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DIREITO PROCESSUAL CIVIL I Aula n. 3 Prof. Doutoranda Me. Mariângela Guerreiro Milhoranza 1 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • 1.3. Formas de Solução de Conflitos: Autotutela, Autocomposição, Conciliação, Mediação e Arbitragem • AUTOTUTELA – Há autotutela quando o particular aplica o direito com as próprias mãos, sem a intervenção do Estado. A autotutela ocorre quando o próprio sujeito busca afirmar, unilateralmente, seu interesse, impondo-o (e impondo-se) à parte contestante e à própria comunidade que o cerca. 2 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • AUTOCOMPOSIÇÃO - Na autocomposição, o conflito é solucionado pelas partes, sem a intervenção de outros agentes no processo de pacificação da controvérsia. As modalidades de autocomposição são as seguintes: renúncia, aceitação (resignação/submissão) e a transação. 3 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • CONCILIAÇÃO - É um meio alternativo de resolução de conflitos em que as partes confiam a uma terceira pessoa (neutra), o conciliador, a função de aproximá-las e orientá-las na construção de um acordo. O conciliador é uma pessoa da sociedade que atua, de forma voluntária e após treinamento específico, como facilitador do acordo entre os envolvidos, criando um contexto propício ao entendimento mútuo, à aproximação de interesses e à harmonização das relações. 4 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • MEDIAÇÃO - Caracteriza-se como um procedimento em que há a ação de um terceiro, dito mediador, estranho ao conflito de interesses, que conduz e induz as partes a um consenso. Todavia, as partes não ficam vinculadas à proposta do mediador. Trata-se na realidade de um procedimento negocial revelado na tentativa de solucionar a controvérsia. 5 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • ARBITRAGEM – é uma técnica para solução de controvérsias através de uma ou mais pessoas que recebem seus poderes de uma convenção privada, decidindo com base nesta convenção, sem intervenção do Estado, sendo a decisão destinada a assumir eficácia de sentença judicial. 6 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • Breve percurso no tempo sobre o instituto da Arbitragem – • A arbitragem como prática de solução dos conflitos é ancestral. Já estava entre os meios de solução de interesses contraditos na antiga Babilônia. Na Bíblia, está narrado em Reis, 3, 24-28, na célebre decisão de Salomão sobre a quem seria atribuída a maternidade de uma criança reclamada. 7 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL Na Grécia, Platão, nas Leis, livro VI, já previa a eleição dos juízes e também a dos árbitros livremente eleitos pelas partes. Em Roma, o Digesto expressamente dispunha “sobre os casos de responsabili-dade assumida: os que assumiram uma arbitragem ditem a sentença” 8 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • Na idade média, o Direito Canônico vai incentivar e disciplinar a arbitragem. O Código de Direito Canônico, no Livro IV, Secção II, Título XVIII, Capítulo I e II, ns. 1925-1932 trata dos modos de evitar o juízo contencioso, da transação e do compromisso arbitral. 9 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • Na idade média, o Direito Canônico vai incentivar e disciplinar a arbitragem. O Código de Direito Canônico, no Livro IV, Secção II, Título XVIII, Capítulo I e II, ns. 1925-1932 trata dos modos de evitar o juízo contencioso, da transação e do compromisso arbitral. 10 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • Na Inglaterra, o Parlamento em 1698 edita a primeira lei sobre a arbitragem. Curioso é que dito normativo proibia as partes de revogar unilateralmente o acordo arbitral, fortalecendo-se, desse modo, o procedimento. Mais tarde, através do The common law procedure act de 1854, os tribunais deveriam repudiar qualquer ação impeditiva de execução de acordo arbitral. Também, disciplinou a nomeação de árbitros sempre que frustrada a nomeação daquele designado pelas partes. Com a edição do Arbitration Act of 1889, o direito inglês consagra definitivamente o instituto da arbitragem. 11 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • Nos Estados Unidos, as rules que tratavam da conciliação dos interesses contrariados se deduziam como processuais. A arbitragem como a conhecemos, só se constitui em 1926 com o United States Federal Arbitration Act, United States Code Title 9 editado em 1925. Contudo, em 1922 é fundada a The Arbitration Society of America. 12 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • Na França, o decreto de 1790, fruto das idéias revolucionárias, a partir da idéia de égalité, difundida pela Revolução Francesa, se pen-sava que o Estado não devia intervir nas disputas, e assim se institui a arbitragem obrigatória. Contudo, por pouco tempo. Com o Código de Napoleônico de Procedimentos Civis, disciplinou- se o contrato arbitral exigindo que remanescesse bem delimitado o objeto litigioso e também o nome do árbitro ou árbitros. 13 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • Todavia, limitava o convênio apenas para os conflitos presentes, não admitin-do os futuros. Por sua vez, o Código Comercial, limitava a arbitragem aos conflitos em matéria de seguros marítimos. Só em 1925, foi reconhecida, no direito francês, a arbitragem para a eventualidade de conflitos futuros. 14 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • Arbitragem no Brasil - Podemos dizer que o Brasil nasce através de arbitramento, pois pelo Tratado de Tordesilhas de 1494 foram discriminadas as terras descobertas. Espanha e Portugal disputavam as terras brasileiras. Na ocasião, foi escolhido o Papa Alexandre VI como árbitro da questão. Mas, em 1603 com as Ordenações Filipinas (Livro III, Tít. XVI; e, mais tarde, com as Manuelinas, III, Títs. 81 e 82) fixa-se a gênese da arbitragem no Brasil. 15 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • No império, consagrava-se constitucionalmente o instituto, como está no art. 160 da Carta de 1824. Em 1850, com a edição do Código Comercial, obriga-se o procedi-men-to de arbitragem nos conflitos decorrentes de contratos de locação mer-cantil, assim como em matéria socie-tária, ou de liquidação de sociedades e, ainda, nos casos de naufrágios, avarias e quebras. 16 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • Com a edição da Lei 1.350 de 1866, fica revogada a arbitragem obrigatória, mantendo- se a voluntária. Com a promulgação do Decreto 3.900 de 1867, pela primeira vez regula-se o juízo arbitral aplicado às práticas mercantis. 17 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • Com a edição do Código Civil Brasileiro 1916 (arts. 1037 e 1048) fica assentada a arbitragem como meio de solução de controvérsias, sejam judiciais ou extrajudiciais. Mais tarde, o Código de Processo Civil de 1939 (arts. 1031-1046) disciplina o uso da arbitragem. Tal prática persiste nos arts. 1072-1102 com a reforma do CPC de 1973, contudo condicionando-a a homologação da sentença arbitral pelo juiz originariamente competente para o julgamento da causa. 18 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • O atual Código Civil (Lei n.º 10.406, de 10 de janeiro de 2002), no artigo 853, consagrou-a definitivamente: "Admite-se nos contratos a cláusula compromissória, para resolver divergências mediante juízo arbitral, na forma estabelecida em lei especial.” 19 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • Ainda, no artigo 851, com a seguinteredação: "É admitido compromisso, judicial ou extrajudicial, para resolver litígios entre pessoas que podem contratar" e, no artigo 852: "É vedado compromisso para solução de questões de Estado, de direito pessoal de família e de outras que não tenham caráter estritamente patrimonial" 20 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • Natureza Jurídica da Arbitragem - Quanto à natureza jurídica, há duas correntes que debatem duas teses principais: a) tese contratualista e b) tese jurisdicional. 21 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • A tese contratualista defende que a arbitragem possui um caráter privatista uma vez que há falta de imperium às atribuições conferidas ao árbitro, eis que estes não assumem a qualidade de funcionário público e não administram a justiça em nome do Estado e sim pela vontade das partes. 22 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • Art. 475-N. São títulos executivos judiciais: a sentença proferida no processo civil que reconheça a existência de obrigação de fazer, não fazer, entregar coisa ou pagar quantia; II - a sentença penal condenatória transitada em julgado; III - a sentença homologatória de conciliação ou de transação, ainda que inclua matéria não posta em juízo; IV - a sentença arbitral; V - o acordo extrajudicial, de qualquer natureza, homologado judicialmente; VI - a sentença estrangeira, homologada pelo Superior Tribunal de Justiça; VII - o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a título singular ou universal. Parágrafo único. Nos casos dos incisos II, IV e VI, o mandado inicial (art. 475-J) incluirá a ordem de citação do devedor, no juízo cível, para liquidação ou execução, conforme o caso. 23 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • Já a tese jurisdicional está balizada no caráter público da administração da justiça e, principalmente, no fato do Código de Processo Civil, no artigo 475-N, inciso IV, conferir à sentença arbitral as características próprias de uma sentença prolatada por um magistrado da função jurisdicional do Estado. 24
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