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Derrame pleural Prof. Francisco Baima Definição Coleção de fluido no espaço pleural decorrente de um desequilíbrio na fisiologia normal da pleura, podendo ser decorrente de doenças pulmonares, pleurais e patologias extrapulmonares. Anatomia normal Pleura parietal: reveste a cavidade torácica internamente Pleura visceral: se adere à superfície do parênquima pulmonar Pleura visceral dobrada forma as cissuras interlobares Lado direito: cissura maior (oblíqua) e cissura menor (horizontal) Lado esquerdo: cissura maior Espaço pleural: entre a pleura parietal e visceral; 2-5ml de líquido pleural Anatomia normal – drenagem linfática Pleura visceral – linfonodos broncopulmonares Pleura parietal – linfonodos da parede torácica (intercostais, paraesternais, mediastinais e diafragmáticos) e das axilas. Fisiologia normal O líquido é produzido principalmente na pleura parietal e é reabsorvido tanto na pleura visceral quanto por drenagem linfática Algumas causas de derrames pleurais – excesso na formação de líquido Aumento da pressão hidrostática – insuficiência cardíaca do lado esquerdo Diminuição da pressão osmótica – hipoproteinemia (má nutrição como Kwashiokor; síndrome nefrótica) Aumento da permeabilidade capilar – pneumonia; ações de hipersensibilidade Algumas causas de derrames pleurais – diminuição na taxa de reabasorção Bloqueio venoso ou linfático por tumor Redução da pressão no espaço pleural – atelectasia do pulmão por obstrução brônquica Algumas causas de derrames pleurais – transporte de líquido peritoneal Através do diafragma ou via vasos linfáticos - ascite Etiologia dos derrames pleurais - transudato O conteúdo do derrame apresenta concentração de proteína absoluta menor que 30 g/L e razão entre proteínas pleurais e proteína sérica menor que 0,5. Lactato Desidrogenase (LDH) menor que 20 IU/L e razão LDH pleural/sérico menor que 0,6. Etiologia dos derrames pleurais - transudato Causa: aumento da pressão hidrostática capilar ou redução na pressão coloidosmótica Geram perda de líquido do vaso para a cavidade pleural EX: ICC, hipoalbuminemia, cirrose e síndrome nefrótica Etiologia dos derrames pleurais - exsudato Concentração de proteína absoluta maior que 30 g/L e a razão entre proteínas pleurais e sérica maior que 0,5 Concentração de LDH maior que 20 IU/L e razão LDH pleural/sérico maior que 0,6 Etiologia dos derrames pleurais - exsudato Normalmente resultantes de doenças pleurais ou do parênquima pulmonar adjacente Consequente aumento da permeabilidade capilar Pneumonias e carcinomatoses Etiologia dos derrames pleurais – exsudato -derrames parapneumônicos Derrames decorrentes de uma reação inflamatória adjacente Pneumonia ou abscesso pulmonar Podem evoluir para EMPIEMA – acúmulo de pus na cavidade pleural Etiologia dos derrames pleurais – exsudato –derrame maligno Em sua maioria é secundário a carcinomas pleurais, linfomas e mesoteliomas Etiologia dos derrames pleurais – hemotórax O líquido tem um hematócrito que é maior que 50% do sangue Etiologia dos derrames pleurais – quilotórax Aumento de triglicerídeos ou colesterol no líquido pleural Apresentação clínica Patologia de base Assintomático – derrame pequeno Dor e dispneia – derrame de grande volume Diagnóstico por imagem Modalidades para detecção de derrames pleurais Radiografia convencional – primeiro passo TC e US são sensíveis na detecção de pequenas quantidades de líquido TC é melhor para avaliar a doença subjacente ao derrame ou em opacificação total do hemitórax por derrame (ex: origem maligna ou abscessos) US é útil para orientar uma intervenção para remoção do líquido pleural Radiografia de tórax Deve ocorrer um acúmulo de 75ml para ser evidenciado em uma radiografia ortostática Primeiro sinal – obliteração do seio costofrênico posterior em derrames a partir de 75ml Posteriormente o desaparecimento dos seios costofrênicos laterais (a partir de 250-300ml) Radiografia de tórax Decúbito dorsal – não se indica, pois o derrame não se acumula em uma região determinada da pleura e pode ser confundida com uma consolidação Decúbito lateral com raios horizontais (Laurell) – o paciente deitado sobre o lado acometido para identificação de pequenos derrames Radiografia em Laurell RX em decúbito lateral com raios horizontais e derrame pleural (seta amarela) Especificidade lateral de derrames pleurais – derrames bilaterais ICC geralmente produz a mesma quantidade de líquido em cada hemitórax Quando houver quantidades significativamente diferentes em cada hemitórax, suspeita de derrame parapneumônico ou malignidade no lado com maior volume de líquido Lúpus eritematoso sistêmico geralmente produz derrames bilaterais, mas quando é unilateral, geralmente é o esquerdo Especificidade lateral de derrames pleurais – derrames unilaterais Tuberculose e outros derrames exsudativos associados a agentes infecciosos Doença tromboembólica pulmonar Trauma Especificidade lateral de derrames pleurais – derrames unilaterais – lado esquerdo Pancreatite Obstrução do ducto torácico proximal Síndrome de Dressler Sindrome de Dressler Ocorre 2-3 semanas após infarto do miocardiotransmural Pode ocorrer também em pacientes submetidos a revascularização RX frontal com derrame pleural esquerdo (seta preta) Especificidade lateral de derrames pleurais – derrames unilaterais – lado direito Doença abdominal relacionada a fígado ou ovários – ex: síndrome de Meigs Artrite reumatoide Obstrução do ducto torácico distal Sindrome de Meigs Tumor ovariano benigno (fibrotecoma) mais ascite mais derrame pleural Aspectos radiológicos que devemos procurar na radiografia Opacidade homogênea (sem broncograma aérea) Perda do ângulo do seio costofrênico Apagamento do hemidiafragma Diferentes aparências dos derrames pleurais Derrames subpulmonares Acredita-se que quase todos os derrames pleurais acumulam-se primeiramente numa localização subpumonar (abaixo do pulmão); Entre a pleura parietal que reveste a superfície superior do diafragma e a pleura visceral sob o lobo inferior Subpulmonar não significa loculado – a maioria desses derrames flui livremente conforme o paciente muda de posição Derrame subpulmonar RX frontal com o hemidiafragma direito aparentemente elevado (seta preta) e obliteração do seio costofrênico Obliteração dos seios costofrênicos Conforme o derrame subpulmonar cresce em tamanho, ele primeiro enche e, assim, oblitera o seio costofrênico Aparecimento da parábola Devido ao recolhimento elástico natural dos pulmões, o líquido pleural aparentemente sobe mais alto ao longo da margem lateral do que medial Forma da parábola – RX frontal o derrame é mais alto nos lados e mais baixo no meio. RX perfil assume forma de U, ascendendo igualmente de forma elevada anterior e posterior Aparecimento da parábola RX frontal em ortostático, um derrame ascende tipicamente de forma mais lateral (seta branca) do que medialmente (seta preta) Devido a fatores que afetam o recolhimento elástico do pulmão Aparecimento da parábola RX Perfil, o líquido ascende aproximadamente a mesma quantidade anterior e posterior (formando densidade em U) Devido a fatores que afetam o recolhimento elástico do pulmão Efeito da posição no paciente – Paciente 1 RX frontal em decúbito, o derrame do lado direito se assenta ao longo da superfície pleural e produz uma névoa sobre todo o hemitórax. Mais denso na base e menos denso em direção ao ápice Efeito da posição no paciente – Paciente 1 RX frontal em posição mais vertical, o líquido cai para a base como um resultado da força da gravidade (seta branca) Idealmente, o paciente deve ser radiografado na mesma posição todas as vezes para comparação da evolução Efeito da posição no paciente – Paciente 2 RX em Laurell decúbito direito, o líquido pleural de fluxo livre se assenta ao longo do lado direito (setas pretas sólidas), formando densidade em faixa O líquido flui para a cissura menor (seta preta tracejada) Efeito da posição no paciente – Paciente 2 RX em Laurell decúbitoesquerdo, o líquido livre se assenta ao longo da parede torácica esquerda (setas pretas sólidas) Paciente com linfoma, derrame bilateral Grande derrame pleural Quando o hemitórax de um adulto contém cerca de 2l de líquido, todo hemitórax será opacificado Dessa forma, pode envolver e mascarar qualquer doença que possa estar presente no pulmão Assim, TC é a modalidade normalmente empregada para visualizar o pulmão subjacente Grandes derrames podem agir como uma massa e deslocar o coração e a traquéia Grande derrame pleural RX frontal em supino com hemitórax esquerdo completamente opacificado Deslocamento de estruturas do mediastino como traquéia (seta preta sólida) e o coração (seta preta tracejada), afastando-se do lado da opacificação Grande derrame pleural TC axial de tórax com grande coleção de líquido a direita (L) que está causando atelectasia do pulmão (seta branca sólida) e deslocamento do coração para longe da coleção (seta branca tracejada) Nível líquido-líquido: líquido mais denso (mais claro) na parte inferior da coleção (setas pretas sólidas) Observação 1 Quando há opacidade total do hemitórax, pensar em derrame pleural ou atelectasia Derrame pleural: opacidade total com desvio da traqueia e mediastino contralateral Atelectasia: opacidade total com desvio traqueal e mediastinal ipsilateral Derrame pleural x Atelectasia Atelectasia Derrame pleural Observação 2 Sempre que estiver diante de um derrame pleural extenso, deve-se pensar na possibilidade de derrame maligno Grande derrame pleural maligno – Paciente 1 RX tórax frontal com opacificação completa de hemitórax direito. A traquéia (seta preta) e o coração (seta branca) são desviados para esquerda DX: carcinoma broncogênico primário Grande derrame pleural maligno – Paciente 2 TC axial de tórax com equilíbrio entre o derrame pleural (E) e atelectasia do pulmão direito (seta preta) para que não haja deslocamento significativo das estruturas, como o coração (seta branca) Achados altamente sugestivos de derrame maligno Derrames loculados Aderências no espaço pleural (na maioria das vezes causadas por infecção antiga ou hemotórax) podem limitar a mobilidade normal de um derrame pleural Podem ser suspeitados quando um derrame apresenta uma forma ou localização incomum no tórax Importância terapêutica – difícil drenagem dos bolsos não comunicativos com um único tubo de drenagem pleural Derrames loculados RX frontal em ortostático evidenciando coleções bilaterais de líquidos (setas branca e preta) Estão presas no espaço pleural por aderências Pseudotumores cissurais ou tumores fantasmas Coleções bem dermacadas de líquido pleural contido entre as camadas de uma cissura pulmonar interlobar ou subpleural abaixo da cissura São transudatos que quase sempre ocorrem em pacientes com ICC Mais frequente na cissura menor (75%) Pseudotumores cissurais ou tumores fantasmas Forma lenticular e frequentemente tem as extremidades pontiagudas de cada lado onde se insinuam na cissura (forma de limão) Tendem a desaparecer quando a condição subjacente é tratada, mas tendem a se repetir no mesmo local cada vez que a insuficiência aparece Pseudotumores cissurais ou tumores fantasmas RX frontal apresenta liquido pleural contido entre as camadas da cissura menor Derrames laminares O líquido assume uma densidade em faixa fina ao longo da parede torácica lateral, especialmente perto do seio costofrênico. O seio costofrênico lateral tende a manter seu ângulo agudo Quase sempre resultado da pressão atrial esquerda elevada ou secundária à disseminação linfática de malignidade Derrames laminares Podem ser reconhecidos através da faixa de maior densidade que separa o pulmão cheio de ar, a partir da margem interior das costelas na base do pulmão no RX frontal. Em pessoas saudáveis, um pulmão aerado deve se estender para o interior de cada costela contígua Hidropneumotórax Ar no espaço pleural (pneumotórax) mais líquido no espaço pleural (derrame pleural ou hidrotórax) Causas comuns: trauma; cirurgia; toracocentese recente para remover o líquido pleural (no qual o ar entra no espaço pleural) Fístula broncopleural: conexão anormal e incomum entre árvore brônquica e espaço pleural. Frequentemente devido a tumor, cirurgia e infecção Hidropneumotórax Produz um nível líquido no hemitórax marcado por uma interface ar-líquido reta TC é necessária para diferenciar com abscesso de pulmão (ambos podem ter aparência semelhante em radiografias convencionais) Hidropneumotórax RX frontal hemitoráx direito Diferente do derrame pleural apenas – forma de parábola Neste caso: nível ar-líquido em linha reta acentuada (setas pretas) e pneumotórax (setas brancas Paciente vítima por arma branca Diagnóstico diferencial Elevação da hemicúpula diafragmática: hepatomegalia; paralisia do nervo frênico Consolidação: pneumonias e neoplasia Espessamento pleural: doença pleural relacionada ao amianto Obrigado image1.jpeg image2.jpeg image3.png image4.png image5.png image6.png image7.png image8.jpg image9.jpg image10.png image11.jpg image12.jpg image13.jpg image14.jpg image15.jpg image16.jpg image17.jpg image18.jpg image19.jpg image20.jpg image21.jpeg image22.jpeg image23.jpg image24.jpg image25.jpg image26.jpg image27.jpeg image28.jpg image29.jpg