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Peter Cappelli é professor de gestão da Wharton School e autor de vários livros, dos quais Will college pay off? A guide to the most important financial decision you’ll ever make (PublicAffairs, 2015). Por que adoramos odiar o RH ...e o que o RH pode fazer a respeito Peter Cappelli Esses sentimentos não são novos. Eles eclodiram agora e no passado porque não gostamos que nos di- gam como devemos nos comportar — e nenhum ou- tro grupo na vida organizacional, nem mesmo o de finanças, faz isso de forma tão sistemática quanto o RH. Ficamos na defensiva quando somos instruí- dos a mudar a forma como interagimos com as pesso- as, principalmente com aquelas subordinadas a nós, porque isso atinge diretamente a essência do que so- mos. Além disso, o RH nos faz realizar tarefas de que não gostamos, como documentar problemas com funcionários. E isso nos impede de fazer o que quere- mos, como contratar alguém que “simplesmente sa- bemos” ser adequado. Suas diretrizes afetam todas as pessoas da organização, até o topo, todos os dias. As reclamações têm uma característica cíclica — são movidas em grande parte pelo contexto de ne- gócios. Em geral, quando as empresas estão lutando para conseguir trabalhadores, o RH é visto como um parceiro valioso da liderança. Quando as coisas estão caminhando com mais tranquilidade, os executivos tendem a pensar: “O que o RH está fazendo por nós?”. Isso não significa que o RH esteja acima de repro- vações. Muito pelo contrário, tem muito em que me- lhorar, e este é um momento de enorme oportunida- de. Pouco se fez nas últimas décadas para examinar o valor de práticas amplamente usadas que são fun- damentais para a forma como a empresa atua. Ao se- parar aquilo que é eficaz do que não tem valor, os lí- deres de RH podem assegurar grandes retornos pa- ra suas organizações. Mas é importante entender a história tumultuada do RH com os líderes empresa- riais e a economia antes de voltar nossa atenção para aquilo que essa área deveria fazer agora e no futuro. O pêndulo do pessoal O sentimento dos altos executivos em relação ao RH reflete de forma bastante confiável o que está ocor- rendo na economia dos Estados Unidos. Quando a economia está em baixa e o mercado de trabalho está parado, eles veem o RH como um incômodo. Mas os sentimentos mudam quando o mercado de trabalho se aquece e as práticas de recursos huma- nos se tornam essenciais para o sucesso imediato das empresas. Pense na Grande Depressão. As pessoas eram ca- pazes de se sujeitar a praticamente qualquer coisa para manter o emprego. Os gerentes de linha se quei- xavam de que os departamentos de pessoal criavam obstáculos para uma melhoria de desempenho, que para eles poderia ser obtida com o que ficou conheci- do como “drive system”, um sistema de pressão que consistia em ameaçar os trabalhadores e até agredi- los fisicamente se não cumprissem as expectativas. Da mesma forma, os líderes empresariais não de- ram muita importância ao RH durante as recessões de 2001 e 2008, porque os funcionários — plena- mente cientes do quanto eram substituíveis — fica- ram quietos e em geral se comportaram bem. Como as empresas tinham um grande banco de candida- tos ao qual podiam recorrer, os salários permanece- ram achatados e a produtividade aumentou. Mais funcionários estavam trabalhando mais duro para preservar o emprego. E isso continua sendo verda- de na “recuperação sem empregos” dos Estados Uni- dos após a mais recente crise financeira. Embora 83% das pessoas em uma pesquisa da Salary.com tenham dito que procurariam um novo emprego em 2014, o número dos que estão efetivamente deixando seu Recentes queixas sobre a área de recursos huma- nos tocaram um ponto nevrálgico em um públi- co grande e solidário, principalmente nos Estados Unidos. Os críticos mais duros dizem que os exe- cutivos de RH se concentram demais nas “admi- nistrivialidades” e carecem de visão e pensamento estratégico. fOCO RePenSAndo A áReA de RecuRSoS humAnoS 2 harvard Business Review Julho 2015 trabalho ainda não disparou. Por isso, para os líderes ainda é fácil repelir todas aquelas políticas irritantes do RH. Elas parecem supérfluas. Agora considere, em contraste, ocasiões em que os trabalhadores não eram tão abundantes. Nos anos 1920 — quando os Estados Unidos viviam um boom econômico e manter os trabalhadores era, ao mesmo tempo, difícil e crucial para os negócios —, os depar- tamentos de pessoal começaram a pedir aos super- visores que tratassem bem seus funcionários. E, de- pois da Segunda Guerra Mundial, a indústria dos Es- tados Unidos sofreu uma escassez de talentos sem comparação. Muitos dos homens (tratava-se sempre de homens) que poderiam ter ido para os negócios tinham ido para a guerra. Para piorar, o desenvolvi- mento de talentos havia recebido pouca ou nenhu- ma atenção durante a Depressão. Uma pergunta do pós-guerra, “o que acontece se o patrão for atropela- do por um ônibus?”, apontava para uma grande pre- ocupação. Cerca de um terço dos executivos morreu no exercício do cargo — em grande parte, de ataque cardíaco —, e não havia substitutos. Muitas das pe- quenas empresas fecharam as portas e muitas das grandes tiveram de ser vendidas. Nesse vazio de liderança nasceu o RH moderno, inaugurando práticas como coaching, tarefas de de- senvolvimento, rotação de cargos, feedback de 360 graus, centros de avaliação, programas para funcio- nários de alto potencial e planos de sucessão. Hoje isso parece rotina, mas naquela época eram práticas revolucionárias. E surgiram da necessidade urgen- te de desenvolver e reter talentos na década de 1950. Naquela era do “O homem do terno cinza”, 90% dos cargos (e praticamente todos os de alto esca- lão) eram preenchidos com profissionais internos — e 96% das grandes empresas tinham um departa- mento inteiro dedicado ao planejamento para suprir necessidades da força de trabalho. Esses números refletem um grande compromisso com o desenvol- vimento, o que rendeu grandes dividendos. O RH era poderoso e foi eleito pelos executivos a área mais atraente das empresas. De lá para cá, as coisas mudaram bastante. Hoje, apenas um terço das vagas é preenchido com gen- te da própria organização. As empresas recorrem a headhunters para preencher a maioria das vagas de nível sênior. Um em cada quatro CEOs vem de fora. E as empresas dedicam menos tempo e esforço do que antes para mapear os talentos de que vão preci- sar nos anos futuros: em meados da década de 2000, apenas um terço delas estava fazendo algum plane- jamento nessa área. O que aconteceu? A desaceleração econômica dos anos 1970 praticamente eliminou a escassez de trabalhadores, e os líderes empresariais começaram a desmantelar os programas do pós-guerra destina- dos a identificar e desenvolver bons gerentes e tra- balhadores. As corporações que faziam questão de mantê-los, como a GE, eram exceção. As novas em- presas, particularmente na área de tecnologia, po- diam contratar todos os executivos de que precisa- vam — graças às demissões e à paralisação do avan- ço — quando eles deixavam as grandes organizações. A Microsoft se tornou a maior empresa do mundo em termos de capitalização de mercado com prati- camente nenhum investimento no desenvolvimento de habilidades de gestão. Outras seguiram seu exem- plo. Era como um CEO me disse naquela época: “Por que eu deveria treinar pessoas quando meus concor- rentes estão dispostos a fazer isso por mim?”. Enquanto isso, os supervisores passavam ca- da vez menos tempo com seus subordinados dire- tos. Como tinham muitas pessoas sob seu comando, não podiam gerir cuidadosamente todas elas, e ou- tras tarefas recebiam maior prioridade. Em seu livro O fator liderança, o professor da Harvard Business Ideia em resumo O PROBLEMA Quando há escassezde talentos, os líderes empresariais veem o Rh como um valioso parceiro estratégico. mas quando o mercado de trabalho esfria, o Rh passa a parecer um incômodo, porque não gostamos que nos digam como devemos nos comportar — e não vemos nenhum benefício imediato em obedecer. A OPORTUNIDADE em vez de esperar até que a próxima mudança no mercado mude a percepção dos líderes, os executivos de Rh devem definir a agenda de talentos agora. eles têm a perspectiva e a experiência necessárias. A SOLUÇÃO os executivos de Rh podem obter grandes vitórias para suas empresas repensando programas existentes desde os anos 1950, elaborando cases para as iniciativas que importam e cortando os programas de “estimação” mal-estruturados que não têm impacto. Na era do “O homem do terno cinza”, 90% dos cargos eram preenchidos com pessoal interno — e 96% das grandes empresas tinham um departamento dedicado ao planejamento para a força de trabalho. POr que adOramOs OdIar O rH ...e O que O rH POde fazer a resPeItO Julho 2015 harvard Business Review 3 Eu participei recentemente de um debate de che- fes de RH organizado por Will Peachey, o líder da transformação do RH da Capgemini. Ele deu início ao debate com uma pergunta provocativa: será que o RH como área está causando mais danos do que be- nefícios ao incitar os gerentes de linha a assumir com mais seriedade suas responsabilidades como super- visores? A posição predominante foi a de que as coi- sas seriam muito piores para os funcionários sem o envolvimento do RH. Mas havia também uma sensa- ção palpável de que em muitas organizações o RH es- tá apenas colocando bandagens em problemas que persistirão até que os altos executivos transformem as questões do talento em uma prioridade clara para os gerentes. O que o rH deveria estar fazendo agora Enquanto a economia dos EUA continua a se recu- perar, as empresas podem muito bem esperar que os trabalhadores fiquem escassos novamente antes de olhar para o RH em busca de apoio significativo. Mas o RH pode acelerar as coisas assumindo as réde- as agora. Ele tem a expertise necessária para ajudar as empresas a ficar à frente da mudança de mercado que todos deveríamos ver que está chegando. Aqui estão os passos básicos, mas poderosos, que os líde- res de RH podem dar: Defina a agenda. Como qualquer outra área, o School John Kotter relatou esse fenômeno em um destacado banco de Nova York no início da década de 1980. Os gerentes juniores se queixaram de que suas tarefas de gestão de pessoas os estavam desvian- do de seus papéis mais importantes como contribuin- tes individuais, e os líderes do banco permitiram en- tão que eles dedicassem menos energia à avaliação e ao coaching. Assim, os funcionários não estavam recebendo o investimento e a atenção de que precisavam pa- ra crescer. Até mesmo o breve ressurgimento do RH durante o boom das pontocom — quando os recru- tadores corporativos, em vez dos profissionais de TI, tinham o trabalho mais atraente das empresas dos Estados Unidos, segundo o Departamento de Esta- tísticas do Trabalho — era limitado à contratação e retenção de funcionários. Ao mesmo tempo, cada vez mais tarefas que eram tradicionalmente realizadas pelo RH (como decisões de contratação, desenvolvimento e remuneração) foram sendo empurradas para os gerentes de linha. E tem sido assim desde então. Hoje a tarefa do RH é tentar fazer com que os sobrecarregados gerentes sigam práticas e procedimentos — sem ter nenhum poder direto sobre eles. Isso é chamado eufemisti- camente de “gestão com autoridade ambígua”, mas, para quem está do lado receptor, parece implicância e intromissão. atividades do rH acompanham de perto o mercado de trabalho aNOs 1920 em uma economia próspera, é difícil conseguir bons trabalhadores e ainda mais difícil mantê- los. o Rh induz os supervisores a tratar bem as pessoas. aNOs 1950 Após a Segunda Guerra mundial, um terço dos executivos morre no exercício do cargo, sem que haja substitutos. Para preencher esse vazio, o Rh cria uma série de programas revolucionários de contratação e desenvolvimento. aNOs 1930 durante a Grande depressão, os supervisores favorecem um sistema de gestão baseado na pressão, o “drive system” (que inclui ameaças e até agressões físicas), e veem o Rh como um estorvo. os trabalhadores aturam quase tudo para continuar empregados. o desenvolvimento de talentos praticamente não existe. fONTE dePARTAmenTo de eSTATÍSTIcAS do TRABALho doS euA INÍCIO dOs aNOs 1900 Surge a área de recursos humanos (conhecida como “relações industriais e trabalhistas”). depois que o aço e o petróleo transformaram os negócios dos estados unidos no século 19, ficou claro que a gestão da força de trabalho precisava de uma disciplina própria. DESEMPREGO NOS EUA fOCO RePenSAndo A áReA de RecuRSoS humAnoS 4 harvard Business Review Julho 2015 • Demissões. Segundo um relatório publicado perto do início da recessão de 2008, apenas um terço dos departamentos de recursos humanos afirmou que foi consultado a respeito de decisões da empresa sobre quais pessoas deveriam ir embora. Trata-se de uma impressionante falta de influência em uma área na qual o RH tem maior expertise do que qual- quer outro departamento. • Recrutamento. O RH entende que as entrevistas es- truturadas ajudam a identificar os melhores candi- datos. No entanto, muitas organizações permitem que executivos sem nenhum treinamento em en- trevista usem sua intuição para fazer perguntas e decidir quem deve ser contratado — o que aumen- ta o risco de litígio, assim como o custo decorrente de más contratações. • Regimes flexíveis de trabalho. Os gerentes de linha que querem manter o controle geralmente resistem à flexibilização da jornada e ao trabalho feito remo- tamente de casa. Mas os líderes de recursos huma- nos sabem que esses arranjos podem ser altamen- te eficazes. • Gestão de desempenho. O ranqueamento força- do — imposto por altos executivos que pensavam que os supervisores não eram suficientemente rígi- dos em suas avaliações — estava na moda cerca de uma década atrás. Hoje, a maioria das empresas (in- cluindo a GE, onde essa prática se tornou famosa) RH deve mostrar por que as questões com que ele li- da são importantes para a empresa — e que ele tem maneiras sensatas de geri-las. Há poucos anos, um CHRO de uma destacada corporação — alguém que sobreviveu a muitas reestruturações — foi indagado sobre o segredo de seu sucesso. “Faço qualquer coisa que o CEO queira”, respondeu. Embora fazer coisas que o chefe não queira seja certamente uma estra- tégia limitante de carreira, muitos executivos de RH esperam que lhes digam quais problemas abordar. Se uma empresa lança um programa de bem-estar de- pois que o CEO tem um ataque cardíaco, ou uma ini- ciativa para as mulheres depois que sua filha assu- me um cargo na organização, pode ter certeza de que não é a equipe de recursos humanos que está lide- rando esses esforços. Os CEOs e outros executivos operacionais rara- mente são especialistas em questões relativas aos trabalhadores. Eles geralmente não têm experiência relevante, agora que um número menor deles está passando por programas de treinamento e rotação de tarefas nos quais poderiam aprender, com colegas experientes e práticas eficazes de gestão de pessoas. Assim, a equipe de RH pode mostrar a esses executi- vos aquilo com que deveriam se preocupar e por que motivo. Isso significa articular um ponto de vista so- bre cada assunto relacionado às pessoas e relevante para os negócios. Por exemplo: aNOs 1970 com a desaceleração da economia, os trabalhadores voltam a serabundantes. os líderes empresariais começam a desmantelar todos aqueles programas do pós-guerra concebidos para atrair e desenvolver talentos. INÍCIO dOs aNOs 1980 os estados unidos entram numa profunda recessão e os trabalhadores se agarram a seu emprego. em vez de investir no Rh, as empresas empurram as tarefas de contratação e desenvolvimento para os gerentes de linha, que não têm tempo nem formação para realizá-las adequadamente. fIm dOs aNOs 1990 durante o boom das pontocom, as empresas competem duramente pelo status de “empregador preferido”, a fim de satisfazer suas crescentes necessidades de talentos. com isso, o Rh desfruta de um breve destaque, concentrando-se principalmente na contratação e retenção de funcionários. 2001 Quando a bolha das pontocom estoura e a economia despenca, os líderes empresariais sentem pouca urgência em atrair talentos. A produtividade cresce, os salários permanecem achatados, e o Rh perde a influência que teve durante o boom. 2015 enquanto persistem efeitos da Grande Recessão de 2008, a maioria das pessoas empregadas ainda não está abandonando o barco, por isso os executivos não veem nenhuma necessidade urgente de programas de Rh. o Rh precisa de bons argumentos para eles. Julho 2015 harvard Business Review 5 POr que adOramOs OdIar O rH ...e O que O rH POde fazer a resPeItO está se afastando disso à medida que percebe aqui- lo que o RH sabe há muito tempo: os supervisores precisam de treinamento, tempo e incentivos pa- ra ter conversas sérias com subordinados sobre de- sempenho e crescimento. O RH deve estar à frente de cada uma dessas questões, dizendo: “Eis como deveríamos estar li- dando com esta tarefa, e aqui estão as evidências que embasam este ponto de vista”. Concentre-se em questões que são impor- tantes aqui e agora. Muitas empresas dos Estados Unidos ainda seguem a cartilha da gestão de talen- tos escrita nos anos 1950. Por exemplo, embora os planos de sucessão raramente sejam usados, as em- presas continuam a criá-los. Em vez de copiar o que grandes corporações fizeram há décadas, o RH deve- ria criar políticas específicas da empresa (e do setor) que respondessem aos desafios de hoje. Se você está se perguntando por que isso não é óbvio, pense no debate existente na área de recursos humanos sobre se ela deveria ser uma profissão co- mo a de contabilidade, com práticas universais. Es- se ponto de vista é defendido pela Society for Hu- man Resources Management e impulsionado por seus programas de certificação de muito sucesso, que ensinam e depois documentam o conhecimen- to da concepção de sistemas de remuneração e ou- tras especialidades. O conhecimento detalhado das práticas é essen- cial, mas é mais importante entender o que funciona quando e onde. Por exemplo, em vez de apenas saber como pôr em prática um amplo plano de opção de ações, deve-se compreender seus prós e contras em várias circunstâncias. Os planos desse tipo adicio- nam à remuneração uma volatilidade que pode ser difícil para a empresa controlar, por isso eles podem não ser a principal escolha em uma economia já ins- tável ou até mesmo em uma que está em processo de recuperação, mas sujeita a oscilações imprevisíveis. E tais planos só são eficazes quando os funcionários sentem que têm autonomia e autoridade suficientes para influenciar o desempenho das ações. Para avaliar a importância do contexto, considere o que está ocorrendo em empresas de consultoria e tecnologia, onde o desenvolvimento de habilidades e capital humano é crucial para o sucesso. A PwC e a Juniper Networks já abandonaram as avaliações tra- dicionais de desempenho — talvez a prática padrão mais condenada em toda a gestão — e adotaram um modelo de conversa contínua destinado a melhorar nos anos 1950, o Rh controlava as promoções e a carreira de todos os executivos em todos os níveis. exatamente por esse motivo, escreveu William h. Whyte em The organization man, era o trabalho mais glamouroso nas empresas. A única outra época em que isso ocorreu nos estados unidos foi no fim dos anos 1990, quando o mercado de trabalho voltou a se aquecer e as empresas disputavam para ser o “empregador preferido”. Por que o rH ainda é atraente em toda parte, menos nos eua mas o Rh não caiu do pedestal em outros países. no Japão, ele ainda é o caminho preferido para chegar à cúpula executiva. e na Índia, pelo que indicam meus estudos com colegas, é sem dúvida a mais poderosa de todas as áreas. Aliás, em todo o Sudeste Asiático os altos executivos estão investindo no treinamento e desenvolvimento de funcionários e em sistemas mais sofisticados, principalmente para a contratação. Até na europa, que está repleta de talentos, a influência do Rh parece estar crescendo à medida que as empresas reconhecem a importância da cultura organizacional, da gestão do conhecimento, e assim por diante. os estados unidos são um caso isolado. o principal motivo pelo qual o Rh é mais vital nos outros lugares é que o poder organizacional vai para o grupo que lida com os maiores problemas — uma ideia que remonta no mínimo ao grande economista Alfred marshall. As empresas no restante do mundo têm de lidar com uma agressiva regulamentação trabalhista, sindicatos fortes, apoio político para os interesses dos trabalhadores e, muitas vezes, uma escassez de pessoas que possam pelo menos ser preparadas para cargos-chave. entre os países desenvolvidos, os estados unidos têm o ambiente mais favorável para os empregadores — e o menor incentivo para promover mudanças. no entanto, a ideologia também influi. os líderes que comandavam as corporações dos estados unidos após a Segunda Guerra mundial tinham ampla formação em — e apreço pela — gestão e usavam um modelo de governança baseado no equilíbrio dos interesses dos stakeholders, entre eles os funcionários. Aqueles líderes foram substituídos, num nível desproporcional, por pessoas com formação financeira, cujo modelo de governança — maximizar o valor para os acionistas — não reserva nenhum papel especial para os interesses dos funcionários. as habilidades e os resultados (veja “Ideias valio- sas e o futuro do RH”, na página 48 desta edição). A Microsoft e a Deloitte estão caminhando numa dire- ção semelhante. Preocupada em reter talentos-chave, a Deloitte rompeu a escala de promoção tradicional, fornecendo uma estrutura mais aberta e flexível pa- ra o avanço na carreira — que acomoda tanto os in- teresses dos funcionários como as novas demandas dos negócios (veja “Reinventando a gestão de desem- penho”, na HBR Brasil de abril de 2015). E a Infosys, na Índia, descobriu como usar a sala de aula para for- necer o tipo de conhecimento contextual que as pes- soas pensavam que tinha de ser obtido no trabalho. A empresa ensina aos gerentes como fazer negócio em outras culturas e em determinadas indústrias — por exemplo, como adaptar seus serviços de TI para empresas químicas na Alemanha. fOCO RePenSAndo A áReA de RecuRSoS humAnoS 6 harvard Business Review Julho 2015 compelidos a demonstrar que alguma de suas prá- ticas poderia gerar lucros. Muitos não calculam o retorno sobre o investimento (ROI), embora tam- bém se espere há pelo menos uma geração que ou- tras áreas o façam. Isso só reforça a visão que líderes empresariais têm do RH como um centro de custos cujo objetivo é sempre cortar, cortar, cortar. Não há dúvida de que, em sua maioria, os depar- tamentos de RH foram pegos inicialmente de sur- presa ao serem perguntados se práticas como a ro- tação de tarefas e a transferência de funcionários pa- ra cargos em outros países realmente compensam. As informações queeles reuniram tenderam a se concentrar em resultados individuais, como a satisfa- ção no trabalho. Eles não se sentiam preparados pa- ra estimar os retornos financeiros. Mas essa desculpa já não serve. Os sistemas integrados de gestão em- presarial (ERP) da maioria das organizações contêm dados abundantes sobre o volume de negócios, a produtividade e outros fatores que sugerem quais programas de desenvolvimento de talentos mere- cem investimento. Veja a recente decisão da IBM de reciclar consul- tores de TI cujas habilidades estavam obsoletas. A empresa afirmou que ofereceria treinamento no lo- cal e no horário de trabalho, um dia por semana, pa- ra todos que quisessem participar, mas os custos se- riam divididos com os funcionários, que abririam mão do pagamento relativo a seus dias de participa- ção. Com essa exigência incluída, foi relativamente fácil elaborar um argumento financeiro para ofere- cer o programa: as economias com contratações se- riam maiores que o dobro dos custos do treinamento. Quantificar custos e benefícios dessa forma transforma as decisões de talentos em decisões de negócios. Afaste-se daquilo que desperdiça tempo. O RH investe pesadamente em muitos programas que não têm impacto. Considere a preocupação atual com di- ferenças entre gerações. Há poucas evidências con- vincentes até mesmo de que tais diferenças exis- tam: os funcionários jovens de hoje são notavelmen- te parecidos com os funcionários jovens de décadas atrás, e eles sempre foram um desafio para os ges- tores mais velhos. Seus supervisores não estão ten- do nenhum problema incomum com eles hoje. Ape- sar disso, muitos departamentos de RH gastam mui- ta energia se preocupando sobre como a geração do milênio deseja trabalhar. Com tantas outras coisas para se preocupar, não deveria ser uma prioridade Tudo isso é uma questão de observar mais aten- tamente o ambiente no qual a organização funciona. Trata-se de identificar continuamente novos desa- fios e projetar ferramentas para superá-los. Obtenha conhecimento empresarial. O RH tem (e deve ter) profundo conhecimento sobre ques- tões relativas aos trabalhadores. Mas ele também de- veria trazer para sua área mentes analíticas de pri- meira linha para ajudar as empresas a interpretar to- dos os seus dados sobre funcionários e obter o máxi- mo de seu capital humano. Em uma pesquisa recente da Deloitte, líderes de RH disseram que se sentem menos preparados na área analítica — mas alguns estão fazendo um tra- balho notável nesse campo. Não surpreende que a Microsoft e a Google extraiam seus próprios dados para prever boas contratações e que a IBM use seu enorme banco de dados de funcionários para criar equipes de projeto de forma mais eficaz. Mas tam- bém há empresas fora do setor de tecnologia que es- tão trazendo a analítica para o RH. A Cigna usa da- dos sofisticados para minimizar seus próprios cus- tos com saúde e identificar seus funcionários com melhor desempenho. Gerentes da Cornerstone OnDemand (ex-Evolv) e outros fornecedores de software de call center estão analisando tarefas sim- ples de uma centena de maneiras para prever e me- lhorar o desempenho. Em muitas empresas, são os CIOs e suas equi- pes que estão lidando com a análise de grandes da- dos para resolver problemas clássicos do RH — entre eles, saber como encontrar os melhores candidatos e quais práticas aumentam a produtividade. O RH tem duas opções para definir a agenda quanto à gestão de pessoas: munir-se de pessoal para lidar por conta própria com essas análises, ou associar-se a outros funcionários da empresa que possam fazer esse tra- balho. Caso contrário, as respostas às perguntas fun- damentais do RH virão de outra parte da empresa, e o próprio RH poderia acabar. Destaque os benefícios financeiros. Quan- do o mercado de trabalho nos Estados Unidos esta- va aquecido no fim dos anos 1990, um artigo da HBR descreveu como a equipe de RH da Sears, Roebuck & Company demonstrou que a melhoria das atitudes dos funcionários havia possibilitado uma melhor ex- periência do cliente e, consequentemente, lucros maiores (veja “Employee-customer-profit chain at Sears”, na HBR de janeiro-fevereiro de 1998). Pou- cos departamentos de RH desde então se sentiram As empresas raramente têm planos de longo prazo com requisitos claros de talentos. Em vez disso, geram projetos e iniciativas para lidar com sucessivas necessidades. Julho 2015 harvard Business Review 7 POr que adOramOs OdIar O rH ...e O que O rH POde fazer a resPeItO também estudar essas iniciativas em conjunto: para quais necessidades emergentes elas apontam? Como essas necessidades se enquadram nas práticas e no pipeline de talentos da organização? Quais capacida- des precisam ser reforçadas? Que mudanças poderão ocorrer no mercado de trabalho e o que será neces- sário então? Por que não temos a capacidade de li- dar com essas tarefas internamente? Esse é o tipo de conselho analítico que o “novo RH” deveria fornecer. Depois, seu trabalho é ajudar as organizações a agir com base em suas ideias. Considere a recente decisão da Comcast de se do- tar de capacidades de TI de categoria internacional, o que permitirá que essa empresa com sede na Fila- délfia desenvolva seu próprio software para geren- ciar e fornecer entretenimento online. O desafio do RH aqui é claro: atrair e reter os melhores talentos na Filadélfia, que não é conhecida como um centro de tecnologia da informação. Entretanto, com a orienta- ção do RH, a empresa está cuidando disso de formas criativas — por exemplo, formando e apoiando uma comunidade de TI e oferecendo estágio e emprego a estudantes e recém-formados nesse campo criados na Filadélfia. Essa grande aposta no futuro se baseia na capacidade do RH de levar tudo isso a cabo. Empresas de tecnologia como Google, Microsoft e Apple estão agora na linha de frente da inovação do RH, em grande parte porque têm uma grande neces- sidade de talento especializado. O capital humano é praticamente seu único ativo importante. O talento está em falta e os concorrentes estão ansiosos para atrair funcionários. Também tem havido algum pen- samento criativo de RH nos serviços financeiros, pa- ra prever e evitar comportamentos antiéticos. A JP- Morgan, por exemplo, está usando um algoritmo pa- ra identificar funcionários propensos a violar regras. Mas não é necessário um escândalo ou uma cri- se para que o RH transforme suas práticas. Ele tam- bém não deve se concentrar apenas em inovações na contratação. O esforço ilimitado — por parte de fun- cionários engajados e dispostos a dar o melhor de si — está na essência do sucesso organizacional, e a ges- tão e desenvolvimento de pessoas é o caminho para impulsionar e sustentar esse esforço. O momento é propício para reimaginar o capital humano de uma maneira muito mais ampla. Os líderes empresariais perceberão isso — se o RH construir uma argumen- tação convincente, baseada em provas, em defesa do que é importante, e descartar o que não é. HBr reprint R1507B–P aprender como gerir de forma diferente um subcon- junto de subordinados. Todo mundo tem dificulda- des de engajamento e satisfação, não só os millenials. Mas mesmo que eles tivessem preferências específi- cas, o RH não poderia fazer com que os gestores exer- cessem uma supervisão sob medida — ele não tem autoridade para isso. Isso vale também para os programas de di- versidade. A legislação trabalhista dos Estados Uni- dos proíbe exigências de diversidade nas contrata- ções e promoções, de modo que as empresas tentam, então, mudar as atitudes e prioridades dos gestores. Mas tais esforços só serão eficazes se os altos executi- vos os liderarem, transformando a cultura. Caso con- trário, o RH será apenas um líder de torcida de uma iniciativa queele não pode impor nem medir — e seus líderes acabarão suplicando para que os geren- tes de linha assumam mais um conjunto de tarefas, queimando mais capital social nesse processo. O caminho a seguir Uma das maiores dificuldades do RH tradicional é apoiar a estratégia de negócios, porque hoje em dia ela está sempre mudando. As empresas raramen- te têm planos de longo prazo com requisitos cla- ros de talentos. Em vez disso, elas geram uma série de projetos e iniciativas para lidar com sucessivas necessidades. Mas as atividades de recursos humanos são, por natureza, de longo prazo. Desenvolver talentos, pre- venir problemas com regulamentações e rotativida- de de funcionários, construir uma cultura empresa- rial e lidar com questões morais leva tempo. Geral- mente, as equipes de liderança e as prioridades mu- dam antes que tais iniciativas produzam resultados. E quando as empresas não cumprem suas metas de desempenho para o trimestre, esses programas estão entre as primeiras coisas a serem cortadas. Como o RH pode trazer a visão de longo prazo de volta às organizações? Reconciliando-a com as pres- sões imediatas que as empresas enfrentam — pres- sões que aqueles sucessivos projetos separados são destinados a abordar. Mesmo quando os líderes em- presariais dizem algo como “vamos fazer isso sem nossos funcionários, recorrendo à terceirização”, as pessoas do RH devem participar da decisão, pois são as mais capazes de avaliar se essa opção vai dar certo. (Afinal, terceirizar é simplesmente pagar para usar o capital humano de outra empresa e tornar-se dependente dele.) Mas, enquanto isso, o RH deveria A legislação trabalhista dos Estados Unidos proíbe exigências de diversidade nas contratações e promoções, de modo que as empresas tentam, então, mudar as atitudes e prioridades dos gestores 8 harvard Business Review Julho 2015 fOCO RePenSAndo A áReA de RecuRSoS humAnoS
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