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Texto principal
CHASIN, José. A miséria brasileira. 1964-1994: Do golpe militar à crise social. Santo André: Ad Hominem, 2000. (“A via colonial de entificação do capitalismo”, p. 37-58).
Texto complementar
COTRIN, Lívia. O capital atrófico: da via colonial à mundialização. IN: CHASIN, José. A miséria brasileira. 1964-1994: Do golpe militar à crise social. Santo André: Ad Hominem, 2000. (pg. I a pg. XXXIV).
Reconhecimento de que há modos e estágios de ser, no ser e no ir sendo capitalismo, que não desmentem a universalidade de sua anatomia, mas que a realizam através de objetivações específicas.
O capital industrial é a forma fundamental do regime capitalista, sob a qual este impera sobre a sociedade burguesa”. As formas particulares não clássicas de objetivação do capitalismo revelam-se, em ponto essencial, precisamente em relação ao processo de industrialização.
Formas de objetivação do capitalismo
Universais
 
Particulares
Via Clássica
 
Via Prussiana
Via Colonial
Inglaterra, França, EUA
 
Alemanha, Itália
Brasil, Argentina, Chile
“Via prussiana” e “Via colonial”
Determinações gerais ou comuns entre a “via prussiana” e a “via colonial”
 
Determinações particulares ou específicas entre a “via prussiana” e a “via colonial”
 
1. Grande propriedade rural
 
 
1. No caso alemão, grande propriedade rural proveniente da propriedade feudal, no caso brasileiro latifúndio procedente da economia mercantil da empresa colonial.
2. Reformismo pelo alto (ausência de rupturas superadoras)
 
3. Desenvolvimento lento das forças produtivas
 
Enquanto a industrialização alemã é das últimas décadas do século XIX e alcança e vive o estágio imperialista do início do XX, no Brasil, esse processo a industrialização é muito mais tardia, somente na década de 1930 ocorre o fim da hegemonia agrário-exportadora e o início da predominância da estrutura produtiva de base urbano-industrial.
4. Implantação e desenvolvimento tardios da indústria.
 
Para caracterização mais geral
Capitalismo/ via colonial: sua face é a de um embrião maldito condenado a uma gestação eterna. Cresce e encorpa na reprodução de sua incompletude, engrossando sempre mais os cordões umbilicais que o atam às fontes que o tolhem e subordinam. A esquerda brasileira, portanto, não nasceu contra a cabeça e o corpo de um antigo revolucionário. Não se deparou com uma entificação histórico-social integralizada. Viu-se em face da integralização histórico-social de um inacabamento. Bracejou no abismo do inacabamento do capital, convertida em empreiteira de uma obra por finalizar. Obra que, sob a mesma planta, jamais poderia ser sua. Posta entre a mera possibilidade genérica de uma revolução abstrata, e a realidade concreta de um capital incompleto e incompletável, a esquerda sucumbe, naturalmente, à presença real e às tensões e pressões efetivas da segunda. É urgente recomeçar.
Para caracterização mais geral
A conjunção entre o embrião maldito do capital incompletável e a insubstancialidade teórica e prática, até hoje, da esquerda organizada, é determinação da miséria brasileira: Compreende processo e resultantes da objetivação do capital industrial e do verdadeiro capitalismo, marcados pelo acentuado atraso histórico de seu arranque e idêntico retardo estrutural, cuja progressão está conciliada a vetores sociais de caráter inferior e à subsunção ao capital hegemônico mundial.
Da esquerda: ultrapassando e excluindo os itinerários impossíveis do distri­butivismo e da concludência do capital, a esquerda poderá ultrapassar o espaço teórico do capital e compreender, então, que ao invés de tentar completar o incompletável ou de tentar impelir a ferocidade do capital atrófico à brandura, trata-se, isto sim, de “recusar a conta”, ou seja, de principiar sua desmontagem. Num primeiro, mas talvez longo momento, reordenação na vigência ainda do modo de produção atual, mas de tal ordem que implicasse um montante significativo de “desarrumação” e “desmontagem” de porções e aspectos de seu aparato. Em lugar do pacto social, a propositura e a luta por uma política econômica da perspectiva do trabalho. Em lugar do pacto político, o pacto do trabalho que, rompendo as fronteiras do politicismo, matriza a política pela anatomia do social.
Ilustração:
Análise da crise do chamado “Milagre Econômico”,
na década de 1970
História brasileira: “rica” em ditaduras/ autocracias (monarquia, república dos governadores, Estado Novo, Ditadura de 64) e “milagres” (cana-de-açúcar, mineração, café, industrialização subordinada), pobre de soluções econômicas de resolução nacional e carente de tradição democrática.
Ilustração:
Análise da crise do chamado
“Milagre Econômico”, na década de 1970
A crise atual é a crise do último milagre: industrialização subordinada, estrutura da produção material que vertebra a totalidade. Esta a referência para analisar a crise, extrair consequências para programas políticos, “pois que é de política, acima de tudo, que aqui se trata, e de política na perspectiva das massas”. O “milagre” é um fracasso: 1. distribuição negativa/ miséria das classes subalternas e da força de trabalho (a oposição não entende a relação produção/distribuição); 2. fase/ estrutura de acumulação limitada/ esgotada (oposição obliterada para o entendimento). 
Ilustração: Análise da crise do chamado
“Milagre Econômico”, na década de 1970
Mecanismos principais do milagre (industrialização subordinada ao imperialismo/ neocolonialismo): 1. produção de bens de consumo duráveis (arrimo: indústria automobilística) para absorção de uma fatia privilegiada do mercado interno, 2. esforço exportador, mantendo a tradicional dimensão exportadora da economia brasileira, baseada em bens primários, buscando agregar um componente de bens manufa­turados; 3. necessidades sociais internas desatendidas; 4. concentração de renda e miséria social, decorrência da organização da produção.
Problema do Programa: 1. enfrentamento de qualquer política econômica aviltadora/ superesploradora da classe trabalhadora; 2. defesa e luta por uma correta participação do estado nas atividades econômicas do país; contra a desnacionalização da economia, a favor de uma intervenção que venha a ganhar progressivamente funções de ordem social; imediatamente: investimento na indústria de base; 3. luta pela questão agrária, e pela questão da institucionalidade democrática efetiva.
Problema da Frente: uma verdadeira frente ampla é a articulação de forças sociais distintas e contraditórias, que assim se mantém, mas que convergem um programa dado, num histórico determinado; articulação efetiva de concretos componentes sociais, a partir das massas, das quais a cúpula dirigente é articuladora, mobilizadora, mas sob cujas perspectivas históricas se põe; crítica: ao formalismo, taticismo, manipulação, esperteza). A frente de massas pode dar consecução ao programa. Posição de Chasin: democracia no Brasil conquistada a partir das bases nacionais, da base econômica e da base de massas.
Sobre o primeiro governo FHC, meados dos anos 1990
Reconhecimento do encerramento da via colonial
O centro lógico da programática governamental é regulado pela lógica sem precedentes da nova fase de acumulação ampliada do capital, ou seja, pelos nexos operantes do novo patamar tecnológico e da mundialização do mercado. Viragens deste fim de século. PERSPECTIVAS DE INTEGRAÇÃO E EXCLUSÃO. Ficou para trás a visão idílica do processo de globalização econômica. O sistema produtivo nacional, desde sempre, encarnou seus perfis e o teor de suas modernizações subordinado aos empuxos dos pólos hegemônicos mundiais. Não é diverso o que se passa agora, diante da mais radical das revoluções tecnológicas, combinada ao quadro da globalização econômica. Todavia, dada a qualidade e a envergadura destas e o próprio grau de desenvolvimento material alcançado no país, as margens de manobra nos ajustes e seus efeitos possíveis também se diferenciaram, ao mudarem de natureza. Para o bem e para o mal, aqui se fecha
e fica para trás um longo ciclo, cujas características dominaram a maior parte do cenário brasileiro neste século.
Sobre o primeiro governo FHC, meados dos anos 1990
Reconhecimento do encerramento da via colonial
Traços que, reduzidos ao essencial, conferiam ao país o semblante de uma entificação nacional que pelejava para completar sua formação capitalista, mas que reproduzia sempre, apesar da multiplicação das formas de crescimento e diversificação econômicas, a incompletude de seu capital e, por conseqüência, suas peculiares mazelas sociais e políticas. Toda essa problemática perdeu suas âncoras e se transfigurou, no bojo dos novos parâmetros internacionais do sistema de produção e circulação de mercadorias. Durante largo período a perspectivação do desenvolvimento brasileiro era dada por uma linha de para-autonomização nacional, à qual acriticamente a esquerda se atrelou. Rumo esgotado há décadas, chegam agora também ao fim os próprios vestígios da lógica do capital global que o suscitava ou, melhor, que o nutria como ilusão. Aflorava à época como possibilidade, entre real e aparente, nos contornos de uma produção de mercadorias internacional ainda delimitada ou de escala relativamente modesta, cuja circulação era efetivada, em regra, no âmbito bilateral de mercados mais ou menos restritos e cativos, sob a regência das potências centrais. E desaparecem até mesmo suas ilações mais remotas com a produção ampliada a grandezas sem limites e o intercâmbio comercial elevado ao primado das trocas infinitas e superpostas, sem embaraços de fronteira.
Sobre o primeiro governo FHC, meados dos anos 1990
Reconhecimento do encerramento da via colonial
De modo que crescer passou a supor a capacidade de ocupar nichos na infinitude da malha de produção atualizada, universo no qual os mercados interno e externo não mais se distinguem: ao capital social global corresponde agora o mercado único das trocas levadas ao paroxismo.

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