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Revisão para prova – Desdobramentos da Teoria Psicanalítica – NP1 · Interpretação na análise de crianças, a partir do brincar: Como Klein entende a interpretação do processo psicanalítico com crianças? Era possível? Como era feito? Para Klein, a pré-condição para uma análise de crianças é compreender e interpretar as fantasias, sentimentos, ansiedades e experiências expressos através do brincar ou, se as atividades do brincar estão inibidas, compreender e interpretar as causas da inibição. Klein iniciou o tratamento de seus primeiros pacientes, na própria casa da criança e com seus próprios brinquedos, mas percebe logo que apesar da criança precisar de ajuda e da disposição dos pais em cooperar, a atitude da mãe poderia ser ambivalente e o ambiente tornar-se hostil ao tratamento. · Agressividade infantil – de que modo ela se manifestava e como Klein executava o manejo clínico, qdo a agressividade se apresentava: Klein proibia a criança? Educava a criança? O que ela fazia com isso? (dissertativa) A agressividade infantil era expressa de várias formas no brincar da criança, direta ou indiretamente, um brinquedo poderia se quebrar ou, quando a criança era mais agressiva, atacava com facas ou tesouras a mesa ou pedaços de madeira; água, tinta são esparramados e a sala geralmente de transformava num campo de batalha. É essencial, portanto, permitir à criança trazer luz à agressividade. Ponto importante é compreender por que nesse momento particular da situação transferencial aparecem os impulsos destrutivos e observar suas consequências na mente da criança. Após um rompante agressivo, pode surgir sentimentos de culpa, mas não apenas pelo objeto quebrado, mas pelo que este objeto representa no inconsciente da criança: um irmão (a), um dos pais. Portanto, a interpretação tem que lidar com os níveis mais profundos também. Culpa e ansiedade persecutória são consequências dos impulsos destrutivos da criança, dos quais a criança teme retaliação. Klein pontua que o sucesso de seu método residia no cuidado de não inibir as fantasias agressivas da criança e quanto mais ela era capaz de interpretar em tempo os motivos da agressividade da criança, mais a situação poderia ser mantida sob controle. · Espaço físico da clínica – como Klein descreveu a própria clínica e como era o espaço, de quem era, quais objetos haviam lá dentro. (dissertativa). O espaço físico da clínica era simples, com nada além do que era necessário à psicanálise. Alguns brinquedos foram eleitos por Klein como essenciais para análise: brinquedos pequenos, figuras humanas variando de cor e tamanho e que não indiquem qualquer ocupação em particular, importante também que sejam brinquedos não mecânicos. Os equipamentos de brincar de cada criança eram guardados trancados numa gaveta particular, atitude esta que dizia à criança que seus brinquedos e o seu brincar com eles – equivalentes das associações livres do adulto – estavam seguros e são de conhecimento apenas dela (criança) e do analista. Esta gaveta representa a relação privada e íntima entre analista e paciente, característica da situação transferencial psicanalítica. · Posição esquizoparanóide (assinalar o que se apresenta nesta posição) Para Klein, a teoria das posições é um mecanismo de constituição do sujeito, percursos necessários que cada sujeito passa, para seguir adiante. A primeira posição é a esquizoparanóide que começa no nascimento e vai até os 6 meses. No início da vida o bebê ainda não estabeleceu uma relação com o mundo real; na verdade, o bebê ainda não tem o conhecimento de que existe uma realidade externa. Nos primeiros meses de vida, estamos praticamente confinados às nossas fantasias; isso acontece porque no início da vida, nós ainda não temos um eu organizado, então não temos ainda consciência do mundo externo e nem temos ainda uma percepção de nós mesmos, como um uma entidade, um ser unificado. Então, quem é o bebê para Klein nesse início da vida? Apenas um organismo dotado de duas classes de impulsos: os impulsos de vida (que vão direciona-lo aos vínculos e também ao prazer) e os impulsos de morte, que vão leva-lo a atacar o outro e também a se defender dele. Ao contrário do que o senso comum preconiza como sendo a vida do bebê nos primeiros meses – comer e dormir – Klein descobriu que o que acontece dentro da cabeça do bebê não é nada monótono, nem simples. O bebê é pressionado pelos impulsos de vida, que buscam vínculo, prazer, satisfação, mas, este bebê ainda não tem consciência do mundo externo, então, ele vai fantasiar que aquele seio que vem para alimenta-lo, acalenta-lo é uma entidade mágica, perfeita, a qual ele deve manter-se ligado para sempre, já que ela existe para fazê-lo feliz. Porém, nas ocasiões em que este bebê sente fome essa mãe (real) demora a atende-lo por qualquer motivo que seja, o bebê vai fantasiar que aquele seio, antes mágico e perfeito, é um objeto mal, maligno, contra o qual ele precisa se defender e, o qual ele precisa atacar. Então, o bebê vai sentir muito ódio desse seio que o frustra, que demora a atende-lo. Só que esse ódio, essa agressividade será muito difícil de ser controlada pelo bebê, por que ele ainda não possui um ego suficientemente constituído e forte para dar conta desse sentimento, que é tão intenso. Então, o bebê, ao invés de conservar esse ódio dentro de si, ele projeta esse ódio para o objeto mal fantasiado. E, a partir disso, ele vai começar a se sentir perseguido por este objeto e, ao invés de odiá-lo, ele vai se sentir odiado por este objeto mau. Todo este processo é imaginário e fantasioso e esta é a única realidade conhecida pelo bebê. Esquizo, por que o bebê enxerga o mundo cindido/dividido entre bom e mau; Paranóide porque se sente perseguido pelo seio mau, sente que este quer ataca-lo. A conotação emocional mais frequente da vida do bebê é o sentimento persecutório, sentimento de que existe algo à espreita que quer aniquila-lo (ansiedade persecutória). · Posição depressiva (assinalar o que se apresenta nesta posição) A partir do 6º mês, o ego do bebê adquire um pouco mais de consistência e ele então passa a ver a realidade um tanto mais concreta; para além de sua fantasia. Vai, então, se dando conta de que não existe um seio bom e um seio mau. Percebe que a “bondade” e a “maldade” eram apenas aspectos do seio real da mãe, que ora o satisfaz, ora o frustra. Essa consciência de que os seios que alimentavam o bebê eram os mesmos seios que o frustrava, leva o bebê a experimentar, ainda que muito precocemente, o sentimento de culpa (édipo antecipado/precoce). O bebê percebe que estava direcionando para os seios reais da mãe uma agressividade que antes ele acreditava direcionar apenas ao seio mau; agora, não existindo mais seio bom X seio mau, a culpa se instala. E é por conta da tristeza decorrente desse sentimento de culpa, que Klein denomina essa fase de posição depressiva. Que, apesar de “triste”, é uma fase importantíssima do desenvolvimento do bebê, onde ele consegue então ver e saber de objetos à sua volta como sendo inteiros e tem maior percepção da realidade exterior. Maldade e bondade são apenas aspectos de uma mesma realidade. Aqui, o bebê tolera melhor o sentimento de culpa, porque seu ego está mais consistente. · Mecanismos de defesa da posição esquizoparanóide Cisão, projeção e introjeção (presente em ambas). · Mecanismos de defesa da posição depressiva Reparação, gratidão e introjeção (presente em ambas). · Super ego em Klein: diferença sobre o início para ela e para Freud Para Freud se inicia no final do Édipo (4 ou 5 anos) Já Klein, reforça sua concepção de que relações de objeto existem desde o início da vida, sendo o primeiro objeto o seio da mãe, que fica marcado para a criança como o “seio bom” = gratificador e um “seio mau” = frustrador; essa cisão resulta numa separação entre o amor e o ódio. Sugere ainda que a relação com o primeiro objeto implica sua introjeção e projeção e, por isso, desde o início as relações de objeto são moldadas por uma interação e projeção, e entre objetose situações internas e externas. Para Klein, esses processos participam da construção do ego e do superego e preparam para o aparecimento do complexo de Édipo na segunda metade do primeiro ano. Citação: “Não parece claro porque uma criança de, digamos 4 anos de idade deveria estabelecer em sua mente uma imagem irreal e fantástica de pais que devoram, cortam e mordem. Mas é claro, porque numa criança de cerca de 1 ano de idade a ansiedade causada pelo começo do conflito edipiano assume a forma do medo de ser devorada e destruída”. (Édipo precoce) Explicação: Sim, este tipo de realidade (ser devorada, destruída, via oral) não faz sentido quando se pensa na organização da libido em estádio fálico, mas é plausível quando se pensa numa criança em estádio oral (1 ano). Klein está preocupada nesta citação em explicar um problema evolutivo: aos 4 anos de idade a criança deveria estar no estádio fálico, portanto o Édipo deveria estar associado a relações genitais entre o sujeito e seus objetos internalizados, mas, se aparecem relações orais de morder, cortar, etc, então é porque este édipo se instalou na fase oral, não aos 4/5 anos como Freud estabeleceu anteriormente. (se elementos orais e anais aparecem em questões edípicas, é pq as bases já foram construídas antes, ou seja, elementos de um édipo precoce) Citação: “A própria criança deseja destruir o objeto libidinoso, mordendo, devorando-o e cortando-o, o que leva a ansiedade, visto que o despertar das tendências edipianas é sempre seguida pela introjeção do objeto, o qual se torna aquele de quem a punição é esperada. A criança então teme uma punição correspondente à ofensa, o superego torna-se algo que morde, devora e corta”. (Superego precoce) · Fantasia (domina a vida mental da criança, atividades de fantasia presentes desde o início) Modo como o sujeito lê a realidade; desde sempre o sujeito tenta dar sentido a tudo que o cerca, mesmo antes da linguagem. O bebê tenta produzir sentido a partir do momento em que ele vai tendo contato com o corpo da mãe (1º objeto). O funcionamento inicial da criança é através da vida na fantasia. · Fase da feminilidade (no menino) O menino deseja a capacidade de ter bebês, assim como a mãe, se identifica com a mãe, mas como percebe que é diferente, que tem um pênis e que a mãe não tem, precisa recalcar o desejo de ser igual a ela e identifica-se com o pai. A inveja infantil do filho menino será solucionada quando encontrar uma esposa e puder ser pai. · Transferência Não há como existir análise se não houver transferência. Ela é uma relação que se atualiza; há a transferência positiva e a negativa e no decorrer da análise elas se alternam. Klein se orientava por 2 princípios da psicanálise estabelecidos por Freud: a exploração do inconsciente é a principal tarefa do procedimento psicanalítico e a análise da transferência é o meio de atingir o objetivo. Klein percebe, durante a análise da paciente Rita que “a situação transferencial, espinha dorsal do procedimento psicanalítico só pode ser estabelecida e mantida se o paciente for capaz de sentir que o consultório ou a sala de análise de crianças, e na verdade toda a análise, é alguma coisa separada de sua vida familiar cotidiana.” Para Klein, não existe urgência pulsional que não envolva objeto, ou seja, desde o início da vida, as relações da criança já demandam um objeto. O analista representa parte do self, do superego ou figuras internalizadas, assim é essencial pensar em termos de transferência de situações totais transferidas do passado para o presente, bem como em termos de emoções, defesas e relações de objeto. Sujeito projeta no analista. Sujeito está caminhando para o final da análise quando ansiedade e culpa diminuem, processos de cisão, bem como as repressões atenuam-se. Klein estabelece um prazo para o final da análise (diferente de Freud e Lacan); um dos questionamentos feitos nesta ocasião é indagar do sujeito se os conflitos e as ansiedades vivenciados durante o primeiro ano de vida foram suficientemente elaborados. Porém, o término da análise desperta sentimentos dolorosos e revive ansiedades arcaicas (equivale a um luto), razão pela qual deve-se deixar o paciente saber a data do término com uma antecedência de vários meses.