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C A R O L I N E R I B E I R O , G E R M A N A R E Z E N D E , G I S L E I S P O S I T O , I D E M A R S A N T O S , J O Ã O V I T O R C A M P O S , K A R L L O S P R I S C I N O T T E , M I G U E L N E T O E W E N D E R P I M E N T A TROMBOEMBOLISMO PULMONAR Apresentação do caso Identificação: Feminino, 29 a, não fumante, escrivã de polícia, natural e procedente de São Paulo - SP Queixa Principal: Perda de peso HDA: Admissão no serviço em Dezembro – 2009, com história de dispneia de início súbito há 3 semanas, dor torácica em hemitórax esquerdo ventilatório dependente, de média intensidade, associada a tosse produtiva e expectoração com estrias de sangue. Relatava atendimento médico há uma semana, quando recebeu tratamento com azitromicina por 5 dias, sem melhora do quadro clínico. Apresentação do caso Antecedentes pessoais: Negava doenças prévias. Fez de anticoncepcional oral por 3 meses, interrompido há 3 meses. Nulípara, negava abortamentos prévios. Hábitos: Nega tabagismo. Medicações em uso: Nega Exame Físico: REG, acianótica , T=36,9oC, FR=16 irpm, AP – MV + s/RA, ACV – RCR 2T s/ sopros , PA=140/90 mmHg, FC=112bpm, MMII – NDN Diagnóstico: Tromboembolismo pulmonar de baixo risco, associado a Síndrome do Anticorpo Antifosfolípide (SAAF). Tromboembolismo pulmonar - TEP Obstrução da artéria pulmonar ou seus ramos, pela impactação de partículas formadas por qualquer tipo de material insolúvel. ¡ Trombos (TVP), bolhas de gás, corpos estranhos, gotículas de gordura, líquido amniótico, células neoplásicas e êmbolos sépticos. Manifestações clínicas extremamente variadas, de assintomático à morte súbita. ¡ Carga embólica e função cardiorrespiratória basal ¡ Diagnóstico clínico – baixa especificidade e sensibilidade Tromboembolismo pulmonar - TEP Epidemiologia ¡ TEV – 100:100.000; dos quais 1/3 tem TEP associado ¡ Principal complicação pulmonar aguda em pacientes hospitalizados ¡ Predomina em doentes terminais, mas não é incomum em pacientes com bom prognóstico ¡ Terceira doença cardiovascular mais comum ¡ Mortalidade – 30% sem tratamento; 2-8% com tratamento Fisiopatologia Evento primário – deslocamento de um trombo (ou parte dele) do seu local de origem, indo parar na circulação pulmonar ¡ A embolização pode ser múltipla, com êmbolos de várias idades ¡ T r í a d e d e V i r c h o w : e s t a s e , l e s ã o v a s c u l a r e hipercoagulabilidade Consequências ¡ Pulmonares: hipoxemia, taquidispnéia ¡ Cardiovasculares: hipertensão pulmonar aguda, infarto de VD, redução de DC (cor pulmonale agudo) Consequências pulmonares do TEP Hipóxia ¡ Aumento do espaço morto fisiológico (surgimento de regiões bem ventiladas e mal perfundidas) ¡ Atelectasia do parênquima não afetado (queda na produção do surfactante por liberação de mediadores inflamatórios e inibição dos pneumócitos II) ¡ Broncoespasmo difuso ¡ Shunt direita esquerda Taquidispnéia ¡ Hiperventilação reflexa à liberação de mediadores inflamatórios (ativação dos receptores J alveolares) Consequências pulmonares do TEP Evento tromboembólico Aumento do espaço morto fisiológico Isquemia alveolar Inibição dos pneumócitos II Atelectasia de áreas saudáveis com shunt DE HIPÓXIA Taquidispnéia Liberação de medicadores (serotonina, troboxano) Redução da perfusão pulmonar Consequências cardiovasculares do TEP Hipertensão pulmonar aguda ¡ Aumento da resistência vascular pulmonar ÷ Obstrução mecânica pelos êmbolos ÷ Vasoespasmo secundário à liberação dos mediadores inflamatórios ÷ Vasoconstrição pela hipoxemia (redução da PaO2) Dilatação de VD ¡ Diminuição do débito por aumento na pós carga Infarto de VD ¡ Redução do fluxo coronariano pela dilatação extrema Cor pulmonale agudo ¡ Queda do DC por abaulamento do septo interventricular Consequências cardiovasculares do TEP Hipertensão pulmonar aguda Queda do débito de VD Dilatação de VD Infarto de VD Aumento da resistência coronariana Abaulamento do septo interventricular Cor pulmonale agudo Redução do volume de VE Aumento da pós carga de VD Fatores predisponentes Trombofilias Hereditárias ou adquiridos Congênitos: ¡ Fator de Leiden (resistência a proteína C) ¡ Mutação do gene pro trombina C ¡ Deficiência de anti-trombina III ¡ Deficiência de proteína C ¡ Deficiência de proteína S Fatores predisponentes Fatores adquiridos: ¡ Síndrome do anticorpo antifosfolipidio ÷ síndrome de Hughes ÷ Níveis séricos de anticorpos antifosfolipideo ÷ Causa adquirida mais comum de trombofilia ÷ Trombose venosa e arterial ¡ Hiper-homocisteinemia ÷ ( ê B12, ê B6 , ê Folato) ÷ é TNF-α à Trombose e Disfunção endotelial ÷ Idosos Fatores predisponentes TEV prévio ¡ Temporário ¡ Permanente Idade Obesidade ¡ IMC > 40 (TEV 3x) Tabagismo Traumas Graves ¡ Imobilização/Trauma/Resposta inflamatória ¡ 60% causam TVP ¡ Ileofemorais 50% fazem TEP Fatores predisponentes Cirurgia Recente ¡ Ortopédicas, vasculares e oncológicas Viagens Prolongadas ¡ Síndrome da Classe econômica Câncer ¡ Secreção de fatores pró-coagulantes ¡ Presença de cateteres venosos ¡ Quimioterapias ¡ Compressão Vascular Fatores predisponentes Gravidez ¡ Compressão da cava pelo útero ¡ Trauma durante o parto ÷ Cesariana ¡ Hipercoagulabilidade ÷ Fatores I II VII VIII IX X ÷ ê Proteina S ACO e TRH Fatores predisponentes Trombocitopenia relacionada a heparina Vida sedentária Doenças clínicas que levam a hipercoagulabilidade Quadro Clínico Quadro Clínico Hemoptise, dor e atrito pleural, febre, flebite e taquicardia ocorrem com frequência A tríade dor torácica, hemoptise e doença venosa periférica é encontrada em apenas 13% dos casos A presença de dor retroesternal está presente em 30% dos casos, provavelmente relacionada à: ¡ Hipoperfusão coronariana ¡ Pericárdio parietal ¡ Distensão súbita da artéria pulmonar ¡ Isquemia da parede do VD Cianose, taquicardia, pressão venosa central elevada e ritmo de galope audível no bordo esternal esquerdo são encontrados em 75% dos casos Cerca de 30% desses pacientes evoluem com instabilidade hemodinâmica Quadro Clínico A hipoxemia é achado frequente, mas inespecífico, em portadores de TEP sem doença cardiopulmonar prévia As principais causas de hipoxemia são: ¡ Presença de espaço morto alveolar ¡ Vaso e broncoconstrição reflexa ¡ Deficiência de produção de surfactante, com consequente colapso alveolar A presença de áreas hipoperfundidas, mas com ventilação normal, causa desequilíbrio na relação ventilação/perfusão (efeito espaço morto) Pode haver desvio de fluxo sanguíneo para áreas não embolizadas, promovendo predomínio da perfusão sobre a ventilação (efeito shunt) A constrição de ductos alveolares pode reduzir o volume pulmonar com elevação da cúpula diafragmática e atelectasias DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Pneumonia Asma DPOC Insuficiência Cardíaca Congestiva Pancreatite Pleurite aguda (viral, autoimune), Pneumotórax DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Síndromes osteoarticulares da caixa torácica Síndrome coronariana aguda Ataque de pânicoDIAGNÓSTICO Não há como estabelecer ou excluir um diagnóstico de TEP utilizando apenas os dados clínicos básicos (anamnese + Exame Fisico). É preciso realizar certos exames complementares. O que fazer então??? É óbvio que nem toda dispneia é TEP, assim como nem toda dor na perna é TVP, o que na prática quer dizer que nem todos os pacientes com tais queixas merecem ganhar uma bateria de exames específicos(e caros) para investigar TEP. DIAGNÓSTICO Ø Escore de Wells Avaliar a probabilidade clínica do TEP DIAGNÓSTICO Exames Complementares Gasometria arterial - PaO2 (< 80mmHg) / PaCO2 (< 35mmHg) D-dímero - Produto de degradação da fibrina. - Tem alta sensibilidade e baixa especificidade. - É utilizado para exclusão diagnóstica, ou seja, exclui o diagnóstico de TEP se for negativo (< 500 µg/L) no paciente com baixa probabilidade. - Pode estar aumentado em outras situações: câncer, no pós-operatório, gestação, puerpério, doença vascular periférica, insuficiência renal, sepse, doenças inflamatórias. DIAGNÓSTICO Exames Complementares Rx de Tórax - Atelectasias laminares nas bases, elevação da cúpula frênica, derrame pleural. - Sinais clássicos: Oligoemia regional, aumento das artérias pulmonares centrais, opacidade periférica em cunha. DIAGNÓSTICO Exames Complementares OBS1: No Rx de Tórax, os achados são raramente conclusivos, sendo mais importante para o diagnóstico diferencial. OBS2: Um Rx de Tórax normal na presença de dispnéia de causa não definida reforça a suspeita de TEP. DIAGNÓSTICO Exames Complementares ECG - Geralmente está alterado com achados inespecíficos na maioria das vezes. - Achados de sobrecarga do ventrículo direito: I- Desvio do eixo QRS para direita. II- Inversão de onda T nas precordiais V1 – V3. DIAGNÓSTICO Exames Complementares ECG III- Bloqueio de ramo direito. IV- Síndrome S1-Q3-T3 ( Cor pulmonale). Onda S em V1, onda Q em DIII e inversão de onda T em DIII Ecocardiograma transtorácico - Apresenta baixa sensibilidade para o TEP. - Exame útil para estratificação do risco e determinação do prognóstico. DIAGNÓSTICO Exames Complementares Ecocardiograma transesofágico - Teste diagnóstico de primeira escolha nos pacientes com instabilidade hemodinâmica severa e/ou durante a ressuscitação cardiopulmonar. Pode ser usado para demonstrar a presença de trombos tanto no tronco quanto nos principais ramos da artéria pulmonar. Em pacientes instáveis, cujo transporte intra-hospitalar seja de alto risco (ex.: até o aparelho de tomografia ), o uso dessa técnica permite uma comprovação mais fácil do diagnóstico, até porque são esses os doentes com maior probabilidade de apresentarem tal achado. DIAGNÓSTICO Ø Exames complementares Ultrassonografia com Doppler MMII - Acurácia de 99% na TVP proximal. - Acurácia de 90% na TVP distal. Cintilografia pulmonar ventilação – perfusão - Exame normal exclui o diagnóstico de TEP. DIAGNÓSTICO Cintilografia pulmonar ventilação – perfusão - Exame revelando alta probabilidade para TEP no paciente com alta probabilidade clínica, confirma o diagnóstico de TEP. - Exame com resultados intermediários são inconclusivos. DIAGNÓSTICO Ø Exames complementares Angio-TC de tórax: - Método mais reprodutivo que a cintilografia. - Apresenta a vantagem de avaliação detalhada do parênquima pulmonar, do espaço pleural, mediastino e grandes vasos. OBS: Além de investigar o TEP é um excelente método para o diagnóstico diferencial. DIAGNÓSTICO Ø Exames complementares Angio-RNM de tórax: - Indicado como alternativa à Angio-TC nos pacientes com alergia ao contraste iodado. - As principais desvantagens são: 1- Custo mais elevado. 2- Maior complexidade. 3- Menor disponibilidade. 4- Dificuldade de monitorar pacientes graves. DIAGNÓSTICO Ø Exames complementares Arteriografia pulmonar - Método padrão ouro para o diagnóstico. - Indicado nos pacientes: 1- Estáveis com resultado de exames não invasivos inconclusivos ou discordantes. 2- Instáveis com contra-indicação de uso de t rombol í t i co , ou se ja , com ind icação de trombectomia por cateter. DIAGNÓSTICO As principais desvantagens da arteriografia pulmonar são: a invasibilidade e a pouca disponibilidade. ALGORITIMO DIAGNÓSTICO PACIENTE ESTÁVEL ALGORITIMO DIAGNÓSTICO PACIENTE ESTÁVEL ALGORITIMO DIAGNÓSTICO PACIENTE INSTÁVEL ALGORITIMO DIAGNÓSTICO PACIENTE INSTÁVEL Estratificação de Risco Devemos sempre lembrar a possibilidade de TEP aguda frente a alguns cenários clínicos: (a) Sintomas torácicos agudos na presença de TVP aguda, antecedentes de TEV, fatores de risco, síncope, pós-operatórios, periparto ou puerpério; (b) Pacientes criticamente enfermos ou com trauma; (c) Pacientes com taquiarritmias súbitas e inexplicáveis, principalmente se apresentarem fatores de risco; (d) Pacientes com arritmia crônica e que se apresentam com dor pleurítica e hemoptise súbitas; (e) Descompensação inexplicável de insuficiência cardíaca ou de pneumopatia crônica; (f) Parada cardiorrespiratória. Estratificação de risco A probabilidade de TEP a partir da suspeita pode ser: ¡ 1) alta (subgrupo com prevalência igual ou maior de 80%) se houver um ou mais fatores de risco maiores conhecidos acompanhados de sintomas agudos não explicados por outra causa. ¡ 2) baixa (subgrupo com prevalência de 10% ou menos), quando não são identificados fatores de risco e as anormalidades clínicas são explicáveis por outros diagnósticos. ¡ 3) intermediária, quando houver uma combinação dos fatores descritos acima. Uso de escores clínicos O uso de escores clínicos para determinar a probabilidad e de tromboembolismo pulmonar (TEP) tem um papel muito importante na suspeita clínica desta doença Um escore que defina TEP como improvável, associado a um Ddímero normal, pode excluir o diagnóstico de TEP sem a necessidade de exames de imagem, como a tomografia (TC) Dois escores (Welss e Geneva) foram bem validados para a avaliação de TEP Escore de Welles Escore de Genebra Aplicações para a prática clínica Trata-se de um estudo multicêntrico, de coorte, prospectivo em pacientes internados ou não com o diagnóstico suspeito de TEP (dispneia súbita, piora de dispneia prévia ou dor pleurítica aguda). Este estudo mostra que os dois escores originais, Wells e Geneva, e suas versões recentes simplificadas tiveram um desempenho comparável. Um escore indicando baixa probabilidade de TEP associado a um valor normal de D-dímero exclui TEP em 99,5% dos casos, um resultado excelente. Usar apenas a suspeita clínica e um resultado de D-dímero não é a melhor abordagem, uma vez que ocorrem muitos resultados falso-negativos . Assim, o uso de um escore para avaliar a probabilidade de TEP em caso de suspeita clínica é um passo fundamental no diagnóstico destes pacientes. Segundo este estudo, o escore a ser usado é indiferente. Tratamento Heparina de baixo peso molecular (HBPM)- 1u/kg Heparina não fracionada Anticoagulantes orais Trombolíticos Tratamento Cirurgia ¡ Embolectomia- TEP maciça com contraindicações ao uso de trombolíticos. Filtro de veia cava ¡ Prevenção de TEP em pacientes com contraindicação à anticoagulação ou recorrência do TEP apesar do uso de anticoagulantes. Tratamento Prevenção ¡ Mecânica: meias de compressão e filtros de veia cava inferior. ¡ Heparina-anti coagulante.
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