonalizada.com.br 4.3 INVESTIGAÇÃO E EXAMES COMPLEMENTARES Anamnese: Você deve começar a investigação com uma anamnese detalhada, buscando fatores de risco e sintomas mais comuns, como a perda involuntária de urina, o aumento da frequência miccional, urgência urinária ou enurese. É importante salientar que a incontinência urinária ocorre mais em idosos, porém acontece em todas as idades e sexos. Nos idosos, é importante pesquisar mesmo sem queixa aparente. Na investigação, é importante que você caracterize o tipo de IU, bem como o momento de início dos sintomas, que podem variar desde muitos anos até quadros mais recentes, com busca precoce ao serviço de saúde. Questione informações como quais sintomas apresenta, frequência e gravidade deles (tanto clínica quanto no impacto da qualidade de vida), presença de outros sintomas urinários não diretamente relacionados, como hematúria, presença de outras patologias (neurológicas, ginecológicas), número de gestações, cirurgias pélvicas, menopausa e doenças sistêmicas, como a diabetes mellitus. Cheque também o uso de medicamentos, bem como substâncias como álcool ou cafeína, com ênfase às descritas com mecanismos de ação no quadro a seguir: Na incontinência urinária, é frequente a associação de mais de um tipo/ etiologia, o que mostra a importância de uma avaliação global nesses pacientes. Lembre-se! https://www.medpersonalizada.com.br/fisioterapiauroginecologica EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias 72 Fonte: Gusso; Lopes; Dias (2019). Substância Álcool e cafeína Mecanismo de ação Poliúria, aumento da frequência e urgência miccionais. Alfa-agonistas Fechamento uretral. Alfabloqueadores Relaxamento do colo vesical. Anestésicos (raqui, peridural) Paralisia do detrusor. Antagonista H2 Confusão mental. Antagonista de canal de cálcio Relaxamento do detrusor. Antidepressivos tricíclicos Ação anticolinérgica e sedação. Antiepilépticos, antipsicóticos Confusão mental e ataxia. Antiespasmódicos Relaxamento do esfíncter interno. Benzodiazepínicos, sedativos e hipnóticos Sedação, imobilidade e relaxamento do esfíncter estriado. Biperideno, dexclorfeniramina Ação anticolinérgica. Poliúria. Haloperidol Sedação, imobilidade. Inibidores da enzima conversora de angiotensina II Tosse. Opióides, relaxantes musculares Relaxamento do músculo detrusor e obstipação. Diuréticos de alça e tiazídicos Para caracterizar o tipo da IU, faça perguntas sobre manobras de esforço e vontade de micção logo antes das perdas. Outras características também ajudam a definir a classificação como perdas de grandes volumes (IU de esforço por defeito de esfíncter uretral ou IU de urgência por contração do músculo detrusor), presença de gotas ou jatos (por aumento da pressão abdominal ou obstrução infravesical), perdas contínuas (mais características de fístulas, malformações ou IU por extravasamento). Quadro 06. Substâncias que influenciam na incontinência 73 EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias Observe abaixo os exames físicos e complementares que podem ser realizados (REYNARD; BREWSTER; BIERS, 2013): Para ajudar no detalhamento do quadro clínico, você pode utilizar um diário miccional por pelo menos três dias (incluindo dias de semana e fins de semana), no qual devem ser anotadas todas as “entradas” e “saídas” de líquido, estas últimas separadas em micções ou perdas involuntárias e em que situações ocorreram essas perdas. Exame físico • No exame físico geral, avalie o IMC. • No exame abdominal, investigue a presença de distensão vesical, bem como massas em abdômen e pelve (podem obstruir a bexiga). • Realize o exame neurológico sempre que uma causa neurológica for passível de causar o problema. • Nos homens, você pode utilizar o toque retal para pesquisar hipertrofia da próstata, que pode levar à obstrução infravesical. Ainda neste exame, devem ser avaliados: a presença de fecaloma, o tônus e o controle do esfíncter uretral e o reflexo bulbo-cavernoso. • Em mulheres, investigue a presença de cistocele, retocele ou prolapso vaginal, bem como o trofismo vaginal (especialmente durante o climatério) (REYNARD; BREWSTER; BIERS, 2013). Exames complementares • Urina I e Urocultura: solicite como investigação complementar inicial, a fim de descartar ITU. • Ultrassom de rins e vias urinárias: pode ser útil para avaliar malformações e resíduo urinário, mas não realize de formarotineira. • Estudo urodinâmico: solicite em situações de recidiva da IU, em avaliações pós-operatórias, falha do tratamento inicial, antes do tratamento cirúrgico ou quando o tratamento clínico apresenta risco ao paciente. Não é exame habitual de investigação. Consiste em medições das pressões abdominal, vesical e do detrusor durante o enchimento da bexiga e durante a micção. Líquidos ingeridos Micção normal Perda urinária Atividade relacionada Proteção Hora Quantidade Tipo Quantidade de urina Tossir, rir, etc. Tipo e mudanças Figura 13 – Diário Miccional. Fonte: Adaptado de Gusso; Lopes; Dias (2019). EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias 74 4.4 ABORDAGEM TERAPÊUTICA A abordagem terapêutica da IU é dividida em dois grandes grupos de intervenção: o tratamento não farmacológico e a intervenção farmacológica. 4.4.1 TERAPIA NÃO MEDICAMENTOSA A principal medida com boa evidência para tratamento não farmacológico de IU é o treinamento dos músculos do assoalho pélvico (TMAP). Há evidências de sua eficácia em IU de esforço e mista. Na IU de urgência, esta evidência é controversa e essa medida costuma ser associada a treinamento vesical (DUNCAN et al., 2013). Ofereça os exercícios pélvicos (TMAP) a todos os pacientes com IU de esforço e mista (orientações a seguir). Sempre que possível, ofereça a opção entre atividades individuais ou em grupo. Idealmente, deve ser realizada por fisioterapeutas, mas, em contexto de indisponibilidade desse profissional, pode ser orientada por você ou pela enfermagem. É importante realizar avaliações individuais para avaliar o estado inicial e o progresso do tratamento. Pode ser sugerida uma avaliação digital simples em toque retal ou vaginal, medindo força e capacidade da musculatura do assoalho pélvico. Este treinamento também pode ser realizado somente com exercícios ou associado com a técnica de biofeedback, em que a paciente recebe estímulos visuais, auditivos ou táteis sempre que faz contrações adequadas do assoalho pélvico, facilitando sua percepção consciente de movimentos fisiológicos habitualmente pouco percebidos. O treinamento vesical é o uso de micções programadas em intervalos progressivamente maiores, desde que tolerados pelo paciente. Utilize como primeira escolha para IU de urgência, mas pode ser também utilizado em IU de esforço e mista. Por exemplo: oriente inicialmente o paciente a urinar a cada 1 a 2 horas, mesmo que não esteja com vontade. E a cada semana, aumente o tempo do intervalo entre as micções em 15 a 20 minutos, até atingir 4 a 5 horas de intervalo. Oriente mudanças de estilo de vida, como perda de peso - maior evidência de benefício, em relação à incontinência urinária de esforço, cessação de tabagismo, atividade física leve a moderada, tratamento adequado dos quadros de constipação e abstinência de álcool e cafeína, o que pode ajudar na melhora do quadro. Além disso, realizar controle adequado de patologias como diabetes melito e insuficiência cardíaca congestiva. Você pode orientar a restrição hídrica no período noturno, embora isso não apresente evidência de melhora do quadro em geral, manter cuidados com a higiene íntima; repousar membros inferiores e usar meias elásticas compressivas para evitar edemas. Considere o uso de fraldas, absorventes para roupa íntima ou urinóis (para pacientes com pouca mobilidade) quando o tratamento não estiver disponível ou não for suficiente para resolver o problema. Homens que apresentam gotejamento pós-miccional não necessitam de investigação adicional, mas oriente- 75 EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias os a realizar forte contração da musculatura do assoalho pélvico após esvaziamento vesical com a compressão manual da uretra bulbar, região perineal. 4.4.2 TERAPIA MEDICAMENTOSA Prescreva medicamentos anticolinérgicos (ou antimuscarínicos) nos casos de IU de urgência ou mista (quando nesta predominar a urgência), pois melhoram sintomas como urgência miccional, frequência urinária. Avalie seu uso criteriosamente quando se tratar de IU por extravasamento, bem como em pessoas mais velhas, pois estas podem apresentar considerável prejuízo cognitivo e risco aumentado de quedas e retenção. Seu efeito colateral mais comum é a xerostomia. Tem contraindicação absoluta em casos de glaucoma. O medicamento desta classe mais habitualmente utilizado é a Oxibutinina, com um bom nível de evidência de eficácia (GUSSO; LOPES; DIAS, 2019), que você deve utilizar na dose de 5mg, uma vez ao dia, podendo chegar a 15mg por dia, de acordo com tolerância e resposta ao tratamento, embora em A orientação para a realização do TMAP deve incluir a demonstração da musculatura que deve estar envolvida, a qual é a responsável por evitar a eliminação de gases e interromper a micção. Se ainda assim permanecer dúvida, devemos sugerir a introdução de um dedo no canal vaginal - para pessoas com vagina - e tentar contrair o músculo. Caso perceba a contração ao redor do dedo, encontrou o músculo certo. A percepção da contração da musculatura correta sem utilizar outros grupos musculares (abdominais, glúteos ou coxas) se dará com a prática. No início pode ser necessária concentração para compreensão da contração e a propriocepção muscular. Regimes variados e individualizados de treinamento são válidos desde que incluam exercícios para fibras musculares rápidas e lentas; sejam realizados até a fadiga muscular; devendo ser praticados por 15 a 20 semanas. Pode-se iniciar com séries de 5 repetições, com aumento progressivo até cerca de 12, até a exaustão, várias vezes ao dia, todos os dias, se possível. Podem ser realizados em qualquer posição (em pé, sentado ou deitado), de maneira mais conveniente durante a rotina pessoal. A série deve conter três etapas: contração, manutenção da contração e relaxamento, intercalando o tempo das contrações. Nos links a seguir vocês encontram orientações para realização dos exercícios: https://www.ee.usp.br/cartilhas/cartilha_Conhecer_prevenir.pdf https://www.efdeportes.com/efd76/mulheres.htm https://www.ee.usp.br/cartilhas/cartilha_Conhecer_prevenir.pdf https://www.efdeportes.com/efd76/mulheres.htm EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias 76 REFLEXÃO Lembre-se sempre que o paciente acometido por incontinência uri- nária está também passando por alguma situação social de descon- forto, como isolamento ou vergonha devido ao seu quadro. Assim, sua abordagem deve ser sempre cuidadosa ao falar do tema, bem como você deve garantir que o melhor tratamento para cada caso seja realizado, a fim de melhorar a qualidade de vida do paciente. 4.5 CRITÉRIOS DE ENCAMINHAMENTO PARA OUTROS NÍVEIS DE ATENÇÃO Ao Pronto Atendimento: Retenção aguda de urina. Ao Urologista: • Incerteza diagnóstica; • Elevado risco com o uso de medicamentos para controle; • Falha terapêutica; • Massa pélvica / bexiga palpável após micção; • Cirurgia ou radiação pélvica prévia; • Prolapso vesical com sintomas; estudos tenha apresentado um perfil pior de eventos adversos em doses maiores que 10mg ao dia. Você pode utilizar alguns medicamentos na IU de esforço, com o objetivo de aumentar o tônus do esfíncter uretral. Dentre esses medicamentos, o mais utilizado e com melhor evidência de eficácia é a Duloxetina, que você deve utilizar na dose de 20mg, duas vezes ao dia, por duas semanas, podendo chegar a 40mg, duas vezes ao dia. O uso de estrogênios tópicos para mulheres no climatério melhora os sintomas, devido a sua atuação na atrofia urogenital. A avaliação global do paciente idoso com o manejo adequado de outras comorbidades associadas à IU, pode contribuir para a redução da gravidade dos sintomas urinários. São elas: insuficiência cardíaca, doença renal crônica, diabetes, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), distúrbios do sono, depressão, síndrome metabólica, doença neurológica, e comprometimento cognitivo geral. 77 EIXO 04 | MÓDULO21 Abordagem a problemas de vias urinárias FECHAMENTO DA UNIDADE A incontinência urinária, como abordado acima, apresenta-se como uma situação clínica complexa, por tratar-se de uma questão também do âmbito social e emocional da vida das pessoas acometidas. A IU está associada à perda significativa da liberdade e de qualidade de vida dos pacientes e a sentimentos como vergonha e desconforto. Ademais, um terço dos pacientes acometidos por IU não busca auxílio médico. Então, trata-se de uma condição em que você deve realizar busca ativa na população mais acometida, para que possa realizar o diagnóstico e a abordagem adequada para seus pacientes com incontinência urinária. Tenha sempre em mente como critério para a referência ou não de um caso a expe- riência que você tem quanto àquele assunto. Se se sentir confortável para conduzir o caso, a necessidade de encaminhamento pode ser mais tardia, caso contrário, o encaminhamento pode precisar ser feito antes. • Suspeita de Incontinência Urinária por Extravasamento (IUEV); • Suspeita de câncer de próstata; • Suspeita de doença neurológica; • Piora nos sintomas ou aparecimento de novos. EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias 78 INTRODUÇÃO DA UNIDADE A insuficiência renal (IR) é um problema de saúde cuja condução na APS é de vital importância, por tratar-se, majoritariamente, de uma complicação de condições crônicas, como hipertensão, diabetes ou uso de medicamentos nefrotóxicos. Além de atuar na prevenção, você poderá buscar ativamente por esta condição nos pacientes, e, quando identificada, poderá realizar uma série de condutas para tratar seus pacientes com insuficiência renal, além de compartilhar o cuidado com outros níveis de atenção. Nesta unidade, você estudará os seguintes assuntos: • Indicações de rastreamento de lesão renal; • Exames indicados em cada situação para realizar o monitoramento renal; • Potencial nefrotoxicidade dos fármacos mais comumente utilizados na clínica; • Diagnóstico de insuficiência renal; • Diferenciação de lesão renal aguda de doença renal crônica; • Encaminhamento oportuno à urgência nos quadros de lesão renal aguda; Insuficiência renal (IR) UNIDADE 05 79 EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias • Classificação dos estágios da doença renal crônica; • Tratamento adequado de casos na Atenção Primária à Saúde; • Situações que requerem o cuidado compartilhado com outros níveis de atenção. Dessa forma, espera-se que, ao final do estudo desta unidade, você se esteja mais capacitado para avaliar problemas do sistema urinário, compreendendo as indicações de rastreio de lesão renal, realizando monitoramento da função renal, diagnosticando e estratificando insuficiência renal, tratando a doença renal crônica na APS, identificando os fármacos nefrotóxicos mais comumente utilizados na clínica e encaminhando oportunamente aos outros níveis de atenção. 5.1 EPIDEMIOLOGIA DA DOENÇA RENAL CRÔNICA E DA LESÃO RENAL AGUDA A doença renal crônica (DRC) é uma perda progressiva da função renal de filtro de forma irreversível. Atinge mais mulheres do que homens e a prevalência aumenta com o avanço da idade. Você deve saber que é condição muito prevalente na Atenção Primária, com frequências de 8,5% a 32% dos pacientes (SIMON et al., 2020; GUSSO; LOPES; DIAS, 2019). A maior longevidade da população, bem como o maior acesso a alimentos ricos em sódio e à assistência à saúde aumentou o número de diagnósticos. As principais causas, correspondendo juntas a mais de 60% dos casos, são a hipertensão arterial sistêmica (HAS) e a diabetes mellitus (DM). A lesão renal aguda (LRA) é a perda da função renal de forma acentuada e rápida, em horas ou dias. É causa de urgência e deve ser encaminhada ao hospital de referência de forma imediata, devido a sua gravidade. As principais pessoas em risco para essa condição são idosos acima de 75 anos, pacientes com DM, DRC, insuficiência cardíaca e/ou insuficiência hepática, exposição a drogas nefrotóxicas e exames com contraste (REYNARD; BREWSTER; BIERS, 2013). Podemos classificar a LRA em três tipos, a depender do local do sistema urinário acometido: pré-renal (hipovolemia com queda da pressão arterial, uso de AINEs e IECA ou síndrome hepatorrenal), renal (glomerulopatias, necrose tubular aguda) ou pós-renal (obstrução em ureter, bexiga ou uretra) (GUSSO; LOPES; DIAS, 2019). EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias 80 5.2 RASTREAMENTO E ESTRATIFICAÇÃO DE LESÃO RENAL Como a DRC é uma condição assintomática até em estágios mais avançados (quando pode cursar com edema de face e membros superiores, náuseas, vômitos e ganho de peso), você deve rastreá-la em pacientes com maior risco para desenvolvê-la, que são pacientes com HAS, com DM, com doença cardiovascular estabelecida, com LRA prévia e com antecedente familiar de DRC. Nos pacientes com HAS, utilize a creatinina sérica, para estimativa da Taxa de Filtração Glomerular (TFG), para rastreamento de DRC, desde o diagnóstico, associada à urina tipo 1 - para avaliação da albuminúria e hematúria - e repita anualmente, se inalteradas. Nos pacientes com DM, rastreie no momento do diagnóstico (para DM tipo 2) ou 5 anos após este (para DM tipo 1). Para esta população, o exame de escolha é a microalbuminúria de 24 horas ou a razão albumina/creatinina (RAC) urinária em amostra de urina isolada, com frequência anual, além da dosagem sérica de creatinina e urina tipo 1, com a mesma frequência. É importante que o médico estudante saiba avaliar o exame de microalbuminúria de 24 horas (mg em 24 h) ou a RAC urinária (mg/g): normal (300). Caso algum destes exames apresente alteração, investigue a DRC. Os critérios diagnósticos são evidência de lesão da estrutura renal como anormalidade urinária (hematúria glomerular - mais de 70% de dismorfismo eritrocitário e/ou cilindros hemáticos na amostra - e/ou microalbuminúria/proteinúria) e/ou uma alteração em exame de imagem renal [como cisto] ou na biópsia renal associados a uma Taxa de Filtração Glomerular (TFG) normal (>60) ou isoladamente uma TFGhttps://www.sbn.org.br/profissional/utilidades/calculadoras-nefrologicas/ EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias 82 A Organização KDIGO (Kidney Disease: Improving Global Outcomes), propôs a classificação prognóstica dos pacientes com DRC, utilizando os cinco estágios de TFG complementados por três estágios de excreção urinária de albumina - ou outros indicativos de lesão renal. Dessa forma, foi possível refinar a avaliação longitudinal dos pacientes com DRC. Define-se assim três categorias de risco prognóstico (moderado, alto e muito alto) a partir dos riscos relativos aos estágios que, dessa forma, ajudam a orientar as intervenções clínicas. Para o diagnóstico da LRA, deve ser identificado pelo menos o aumento de 0,3mg/ dL do valor basal de creatinina sérica, ou o aumento de 1,5 a 2 vezes o valor basal. Portanto, é necessário que você conheça o valor basal da creatinina sérica do paciente para o diagnóstico. 5.3 ABORDAGEM NA APS Para todos os pacientes diagnosticados com DRC, solicite pesquisa de sorologias para infecções sexualmente transmissíveis (HIV, sífilis, hepatite B e C). Nos estágios 4 e 5, você deve realizar o exame de anti-HBs uma vez ao ano, já que as hepatites virais crô- nicas estão associadas à piora em morbidade e mortalidade para pacientes com DRC. G1 Normal ou alto ≥ 90 Não é DRC* G2 Levemente diminuído 60-89 G3a Leve a moderadamente diminuído 45-59 G3b Moderada a severamente diminuído 30-44 G4 Severamente diminuído 15-29 G5 Falência renal 300 mg/g Classificação prognóstica da doença renal crônica (DRC) a partir do risco de mortalidade geral e cardiovascular, de doença renal terminal, de injúria renal aguda e de DRC progressiva. Amarelo: risco moderado; laranja: risco alto; vermelho: risco muito alto. *A não ser que apresente hematúria ou anormalidade estrutural ou patológica do rim. RAC: razão albumina/creatinina; TFG: taxa de filtração glomerular. Figura 15 – Estágios da DRC. Fonte: Duncan et al. (2022). 83 EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias Controle adequadamente a condição de base que causou a DRC, como a HAS e o DM. Além disso, todos os pacientes com DRC, independente do estágio, são pessoas em alto risco cardiovascular, então você deve prescrever estatina como prevenção secundária. A atorvastatina (20 mg ao dia) costuma ser a medicação de escolha para pacientes com DRC porque sofre depuração hepática e não requer ajustes de dose renal. Entretanto, outras estatinas de intensidade moderada que demonstraram benefício em pacientes com DRC incluem, rosuvastatina 10 mg ao dia e sinvastatina 20 a 40 mg ao dia (CHEUNG; KRONENBERG, 2021). Aumente a dose se houver redução menor que 40% no colesterol não-HDL e TFG maior ou igual a 30ml/ min/ 1,73m². Se TGF for menor, encaminhe para Nefrologista (SIMON et al., 2020). Os exames e frequências que você deve solicitar de acordo com cada classificação, estão descritos no quadro a seguir: Fonte: Adaptado de Gusso, Lopes; Dias (2019); Duncan et al. (2022). Quadro 08. Exames que devem ser solicitados para classificação e frequência Exame/medida 1 2 3a 3b 4 5 RAC anual anual Creatinina anual anual 6 meses 3 meses Urina tipo I anual anual 6 meses 3 meses Sorologias para ISTs anual anual anual anual Hemograma 6 meses a 1x/ano 3 meses Potássio 6 meses a 1x/ano 3 meses Fósforo 6 meses a 1x/ano 3 meses Cálcio 6 meses a 1x/ano 3 meses PTH 6 meses a 1x/ano 3 meses 25-OH-Vitamina D 6 meses a 1x/ano 3 meses Anti-HBs anual anual Nefrologista sim Terapia substitutiva renal sim EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias 84 O acompanhamento deve ser individualizado a depender da excreção urinária de albumina, além da TFG. No estágio 3a com albuminúria persistente moderadamente aumentada (microalbuminúria A2: 30-300 mg/g - laranja) o seguimento passa a ser de 3 a 6 meses. O monitoramento reduz para 1 a 3 meses caso o estágio 3a seja associado a macroalbuminúria (RAC >300 mg/g, A3 - vermelho). Assim como o estágio 3b com RAC > 30 mg/g, o acompanhamento pode ser realizado em menor frequência - 1 a 3 meses, exceto para as sorologias que se mantêm anual. Você deve solicitar os exames de urina tipo I e a creatinina sérica para acompanhamento da progressão da DRC. Solicite o hemograma para acompanhar possível anemia, já que a produção de hemácias depende da função renal preservada, com a produção de eritropoietina. O rim é fundamental na ativação da vitamina D. Com sua função diminuída, há redução da 25-OH-vitamina D circulante. O hiperparatireoidismo secundário pode ocorrer em pacientes com DRC, com hiperfosfatemia e com hipocalcemia, além do paratormômo (PTH) elevado. Além disso, oriente sobre imunização para influenza uma vez ao ano, pneumococo (em duas doses: ao diagnóstico e cinco anos após) e hepatite B (em quatro doses: ao diagnóstico e após 1, 2 e 6 meses, com dose dobrada). Outras condições como anemia (hemoglobina entre 8 a 10 mg/dL), hipovitaminose D (Fechamento da unidade Encerramento Referências Biografia dos conteudistas 49 50 50 51 53 53 55 59 59 62 64 64 64 65 66 67 68 68 69 69 71 74 74 75 76 77 78 78 79 80 82 85 87 88 89 90 94 EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias 10 Apresentação Caro profissional estudante, Seja bem-vindo ao módulo de Abordagem a Problemas de Vias Urinárias! Os problemas urinários são significativamente prevalentes na população geral e o seu cuidado na Atenção Primária requer treinamento adequado dos profissionais que atuam neste nível de atenção. Para a composição deste módulo, foram escolhidos tanto os problemas mais prevalentes quanto os mais relevantes para a Saúde Pública em se tratando de gravidade clínica e de impacto social: infecções do trato urinário, cólica renal, afecções relacionadas à próstata, incontinência urinária, insuficiência renal, entre outros. Cada unidade abordará um problema diferente do sistema urinário, onde serão discutidos: a apresentação clínica do quadro, a investigação complementar, o diagnóstico, o tratamento e o acompanhamento com os recursos disponíveis na APS, bem como o referenciamento oportuno a outros níveis de Atenção à Saúde. Dessa forma, esperamos que tenha um bom estudo e que esta etapa do curso contribua para um cuidado cada vez mais assertivo para a sua população adscrita ao lidar com os motivos de consulta relacionados ao sistema urinário. Ao final deste módulo, você deverá ser capaz de: • Avaliar problemas do sistema urinário, diagnosticando e tratando os principais tipos de infecção do trato urinário na população geral e em grupos específicos no contexto da Atenção Primária à Saúde; • Analisar problemas do sistema urinário, suspeitando, diagnosticando e conduzindo adequadamente o quadro de cólica renal no contexto da Atenção Primária à Saúde; • Analisar problemas do sistema urinário, identificando sintomas de prostatismo, diagnosticando as etiologias mais frequentes, tratando os quadros sensíveis à APS e encaminhando, quando necessário, para outros níveis de atenção; • Realizar a investigação dos quadros de incontinência urinária, tratando-a adequadamente no contexto da APS e reconhecendo as situações com indicação de encaminhamento para outros níveis de atenção; 11 EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias • Avaliar problemas do sistema urinário, compreendendo as indicações de rastreio de lesão renal, realizando monitoramento da função renal, diagnosticando e estratificando insuficiência renal, tratando a doença renal crônica na APS, identificando os fármacos nefrotóxicos mais comumente utilizados na clínica e encaminhando oportunamente aos outros níveis de atenção. Para estudar e apreender as informações e os conceitos abordados, bem como trilhar todo o processo ativo de aprendizagem, está prevista uma carga horária de 15 horas para este módulo. EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias 12 INTRODUÇÃO DA UNIDADE A infecção do trato urinário (ITU) é a presença de germes nas porções estéreis do trato urinário. Nas ITUs sintomáticas há lesão da mucosa e causa sintomas, já na bacteriúria assintomática não há lesão de mucosa, e sim colonização, por isso não causa sintomas (DUNCAN et al., 2022). Nesta síndrome estão incluídas diversas entidades clínicas, como a cistite, a pielonefrite, a prostatite, a uretrite e a bacteriúria assintomática. Você já deve ter percebido que essa é uma das condições mais frequentes na Atenção Primária à Saúde, podendo corresponder a até 6% das consultas neste nível de atenção (SIMON et al., 2020). Esta multiplicação se dá pela ascensão de micro-organismos, mais comumente bactérias, via uretral até o urotélio. A E.coli é o principal agente patogênico, em 75 a 90% dos casos, seguida do Staphylococcus saprophyticus, encontrado em 5 a 10% das mulheres jovens sexualmente ativas. Apesar de menos comum, outros microrganismos são Proteus mirabilis, Klebsiella, Enterobacter e Serratia, e os gram- positivos Enterococcus, Staphylococcus aureus e Streptococcus. É importante ressaltar a presença das Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) na etiopatogenia das uretrites, com 20% sendo causado por Neisseria gonorrhoeae e 80% por Chlamydia trachomatis, Mycoplasma genitalium e Ureaplasma urealyticum (DUNCAN et al., 2022). Infecções do trato urinário UNIDADE 01 13 EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias A incidência, que é predominante em pacientes do sexo feminino, inicia-se na infância e aumenta na fase de início da vida sexual. De 20 a 40% das mulheres terão alguma ITU durante a vida (DUNCAN et al., 2013). Antes dos 50 anos de idade, é menos comum que você encontre homens com essa afecção. A partir dessa idade, homens podem ter uma maior prevalência relacionada à hipertrofia prostática. Nesta unidade, você estudará os seguintes tópicos: • Principais tipos de ITU: cistite, pielonefrite, prostatite e uretrite; • Diagnóstico de ITU na população geral e em grupos específicos (gestantes, idosos e pessoas com cateterismo vesical); • Diferenciação entre bacteriúria assintomática e ITU; • Condução clínica de bacteriúria assintomática em diferentes contextos; • Indicações de solicitação de exames complementares; • Interpretação dos principais achados de exames complementares; • Tratamento não medicamentoso adequado por diagnóstico e grupo populacional; • Tratamento medicamentoso adequado por diagnóstico e por grupo populacional; • Principais potenciais complicações para ITUs. Dessa forma, esperamos que, ao final do estudo desta unidade, você se sinta mais preparado para avaliar problemas do sistema urinário, diagnosticando e tratando os principais tipos de infecção do trato urinário na população geral e em grupos específicos no contexto da Atenção Primária à Saúde. 1.1 CISTITE Podemos classificar as ITUs anatomicamente como baixas (em que são acometidas uretra e/ou bexiga com invasão superficial de mucosas: cistite, uretrite) ou altas (acometimento renal ou perirrenal, com invasão do tecidual - parênquima: pielonefrite, abscesso perirrenal). Também podemos classificá-las como não complicadas ou complicadas, sendo estas caracterizadas pela presença de alterações anatômicas como as obstruções decorrentes de tumores, hipertrofia prostática, urolitíase ou anormalidades funcionais do trato urinário como bexiga neurogênica, refluxo vesicoureteral. Além de uso de instrumentação urinária (cateteres vesicais ou ureterais, cistoscopia, nefrostomia, derivações urinárias, cirurgias urológicas) e outras condições que se associam com maior risco, como gestação, diabetes mellitus, imunossupressão (DUNCAN et al., 2022). Assim como a maioria das ITUs, a cistite habitualmente ocorre em mulheres em idade reprodutiva. Os principais sintomas apresentados são disúria, polaciúria, dor suprapúbica, urgência miccional e hematúria (SIMON, et al., 2020.) O exame físico, incluindo o exame do aparelho reprodutor feminino, é habitualmente normal e costuma servir para que você descarte outros diagnósticos diferenciais, como na presença de corrimento vaginal ou uretral (SIMON et al., 2020). EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias 14 1.1.1 DIAGNÓSTICO Em se tratando de mulheres adultas e com suspeita de cistite não complicada, você deve realizar o diagnóstico clinicamente, por meio da anamnese e do exame físico. Ressalta-se que a presença de polaciúria e disúria tem valor preditivo positivo de 90% para cistite. Em situações em que a epidemiologia não é tão clara, você pode utilizar um exame de urina com fita reagente. Quando se trata de homens ou mulheres com suspeita de cistite complicada, você deve solicitar urocultura com antibiograma (ou teste de sensibilidade a antibiótico) (DUNCAN et al., 2022). Exame de urina com fita reagente É o exame que você deve solicitar quando for necessária alguma investigação para avaliação da presença de estereases leucocitárias e/ouPrimária, merecem sua atenção. EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias 86 • A primeira destas classes é a de anti-inflamatórios não esteroidais (AINES). Podem causar lesão tubular ou glomerular. Os medicamentos seletivos para a COX-2 estão associados a menos lesões que os não seletivos, porém também podem causá-las (FONTENELLE; BUI; SALGADO, 2017). • Outra classe de medicamentos que podem causar nefrotoxicidade são os antimicrobianos. Dentro deste grande grupo, algumas classes merecem destaque, como os aminoglicosídeos e antivirais como o aciclovir, bem como outros menos comuns, como vancomicina, polimixina e anfotericina B. Duas classes de medicamentos que costumamos utilizar com frequência na Atenção Primária e que podem causar lesão renal são os inibidores da enzima de conversão de angiotensina (IECA) e os BRA, através de lesão glomerular ou no túbulo proximal (FONTENELLE; BUI; SALGADO, 2017). Por fim, é importante salientar o efeito nefrotóxico dos contrastes radiológicos intravenosos, de modo que você fique atento a pacientes submetidos a estes exames. Tenha especial atenção ao uso destas medicações, especialmente em pacientes com DRC conhecida ou em maior risco para desenvolvê-la, como pacientes idosos, com diabetes mellitus e pacientes em uso de polifarmácia. Evite os AINES neste grupo de pacientes, assim como os antibióticos nefrotóxicos. Reserve seu uso para situações pontuais ou quando não houver outra opção medicamentosa. Nestes casos, adapte a dose considerando a função renal do paciente. Você pode utilizar os IECA e BRA nestes pacientes, porém monitore mais frequentemente a sua função renal, bem como seu seguimento clínico, buscando sinais e sintomas que sinalizem piora da função renal. Fonte: jcomp. Freepik Embora algumas drogas nefrotóxicas sejam mais distantes da sua prática na APS, outras como AINES, IECAs e BRAs são de uso corriqueiro. Além disso, como elas não são de uso proibitivo, é importante que você tenha muita cautela e atenção no uso destas. Pode ser necessária redução de dose, ajustada de acordo com a TFG. No link a seguir você encontra algumas sugestões de adequações na dose de acordo ao estágio de DRC: https://linhasdecuidado.saude.gov.br/portal/ doenca-renal-cronica-(DRC)-em-adultos/agentes-farmacologicos/ https://linhasdecuidado.saude.gov.br/portal/doenca-renal-cronica-(DRC)-em-adultos/agentes-farmacologicos/ https://linhasdecuidado.saude.gov.br/portal/doenca-renal-cronica-(DRC)-em-adultos/agentes-farmacologicos/ 87 EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias O Ministério da Saúde publicou, em 2014, as “Diretrizes Clínicas para o Cuidado ao paciente com Doença Renal Crônica – DRC no Sistema Único de Saúde”, que contém material importante sobre o diagnóstico, a classificação e o manejo do paciente com DRC, disponível em: https:// bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_clinicas_cuidado_paciente_ renal.pdf Em 2016, o Ministério da Saúde publicou o “Protocolo de Encaminhamento da atenção básica para a atenção especializada” incluindo para as especialidades de Nefrologia e Endocrinologia, com foco na Atenção Básica, em especial alguns aspectos presentes no processo de referenciamento de usuários para outros serviços especializados, disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/ protocolos_AB_vol1_Endocrinologia_Nefrologia.pdf Ao Nefrologista: Paciente com classificação 4 ou 5; Classificação menor que 4, considerando sua experiência clínica com o tema; Alteração nos exames de rastreamento das condições associada à DRC; Albuminúria elevada (> 300 mg em 24 horas, ou RAC > 300 mg/g), a não ser em casos de diabetes acompanhados por endocrinologista; Declínio > 5 mL/min/1,73 m2 em um período de 6 meses, em uma linha de base 6,5 mEq/dl. https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_clinicas_cuidado_paciente_renal.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_clinicas_cuidado_paciente_renal.pdf https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_clinicas_cuidado_paciente_renal.pdf http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/protocolos_AB_vol1_Endocrinologia_Nefrologia.pdf http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/protocolos_AB_vol1_Endocrinologia_Nefrologia.pdf https://linhasdecuidado.saude.gov.br/portal/doenca-renal-cronica-(DRC)-em-adultos/ https://linhasdecuidado.saude.gov.br/portal/doenca-renal-cronica-(DRC)-em-adultos/ EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias 88 FECHAMENTO DA UNIDADE No seu dia a dia na UBS, você vivenciará o atendimento de pessoas com lesões renais com alguma frequência, especialmente em se tratado de idosos e pacientes com diabetes ou hipertensão. As consequências dessas lesões são importantes e o médico da Atenção Primária deverá estar atualizado quanto ao rastreamento, ao diagnóstico, à classificação e ao seguimento destes pacientes. Em muitas situações, será necessário o acompanhamento conjunto com outros níveis de atenção à saúde, seja a Nefrologia ambulatorial ou o serviço de urgência de referência. Você deve compartilhar este cuidado de forma coordenada visando à saúde do seu paciente. Ao concluir o estudo desta unidade, esperamos que você se sinta mais apto a entregar um cuidado de saúde mais adequado a seus pacientes com lesões renais. 89 EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias Encerramento Caro profissional estudante, Você chegou ao fim do módulo sobre a Abordagem a Problemas de Vias Urinárias. Esperamos que, após o seu percurso de aprendizagem nesse módulo, você se sinta capaz de avaliar problemas do sistema urinário. Você aprendeu sobre investigação, diagnóstico e abordagem dos principais problemas urinários no contexto da Atenção Primária à Saúde. Além disso, discutimos sobre o rastreamento da doença renal crônica e do câncer de próstata, sobre a das complicações mais frequentes relacionadas aos quadros urinários e a identificação de situações nesse contexto que exijam encaminhamento para outro nível de atenção. Você pôde observar diversos quadros, desde os mais corriqueiros, como as infecções do trato urinário e a cólica renal, que costumam afetar uma população mais jovem e têm condução mais simples; passando por quadros mais complexos, como os sintomas do trato urinário inferior e a incontinência urinária, mais frequentes, mas não exclusivos, das faixas etárias mais idosas, e que costumam estar associados a questões emocionais e sociais, além das clínicas; até a insuficiência renal, muito frequentemente associada a doenças crônicas e ao uso de medicações nefrotóxicas. Neste módulo, procuramos enfatizar a importante atuação do profissional da APS nessas situações e as condições mais comuns de indicação para encaminhamento a outros níveis de atenção do sistema de saúde. Assim, tivemos como objetivo balizar a sua atuação profissional, tentando deixar mais claro quais situações vão requerer cuidado integral na APS e quais vão necessitar de referência (imediata ou não) a outros serviços de atenção à saúde. Esperamos que os conhecimentos que você desenvolveu ao longo desse módulo possam ajudar na sua prática profissional e funcionem como ponto de partida para que você continue aprofundando os estudos nessa área, investigando questões que não foram aprofundadas aqui e acompanhando as atualizações científicas que ocorrem constantemente. Bons estudos e avante ao próximo módulo. EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias 90 Referências AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA(ANVISA). Ministério da Saúde. Resolução - RDC Nº 10, de 9 de março de 2010. Dispõe sobre a notificação de drogas vegetais junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e dá outras providências. [S. l.], 9 mar. 2010. Disponível em: http://bvsms.saude. gov.br/bvs/saudelegis/anvisa/2010/res0010_09_03_2010.html. Acesso em: 7 dez. 2020. ANDRIOLE, G. L. et al. Prostate cancer screening in the randomized Prostate, Lung, Colorectal, and Ovarian Cancer Screening Trial: mortality results after 13 years of follow-up. J Natl Cancer Inst, v. 104, n.2, p. 125-132, 2012. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/22228146/. Acesso em: 29 out. 2020. ANTONELLI, J.; MAALOUF, N. BMJ Best Practice. Nefrolitíase. Londres: BMJ Publishing Group Ltd, 2018. Disponível em: . Acesso em: 29 out. 2020. BARROS, E.; VERONESE, F. J. V. Litíase Renal. MedicinaNET: 2014. Disponível em: https://www.medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/5883/litiase_renal.htm BMJ BEST PRACTICE. Cateterismo uretral masculino. 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Disponível em: http://www.medicinanet.com.br/conteudos/casos/6622/litiase_ renal.htm EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias 94 Biografia dos conteudistas Carlos Frederico Confort Campos Médico de família e comunidade formado pela USP-SP, doutorando em Ciências Médicas – Educação e Saúde pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, fellow de pesquisa no Clinical Skills Centre da Universidade de Auckland, Nova Zelândia. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/0797220905549025 Mariana Duque Figueira Médica de família e comunidade formada pela USP-SP, especialista em Medicina de Família e Comunidade pela AMB – SBMFC, preceptora médica na Associação Saúde da Família - SP, médica da Telemedicina do Hospital Sírio Libanês – SP. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/8405786102079973 Mariângela Costa Vieira Médica pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, especialista em Medicina de Família e Comunidade pela Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, mestre em Saúde Coletiva e doutoranda em Saúde Coletiva pela Unicamp. Atualmente é docente do curso de Medicina da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Tem experiência como teleconsultora e atua como telerreguladora do Telessaúde Bahia. É tutora do Projeto Mais Médicos e já foi supervisora médica deste projeto. Tem experiência na área de Saúde Coletiva, com ênfase em Medicina de Família e Comunidade. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3823214693074505 http://lattes.cnpq.br/0797220905549025 http://lattes.cnpq.br/8405786102079973 http://lattes.cnpq.br/3823214693074505 95 EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias Programa Médicos pelo Brasil EIXO 4 | ATENÇÃO À SAÚDE REALIZAÇÃO Ministério da Saúde. Universidade Federal do Maranhão (UFMA). 2022. Abordagem a problemas de vias urinárias MÓDULO 21nitritos. A combinação da presença de ambos confere valores adequados de sensibilidade e especificidade ao exame, assim como a ausência de ambos reduz significativamente a probabilidade da doença (REYNARD; BREWSTER; BIERS, 2013). Figura 01 - Exame de urina com fita reagente. Fonte: Serviço de Análises Clínicas do Hospital Universitário/UFMA. 1.1.2 INVESTIGAÇÃO E EXAMES COMPLEMENTARES O diagnóstico de cistite em mulheres adultas sem sinais de cistite complicada é clínico, não havendo necessidade de solicitação de exames complementares. O diagnóstico diferencial de cistite inclui ISTs e vulvovaginite nas mulheres, em especial na presença de corrimento vaginal (DUNCAN et al., 2022). Lembre-se! 15 EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias Urocultura com antibiograma (também chamado de teste de sensibilidade a antibiótico – TSA) A urocultura tem o objetivo de identificar se há bactéria na urina e qual bactéria é a responsável pela infecção, devendo sempre ser solicitada no caso de: investigações de cistites complicadas em mulheres e suspeita de cistites em homens. O antibiograma, ou teste de sensibilidade a antibiótico, é utilizado para identificar a quais antibióticos a bactéria identificada é sensível e resistente. O teste pode ser realizado de dois modos: qualitativo e quantitativo. O teste qualitativo é realizado colocando um disco contendo o antibiótico a ser testado em uma placa de ágar recém-inoculada com o organismo testado. Passadas 16 a 18 horas, mede-se o diâmetro da zona de inibição em volta do disco. A medida depende da combinação do antibiótico e da bactéria em teste e, por meio dela, será definido como sensível, intermediário ou resistente. O teste quantitativo é feito por métodos de diluição, em que se pode identificar a concentração inibitória mínima (minimum inhibitory concentration - MIC) que é a menor concentração do antibiótico capaz de inibir o crescimento da bactéria após 18 a 24 horas em cultura. Um antibiótico é determinado como sensível se ele tiver a MIC mais baixa do que o teste que o avalia (SOARES et al., 2007). Habitualmente, os resultados das uroculturas vêm com a interpretação da MIC entre sensível, intermediário ou resistente. Você deve escolher a medicação a qual a bactéria é sensível dentre as indicadas para o tratamento, considerando a MIC, o perfil de sensibilidade da região e a ordem de escolha de antibióticos. Quando houver necessidade do uso da urocultura, você deve solicitá-la associada ao antibiograma e ela deve ser coletada antes do início do tratamento com antibióticos, pois mesmo uma dose pode inibir o crescimento bacteriano. Urina tipo I Você pode solicitar e será útil no diagnóstico quando há presença de piúria. Na presença de cilindrúria leucocitária deve ser aventado diagnóstico diferencial entre pielonefrites e lesões renais. Entretanto, apesar de quase patognomônicos de pielonefrite, não são encontrados com frequência nos exames de urina tipo I (GUSSO; LOPES; DIAS, 2019). Exames de imagem Você deve solicitar somente para a exclusão de outros diagnósticos ligados a quadros como cistite recorrente e cistites complicadas (GUSSO; LOPES; DIAS, 2019). Outros exames laboratoriais são pouco úteis ao diagnóstico de cistite. EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias 16 O exame de urina tipo I apresenta diversas nomenclaturas pelo país, como exame de rotina de urina, exame qualitativo de urina (EQU), urinálise, uranálise, exame de urina simples, exame parcial de urina (EPU), elementos anormais de sedimento (EAS), urina 1, análise sumária de urina, exame sumário de urina. Neste material, utilizaremos o termo urina tipo I. Lembre-se! 1.1.3 ABORDAGEM TERAPÊUTICA Você deve tratar a cistite com a prescrição de antibióticos. As opções para tratamento efetivo da condição são sulfametoxazol-trimetoprima, betalactâmicos e fluoroquinolonas, sem diferença de efetividade entre eles. A escolha da classe deve levar em consideração o perfil de sensibilidade a resistência das classes de antibióticos na região à E. coli. Sendo assim, você deve seguir a seguinte recomendação: Mulheres Para mulheres não grávidas com cistite não complicada, você deve escolher, como primeira linha de tratamento, a nitrofurantoína 100 mg a cada 6 horas por 5 a 7 dias, ou fosfomicina trometamol 3g em dose única ou sulfametoxazol- trimetoprim 800/160 mg a cada 12 horas por 3 dias. Utilize as quinolonas e os betalactâmicos como alternativas (DUNCAN et al., 2022). Homens Para homens, utilize o sulfa- metoxazoltrimetoprim ou qui- nolonas, já que os demais não atingem concentração tecidu- al adequada para eventual prostatite oculta associada (GUSSO; LOPES; DIAS, 2019). Você pode precisar ajustar a dose dos antibióticos no caso de pacientes com alguma forma de lesão renal. Além disso, seus pacientes podem apresentar eventos adversos comuns de seu uso, como a presença de diarreia ou reações de hipersensibilidade, bem como efeitos menos comuns, como confusão mental aguda em idosos usando quinolonas. O uso de Nitrofurantoína está contra indicado na insuficiência renal/ taxa de filtração glomerular (TFG)ou intermitente pós-coital, nos casos de ITU associada à relação sexual, tendo a vantagem de apresentar menos efeitos adversos; • A duração da profilaxia é de 6 a 12 meses, em média, e o efeito protetor não se estende após cessação do uso da medicação. Observe na tabela abaixo opções de profilaxia para cistites não complicadas recorrentes: Fármaco* Contínua Intermitente Dose (mg) Frequência Dose (mg) Frequência Sulfametoxazol + trimetoprima 200 + 40 Diária ou 3x/ semana 200 + 40-400 + 80 Pós-coital Nitrofurantoína 50-100 Diária 50-100 Pós-coital Cefalexina 125-250 Diária 250 Pós-coital Fosfomicina 3.000 10/10 dias - - *Todos os fármacos podem ser administrados apenas após o coito em mulheres cujas infecções parecem estar associadas ao ato sexual. Fonte: Duncan et al. (2022). Tabela 01. Profilaxia medicamentosa da infecção do trato urinário Cefalexina deve ser utilizada apenas em gestantes devido à resistência. Ciprofloxacina 125 mg e norfloxacina 200 mg podem ser opções apenas quando não for possível nenhum outro, devido a seus efeitos colaterais ecológicos (resistência) (GUSSO; LOPES; DIAS, 2019; DUNCAN et al., 2022). 19 EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias 1.2 PROSTATITE A prostatite (processo inflamatório da próstata) em suas diversas apresentações – aguda, crônica bacteriana e crônica não bacteriana/síndrome da dor pélvica crônica – tem uma prevalência média de 8,2% entre os homens adultos (RIBEIRO et al., 2018). Em torno de 50% dos homens apresentarão sintomas de prostatite ao longo da vida, a maioria a partir dos 50 anos, sendo um quadro muito comum nos seus atendimentos na Atenção Primária à Saúde (GUSSO; LOPES; DIAS, 2019). A dor é a queixa principal, podendo ser perineal (por vezes irradiada para a parte interna das coxas), retal, genital (às vezes, irradiada para pênis ou testículos), suprapúbica ou até lombar baixa. Nos casos agudos, costuma estar associada a sintomas constitucionais e de trato urinário inferior (irritativos ou obstrutivos), como: febre, calafrios, mialgia, disúria, urgência e retenção urinária. Homens que foram submetidos recentemente a procedimentos como dilatação da uretra, cateterização vesical, cistoscopia, biópsia da próstata e ressecção transuretral da próstata têm maior chance de desenvolver episódios de prostatite aguda. Os quadros crônicos podem apresentar irritação persistente do canal urinário, infecções urinárias de repetição (na prostatite crônica bacteriana), dor ejaculatória, disfunção sexual e até hemospermia, num padrão de recidivas e remissões de intensidade e frequências variadas que causam bastante impacto na qualidade de vida do paciente. Figura 02 - Anatomia da próstata normal e com prostatite. Fonte: Adaptado de Akcmdu9. Wikimedia Commons ©. 1.2.1 INVESTIGAÇÃO E EXAMES COMPLEMENTARES • Exame físico: você deve checar sinais vitais (temperatura corporal, frequência cardíaca e pressão arterial), realizar exame abdominal (observando se a bexiga está distendida por retenção urinária), avaliar as regiões inguinal e perineal (excluindo outras causas que justifiquem a dor e observando se há secreção uretral) e realizar toque retal. ProstatitePróstata normal Urina Aumento prostático Urina Próstata Uretra https://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0/deed.en EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias 20 No site educacional do módulo de Coloproctologia da disciplina de Cirurgia do Sistema Digestório, Órgãos Anexos e Parede Abdominal do curso de medicina da Universidade Federal do Amazonas, há a descrição passo a passo do toque retal ilustrada por fotos, sendo um conteúdo útil para relembrar a técnica do procedimento e os aparatos anatômicos necessários. Disponível em: https://home.ufam.edu.br/dcc1/modulos/I/ exaprotoq.htm Episódios agudos Nos episódios agudos, a próstata estará bastante dolorida, edemaciada e quente. Lembre-se de realizar um toque gentil nessas situações, para menor desconforto do paciente e porque a pressão intensa pode induzir ou piorar uma bacteremia. Episódios crônicos Nas apresentações crônicas, o resultado do toque retal pode variar: desde sem alterações relevantes até a presença de uma próstata edematosa e dolorida em algum grau. As prostatites crônicas bacterianas frequentemente apresentam próstata aumentada. Principalmente nos casos crônicos de prostatite, torna-se importante você conseguir diferenciar um quadro de próstata dolorida de dor ocasionada por pontos gatilhos ou de dor por espasmos musculares nos músculos do períneo e do assoalho pélvico. Uma dica para você utilizar nessas situações: dor à palpação das paredes do reto nas porções onde não palpamos a próstata associada a pontos gatilho perineais é um quadro altamente sugestivo de síndrome da dor pélvica crônica. Quanto ao que esperar na realização do toque retal, perceba que: • PSA (antígeno prostático específico): você não deve solicitar PSA nos quadros sugestivos de prostatite! Quando um paciente seu apresentar PSA elevado, é necessário esclarecer se a coleta do exame foi feita em um contexto de sintomas de prostatite. Durante os quadros de prostatite, o PSA pode estar bastante alterado: nas prostatites agudas pode chegar até cerca de 75ng/ml e em 25% dos quadros crônicos também está elevado. A conduta nessas situações consiste em realizar o tratamento para prostatite com antibiótico e repetir o exame de PSA após 4 a 6 semanas para verificar a sua normalização. Lembre-se! https://home.ufam.edu.br/dcc1/modulos/I/exaprotoq.htm https://home.ufam.edu.br/dcc1/modulos/I/exaprotoq.htm 21 EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias • Urina tipo 1 e Urocultura de jato médio: você precisa solicitar sempre que possível para avaliar os sintomas sugestivos de prostatite. Nos casos agudos, não é necessário aguardar o resultado para o início empírico do tratamento do paciente. • Pesquisa de clamídia e gonococo na urina: são exames que podem ser utilizados para investigação específica, se houver suspeita clínica e acesso a eles na região em que você atua. Na prática do seguimento na APS, recomenda-se que você realize a abordagem sindrômica e o tratamento empírico na suspeita de infecção por tais patógenos ou na presença de uretrite/secreção uretral. • Hemograma e hemocultura: são necessários se houver um quadro sugestivo de bacteremia, situação em que há indicação de encaminhamento para o pronto- atendimento, onde tais exames serão solicitados. • Ultrassonografia de vias urinárias: é necessária se houver febre persistente (48h) após o início da antibioticoterapia para investigar abscesso prostático (situação em que há indicação de avaliação em pronto-atendimento) ou se o paciente apresentar sintomas de retenção urinária para avaliar o trato urinário (buscando obstruções, tamanho prostático elevado e/ou resíduo pós-miccional > 100ml). 1.2.2 DIAGNÓSTICO • Prostatite aguda: o diagnóstico é clínico e já respalda que você inicie a antibioticoterapia. O exame de urina mostrará piúria e a urocultura acusará algum uropatógeno do espectro dos mais prevalentes nas cistites (E. coli é o mais comum), exceto quando infecção for por clamídia ou gonococo (CHAPPLE; MANGERA, 2018). • Prostatite crônica bacteriana: o quadro apresentado pelo paciente inclui sintomas persistentes ou recorrentes por três meses em paciente não agudamente doente/sem sintomas constitucionais. As uroculturas colhidas quando o paciente está sintomático são positivas (E coli, Enterococcus sp e Ureaplasma urealyticum são os patógenos mais comuns), exceto nos casos de infecção por clamídia. Se for realizada coleta de urina pós-massagem prostática, ela costuma apresentar leucocitúria e urocultura também positiva. Vale ressaltar que a urocultura tradicional, na ausência de massagem prostática prévia à coleta, geralmente será negativa. • Prostatite crônica não bacteriana/síndrome da dor pélvica crônica: o diagnóstico se dá pelapresença dor ou de desconforto na região pélvica, persistentes ou recorrentes, em pelo menos três dos últimos seis meses, associados ou não a sintomas urinários e sexuais, na ausência de outras causas identificáveis. A urina do paciente pode apresentar algum grau de leucocitúria, mas a urocultura (seja a de jato médio ou a pós-massagem prostática) será sempre negativa. A etiologia da síndrome da dor pélvica crônica ainda não está bem estabelecida e parcela significativa dos pacientes não tem sinal de inflamação da próstata, não se sabendo em que extensão a próstata é responsável pelos sintomas. É um quadro que apresenta associação frequente com depressão, ansiedade, síndrome da fadiga crônica e fibromialgia. EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias 22 REFLEXÃO Os pacientes com síndrome de dor pélvica crônica costumam ser bastante sintomáticos. São pacientes que já realizaram inúmeras investigações e tratamentos que não consideram bem-sucedidos, procurando com frequência a equipe de saúde, por vezes, de forma reativa e trazendo muitos motivos de consulta para os encontros. No seguimento de pessoas com esse perfil, lembre-se que você pode utilizar o método clínico centrado na pessoa e suas habilidades de comunicação para a continência do sofrimento, para a abordagem das expectativas e dos medos do paciente e para consensuar um plano terapêutico que inclua a prevenção quaternária. 1.2.3 ABORDAGEM TERAPÊUTICA Prostatite aguda • Antibioticoterapia: Ciprofloxacino 500mg, de 12/12h OU Sulfametoxazol + Trimetropima (800/160mg, de 12/12h, por 14 dias) se infecções leves; por 28 a 42 dias, se pacientes graves/toxêmicos ou com sintomas após 14 dias de tratamento. Atenção! Não esqueça de realizar ajustes de acordo com o antibiograma da urocultura. Ao receitar essas medicações, você deve atentar para a resistência de E.coli na sua região. • Se houver suspeita de infecção sexualmente transmissível (IST) ou de uretrite/ secreção uretral associada: Ceftriaxona (500mg IM dose única) e Doxiciclina (100mg, de 12/12h, por 7 a 10 dias) OU Azitromicina (1g dose única). • Utilize sintomáticos se necessário, de acordo com os sintomas do paciente (analgésicos, antitérmicos ou laxantes para reduzir a consistência das fezes). • Se houver retenção urinária aguda (pode ocorrer em cerca de 10% dos casos), alguma forma de drenagem vesical deve ser realizada. A cistostomia é a forma mais segura e recomendada, e a cateterização vesical deve ser evitada. Entretanto, esta última pode ser considerada segunda opção com encaminhamento para a urologia (GUSSO; LOPES; DIAS, 2019; DUNCAN et al., 2022; MEYRIER; FEKETE, 2022). Prostatite crônica bacteriana • Antibioticoterapia: Ciprofloxacino (500mg, 12/12h) OU Sulfametoxazol + Trimetropim (800/160mg 12/12h, por 4 a 6 semanas). Pacientes com sintomas 23 EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias Síndrome da dor pélvica crônica A) Se forem apresentados sintomas há menos de seis meses e sem uso prévio de antibiótico desde o início dos sintomas: • Antibioticoterapia: Ciprofloxacino (500mg, 12/12h) OU Sulfametoxazol + Trimetropima (800/160mg, 12/12h), por 28 a 42 dias. Considerar possibilidade de Chlamydia, Mycoplasma e Ureaplasma, acrescentando ao tratamento: Doxiciclina (100mg, de 12/12h, por 28 a 42 dias). Ao receitar Ciprofloxacino e Trimetropima, você deve atentar para a resistência de E.coli na sua região. • Se houver sintomas miccionais obstrutivos: Você deve associar um alfa- bloqueador ao tratamento: Doxazosina 2 a 8mg/dia. Inicie a Doxazosina em doses baixas (1 a 2mg) e aumente a cada 1 a 2 semanas conforme tolerância do paciente até o controle dos sintomas. Suspenda a medicação se não houver melhora dos sintomas obstrutivos após 12 semanas de uso contínuo. • Se necessário, utilize sintomáticos de acordo com os sintomas do paciente (analgésicos). B) Se forem apresentados sintomas há mais de seis meses ou refratários à antibioticoterapia prévia: • Você deve utilizar uma terapia multimodal, individualizada, conforme o padrão dos sintomas do paciente. persistentes ou recorrentes por no máximo 6 meses e que não fizeram nenhum curso de antibioticoterapia, desde o início dos sintomas*. Para pacientes refratários à antibioticoterapia prévia e sintomáticos há mais de 6 meses, a terapia multimodal, combinando medidas farmacológicas e não farmacológicas direcionadas aos sintomas de forma individualizada, deve ser indicada. A associação de um alfabloqueador (doxazosina 2 a 8 mg) ao tratamento antibiótico pode melhorar os sintomas miccionais obstrutivos e reduzir a taxa de recorrências (GUSSO; LOPES; DIAS, 2019; DUNCAN et al., 2022; RIBEIRO et al., 2018). *Se necessário, não se esqueça de realizar ajustes de acordo com o antibiograma da urocultura. Ao receitar essas medicações você deve atentar para a resistência de E.coli na sua região. • Na suspeita de Clamídia ou de uretrite/secreção uretral associada: Doxiciclina (100mg, 12/12h) por 10 dias OU Azitromicina (500mg), por 21 dias. • Se necessário, utilize sintomáticos, de acordo com os sintomas do paciente (analgésicos ou laxantes para reduzir a consistência das fezes). Se houver persistência dos sintomas após o tratamento: primeiramente, verifique a adesão do paciente. Se houver boa aderência, você deve coletar nova urocultura com antibiograma, solicitar ultrassonografia para verificar abscesso prostático e encaminhar ao Urologista para avaliação complementar. EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias 24 A ferramenta UPOINTs, que será apresentada no quadro a seguir, é uma opção validada para ajudar você a compreender os domínios clínicos dos sintomas do paciente, direcionando o plano terapêutico (RIBEIRO et al., 2018). Você pode pedir para que o paciente realize um diário dos sintomas para auxiliar na sua avaliação desses domínios clínicos, além de colocar a pessoa numa posição ativa em relação ao próprio cuidado. Domínio Urinário Descrição clínica - Escore dos sintomas urinários do NIH-CPSI > 4; - Sintomas urinários de armazenamento e/ou obstrutivos; - Resíduo pós-miccional > 100ml. Tratamentos possíveis - Alfa-bloqueadores (Doxazosina 2 a 8mg, 1 vez ao dia); - Inibidores da 5-alfa-redutase (Finasterida 5mg, 1 vez ao dia); - Anticolinérgicos (Oxibutinina 5mg, 1 a 3 vezes ao dia). Psicossocial - Depressão ou ansiedade; - Dificuldade em lidar com problemas ou comportamento mal adaptativo, como catastrofização a respeito da dor (aumento ou ruminação dos sintomas, desesperança) ou pobre interação social. - Aconselhamento (sobre o diagnóstico, ciclo da dor crônica); - Terapia cognitivo-comportamental; - Antidepressivos; - Ansiolíticos. Órgão específico - Dor à palpação da próstata; - Leucócitos em fluído prostático (ou urina pós- massagem prostática); - Hematospermia; - Calcificações prostáticas extensas (identificadas em exame de imagem). - Quercetina 500mg 2 vezes ao dia por 30 dias. Infecção - Culturas positivas; - Resposta prévia a antibiotocoterapia; - Síndrome uretral. - Antibióticos (antimicrobiano e posologia conforme infecção a ser tratada). Neurológico/ sistêmico - Antidepressivos tricíclicos (como Amitriptilina 10 a 75mg/ noite); - Dor neuropática; - Perda de sensibilidade; - Disestesia (sensação anormal de desconforto ou dor, Quadro 02. Domínios do UPOINTs, descrições clínicas e tratamentos possíveis 25 EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias Fonte: Ribeiro et al. (2018). - Gabapentinóides (como gabapentina 1200-3600 mg/dia dividido em 3 doses); - Acupuntura; - Tratamentos específicos para condições associadas. Dor (Tenderness) em músculos esqueléticos - Dor à palpação e/ou contraturas musculares dolorosas ou pontos-gatilho no períneo ou músculos do assoalho pélvico (esses comumente palpados através do toque retal). - Fisioterapia; - Relaxantes musculares (como Ciclobenzaprina 5 a 10mg, 3vezes ao dia, por 2 a 3 semanas); - Exercício físico; - Aplicação de calor local. Sexual - Disfunção erétil; - Ejaculação precoce; - Alterações orgásmicas; - Dor durante e/ou após a ejaculação. - Inibidores de fosfodiesterase -5 (Sildenafil 25 a 100mg 1h antes da relação sexual); - Inibidores da receptação da serotonina (como Fluoxetina 20 a 40mg/dia). espontânea ou provocada); - Alteração de força ou reflexos; - Dor além da pelve ou abdômen; -Síndrome do intestino irritável; - Síndrome da fadiga crônica; - Síndrome de Sjogren. Já o Índice de Sintomas da Prostatite Crônica (NIH – CPSI), apresentado na figura a seguir, é um questionário validado que sistematiza a caracterização dos sintomas e sua gravidade, também podendo lhe auxiliar na individualização do tratamento do seu paciente. EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias 26 Figura 03 - Índice de Sintomas de Prostatite Crônica (NIH-CPSI). Fonte: Adaptado de Ribeiro et al. (2018) inspirado em Novotny et al. (2013). 27 EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias 1.3 PIELONEFRITE A pielonefrite é o acometimento infectoinflamatório do parênquima, cálices ou pelves renais e se dá numa proporção de 1:28 em relação às cistites. As pielonefrites agudas ocorrem por via ascendente uretral (maioria) ou hematogênica (em pacientes imunossuprimidos ou crônicos debilitados) e são geralmente causadas por bactérias Gram negativas (E. coli em 60 a 80% dos casos não complicados) (FRASSETTO; FRASSETTO, 2020). Portadores de anormalidades anatômicas ou obstrutivas urinárias, pacientes com cateteres, imunossuprimidos, idosos, gestantes e homens têm maior propensão a desenvolverem pielonefrite complicada. A apresentação clínica inclui febre de início agudo (em 77% dos pacientes), calafrios, prostração, dor lombar ou nos flancos, náusea e vômitos. O quadro em geral se desenvolve rapidamente e pode incluir dor abdominal e diarreia. Sintomas miccionais irritativos (disúria, urgência, polaciúria) também podem estar presentes, geralmente por cistite ou uretrite associada. 1.3.1 INVESTIGAÇÃO E EXAMES COMPLEMENTARES • Exame físico: cheque os sinais vitais (observando presença de febre, desidratação, taquicardia, hipotensão ou perfusão periférica lentificada), procure pelo sinal de Giordano/punho-percussão lombar (geralmente ocorre de forma unilateral, podendo não estar presente em casos leves ou na fase inicial de casos moderados a graves), realize o exame abdominal (excluindo diagnósticos diferenciais de abdômen agudo) e faça a ausculta pulmonar (observando diagnóstico diferencial de pneumonia de lobo inferior). • Urina tipo 1: você deve solicitar este exame sempre que houver suspeita diagnóstica de pielonefrite. A análise de urina pode apresentar leucocitúria, hematúria, bacteriúria e nitrito positivo. A sensibilidade do exame é alta (72% a 95%) e a especificidade é baixa (48% a 82%). Você deve pensar em origem renal para a leucocitúria se a urina apresentar cilindros leucocitários. • Urocultura: você também deve solicitar sempre que houver suspeita diagnóstica. A cultura costuma apresentar crescimento superior a 100.000 unidades formadoras de colônia [UFC] por mililitro de urina. • Hemograma e Hemocultura: são exames necessários se houver quadro sugestivo bacteremia, situação em que há indicação de encaminhamento para o pronto-atendimento, onde tais exames serão solicitados. • Beta-HCG ou teste rápido de gravidez (o teste rápido é de fácil acesso e deve ser priorizado no atendimento na APS para conduta imediata): você precisa solicitar esse teste para excluir a possibilidade de gestação em mulheres em idade reprodutiva, direcionando o tratamento específico. EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias 28 1.3.3 ABORDAGEM TERAPÊUTICA A antibioticoterapia é orientada pela suscetibilidade bacteriana da sua localidade geográfica. Lembre-se que a Nitrofurantoína e a Fosfomicina não alcançam uma concentração renal adequada para o tratamento das pielonefrites. Betalactâmicos por via oral são menos efetivos para tratamento de pielonefrite aguda, já que não atingem altos níveis no tecido renal tanto quanto os aminoglicosídeos e fluoroquinolonas. O tratamento ambulatorial de casos leves a moderados por 7 dias com fluoroquinolonas ou por 14 dias com outras classes de antimicrobianos costuma ser suficiente. É de suma importância que você realize a reavaliação clínica dos seus pacientes com pielonefrite após 48-72h de antibioticoterapia. As complicações mais comuns são retenção urinária, abscesso, sepse, insuficiência renal e recorrência. Em um paciente com quadro clínico altamente sugestivo, você deve orientar o tratamento para ser iniciado logo após a coleta de urina e antes do resultado da cultura. Lembre-se! • Exames de imagem (ultrassonografia ou tomografia computadorizada com contraste): o exame de imagem deve ser solicitado sempre que houver pielonefrites graves, quando os sintomas persistirem após 48h a 72h de antibioticoterapia adequada, na suspeita de obstrução do trato urinário, quando os sintomas forem recorrentes em poucas semanas após o tratamento, se houver recidivas frequentes ou hematúria persistente. • A ultrassonografia é mais barata, não envolve exposição a radiação ou contraste e tem uma sensibilidade moderada, sendo uma ótima opção para que você solicite pela APS nos casos sem indicação de pronto-atendimento (quando os sintomas forem recorrentes em poucas semanas após o tratamento, se houver recidivas frequentes ou hematúria persistente). • A tomografia pode não estar acessível ou ser de acesso restrito na localidade em que você atua, devendo ser reservada para casos em que há necessidade de encaminhamento à urgência ou ao especialista focal. 1.3.2 DIAGNÓSTICO O padrão-ouro para o diagnóstico da pielonefrite é o exame de urocultura. Na ausência de piúria ao exame urina tipo 1, você precisa considerar os diagnósticos diferenciais (principalmente abdômen agudo e pneumonia de lobo inferior, já citados anteriormente). 29 EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias Na recorrência, os sintomas geralmente reaparecem entre 7 e 14 dias. Você deve repetir a urocultura com antibiograma nestes casos e solicitar exame de imagem (ultrassonografia das vias urinárias) se a cepa bacteriana da cultura for a mesma da infecção inicial. Não é necessário realizar uroculturas de rotina pós-tratamento adequado dos quadros de pielonefrite aguda, exceto em gestantes e se pré-operatório de cirurgia urológica. Antibioticoterapia: • Ciprofloxacino 500mg, de 12/12h OU Levofloxacino 500mg, de 24/24h, por 7 dias. • Sulfametoxazol + Trimetropima 800/160mg, de 12/12h OU Amoxicilina + Ácido clavulânico 875/125mg, de 12/12h, por 14 dias. Opção possível no caso de pacientes imunocompetentes, sem fatores de risco para complicação e sem maiores comprometimentos sistêmicos, checando o antibiograma da urocultura em 24h a 48h. Ao receitar, Ciprofloxacino, Trimetropima e Ácido clavulânico, atentar para resistência de E.coli na sua região. • Ceftriaxona 1 g EV ou IM dose única ou gentamicina: 5 mg/kg/dia, EV, no início do tratamento, em áreas onde a resistência às fluoroquinolonas é em torno de 10% ou caso os perfis de sensibilidade bacteriana local não sejam conhecidos, enquanto se aguarda o resultado da urocultura. 1.4 URETRITE As uretrites são infecções sexualmente transmissíveis (IST) que ocorrem mais frequentemente em homens (mas também acometem mulheres) jovens, com condições de vida desfavoráveis, com nova ou múltiplas parcerias sexuais, história prévia de IST e uso irregular de preservativos ou ausência de uso. Os principais sintomas são corrimento uretral, dor uretral, disúria, estragúria (micção lenta e dolorosa), prurido uretral, eritema de meato uretral. Se não encontrar corrimento uretral ao exame físico, realize a ordenha da uretra, através da compressão da base do pênis em direçãoà glande (GUSSO; LOPES; DIAS, 2019). 1.4.1 DIAGNÓSTICO Você pode realizar o diagnóstico sindrômico na presença de drenagem purulenta ou mucopurulenta no meato uretral. No entanto, somente a história de corrimento uretral, mesmo na sua ausência ao exame físico, é suficiente para que você faça o diagnóstico e inicie o tratamento. Os principais agentes etiológicos mais comuns são o gonococo (Neisseria gonorrhoeae) e a clamídia (Chlamydia trachomatis). Menos frequentemente, são causados por EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias 30 Trichomonas vaginalis, Mycoplasma genitalium e Ureaplasma urealyticum. A bacterioscopia pela coloração de Gram pode identificar a condição pela presença de ≥ 5 polimorfonucleares em lâmina de imersão e identificar infecção gonocócica pela presença de diplococos Gram-negativos em leucócitos polimorfonucleares. Figura 04 - Exsudato uretral com coloração de Gram mostrando diplococos Gram-negativos intracelulares típicos (Neisseria gonorrhoeae) e organismos Gram-negativos extracelulares pleomórficos, o que indica diagnóstico de uretrite gonocócica em paciente. Fonte: Norman Jacobs. CDC Public Health Image Library. Além desses métodos, você pode realizar o diagnóstico através da presença de esterase leucocitária em urina de primeiro jato ou em exame microscópico de sedimento urinário de primeiro jato, apresentando > 10 polimorfonucleares (PMN) por campo (DUNCAN et al., 2013). 31 EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias Diagnóstico sindrômico Bacterioscopia com coloração de Gram Sorologias para ISTs Habitualmente, o diagnóstico sindrômico é suficiente para que você inicie o tratamento. Em locais onde há microscópio com coloração de Gram acessível, é interessante que você confirme a presença ou não de infecção gonocócica associada. Ainda sobre exames complementares, considerando tratar-se de uma IST, ofereça sempre os testes rápidos para HIV, sífilis, hepatite B e C; realize o aconselhamento pré e pós-teste; faça a abordagem de comportamento de risco; realize a avaliação das parcerias; e oriente sobre contracepção (se oportuno). 1.4.3 ABORDAGEM TERAPÊUTICA Para o tratamento das uretrites, você deve sempre tratar clamídia. Quando você realizar o diagnóstico etiológico e confirmar a presença de gonococos ou quando realizar somente o diagnóstico etiológico, realize tratamento voltado tanto para clamídia quanto para gonococo. Reavalie o paciente em 7 dias para verificar a remissão dos sintomas. Caso persistam, trate os outros agentes menos comuns, como Trichomonas vaginalis, Mycoplasma genitalium e Ureaplasma urealyticum. É importante convocar as parcerias da pessoa acometida para que recebam tratamento, orientação e oferta de sorologias para outras ISTs. Os regimes de tratamento, bem como o fluxograma para abordagem das uretrites estão demonstrados, respectivamente, no quadro e na figura a seguir: 1.4.2 INVESTIGAÇÃO E EXAMES COMPLEMENTARES Cuide do paciente com diagnóstico de uretrite de forma semelhante a todos os pacientes com ISTs, oferecendo aconselhamento pré e pós-teste oportuno, abordando o comportamento de risco, avaliando as parcerias e pesquisando outras sorologias. Lembre-se! EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias 32 Quadro 03. Tratamento das uretrites Fonte: Adaptado de Brasil (2020). Condição clínica Uretrite sem identificação do agente etiológico Primeira opção Segunda opção Comentários Uretrite gonocócica e demais infecções gonocócicas NÃO complicadas (uretra, colo do útero, reto e faringe) Ceftriaxona 500mg, IM, d o s e ú n i c a M A I S Azitromicina 500mg, 2 comprimidos, VO, dose única Ceftriaxona 500mg, IM, d o s e ú n i c a M A I S Doxiciclina 100mg, 1 comprimido, VO, 12/12 horas, por 7 dias Ceftriaxona 500mg, IM, d o s e ú n i c a M A I S Azitromicina 500mg, 2 comprimidos, VO, dose única Uretrite não gonocócica Azitromicina 500mg, 2 comprimidos, VO, dose única Doxiciclina 100mg, 1 comprimido, VO, 12/12 horas, por 7 dias A resolução dos sintomas pode levar até 7 dias após a conclusão da terapia Uretrite por clamídia Azitromicina 500mg, 2 comprimidos, VO, dose única Doxiciclina 100mg, 1 comprimido, VO, 12/12 horas, por 7 dias A resolução dos sintomas pode levar até 7 dias após a conclusão da terapia Rastreamento de infecções gonocócicas Ceftriaxona 500mg, IM, d o s e ú n i c a M A I S Azitromicina 500mg, 4 comprimidos, VO, dose única Gentamicina 240mg, IM MAIS Azitromicina 500mg, 4 comprimidos, O, dose única Para casos de falha de tratamento. Possíveis reinfecções devem ser tratadas com as doses habituais Uretrite por Mycoplasma genitalium Azitromicina 500mg, 2 comprimidos, VO, dose única Uretrite por Trichomonas vaginalis Metronidazol 250mg, 2 comprimidos VO, 12/12 horas, por 7 dias Clindamicina 300mg, VO, 12/12 horas, por 7 dias • Se o paciente apresentar alergia grave as cefalosporinas, indicar azitromicina 500mg, 4 comprimidos, VO, dose única (dose total: 2g). • Os pacientes e a(s) parceria(s) devem se abster de relações sexuais desprotegidas até que o tratamento de ambos esteja completo (ou seja, após o término do tratamento com múltiplas doses ou por 7 dias após a terapia com dose única). 33 EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias Figura 05 – Fluxograma de Abordagem dos Corrimentos Uretrais. Fonte: Adaptado de Brasil (2022). Queixa de corrimento uretral Anamnese e Exame físico Laboratório disponível? Coleta de material para microscopia (Gram) e para cultura e/ou biologia molecular Tratar clamídia NãoSim Sinais e sintomas persistem após 7 dias? Presença de diplococos gram-negativos intracelulares (Gram)? Não Sim Tratar gonorreia e clamídia Não Sim Sinais e sintomas persistem após 14 dias? Não Sim Referenciar ao serviço especializadoAlta Tratar clamídia e gonorreia História clínica: avaliar práticas sexuais e fatores de risco para IST, uso de produtos e/ou objetos na prática sexual. Aspecto do corrimento: mucopurulento, com volume variável associado a dor uretral (independentemente da micção), disúria, estrangúria (micção lenta e dolorosa), prurido uretral e eritema de meato uretral. Quando disponíveis testes de biologia molecular rápida, tratar conforme achado. Fatores de risco para IST - Idade abaixo de 30 anos - Novas ou múltiplas parcerias sexuais - Parcerias com IST - História prévia/ presença de outra IST - Uso irregular de preservativo Excluir reinfecção, tratamento inadequado para clamídia e gonorreia, resistência antimicrobiana, trauma, irritação química ou inserção de corpos estranhos. EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias 34 Em 2022, o Ministério da Saúde publicou o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Atenção Integral às Pessoas com Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), que contém material gratuito e importante na identificação, no diagnóstico e na abordagem das principais ISTs, incluindo a uretrite. Para aprender mais sobre uretrite, leia o tópico 8 “Infeções que causam corrimento uretral” neste material (páginas 118 a 125). Disponível em: https://www.gov.br/aids/pt-br/centrais-de-conteudo/ pcdts/2022/ist/pcdt-ist-2022_isbn-1.pdf/view 1.5 BACTERIÚRIA ASSINTOMÁTICA Define-se bacteriúria assintomática pela presença de 100.000 UFC/mL na urocultura em duas amostras consecutivas - em mulheres não grávidas - e ausência de sintomas característicos de ITU. Em homens, apenas 1 urocultura positiva, na ausência de sintomas urinários, é necessária para o diagnóstico (DUNCAN et al., 2022). 1.5.1 INDICAÇÕES DE ABORDAGEM TERAPÊUTICA Apesar de haver uma série de condições nas quais sugere-se que existam evidências de que o tratamento da bacteriúria assintomática seja benéfico, como para idosos ou pacientes diabéticos, você deve somente tratar essa condição em gestantes e pa- cientes que vão ser submetidosa procedimentos urológicos invasivos, diagnósticos ou terapêuticos. Em gestantes, este tratamento está associado a menor ocorrência de pielonefrite, recém-nascido de baixo peso ou amniorrexe prematura. Trate por sete dias com o antibiótico indicado na urocultura com antibiograma (considere a dose e a posolo- gia colocada na seção de Cistites). Lembre-se que o sulfametaxazol-trimetoprim deve ser utilizado somente no 2º trimestre da gestação (SIMON et al., 2020). Antes da realização de procedimentos urológicos, prescreva o tratamento da mesma forma que uma ITU sintomática, considerando os mesmos fatores, como sexo, presença ou não de fatores definidores de ITU complicada. Não há evidência que indique rastreamento, tampouco tratamento de bacteriúria assintomática em qualquer situação, exceto gestação e realização de procedimentos urológicos. Lembre-se! https://www.gov.br/aids/pt-br/centrais-de-conteudo/pcdts/2022/ist/pcdt-ist-2022_isbn-1.pdf/view https://www.gov.br/aids/pt-br/centrais-de-conteudo/pcdts/2022/ist/pcdt-ist-2022_isbn-1.pdf/view 35 EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias 1.6 POTENCIAIS COMPLICAÇÕES PARA ITUS Podemos classificar as ITUs como complicadas quando há a presença de alterações anatômicas ou funcionais do trato urinário ou de condições que se associam com maior risco, como gestação, diabetes mellitus, litíase do trato urinário, cateterização urinária ou imunossupressão. Nesses casos, o tratamento deve ser mais específico, muitas vezes com antibióticos de maior espectro e potência, a fim de garantir que o quadro seja resolvido. Nas situações em que não há resolução dos quadros de ITU, eles podem evoluir com pielonefrite (no caso de cistites), abscessos renais e perirrenais, prostatites crônicas, bem como sepse e graus variáveis de insuficiência renal. Para o esclarecimento e discussão de casos clínicos, uma possibilidade importante e acessível é a Plataforma de Telessaúde RS, que provê um serviço nacional gratuito de discussão de casos, por meio do telefone 0800 644 6543 e por meio do link: https://www.ufrgs.br/telessauders/. Vale destacar também o Portal Saúde Baseada em Evidências, uma importante base de informações para os profissionais da APS: https:// psbe.ufrn.br Observe abaixo os critérios de encaminhamento para outros níveis de atenção: Ao Urologista • Se você identificar sintomas refratários após tratamento clínico otimizado, conforme tipo de ITU ou resistência conhecida a antibióticos orais; • Caso você não tenha certeza diagnóstica após investigação inicial na APS; • Na presença de cistite complicada ou de alterações anatômicas ou funcionais; • Caso suspeite de doença maligna urológica em exame de imagem; • Você pode considerar nas cistites recorrentes em mulheres, cistites em homens ou em caso de hematúria persistente; • Na prostatite, pacientes que não melhorarem após 12 semanas de tratamentos conservadores na APS ou com diagnóstico incerto; • Se houver episódios recorrentes de pielonefrite; • Caso você esteja impossibilitado de solicitar exame complementar pela APS nos casos com indicação e sem necessidade de pronto-atendimento; • Na uretrite, quando você suspeitar de complicações mais raras, como a síndrome de Reiter. https://www.ufrgs.br/telessauders/ https://psbe.ufrn.br/ https://psbe.ufrn.br/ EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias 36 Ao Pronto-atendimento (TELESSAÚDE RS, 2015): • Caso você diagnostique retenção urinária aguda; • Caso você diagnostique ou suspeite de obstrução do trato urinário; • Se paciente apresentar toxemia/sepse/bacteremia; • Se houver febre ou dor importantes e persistentes; • Quando houver pielonefrite em gestantes, idosos, pacientes imunocomprometidos ou de alto risco para complicações; • Quando houver pielonefrite em paciente com dificuldade em manter hidratação, ingestão de medicação via oral ou alta suspeita de baixa aderência do paciente que estiver em tratamento em domicílio; • Na impossibilidade de obter, em tempo adequado pela APS, o resultado de exame complementar para investigação de paciente com pielonefrite e persistência de febre ou ausência de melhora clínica com 72 horas de antibioticoterapia para germe sensível. FECHAMENTO DA UNIDADE As infecções do trato urinário são quadros prevalentes na APS, especialmente as cis- tites e as pielonefrites. Você deve ter a habilidade de identificá-las e abordá-las de forma adequada, para dar um melhor cuidado aos seus pacientes. Você deve pres- crever um tratamento eficaz e ter clareza sobre as indicações de referência aos outros níveis de atenção, a fim de prover um cuidado adequado à população que assiste, com melhora dos sintomas e da qualidade de vida dos pacientes. REFLEXÃO Lembre-se que, apesar dos critérios para encaminhamentos, a maior parte das infecções urinárias pode e deve ser tratada e resolvida na APS. Para isso, procure se manter atualizado quanto aos medicamentos disponíveis na sua unidade de saúde, pela lista da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) e da Relação Municipal de Medicamentos (REMUME) de sua cidade. 37 EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias INTRODUÇÃO DA UNIDADE Como a Atenção Primária à Saúde tem como um de seus atributos essenciais o acesso, você vai se deparar com frequência com pacientes buscando atendimento devido a quadro de cólica renal. A procura por acompanhamento após uma ultrassonografia evidenciando cálculo urinário também é uma demanda rotineira em uma Unidade Básica de Saúde e é exatamente como lidar com essas situações que abordaremos aqui. Nesta unidade, você irá estudar os seguintes assuntos: • Principais achados de pacientes com nefrolitíase e cólica renal; • Indicações de solicitação dos principais exames complementares neste contexto; • Interpretação dos principais achados dos exames complementares solicitados; • Indicações de abordagem terapêutica não medicamentosa para nefrolitíase; • Indicações de abordagem terapêutica medicamentosa nos quadros de urgência; • Indicações de abordagem terapêutica nos quadros não urgentes; • Encaminhamento oportuno a outros níveis de atenção à saúde. Cólica renal UNIDADE 02 EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias 38 Desta forma, esperamos que, ao final do estudo desta unidade, você se sinta mais preparado para analisar problemas do sistema urinário, suspeitando, diagnosticando e conduzindo adequadamente o quadro de cólica renal no contexto da Atenção Primária à Saúde. 2.1 EPIDEMIOLOGIA DA NEFROLITÍASE E DA CÓLICA RENAL Nefrolitíase A nefrolitíase é a presença de cálculos no sistema urinário (rins, ureter, bexiga ou uretra) e acomete mais homens que mulheres, numa proporção inferior a 2:1. (GUSSO; LOPES; DIAS, 2019). Sua prevalência estimada é entre 5% e 12%, ocorrendo mais frequentemente entre a quarta e a sexta década de vida. Cerca de 50% dos pacientes apresentarão um novo episódio de litíase entre 5 a 10 anos após o primeiro (TELESSAÚDE RS, 2014). Os principais fatores de risco conhecidos incluem desidratação crônica, dieta rica em proteína animal e sódio e pobre em potássio e cálcio, história familiar de litíase, clima quente ou seco, obesidade, infecções urinárias de repetição, anormalidades anatômicas do trato urinário, uso de alguns medicamentos e anormalidades metabólicas (como acidose tubular renal, hiperparatireoidismo e cistinúria) (ANTONELLI; MAALOUF, 2018). A maioria dos pacientes com nefrolitíase apresentará algum episódio de cólica renal e, sendo a Unidade Básica de Saúde uma porta de entrada do sistema de saúde, você frequentemente atenderá pacientes com tal quadro. Cólica renal A cólica renal é a sensação de dor intensa causada principalmente pela distensão das vias urinárias superiores, mas fatores inflamatórios locais, hiperperistalse, edema e irritação da mucosa também podem estar envolvidos. A causa mais comum de cólica renal é a nefrolitíase, normalmenterelacionada a algum grau de obstrução do sistema urinário pelo cálculo. Compressão extrínseca do ureter (causada por adenopatia, por exemplo), fragmentos necrosados de papila renal e coágulos são outras etiologias possíveis, porém mais raras, para a cólica renal. 39 EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias Tipos mais frequentes de cálculo renal A. Cálcio: Os cálculos de cálcio correspondem a cerca de 80% dos cálculos renais, sendo 80% de oxalato de cálcio e 20% de fosfato de cálcio (hidroxiapatita ou bruchita). Serão os cálculos da maioria dos seus pacientes na Atenção Primária à Saúde. Os fatores de risco conhecidos para esses cálculos são: baixo volume de urina, hipercalciúria (por hiperparatireoidismo primário ou sem hipercalcemia), hiperuricosúria, hiperoxalúria (podendo ser primária, por má-absorção intestinal ou doença inflamatória intestinal), hipocitratúria (idiopática ou devido acidose metabólica), pH urinário alto (por acidose tubular renal distal), anormalidades anatômicas urinárias (como rins em ferradura ou divertículos calicinais). B. Ácido úrico: Formam entre 10% e 20% dos cálculos renais e estão associados a urina ácida (pH urinário 7 sugere presença de micro-organismos produtores de urease, relacionados a cálculos de estruvita. • Urocultura: você deve solicitar se suspeita de infecção urinária associada. • Creatinina: avaliação da taxa de filtração glomerular. • Beta-HCG (o teste rápido é de fácil acesso e deve ser priorizado no atendimento na APS para a conduta imediata): você precisa solicitar para excluir a possibilidade de gestação (uterina ou ectópica) em mulheres em idade reprodutiva. • Hemograma e Hemocultura: são necessários se o quadro for sugestivo de bacteremia, situação em que há indicação de encaminhamento para o pronto- atendimento, onde tais exames serão solicitados. • PTH (dosagem do hormônio paratireoidiano/paratormônio): solicite para avaliar hiperparatireoidismo quando a investigação metabólica evidenciar resultados altos ou próximos ao limite superior de cálcio sérico ou urinário. O sinal de Giordano/punho-percussão lombar dolorosa pode estar presente nos quadros de cólica renal, sendo sugestivo de pielonefrite associada se a dor for muito intensa durante a manobra. Lembre-se! EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias 42 Exame de imagem A escolha do exame inicial mais indicado será debatida a seguir: • Ultrassonografia: é o exame de primeira linha no contexto ambulatorial em adultos e para gestantes e crianças, sendo o exame que você solicitará em sua prática na Atenção Primária à Saúde nos casos em que não há necessidade de encaminhamento ao pronto-atendimento. Algum grau de hidronefrose é um achado comum em pacientes com litíase sintomática. É um exame livre de exposição à radiação, mas apesar de possuir alta sensibilidade para identificação da dilatação do sistema coletor, sua sensibilidade para identificação de cálculos ureterais e renais é menor - em torno de 45% (DUNCAN et al., 2022). Durante a gestação, é o exame preferencial. Observe na imagem abaixo um exemplo de cálculo em rim direito evidenciado pela ultrassonografia. • Radiografia simples: tem baixa sensibilidade e especificidade, mesmo para os cálculos radiopacos, para os quais o exame é mais bem indicado. Cálculos de cálcio são radiopacos, os de cistina são parcialmente radiolucentes e os de ácido úrico e por uso de indinavir são radiolucentes. É recomendado que toda pessoa com quadro de cólica renal aguda faça um exame de imagem das vias urinárias. Apesar da falta de evidências, permite avaliar tamanho e localização do cálculo, confirmar a litíase urinária e pesquisar diagnósticos diferenciais. Lembre-se! Figura 07 - Cálculo em rim direito evidenciado pela ultrassonografia. Fonte: Zambon (2016). 43 EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias • Tomografia computadorizada sem contraste: tem alta sensibilidade e especificidade (>90% para litíase urinária), com as desvantagens do custo e da exposição à radiação ionizante (DUNCAN et al., 2022). O protocolo em baixas doses pode ser utilizado como última opção para casos de difícil diagnóstico em gestantes (após o primeiro trimestre). A maior sensibilidade em relação à ultrassonografia se dá principalmente na visualização de cálculos pequenos e de localização distal, cálculos estes com baixa probabilidade de necessitarem de intervenção. • Ressonância magnética: é considerada uma opção de segunda linha, uma vez que os cálculos não são diretamente visíveis por não produzirem sinal, sendo identificados apenasal. Screening and Prostate-Cancer Mortality in a Randomized European Study. New England Journal of Medicine, v. 360, p. 1320-1328, 2009. 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Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/8405786102079973 Mariângela Costa Vieira Médica pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, especialista em Medicina de Família e Comunidade pela Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, mestre em Saúde Coletiva e doutoranda em Saúde Coletiva pela Unicamp. Atualmente é docente do curso de Medicina da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Tem experiência como teleconsultora e atua como telerreguladora do Telessaúde Bahia. É tutora do Projeto Mais Médicos e já foi supervisora médica deste projeto. Tem experiência na área de Saúde Coletiva, com ênfase em Medicina de Família e Comunidade. Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/3823214693074505 http://lattes.cnpq.br/0797220905549025 http://lattes.cnpq.br/8405786102079973 http://lattes.cnpq.br/3823214693074505 95 EIXO 04 | MÓDULO 21 Abordagem a problemas de vias urinárias Programa Médicos pelo Brasil EIXO 4 | ATENÇÃO À SAÚDE REALIZAÇÃO Ministério da Saúde. Universidade Federal do Maranhão (UFMA). 2022. Abordagem a problemas de vias urinárias MÓDULO 21