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03 - Fundação, Sociedade, Associações, Extinção e Desconsideração da Pessoa Jurídica

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�LFG – CIVIL – Aula 03 – Prof. Pablo Stolze – Intensivo I – 12/02/2009
2.	FUNDAÇÃO
	“A fundação de direito privado decorre da afetação de um patrimônio que se personifica visando a atingir finalidade ideal (art. 62, do CC).”
	A fundação, diferentemente das outras espécies de pessoa jurídica é especial porque não decorre da reunião de indivíduos, não decorre do agrupamento humano. Decorre de um patrimônio que se personifica. Resulta do destacamento de um patrimônio. Um jurista reconhecido nacionalmente tem um acervo de livros com 10 mil exemplares e um prédio muito bom sem uso. Ele pode destacar parte deste patrimônio e constituir uma fundação educacional. A fundação não decorre do fato associativo, mas do destacamento de um patrimônio.
	Toda fundação tem finalidade ideal, ou seja, finalidade não econômica.
“Art. 62. Para criar uma fundação, o seu instituidor fará, por escritura pública ou testamento, dotação especial de bens livres, especificando o fim a que se destina, e declarando, se quiser, a maneira de administrá-la.” 
 
	A fundação só se pode constituir por escritura pública ou testamento. Isso cai muito em concurso. A pergunta é: a fundação é constituída por que maneira? Escritura pública no tabelionato de notas ou testamento, mas a lei não disse que tipo de testamento é ele. Por instrumento particular que não seja testamento, não. O Código Novo não fala em testamento público; assim, é possível concluir que se admite qualquer forma de testamento.
“Parágrafo único. A fundação somente poderá constituir-se para fins religiosos, morais, culturais ou de assistência.” Dentro da finalidade cultural temos a finalidade educacional.
Ou seja, toda fundação tem finalidade ideal, ou religiosa, ou moral, ou cultural ou de assistência. Uma faculdade pode ser fundação. A finalidade educacional é cultural. Dentro da noção de finalidade cultural, vc tem a finalidade educacional.
Toda fundação tem finalidade IDEAL! O que importa é que não visa à partilha de lucros entre os seus idealizadores. Mas gera receita. Uma fundação pode gerar receita. Paga salário aos seus administradores, mas não significa que esteja gerando lucros para ser rateado entre eles. A receita da fundação privada é investida nela mesma. 
OBS.: “As Ong’s, por também perseguirem finalidade ideal devem se constituir sob forma de fundação ou associação.”
A ONG não gera lucro para os seus conselheiros, administradores.
2.1.	Requisitos para se Constituir Uma Fundação de Direito Privado 
Afetação de bens livres – O instituidor destaca bens do patrimônio dele.
Constituição por escritura pública ou testamento – o instituidor só poderá constituir a fundação via escritura pública ou testamento.
Elaboração do estatuto da fundação – fundação não tem contrato social. O ato que disciplina o órgão, as atribuições, o funcionamento e a organização da fundação é o seu estatuto. É lá que vamos encontrar os órgãos (conselho administrativo, presidência, etc.), a finalidade ideal da Fundação, enfim, é o ato normativo da fundação. 
“O Estatuto da fundação pode ser elaborado diretamente pelo seu instituidor ou, mediante delegação, por um terceiro.”
Vamos imaginar que eu queira instituir uma fundação. Faço isso por escritura pública. E elaboro diretamente o estatuto. Mas nada impede também que eu possa delegar a terceiro essa elaboração. Eu posso, por exemplo, no ato constitutivo da escritura pública que delego poderes para elaboração do estatuto ao 1º Presidente. Um terceiro pode, fiduciariamente, delegar a elaboração do estatuto.
O que acontece quando esse terceiro, a quem se delegou a elaboração do estatuto, não faz isso, ou perde o prazo?
“Subsidiariamente, nos termos do art. 65, do Código Civil, a elaboração do estatuto poderá ser feita pelo Ministério Público.”
	Lembrando: Os artigos que o professor lê em aula são os mais importantes, já que não dá para ler todos. O estudo complementar tem que ser feito em casa. O art. 65 é muito importante:
“Art. 65. Aqueles a quem o instituidor cometer a aplicação do patrimônio, em tendo ciência do encargo, formularão logo, de acordo com as suas bases (art. 62), o estatuto da fundação projetada, submetendo-o, em seguida, à aprovação da autoridade competente, com recurso ao juiz. 
 
Parágrafo único. Se o estatuto não for elaborado no prazo assinado pelo instituidor, ou, não havendo prazo, em cento e oitenta dias, a incumbência caberá ao Ministério Público.” 
d)	Aprovação do estatuto – depois de elaborado, o estatuto é aprovado. Quem aprova a elaboração do estatuto? É o MP. E quando o MP elabora o estatuto, quem aprova?
Quando quem elabora o estatuto é o instituidor ou terceiro em quem confia, quem aprova é o MP. 
Quando é o MP que elabora, o CPC diz que quem aprova é o juiz. Isso é esquisito, na medida em que se o MP aprova o estatuto do particular, elaborando ele mesmo, não haveria que se falar em aprovação por outro órgão. Na ótica do professor, tendo o Código Civil sido omisso a respeito, essa regra teria desaparecido. Mas como ainda consta no CPC, pode ser que o examinador exija essa referência.
OBS.: “Elaborado o estatuto pelo próprio Ministério Público, o art. 1202, do Código de Processo Civil submete-o à aprovação do juiz.”
e)	Registro da Fundação no Cartório de Registro de Pessoas Jurídicas – é o ultimo requisito para a constituição da fundação como pessoa jurídica.
“O Ministério Público, nos termos do art. 66, do Código Civil, tem a precípua função fiscalizatória das fundações.”
“Art. 66. Velará pelas fundações o Ministério Público do Estado onde situadas
 	 
§ 2º Se estenderem a atividade por mais de um Estado, caberá o encargo, em cada um deles, ao respectivo Ministério Público.” 
A regra é a de que quem fiscaliza fundação é o MP do Estado.
Fundação interestadual seria igual a crime de tóxico em que a competência seria do MPF? Não! Se estender por mais de um estado, a fiscalização continua cabendo à fiscalização do MP do Estado em que está situada. Se atua na Bahia, em São Paulo e em Pernambuco, o MP de cada Estado atua em conjunto com os demais. 
Se essa fundação fiscalizada em primeiro plano pelo MP estadual, recebe verba federal, obviamente, o MPF atuará em conjunto. Uma fundação privada que atua em SP e recebe verba federal: vai receber fiscalização do TCU e do MPF, em parceria com o Estado. Pelo CC, em primeiro plano, quem fiscaliza a fundação é o MPE.
“§ 1º Se funcionarem no Distrito Federal, ou em Território, caberá o encargo ao Ministério Público Federal.” Este parágrafo foi julgado inconstitucional, pois no DF existe o MP do DF, não havendo a necessidade de no DF a fiscalização ser feita pelo MPF. 
	O DF tem seu ministério público próprio, que não se confunde com o MPF. O Distrito Federal tem o MP do DF. Isso significa que o parágrafo primeiro foi julgado inconstitucional. No momento em que o codificador disse que quem fiscaliza sua fundação é o MPF usurpou a atribuição constitucional do MP do Distrito Federal. Então, já houve a propositura de uma ADI que já foi julgada procedente para se reconhecer a inconstitucionalidade desse parágrafo primeiro porque quem fiscaliza as fundações do DF não é o MPF, mas o MP do Distrito Federal.
	“A ADI 2794, já julgada procedente, reconheceu a inconstitucionalidade do parágrafo 1º, do art. 66, uma vez que a atribuição fiscalizatória das fundações do DF não cabe, em primeiro plano, ao MPF e sim ao próprio Ministério Público do Distrito Federal.”
	Matéria já pacificada no seio do STF.
2.2.	A Alteração do Estatuto da Fundação Privada 
	Embora tenha natureza de direito privado, a fundação privadas tem uma cara publicista. É que prestigia os interesses sociais, uma vez que sua finalidade é ideal e a legislação brasileira colocou nas mãos do MPF essa atribuição fiscalizatória. Exatamente por essa carga de interesse social que há na fundação é que o legislador cria regras específicas para que se possa
alterar o estatuto da fundação. 
	Modificar o estatuto de uma fundação é tão fácil quanto modificar o contrato social de uma sociedade empresária? Na empresária, isso está ligado ao interesse particular, a fundação, mesmo com natureza jurídica privada, afeta interesses sociais. Por isso o legislador criou formalismos de alteração do estatuto da fundação. Há um ritual para essa modificação e isso está previsto nos arts. 67 e 68, do Código Civil.
“Art. 67. Para que se possa alterar o estatuto da fundação é mister que a reforma: 
I - seja deliberada por dois terços dos competentes para gerir e representar a fundação; 
II - não contrarie ou desvirtue o fim desta; 
III - seja aprovada pelo órgão do Ministério Público, e, caso este a denegue, poderá o juiz supri-la, a requerimento do interessado.” 
	O quorum para a mudança do estatuto é de dois terços. Esse quorum, no direito anterior, era de maioria absoluta. Os conselheiros se reúnem e, por dois terços, podem mudar o estatuto da fundação privada.
	No inciso III, o juiz vai decidir o ligítio que se instalou. Aí tudo bem. Porque se o MP nega a alteração do instituto, é preciso que o Judiciário decida. E se a votação não for unânime, e se uma parte discordar dessa mudança? A resposta está no art. 68:
	“Art. 68. Quando a alteração não houver sido aprovada por votação unânime, os administradores da fundação, ao submeterem o estatuto ao órgão do Ministério Público, requererão que se dê ciência à minoria vencida para impugná-la, se quiser, em dez dias.”
	“Ou seja, a minoria vencida, nos termos do art. 68, tem direito potestativo de impugnar a alteração do estatuto no prazo decadencial de 10 dias.”
2.3.	O Destino do Patrimônio Quando a Fundação Privada Acaba
O que acontece com o patrimônio da fundação quando ela acaba? A resposta está no art. 69, do Código Civil:
“Art. 69. Tornando-se ilícita, impossível ou inútil a finalidade a que visa a fundação, ou vencido o prazo de sua existência, o órgão do Ministério Público, ou qualquer interessado, lhe promoverá a extinção, incorporando-se o seu patrimônio, salvo disposição em contrário no ato constitutivo, ou no estatuto, em outra fundação, designada pelo juiz, que se proponha a fim igual ou semelhante.” 
É muito importante, além do aprofundamento teórico, a leitura do Código porque o examinador, muitas vezes, pede o texto da lei e muda palavras.
Salvo disposição em contrário, o patrimônio da fundação é incorporado a outra fundação determinada pelo juiz de fim igual ou semelhante.
3.	SOCIEDADE
O professor não vai entrar na matéria de direito empresarial. Vai usar conhecimento dessa matéria e aprofunda-los no direito civil. Em direito empresarial hoje, há situações práticas que vc não pode aprioristicamente em standards preconcebidos. É matéria profunda, cheia de meandros. Há situações sobre direito de empresa hoje que é difícil dizer se é caso de sociedade simples ou empresária. As Juntas comerciais estão puxando para o seu lado o reconhecimento de determinadas sociedades, ao passo que o CRPJ (Cartório de Registro de Pessoa Jurídica), puxa pra ele, para esse sistema de pessoa jurídica, o registro de sociedades ou entidades. 
3.1.	Conceito de Sociedade
“A sociedade, espécie de corporação, dotada de personalidade jurídica própria e instituída por meio de contrato social, visa a proveito econômico e partilha de lucro.”
Antes do NCC o regramento da sociedade era uma bagunça. A doutrina dizia uma coisa, a jurisprudência e a prática diziam outra. Com a entrada em vigor do NCC, ficou muito claro: sociedade, no que tange ao elemento finalístico (ou teleológico) persegue proveito econômico, finalidade lucrativa. Daí como os clubes de futebol se desesperaram. Antes do NCC havia sociedade civil sem fins lucrativos. Isso acabou. O NCC deixa claro que sociedade é entidade que tem finalidade econômica. Visa a partilha de proveito econômico, diferentemente das fundações. Toda sociedade, à luz da técnica jurídica e do direito positivo, visa à finalidade econômica.
A segunda característica de toda e qualquer sociedade é que ela é criada por meio de contrato social. O ato constitutivo da sociedade é contrato social. Não é estatuto. Sociedade é constituída por meio de contrato social. Isto está no art. 981:
“Art. 981. Celebram contrato de sociedade as pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir, com bens ou serviços, para o exercício de atividade econômica e a partilha, entre si, dos resultados. 
 
Parágrafo único. A atividade pode restringir-se à realização de um ou mais negócios determinados.” 
Essas são as duas grandes características: visa à finalidade econômica e é constituída por meio de contrato social.
“OBS.: Marido e mulher podem constituir sociedade? O Código Civil, no art. 977, restringe esta autonomia privada, sob o fundamento de evitar fraude ao regime de bens.”
“Art. 977. Faculta-se aos cônjuges contratar sociedade, entre si ou com terceiros, desde que não tenham casado no regime da comunhão universal de bens, ou no da separação obrigatória.” 
O legislador protege esses dois regimes que são os mais vulneráveis à fraude. O legislador imagina que por meio da empresa poderiam fraudar a comunhão universal, criando um patrimônio particular. Então, o legislador, absurdamente, cria uma presunção de fraude. Esta norma está em vigor.
“OBS.: O parecer jurídico n.º 125/03, bem como o Enunciado 204 da III Jornada afirmam que a proibição prevista no art. 977 só se aplica às sociedades constituídas após a entrada em vigor do novo Código Civil.”
204 – Art. 977: A proibição de sociedade entre pessoas casadas sob o regime da comunhão universal ou da separação obrigatória só atinge as sociedades constituídas após a vigência do Código Civil de 2002.
Os sócios da sociedade constituem sociedade visando a proveito econômico. Fixada essa premissa, pergunta-se: quais são as espécies de sociedade que temos no moderno direito brasileiro? Não vamos tratar aqui de formas societárias (limitada, comandita, etc..)
3.2.	Espécies de Sociedade
Anteriormente, nós tínhamos no Brasil, duas espécies de sociedade:
Sociedade Civil e Sociedade Mercantil ou comercial 
O que elas têm em comum? Perseguem proveito econômico.
Voltando mais no tempo: qual é a diferença entre sociedade civil e mercantil? A regra é que todas perseguiam lucro, proveito econômico. Qual seria a diferença entre sociedade civil e mercantil? Essa diferença remonta uma teoria francesa, a Teoria dos Atos de Comércio. O direito comercial dizia que sociedade mercantil perseguindo o lucro praticava atos de comércio, ao passo que sociedade civil não pratica tais atos de intermediação. A diferença estava na prática ou não dos chamados atos de comércio.
Uma das maiores crises do direito privado: após a edição do Código Italiano e por influxo da doutrina italiana, o conceito de comércio começa a declinar nas sociedades internacionais. A partir da segunda metade do século XX, o conceito de comércio e de comerciante começa a ser substituída peal noção maior de empresa. Agora não se fala mais em direito comercial. Se fala de direito empresarial. Exatamente porque o objeto de investigação científica do direito comercial mudou. A noção de comerciante se tornou pouco desenvolvida, que não correspondia aos novos tempos. Essa noção passou a ser substituída pela noção de empresário. No moderno direito, o comerciante perde lugar para empresário e o comércio perde lugar para empresa. E, com isso, a teoria dos atos de comércio caiu. Hoje, à luz do direito positivo brasileiro, não se distingue mais que há sociedade civil e mercantil. O NCC abandona essa antiga tipologia substituindo-a à luz do art. 982, por duas novas espécies de sociedade, que se encontram alinhadas ao novo direito de empresa. Hoje, se diz:
	
Sociedade SIMPLES
Sociedade EMPRESÁRIA
OBS.: “Na prova ao falar dos tipos de sociedade, diga simples e empresária. Não diga empresarial porque
empresarial é a atividade.”
A antiga tipologia civil e mercantil foi substituída pela moderna tipologia, simples e empresária. Dá para dizer que há uma correspondência jurídica entre simples e civil e entre empresária e mercantil? O professor prefere que não se diga isso. Porque a noção de empresa é mais abrangente do que a de comércio. Há quase uma identidade. Em geral, a sociedade simples corresponde à antiga sociedade civil e, em geral, a sociedade empresária corresponde à antiga sociedade mercantil.
O comerciante ficava no meio da cadeia produtiva, entre a indústria, e o consumidor. Uma sociedade industrial, tecnicamente, não praticava ato de comércio, razão por que não era adequado dizer que era mercantil. A atividade industrial é mais empresária do que comercial, mesmo porque não tem nada a ver com comércio. Em geral, sociedade simples corresponde à civil e a empresária à mercantil. 
O que é uma sociedade empresária e o que é uma sociedade simples?
Uma sociedade para ser empresária, deve reunir dois requisitos:
Um requisito material – a sociedade deve desempenhar uma atividade econômica organizada (art. 966).
Um requisito formal – para ser empresária é obrigatório que o seu registro seja feito na Junta Comercial (Registro Público de Empresa).
Se uma sociedade reunir esses dois requisitos, é empresária. Se não reunir os dois, é sociedade simples. À simples, se chega por exclusão. A que não for empresária é simples.
Mas, efetivamente, o que significa uma sociedade empresária desenvolver uma atividade econômica organizada? O professor começou a entender isso quando começou a perceber que empresária é a sociedade tipicamente capitalista, caracterizada pela impessoalidade. E por que impessoalidade? Porque os sócios atuam como simples articuladores de fatores de produção. Ou seja, os sócios de uma sociedade empresária articulam capital, trabalho, matéria prima e tecnologia.
Três sócios titulares de uma determinada sociedade vão se reunir periodicamente para apurar lucro e vão articular fatores de produção. Essa é uma diferença continental da sociedade simples (caracterizada pela pessoalidade) cuja atividade é realizada pessoalmente pelo próprio sócio que, ou desempenha ou supervisiona diretamente. 
Sociedade de advogados – o advogado é sócio e faz a audiência. A sociedade é simples. O sócio desenvolve a atividade-fim. 
Por que, em geral, sociedades simples são prestadoras de serviços técnicos, científicos, etc. 5 médicos se reúnem e montam uma clínica, sociedade simples, por que? Sua característica é a pessoalidade. 
Há situações em que na prática, diferenciar uma da outra é dificílimo. Tomemos uma sociedade de advogados com 3 sócios que atuam como supervisores (supervisionam, dão parecer e fazem algumas sustentações orais, mas não fazem audiência) de uma equipe de mais de 200 profissionais. Se eles contratassem um diretor para administrar essa “empresa”, o que aconteceria? Seria uma sociedade de advogado que funcionaria com empresarialidade? É isso que se discute hoje no direito empresarial. Porque a sociedade simples cresceu muito (aquela clínica que começou com 3 médicos na década de 80 e que hoje é o maior hospital do Estado). Há sociedades simples que ganharam tanta potencialidade econômica que hoje já se tentam enquadrá-las como empresas. 
A sociedade empresária, pois, é impessoal, capitalista, seus sócios são meros articuladores dos fatores de produção. Já na sociedade simples, em geral mera prestadora de serviço, é o próprio sócio, ele que administra, realiza a atividade-fim ou então, no mínimo, supervisiona diretamente. No exemplo do escritório de advogados, fica fácil dizer que é simples porque, por mais que o escritório cresça, o registro de uma sociedade de advogados jamais será feito na junta comercial, pois, obrigatoriamente, deverá ser feita na OAB. 
Para se dizer, em geral, se é simples ou empresária, tem que ficar atento aos requisitos da sociedade empresária: o material (exercício de atividade organizada) e formal (registro na Junta Comercial) e a empresária, impessoal por excelência, é aquela que os sócios são meros articuladores dos fatores de produção, mas a atividade pessoal deles não importa tanto. Numa sociedade com três advogados, em que um deixa de prestar a atividade, a sociedade se prejudica porque na simples a atividade é prestada pelo próprio sócio. Pelo critério da pessoalidade é fácil entender isso. 
Recapitulando e sintetizando:
“A sociedade empresária, capitalista e impessoal por excelência, submete-se à legislação falimentar, e se notabiliza pelo fato de os seus sócios atuarem como meros articuladores de fatores de produção (capital, trabalho, tecnologia e matéria prima), sendo obrigatório o seu registro na Junta Comercial.” 
“Já a sociedade simples, pessoal por excelência, tem o seu registro no CRJP e notabilizam-se pelo fato de a sua atividade ser prestada ou supervisionada direta e pessoalmente pelo próprio sócio.”
O grande click é que na sociedade simples é que a atividade é pessoalmente prestada ou supervisionada pelo próprio sócio.
“Art. 982. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art. 967); e, simples, as demais. 
Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa.” Toda S.A é empresária e toda cooperativa é simples!
O parágrafo único é pegadinha. Não queira encontrar lógica, mas por força de lei tem que saber: 
Toda SA, por força de lei é empresária e 
Toda cooperativa é simples 
OBS.: “A legislação específica da cooperativa (pegadinha fantástica), a Lei 5.764/71 e a Lei 7.231/84 (isso é matéria de direito empresarial), bem como o Enunciado 69, da I Jornada de Direito Civil, afirmam que a cooperativa continua sendo registrada na Junta Comercial.”
Não queira imaginar a cooperativa como uma empresa. Lá o que se tem é uma base mutuaria. Na cooperativa, cada cooperado tem que desempenhar uma atividade pessoal para partilhar um resultado, se houver. Se o taxista cooperado não trabalhar, não recebe. Não é partilha de lucro como se fosse um sócio que tem 3%. A legislação anterior, mesmo desconhecendo que na essência cooperativa não é o mesmo que sociedade empresária, dizia que registro de cooperativa é na Junta Comercial. Isso sempre foi assim no Brasil. O Enunciado 69 disse a mesma coisa e por incrível que possa parecer, é um dos poucos enunciados que não está acompanhando a doutrina moderna.
“Uma segunda corrente doutrinária (Julieta Lunz, Paulo Rego, Maria Helena Diniz), sustenta que, por ser simples, o registro da cooperativa é no CRPJ.” 
Esta segunda corrente há de prevalecer no direito brasileiro, mas ainda há polêmica.
4.	ASSOCIAÇÕES
4.1.	Conceito 
	“As associações são entidades de direito privado, formadas pela união de indivíduos, nos termos do art. 53, do Código Civil, visando à finalidade não econômica.”
	Parece com a fundação, mas não é igual porque associação tem estrutura corporativa. Mas toda associação busca finalidade ideal, fins não econômicos. A diferença para a fundação é que a associação decorre da união de indivíduos.
“Art. 53. Constituem-se as associações pela união de pessoas que se organizem para fins não econômicos. 
 	Parágrafo único. Não há, entre os associados, direitos e obrigações recíprocos.”
	Exemplos: Associações de Moradores de Bairro, ONG, clubes recreativos (finalidade lúdica), etc.
4.2.	Ato Constitutivo
	A associação, nos termos do art. 54, do Código Civil, o ato constitutivo de uma associação é seu estatuto, que é registrado no CRPJ. 
 
“Art. 54. Sob pena de nulidade, o estatuto das associações conterá:
 I - a denominação, os fins e a sede da associação; 
II - os requisitos para a admissão, demissão e exclusão dos associados; 
III - os direitos e deveres dos associados;
IV - as fontes de recursos para sua manutenção; 
V – o modo de constituição e de funcionamento dos órgãos deliberativos; (alterado pela LEI Nº 11.127, DE 28 DE JUNHO DE 2005 - DOU DE 29/6/2005); 
VI - as condições para a alteração das disposições estatutárias e para a dissolução. 
VII – a forma de gestão administrativa e de aprovação das respectivas contas. (incluído pela LEI Nº 11.127, DE 28 DE JUNHO DE 2005 - DOU DE 29/6/2005)
4.3.	A Assembléia Geral
A associação pode ter receita que é investida nela mesma, mas não visa a partilhar lucros entre seus conselheiros e presidência. Mas o órgão mais importante de uma associação é a sua assembléia geral, cujas atribuições estão no art. 59, do Código Civil:
“Art. 59. Compete privativamente à assembléia geral: (alterado pela LEI Nº 11.127/05)
I – destituir os administradores; (alterado pela LEI Nº 11.127/05);
II – alterar o estatuto (alterado pela LEI Nº 11.127/05)
III - aprovar as contas; 
IV - alterar o estatuto. 
Parágrafo único. Para as deliberações a que se referem os incisos I e II deste artigo é exigido deliberação da assembléia especialmente convocada para esse fim, cujo quorum será o estabelecido no estatuto, bem como os critérios de eleição dos administradores. (alterado pela LEI Nº 11.127/05).”
 
	A Assembléia geral é o órgão mais importante de uma associação. 
	Em uma associação se encontram categorias diferentes de associados. Isso acontece nos clubes recreativos (associado remido, o que não paga a taxa, o fundador, etc.). Dentro de cada categoria não pode haver discriminação entre os associados. Se vc pertence aos associados A não pode haver discriminação. 
“Art. 55. Os associados devem ter iguais direitos, mas o estatuto poderá instituir categorias com vantagens especiais. 
 
“Art. 56. A qualidade de associado é intransmissível, se o estatuto não dispuser o contrário. 
 	Parágrafo único. Se o associado for titular de quota ou fração ideal do patrimônio da associação, a transferência daquela não importará, de per si, na atribuição da qualidade de associado ao adquirente ou ao herdeiro, salvo disposição diversa do estatuto.” 
Isso é muito claro e está posto no Código Civil, destacando-se um artigo importantíssimo, que é o 57, que traz uma grande novidade:
	“Art. 57. A exclusão do associado só é admissível havendo justa causa, assim reconhecida em procedimento que assegure direito de defesa e de recurso, nos termos previstos no estatuto. (alterado pela LEI Nº 11.127/05)”
	Justa causa é um conceito aberto, indeterminado. O Código Civil consagrou o sistema aberto, indeterminado, de pólos axiológicos, que o juiz preenche no caso concreto. São conceitos valorativos, segundo Arruda Alvim, como justa causa. 
	Isso é novidade: o associado pode ser excluído: aquele associado do clube que não tem trato social. Garantindo-lhe o contraditório, ele pode ser expulso da associação.
	Pergunta-se o art. 57 pode ser aplicado ao condomínio? Não. A associação não se confunde com condomínio. A expulsão do condômino implicaria em uma desapropriação privada porque ele é titular do patrimônio dele. Quando o condômino tem comportamento anti-social, embora vc não possa expulsá-lo vc pode aplicar multa que é progressiva. 
	
5.	EXTINÇÃO DA PESSOA JURÍDICA
	
É um tópico rápido, mas muito importante para concurso.
	Extinguir uma pessoa jurídica não é simples. Para fazer isso é preciso satisfazer o passivo da pessoa jurídica. 
	Em linhas gerais, há três formas de dissolução da pessoa jurídica.
5.1.	Dissolução Convencional
	É especialmente aplicada para sociedades. A dissolução convencional se dá quando os sócios estipulam desfaze a pessoa jurídica mediante distrato. Os próprios sócios convencionam mediante distrato a dissolução da pessoa jurídica.
5.2.	Dissolução Administrativa
	A dissolução pode ser ainda administrativa, quando resulta da cassação da autorização de constituição e funcionamento de determinadas pessoas jurídicas. 
Algumas pessoas jurídicas precisam de autorização especial do governo para funcionar (bancos, seguradoras...). Quando o governo cassa essa autorização, está havendo uma dissolução administrativa. Quando o Banco Central faz uma intervenção em um banco, pode caracterizar isso. A dissolução administrativa não se aplica a qualquer pessoa jurídica.
5.1.	Dissolução Judicial
	A dissolução judicial opera-se por meio de processo. Aqui há um procedimento e uma sentença.
	Exemplo: nas sociedades empresárias, o procedimento da falência, culmina na dissolução por sentença.
	Pergunta de prova oral: perguntaram a respeito da dissolução judicial. Ele, invariavelmente partiu para o procedimento de falência. Mas o examinador perguntou ainda: qual é a lei que regula a dissolução de sociedades não sujeitas à lei de falência?
	OBS.: “O procedimento de liquidação de sociedades não sujeitas à falência é regulado, nos termos do art. 1218, do CPC, pelos arts. 655 a 674 do CPC de 1939.”
	O art. 1218, do CPC, remete o intérprete aos arts. 655 a 674, do CPC de 1939 que ainda estão em vigor no que tange ao procedimento de liquidação de sociedades não sujeitas à falência.
	A resposta é: essa matéria, aprofundada nesse ponto, não me ocorre.
6.	DESCONSIDERAÇÃO DA PESSOA JURÍDICA (DISREGARD DOCTRINE)
	Teoria da desconsideração da pessoa jurídica, Disregard Doctrine, também conhecida como Teoria da Penetração (termo menos conhecido, mas que já caiu).
	A doutrina da desconsideração da pessoa jurídica (disregard doctrine) nasce na Inglaterra no final do século XIX. O precedente inglês famoso dessa doutrina que depois se desenvolveria na Alemanha, na Itália e nos Estados Unidos, foi aquele envolvendo Salomon vs. Salomon & Co. No Brasil, o autor pioneiro no tratamento dessa matéria foi Rubens Requião. 
	Nessa época na Inglaterra, para se constituir uma sociedade era preciso a participação de 7 integrantes. A pessoa jurídica tinha personalidade independente da pessoa física. Salomon chamou seis pessoas próximas, familiares, preparou o ato constitutivo, emitiu 20 mil ações para ele e uma única ação para os outros sócios. Essa sociedade começa a atuar no mercado inglês. A companhia começa a angariar dívidas. A fila dos credores quirografário começa a aumentar. Quando percebe que a companhia ia quebrar, Salomon abre o capital e emite títulos para negociação na bolsa (e determinados títulos conferem privilégio – se a cia quebra, tem quem o título, recebe primeiro). Após fazer isso, ele mesmo, Salomon, pessoa física, comprou os títulos. No momento que a sociedade quebra, o primeiro da fila a receber era Salomon, pessoa física. Contra quem? Salomon, pessoa jurídica. Os outros credores se descabelaram e pediram para que o juiz desconsiderasse a personalidade da companhia. Pediram que o juiz retirasse o véu da pessoa jurídica para que pudessem satisfazer os seus direitos com o patrimônio do sócio que cometeu um ato abusivo. O precedente, pois, nasce dessa discussão, neste processo, na Inglaterra.
	Trazendo a teoria para o Brasil, não é possível confundir desconsideração com despersonificação. São coisas diferentes.
6.1.	Conceito
“A doutrina da desconsideração da pessoa jurídica pretende, por afastamento temporário da sua personalidade para permitir que os credores possam satisfazer os seus direitos no patrimônio pessoal do sócio ou administrador que cometeu o ato abusivo.”
	Fábio Ulhôa usa uma expressão fantástica: o que a doutrina da desconsideração pretende é o superamento episódico da personalidade’. Quando se invoca essa tese, pede-se para o juiz que ele supere episodicamente, temporariamente, a personalidade daquela pessoa jurídica que descumpriu a sua obrigação para que o credor possa satisfazer o seu direito no patrimônio pessoal do sócio ou administrador que cometeu o ato abusivo.
	A teoria da desconsideração pode se aplicada não só em face de sociedades empresárias,
mas também de associações e também de fundações e até mesmo de entidades filantrópicas. Daí o professor ter tido o cuidado de dizer que o atingimento do patrimônio não alcança apenas o patrimônio do sócio, mas também do administrador. Basta que o administrador cometa um ato abusivo em nome da associação ou da fundação ou da entidade filantrópica.
6.2.	Desconsideração x Despersonificação
	Hoje se fala muito em direito de empresa com base na Constituição Federal, mencionando o princípio da função social da empresa. À luz desse princípio, ela tem que ter continuidade. Quando o juiz desconsidera a personalidade, á idéia é que satisfeito o direito do credor, a pessoa jurídica, em sendo possível, volte a funcionar. Assim, desconsiderar não é despersonificar.
	“A despersonificação é mais severa porque pretende o aniquilamento da pessoa jurídica mediante o cancelamento do seu registro”
	Discussão ocorrida a algum tempo sobre torcidas organizadas sob forma de associação: discutia-se o cancelamento do registro dessas associações por conta da gravidade do ilícito praticado. Isso é despersonificação. É mais severa. É definitiva, ao passo que a desconsideração é temporária.
	Essa matéria apaixonante está muito bem tratada no “O Novo Direito Societário”, de Calixto Salomão Filho (estudo mais avançado).
6.3.	Regras do Direito Positivo para a desconsideração
	Fundamentalmente, no campo do direito privado, que é a nossa disciplina, os dois artigos que servem de base à teoria da desconsideração do direito privado positivo brasileiro é o art. 28, do CDC e o art. 50, do Código Civil.
“Art. 28, do CDC – O juiz poderá desconsiderar a personalidade jurídica da sociedade quando, em detrimento do consumidor, houver abuso de direito, excesso de poder, infração da lei, fato ou ato ilícito ou violação dos estatutos ou contrato social. A desconsideração também será efetivada quando houver falência, estado de insolvência, encerramento ou inatividade da pessoa jurídica provocados por má administração.”
“Art. 50, do CC – Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica.” 
6.4	Teoria ultra vires societatis
	O art. 1.015, do Código Civil não entraria nesse rol (e isso já foi perguntado pela PFN)? Esse artigo consagra uma teoria que não pode ser confundida com a teoria da desconsideração. No Código Civil, desconsideração da pessoa jurídica está no art. 50, no art. 1.015 está a teoria ultra vires societatis.
	“A doutrina ultra vires não pode ser confundida com a teoria da desconsideração. Prevista no art. 1.015, do Código Civil, a teoria do ultra vires sustenta ser inválido e ineficaz o ato praticado pelo sócio que extrapole os limites do contrato social, não vinculando por consequência, a referida pessoa jurídica.”
Art. 1.015. No silêncio do contrato, os administradores podem praticar todos os atos pertinentes à gestão da sociedade; não constituindo objeto social, a oneração ou a venda de bens imóveis depende do que a maioria dos sócios decidir. 
 
Parágrafo único. O excesso por parte dos administradores somente pode ser oposto a terceiros se ocorrer pelo menos uma das seguintes hipóteses: 
 	I - se a limitação de poderes estiver inscrita ou averbada no registro próprio da sociedade; 
II - provando-se que era conhecida do terceiro; 
III - tratando-se de operação evidentemente estranha aos negócios da sociedade. 
	É uma teoria protetiva da pessoa jurídica. Visa a blindar a pessoa jurídica. Se o sócio, ao realizar o ato, celebrando o contrato, extrapolou os limites do contrato social, esse ato não vincula a sociedade de que faz parte. O terceiro prejudicado vai responsabilizar diretamente o sócio. Por isso, se vc for celebrar um contrato com uma pessoa jurídica, leia o contrato social para saber se aquele sócio tem poderes específicos para a prática daquele ato. O juiz, ao receber a petição inicial de uma pessoa jurídica que firmou procuração para o advogado, tem de exigir cópia preferencialmente autenticada do contrato social para verificar se esse sócio tem poderes para a prática de ato processual. Por que? Porque se ele extrapola os poderes contidos para ele no contrato social, ele não vincula a sociedade. É a chamada teoria ultra vires societatis, protetiva da sociedade. E isso não tem nada a ver com a teoria da desconsideração, que é protetiva dos credores, dos terceiros.
	
6.5	Requisitos da Desconsideração da Pessoa Jurídica no Código Civil Brasileiro
“Art. 50, do CC – Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica.” 
	
	A desconsideração é matéria judicial ou administrativa? Em outras palavras: a Administração Pública pode de ofício desconsiderar a personalidade de uma pessoa jurídica ou essa matéria está sob reserva de jurisdição?
	O art. 50 deixa claro: poderá o juiz, porque a desconsideração é sanção e, em sendo sancionatória, é o juiz que deverá decretá-la. Antigamente, era pacífico isso: desconsideração é matéria do juiz, sob reserva de jurisdição.
	Contudo, há situações tão graves, de fraudes tão provocadas, que o STJ em um julgado entendeu que é verdade. De fato, regra geral, desconsideração é matéria sob reserva de jurisdição. Quem desconsidera é o ato do juiz. Mas, por exceção, quando a fraude é comprovada, poderá a Administração Publica desconsiderar ex officio como fez no mandado de segurança 15.166 da Bahia.
	Há dois projetos sobre esse tema no Congresso. Os doutrinadores foram instados a dar sugestões a esses projetos. Alguém sugeriu que a lei dissesse que a desconsideração fosse feita também pela Administração Pública. O Código Civil não diz isso. É até possível encontrar a desconsideração por parte da Administração prevista em leis de licitações estaduais, por exemplo, mas o fato é que a doutrina (autores do mais alto quilate) diz o seguinte:
	“Regra geral, segundo a doutrina brasileira (Edmar Andrade, Gustavo Tepedino), a desconsideração é matéria sob reserva de jurisdição, nos termos do art. 50, do Código Civil, mas na excepcional situação de fraude grave comprovada, a desconsideração pode se dar de ofício pela Administração Pública.(RMS 15166/BA)”
	Esse julgado é uma espécie de case no direito brasileiro. Olha o que aconteceu, para que o próprio STJ concordasse em que a Administração Pública promovesse a desconsideração da pessoa jurídica de ofício (parte do julgado): 
“A constituição de nova sociedade, com o mesmo objeto social, com os mesmos sócios e com o mesmo endereço, em substituição a outra declarada inidônea para licitar com a Administração Pública Estadual, com o objetivo de burlar à aplicação da sanção administrativa, constitui abuso de forma e fraude à Lei de Licitações Lei n.º 8.666/93, de modo a possibilitar a aplicação da teoria da desconsideração da personalidade jurídica para estenderem-se os efeitos da sanção administrativa à nova sociedade constituída.” 
”A Administração Pública pode, em observância ao princípio da moralidade administrativa e da indisponibilidade dos interesses públicos tutelados, desconsiderar a personalidade jurídica de sociedade constituída com abuso de forma e fraude à lei, desde que facultado ao administrado o contraditório e a ampla defesa em processo administrativo regular.”
Então, o que aconteceu? Uma determinada empresa formada por 3 sócios foi impedida de licitar. O que eles fizeram? Formaram
nova sociedade, mesmo endereço, mesmo objeto social, quase tudo igual. A Administração desconsiderou a personalidade para tingir os sócios da primeira empresa, que eram os mesmos. Fez isso ex officio, o que foi admitido em caráter excepcional.
	Os requisitos da desconsideração da pessoa jurídica, na forma do art. 50, do Código Civil são dois:
1º) Requisito – implicitamente consagrado. É obvio: é preciso que haja descumprimento de obrigação. É necessário que a pessoa jurídica haja descumprindo uma obrigação. Só se invoca a teoria da desconsideração alegando que a pessoa jurídica descumpriu a obrigação. O credor precisa demonstrar isso.
2º Requisito – demonstração do abuso por parte do sócio ou do administrador, abuso caracterizado ou pelo desvio de finalidade ou pela confusão de patrimônio.
Quando a doutrina no Brasil começou a escrever sobre isso, tinha o hábito de colocar dentre os requisitos da desconsideração, um requisito subjetivo: para que haja a desconsideração é necessário que o credor demonstre que o sócio que praticou o ato abusivo, teve a intenção de prejudicar, ou seja, provar o dolo específico do sócio ou administrador no cometimento do ilícito. Imagine-se o litígio com uma grande companhia tendo que demonstrar isso. Seria um suplício, por isso, Fábio Konder Comparato disse que isso estava errado: não tem que provar nada de intenção. Bastam os critérios objetivos.
“O art. 50 do Código Civil, na linha de pensamento do professor Fábio Konder Comparato, seguindo uma linha objetiva, ao cuidar da teoria da desconsideração, não exigiu que o credor provasse o dolo específico do sócio ou administrador que cometeu o ato abusivo.”
	Como funciona: objetivamente, para vc, à luz do art. 50, do CC, para se desconsiderar a personalidade é preciso ter a prova no processo do descumprimento da obrigação e o abuso caracterizado pelo desvio de finalidade e a confusão de patrimônio.
Abuso de finalidade – sócio, por meio, de ato abusivo pratica fim diverso daquele previsto no contrato social. Uma sociedade foi constituída para vender camisas e o sócio está prestando serviço de consultoria. 
Confusão de patrimônio – caso da Inglaterra (Salomon). 
	Uma outra modalidade de abuso caracterizado pela confusão patrimonial é a “empresa podre.” Um conglomerado de empresas (A, B, C e D) resolve constituir a empresa E. Isso é comum. A nova pessoa jurídica constituída absorve o passivo das outras empresas (empresa podre). Até aí, se estiverem cumprindo com suas obrigações, perfeito. Mas se a controladora A, esteja atuando por meio da controlada E, que foi criada para absorver o passivo e servir de escudo para a controladora. A controladora usa a controlada para assumir o passivo e prática de atos abusivos. Vc pode pedir a desconsideração indireta: afasta uma empresa e atinge a outra. 
	OBS.: “Exemplo grave de abuso em que há confusão patrimonial opera-se quando uma pessoa jurídica atua por meio de outra visando a se eximir de responsabilidade. Neste caso, poderá o juiz desconsiderar a primeira empresa e atingir indiretamente a que está por trás.”
6.6		A Teoria MAIOR e a Teoria MENOR da desconsideração da personalidade jurídica.
	É muito mais fácil desconsiderar a personalidade jurídica no Juizado do que no Código Civil porque a teoria que adotam não é a mesma. Qual é a diferença entre teoria maior e teoria menor da desconsideração da pessoa jurídica?
Teoria Maior – É a adotada pelo Código Civil Brasileiro, exigindo além do descumprimento da obrigação ou da insolvência, requisitos específicos caracterizadores do abuso; 
Teoria Menor – Já na Teoria Menor, mais fácil de ser aplicada, como no direito do consumidor e ambiental, não se exige os requisitos caracterizadores do ato abusivo, bastando o credor demonstrar que a obrigação foi descumprida (neste caso, a única saída pode ser atingir o sócio ou administrador que está por trás...).
	A Teoria Maior exige, para desconsiderar, além do descumprimento da obrigação, requisitos caracterizadores do abuso. É preciso provar que a pessoa jurídica descumpriu a obrigação e o sócio cometeu o ato abusivo. 
	A Teoria Menor é assim: vc ingressa com a queixa consumerista no juizado, demonstra que não recebeu da empresa, que não está lhe pagando e o juiz não quer nem saber: desconsidera e atinge o sócio, garantindo o patrimônio. Por que? Porque na Teoria Menor, basta que se prove o descumprimento da obrigação ou a insolvência. Aí não se exige que o credor tenha de provar o abuso caracterizado ou pelo desvio de finalidade ou pela confusão de patrimônio.
	STJ: Explosão do Shopping de Osasco – o STJ doutrinou a matéria, discorrendo sobre a diferença entre a teoria menor e a teoria maior. Ver REsp. 279.273/SP.
	A teoria Maior não pode ser aplicada com a simples demonstração de estar a pessoa jurídica insolvente. Exige-se, além disso, ou a demonstração do desvio de finalidade ou a demonstração da confusão patrimonial. A Menor, acolhida em nosso ordenamento, excepcionalmente no direito do consumidor e no direito ambiental, incide com a mera prova de insolvência da pessoa jurídica para o pagamento da obrigação, independentemente da existência de desvio de finalidade ou de confusão patrimonial. A Menor é uma teoria muito mais facilmente aplicada.
	Observação importantíssima: marido e mulher podem constituir sociedade, à exceção daquelas hipóteses antes estudadas. Imagine uma dona de casa que dê 1% do nome para constituir uma sociedade com o marido. Imagine que a sociedade constituída comete um ato abusivo e descumpre a obrigação. O credor, então, invoca a teoria da desconsideração da pessoa jurídica para o atingimento do patrimônio pessoal desses sócios. Que sócios são atingidos? Todos? Ou apenas o sócio que cometeu o ato abusivo? Nos dois projetos de lei que tramitam (de lege ferenda) e a doutrina moderna tem dito algo que julgados no Brasil não fazem. Há juízes que fazem com que todos os sócios sejam atingidos. 
Aconteceu: Uma pessoa foi sócia de uma empresa de 2000 a 2002. Saiu em 2002. O empregado entrou na sociedade em 2003, trabalhou durante um ano, saiu em 2004, é extinta a relação de emprego e ele formula a reclamação trabalhista. Na decisão, o juiz teria determinado que, não tendo sido satisfeito o direito do empregado que entrou em 20063, o patrimônio do sócio que saiu antes do empregado entrar deve ser atingido. Na teoria do direito civil, a desconsideração da pessoa jurídica é uma sanção. Se é assim, envolve responsabilidade civil. Grandes empresários não assumem a presidência de uma grande empresa sem fazer um seguro de responsabilidade civil. Porque lá é corrente. Seu patrimônio será atingido. Para se desconsiderar a personalidade não se pode atingir qualquer sócio. Vc deve, resguardando o nexo de causalidade, atingir o sócio que cometeu o ato abusivo ou dele se beneficiou. Pelo fato de integrar uma sociedade com 7 pessoas, se o sócio administrador comete ato abusivo, em princípio, é o patrimônio dele que é atingido porque a desconsideração é sanção de responsabilidade civil e que deve ser direcionada para aquele que cometeu o ato abusivo ou para aquele que dela se beneficiou. Esse é o detalhe.
	“Nos termos do Enunciado nº 07, da I Jornada de Direito Civil, seguindo a vereda dos Projetos de Lei 3401/08 e 4298/08, a desconsideração a ser formulada em requerimento específico, respeitando o nexo de causalidade, deverá atingir patrimônio do sócio ou administrador que cometeu o ato abusivo ou dele se beneficiou.”
“7 – Art. 50: só se aplica a desconsideração da personalidade jurídica quando houver a prática de ato irregular e, limitadamente, aos administradores ou sócios que nela hajam incorrido.”
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