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CHOQUE Sérgio Curvelo Jr. Título de especialista em Medicina Intensiva AMIB Título de especialista em Cardiologia SBC Médico nas Unidades de Terapia Intensiva do Hospital Público Municipal e Hospital Unimed Costa do Sol INTRODUÇÃO E DEFINIÇÕES Anormalidade do sistema circulatório que resulta em perfusão orgânica inadequada para suprir às necessidades tissulares de oxigênio e nutrientes. Hipoperfusão tecidual pode estar presente na ausência de hipotensão. Choque seria a associação de hipotensão com anormalidades relacionadas a hipoperfusão tecidual. É uma síndrome e sua causa base deve ser identificada e tratada DÉBITO CARDÍACO (DC): VOLUME DE SANGUE EJETADO PELO VENTRÍCULO EM UNIDADE DE TEMPO. DC = Volume Sistólico (VS) x Frequência Cardíaca VS PRÉ CARGA PÓS CARGA CONTRATILIDADE DO2: DC x Hb x Sat Hb x x1,34 + PO2 x ( 0,0031) 3 Os danos teciduais derivam não somente da hipóxia e baixa oferta de nutrientes, mas também da : Reduzida depuração de substâncias tóxicas. Maior afluxo de substâncias lesivas aos tecidos. Ação direta de toxinas. Ativação de mecanismos agressores. Redução dos mecanismos de defesa. Interdependência entre orgãos. Efeitos danosos da terapêutica. CHOQUE: TIPOS HIPOVOLÊMICO CARDIOGÊNICO SÉPTICO OBSTRUTIVO CHOQUE HIPOVOLÊMICO FISIOLOGIA ETIOLOGIA PERDAS HEMORRÁGICAS PERDAS NÃO HEMORRÁGICAS QUADRO CLÍNICO TAQUICARDIA, SUDORESE, ALTERAÇÃO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA, OLIGÚRIA, PALIDEZ CUTÂNEA, PELE FRIA, TAQUIPNÉIA, DIMINUIÇÃO DA PRESSÃO DE PULSO, ACIDOSE METABÓLICA, HIPERLACTATEMIA, AUMENTO DA OSMOLARIDADE URINÁRIA, AZOTEMIA QUADRO CLÍNICO ATLS. Advanced Trauma Life Support. Colégio Americano de Cirurgiões. 2010 Primeiros socorros para estudantes, São Paulo , Ed Manole , 2004. REPOSIÇÃO VOLÊMICA OBJETIVOS Restaurar perfusão tecidual e normalizar metabolismo oxidativo Corrigir hipovolemia absoluta/relativa Melhorar débito cardíaco por meio de aumento da pré carga De que maneira: Rapidamente em forma de alíquotas Reavaliação constante a cada infusão Via de acesso: Lei de Poiseuille PRINCÍPIOS GERAIS DO TRATAMENTO Garantir oxigenação e ventilação adequada Acesso venoso Monitorização Controle da etiologia da perda volêmica RESSUSCITAÇÃO HIPOTENSIVA EM TRAUMA REPOSIÇÃO VOLÊMICA TIPOS DE SOLUÇÕES CRISTALÓIDES COLÓIDES CHOQUE CARDIOGÊNICO Definição Falência do coração como bomba devido disfunção do músculo cardíaco A principal causa é o infarto do miocárdio – estima-se que seja necessário a perda de 40% da massa ventricular pra a instalação do choque. A mortalidade gira em torno de 70-80%. Outras causas são miocardites, cardiomiopatias, doença de Chagas, doenças valvares, arritmias, etc. O tratamento da causa base é primordial e a correção do distúrbio deve ser feita tão logo haja condições clínicas. A angioplastia é o melhor tratamento para o IAM. QUADRO CLÍNICO E HEMODINÂMICO PAS < 90 mmHg PCP > 18 mmHg Índice cardíaco baixo < 2,2 l/min/m² RVS elevada Acentuada redução da fração de ejeção do VE Hipotensão Taquicardia Palidez cutânea, enchimento capilar lento e pulsos finos Sudorese fria Taquipnéia e insuficiência respiratória Sinais de Congestão Pulmonar – estertores pulmonares Turgência jugular Alterações do estado de consciência – agitação, confusão, sonolência ou coma. Tratamento inicial deve ser específico para o fator precipitante TRATAMENTO DE SUPORTE Reposição volêmica Ventilação mecânica Inotrópicos Vasopressores Diuréticos Assistência circulatória SUPORTE CIRCULATÓRIO MECÂNICO COM BALÃO INTRA-AÓRTICO CHOQUE OBSTRUTIVO Definição Ocorre em situações em que existe obstrução mecânica ao enchimento ou esvaziamento do coração. Tamponamento pericárdico Embolia pulmonar Pneumotórax hipertensivo O alívio da obstrução é o único tratamento possível. A manutenção do volume intravascular é fundamental para o tratamento, podendo temporariamente melhorar o débito cardíaco e a hipotensão. As drogas inotrópicas e vasopressoras tem pouca importância no tratamento final. Pneumotórax hipertensivo Presença de ar sob pressão na cavidade pleural que leva ao colapso pulmonar e de estruturas vizinhas. Ocorre devido a lesão de vias aéreas de maior calibre e lacerações do parênquima pulmonar. Forma-se um mecanismo valvular onde o ar entra na cavidade pleural na inspiração e não sai na expiração devido à elasticidade da parede da lesão. O ar se acumula e a hipertensão pleural desvia e comprime o mediastino, o coração,o pulmão contralateral e os vasos sanguíneos. Evolução rápida para insuficiência respiratória e choque. Quadro clínico e diagnóstico O quadro é de instalação rápida e de extrema gravidade, cujas medidas devem ser tomadas de imediato, sem exames complementares. Dor torácica Dispnéia intensa e cianose Desvio da traquéia a nível cervical Desvio do ictus cardíaco Murmúrio vesicular abolido Hipertimpanismo à percussão Turgência jugular Hipotensão arterial e taquicardia Ocasionalmente enfisema sub-cutâneo Tamponamento Pericárdico Acúmulo de líquido ou sangue no saco pericárdico de forma rápida com elevação da pressão que promove compressão das câmaras cardíacas e restrição diastólica. Ocorre devido a: Trauma torácico aberto ou fechado Infiltração neoplásica Pós cirurgia cardíaca Doenças auto-imunes Hipotireoidismo Insuficiência renal com uremia Processos infecciosos agudos Quadro clínico e diagnóstico A instalação do quadro varia de acordo com a etiologia. O diagnóstico diferencial é feito com pneumotórax hipertensivo Na maioria dos casos também não há tempo para exames complementares. Tríade de Beck – choque, turgência jugular e hipofonese de bulhas. Dispnéia intensa e palidez cutânea Acentuação do pulso paradoxal (> 15 mmHg) Elevação da pressão venosa na inspiração (sinal de Kussmaul) ECG mostra complexos QRS de baixa voltagem Rx Tx mostra ↑da área cardíaca em forma de “moringa” Ecocardiograma mostra líquido no pericárdio e sinais de restrição diastólica Ecocardiograma Derrame pericárdico Tratamento Embolia Pulmonar É a impactação de material dentro dos ramos do leito arterial pulmonar e que na maioria das vezes são coágulos sanguineos provenientes dos mmii e pelve, podendo ser também em decorrência de céls neoplásicas, gotículas de gordura, líquido amniótico e bolhas de ar. Fatores de maior risco são: Idade avançada Cirurgia ortopédica de bacia, quadril e mmii Politraumatismo Grande queimado História prévia de TVP/TEP Internações prolongadas Quadro clínico e Diagnóstico Obstrução aguda do leito vascular pulmonar com sobrecarga e falência do VD. Quadro de início súbito Dor torácica, dispnéia e hemoptise. Tosse seca e sudorese fria. Taquicardia e hiperfonese de P2 Arritmia supraventricular e ventricular Síncope e morte súbita. Redução do MV na área afetada Estertores pulmonares Menos frequentemente o atrito pleural Cintilografia pulmonar ARTERIOGRAFIA TRATAMENTO A terapêutica específica visa desobstruir o leito pulmonar, seja por medicação ou cirúrgicamente. Dobutamina reduz a pressão capilar pulmonar devido vasodilatação. Para a dissolução do trombo podemos dispor da estreptoquinase em infusão contínua por 24-72 horas ou rt-PA em 2 horas. Heparinização plena deve ser mantida após terapia fibrinolítica por no mínimo 5 dias. Anticoagulação oral com warfarin. Embolectomia a céu aberto ou por cateter. CHOQUE SÉPTICO Plantão tranqüilo numa unidade de UE em Macaé, até que chega uma ambulância... Jorge, 25 anos, história de febre elevada com evolução há 5 dias. Ao exame físico: Confusão mental Temperatura: 38,9oC Taquicárdico (110 bpm), taquipnéico (27 ipm) PA: 90x65 mmHg CASO CLÍNICO Qual o diagnóstico? 37 Sepse, Sepse Grave e Choque Séptico O que é sepse? Infecção SIRS Sepse Sepse Grave DMOS Infecção Resposta inflamatória reacional à presença de microorganismo em tecidos normalmente estéreis SIRS Uma resposta clínica não específica incluindo dois dos seguintes: Leucocitose (>12.000) ou leucopenia (<4000) ou >10% de bastões FC > 90 bpm Temperatura >38 ou <36oC FR > 20 ipm ou PaCO2<32mmHg SIRS também pode ser causada por trauma, queimaduras, pancreatite... Sepse SIRS com processo infeccioso confirmado ou presumido Sepse Grave Sepse com pelo menos uma disfunção orgânica aguda: Hipotensão Confusão Mental Oligúria Hipóxia* Acidose metabólica (láctica) Coagulação intravascular disseminada (CIVD) Disfunção hepática* Choque Séptico: Sepse grave refratária a reposição de volume DMOS Função orgânica alterada em pacientes agudamente enfermos, nos quais a homeostase não pode ser mantida sem intervenção Sepse Sepse: um dos maiores desafios da medicina 1970: 170.000 casos/ano 2000: 660.000 casos/ano Mortalidade: 46% (sepse grave) 52% (choque séptico) 2ª maior causa de óbito em UTI’s não cardiológicas Produtos bacterianos envolvidos Infecção Bactérias Produtos Extracelulares: Exotoxinas Produtos da parede celular Efeitos pró inflamatórios à distância Endotoxinas Bactérias gram negativas: LPS Resposta pró-inflamatória: Citocinas (TNF-alfa, IL1 e IL6) Resposta inflamatória EXCESSIVA à infecção Quais são os mediadores? Endotoxinas Liberação de citocinas pró inflamatórias: TNF-alfa e IL1 Ativação do sistema complemento Ativação Leucocitária Disfunção Endotelial Liberação de Óxido Nítrico Vasodilatação Periférica Disfunção Cardiovascular Disfunção Hematológica Disfunção Renal Disfunção Respiratória Consumo local de oxigênio e Liberação da Elastase Neutrofílica Lesão Tissular Mediadores Anti-inflamatórios Disfunção Cardiovascular Vasodilatação Periférica ↑ Débito Cardiáco insuficiente Disfunção Miocárdica Perda da homeostase na regulação do fluxo sanguíneo Shunt de parte do volume circulante para leitos capilares Piora da perfusão periférica e exacerbação da hipóxia tecidual ACIDOSE METABÓLICA Disfunção Cardiovascular PAS < 90 mmHg ou PAM < 70 mmHg (por pelo menos 1h Apesar de: ressuscitação volêmica adequada (500mL em 30´) Parâmetros adequados de volemia (PVC > 8mmHg ou PCP >12 mmHg) Necessidade de uso de vasopressores Disfunção Respiratória Degranulação de Neutrófilos no interstício pulmonar Acúmulo de líquido e células inflamatórias nos espaços alveolares PREJUÍZO NAS TROCAS GASOSAS Hipóxia + Tromboxano ↑ Resistência Vascular Pulmonar ↓ Resistência Vascular Sistêmica EDEMA INTERSTICIAL E HIPERTENSÃO PULMONAR SDRA LPA (Lesão Pulmonar Aguda): Início agudo PaO2/FiO2: 200-300 (apesar do uso de PEEP) Rx Tórax: Infiltrados alvéolo-intersticiais, micro ou macronodulares, bilaterais e assimétricos Ausência de evidência de sobrecarga volêmica SDRA (Sind. Disfunção Resp. Aguda) PaO2/FiO2 < 200 (apesar do uso de PEEP) Disfunção Renal Hipóxia Tecidual, Piora da perfusão e Acidose Grave NTA reversível Diurese <0,5mL/Kg/h Durante 1 hora ou mais Apesar de ressuscitação volêmica adequada* * 500mL de Cristalóides em 30´ 20g de albumina 200mL de outros colóides em 30´ Disfunção Hematológica Contagem plaquetária < 80.000, ou Queda >50% em relação a maior contagem dos últimos 3 dias Outros parâmetros: Alargamento TP e TTPa D-dímero aumentado Redução fibrinogênio Critérios de Disfunção Orgânica Aguda Encefalopatia aguda (sonolência, confusão, agitação, coma) PAS < 90 ou PAM < 65mmHg SpO2 < 90% com ou sem suplementação de oxigênio Creatinina > 2,0 mg/dl ou Débito urinário < 0,5 ml/kg/h Bilirrubina > 2 mg/dl Contagem plaquetária < 80.000 Lactato > 4 mmol/l (36 mg/dl) SEPSE GRAVE Investigação Complementar Confirmação do diagnóstico de sepse e identificação de complicações Identificação da causa base Investigação Hemograma: Leucopenia, leucocitose, plaquetopenia Coagulograma: Pesquisa de CIVD (alargamento do TAP, elevação dos marcadores de fibrinólise: produtos de degradação de fibrina e D-dímero) Eletrólitos e Função Renal Albumina (Até 1,5-2g/dL): Aumento da permeabilidade capilar Glicemia Lactato: Marcador de hipóxia tecidual Investigação Gasometria Arterial Inicial: Alcalose Respiratória (Taquipnéia) Tardio: Acidose Metabólica (hipóxia tecidual e produção de ácido lático) Culturas: Hemoculturas (2 amostras) Dispositivos > 24h (Cateteres, Urocultura) Outras culturas (LCR, Líquido pleural...) Investigação Radiografia de Tórax: Evidenciar sinais sugestivos de SDRA Identificação de focos infecciosos ocultos Tratamento Sepse: Early goal Golden hours 6 horas Silver days 24 horas Bronze period 48 horas Golden Hours Monitorização Suporte em UTI (C) Acesso venoso central (C) Ressuscitação volêmica Antibioticoterapia ATB: Aspecto mais importante no tratamento Início: Até 1h após diagnóstico de sepse grave, logo após obtenção de culturas (C) Cobertura direcionada ao foco suspeito Amplo espectro Escalonamento Remoção do foco infeccioso (até 6h): colangite, fasciíte necrotizante, pancreatite necro-hemorrágica (D) Golden Hours (6 horas) Golden Hours (6 horas) Cristalóide 20mL /Kg – 500 mL em bolus Até PVC entre 8-12mmHg e PAM > 65mmHg PAM < 65mmHg Vasopressores: Dopamina 10 μg/kg/min Noradrenalina 5 μg/kg/min Até PAM >65 PVC Estima o estado volêmico do paciente , pois reflete o retorno venoso sistêmico PAM Não existe evidência de que dopamina em dose baixa cause proteção da função renal Golden Hours (6 horas) Monitorização SvcO2 Se < 70% apesar de PVC entre 8-12mmHg Apesar do uso de vasopressores Tx de Hemácias até Ht 30% (B) Dobutamina 2,5 mcg/kg/min Até SvcO2 > 70% PAM > 65mmHg Medida entre a oferta sistêmica e a demanda tecidual de oxigênio: ↓: Hipovolemia, Baixo débito cardíaco ou anemia Silver Days (6 - 24 horas) Manter hidratação avaliar quadro hemodinâmico Manter diurese > 0,5kg/hora Verificar necessidade de corticoterapia Manter controle glicêmico Corticoterapia Efeito anti-inflamatório Ação potencializadora sobre os receptores de catecolaminas Considerar hidrocortisona se: Adultos em choque séptico refratário a vasopressor Dose: Hidrocortisona 50mg EV de 6/6h (Recomendação fraca) Controle Glicêmico Sepse: Estado hiperadrenérgico Predisposição a infecções graves, polineuromiopatia e disfunção múltipla de órgãos Glicemia 110-150mmHg (redução da taxa de mortalidade e menos risco de hipoglicemia) (C) Estratégia Ventilatória Protetora Sepse e SDRA: 30 a 40% dos casos Ventilação mecânica na SDRA: Baixos volumes correntes 6mL/Kg Pressão de platô <30cmH2O (A) Cabeceira elevada a 45º Posição prona, quando em necessidade de níveis de FiO2 potencialmente danosos. Outras estratégias úteis Profilaxia para TVP: heparina de baixo peso molecular (C), compressor pneumático ou meias elásticas Profilaxia de úlcera de estresse: Bloqueadores H2 ou IBP Cuidados: Risco de elevação do pH gástrico e predisposição a pneumonia associada a ventilação mecânica Sedação contínua que promova despertar diário Uso do Bicarbonato Não recomendado com o propósito de melhora hemodinâmica em pacientes com acidose lática e pH > 7,15 Administração de Bicarbonato de Sódio associado com: aumento do lactato e pCO2, redução do cálcio ionizado e sobrecarga de sódio. Suporte Considerar suporte limitado em pacientes com evolução desfavorável em acordo com familiares
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