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Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 1Direito reservado ao POSEAD. Fundamentos da Educação Brasileira Brasília-DF, 2010. Fu nd am en to s da E du ca çã o Br as ile ira 2 Organização: Denise Maria dos Santos Paulinelli Raposo Colaboração: Andréa Studart Corrêa Galvão Elias Alexandre Maysa Barreto Ornelas Produção: Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 3 Sumário Apresentação........................................................................................................................................... 04 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa ................................................................................... 05 Organização da Disciplina ...................................................................................................................... 06 Introdução ............................................................................................................................................... 08 Unidade I – Concepções da Educação no Mundo Contemporâneo ...................................................... 11 Capítulo 1 – Fundamentos da Educação ..................................................................................... 11 Capítulo 2 – Os Saberes Necessários à Educação para o Século XXI .......................................... 14 Capítulo 3 – Educação x Instrução ............................................................................................. 21 Capítulo 4 – A Função Social da Escola e dos demais Espaços Educativos no Mundo Contemporâneo .......................................................................................... 23 Unidade II – Fundamentos Legais da Educação Brasileira .................................................................. 31 Capítulo 5 – A Constituição Federal ........................................................................................... 33 Capítulo 6 – A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: a LDB em Foco .......................... 35 Capítulo 7 – O Plano Nacional de Educação – PNE ..................................................................... 38 Capítulo 8 – Os Parâmetros Curriculares Nacionais e as Diretrizes Curriculares Nacionais .......... 39 Capítulo 9 – O Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE .................................................... 43 Unidade III – Tendências Atuais do Pensamento Pedagógico ............................................................. 47 Capítulo 10 – A Construção da Educação de Qualidade ............................................................ 47 Capítulo 11 – A Inclusão: Valorização das Diferenças ................................................................ 52 Capítulo 12 – Autonomia dos Espaços Educativos ..................................................................... 56 Capítulo 13 – Tecnologias na Educação: Inclusão Digital ........................................................... 59 Unidade IV – A Ação Docente e as Tendências Pedagógicas ............................................................... 65 Capítulo 14 – Ética nas Relações ............................................................................................... 65 Capítulo 15 – Práxis Pedagógica – Ação-Reflexão-Ação ............................................................. 70 Capítulo 16 – Formação Continuada do Profissional de Educação ............................................... 73 Para (não) Finalizar ................................................................................................................................ 76 Referências .............................................................................................................................................. 79 Fu nd am en to s da E du ca çã o Br as ile ira 4 Apresentação Caro aluno, Bem-vindo à disciplina Fundamentos da Educação Brasileira. Este é o nosso Caderno de Estudos, material elaborado com o objetivo de contribuir para a realização e o desenvolvimento de seus estudos, assim como para a ampliação de seus conhecimentos no tocante ao ensino de Fundamentos da Educação Brasileira. Para que você se informe sobre o conteúdo a ser estudado nas próximas semanas, conheça os objetivos da disciplina, a organização dos temas e o número aproximado de horas de estudo que devem ser dedicadas a cada unidade. A carga horária desta disciplina é de 60 (sessenta) horas, cabendo a você administrar seu tempo conforme a sua disponibilidade. Mas, lembre-se, há uma data limite para a conclusão do curso, implicando a apresentação ao seu tutor das atividades avaliativas indicadas na folha anexa, que contém as respectivas pontuações e prazos determinados. Os conteúdos foram organizados em unidades de estudo, subdivididas em capítulos de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, que farão parte das atividades avaliativas do curso; serão indicadas também fontes de consulta para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. Desejamos a você um trabalho proveitoso sobre os temas abordados nesta disciplina! Lembre-se de que, apesar de distantes, podemos estar muito próximos. A Coordenação do PosEAD Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 5 Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Apresentação: Mensagem da Coordenação do PosEAD. Organização da Disciplina: Apresentação dos objetivos e da carga horária das unidades. Introdução: Contextualização do estudo a ser desenvolvido por você na disciplina, indicando a importância desta para sua formação acadêmica. Ícones utilizados no material didático Provocação: Pensamentos inseridos no material didático para provocar a reflexão sobre sua prática e seus sentimentos ao desenvolver os estudos em cada disciplina. Para refletir: Questões inseridas durante o estudo da disciplina, para estimulá-lo a pensar a respeito do assunto proposto. Registre sua visão, sem se preocupar com o conteúdo do texto. O importante é verificar seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. É fundamental que você reflita sobre as questões propostas. Elas são o ponto de partida de nosso trabalho. Textos para leitura complementar: Novos textos, trechos de textos referenciais, conceitos de dicionários, exemplos e sugestões, para lhe apresentar novas visões sobre o tema abordado no texto básico. Sintetizando e enriquecendo nossas informações: Espaço para você fazer uma síntese dos textos e enriquecê-los com sua contribuição pessoal. Sugestão de leituras, filmes, sites e pesquisas: Aprofundamento das discussões. Praticando: Atividades sugeridas, no decorrer das leituras, com o objetivo pedagógico de fortalecer o processo de aprendizagem. Para (não) finalizar: Texto, ao final do Caderno, com a intenção de instigá-lo a prosseguir com a reflexão. Referências: Bibliografia citada na elaboração do curso. Fu nd am en to s da E du ca çã o Br as ile ira 6 Organização da Disciplina Ementa: Concepções de Educação no Mundo Contemporâneo; Fundamentos Legais da Educação Brasileira; Tendências Atuais do Pensamento Pedagógico e suas Implicações na Ação Educativa. Objetivos: • Ampliar conhecimentos teóricos acerca das concepções de educação no mundo contemporâneo. • Refletir sobre os fundamentos legais que regem a educação brasileira na atualidade. • Aprofundar conhecimentos teóricos sobre as tendências atuais do pensamento pedagógico com enfoque na construção da educaçãode qualidade, inclusão, novas tecnologias de comunicação e competências na formação do profissional de educação. • Refletir sobre as questões pertinentes à ação docente e às tendências pedagógicas desenvolvidas no espaço escolar. • Estimular a reflexão crítica sobre aspectos relacionados aos fundamentos teóricos, metodológicos e éticos que regem a educação brasileira e a sua aplicabilidade na ação educativa. Unidade I – Concepções da Educação no Mundo Contemporâneo Carga horária: 10 horas Conteúdo Capítulo Fundamentos da Educação 1 Os Saberes Necessários à Educação para o Século XXI 2 Educação x Instrução 3 A Função Social da Escola e dos demais Espaços Educativos no Mundo Contemporâneo 4 Unidade II – Fundamentos Legais da Educação Brasileira Carga horária: 20 horas Conteúdo Capítulo A Constituição Federal 5 A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: a LDB em foco 6 O Plano Nacional de Educação – PNE 7 Os Parâmetros Curriculares Nacionais e as Diretrizes Curriculares Nacionais 8 O Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE 9 Unidade III – Tendências Atuais do Pensamento Pedagógico Carga horária: 20 horas Conteúdo Capítulo A Construção da Educação de Qualidade 10 A Inclusão: Valorização das Diferenças 11 Autonomia dos Espaços Educativos 12 Tecnologias na Educação: Inclusão Digital 13 Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 7 Organização da Disciplina Unidade IV – A Ação Docente e as Tendências Pedagógicas Carga horária: 10 horas Conteúdo Capítulo Ética nas Relações 14 Práxis Pedagógica – Ação-Reflexão-Ação 15 Formação Continuada do Profissional de Educação 16 Fu nd am en to s da E du ca çã o Br as ile ira 8 Introdução O Caderno de Estudos da disciplina Fundamentos da Educação Brasileira tem como foco os estudos da concepção pós-crítica e seus reflexos na prática docente. Em cada unidade, discorremos sobre assuntos que favorecem o aprofundamento de conhecimentos direcionados às reflexões acerca das concepções de educação do Mundo Contemporâneo, aos fundamentos legais da educação brasileira, às tendências atuais do pensamento pedagógico e à ação docente e tendências pedagógicas. A primeira unidade enfoca estudos que indicam novos parâmetros para a prática pedagógica oriundos de saberes necessários à educação para o século XXI e, discute ações docentes instrutivas transformadas em educativas. Possibilita, ainda, reflexões sobre olhares e práticas educacionais que reverberam na função social da escola e dos demais espaços educativos. Na segunda unidade, os fundamentos legais da educação brasileira foram abordados considerando a importância de preservar aspectos definidos por lei e o seu reflexo na prática docente. As instâncias hierarquicamente definidas garantem o cumprimento de normas educativas de modo a favorecer uma atuação profissional de qualidade no espaço escolar. Relembra as diretrizes e os Parâmetros Curriculares como referencial para as atividades do educador em exercício. As tendências atuais do pensamento pedagógico, na terceira unidade, enfocam a construção da educação de qualidade com a proposta de participação ativa da comunidade nas decisões que garantam a autonomia e a gestão democrática. Tratam, ainda, da inclusão como maneira de minimizar as diferenças; da tecnologia na educação, com enfoque na inclusão digital, e das competências do profissional de educação. Na quarta unidade, a ação docente e as tendências pedagógicas finalizam as discussões deste Caderno, ao promover reflexões acerca da ética nas relações, discorrer sobre as práxis pedagógicas, embasadas na ação-reflexão-ação, e repensar a formação continuada do profissional de educação como fonte de interação em um mundo em constantes mudanças. Iniciamos, aqui, nosso primeiro contato. Esperamos que, ao término desta disciplina, você tenha ampliado seus conhecimentos sobre os fundamentos da educação brasileira e refletido sobre a sua função de educador. Antes de virar esta página, leia a mensagem a seguir: “A vida também requer reflexões, redirecionamentos, paciência, amizade e aceitação.” Denise Raposo Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 9 Introdução Unidade na Diversidade Com o propósito de acertar suas diferenças, as ferramentas de uma marcenaria fizeram uma assembléia. Foi, basicamente, uma reunião para ouvir as observações de seus companheiros de trabalho. O martelo estava exercendo a presidência, mas os companheiros exigiram que ele renunciasse. Os argumentos foram: fazia demasiado barulho e, além do mais, passava todo tempo golpeando os objetos. O martelo aceitou sua culpa, mas pediu que não fosse nomeado o parafuso, alegando que ele fazia muitas voltas para atingir seus objetivos. Diante da colocação do martelo, o parafuso concordou, mas por sua vez pediu que não indicasse a lixa para a presidência, pois ela era muito áspera no tratamento com os demais, gerando muitos atritos. A lixa acatou, com a condição de que não se nomeasse o metro, que sempre media os outros segundo a sua medida, como se fosse o único perfeito. Neste momento, entrou o marceneiro, juntou todas as ferramentas e iniciou o seu trabalho. Utilizou o martelo, a lixa o metro, o parafuso... E a rústica madeira se converteu em belos móveis. Quando o marceneiro foi embora, as ferramentas voltaram à discussão. Mas o serrote adiantou-se e disse: — Prezados companheiros, ficou demonstrado que temos defeitos, mas o marceneiro trabalhou com nossas qualidades, ressaltando nossos pontos valiosos... Portanto, em vez de pensarmos em nossas fraquezas, devemos nos concentrar em nossos pontos fortes. Então a assembléia entendeu que: • o martelo era forte; • o parafuso unia e dava força; • a lixa era especial para limpar e afinar asperezas; • o metro era preciso e exato. Sentiram-se como uma equipe, capaz de produzir com qualidade todos os móveis, e perceberam que respeito, aceitação e acolhimento das diferenças são elementos indispensáveis para o trabalho em equipe (...). Fonte: (Extraído do texto de RAMOS, Paulo. Educação Inclusiva: histórias que (des)encantam a educação. Blumenau-SC: Odorizzi. 2008, 57-580) Fu nd am en to s da E du ca çã o Br as ile ira 10 Introdução Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 11 Concepções da Educação no Mundo Contemporâneo Unidade I Concepções da Educação no Mundo Contemporâneo Unidade I Capítulo 1 – Fundamentos da Educação Andréa Studart Corrêa Galvão “Toda educação varia sempre em função de uma concepção de vida, refletindo, em cada época, a filosofia predominante determinada a seu turno, pela estrutura da sociedade (...).” (Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, 1931.) Você concorda com essa ideia? Justifique seu pensamento. Tratar dos Fundamentos da Educação é tratar de concepções de vida e de sociedade; é conhecer e compreender os alicerces do processo educativo. Para tanto, é necessário refletir sobre questões filosóficas, históricas, sociológicas, econômicas, teóricas e pedagógicas da Educação, com vistas à atuação objetiva na realidade educacional. (Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova, 1931). Vamos, então, começar nossa reflexão respondendo às seguintes questões: • Educar para quê? • Educar quem? • Educar para que tipo de sociedade? • Educar a partir de quais princípios e valores? Conseguiu responder às questões? A que conclusões você chegou? Educação e sociedade De acordo com Silva (2001), a educação tem como finalidade formar o ser humano desejável para um determinado tipo de sociedade. Dessa forma, ela visa promover mudanças relativamente permanentes nos indivíduos, de modo a favorecer Fu nd am en to s da E du ca ção Br as ile ira 12 Concepções da Educação no Mundo Contemporâneo Unidade I o desenvolvimento integral do homem na sociedade. Portanto, é fundamental que a educação atinja a vida das pessoas e da coletividade em todos os âmbitos, visando à expansão dos horizontes pessoais e, consequentemente, sociais. Além disso, ela pode favorecer o desenvolvimento de uma visão mais participativa, crítica e reflexiva dos grupos nas decisões dos assuntos que lhes dizem respeito, se essa for a sua finalidade. A concepção de educação está diretamente relacionada à concepção de sociedade. Assim, cada época irá enunciar as suas finalidades, adotando determinada tendência pedagógica. Na história da educação brasileira, podem-se identificar várias concepções, tendo em vista os ideais da formação do homem para a sociedade de cada época. Silva (ibidem) afirma que as principais correntes pedagógicas identificadas no Brasil são: a tradicional, a crítica e a pós-crítica. A concepção tradicional enfatiza o ensino e a aprendizagem de conteúdos a partir de uma metodologia rigorosamente planejada, com foco na eficiência. A concepção crítica aborda questões ideológicas, colocando em pauta temas relacionados ao poder, a relações e classes sociais, ao capitalismo, à participação etc., de forma a conscientizar o educando acerca das desigualdades e injustiças sociais. A partir do desenvolvimento da consciência crítica e participativa, o educando será capaz de emancipar-se, libertar-se das opressões sociais e culturais e atuar no desenvolvimento de uma sociedade justa e igualitária. A concepção pós-crítica foca temas relacionados a identidade, diferenças, alteridade, subjetividade, cultura, gênero, raça, etnia, multiculturalismo, saber e poder, de forma a acolher a diversidade do mundo contemporâneo, visando respeito, tolerância e convivência pacífica entre as diferentes culturas. A ideia central é a de que por meio da educação o indivíduo acolha e respeite as diferenças, pois “sob a aparente diferença há uma mesma humanidade” (SILVA, 2001, p. 86) Assim, por meio de um conjunto de relações estabelecidas nas diferentes formas de se adquirir, transmitir e produzir conhecimentos busca-se a construção de uma sociedade. Isso envolve questões filosóficas como valores, questões histórico-sociais, questões econômicas, teóricas e pedagógicas que estão na base do processo educativo. Figura 1 Disponível em: <http://bp3.blogger.com/_mmP80g0QO-U/R1KAnPYXk7I/AAAAAAAACA0/O6H-g_p6mmI/s400/MAFA.bmp> Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 13 Concepções da Educação no Mundo Contemporâneo Unidade I Antes de continuar, faça a seguinte reflexão: Identificamos alguns elementos que envolvem as concepções da educação de modo geral. Agora responda à seguinte questão: Quais são as concepções da Educação Básica? Será que os seus elementos se diferem dos da educação de modo geral? Há questões específicas? Quais? Vejamos como exemplo o Inciso III do art. 1º da Constituição Federal de 1988 que, ao tratar de seus fundamentos essenciais, privilegia a educação, apontando-a como uma das alternativas para a formação da dignidade da pessoa humana. Outro texto jurídico que analisa as finalidades da educação, no Brasil, é a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que trata das Diretrizes e Bases da Educação Nacional, mais conhecida como LDB. Em seus primeiros artigos há a seguinte notação: “a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, de seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho” (Lei nº 9.394/96). Como vimos, qualquer que seja o ângulo pelo qual observamos a educação, encontrar-se-ão fundamentos para o desenvolvimento do ser humano, de acordo com a concepção de vida e com a estrutura da sociedade. As concepções atuais da educação apontam para o desenvolvimento do ser humano como um todo, reafirmando seu papel nas transformações pelas quais vêm passando as sociedades contemporâneas e assumindo um compromisso cada vez maior com a formação para a cidadania. Torna-se imprescindível, portanto, que façamos uma conexão entre educação e desenvolvimento, pensando no desenvolvimento que educa e em educação que desenvolve, a fim de vislumbrarmos uma sociedade mais democrática e justa. Uma educação que carrega, em seu bojo, a utopia de construir essa sociedade como forma de vida tem como tema constitutivo o desenvolvimento integral do ser humano. GADOTTI, Moacir. Perspectivas atuais da educação. São Paulo Perspectivas. São Paulo, v. 14, n. 2, 2000. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102- 88392000000200002&lng=pt&nrm=iso>. No próximo capítulo, abordaremos os quatro pilares da educação, dentro da concepção pós-crítica, de acordo com as mudanças propostas para o século XXI. Reflita sobre as concepções que foram descritas e procure relativizar à sua formação acadêmica. Fu nd am en to s da E du ca çã o Br as ile ira 14 Concepções da Educação no Mundo Contemporâneo Unidade I Capítulo 2 – Os Saberes Necessários à Educação para o Século XXI Denise Maria dos Santos Paulinelli Raposo Você, certamente, tem percebido as mudanças que têm proporcionado à sociedade experienciar novas maneiras de acesso a conhecimentos, fundamentados em estudos disponibilizados nas diferenciadas redes de informações. A diversificação desses assuntos contribui para a transformação da visão das pessoas que se interessam em compreender a realidade, bem como a trajetória histórica das concepções de mundo. Como você tem experienciado essas mudanças em sua prática profissional? Essa massificação de informações – ao disponibilizar saberes e saber-fazer, dentro da concepção pós-crítica adequada à civilização cognitiva – fundamenta as bases das competências do futuro, de modo a aproveitar e explorar, ao longo da vida, as oportunidades de atualização, aprofundamento, enriquecimento de conhecimentos e de adaptação ao mundo em constantes mudanças (DELORS, 2001). Antes de continuarmos as nossas reflexões sobre as concepções de educação contemporânea, compreenda, mais especificamente, a origem e o significado da noção de competências. Segundo Araújo (2003, p. 2-3): a competência já era utilizada na Idade Média pela linguagem jurídica: os juristas designavam tribunais “competentes” para um determinado tipo de julgamento a pessoas ou instituições “com competência” para realizar certos atos juridicamente válidos (ISAMBERT-JAMATI, 1997, in: ARAÚJO, 2003). Ao longo dos anos, o conceito de competência foi sendo vinculado, de forma mais geral, a uma capacidade reconhecida de ação ou de expressão sobre determinados assuntos. Ainda hoje, considerando o uso popular do conceito, reconhecer uma pessoa com competência é atribuir-lhe um domínio suficiente em uma determinada área, de tal forma que essa pessoa saiba: identificar aspectos pertinentes ou disfunções ligadas a diversas situações próprias dessa área de domínio; decidir a melhor maneira de intervir para obter bons resultados com eficácia e economia de meios; utilizar técnicas e métodos definidos; modificar e combinar vários esquemas (lógicos, sensoriais, comportamentais etc.), ajustando- os em função do uso requerido a cada situação (ISAMBERT-JAMATI, idem). Agora que já conhecemos a origem e o significado da noção de competência, reflita sobre a seguinte questão: Em quais ações você se considera mais competente no campo profissional? Continuando as nossas reflexões acerca das mudanças na atualidade, sobre saberes e saber-fazer dentro da concepção pós-crítica, é importante recorrer ao Relatório de Delors1, em que foram discutidos e definidos os quatro pilares da educação. 1 Relatório elaborado na ConferênciaMundial de Educação para o Século XXI, ocorrida em Jomtien, na Tailândia, em 1990, coordenada por Jacques Delors (2001) e entregue à Unesco – Organização das Nações Unidas, para a Educação, a Ciência e a Cultura. Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 15 Concepções da Educação no Mundo Contemporâneo Unidade I A proposta dos membros dos países signatários (países que assinaram o relatório) que participaram da Comissão Mundial sobre Educação foi a de enfrentar os desafios para o século XXI e indicar novos objetivos direcionados à educação. A Comissão propôs, mais especificamente, disponibilizar uma nova concepção de maneira ampliada sobre a educação; “devia fazer com que todos pudessem descobrir, reanimar e fortalecer o seu potencial criativo – revelar o tesouro escondido em cada um de nós” (DELORS, op. cit., p.90). Desse modo, a visão de educação ultrapassaria o sentido puramente instrumental e chegaria à sua plenitude ao desenvolver a realização pessoal do indivíduo. Ao compilarem os resultados das propostas de novos objetivos para a educação, a Comissão compreendeu que a educação deve estar organizada em quatro aprendizagens fundamentais, denominadas os quatro pilares da educação: aprender a conhecer – adquirir os instrumentos da compreensão; aprender a fazer – agir sobre o meio envolvente; aprender a viver junto – participar e cooperar com os outros em todas as atividades humanas; aprender a ser – integrar as três precedentes. Considerando a concepção de aprender a conhecer, primeiro pilar proposto, a aprendizagem do conhecimento é contínua, multifacetada e inacabada, visto que pode ser enriquecida à medida que interagimos com o mundo que nos cerca. A Comissão defende a concepção de que esse mundo é compreendido a partir do aumento de saberes que ampliam o nosso campo de conhecimento. Com isso, possibilita-se o desenvolvimento da capacidade de discernir decorrente da autonomia para visualizar ambientes sob diferenciados pontos de vista, bem como o despertar da curiosidade intelectual, entre outros aspectos que permitam ao indivíduo compreender o real. Em sentido mais amplo, aprender a conhecer pode significar aprender a aprender, de modo a exercitar a atenção, a memória e o pensamento. A aprendizagem direcionada para esse foco está relacionada aos processos cognitivos por excelência. Ao despertar no aprendiz esse processo, pode-se desenvolver, também, a vontade de aprender, de modo a querer sempre saber mais e melhor. Para tanto, os educadores deverão ser competentes e sensíveis às necessidades, às dificuldades e à diversidade dos aprendizes, apresentando metodologias que proporcionem o desejo de conhecer, a capacidade de aprender a aprender, respeitando as estratégias, os ritmos e os estilos de aprendizagem de cada educando e, ainda, de construir as suas próprias opiniões e seu pensamento crítico. Um outro aspecto importante proposto pela Comissão para aprender a conhecer se refere ao desenvolvimento da pesquisa científica como fonte de conhecimento. A combinação dos dois métodos científicos antagônicos – dedutivo e indutivo – aplicados aos processos relacionados à aprendizagem ao longo da vida pode ser pertinente ao conhecimento na medida em que se observa, na maior parte das vezes, que ambos são necessários à organização do pensamento. Ao iniciarmos o estudo do segundo pilar da educação, o aprender a fazer, cabe uma reflexão: O “aprender a conhecer” pode estar dissociado do “aprender a fazer”? Figura 2 Disponível em: < http://bp3.blogger.com/_mmP80g0QO-U/R1KAnPYXk7I/AAAAAAAACA0/O6H-g_p6mmI/s400/MAFA.bmp> Fu nd am en to s da E du ca çã o Br as ile ira 16 Concepções da Educação no Mundo Contemporâneo Unidade I É importante refletir sobre a questão apresentada e elaborar uma síntese pessoal a esse respeito. Pense em um profissional de educação que irá mediar saberes sobre determinado assunto e que não tenha conhecimento teórico que fundamente a sua ação docente. Imagine como seria essa aprendizagem. Partindo do pressuposto de que o aprender a fazer está intimamente ligado ao aprender a conhecer, vamos retornar ao relatório elaborado pela Comissão Mundial de Educação e identificar qual foi a linha de pensamento que fundamentou tal pilar. A referida Comissão menciona, no relatório, “o caso das economias industriais onde domina o trabalho assalariado do das outras economias onde domina, ainda em grande escala, o trabalho independente ou informal” (Ibid, 2001, p.93). A Revolução Industrial do século XX substituiu o trabalho humano por máquinas e provocou a necessidade de se desenvolver tarefas repetitivas para atuar nas fábricas. Entretanto, aprender a fazer não pode ser mais direcionado para práticas rotineiras que impossibilitem as pessoas de refletir sobre a sua ação. As mudanças no campo profissional decorrentes de progresso técnico e tecnológico modificam as exigências de qualificação, em todos os níveis, pela busca do compromisso pessoal do trabalhador. Para atender a essas exigências, esse profissional deve ter competências “que se apresentam como uma espécie de coquetel individual, combinando a qualificação, em sentido estrito, adquirida na formação técnica e profissional, no comportamento social, na aptidão para o trabalho em equipe, na capacidade de iniciativa, no gosto pelo risco” (Ibid, 2001, p. 94). Agora que você concluiu suas reflexões sobre o segundo pilar da educação, o aprender a fazer, pense um pouco sobre a seguinte questão: Como contribuir para “aprender a viver junto” com as outras pessoas? Figura 3 Disponível em: <http://bp3.blogger.com/_mmP80g0QO-U/R1KAnPYXk7I/AAAAAAAACA0/O6H-g_p6mmI/s400/MAFA.bmp> Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 17 Concepções da Educação no Mundo Contemporâneo Unidade I Ao refletir sobre a questão posta, torna-se fundamental pensar em como o ensino e a aprendizagem influenciam no terceiro pilar, aprender a viver juntos ou a conviver. A Comissão Mundial de Educação destacou que na história da humanidade sempre houve conflitos violentos, mais fortalecidos na atualidade, em virtude do potencial de destruição evidenciado nos séculos XX e XXI. As tentativas de ensinar a não violência nos espaços educativos foram consideradas uma maneira positiva de se lutar contra preconceitos que geram conflitos. Entretanto, do ponto de vista macro, as atividades econômicas desenvolvidas no interior de cada país, caracterizadas pelo clima de concorrência, reforçam a competição e, consequentemente, o sucesso individual, bem como as desigualdades sociais, as quais “divide nações do mundo e exarceba as rivalidades históricas”. O que fazer para melhorar a situação? (Ibidem, 2001, p. 97): Parece, pois, que a educação deve utilizar duas vias complementares. Num primeiro nível, a descoberta progressiva do outro. Num segundo nível, e ao longo de toda a vida, a participação em projetos comuns que para ser um método eficaz deve evitar ou resolver conflitos latentes. Nessa perspectiva, a educação deve aproveitar todas as possibilidades para que a aprendizagem ocorra a partir das descobertas de si com e para com o outro, iniciando pela família, perpassando pela escola, pela comunidade e em espaços educativos, de modo que crianças, adolescentes, adultos e pessoas da terceira idade desenvolvam atitudes de empatia, especialmente entre as pessoas com as quais convive, o que contribuirá, sobremaneira, para nenhuma “comportamentos sociais ao longo de toda a vida” (DELORS, 2001, p. 98). Portanto, quando tende a atingir objetivos comuns, o trabalho em conjunto ameniza as diferenças, podendo até desaparecer em alguns casos. O terceiro pilar reforça o propósito de aprender a conviver como forma de minimizar conflitos no processo de aprendizagem e na convivência com os outros. Ao refletir sobrea afirmativa anterior, levantamos o seguinte questionamento: Antes de aprender a conviver não temos de aprender a ser? Figura 4 Disponível em: <http://bp3.blogger.com/_mmP80g0QO-U/R1KAnPYXk7I/AAAAAAAACA0/O6H-g_p6mmI/s400/MAFA.bmp> Ao iniciar as discussões na Conferência Mundial de Educação, a Comissão de países signatários foi contundente no sentido de reafirmar que a “educação deve contribuir para o desenvolvimento total da pessoa – espírito e corpo, inteligência, sensibilidade, sentido estético, responsabilidade pessoal, espiritualidade” (Ibid 2001, p. 99). Fu nd am en to s da E du ca çã o Br as ile ira 18 Concepções da Educação no Mundo Contemporâneo Unidade I Os membros participantes da Conferência consideram que todo o ser humano deve ser preparado, desde a juventude, para o desenvolvimento de pensamentos autônomos e críticos, para a formulação de juízos de valor e, assim, tomar decisões nas diferenciadas situações do cotidiano. Mencionaram como preocupação para este século, a necessidade de fornecer às pessoas forças e referências intelectuais de modo a compreenderem e comportarem-se no mundo que os cerca como atores responsáveis e justos. E, ainda, que o ser deve ter “liberdade de pensamento, discernimento, sentimento e imaginação de que necessitam para desenvolver os seus talentos e permanecerem, tanto quanto possível, donos do seu próprio destino” (Ibid, 2001, p. 100). Desse modo, a Comissão postula: O desenvolvimento tem por objeto a realização completa do homem, em toda a sua riqueza e na complexidade das suas expressões e dos seus compromissos: indivíduo, membro de uma família e de uma coletividade, cidadão, produto, inventor de técnicas e criador de sonhos (Ibid, 2001, p.101). Na perspectiva dos quatro pilares da educação, a completude do ser humano ao longo do ciclo de vida se apóia em um processo dialético que parte do conhecimento de si e, desse modo, atinge a relação com o outro a partir de uma construção social interativa. Portanto, o desenvolvimento se dá em todo momento e em todos os lugares, de maneira multifuncional, complementar e multifacetada. Pistas e recomendações: • A Educação ao longo de toda a vida baseia-se em quatro pilares: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos, aprender a ser. • Aprender a conhecer, combinando uma cultura geral, suficientemente vasta, com a possibilidade de trabalhar em profundidade um pequeno número de matérias. O que também significa: aprender a aprender, para beneficiar-se das oportunidades oferecidas pela educação ao longo de toda a vida. • Aprender a fazer, a fim de adquirir, não somente uma qualificação profissional mas, de uma maneira mais ampla, competências que tornem a pessoa apta a enfrentar numerosas situações e a trabalhar em equipe. Mas, também, aprender a fazer, no âmbito das diversas experiências sociais ou de trabalhos que se oferecem às pessoas, quer espontaneamente, fruto do contexto local ou nacional, quer formalmente, graças ao desenvolvimento do ensino alternado com o trabalho. • Aprender a viver juntos desenvolve a compreensão do outro e a percepção das interdependências – realizar projetos comuns e preparar-se para gerir conflitos – no respeito pelos valores do pluralismo, da compreensão mútua e da paz. • Aprender a ser, para melhor desenvolver a sua personalidade, é estar à altura de agir com cada vez maior capacidade de autonomia, discernimento e responsabilidade pessoal. Para isso, não negligenciar, na educação, nenhuma das potencialidades de cada indivíduo: memória, raciocínio, sentido estético, capacidades físicas, aptidão para comunicar-se. • Numa altura em que os sistemas educativos formais tendem a privilegiar o acesso ao conhecimento, em detrimento de outras formas de aprendizagem, importa conceber a educação como um todo. Essa perspectiva deve, no futuro, inspirar e orientar as reformas educativas, tanto em nível da elaboração de programas quanto na definição de novas políticas pedagógicas. Fonte: Delors (2001, p. 101-102). Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 19 Concepções da Educação no Mundo Contemporâneo Unidade I Como vimos, os membros da Comissão pensaram em uma educação que proporcione ao ser humano o desenvolvimento na sua integralidade. Ao longo deste capítulo, você refletiu sobre as questões abordadas nos Quatro Pilares da Educação. Para reforçar seus conhecimentos, faça, atividade a seguir: Embasado nos quatro pilares da educação, elabore uma proposta de trabalho indicando como você poderia direcionar suas ações nas quais atua. A partir da síntese desse exercício, reflita sobre a seguinte questão: Como podemos vivenciar as mudanças na concepção de educação no ambiente escolar? Para entender as mudanças propostas no relatório da Unesco, é importante retornar à história da educação para compreender o ambiente no qual a escola está inserida. A escola surgiu no século XVIII, na Inglaterra, no contexto histórico da Revolução Industrial, dentro da complexidade de um mundo voltado para o trabalho repetitivo. Para minimizar o tempo e aumentar os lucros, foi criado um sistema educacional que reuniu, em um mesmo espaço, massas de estudantes coordenadas por professores. Assim, o aprendizado foi hierarquizado em séries, de modo que todos os estudantes aprendessem as mesmas coisas, ao mesmo tempo, desconsiderando a individualidade e as diferenças dos aprendentes no que se refere aos ritmos, às estratégias e aos estilos de aprendizagem. Essa padronização de conteúdos e metodologias de ensino, com carteiras enfileiradas em lugares predeterminados, ocorria em horários rígidos de início e fim dos momentos de estudo. Será que estamos falando sobre a realidade educacional vivenciada no século XVIII ou no século XXI? Como podemos observar, as mudanças na educação ainda são incipientes considerando que replicamos aquilo que nos parece familiar e o que comumente não nos exige o confronto com novas situações cotidianas. Fu nd am en to s da E du ca çã o Br as ile ira 20 Concepções da Educação no Mundo Contemporâneo Unidade I Antes de continuarmos,faça uma breve reflexão: As concepções de educação se diversificaram ao longo da história da humanidade. Algumas ações dos educadores ainda persistem com o tempo. Entretanto, atualmente, vivenciamos a concepção pós-crítica. Nesse contexto, qual seria objetivo do trabalho docente: a educação ou a instrução? Figura 5 Fonte: <http://images.google.com.br/images?as_st=y&gbv=2&um=1&hl=pt-BR&client=firefox-a&channel=s&rls=org.mozilla%3Apt-BR%3Aofficial&q= %22desenho+animado%22+%22escola+ao+ar+livre%22&btnG=Pesquisar+imagens>. No próximo capítulo, abordaremos a relação educação x instrução com o intuito de refletirmos sobre o trabalho docente e as possibilidades de mudanças no ambiente educativo. Lembre-se de que a proposta dos quatro pilares da educação é decorrente de discussões que buscam ampliar as possibilidades de transformação de um ensino instrucional para uma educação que busque o desenvolvimento integral de seus educandos. Para saber mais sobre os Quatro Pilares da Educação, sugerimos a leitura da obra: DELORS, Jacques (org). Educação: um tesouro a descobrir. 6. ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNESCO, 2001. Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 21 Concepções da Educação no Mundo Contemporâneo Unidade I Capítulo 3 – Educação X Instrução Denise Maria dos Santos Paulinelli Raposo Ao iniciarmos os estudos sobre a relação entre educação e instrução, é fundamental compreender que há diversos conceitos de educação. Isso nos conduz a refletir sobre esse fenômeno de maneira mais abrangente. Nesse sentido, Delors (2001) menciona que a educação não pode ser reduzida ao acúmulo de conhecimentospara o desenvolvimento de projetos individuais e coletivos. Afirma que “... é, antes, necessário estar à altura de aproveitar e explorar, do começo ao fim da vida, todas as ocasiões de atualizar, aprofundar e enriquecer esses primeiros conhecimentos, e de se adaptar a um mundo em mudança.” Você concorda com a afirmativa de Delors? Por quê? Voltemos ao contexto histórico em que foram submetidos os estudos direcionados à produção para atender ao mundo capitalista. Trata-se do período pré-industrial em que o clero era responsável pela educação de pessoas, e que não previa educação escolar para os filhos de trabalhadores. Entretanto, com a expansão do capitalismo, e consequentemente, do comércio e da indústria, tornou-se necessário preparar indivíduos que sustentassem o sistema econômico com mão de obra qualificada. A instrução, naquele contexto, passou ser sinônimo de educação. Demo (1994) ressalta que a habilidade obtida em processos direcionados apenas ao ensino e à aprendizagem mecânica pode ser configurada como uma cópia ou imitação. Acrescenta que os mestres desempenham o papel de executores de planos e projetos elaborados por outrem e, nesse contexto, o aluno é considerado “treinado”, ou seja, trabalhador capaz de realizar tarefas repetitivas com perfeição, visto que utiliza o reflexo condicionado. Contudo, as mudanças que ocorreram na sociedade nos últimos séculos trouxeram uma nova concepção de educação, conforme estudamos nos capítulos 1 e 2, deste caderno. Figura 6 – Reflexo condicionado Gómez (1998) nos ajuda a reforçar a distinção entre instrução e educação quando afirma que a segunda trata de um processo para além da transmissão e da troca de conhecimentos, evidenciadas nas interações que ocorrem no ambiente escolar. Afirma que conteúdos abordados oficialmente nos currículos, comumente, são destinados às avaliações escolares e direcionados à identificação de indicadores de desempenho dos alunos, e que esses conteúdos podem ser rapidamente esquecidos. Embora determinada socialmente, a escola pode contribuir para que o aluno construa sua autonomia como aprendiz e aprenda o sentido da participação, do respeito à diferença, da solidariedade, das normas, dos valores de interação social etc., os quais ultrapassam os muros da escola e são vivenciados ao longo da vida. Existe diferença entre os termos “educar”, “ensinar”, “instruir” e “treinar”? Quais? Justifique. Fu nd am en to s da E du ca çã o Br as ile ira 22 Concepções da Educação no Mundo Contemporâneo Unidade I Para fundamentar a distinção entre educar, ensinar, instruir e treinar recorremos ao dicionário FERREIRA (1989) e encontramos as seguintes definições: a) Educar v.t. e p. Promover a educação de (alguém), ou sua própria educação; instruir (se), educador (o) adj. e sm. (p. 185). b) Ensinar v.t. 1. Ministrar o ensino de; lecionar. 2. Transmitir conhecimento a; instruir. 3. treinar. 4. Castigar. Int. 5. V. Lecionar (2) (p. 199). c) Instruir v.t. 1. Transmitir conhecimento a; ensinar. 2. Adestrar, habilitar. 3. Esclarecer, informar. 4. Adquirir conhecimento (p. 290). d) Treinar v.t. 1. Tornar apto para determinada tarefa ou atividade; adestrar. Int. 2. Exercitar-se para jogos desportivos ou para outros fins. [Var.: trenar] treinamento sm. (p. 508). Ao observar a semântica dessas quatro palavras, consideramos que há entre elas aproximações (quanto aos seus fins) e especificidades (quanto aos seus sentidos). Em uma concepção de formação “do professor como intelectual crítico, profissional reflexivo, pesquisador e elaborador de conhecimentos, participante qualificado na organização e gestão da escola” (LIBÂNEO, 2003, p. 66), entendemos o papel fundamental da formação continuada desse profissional, com vistas a subsidiar a reflexão sobre sua prática docente. É nessa perspectiva que surgiu a Lei de Diretrizes e Bases – LDB, Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, como forma de superar a ruptura entre a formação do professor e a do aluno, focando na adequação de práticas pedagógicas voltadas para a construção de competências e habilidades. Em um sentido mais amplo, a formação continuada de profissionais de educação que atuam em diferenciadas áreas do conhecimento, tais como: Gestão Escolar, Orientação Educacional, Educação Corporativa, Pedagogia Hospitalar, Planejamento Educacional, Educação de Jovens e Adultos, Educação Profissional e Tecnológica, Educação para a Terceira Idade e a Educação Comunitária, também integra a LDB, de modo que suas práticas pedagógicas estejam em consonância com a construção de competências e habilidades. LIBÂNEO, José Carlos. Organização e gestão da escola. Goiânia: Alternativa. 2003. Após os estudos deste capítulo, como você descreveria a distinção entre instrução e educação? Dentro desse contexto de constantes mudanças nas práticas pedagógicas, qual é a função social da escola na educação contemporânea? Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 23 Concepções da Educação no Mundo Contemporâneo Unidade I Capítulo 4 – A Função Social da Escola e dos demais Espaços Educativos no Mundo Contemporâneo Denise Maria dos Santos Paulinelli Raposo A reflexão sobre a função social da escola pode ser iniciada pelo ambiente escolar. Sendo um dos indicadores da qualidade da escola, esse ambiente não deve ser reduzido a um espaço de provimento de informações, mas configurado como agência educativa e cultural. Nessa perspectiva, a educação é um processo de apropriação de cultura “... entendida esta como o conjunto de conhecimentos, valores, crenças, arte, filosofia, ciência, tudo, enfim, que é produzido pelo homem em sua transcendência de natureza e que o constitui como ser histórico” (PARO, 2007, p. 33). Partindo da concepção da função social da escola descrita por Paro (2007), apresentamos uma carta escrita pelo aluno João dos Santos, estudante da 5ª série, solicitando aos dirigentes ajuda para lhe explicar a dicotomia por ele observada entre o aprendizado construído fora do ambiente escolar e os conteúdos abordados em sala de aula. Rio de Janeiro, 14 de novembro de 1995. Sra. Diretora Estudo na 5ª série e sou um aluno médio, nem craque nem lanterninha. Sempre gostei da escola porque conheço muitas pessoas, os professores ajudam a gente, tem merenda e às vezes livro e caderno. Mas de uns tempos pra cá estou com vontade de largar a escola, porque não vou passar de ano outra vez. Conversei com a professora de religião e ela me disse para falar o problema na Secretaria. Não tenho quem me leve e também não sei se é certo falar com a autoridade. Por isso a professora disse pra eu escrever para senhora, que é a Diretora de Ensino, porque ela viu a senhora falando com as Diretoras sobre os alunos que tomam pau na escola. Diretora, eu vou pra escola de manhã e de tarde vou vender cafezinho na Lapa. Entrego o dinheiro à minha mãe e sempre está tudo certo. De noite faço a lição quando tem o livro ou dever no caderno. Os problemas de Matemática não sei entender e nem sei para que servem aquelas expressões tão grandes. Na vida da rua nunca precisei dessa coisa e também nunca vi ninguém fazendo aquilo, nem seu Antônio lá do armazém. Quando vendo o café, faço o raciocínio de cabeça e não erro, mas na escola não sei nada, só tiro 1 ou 2. A professora dá a aula dela lá no quadro ou na carteira dela, mas eu não entendo nada e só tiro nota baixa. A turma toda está do mesmo jeito e todo mundo vai levar pau. A “pro” diz que ela só passa quem sabe; os burros que estudem mais para aprender; diz que com ela é assim. Ela grita, passa o exercício no quadro para a gente copiar, senta na cadeira e fica corrigindo as provas das outras salas e a gente não entende nada. Será que a Secretaria não pode mandar umas aulas a mais para ver se a gente aprende? Ou então será quenão podia a gente passar e no outro ano a gente dava conta da Matemática com a ajuda da secretaria? Diretora, não tem jeito de passar com essa “pro”. Eu não sou inteligente para o ensino dela. E por que eu aprendo a me virar na rua? Não sei se a senhora vai ajudar, mas que “tá” ruim “tá”. Se eu perder de novo, não quero mais saber de escola. Vou me virar na rua, que ensina mais que a escola. João. Fonte: Neubauer (2005, p.16). Fu nd am en to s da E du ca çã o Br as ile ira 24 Concepções da Educação no Mundo Contemporâneo Unidade I Após a leitura da carta de João dos Santos, reflita: A escola prepara a pessoa para a vida? A vida prepara a pessoa para a escola? Sobre a primeira questão, Paro (2007, p. 34) argumenta que em uma sociedade democrática a função social da escola pode ser sintetizada na formação do cidadão, considerando as dimensões: individual e social. A primeira consiste na ação de protagonista de sua própria história e a segunda compreende a “(...) necessidade de convivência livre (entendida a liberdade como construção histórica) entre os sujeitos individuais e coletivos”. Partindo desse pressuposto, entendemos que essas duas dimensões justificam os questionamentos de João, na medida em que não há, por um lado, uma fragmentação entre o saber e o saber-fazer, e sim uma complementaridade. Por outro lado, a dissociação desses saberes desfavorece o entendimento da história de vida do ser humano. É importante ressaltar que não se trata de desconsiderar os conteúdos das disciplinas oferecidas nas matrizes curriculares, e sim de superá-los de maneira a alcançar as metas de uma educação integral e integrada, para além de um ensino conteudista. Ao considerar os conhecimentos construídos ao longo da vida, a educação realmente possibilitará ao aluno ser sujeito de sua aprendizagem. Nesse ponto, retomamos a questão proposta: A escola prepara para a vida? Como? Para tentar respondê-la, citamos uma pesquisa efetuada por Paro (2007, p.36) em uma determinada escola. Entre os resultados oriundos dos participantes da investigação, destacamos dois trechos das entrevistas realizadas, respectivamente, com uma professora e uma coordenadora pedagógica: a) Professora: Eu acho que em alguns momentos ela tá preparando muito, muito bem, mas em alguns não [...]. (...) Acho que o que seria dado como preparo seria a postura mesmo, como a pessoa saber se comportar em determinados locais, que às vezes ela não sabe se comportar. b) Coordenadora Pedagógica: Eu acho que é desenvolver habilidades, conceitos e conhecimentos pra que ele possa, sozinho, se defender, no trabalho, no mundo do trabalho, no mundo, nas relações, em qualquer circunstância. Eu acho que a escola tem o papel fundamental de formação desse sujeito. Quanto a formar para o vestibular, vestibular, aqui, é impressionante, mas não se tem mais nem essa perspectiva, porque o professor desacredita que ele chegue lá. Então, nem tem mais essa preocupação. A partir dos trechos destacados, constatamos que duas docentes de Educação Básica – uma professora e uma representante da coordenação escolar – que trabalham diretamente com alunos, não acreditam em suas potencialidades. E você? Como pode contribuir para que essa cultura seja transformada na escola? Descreva, em, aproximadamente, 20 linhas, uma experiência pedagógica pessoal, ou que você conheça que tenha proporcionado mudanças do ponto de vista da função de um espaço educativo. Pontue com clareza o contexto em que foi desenvolvida a atividade, as ações planejadas e o que realmente foi realizado, bem como os resultados e as suas considerações a respeito. Encaminhe para o e-mail do tutor da disciplina. Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 25 Concepções da Educação no Mundo Contemporâneo Unidade I Agora que já socializamos experiências sobre a função social da escola, vamos à segunda questão anteriormente proposta: A vida prepara a pessoa para a escola? De acordo com a carta de João dos Santos, observamos que a vida tem lhe proporcionado aprendizagens desconsideradas ou mal-articuladas no currículo escolar. Por que isso ainda ocorre, apesar de a legislação educacional e de as orientações curriculares preconizarem o contrário? A LDB de 1996, em seu art. 3º, por exemplo, respalda João dos Santos quando prevê em seus incisos X – valorização da experiência extra-escolar; e XI – vinculação entre a educação, a escola, o trabalho e as práticas sociais (BRZEZINSKI, 1997). Como podemos mudar essa realidade? Até o momento refletimos sobre questionamentos e possibilidades para mudar o rumo da realidade das escolas brasileiras. Como você já deve ter ouvido falar, essa realidade tem sido alvo de diversas avaliações visando compreender o porquê do elevado desempenho de algumas escolas em provas institucionais, como a Prova Brasil e o Enem (Inep/MEC). Esses estudos contribuíram para a formação do Índice de Desenvolvimento de Educação Básica – IDEB, proposto pelo Ministério de Educação – MEC. O IDEB é um indicador de qualidade educacional que combina informações de desempenho em exames padronizados (Prova Brasil ou Saeb) – obtido pelos estudantes ao final das etapas de ensino (4ª e 8ª séries do Ensino Fundamental e 3ª do Ensino Médio) – com informações sobre rendimento escolar (aprovação). Fonte: http://ideb.inep.gov.br/Files/Site/Download/Nota_Tecnica_IDEB.pdf Estudos e pesquisas que definiram o IDEB indicam que estudantes reprovados na Educação Básica contribuem para o abandono da escola antes da completude das séries regulares. Outro fator que chama a atenção nesses estudos se refere às pontuações insuficientes dos alunos em exames padronizados, tais como a Prova Brasil e o Enem. Além desses dois fatores, a distorção idade-série também é considerada relevante, em virtude das repetências e do ingresso fora da idade adequada. Assim, a melhoria desses resultados implica, necessariamente, em acesso e permanência de crianças e adolescentes no ambiente escolar sem desperdício de tempo, repetência, abandono e com qualidade. Apesar de o acesso à escola não ser considerado, hoje, um problema, as taxas de repetência, abandono e a baixa proficiência dos alunos ainda continuam elevadas. Nesse contexto, foi desenvolvido o IDEB, indicador que sistematiza informações relacionadas ao desempenho de exames padronizados que disponibilizam o rendimento escolar (taxa média de aprovação dos estudantes na etapa de ensino). Mas... o que é um indicador? Vamos dar uma pausa para compreender o que significa Indicador. Segundo Januzzi (2004, p. 15) “... um Indicador Social é uma medida, em geral quantitativa, dotada de significado social substantivo, usada para substituir, quantificar ou operacionalizar um conceito social abstrato, de interesse teórico (para pesquisa acadêmica) ou programático (para formulação de políticas).” Fu nd am en to s da E du ca çã o Br as ile ira 26 Concepções da Educação no Mundo Contemporâneo Unidade I Agora que você já conhece o IDEB, vamos retornar ao seu relato de experiência causadora de mudanças na escola em que você participa. Procure no site www.mec.gov.br os resultados do Ideb da escola relatada. Analise os resultados encontrados, comparando-os com a sua experiência na referida escola. O conjunto de tabelas que constituem o IDEB traz informações sobre população, Produto Interno Bruto (PIB), Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), Índice de Desenvolvimento da Infância (IDI) e taxa de analfabetismo. Há, ainda, o número de escolas e matrículas em cada nível de ensino da Educação Básica oferecida no município, além do número de instituições de Ensino Superior existentes no local. Especificamente sobre as redes de ensino, são apresentadas as taxas de escolarização nos Ensino Fundamentale Médio, resultados da Prova Brasil e do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). É possível ainda saber se na rede municipal ou estadual há escolas localizadas em áreas rurais, assentamentos, áreas remanescentes de quilombos e comunidades indígenas. Constam ali também, as taxas de aprovação, reprovação e abandono por série, distorção idade-série e distorção idade-conclusão, número de matrículas em Programas de Correção de Fluxo, média de alunos por turma, média diária de horas/aula e a relação matrícula/função docente. Os indicadores, cuja fonte dos dados não é indicada nas tabelas, foram gerados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP. Fonte: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=88 66&Itemid=&sistemas=1>. Você já parou para pensar sobre as reprovações existentes nas escolas? Pensando bem, é bastante preocupante, por um lado, constatar a existência de um sistema educacional que reprova, sistematicamente, seus estudantes e, consequentemente, provoca o abandono dos estudos pelos alunos ao longo dos anos. Por outro lado, também não é desejável que um aluno conclua seus estudos e não atinja um índice de proficiência satisfatório. Nesse sentido, como fazer para que todos tenham acesso e possam permanecer na escola com oferta de um ensino de qualidade? Ao longo da história da educação, observa-se que a escola tem sido pensada como “um lugar capaz de solucionar alguns problemas da sociedade” (OLIVEIRA, 2003, p.73). Do ponto de vista das escolas públicas republicanas da França, da Europa e dos Estados Unidos – todas muito semelhantes, vinculadas ao pensamento liberal – cabia-lhes o poder de resolver os problemas da sociedade e de fazer circular as informações. Entretanto, a função educativa da instituição escolar não pode ser reduzida ao provimento de informações aos alunos com o intuito de prepará-los para o próximo período escolar ou mesmo para o mercado de trabalho. Segundo Paro (2007, p.39), “As chamadas ‘novas’ funções da escola são necessárias e importantes, não apenas porque os tempos mudaram, mas porque se supõe que a educação é formação do cidadão em sua integralidade, não apenas na dotação de informações.” Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 27 Concepções da Educação no Mundo Contemporâneo Unidade I Você sabia que nos 5.564 municípios do Brasil, no ano de 2006 (Inep, 2006), foram matriculados 55.942.047 alunos na Educação Básica, sendo 33.282.663 nas séries iniciais do Ensino Fundamental, 14.944.063 de 5ª a 8ª e 8.906.820 no Ensino Médio? E que a escola relatada por você integra um total aproximado de 235.000 unidades de ensino do país? Fonte: http://www.inep.gov.br/censo/basica/dataescolabrasil/ Leia o trecho, a seguir, acerca da função da escola na atualidade. Ao longo da história, a escola se constituiu no locus privilegiado de acesso aos bens culturais produzidos pela humanidade, ou seja, de informação dos sujeitos; enquanto isso, outros espaços sociais e comunitários (como a ‘família ou a vizinhança’) detinham o papel de formação desses mesmos sujeitos. Atualmente, os processos de urbanização parecem ter outorgado à escola, cada vez mais, a função de formação integral dos sujeitos, o que a transformou em espaço social privilegiado de convivência e em ponto de referência fundamental para a constituição de identidades. Assim, a escola foi se constituindo em local privilegiado de convivência de crianças e jovens em razão da transformação/ restrição do espaço urbano, a despeito do nível de consciência dos dirigentes e professores das escolas. Isso ocorria no passado? Claro que sim, mas não com a mesma intensidade. Pode-se dizer que, nas regiões metropolitanas densamente povoadas, a escola se constitui, hoje, no único espaço social de convivência de crianças desde os seis/sete anos de idade (BUENO, 2001, p. 105). Para saber mais sobre a função social da escola, sugerimos a leitura do seguinte livro: BUENO, José Geraldo Silveira. Função social da escola e organização do trabalho pedagógico. Educar em Revista. Curitiba, n. 17, p. 101-110, 2001. Agora que refletimos sobre a função social da escola, que integra diversificadas funções, tais como Gestor Escolar, Coordenador Pedagógico, Supervisor Escolar, Professor, Orientador Educacional, Psicopedagogo, reflita sobre a função do educador em diferenciados espaços, no mundo contemporâneo, embasada na proposta da LDBEN – 9.394/96, garantida em seu Art. 64: “A formação de profissionais de educação para administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a Educação Básica, será feita em cursos de graduação em Pedagogia ou em Fu nd am en to s da E du ca çã o Br as ile ira 28 Concepções da Educação no Mundo Contemporâneo Unidade I nível de pós-graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional”. Nesse contexto, podemos pensar na função do Educador Comunitário, do Pedagogo Hospitalar, do profissional, que trabalha com a Educação de Jovens e Adultos, a Educação Profissional e Tecnológica, a Educação Corporativa, a Educação para a Terceira Idade e que elabora Planejamentos Educacionais. Como o Pedagogo poderá transformar outros ambientes que não o da escola, em espaços educativos? A LDB propõe que crianças e jovens disponham de oportunidades possíveis para que os processos de desenvolvimento e aprendizagem não sejam suspensos. As ações educativas propostas por meio de processos intencionais estruturados e sistematizados, em ambientes que se tornem espaços de aprendizagem e que atendam aos preceitos legais, são consideradas adequadas em virtude de as possibilidades suprirem as necessidades do educando. Diante da possibilidade de uma educação que vai além dos muros da escola, podemos mencionar o campo de atuação de profissionais que trabalham com educação comunitária, os quais se envolvem na troca de saberes entre a escola e a comunidade. Implicam, também, protagonismos de todos os envolvidos, no reconhecimento do valor de cada um e na capacidade que cada um tem de ajudar no processo de crescimento e desenvolvimento dos membros da comunidade. Atendendo ainda a LDB, o profissional especializado em Pedagogia Hospitalar, competente e habilitado para reconhecer as especificidades, complexidades e singularidades dessa realidade, é capaz de reorganizar o ambiente hospitalar e propiciar assistência pedagógica à pessoa internada, bem como fortalecer a política de inclusão de alunos e enfatizar a visão humanística nessa modalidade de ensino. Além dos educadores comunitários e pedagogos hospitalares, em uma perspectiva mais abrangente, para atender aos obstáculos que pessoas adultas experienciam por não terem acesso a um sistema de educação que os acolha, de forma a inseri-los dignamente na sociedade em que vivem, o profissional especializado na Educação de Jovens e Adultos também atua em diferentes espaços educativos. É nesse contexto que esses profissionais, que atendem a esses grupos tradicionalmente excluídos de seus direitos, favorecem a superação dessa realidade. Nesse sentido, a inclusão educacional acontece a partir do entendimento de que o ato educativo torna-se responsabilidade do Estado e das pessoas especializadas para realizar ações, de acordo com o local no qual o indivíduo está inserido, por meio de uma relação dialógica e comprometida com o desenvolvimento integral do ser humano. Mas, e a educação profissional, também está relacionada ao contexto de inclusão educacional? No que se refere à educação profissional, esse processo é ainda mais complexo porque exige que se passe de uma realidade dada como conhecida e certa para o desconhecido, para o imprevisível. Pressupõe, portanto, a substituição da concepção de educação referenciadacomo produto acabado e finito por um processo contínuo, orientado por outros paradigmas. Nesse contexto, a educação profissional não precisa se colocar contra a abertura mundial da produção e dos intercâmbios, mas deve contribuir para a existência de uma nova forma de mundialização que não esmague o trabalhador, os interesses locais, as minorias, o meio ambiente, em proveito apenas de quem já detém a riqueza, o poder, a influência. Nessa perspectiva, é fundamental que os profissionais dessa área estejam, e portanto sejam, preparados para assumir o importante papel que lhes cabe, cumprindo a sua missão de promotores das mudanças que se fazem necessárias e buscando a sua autorrealização. Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 29 Concepções da Educação no Mundo Contemporâneo Unidade I Esse novo contexto tecnológico redefine também as características do trabalho. Na era do conhecimento, o trabalhador deve ser um indivíduo criativo, estar preparado para tomar decisões, agir e se adaptar rapidamente às mudanças na sociedade, saber aprender de forma não convencional, evidenciar capacidade para transmitir seus conhecimentos e trabalhar cooperativamente para gerar soluções inovadoras. Esse cenário organizacional, que desenvolve métodos de treinamento e aperfeiçoamento de pessoas em empresas, com ênfase no desenvolvimento de qualificações isoladas e restritas às salas de aulas, vem sendo complementado ou substituído pelo desenvolvimento e aplicação de programas de educação continuada, com profissionais especializados em Pedagogia Coorporativa, focados nas áreas de negócios das empresas e alinhados aos seus objetivos e estratégias, com a finalidade de prover as organizações dos recursos humanos capacitados para acompanharem o ritmo das mudanças que ocorrem no ambiente da organização. Outro campo de atuação do educador está relacionado ao atendimento da população idosa no Brasil, que se coloca como um dos grandes desafios que as sociedades mais industrializadas. Entre a dinâmica demográfica e as políticas sociais decorrem transformações no interior das estruturas familiares. As tendências demográficas da população idosa brasileira, a legislação que ampara essa população e as relações entre velhice, sociedade e família, necessitam ser conhecidas e compreendidas de modo a atender à demanda emergente de profissionais que atuam na área do desenvolvimento da idade adulta e do envelhecimento, de modo a elaborar projetos e práticas pedagógicas direcionadas para a terceira idade. No âmbito de planejamentos de políticas públicas, que propiciem uma organização que atenda a diversificação do contexto educativo, emerge a necessidade de profissionais da educação, administradores e engajados nessa proposta de mudança, nas esferas públicas federal, estadual, municipal e privada, de modo que construam conhecimentos acerca de políticas públicas em educação, partindo da relação e inter-relação de estado, sociedade e educação, com olhar na legislação educacional e organização de ensino, nos fundamentos e níveis de planejamentos educacionais, bem como na avaliação de políticas públicas, de modo que ampliem sua visão acerca do contexto atual da educação brasileira e possam atuar no âmbito de suas localidades de origem. Concluímos a primeira Unidade recorrendo aos estudos de Libâneo (2006, p. 850-851), que discute a questão da formação do pedagogo ao mencionar a abrangência existente no campo conceitual e prático de sua atuação. Esse autor argumenta, que são reconhecidas variedades de práticas sociais e educativas e, portanto, “é pedagoga toda pessoa que lida com algum tipo de prática educativa relacionada com o mundo dos saberes e modos de ação, não restritos à escola”. Nesse contexto de discussão de atuação do pedagogo, Libâneo afirma que a formação de educadores extrapola a dimensão da educação formal e “pode desdobrar-se em múltiplas especializações profissionais, sendo a docência uma entre elas”. É essencial que você envie suas atividades para o e-mail do tutor. Lembre-se: todas as escolas brasileiras estão respaldadas pela legislação educacional vigente. Para cada nível e modalidade de ensino há leis que garantem o acesso, a permanência, a qualidade e o controle do desempenho desses ambientes educativos para a população. Vamos, então, aprofundar os estudos sobre essas leis? Fu nd am en to s da E du ca çã o Br as ile ira 30 Concepções da Educação no Mundo Contemporâneo Unidade I Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 31 Fundamentos Legais da Educação Brasileira Unidade II Fundamentos Legais da Educação Brasileira Unidade II lias Alexandre Quais são as leis que podem me ajudar a fazer um trabalho pedagógico de melhor qualidade? Iniciaremos os estudos relacionados às leis que regem a educação brasileira de modo a compreender a importância de cada uma para a prática profissional. Para tanto, contemplamos nos capítulos desta Unidade o estudo da seguinte legislação: a Constituição de 1988, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB nº 9.394/96, o Plano Nacional de Educação – PNE, os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs e o Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE. O Brasil é uma República Federativa, um Estado Democrático de Direito, tendo como característica principal, segundo o parágrafo único do art. 1º da Constituição de 1988, o fato de que “Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente nos termos desta constituição”. Isso significa que os direitos, os deveres e a forma do exercício da cidadania são determinados pelo próprio povo e materializados por meio de leis. Como sabemos, o exercício desses elementos se dá na relação estabelecida pelo tipo de poder ao qual o povo esteja subordinado. Nesse contexto, a legislação educacional estabelece os princípios e os objetivos que a nação deseja alcançar com a educação desenvolvida no país, bem como determina quem são os responsáveis por esse trabalho. As normas e os preceitos legais relativos à educação visam garantir a oferta de ensino público à população, além de estabelecer um padrão mínimo de qualidade para o sistema educacional brasileiro. Garantem, ainda, que os governantes invistam na educação, com percentuais predefinidos quanto aos recursos financeiros (oriundos de receitas públicas das três esferas: União, Estados e Municípios), evitando a descontinuidade das ações educativas. Embora o processo educativo ocorra de muitas formas e em diversos espaços, a educação formal, por ser direito de todos e dever do Estado, precisa ser regulada legalmente. Entretanto, nem sempre a educação mereceu esse cuidado no arcabouço jurídico nacional. Foi no início do século passado, com o surgimento de pensadores e educadores preocupados com o progresso do país, que a educação ganhou importância nas leis brasileiras. Hoje temos uma gama considerável de leis relacionadas à educação e que impactam diretamente o dia a dia de nossas escolas. Portanto, é de fundamental importância que o educador – comprometido com uma escola cidadã, democrática e capaz de cooperar com o desenvolvimento das pessoas, em particular, e do país, em geral – conheça a legislação educacional, a fim de exercer de maneira consciente seu trabalho pedagógico. Mas, como são elaboradas as leis? Fu nd am en to s da E du ca çã o Br as ile ira 32 Fundamentos Legais da Educação Brasileira Unidade II Inicialmente, faz-se necessário lembrar que existem diversos tipos de leis, com objetivos e formas de produção diferenciadas, as quais são estabelecidas por meio de uma ordem hierárquica e de importância. Assim, uma norma hierarquicamente inferior não deve entrar em conflito com a que lhe é superior. Observe abaixo a hierarquia das leis: CONSTITUIÇÃOFEDERAL EMENDAS CONSTITUCIONAIS LEIS COMPLEMENTARES LEIS ORDINÁRIAS LEIS DELEGADAS MEDIDAS PROVISÓRIAS DECRETOS LEGISLATIVOS RESOLUÇÕES Essa relação hierárquica é relativa ao ordenamento jurídico federal. No entanto, cada estado, o Distrito Federal e os municípios também possuem legislação própria, que deve seguir a mesma ordem (à exceção da medida provisória, por ser privativa do Presidente da República) e sempre estará subordinada à lei máxima do País, a Constituição Federal. No caso dos municípios, suas leis também estarão subordinadas à legislação estadual. Além disso, cabe lembrar que cada um dos entes federativos (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) tem competências legislativas específicas, outorgadas pela Constituição. Existem, também, certos tipos de leis que só podem ser criadas por solicitação do poder legislativo; outras, pela iniciativa exclusiva de representante do poder executivo; outras, ainda, podem ser criadas por iniciativa da população. Você sabia que um projeto de lei surge para atender a uma necessidade social além de atender aos princípios estabelecidos no texto constitucional? Por exemplo: as cotas para deficientes físicos em concursos públicos atendem ao interesse específico dos deficientes físicos, já a LDB afeta a toda a sociedade brasileira e tem determinação constitucional. Desse modo, um parlamentar, ouvindo especialistas no assunto, ou por demanda de grupos sociais, apresenta um projeto de lei à casa legislativa, onde se dá o rito do processo legislativo determinado em lei. O presidente, ou um governador ou um prefeito – quando a iniciativa for de sua competência – também pode elaborar um projeto de lei e encaminhar à casa legislativa correspondente. O processo culmina com a publicação da lei no Diário Oficial, quando assume força jurídica. Para saber mais sobre o tema, consulte os sites indicados a seguir: www.interlegis.gov.br www.senado.gov.br Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 33 Fundamentos Legais da Educação Brasileira Unidade II Capítulo 5 – A Constituição Federal Elias Alexandre Como vimos, a Constituição Federal, promulgada em 1988, foi o marco do retorno da democracia política no País. Fruto de um intenso trabalho político, deflagrado com a abertura política e o fim do período do regime militar, trouxe esperança e expectativa para os diversos movimentos sociais, entre eles, os de luta pela democratização da educação e por uma escola de qualidade. Como parte do capítulo III do Título VIII, referente à Ordem Social no Brasil, os artigos 205 ao 214 são dedicados exclusivamente à educação. O texto constitucional foi resultado de intensos debates, pesquisas e negociações políticas entre diversos grupos sociais, muitos com interesses conflitantes, como os defensores da escola pública e os do ensino privado, os de escolas laicas e os de ensino de caráter confessional e/ou religioso. O resultado foi um texto conciso e preciso em determinados temas e vago e impreciso em outros, deixando por conta da legislação infraconstitucional a resolução dos conflitos pós-constituinte. Mas... e as Constituições elaboradas ao longo da história do Brasil? Em relação às constituições anteriores, a Carta atual avançou bastante na garantia de direitos educacionais, normalizando áreas até então esquecidas e sem respaldo legal suficiente para garantir uma educação de qualidade. Exemplo disso foi a definição clara da vinculação percentual mínima na receita de impostos dos entes federativos destinados à manutenção e ao desenvolvimento da educação. Desde a promulgação, o texto constitucional já sofreu várias modificações por meio de emendas constitucionais. O objetivo foi adequar a norma básica legal do país às mudanças ocorridas na sociedade, além do amadurecimento das relações políticas, trazendo maior clareza para determinados assuntos. Isso é um fato importante, pois mostra ser possível modificar a norma legal quando esta não for mais condizente com a realidade. A seguir, um resumo do texto constitucional: Artigo Assunto Especificidade 205 Conceituação, princípios e objetivos da educação nacional. Mantém o texto integral e é sempre mencionado nas leis infraconstitucionais. 206 Trata dos princípios para ministrar o ensino, entendida como educação escolar. Composto de 07 incisos. Sofreu alteração pela EC 19/1998. O texto original foi repetido e expandido pela LDB. 207 Trata da natureza, função e características das universidades. Possui dois parágrafos. Foi alterado pela EC 11/1996, que acrescentou os dois parágrafos. 208 Especifica os deveres do Estado para com a educação. É composto de 07 incisos e 03 parágrafos Sofreu alteração pela EC 14/1996. Teve seu texto expandido e explicitado pela LDB. Fu nd am en to s da E du ca çã o Br as ile ira 34 Fundamentos Legais da Educação Brasileira Unidade II Artigo Assunto Especificidade 209 Trata da participação da iniciativa privada na oferta do ensino. Possui 02 incisos. Mantém o texto integral e é sempre mencionado nas leis infraconstitucionais. 210 Estabelece os princípios para a organização curricular do Ensino Fundamental. Possui 02 parágrafos. Mantém o texto integral e é sempre mencionado nas leis infraconstitucionais. 211 Define as competências e institui o regime de colaboração federativa dos sistemas de ensino. Possui 04 parágrafos. Sofreu alteração pela EC 14/1996. Teve seu texto expandido e explicitado pela LDB. 212 Trata dos fundamentos e mecanismos de financiamento para a manutenção e desenvolvimento do ensino. Possui 05 parágrafos. Sofreu alteração pela EC 14/1996. Teve seu texto expandido e explicitado pela LDB. Vários de seus parágrafos foram objetos de leis ordinárias. 213 Trata do financiamento público para o ensino privado. Possui 02 incisos e 02 parágrafos. Mantém o texto integral e é sempre mencionado nas leis infraconstitucionais. 214 Estabelece o Plano Nacional de Educação. Mantém o texto integral. Foi cumprido com a promulgação da Lei nº 10.172/2001. Por fim, cabe ressaltar a inserção no texto constitucional, por meio da Emenda Constitucional nº14/1996, do art. 60 do Ato das Disposições Transitórias, que contém orientações para a criação de um fundo especial de manutenção e desenvolvimento do ensino e valorização do magistério. O texto detalhava alguns aspectos do art. 212 da Constituição. A referida emenda criou o Fundo Nacional para a Manutenção e o Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério – Fundef, instituído pela Lei nº 9.424/1996, com duração até 2006. Previa uma cesta de recursos oriundos de impostos federais, estaduais e municipais para serem aplicados, exclusivamente, na manutenção e no desenvolvimento do Ensino Fundamental e na valorização do magistério. Esse fundo trouxe uma considerável mudança na qualidade do ensino e melhorias nos salários de professores de vários municípios de pequeno porte; entretanto, não contemplou a Educação Infantil e o Ensino Médio. Para atender a Educação Básica do País, a Emenda Constitucional nº 53, de 2006, que criou o Fundo Nacional para a Manutenção e o Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização do Magistério – Fundeb, ampliando o atendimento a toda a educação básica, com expectativas de forte impacto na qualidade dessa etapa educacional do País. Para saber mais sobre o FUNDEB, consulte os sites indicados abaixo: www.interlegis.gov.br www.senado.gov.br www.mec.gov.br/seb www.fnde.gov.br Pó s- Gr ad ua çã o a Di st ân ci a 35 Fundamentos Legais da Educação Brasileira Unidade II Capítulo 6 – A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: a LDB em Foco Maysa Barreto Ornelas A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, de nº 9394/96, de 20 de dezembro
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