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12 C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.3, n.1, p.12-29, jan./dez. 2010 INSERÇÃO DO FISIOTERAPEUTA NO PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA: UMA PROPOSTA ÉTICA E CIDADÃ Karla Cavalcante Silva Dantas Gama * RESUMO A estratégia Saúde da Família (PSF) traça um novo paradigma para a organização do trabalho em saúde. Implementando em 1994, a Saúde da Família é pautada no trabalho de todos os profissionais de saúde em tempo integral, na delimitação mais precisa e radical do território de atuação das equipes, na disponibilização dos serviços próximos ao local onde as pessoas vivem ou trabalham e na responsabilidade compartilhada entre os governos federal, estadual, municipal e na composição de equipes multiprofissionais. Aliada a isso, evidencia-se a incorporação da participação da comunidade no trabalho da equipe, o vínculo dos profissionais com os indivíduos e famílias, além da qualificação dos profissionais para a ampliação de conhecimentos, atitudes e habilidades adequados ao novo modelo. A inserção do fisioterapeuta nos serviços de atenção primária à saúde é um processo em construção, associado, principalmente a criação da profissão, rotulando o fisioterapeuta como reabilitador, voltando- se a temas para uma pequena parte de seu objeto de trabalho, que é tratar a doença e suas seqüelas. Essa lógica de conceitualizacão, durante muito tempo, excluiu da rede básica os serviços de fisioterapia, acarretando uma grande dificuldade de acesso da população a esse serviço e impedindo o profissional de atuar na atenção primária do PSF. Baseado nesse enfoque o objetivo desse estudo foi realizar uma revisão de literatura sobre a inserção do fisioterapeuta no PSF. Foram consultadas as bases de dados da Bireme (Medline e Liliacs), Scielo e Google acadêmico utilizando-se Programa de saúde da família, Fisioterapia, Equipe, Inserção e o tempo de publicação a partir do ano de 1994, ano de implementação do PSF. Palavras-chave: Programa Saúde da Família. Fisioterapia. Equipe. Inserção. ar ti g o d e re vi sã o * FAINOR.E-mail: karlinhakau@hotmail.com GAMA, K. C. S. D. C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.3, n.1, p.12-29, jan./dez. 2010 13 1 INTRODUÇÃO O Programa Saúde da Família (PSF) foi introduzido no Brasil em 1994 pelo Ministério da Saúde, com o objetivo de reordenar as práticas de saúde no âmbito da atenção básica em novas bases e critérios, com foco na família, a partir do seu ambiente físico e social. Posteriormente definido como estratégia, reafirma e incorpora os princípios básicos do Sistema Único de Saúde (SUS) de universalização, descentralização, integralidade e participação da comunidade (GROISMAN; MORAIS; CHAGAS, 2005). Como foco central o PSF define a criação de vínculos e a formação de alianças de compromisso e de co- responsabilidade entre a população e os profissionais de saúde, fazendo com que a família passe a ser o objeto precípuo de atenção, entendida a partir do ambiente onde vive, rompendo os muros das unidades de saúde. Ele defende uma característica inter e multidisciplinar de responsabilidade sobre a população que reside na área de abrangência de suas unidades de saúde (SANTOS, 2000). Segundo Sousa (2000) as equipes têm como pressuposto uma atuação diferenciada, onde o vínculo e o sentimento de pertencer à comunidade são traduzidos em valorização profissional e formas diferenciadas de remuneração. A equipe mínima de saúde da família é composta por médico, odontólogo, enfermeiro, auxiliar de enfermagem e agente da saúde. Outros profissionais de saúde como por exemplo o fisioterapeuta, podem ser incorporados de acordo com a demanda local. Portanto, a fisioterapia vem como uma resposta às necessidades da comunidade sendo o PSF uma forma atual de viabilizar esse acesso. O fisioterapeuta pode e deve atuar nos serviços como profissional de primeiro contato, com a habilidade de avaliar o usuário, e caso necessário, prescrever a melhor conduta, estabelecer o prognóstico e decidir-se pela alta fisioterapeutica provisória ou definitiva. Embora, o fisioterapeuta tenha sua atuação historicamente construída na reabilitação, é possível atuar na promoção e manutenção da saúde, a partir de uma compreensão mais abrangente sobre os determinantes sociais do processo saúde- doença e da necessidade de uma atuação Inserção do fisioterapeuta no programa de saúde da família: uma proposta ética e cidadã 14 C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.3, n.1, p.12-29, jan./dez. 2010 comprometida com conquistas sociais. Inclusive porque, na Fisioterapia, é indissociável a atuação na recuperação e na prevenção, ou seja, no tratamento de recuperação da disfunção do paciente, sempre é realizado o trabalho preventivo de forma concomitante. Portanto, as possibilidades de atuação não devem se restringir às concepções tradicionalmente facultadas a esse profissional. Além da utilização de recursos terapêuticos específicos, em especial a cinesioterapia e os recursos terapêuticos manuais, é de fundamental importância que sua atuação possa interferir no meio em que o usuário vive, da forma mais ampla possível, visando maior integração com a estrutura física de sua residência e a facilitação da convivência diária com seus familiares. Baseado nas ações mínimas de atenção básica nos deparamos com uma realidade antiquada, porém esquecida, sobre a necessidade de inter e multidisciplinaridade que dificilmente constatamos na prática e assim, é notória a importância do fisioterapeuta e da sua inserção na equipe da atenção básica devido à grande demanda de pessoas que precisam do serviço, mas que são impossibilitadas pelos limites físicos que muitas patologias trazem, como também os limites arquitetônicos encontrados nas comunidades periféricas (ladeiras, ruas com buracos, etc) e fora isso as condições sócio-econômicas, que em sua maioria são precárias, até mesmo para gastos em transportes. Contudo, se ultrapassam todas essas dificuldades e vão para o centro de reabilitação (público) onde muitas vezes não se tem vaga ou ficam aguardando numa lista de espera (SOUSA, 2000). Embora, o fisioterapeuta tenha sua atuação historicamente construída na reabilitação, é possível atuar na promoção e manutenção da saúde, a partir de uma compreensão mais abrangente sobre os determinantes sociais do processo saúde- doença e da necessidade de uma atuação comprometida com conquistas sociais. O Projeto de Lei (PL) 3256, apresentado em 2004 propõe que “A atuação do fisioterapeuta como ação indispensável no atendimento da população inserida no Programa de Saúde da Família”. O PL prevê a obrigatoriedade da inserção desses profissionais nas equipes do PSF, entendendo que essa obrigatoriedade é fundamental para garantir o acesso à GAMA, K. C. S. D. C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.3, n.1, p.12-29, jan./dez. 2010 15 população brasileira aos "meios e técnicas necessários para a resolução de problemas relacionados a esta especialidade" (AGÊNCIA COFFITO, 2008). Nesta perspectiva o objetivo deste estudo foi realizar umarevisão de literatura sobre a inserção do fisioterapeuta no Programa de Saúde da Família (PSF). Os objetivos específicos são: descrever a atuação do Fisioterapeuta na atuação básica e averiguar as contribuições do Fisioterapeuta para a Atenção Básica no PSF; expondo sua metodologia, juntamente com a necessidade vigente de que o profissional fisioterapeuta faça parte desta realidade. Dessa revisão é possível concluir que há uma produção escassa sobre a relação existente entre a questão do fisioterapeuta e sua inserção no PSF. As referências apresentadas representam uma amostra significativa da produção sobre o tema PSF. Os estudos apresentados foram selecionados pelo foco em diferentes abordagens sobre o Programa de Saúde da Família, trazendo, assim, uma breve revisão sobre a inserção do Fisioterapeuta no PSF. Aqui as conclusões refletem o consenso sobre as principais questões e direções futuras desejáveis para a inserção do profissional fisioterapeuta no Programa de Saúde da Família. O material apresentado está organizado em quatro partes: 1) breve histórico sobre a criação do Programa de Saúde da Família (PSF), 2) o surgimento da fisioterapia, 3) o fisioterapeuta e suas áreas de atuação, e 4) PSF versus fisioterapia: as contribuições do fisioterapeuta para a Atenção Básica e, no final a conclusão. 2 BREVE HISTÓRICO SOBRE A CRIA- ÇÃO DO PSF A idéia que deu vida ao PSF surgiu em 1991, graças aos programas de agentes comunitários de saúde, com a finalidade de ajudar na redução das mortalidades infantil e materna, principalmente nas regiões mais necessitadas Norte e Nordeste. A partir da experiência vivida no Ceará com o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS), o Ministério da Saúde sente a imprescindível importância de Agentes nos serviços básicos de saúde no município e resolve dar atenção à Inserção do fisioterapeuta no programa de saúde da família: uma proposta ética e cidadã 16 C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.3, n.1, p.12-29, jan./dez. 2010 família como aspecto de maior atenção e não mais dando atenção exclusiva ao indivíduo e sim, aplicando a noção de cobertura por família (GALLO, 2005; COSTA NETO; MENEZES, 2000). Desta forma, o PSF foi idealizado a partir de uma reunião realizada nos dias 27 e 28 de dezembro de 1993 em Brasília DF, que teve como tema “Saúde da Família”, convocada pelo gabinete do Ministro da Saúde Henrique Santillo com apoio do UNICEF e a partir de 1994 começaram a serem formadas as primeiras equipes do Programa de Saúde da Família. A reunião foi acertada na discussão de uma nova proposta devido ao sucesso do PACS e da grande precisão de acrescentar outros profissionais para que os agentes não atuassem isoladamente. Vale lembrar que a supervisão do trabalho do agente comunitário pelo enfermeiro, no Ceará, foi um primeiro passo no processo de incorporação de novos profissionais (GALLO, 2005). Deve-se ressaltar que esse movimento de “olhar a família” aconteceu em muitos países, e a formulação do PSF teve em seu benefício o desenvolvimento anterior de modelos de assistência à família no Canadá, Cuba, Suécia e Inglaterra, servindo assim, como referência para a formação do programa brasileiro. Para o Ministério da Saúde (1994) o PSF é uma estratégia que busca atingir o indivíduo e a família de maneira absoluta e contínua, desenvolvendo ações de promoção, proteção e recuperação da saúde, reorganizando a prática assistencial, centrada no hospital, passando a dar atenção a família em seu ambiente físico e social. PSF pode ser definido como: “um modelo de atenção que pressupõe o reconhecimento de saúde como um direito de cidadania, trabalhando na melhoria das condições de vida”. No que diz respeito a área de saúde, essa melhoria deve ser traduzida em serviços mais eficazes, integrais e principalmente humanizados. O programa saúde da família é uma estratégia que tem como meta dar prioridade as ações de promoção, proteção, recuperação da saúde de cada indivíduo e da família em si, sem discriminação alguma (BRASIL, 2005). O PSF tem como objetivo principal a reorganização da prática assistencial, buscando substituir o modelo tradicional assistencial, focado para cura de GAMA, K. C. S. D. C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.3, n.1, p.12-29, jan./dez. 2010 17 doenças, os grandes exemplos são os hospitais. A atenção prioriza a família, onde começa a ter um entendimento plausível do ambiente físico e social, isso faz com que às equipes de saúde da família compreendam melhor o processo saúde/doença e a necessidade de interferências que vão além das práticas curativas. Diferente da idéias que se tem sobre a maioria dos programas em nível central, o PSF é uma estratégia que permite a integração e gera a organização dessas atividades em um território definido. A estratégia da Saúde da Família reafirma e inclui os princípios fundamentais do Sistema Único de Saúde (SUS): universalização, descentralização, integralidade e participação da comunidade. Essa estratégia está formatada a partir da Unidade de Saúde da família, uma unidade pública de saúde, que tenha uma equipe multiprofissional que adota a responsabilidade por uma determinada população, conectada a mesma, desenvolvendo ações de promoção de saúde e prevenção de doenças, tratamento e reabilitação de agravos (BRASIL, 2005). Os perfis de pacientes que mais procuram o PSF são os: hipertensos, diabéticos, cardiopatas, pneumopatas (pneumonias, asma), gestantes e idosos (artrite, artrose, bursites, osteoporose, lombalgia, AVE). 3 O SURGIMENTO DA FISIOTERAPIA O surgimento da fisioterapia no Brasil foi um tanto turbulenta. O país vivia a época da industrialização, daí então houve o início da utilização dos recursos físicos na assistência à saúde por volta de 1879, trazendo características da área da saúde na mesma época. Seus objetivos eram quase que totalmente voltados à assistência curativista e reabilitadora. Em 1929 com a instalação do serviço de fisioterapia do instituto do Radium Arnaldo Vieira de Carvalho para assistência aos pacientes do Hospital de São Pedro pelo médico Dr. Waldo Rolim de Moraes, começou de forma discreta mais importante para dar espaço ao nascimento da fisioterapia no Brasil, em seguida, organizou o serviço de Fisioterapia do Hospital das Clínicas, iniciando em 1951 o primeiro curso para Inserção do fisioterapeuta no programa de saúde da família: uma proposta ética e cidadã 18 C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.3, n.1, p.12-29, jan./dez. 2010 formação de técnicos em fisioterapia, até 1956 (REBELATTO; BOTOMÉ, 1999). A fisioterapia no Brasil naquela época era exclusivamente focada para reabilitação da população ou indivíduo, tanto que, em 1959, médicos brasileiros por meio de entendimento com órgãos internacionais fundaram o Instituto Nacional de Reabilitação, onde se formava fisioterapeutas. Inclusive houve na época outros fatores decisivos para que a fisioterapia continuasse a tomar o rumo reabilitador. Dentre eles tiveram a incidência de poliomielite no Brasil na década de 1950 deixando indivíduos com grande quantidadede seqüelas motoras necessitando de uma reabilitação para sociedade, imensa quantidade de pessoas lesadas pelos acidentes de trabalho, cursando com um dos maiores índices da América do Sul (REBELATTO; BOTOMÉ, 1999). Na Antigüidade, período abrangido entre 4.000 a.C. e 395 d.C. havia uma grande preocupação com as pessoas que apresentavam certas “diferenças incômodas", a maior preocupação era extinguir essas diferenças através de recursos, técnicas, instrumentos e procedimentos. Inicialmente era usada ginástica apenas para fins terapêuticos, ou seja, eram utilizadas no tratamento das disfunções orgânicas já instaladas (GIUSTINA, 2002). A idade média (período entre os séculos IV e XV) foi uma época onde houve uma suspensão na melhoria dos estudos e da atuação na área da Saúde. Nesse período o corpo humano manteve sobre efeito da influência religiosa, sendo considerado algo inferior. Desta forma, o exercício estava impedido em sua forma anterior de aplicação, a curativa, passou a usá-lo para diferentes fins: a nobreza e o clero tinham como objetivo o aumento da potência física, enquanto, para burgueses e lavradores os exercícios serviam exclusivamente como diversão (REBELATTO; BOTOMÉ, 1999; GIUSTINA, 2002). No Renascimento (período entre os séculos XV e XVI), começa a retomar certa preocupação com o corpo saudável. Época em que se notava uma apreensão com o tratamento e cuidados com o organismo lesado e com o mantimento das condições normais existentes em organismos sadios. Na época da industrialização, período historicamente envolvido pelos séculos XVIII e XIX, GAMA, K. C. S. D. C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.3, n.1, p.12-29, jan./dez. 2010 19 retoma o velho interesse pelas "diferenças incômodas". O então novo sistema maquinado, otimizava o crescimento da produção industrial, onde uma população explorada era sujeita a exaustivas e excessivas jornadas de trabalho, tendo condições alimentares e sanitárias difíceis provocando novas doenças como as epidemias de cólera, tuberculose pulmonar, alcoolismo e os inúmeros acidentes do trabalho. Então começa aparecer à grande preocupação das classes dominadoras para não perder ou diminuir a sua fonte enriquecedora gerada pela grande força de trabalho da classe proletariado. Nessa época o homem parecia ter centralizado seus esforços na descoberta de novos métodos de tratamento das doenças e de suas seqüelas (GIUSTINA, 2002). Sendo assim a aplicação de recursos elétricos, térmicos e hídricos, além desses a aplicação de exercícios físicos evoluiu com atenção voltada para o atendimento do indivíduo doente. Na 2º Guerra Mundial surgiram as escolas de Cinesioterapia, visando o tratamento ou reabilitação dos lesados, ou mutilados que precisavam imediatamente recuperar um mínimo possível de condições para retornar a uma atividade social integrada e produtiva. Segundo à Revista Coffito (2005) a Fisioterapia hoje, é uma ciência atuante na área de Saúde que estuda, previne e trata os distúrbios cinéticos funcionais presentes em órgãos e sistemas do corpo humano, adquiridos por distúrbios genéticos, traumas e doenças que ocorrem durante a vida. Fundamenta suas ações em mecanismos terapêuticos próprios, sistematizados pelos estudos da biologia, das ciências morfológicas, das ciências fisiológicas, das patologias, da bioquímica, da biofísica, da biomecânica, da cinesia, da sinergia funcional, e da patologia de órgãos e sistemas do corpo humano e as disciplinas comportamentais e sociais. 4 O FISIOTERAPEUTA E SUAS ÁREAS DE ATUAÇÃO O fisioterapeuta é um profissional da área da saúde, com formação acadêmica Superior, respaldado à conclusão do diagnóstico dos distúrbios cinéticos funcionais (Diagnóstico Cinesiológico Funcional), a prescrição das condutas fisioterapêuticas, a sua Inserção do fisioterapeuta no programa de saúde da família: uma proposta ética e cidadã 20 C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.3, n.1, p.12-29, jan./dez. 2010 execução no paciente bem como, seu acompanhamento, sua evolução clínica funcional e plenas condições para se responsabilizar da alta do tratamento. Atividade de saúde, regulamentada pelo Decreto-Lei 938/69, Lei 6.316/75, Resoluções do COFFITO, Decreto 9.640/84, Lei 8.856/94 (FISIOTERAPIA, 2009). Segundo o COFFITO - Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (2009) as áreas da fisioterapia são diversas, dentre as quais, Fisioterapia Clínica em Ambulatórios, Consultórios, Centros de Reabilitação, Hospitais e clínica; Saúde Coletiva em Ações Básicas de Saúde, Fisioterapia do Trabalho, Programas institucionais, Vigilância Sanitária; Educação em Direção e coordenação de cursos, Docência - níveis: secundário e superior, Extensão, Pesquisa, Supervisão técnica e administrativa e outras como Esporte, Indústria de equipamentos de uso fisioterapêutico. Como especialidades são encontradas, Acupuntura (Resoluções Coffito 201/99 e 219/00); Quiropraxia (Resolução Coffito 220/01); Osteopatia (Resolução Coffito 220/01); Fisioterapia Dermato-Funcional (Resolução Coffito 362/09); Fisioterapia em Saúde Coletiva (Resolução Coffito 363/09); Fisioterapia Neuro Funcional (ResoluçãoCoffito 189/98); Fisioterapia Onco-Funcional (Resolução Coffito 364/09); Fisioterapia Pneumo Funcional (Resolução Coffito 188/98); Fisioterapia Traumato-Ortopédica Funcional (Resolução Coffito 260/04); Fisioterapia Urogineco-Funcional (Resolução Coffito 365/09). Portanto, o fisioterapeuta é qualificado para exercer atendimento na Atenção Básica, assim como também nos âmbitos da saúde primário, secundário e terciário, atuando na promoção, prevenção e na reabilitação da saúde como num todo. 5 PSF VERSUS FISIOTERAPIA: CONTRIBUIÇÕES DO FISIOTERAPEU- TA PARA A ATENÇÃO BÁSICA O PSF surgiu no final de 1993, para atender o núcleo familiar enfrentando os problemas na implantação do Sistema Único de Saúde (SUS), descentralizando os serviços de acordo com as reais necessidades da população que se manifestam como prioridades (SANTOS, GAMA, K. C. S. D. C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.3, n.1, p.12-29, jan./dez. 2010 21 2000). O Ministério da Saúde determina que para implantação do PSF deve-se ter uma clientela de, no máximo, 4.500 pessoas e uma equipe composta de no mínimo, um médico, um enfermeiro, auxiliares de enfermagem e agentes comunitários de saúde (BRASIL, 1994). O PSF propõe uma nova dinâmica para estruturação dos serviços de saúde, assim como para a relação com a comunidade e para diversos níveis de assistência. Assume o compromisso de prestar assistência integral à população na unidade de saúde e no domicílio de acordo com as necessidades, identificando fatores de risco aos quais ela está exposta intervindo de forma apropriada. Propõe-se a humanizar as práticas de saúde, buscando a satisfação dos usuários, por meio do estreito relacionamento dos profissionais com a comunidade, tendo sempre a saúde como direito de cidadania (SOUSA, 2000) Consiste em orientação do Ministério da Saúde (BRASIL, 1994) a implantação do PSF como estratégia para reorganizar a Atenção Básica. Para issoela deve ser acompanhada de redefinições de referências, em especial do primeiro nível. Enquanto isso não se concretiza, as unidades atuam nas responsabilidades mínimas da Atenção Básica que são: controle da tuberculose, eliminação da hanseníase, controle da hipertensão arterial, controle de diabetes mellitus, ações de saúde bucal, ações da saúde da criança e ações da saúde da mulher. O PSF teve como antecedente o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (Pacs), lançado em 1991, no qual já se trabalhava a família como unidade de ação programática. Os bons resultados do Pacs, particularmente na redução dos índices de mortalidade infantil, levaram à busca da ampliação e maior resolutividade das ações e, a partir de janeiro de 1994, começaram a ser formadas as primeiras Equipes de Saúde da Família (ESFs) (RONCALLI, 2003). O PSF produziu um consenso quanto a um projeto de mudança do modelo de saúde hegemônico que nenhum outro projeto na história do SUS conseguiu. Contribuiu, ainda, para o acirramento das discussões sobre a necessidade de uma nova lógica de financiamento, que não a por procedimentos (ANDRADE, 2001). Inserção do fisioterapeuta no programa de saúde da família: uma proposta ética e cidadã 22 C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.3, n.1, p.12-29, jan./dez. 2010 É de grande importância tornar a “questão” da Fisioterapia acessível a toda população, pois é crescente a quantidade de pessoas nas comunidades, que necessitam deste serviço e não possuem condições, em sua maioria, de deslocar- se para um estágio nas unidades de PSF localizadas em outro bairro que não seja o seu. Para suprir as novas políticas de saúde, fazem-se necessárias mudanças ou até mesmo “reformas” na formação dos recursos humanos, adaptando-os a nova realidade do "tratar em saúde". Trata-se de um processo de transformação complexo, que deve iniciar- se durante a graduação e manter-se como um processo de educação continuada após a inserção deste profissional no mercado de trabalho. Faz-se necessário também ressaltar a necessidade da Fisioterapia na atenção primária de saúde não apenas com a reabilitação, como também no sentido de ações educativas (RIBEIRO, 2002). O Ministério da Saúde (BRASIL, 2004) propõe que as atividades desenvolvidas pela equipe de saúde da família sejam freqüentemente avaliadas e adaptadas às necessidades da comunidade, sendo fundamental o acompanhamento dos dados que servirão de base para o planejamento e redirecionamento das ações. Portanto, a fisioterapia vem como uma resposta às necessidades da comunidade sendo o PSF uma forma atual de viabilizar esse acesso. O fisioterapeuta pode e deve atuar nos serviços como profissional de primeiro contato, com a habilidade de avaliar o usuário, e caso necessário, prescrever a melhor conduta, estabelecer o prognóstico e decidir-se pela alta fisioterapêutica provisória ou definitiva. Embora, o fisioterapeuta tenha sua atuação historicamente construída na reabilitação, é possível atuar na promoção e manutenção da saúde, a partir de uma compreensão mais abrangente sobre os determinantes sociais do processo saúde- doença e da necessidade de uma atuação comprometida com conquistas sociais. Inclusive porque, na Fisioterapia, é indissociável a atuação na recuperação e na prevenção, ou seja, no tratamento de recuperação da disfunção do paciente, sempre é realizado o trabalho preventivo de forma concomitante. Portanto, as possibilidades de atuação não devem se restringir às concepções tradicionalmente GAMA, K. C. S. D. C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.3, n.1, p.12-29, jan./dez. 2010 23 facultadas a esse profissional. Além da utilização de recursos terapêuticos específicos, em especial a cinesioterapia e os recursos terapêuticos manuais, é de fundamental importância que sua atuação possa interferir no meio em que o usuário vive, da forma mais ampla possível, visando maior integração com a estrutura física de sua residência e a facilitação da convivência diária com seus familiares. “A atuação do fisioterapeuta como ação indispensável no atendimento da população inserida no Programa de Saúde da Família” Essa é a proposta do Projeto de Lei (PL) 3256, apresentado em 2004. O PL prevê a obrigatoriedade da inserção desses profissionais nas equipes do PSF, entendendo que essa obrigatoriedade é fundamental para garantir o acesso à população brasileira aos "meios e técnicas necessários para a resolução de problemas relacionados a esta especialidade" (AGÊNCIA COFFITO, 2008). Segundo a Agência Coffito (2008), o voto favorável do relator do projeto abre uma possibilidade destas equipes começarem a contar com um fisioterapeuta. O Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (Coffito) que acompanha essas discussões elogia empenho dos parlamentares para efetivar tal ação. O presidente do Coffito, Dr. Euclides Poubel e Silva destaca que esta sempre foi uma luta árdua, que agora recebe o reconhecimento dos parlamentares. Para ele esta foi uma vitória importantíssima da Terapia Ocupacional e da Fisioterapia, possibilitando às duas profissões, estabelecer uma relação de proximidade com a população, além de cumprir com o papel de atuar na prevenção à saúde, meta do programa para reduzir as internações hospitalares e, conseqüentemente, os gastos públicos com esse tipo de ação de saúde. O Coffito acredita que os inúmeros trabalhos e experiências dos terapeutas ocupacionais e fisioterapeutas nos 16 anos de implementação do Programa de Saúde da Família demonstram a necessidade dessas categorias integrarem esse grupo buscando a consolidação de uma equipe interdisciplinar. A fisioterapia poderá dessa forma contribuir em áreas como na saúde da mulher, trabalhando com grupos de gestantes dando orientações que irão prepará-las para o parto, além de Inserção do fisioterapeuta no programa de saúde da família: uma proposta ética e cidadã 24 C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.3, n.1, p.12-29, jan./dez. 2010 desenvolver exercícios respiratórios, necessários para uma gestação sem riscos. Na saúde do trabalhador dando orientações sobre postura e investindo na reeducação postural. A luta ainda não terminou, pois o projeto ainda tem de ser aprovado na Comissão de Finanças e Tributação, além da de Constituição, Justiça e Cidadania (AGÊNCIA COFFITO, 2008). Todavia as políticas municipais têm se organizado com base no Programa de Saúde da Família (PSF), que se perpetua no nível da atenção básica e persegue o objetivo final de promover a qualidade de vida e bem estar individual e coletivo, por meio de ações e serviços de promoção, proteção e recuperação da saúde. Mas a presença escassa do Fisioterapeuta no PSF ainda é questionada. O que falta aos conselhos e associações profissionais destas áreas é uma proposta do que pode ser feito na organização desses serviços nos municípios, dentro de uma visão de saúde pública. Sob um olhar crítico, seria de grande importância a inserção e a importância da atuação social deste profissional, em especial no Nordeste brasileiro (BARROS, 2002). A atenção primária prevê a resolutividade das necessidades desaúde que extrapolam a esfera de intervenção curativa e reabilitadora individual, através da promoção da saúde, prevenção de doenças e educação continuada (PAIM; ALMEIDA FILHO, 1998). O sistema único de saúde tem apresentado resultados positivos nos propósitos de universalização, descentralização e ampliação de cobertura dos serviços de saúde. Avança com mais dificuldade na garantia da qualidade, equidade e na resolutividade da assistência ambulatorial e hospitalar, principalmente, pela falta de profissionais habilitados a prestar assistência integral de saúde (BADUY; OLIVEIRA, 2001). Para solidificação e inserção do Fisioterapeuta no Programa Saúde da Família (PSF) faz-se necessária uma adaptação dos profissionais de saúde à nova estratégia, abordando como eixos principais a universalidade, equidade, integralidade e a saúde vista em sua positividade. A Fisioterapia nos tempos passados adotou como foco de trabalho a exclusividade ao indivíduo doente, só que agora com sua inclusão gradual no PSF também torna-se um grande responsável GAMA, K. C. S. D. C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.3, n.1, p.12-29, jan./dez. 2010 25 pela mudança na abordagem, visando a não exclusividade do doente e sim a família como um todo (GALLO, 2005). A saúde da família consta de cuidados imprescindíveis para assegurar aos cidadãos serviços de qualidade. Nos PSF’s existem programas que visam controlar determinadas campanhas, como por exemplo a campanha para a minimização do Diabetes Mellitus. Porém existe a necessidade de implantação de campanhas preventivas abordando temas voltados à reabilitação, osteoporose, hipertensão, AVC, entre outras patologias (CLAVE, 2008). E é exatamente neste ponto que também entra o profissional Fisioterapeuta, seja na própria unidade de Saúde de Família, como também se estendendo para o atendimento à domicílio daquela população circunscrita àquele PSF, àquele bairro, etc. Em relação ao trabalho do Fisioterapeuta no PSF, de acordo a Organização Mundial da Saúde (OMS) a Assistência Domiciliar como fornecimento de serviços de saúde por prestadores formais e informais objetiva promover, restaurar e manter o conforto, função e saúde das pessoas num nível máximo, inclusive abrangendo cuidados para uma morte digna. Estes serviços de assistência domiciliar podem ser classificados nas categorias de preventivos, terapêuticos, reabilitadores, acompanhamento por longo tempo e cuidados paliativos (BARROS, 2002). O Atendimento Fisioterapêutico a Domicilio é um serviço disponibilizado aos pacientes que apresentam qualquer impasse para realizar o seu tratamento fisioterápico em clínicas, Hospitais e mesmo no PSF do seu bairro, sendo por motivos de transporte, tempo, distância ou condições físicas, entre outros. O profissional Fisioterapeuta atende, trata e reabilita na casa do paciente, a depender das suas necessidades. O Fisioterapeuta atua nos distúrbios Neurológicos da criança, adulto e do idoso (AVE, TCE, TRM, Paralisia cerebral, Parkinson, etc), Ortopédicos (fraturas, entorses, contusões, coluna vertebral, postura, etc), Respiratórios (Asma, DPOC, Bronquite, etc), como também na Saúde Mulher (Gineco-obstetrícia, insuficiência urinária, etc), incluindo promoção de saúde, prevenção de doenças e qualidade de vida para a população em geral (ARRUDA, 2006; DUMAS, 2007). Inserção do fisioterapeuta no programa de saúde da família: uma proposta ética e cidadã 26 C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.3, n.1, p.12-29, jan./dez. 2010 Ao ser constatado uma melhora por parte do paciente e também sua possibilidade de se dirigir ao ambulatório, o fisioterapeuta deve tentar encaminhá-lo para que ele possa interagir com a sociedade não se limitando apenas ao ambiente familiar (ARRUDA, 2006). Para a concretização da entrada do Fisioterapeuta na equipe do Programa Saúde da Família (PSF) faz-se necessária uma adaptação e a integração dos profissionais de saúde à nova estratégia, colocando como prática diária os princípios do SUS, abordando como eixos principais a universalidade, equidade, integralidade e a saúde vista em sua positividade (GALLO, 2005). A integração entre os membros da equipe permite que os profissionais troquem informações relacionadas aos pacientes para tomar a conduta adequada de acordo com cada necessidade identificada pela equipe. O fisioterapeuta como também cada membro da equipe tem o seu papel no Programa, e desempenhá-lo com dedicação torna o trabalho gratificante e reconhecido pela comunidade e equipe. O trabalho em equipe é muito importante para dispensar assistência integral ao paciente e família. Quando todos os membros conhecem as necessidades das famílias, a abordagem acontece em sua totalidade e é mais eficaz, pois toda a equipe participa do acompanhamento (OLIVEIRA; SPIRI, 2006). O complexo família/paciente sente- se satisfeito ao ter seus problemas resolvidos e consegue confiar na equipe permitindo maior envolvimento. O vínculo estabelecido melhora a qualidade da assistência porque o paciente/família aderem ao Programa e participam nas intervenções, além de possibilitar que as confidências pessoais ocorridas nas visitas domiciliares desenvolvam a compreensão de necessidades dos sujeitos e a ética das relações. A população reconhece o desempenho dos profissionais e a efetividade do trabalho, o que facilita a disseminação do Programa (GONÇALVES; MILGLIORINI, 2007). 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Nesta perspectiva, fica evidente a necessidade de estudos para aprimorar não só o conhecimento sobre o Programa de Saúde da Família, como também a associação entre PSF e a inserção do GAMA, K. C. S. D. C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.3, n.1, p.12-29, jan./dez. 2010 27 Fisioterapeuta neste programa. Para alcançar os objetivos propostos, torna-se necessário o incentivo a educação permanente como estratégia na reorganização dos serviços de saúde, integrando todos os membros envolvidos no processo e fazendo do PSF junto à implementação da Fisioterapia, uma proposta ética e cidadã. INSERTION OF THE PHYSIOTHERAPIST IN THE FAMILY HEALTH PROGRAM: A PROPOSAL ETHICS AND CITIZENS ABSTRACT The Family Health Strategy (PSF) provides a new paradigm for the organization of health work. Implementing in 1994, Family Health is guided by the work of all health professionals in full-time, in more precise delimitation of the territory and radical performance of the teams in the availability of services close to where people live or work and shared responsibility among federal, state, municipal and composition of multidisciplinary teams. Allied to this, shows the incorporation of community participation in team work, the bond of professionals with individuals and families, including the qualifications of professionals to increase their knowledge, attitudes and skills appropriate to the new model. The inclusion of physiotherapist services in primary health care is an evolving process, associate, particularly the creation of the profession by labeling the physiotherapist as rehabilitation, returning to themes for a small portion of its work object, which is to treat disease and its sequelae. This logic of conceptualization, havelong been excluded from the basic network services of physiotherapy, causing great difficulty for the population's access to this service and preventing professional work in primary care by the PSF. Based on this approach the objective of this study was to review the literature on the insertion of the physiotherapist in the PSF. We consulted the databases of BIREME (Liliacs and Medline), Scielo and Google academic program using family health, Physiotherapy, Insertion, Team, Insert; and the time of publication from the year 1994, year of implementation of the PSF. Keywords: Program Family Health. Physical Therapy. Team. Insert. Artigo recebido em 23/07/2010 e aceito para publicação em 19/09/2010 Inserção do fisioterapeuta no programa de saúde da família: uma proposta ética e cidadã 28 C&D-Revista Eletrônica da Fainor, Vitória da Conquista, v.3, n.1, p.12-29, jan./dez.2010 REFERÊNCIAS AGÊNCIA COFFITO. PL que beneficia categoria no PSF avança no Congres- so.Rev. Eletrônica Mundo Fisio, [S.l.], mar. 2008.Disponível em:<http://www. mundofisio.com/index.php? option= com _content& view =article&id=66:fisioterapia- no-psf&catid=26&Itemid=61 >. Acesso em: 20 dez. 2009. ANDRADE, L. O. M. SUS passo a passo: gestão e financiamento. São Paulo: Huci- tec, 2001. ARRUDA, A. D. et al. 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