Buscar

CONHECIMENTO, VERDADE E CI�NCIA.pdf

Prévia do material em texto

1 
 
CONHECIMENTO, VERDADE E CIÊNCIA. 
Uma Introdução à Sociologia Jurídica.1 
 
 
Gilberto de Moura Santos2 
 
DO GEOCENTRISMO À RELATIVIDADE. 
 
Num determinado momento, ainda nos primeiros anos de vida, as crianças 
aprendem que há outros entes, outras pessoas tão importantes quanto elas. Assim, elas passam 
a tomar consciência de si ao tempo em que reconhecem os outros. Este não é um processo 
indolor, tampouco inexorável; algumas crianças “insistem em acreditar na teoria geocêntrica” 
e permanecem convictas de que são o centro do universo. 
Ainda antes da revolução copernicana, aquela que costuma arrebatar boa parte 
dos humanos, resgatando-os do geocentrismo, o infante atravessa uma avalanche de 
informações e comandos. Mas é sobretudo depois dela, da primeira revolução, que a 
enciclopédia de proibições e imposições ganha vulto. Nessa fase, as verdades ainda são 
inoculadas nas crianças, sendo assim, não há muito espaço para reflexão. 
Na adolescência ocorre outro choque. As verdades incontestes até então 
defendidas pelo jovem, verdades que, aliás, foram absorvidas quase que por osmose, perdem 
sentido. Aquilo que lhe soava familiar torna-se, de súbito, estranho. Trata-se de um autêntico 
conflito de gerações. Arredio, por vezes mal humorado, o adolescente passa a objetar as 
certezas que outrora lhes serviam plenamente. Ao turbilhão de hormônios, com as mudanças 
físicas que isto implica, adicionem-se as mudanças psicológicas que tornam o adolescente, via 
de regra, alguém desajustado pelo simples fato (nem tão simples assim) de ser um tipo de 
gente que não pode mais ser chamado de criança, tampouco de adulto. 
Essa revolução física, química e psicológica costuma arrefecer na mesma época 
em que o jovem consegue optar conscientemente em relação às verdades que quer seguir, dito 
 
1 O texto é uma compilação de aulas, artigos e outros tipos de comunicações empreendidos por este professor 
durante os poucos anos de sua carreira docente. 
2 Bacharel e Licenciado em Ciências Sociais, DCS, UFS; Licenciando em Música, NMU, UFS; Mestre em 
Sociologia, NPPCS, UFS. Atualmente leciona Sociologia e disciplinas afins, em níveis de graduação e pós-
graduação, e Música no Conservatório de Música de Sergipe. 
sociologia e antropologia cleverton
sociologia e antropologia cleverton
2 
 
de outra forma, a crise “termina” quando o jovem passa a fazer suas próprias escolhas, ainda 
que algumas delas coincidam com as orientações que lhes foram apresentadas anteriormente. 
O resultado desse processo, desta outra revolução (quando levada a bom termo), é 
o surgimento de um novo tipo de indivíduo: um adulto. O adulto, portanto, é aquela pessoa 
que toma decisões, que age conforme sua avaliação particular. Isso não quer dizer que as 
opiniões alheias não sejam levadas em consideração, pelo contrário, mas a reflexão orientará 
o adulto em sua trajetória. Não é demasiado lembrar que, a esta altura, este indivíduo já 
deverá estar liberado daqueles desajustamentos, como o complexo de Édipo, trazidos à baila 
por Freud. Em outras palavras, adulto é aquele indivíduo que não alimenta sentimentos 
possessivo-compulsivos em relação a suas mães – isto porque a figura da mãe pode ser 
substituída pelos amigos, pela igreja, pelo time de futebol, pela “pátria”. 
Essa é uma revolução necessária: aquela que faz emergir cidadãos autônomos. A 
formação superior pressupõe esta revolução que transforma absolutos em teses plausíveis, 
mas contestáveis. A formação universitária deverá disponibilizar as opções, o conhecimento 
necessário – embora não possa ser suficiente – para que se engendrem cidadãos cônscios de 
seus deveres e direitos. Aquele que passa pelo ensino superior deve discutir suas opiniões a 
partir de fundamentos verificáveis, mas também deve ter a coragem de questionar suas 
próprias convicções. Acreditar que uma tese pode ser falseada ou confirmada, a depender das 
circunstâncias, é um indício de maturidade; esta relatividade também é vital para o 
desenvolvimento do conhecimento. 
Portanto, se da crise da adolescência surgiu o adulto, da crise do conhecimento 
deverá emergir o intelectual, um indivíduo que conhece sua cultura, mas também a do outro. 
Este ideal universitário - a formação de um técnico, mas também de um intelectual - não é 
facilmente alcançado, por isso deve-se buscá-lo desde cedo. Disciplinas como filosofia, 
sociologia, psicologia, artes, poderão contribuir nesta empreitada na medida em que ampliam 
a percepção dos estudantes. Mas o caminho do conhecimento é bastante solitário, em que pese 
a companhia dos professores. Em alguns casos, aliás, esta companhia pode até se tornar 
inoportuna e danosa. O professor cumpre seu ofício quando inspira, orienta os alunos, não 
quando os carrega no colo. De qualquer modo, a participação do orientando, seu entusiasmo e 
dedicação são condições fundamentais neste processo. Há, porém, outras ferramentas 
imprescindíveis nessa jornada: os livros. 
3 
 
 
SOCIOLOGIA E ANTROPOLOGIA JURÍDICA, DIREITO E REALIDADE SOCIAL: 
UM DEBATE INTRODUTÓRIO.3 
 
 
Toda sociedade humana é um empreendimento de construção do mundo. (...) A 
sociedade é um fenômeno dialético por ser um produto humano, e nada mais que um 
produto humano, que no entanto retroage continuamente sobre seu produto 
(BERGER, 1985, p. 15). 
 
O debate acerca da relevância de disciplinas como Sociologia e Antropologia nos 
curso de Direito ainda não está encerrado. O lugar e a importância destas disciplinas ainda são 
questionados. Malgrado a controvérsia, há um fato inexorável do qual nenhum jurista poderá 
tergiversar: a existência do vínculo entre realidade social e doutrina jurídica independe de 
nossa vontade; não é necessário que o reconheçamos para que se estabeleça. Aceito o 
pressuposto, o projeto de uma disciplina especial, que estude a mutua relação entre Direito 
(normas e doutrina) e vida social (processos de socialização, cultura) ganha plausibilidade. 
Nesta perspectiva, surge a Sociologia e Antropologia Jurídica: da “necessidade de melhor 
compreender o direito como fato social, e não apenas como um conjunto de normas que 
formam um sistema lógico, disciplinador da vida em sociedade” (ROSA, 2004, p. 32). 
Há autores que não distinguem as diferentes perspectivas de análise do fenômeno 
jurídico. Para estes, a ciência do direito não poderá prescindir de uma análise sociológica ou 
antropológica. À esteira de Miranda Rosa, este texto admite a existência de (pelo menos) três 
modos de encarar o fenômeno jurídico, quais sejam: aquele relativo à atividade profissional 
do jurista ou operador do direito: conjunto sistemático de normas de conduta, a ciência 
dogmático-normativa do direito; o filosófico, que busca a significação, a essência do 
fenômeno jurídico, os princípios fundamentais, suas causas primeiras; e o sociológico (e 
antropológico), que toma o fenômeno jurídico como fato social, relacionado a outros. De 
qualquer modo, quem quer que se debruce sobre o estudo das ciências sociais com alguma 
dedicação perceberá que estas esferas se inter-relacionam, sendo assim, as três devem ser alvo 
de preocupação intelectual dos acadêmicos deste campo do conhecimento. 
Há de se constatar que as normatizações sofrem toda sorte de influências culturais, 
isto é, as normas de um grupo humano dado derivam também das condições organizativas, 
 
3 O texto é uma compilação de aulas ministradas pelo autor. Seu objetivo é menos defender uma tese específica 
do que iniciar uma discussão acerca de temas caros à disciplina em questão. Sendo assim, os “silêncios” que 
marcam o texto são intencionais: são pontos de partida para indagaçõese objeções felizmente empreendidas 
pelos alunos. 
sociologia e antropologia cleverton
sociologia e antropologia cleverton
sociologia e antropologia cleverton
sociologia e antropologia cleverton
sociologia e antropologia cleverton
sociologia e antropologia cleverton
sociologia e antropologia cleverton
sociologia e antropologia cleverton
sociologia e antropologia cleverton
sociologia e antropologia cleverton
sociologia e antropologia cleverton
sociologia e antropologia cleverton
sociologia e antropologia cleverton
sociologia e antropologia cleverton
sociologia e antropologia cleverton
sociologia e antropologia cleverton
sociologia e antropologia cleverton
sociologia e antropologia cleverton
sociologia e antropologia cleverton
sociologia e antropologia cleverton
sociologia e antropologia cleverton
sociologia e antropologia cleverton
4 
 
das formações sociais específicas da sociedade correspondente. O modo pelo qual o grupo 
interpreta, dá significado ao mundo, interferirá decisivamente na construção das normas. Se 
isso é verdade, não há como negar que a própria ciência que estuda este sistema normativo 
também sofra influências deste gênero. À guisa de introdução ao curso de Sociologia e 
Antropologia Jurídica, este trabalho apresentará quatro formas emblemáticas de representar, 
de dar sentido ao mundo. A cada uma delas corresponderá certo tipo de sociedade e, 
conseqüentemente, um determinado ordenamento jurídico. 
 
QUATRO FORMAS EMBLEMÁTICAS DE REPRESENTAÇÃO DO MUNDO 
A História nos revela que o sucesso da ciência como modo de explicação da 
realidade não se deve exclusivamente aos rigores do método, da forma, antes é a imaginação 
criativa do investigador que tem feito o conhecimento científico apresentar novas respostas a 
problemas nem sempre novos. O cientista é alguém que, antes de qualquer coisa, imagina. A 
ciência é, nesta perspectiva, uma abstração, um discurso sobre o mundo. Ela é uma forma de 
ver o mundo, não obstante a utilizemos quase que irrestritamente para explicá-lo. Se 
admitirmos o fato de que há diversos sistemas culturais, admitiremos também que há tantos 
outros modos de representar o mundo. 
Há outros sistemas que apontam visões de mundo distintas; alguns são tomados 
como inquestionavelmente verdadeiros. A representação científica, em virtude de sua 
natureza, é impedida de arvorar este caráter – o cientista e o filósofo sabem bem disso. De 
qualquer modo, não há uma hierarquia nas diferentes representações, antes existem 
peculiaridades, a despeito da hegemonia da Ciência. Façamos uma retrospectiva histórica, 
ainda que panorâmica e, em certo sentido, superficial, desse processo. Devemos perceber, 
com efeito, que a História não é linear, isto é, o pensamento humano e as condições sociais 
que lhes dão suporte não são necessariamente progressivos. Mas o que é representação? 
Representar um objeto – material, social ou ideal - significa criá-lo 
simbolicamente, fazer com que ele tenha um sentido para quem o representa, passando assim 
a fazer parte de seu mundo. Os objetos não são captados isoladamente pelos indivíduos, mas 
em determinados contextos e relações. Portanto, o sentido da representação de um objeto 
advém das relações com outras representações de outros objetos que formam um campo de 
representação. 
Os autores como Andrade (1999) defendem que o processo representativo é uma 
construção social da realidade, em nível simbólico, em que o sujeito deixa as marcas de sua 
identidade naquilo que representa. Num processo dialético, os homens constroem o mundo, 
5 
 
mas esta construção se objetiva de tal forma que se volta para seu artífice (cf. BERGER, 1985 
e BERGER & LUCKMANN, 2002).4 
Representação Mitológica 
Talvez a Mitologia tenha sido a primeira forma de representação humana. A 
representação dá sentido ao mundo, mas, em certo sentido, também dá sentido às nossas 
vidas. Como explicar uma tragédia, um desastre avassalador, a perda irreparável de um ente 
querido? Para a maioria dos sistemas mitológicos, os deuses dirigem a vida dos homens, 
portanto a dor torna-se suportável; o sofrimento ganha sentido (cf. GEERTZ, 1989). 
Fenômenos sociais, naturais ou psicológicos são, neste caso, explicados pela 
narrativa mítica: o mundo ganha significado! Estas narrativas, estas representações, são 
menos obra exclusiva de indivíduos especiais, do que construções sociais resultantes de 
processos sócio-histórico complexos. A legitimidade das narrativas pode variar, a depender 
das condições sociais dos grupos. No entanto, uma vez enraizadas estas representações no 
seio de uma sociedade, sobretudo nas simples, com baixa divisão social do trabalho (cf. 
DURKHEIM, 2004), sua força será gigantesca. Isto quer dizer que os indivíduos dessas 
sociedades “orientarão” suas ações com base na tradição, na concepção do mundo descrita 
pelo mito; em sua narrativa. 
O tradicionalismo é uma característica marcante deste tipo de representação. 
Sendo assim, razão e reflexão não incorporarão este sistema representativo. Neste contexto, 
não há espaço para contestações. Os indivíduos, orientados pelas representações mitológicas 
do mundo, raramente apresentam alternativas às explicações mágicas trazidas pelo mito. 
Quando isso acontece - quando emergem as contestações - é sinal de que a representação está 
perdendo força e a sociedade (suas bases materiais e sociais) está se transformando. É 
imperativo notar que sistema representativo e condições sócio-materiais são compatíveis, isto 
é, as condições sociais e matérias de uma sociedade sustentam as representações e vice-versa. 
A partir do séc. VIII a.C uma sociedade particular desenvolveu as condições para a superação 
desta visão: a Grécia. 
Representação Científico-filosófica. 
Mitos como aqueles sobre monstros aterrorizantes que habitavam mares 
tenebrosos e ilhas desertas começaram a ser desmascarados. A expansão comercial grega, por 
 
4 Os “passos” para essa produção, a construção da realidade social, o estabelecimento e manutenção da 
existência mesma da vida social, são assim denominados por Berger e Luckmann: exteriorização, objetivação e 
internalização. Diferente dos outros animais, os homens “se tornam”, este é um processo que ocorre “fora dele”. 
A construção da realidade é um fenômeno simbólico, mas tal realidade objetiva-se (coercitivamente, via de 
regra). A realidade é então internalizada, ou melhor, apropriada pelos indivíduos. 
sociologia e antropologia cleverton
sociologia e antropologia cleverton
sociologia e antropologia cleverton
sociologia e antropologia cleverton
sociologia e antropologia cleverton
sociologia e antropologia cleverton
parei aqui
6 
 
exemplo, contribuíra para esta façanha. A observação, portanto, foi um fator importante para a 
desconstrução da narrativa mítica, mas não o único. Na sociedade grega, em várias cidades-
Estado, a vida urbana, com todas as suas implicações, também corroborara para o surgimento 
de uma determinada percepção do homem em relação a si e ao mundo: os homens são 
responsáveis pela sua existência. 
As exigências dessa nova organização social, desta nova sociedade, não eram 
mais compatíveis com a representação mitológica do mundo. Destarte, era necessário 
desenvolver as técnicas comerciais, as leis, inclusive internacionais (em virtude do comércio), 
enfim, tudo o que a vida urbana demandava. Em boa parte das cidades gregas, desenvolveu-se 
um tipo de organização social – a democracia - em que alguns indivíduos participavam 
diretamente das decisões que afetavam a vida de todos; participavam na gerência dos 
negócios públicos: os cidadãos.5 Todo este cenário contribuiu parao enfraquecimento da 
representação mítica e emergência da Filosofia. 
Os fenômenos naturais passavam a ser interpretados e respondidos à luz da 
própria natureza, e não através de fórmulas alienígenas. A razão sistemática (aquela que 
ordena de forma coerente as sentenças que constituem os enunciados, cujos resultados 
deverão manter, igualmente, coerência com elas) passava a ser o critério de verdade desta 
representação: é verdade o que puder ser demonstrado racionalmente. Uma atitude que 
abandona a tradição irrefletida do mito e elabora uma outra: a tradição da reflexão. A 
reflexão, neste caso, é uma atitude absolutamente nova. Significa retornar ao próprio 
pensamento, tomá-lo como objeto de análise. Em outras palavras, duvidar das verdades 
apresentadas exteriormente e, ao mesmo tempo, estranhar aquelas com as quais já se convive 
pacificamente. 
Neste contexto, um escravo, ou qualquer outro indivíduo que mal possa resolver 
seus problemas imediatos e mais urgentes de sobrevivência, jamais poderia se dar ao luxo de 
filosofar. O filósofo (amigo da sabedoria) é alguém que, por motivos óbvios, dispõe de tempo 
livre; condições para pensar. Ele é um cidadão, normalmente, mas não necessariamente 
alguém abastado. Quem é o cidadão típico? É o homem grego proprietário. Este possui 
escravos que garantem sua sobrevivência, suas guarnições, portanto poderá participar das 
discussões políticas – na Ágora - e deliberar acerca dos rumos da cidade. 
As decisões que envolvem interesses coletivos muitas vezes contrariam interesses 
privados. Em uma palavra, as discussões dos cidadãos, estas deliberações, não podem ser 
 
5 É evidente a relação entre a emergência da urbanização, expansionismo e da democracia e a constituição de um 
novo ordenamento jurídico erigido em bases distintas daquelas verificadas em ordenamentos anteriores. 
7 
 
tomadas como atividades puramente baseadas na razão ou no bem senso, antes havia 
manobras, discursivas ou não, que influenciavam os resultados das dos pleitos; manobras que 
hoje conhecemos (ou achamos que conhecemos) bem. 
A atitude filosófica é, segundo Marilena Chauí, negativa: recusa das verdades 
impostas; dúvida. Mas também positiva, isto é, o homem constrói um tipo de indagação que 
poderá se dirigir a qualquer objeto. Esta atitude, que será denominada também de atitude 
crítica, baseia-se, entende a autora, em três conjuntos de questões: “O que é? Por que é? 
Como é?” (CHAUÍ, 1998, p. 12). Tais questões são aqui reformuladas: por quê? (a causa do 
pensamento; do que se diz; das ações); o quê? (o conteúdo do que se pensa; do que se diz; do 
que se faz); para quê (a finalidade). Esta atitude, como se percebe, é reflexiva, uma vez que 
representa um movimento de retorno; que busca uma razão (das coisas) inteligível ou que 
possa ser ensinada. 
Alguns fatores precipitaram o surgimento de uma nova representação do mundo 
que passou a abdicar do critério de verdade construído pela filosofia clássica. O crescimento 
da influência de correntes místicas na filosofia e a institucionalização do cristianismo são 
bons exemplos. 
Representação Teológico-religiosa: a Escolástica. 
A idéia de que a demonstração racional constituía o critério de verdade perdia 
força com o advento da Igreja Católica Apostólica Romana. Com a oficialização do 
cristianismo, a Igreja passou (num processo lento, mas progressivo) a monopolizar a produção 
do conhecimento. A liberdade de pensamento, característica das escolas filosóficas gregas, 
daria lugar a uma visão teológica disciplinada e monista, portanto inquestionável. Isso não 
quer dizer que não houvesse dissenso em relação a vários temas, no entanto, uma vez 
estabelecida uma verdade (pela Igreja), ela se tornava “a” verdade. Também é fato que depois 
da queda do Império Romano a Europa conviveu com um quadro religioso bastante 
heterogêneo, mas, à medida que a Idade Média avançava, o poder da Igreja de Roma se 
ampliava. Este poder não era apenas ideológico, antes contava com uma força material muitas 
vezes provada. 
A estrutura organizacional básica da Idade Média é o feudo: uma unidade 
político-econômica até certo ponto autônoma, caracterizada por uma produção material de 
subsistência e baixa divisão social do trabalho (DST). Naquela sociedade divida em 
estamentos (clero, nobreza e povo) cada indivíduo conhecia muito bem o seu lugar. A idéia de 
que um camponês poderia vir a se tornar um senhor feudal era tão absurda quanto a inversa. 
Não há pressões por novas descobertas ou técnicas: tudo está no lugar em que sempre deverá 
8 
 
ficar. As relações sociais são orientadas por uma tradição que remonta tempos imemoráveis. 
O servo está ligado ao feudo. Ele não vende sua força de trabalho; suas relações com o senhor 
são de outra natureza, de qualquer modo são determinadas tradicionalmente. 
Qual é o caráter dessa tradição, dessa moral que orienta as relações sociais, as 
representações, na Idade Média? É eminentemente religioso: a Igreja interpreta o mundo e 
estabelece os critérios de verdade, uma vez que é a porta-voz de Deus. A hierarquia terrena, 
estamental, é justificada pela teologia. Alias, as condições sociais ancoram-se reciprocamente 
nas representações. A despeito do poder coercitivo da Igreja, a representação religiosa do 
mundo encontra enorme ressonância na sociedade; ela é absolutamente válida e óbvia aos 
homens do medievo. A visão deste homem é essencialmente tradicionalista e não-racional, na 
medida em que toma um conhecimento exterior de forma irreflexiva como verdadeiro. 
O pensador de então está ligado à igreja. Ela é o centro de produção do 
conhecimento cujo objetivo é, com efeito, justificar as verdades teológicas. Em outras 
palavras, a filosofia (escolástica) é subalterna à teologia. O objeto das investigações, dos 
estudos e debates, não é outro senão Deus. O que era perfeitamente compreensível, dadas as 
condições sociais da época. Entretanto, o mundo começava a se tornar mais complicado e 
maior. Nesta perspectiva, as necessidades dos homens começam a se tornar de outra natureza. 
Um novo critério de verdade emergirá num mundo que possui novas necessidades. 
Representação Científica do mundo 
Alguns eventos são emblemáticos no processo de enfraquecimento da visão 
religiosa característica da Idade Média: o Renascimento, o Humanismo, a Reforma 
Protestante e o Experimentalismo (ver RUSSEL, 2001). O primeiro foi um movimento que 
possibilitou um redescobrimento da cultura greco-romana. Esta incursão nas artes e nas 
ciências clássicas, em face de seu caráter mundano, contrabalançou a visão dogmática da 
Igreja. O Humanismo foi outro movimento intelectual que pretendeu instituir como foco das 
investigações do homem o próprio homem: antropocentrismo. 
A Reforma Protestante exerceu um duplo papel no processo de enfraquecimento 
das idéias medievais. Em primeiro lugar, a concepção medieval de trabalho (que era visto 
como um fardo), de acumulação e usura (tomadas como pecado) foram revistas pela doutrina 
protestante. O trabalho passou a ser encarado como uma vocação, portanto a diligência em 
sua execução passava a se tornar regra moral. A acumulação e o posterior reinvestimento são 
valorizados e exaltados pela ética protestante, o que se contrapõe à visão tradicionalista 
medieval e favorece o surgimento do “espírito capitalista” (cf. WEBER, 1982 e 1996). 
9 
 
O fato de a Igreja Católica se apresentar como porta-voz de Deus, como 
mediadora entre o fiel e a salvação, ampliava muitíssimo o seu poder ideológico. O 
protestantismo atacaria esta doutrina e estabeleceria outra: o sacerdócio universal; cada 
homem e mulher poderá ter acesso direto a Deus. Esta questãoteológica implicará numa 
mudança muito mais abrangente, que envolve a emergência do individualismo e de uma 
conduta mais racionalizada – desencantamento do mundo. 
Considerações Finais 
Os descobrimentos, a urbanização, a industrialização, a concentração do poder e o 
consequente surgimento dos primeiros Estados Modernos, enfim, este novo mundo, com 
todas as novas necessidades e exigências, requeria um novo critério de verdade: a 
experimentação. Passava a se tomar como verdade aquilo que a ciência pudesse comprovar 
experimentalmente. Este processo de racionalização do mundo, segundo Weber, irá 
desencantá-lo, no entanto, aprisionará os homens numa gaiola de ferro. A assertiva de Weber 
nos faz refletir sobre o caráter “racional” da ciência. 
Afinal, quem age de forma reflexiva, racional e não tradicional atualmente? O 
cidadão médio dificilmente entende a estrutura do raciocínio científico utilizado na vida 
cotidiana. Este cidadão está à mercê dos médicos, advogados, engenheiros e tantos outros 
técnicos que empregam um conhecimento muitas vezes ininteligível ao homem comum. Na 
medida em que tomamos estes conhecimentos como verdadeiros, simplesmente porque 
“confiamos” neles, não estamos agindo muito diferentemente daqueles camponeses do século 
VIII a.C. Construímos este mundo, nós, os homens, mas tornamo-nos reféns dessa obra. 
Restam-nos duas alternativas: empreendemos aquela atitude crítica, que não se 
conforma com as verdades impostas, ou nos resignamos e permanecemos na caverna. O aluno 
do ensino superior, no entanto, só poderá optar por uma. 
10 
 
O QUE É SOCIOLOGIA: UMA PRIMEIRA LEITURA6 
 
 
Introdução. A sociologia é um projeto intelectual contraditório (ora progressista, 
ora conservador) que visa a compreender uma nova realidade social, resultante do 
desenvolvimento capitalista. Interesses econômicos e políticos influenciam a elaboração do 
pensamento sociológico, por outro lado, a sociologia quase sempre desejou interferir nos 
rumos da sociedade. 
Como qualquer outro saber, a sociologia não é neutra. As conseqüências desta 
produção devem ser discutidas em face das relações de poder existentes na sociedade. Ou 
seja, só poderemos entender as contribuições - e até as contradições – desta ciência no 
contexto histórico, sócio-econômico, que lhe serve de base. 
O Surgimento: a industrialização e suas conseqüências. Com o desenvolvimento 
da urbanização, impulsionada pelas desapropriações (dos meios de produção dos camponeses 
livres), começavam a entrar em cena duas novas “classes sociais”: a burguesia e o 
proletariado. Com o desmantelamento do sistema feudal, as cidades passavam a atrair um 
número cada vez maior de pessoas, seduzidas pela promessa de liberdade (das fábricas de 
tecido). 
Esta nova sociedade possuía interesses diferentes daqueles característicos do 
medievo. A produção de subsistência não tinha lugar neste novo cenário, ao contrário, era 
necessário aumentar a produção, incrementá-la. Para tanto, o emprego sistemático da 
observação e da experimentação, do método científico, como fonte para a explicação dos 
fenômenos da natureza passou a ser mais importante (enquanto critério de veridicidade) do 
que as “antigas verdades” apresentadas pela Igreja. A aplicação do método científico 
possibilitou uma grande acumulação de fatos; o estabelecimento de relações entre estes fatos 
ampliava o conhecimento e criava uma expectativa: a natureza pode ser explicada, controlada 
e dominada. 
Em consonância com este clima de otimismo quanto às possibilidades de 
estabelecimento da “verdade” (científica), a sociedade começava a se constituir em 
“problema”. Isto é, emergia um tipo de indagação racional que estendia o método científico 
de investigação da natureza à sociedade (a partir de seus grupos, não de indivíduos isolados). 
Sem este pressuposto seria impossível o estabelecimento de uma reflexão como a sociológica 
– que pretendia estabelecer as leis racionais segundo as quais a sociedade se organiza. 
 
6 Esta seção é uma síntese dos primeiros capítulos de MARTINS, 2004. 
11 
 
Manutenção ou superação da sociedade tradicional? Nem todos gostaram das 
mudanças que estavam em curso. A nobreza feudal via seus privilégios se esvaindo; para 
garantir seu tradicional status, lutou com todas as suas forças. Estes conservadores, no 
entanto, não conseguiram se sustentar por muito mais tempo: os ataques ao Antigo Regime 
vinham de todos os lados. 
O ataque iluminista, baseado em modelos científicos da época, pretendia 
demonstrar a irracionalidade e injustiça do Antigo Regime. Esta percepção logo alcançou o 
senso comum; seu poder, desse modo, ampliou-se. A burguesia reivindicava transformações 
na estrutura econômica e política da sociedade: abolição dos grêmios, corporações e dos 
privilégios patriarcais. Exigia também que a educação passasse a ser atribuição do Estado, 
com isto, pretendia influenciar o modelo de educação da época a seu favor. A idéia era que a 
educação deveria atender as exigências da vida moderna (entenda-se educar operários aptos 
para o labor na fábrica), e não reproduzir a visão da Igreja que, até então, era responsável pela 
educação. A burguesia, nesta perspectiva, reclamava pela autonomia do Estado em relação à 
Igreja. 
De revolucionários a conservadores. As revoluções Industriais e burguesas (a 
Inglesa, Americana e Francesa) fizeram emergir uma nova sociedade, uma nova classe 
dirigente: a burguesia. Tendo alcançado o poder político, a burguesia não cumpriu suas 
promessas e interrompeu a “revolução”, tornando-se conservadora. Um grupo de intelectuais, 
os positivistas, contribuiria para a realização desse feito: a “interrupção” e “estabilização da 
ordem”: os positivistas. 
Os positivistas. Estes precursores da Sociologia refletiam, no séc. XIX, sobre a 
natureza e as consequências da revolução que, para eles, trouxera anarquia, crises e desordem. 
Pensadores como Augusto Comte se propuseram a criar soluções para este cenário: encontrar 
um estado de equilíbrio na nova sociedade. Para tanto, era imperativo conhecer as leis que 
regeriam os fatos, os fenômenos sociais. 
Nesta perspectiva, a crítica iluminista que alimentara a revolução deveria ser 
substituída por uma visão que conduzisse à organização, ao aperfeiçoamento da sociedade: 
estabilização da nova ordem capitalista. As contestações, de acordo com esta visão, deveriam 
ser duramente combatidas e neutralizadas. 
O programa positivista era bastante ambicioso: conhecer e explicar a realidade 
social, as condições organizativas da sociedade. Mas isso não era tudo. Na medida em que se 
consideravam conhecedores (de fato ou em potencial) dessas leis que regeriam a realidade 
12 
 
social, os positivistas também se julgavam capazes de ordenar a sociedade; essa ordem traria 
o progresso do modelo capitalista e, consequentemente, da humanidade, segundo eles. 
A contribuição positivista é inegável: estes pioneiros ajudaram a formular uma 
indagação racional acerca da sociedade; uma reflexão desvinculada das tradições religiosas. 
Entretanto, também tornaram possível o reconhecimento (científico) de ideias absolutamente 
preconceituosas, tal como a tese de que há uma hierarquia de raças na humanidade. Hoje, 
porém, sabemos que só há uma raça entre os homens: a raça humana. 
Os socialistas. É no pensamento socialista, e não no positivista, que o proletariado 
encontrará a sua expressão teórica e a orientação para suas lutas. A sociologia de vertente 
socialista empreende uma severa crítica à sociedade capitalista, aliando-se às demandas da 
classe trabalhadora. Nesta perspectiva, os problemas sociais eram vistos como consequênciada exploração capitalista. 
Os socialistas ainda nutriam algumas idéias positivistas (a concepção de que a 
ciência pode controlar a natureza), no entanto, reivindicavam, com diferentes níveis de 
radicalização, a superação do capitalismo. Para os socialistas, os problemas sociais gerados 
pelas revoluções (burguesas) são, essencialmente, contradições sociais; fruto da organização 
da sociedade em classes. 
13 
 
 
MARX, DURKHEIM E WEBER: OS FUNDAMENTOS DO PENSAMENTO 
SOCIOLÓGICO. 
 
Não obstante as divergências teóricas entre estes três grandes autores, todos se 
preocuparam em analisar e definir a estrutura do capitalismo moderno em comparação com os 
modos de produção anteriores. Nesta empresa, os autores abordaram, a partir de perspectivas 
e interesses distintos, as conseqüências da Divisão Social do Trabalho (DST) na sociedade 
moderna. Os três pensadores buscaram entender as condições organizativas da própria 
sociedade: o que fundamenta as estruturas sociais (Estado e leis, economia, religião, moral, 
costumes, etc.); qual a relação entre estas estruturas e as escolhas dos indivíduos. Em outras 
palavras: quais as possibilidades de autonomia do indivíduo em face das estruturas sociais 
que, em graus variados e de modos diversos, condicionam suas ações? Estas questões 
conduzirão esta discussão. 
 
A RESPOSTA de MARX: o Materialismo Histórico 
 
 
Os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem como 
querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob 
aquelas que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo 
passado (MARX, 1997, p. 21). 
 
 
Marx preocupou-se em identificar o verdadeiro sujeito da história. Para ele, a 
história universal não é senão aquela da criação do homem pelo trabalho humano. Ou seja, 
seu motor é a relação (dialética) entre o sujeito (o homem) e o objeto (mundo material) 
através da qual o sujeito subordina progressivamente o mundo aos seus propósitos. Há de se 
levar em conta que novas necessidades são geradas nesse processo. As idéias, portanto, não 
são independentes da experiência, são produto do cérebro humano em transação com o mundo 
material. 
A produção da vida material é a condição fundamental de toda a história; os seres 
humanos produzem como membros de uma determinada forma de sociedade. A sociedade, 
por sua vez, é baseada num determinado tipo de relação de produção. No que se refere à 
relação de produção capitalista, Marx apresentou suas principais características: ela é baseada 
na divisão de classes. A posição dos indivíduos nestas classes dependerá de suas posições 
14 
 
frente à propriedade privada dos meios de produção, ou seja, aqueles que possuírem os meios 
de produção compõem a classe burguesa (capitalistas), os que apenas vendem a própria força 
de trabalho compõem a classe proletária (trabalhadores). Dito de outra forma, as classes 
derivam da posição dos indivíduos frente à propriedade privada dos meios de produção. As 
classes apenas surgem num estádio de DST em que é possível a acumulação de excedente de 
produção por uma minoria “dominante”. Isto quer dizer que os capitalistas só constituem uma 
classe na medida em que estão obrigados a entrar em luta contra a outra. 
O capitalismo é um processo histórico, portanto não pode ser generalizado, nesta 
perspectiva, Marx crítica veementemente a tese segundo a qual todos os países devem 
inexoravelmente escolher o capitalismo; ou que o sistema capitalista irá durar para sempre. 
Segundo o autor, as relações econômicas não podem ser tratadas de forma abstrata; elas 
implicam um conjunto de relações concretas. As “abstrações” escondem o fato de que o 
capitalismo baseia-se na divisão de classes: quanto mais progride o capital (K), mais pobres 
tornam-se os trabalhadores – que são assimilados ao seu produto (objetivação). 
A alienação deriva dessa disparidade entre o poder produtivo e a impotência dos 
trabalhadores. No capitalismo, todas as relações humanas tendem a se tornar mercadológicas; 
esta alienação reduz a atividade produtiva do homem ao nível da adaptação, mesmo levando-
se em consideração o enorme poder produtivo do capitalismo. No processo de alienação (que 
progride em função do desenvolvimento da DST) o trabalhador perde o controle sobre a 
distribuição do produto de seu trabalho; o próprio trabalhador é um produto que perde valor à 
medida que seu produto ganha. O trabalho lhe é imposto unicamente pela força das 
circunstâncias externas. Sendo assim, poderíamos identificar três categorias de alienação: 
política (são retiradas do indivíduo – trabalhador, cidadão - as possibilidades de participação 
nas decisões); de produção (o trabalhador não compreende o processo de produção como um 
todo, apenas realiza tarefas específicas); de consumo (o trabalhador não fica com o produto de 
seu trabalho). 
Em suma, a expansão da DST leva à alienação e à intensificação da propriedade 
privada; nega as capacidades do homem como produtor universal. Os vários estádios da DST 
relacionam-se com outras formas de propriedade, sendo assim, a alienação deve ser estudada 
na sua qualidade de fenômeno histórico, diretamente ligada ao processo de DST. Portanto, a 
análise da evolução social demonstrará, segundo Marx, aquilo que constitui a sociedade 
burguesa: a luta de classes. 
 
15 
 
A desintegração do feudalismo e a emergência do capitalismo. O fenômeno (que não tem 
nada de lírico) relacionou-se com caráter revolucionário das cidades: oposição entre campo e 
cidade e a supremacia desta. Entre as condições necessárias para o desenvolvimento do 
capitalismo, o autor apresenta a expropriação dos meios de produção dos camponeses livres e 
o desmantelamento das guildas; o que resultou no surgimento dos assalariados (fenômeno 
impulsionado também pelos cercamentos e pelas leis de vadiagem), ruína da nobreza feudal e 
conseqüente fortalecimento da monarquia. O comércio ultramarino, o surgimento de novas 
cidades (livres das obrigações corporativas), o crescimento do comércio (que surge fora dos 
antigos centros de manufatura cuja característica era não se utilizaram do campo) e do fluxo 
de metais contribuíram igualmente para o avanço do capitalismo. 
A ruína dos latifundiários, conseqüência da inflação que enriqueceu o comércio e 
a indústria, ao mesmo tempo em que atraiu trabalhadores (assalariados), refletiu-se na 
estrutura política: o poder estatal monárquico se expande, concentra-se e acelera 
artificialmente a derrocada do feudalismo. A origem específica dos primeiros capitalistas é de 
difícil previsão, mas Marx aponta a “via revolucionária”: os produtores individuais que 
acumulam K expandem suas atividades e incluem também o comércio. 
A dicotomia “burguesia x proletariado” não existe de forma pura, ou seja, existem 
outras categorias apresentadas por Marx, a saber: classes intermediárias (em que o conjunto 
de relações de produção será ultrapassado ou ainda não alcançou o auge – pequenos 
proprietários, por exemplo); estratos que mantém relação de dependência funcional (funções 
administrativas); lumpem proletariado (não estão encaixados, vagabundos). A organização das 
classes e a natureza dos conflitos de classe diferem nas sucessivas formas de sociedade. As 
relações de mercado só se tornam determinantes das atividades humanas no capitalismo. Com 
o seu desenvolvimento polarizam-se os conflitos burguesia x proletariado – as outras classes 
serão absorvidas. Nesta perspectiva, poder econômico e político relacionam-se intimamente: à 
propriedade privada moderna corresponde o Estado Moderno (e o direito civil moderno). 
 
O Estado e o Comunismo. A idéia de que o Estado se contrapõe aos interesses egoístas dos 
indivíduos é, para Marx, uma idealização.A verdadeira democracia, diz Marx, exigiria que a 
alienação entre indivíduo e a comunidade política fosse ultrapassada através da alteração das 
relações entre Estado e sociedade, fazendo surgir um tipo de participação política universal. 
Sendo assim, a denúncia intelectual das contradições não é o bastante, é necessária uma 
práxis revolucionária. De qualquer modo, Marx abandona a o termo democracia e adota 
‘comunismo’, que implica uma reorganização total da sociedade baseada na erradicação da 
16 
 
propriedade privada e superação do assalariamento, da alienação. A superação futura da 
esfera política se daria, portanto, com a implementação da práxis revolucionária por parte da 
classe oprimida: “proletários de todo mundo, uni-vos!”, eram as palavras de ordem de Marx. 
A expansão da propriedade privada está na origem do direito civil, cuja autoridade 
baseia-se não mais nas prescrições religiosas. O sistema legal – baseado na propriedade 
privada – constitui o principal suporte ideológico do Estado burguês: “As relações de 
produção constituem, através do sistema de classes, a base real em que assenta a 
superestrutura legal e política e a qual correspondem formas definidas de consciência social 
(...). O aspecto essencial dessa superestrutura é o de ser constituída por um sistema de 
relações sociais que regulam e sancionam um sistema de classe” (GIDDENS, 1994, p. 78-9). 
A sociedade burguesa diferencia-se das outras na medida em que universaliza as relações de 
classe em torno de uma só divisão (burguesia x proletariado). O proletariado só pode alcançar 
seu domínio, diz Marx, abolindo o próprio modo prévio de apropriação: a propriedade privada 
dos meios de produção, o assalariamento e a alienação. Dessa forma, abolirá todos os outros 
meios de apropriação. 
 
A teoria econômica. O capitalismo é um sistema de produção de bens e mercadorias que 
podem ter: valor de uso (referente às necessidades que podem ser satisfeitas pelas 
propriedades físicas de um bem - processo de consumo); ou valor de troca (valor que o 
produto tem em relação a outros – relação econômica definida). Só há valor (no objeto) na 
medida em que haja força de trabalho humano empregada. Esse valor não deriva do valor de 
uso, baseia-se em termos de quantidade de tempo socialmente necessário ao trabalhador para 
sua produção. “O tempo de trabalho necessário socialmente para produzir aquilo que a 
manutenção da vida do trabalhador requer, é o valor de sua força de trabalho” (GIDDENS, 
1994, p. 87); aquilo que excede a esta necessidade é a mais-valia, apropriada pelo capitalista. 
O lucro é a manifestação visível da mais-valia. Apenas o K variável (salário) gera 
valor (o K constante, as maquinas, não); a taxa de lucro será maior quanto mais baixa for a 
ratio (a razão entre) K constante e K variável. Marx apresentou as contradições econômicas 
da produção capitalista. Segundo o autor, o objetivo do capital é o lucro, mas há uma 
tendência estrutural para a decida de suas taxas. Marx destaca os fatores que podem contrariar 
essa descida: aquisição de matérias-primas mais baratas; intensificação da exploração (mais-
valia absoluta e relativa). Mas o mercado não é regulado por forças definidas que controlam a 
produção e o consumo, por isso há sempre desequilíbrios. Esses desequilíbrios revelam 
excesso de produção em termos de valor de troca, gerando as crises. Elas são expansões da 
17 
 
produção para além daquilo que o mercado pode absorver dentro de uma taxa de lucro 
satisfatória. 
As crises são cíclicas e fazem parte do sistema (regulador): são soluções 
momentâneas e forçosas das condições existentes; a crise promove a concentração de K, 
consolidando temporariamente o sistema. A despeito disso, para Marx, “a barreira real que se 
põe à produção capitalista é o próprio capital. O capital e sua expansão são ponto de partida e 
de chegada, o motivo e o objeto da produção...” (GIDDENS, 1994, p. 94). 
 
As teses da pauperização e da superação do capitalismo. As crises do capitalismo devem 
despertar a consciência revolucionária, entendia Marx, mesmo porque os momentos de 
prosperidade não correspondem a condições de pleno emprego. O exército de reserva é um 
fator de pressão constante sobre os salários; por maiores que sejam as riquezas acumuladas 
pela burguesia, os salários nunca ultrapassarão o nível de subsistência dos proletários: 
acumulação de riquezas num pólo, e da pobreza no outro. Sendo assim, é a própria evolução 
do sistema que gera as condições que levam à sua transcendência dialética: “uma vez que se 
baseia essencialmente numa relação antagônica, entre o capital e o trabalho assalariado, a qual 
universaliza o trabalho necessariamente numa condição de alienação, o capitalismo contém 
em si mesmo as forças que o levam à destruição, e por outro lado, permitem a sua 
transcendência” (GIDDENS, 1994, p. 105). 
Uma questão pertinente: O recrudescimento do capitalismo – com a crise do estado de bem-
estar social, e a implantação do neoliberalismo – poderia levar à consciência de classe 
(revolucionária), da qual nos fala Marx? 
Uma resposta impertinente: Teremos de admitir que a resposta negativa parece ser a 
alternativa histórica para a qual nos dirigimos. Contudo, caso queiramos nos conservar 
coerentes, não poderemos admitir que a história tenha acabado. A etapa de desenvolvimento 
de nossas forças produtivas alcançou níveis talvez nunca imaginados por Marx. Ainda que a 
superação total das contradições não pareça ser o curso dos acontecimentos, temos hoje as 
condições (tecnológicas) de erradicar a fome, a exclusão no que se refere à participação nos 
bens materiais e culturais produzidos pela humanidade. De qualquer modo, o germe que 
dormita dentro do capitalismo parece ter morrido obeso; ou, talvez, Marx o tenha confundido 
com um anticorpo. Cumpre descobrirmos outro germe: sem-terra, sem-teto, sem-nada de todo 
mundo, uni-vos! 
 
18 
 
A RESPOSTA DE DURKHEIM: O FATO SOCIAL. 
O fato social é, segundo Durkheim, o objeto da sociologia. Estes “(...) constituem 
em maneiras de agir, de pensar e de sentir, exteriores ao indivíduo, e que são dotas de um 
poder de coerção em virtude do qual esses fatos se impõem a ele” (DURKHEIM, 1995, p. 3). 
Em outras palavras, um fato social deve ter três características básicas: exterioridade (sua 
existência independe do indivíduo); generalidade (ser geral numa sociedade dada); 
coercitividade (ser obrigatório, impositivo). 
Consciência individual e consciência coletiva: 
As consciências individual e coletiva (ou representações) constituem fenômenos 
reais, ainda que algumas representações possam ser ignoradas pelo agente - permanecendo 
inconscientes. A consciência individual não é um fenômeno meramente físico; não é um 
simples reflexo da atividade psíquico-neurológica presente. Ela revela um processo de 
associações: fazemos uso de experiências vividas a fim de basearmos decisões presentes ou 
futuras; fazemos associações. 
Assim como estas associações – na consciência individual - não podem ser 
consideradas simples, a consciência coletiva não resulta da pura soma das consciências 
individuais, mas de uma complexa combinação destas, num determinado espaço e tempo. 
Deste modo, a consciência coletiva é exterior em relação às consciências individuais; possui 
uma natureza distinta, sui generis. Caso estas consciências não fossem reais, não fossem 
coisas, não seria possível existir ciências como a Psicologia ou Sociologia. Em outras 
palavras, se a consciência se resumisse a atividades físico-químicas, as ciências da saúde 
seriam as únicas necessárias neste campo. 
 
Fato moral: obrigação e desiderabilidade. O fato moral implica um sistema de regras de 
condutaregido por máximas que orientam os agentes, mas que não se limitam a obrigações, 
há também o desejo de cumpri-las. Ainda que possamos contrariar nossa natureza no ato 
moral, experimentamos algum prazer em cumprir nosso “dever”. Os dois aspectos da moral 
constituem, portanto, uma única realidade: que é individualmente nossa, em parte, e nos 
domina de forma indelével. 
Nesta perspectiva, poder-se-ia dizer que fato social, fato moral, consciência 
coletiva e sociedade são a mesma coisa. Em outras palavras, a finalidade da conduta moral é o 
próprio sujeito coletivo que o engendrou: a sociedade; um sujeito transfigurado e 
simbolicamente imaginado. Todas as regras morais são, portanto, produto dos fatos sociais. O 
papel da moral (consciência coletiva, a própria sociedade) é análogo ao papel de Deus no 
19 
 
postulado de Kant. Para este, seguimos os preceitos morais porque acreditamos que Deus nos 
vigia. Para Durkheim, outro ser nos vigia: a sociedade; ela está, num certo sentido, dentro de 
nós também. 
O sentimento de obrigação que a moral revela é distinto do sentimento religioso, 
mas possui o mesmo caráter: o crime está para a moral assim como o sacrilégio está para a 
religião. Percebe-se aqui uma dualidade formada pelas idéias de sagrado e profano. A 
autoridade da moral, da consciência coletividade, é uma realidade reconhecida por todos os 
indivíduos; nutrimos um sentimento de dependência em relação a ela. Para respeitá-la não é 
preciso tomá-la como perfeita. 
 
A Solidariedade mecânica e solidariedade orgânica. As sociedades simples são marcadas 
por um tipo de solidariedade, de relações sociais, em que o indivíduo não ocupa lugar de 
destaque: solidariedade mecânica. Neste contexto, há pouca interdependência entre os 
indivíduos em virtude da rudimentar DST e da baixa densidade moral. Numa sociedade 
indígena simples, por exemplo, em cuja DST baseia-se no sexo e idade, quase todos os 
homens são capazes de desempenhar as mesmas funções, sendo assim, não há maior 
interdependência entre eles. Do mesmo modo, poucos serão aqueles a contradizer a moral 
reconhecida no grupo. 
A constituição das sociedades complexas, por outro lado, resulta num novo tipo 
de solidariedade: orgânica. Neste contexto, a DST será mais alta e a diversidade moral 
igualmente elevada, de qualquer modo, ainda haverá uma consciência coletiva a motivar os 
indivíduos. Seu valor fundamental, no entanto, não se relacionará à religião, mas ao 
individualismo, que emerge como valor hegemônico. 
 
O capitalismo e a crise moral. Nas sociedades simples, a religião era a base da estrutura 
moral que mantinha a normalidade; evitando a anomia social. Na sociedade capitalista, a 
diversidade moral minimiza o potencial organizador da religião, o que gera crises sociais. 
Nesta perspectiva, os problemas do capitalismo não se referem às injustiças ou desigualdades 
sociais, antes dizem respeito, segundo Durkheim, a uma crise moral: a falta de regras 
reconhecidas pela sociedade - anomia. Não obstante a alta densidade moral, a consciência 
coletiva continua a imprimir sua força. Seu conteúdo perdeu os traços religiosos, antes possui 
uma nova característica: o individualismo, cuja tarefa será, segundo o autor, conduzir a 
sociedade a um novo estado de normalidade. Não se trata de egoísmo, mas do reconhecimento 
da dignidade inerente a cada ser humana. 
20 
 
TERCEIRA RESPOSTA: A SOCIOLOGIA COMPREENSIVA DE WEBER. 
Para Weber, a realidade social é dotada de tal complexidade que os seus diversos 
aspectos não podem ser explicados, mas compreendidos. A chave para essa compreensão é a 
Ação Social. A ação social (que inclui a omissão) pode ser orientada para ações passadas, 
presentes ou futuras de outros; os outros podem ser indivíduos conhecidos ou não: quando um 
indivíduo realiza um negócio e aceita dinheiro como pagamento orienta sua ação na esperança 
de que “outros” também aceitarão este dinheiro. 
“Nem todo tipo de contato entre seres humanos tem caráter social, mas apenas 
quando a ação do indivíduo é significativamente orientada para a do outro” (WEBER, 2003, 
p. 26). Assim, o indivíduo atribui um sentido subjetivo a sua ação e a orienta em relação a 
terceiros. A mera repetição ou imitação, por motivos óbvios, não será tomada por ação social. 
A ação social é aquela a que se poderá atribuir um sentido (subjetivo). 
Formas características da ação social. A ação social pode ser determinada de quatro modos 
puros, isto é, esses modos não são diretamente verificáveis, ao contrário, eles aparecem em 
diferentes combinações na realidade social. Vamos aos modos puros: 
• Ação racional em relação a fins (aquela em que se envolve cálculo racional – meios 
adequados para que se alcancem os fins pretendidos). 
• Ação em relação a valores (ação determinada pela crença consciente no valor absoluto 
da ação como tal; é, num certo sentido, racional, planejada em relação a estes valores). 
• Ação afetiva (resultante de uma configuração especial de sentimentos e emoções por 
parte do indivíduo). 
• Ação tradicional (que se torna costumeira devido a uma prática que se repete desde 
tempos imemoriais). 
 
Motivo e sentido da ação. É possível uma distinção artificial entre estes termos. O primeiro 
nos remete ao significado mais profundo da ação; o segundo à sua aparência. As 
regularidades nas ações dos indivíduos são mais prováveis quando há “adequação de sentido” 
- quando o motivo é igual ao sentido. De qualquer modo, qualquer análise, compreensão, 
constitui-se numa interpretação; o que a tornará sempre enviesada: 
 
Toda interpretação esforça-se para conseguir o máximo de verificabilidade. 
Contudo, nem mesmo a interpretação mais verificável pode reclamar o caráter de ser 
casualmente válida. Permanecerá apenas como hipótese particularmente plausível. 
Assim o que parece ser motivação consciente para o indivíduo envolvido pode tão-
somente servir para esconder os motivos e repressões mais profundas que estão 
21 
 
realmente na raiz da sua ação, invalidando desta maneira mesmo as tentativas mais 
sinceras de auto-análise (WEBER, 1987, p. 17). 
 
Racionalidade, Estado e poder em Weber. O Estado racional é um advento do Ocidente. 
Apenas neste Estado, em cuja aliança entre a monarquia nacional e o capital fez nascer a 
classe burguesa, pôde florescer o capitalismo moderno. Suas bases são o um funcionalismo 
especializado e o direito racional. O fator decisivo de seu desenvolvimento foi a 
racionalização do processo – que se estendeu a todo o mundo ocidental. 
Neste sentido, a previsibilidade será imprescindível ao desenvolvimento do 
capitalismo. “A criação de um direito deste tipo”, diz-nos Weber, “foi conseguida ao aliar-se 
o Estado moderno aos juristas, para impor suas pretensões de poder” (WEBER, 1999, p. 520); 
esta aliança favorecia indiretamente o capitalismo. 
O mercantilismo, cujo fim consiste em fortalecer o poder da direção do Estado em 
relação ao exterior, é o primeiro indício de uma política econômica principesca racional; o 
pioneirismo é da Inglaterra (séc. XIV). Este modelo significava a formação de uma potência 
estatal moderna. Seu pressuposto era a ampliação de fontes de receitas monetárias no próprio 
país: aumento das vendas ao exterior; ampliação do trabalho nacional; realização do comércio 
por meio de comerciantes, para que a capacidade tributária do país fosse incrementada. Em 
uma palavra: aplicação da teoria da balança comercial favorável. 
O mercantilismo não consistiu o ponto de partida do desenvolvimento capitalista, 
diz-nos Weber, “mas este aconteceu, na Inglaterra, paralelamente à política monopolizadora 
fiscal do mercantilismo” (WEBER, 1999, p. 524). O papel do mercantilismo se esgotou naInglaterra com a introdução do comércio livre e de sua aliança com interesses industriais. 
O Estado, enquanto associação política, só pode ser definido sociologicamente por 
um meio específico que lhe é próprio, mas não único: o monopólio do uso da coação física 
legítima. O Estado é a única fonte do direito de exercer essa coação. Quem pratica política 
reclama poder, nesta perspectiva o Estado é uma relação de dominação de homens sobre 
homens; cumpri conhecer os fundamentos justificativos internos nos quais se apóia a 
dominação. Ou seja, Weber nos diz que além do monopólio da força são necessários aos 
subordinados motivos para a obediência. O sucesso da dominação depende, portanto, dos 
motivos que a legitimam. Weber apresenta Três tipos puros de dominação que correspondem 
a três justificativas, são elas: 
• Carismática: calcada nas qualidades de líder de um indivíduo. 
22 
 
• Tradicional: a dominação, neste caso justifica-se pelo costume, este possui uma aura de 
sacralidade e uma validade que remonta tempos imemoráveis. Justifica-se pela disposição 
habitual de respeitá-lo. 
• Legal: estabelece-se em virtude da legalidade, da crença na validade de estatutos legais e 
da competência objetiva fundada em regras racionalmente criadas. 
 
Para a manutenção de toda dominação baseada em coação são necessários 
também certos bens materiais externos. Destarte, “o Estado moderno é uma associação de 
dominação institucional, que dentro de determinado território pretendeu com êxito 
monopolizar a coação física legítima como meio da dominação e reuniu para este fim, nas 
mãos de seus dirigentes, os meios materiais de organização, depois de desapropriar todos os 
funcionários estamentais autônomos que antes dispunham, por direito próprio, destes meios e 
de colocar-se, ele próprio, em seu lugar, representado por seus dirigentes supremos” 
(WEBER, 1999, p. 529). 
 
O empreendimento estatal de dominação como administração. Num Estado Moderno, o 
domínio efetivo se manifesta no cotidiano da administração, nas mãos do funcionalismo. 
Nesta perspectiva, é uma empresa do mesmo modo que uma fábrica. O “fundamento 
econômico decisivo” - a separação do trabalhador dos meios materiais do empreendimento – é 
comum à moderna organização estatal e à economia capitalista privada. Em ambos os casos, a 
disposição sobre esses meios está nas mãos do poder ao qual obedece diretamente o aparato 
da burocracia: o fundamento é o cálculo racional. 
Eis o modo como se deu o recrutamento dos quadros administrativos na fase de 
formação do Estado nacional: emprego de sacerdotes como conselheiros; literatos de 
formação humanística; nobreza cortesã; o patriciado. A categoria peculiar ao Ocidente será 
formada pelos juristas de formação universitária (categoria fundamental tanto para o 
nascimento do Estado absoluto quanto da Revolução). Desenvolveu-se o funcionalismo 
moderno enquanto grupo de trabalhadores intelectuais altamente qualificados. 
 
A burocratização. O desenvolvimento da política, no sentido de uma ‘empresa’, implicou a 
divisão dos funcionários públicos em duas categorias: os ‘funcionários especializados’ e os 
‘funcionários políticos’. Aos primeiros cumpri, de acordo com as regras de sua profissão, 
administrar de modo imparcial. Ao político, ao contrário, cabe a luta e a paixão. Ele é 
23 
 
responsável pela condução dos negócios públicos; é sua a responsabilidade pelo que faz, esta 
é intransferível. 
 
REFERÊNCIAS 
 
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 1998. 
ALVES, Rubem. O suspiro dos oprimidos. São Paulo: Paulus, 1987-a. 
ANDRADE, Maria Antônia Alonso. Cultura política, identidade e representações sociais. 
Recife: Fundação Joaquim Nabuco/ Massangana, 1999. 
ANTUNES, Ricardo. Adeus ao Trabalho. Ensaio sobre as Metamorfoses e a Centralidade do 
Mundo do Trabalho. São Paulo: Cortez Editora, 1999. 
___. Os sentidos do trabalho. São Paulo: Boitempo Editorial, 2000. 
ARAUJO, Marley Rosana Melo de. Exclusão social e responsabilidade social empresarial. 
Psicol. estud., Maringá, v. 11, n. 2, 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br. Acesso 
em: 07 Jan 2007. 
ARENDT, H. Sobre a Revolução. Lisboa: Moraes, 1971. 
AVRITZER, Leonardo & COSTA, Sérgio. Teoria crítica, democracia e esfera pública: 
concepções e usos na América Latina. Dados, Rio de Janeiro, v. 47, n. 4, p. 703-728, 2004. 
BERGER. Peter L. & LUCKMANN, Thomas. A construção social da realidade (22a ed.). 
Petrópolis: Editora Vozes, 2002. 
___. O dossel sagrado. São Paulo: Paulus, 1985. 
Bíblia de Estudos de Genebra. Trad. João Ferreira de Almeida. São Paulo: Cultura Cristã e 
Sociedade Bíblica do Brasil, 1999. 
BOBBIO, Norberto. BOVERO, Michelangelo (org.). Teoria geral da política. A filosofia 
política e a lição dos clássicos. Rio de Janeiro: Editora Campus/Elsevier, 2000. 
BODSTEIN. Regina Cele de A. Cidadania e modernidade: emergência da questão social na 
agenda pública. Cadernos de Saúde Pública v.13 n.2 Rio de Janeiro abr./jun. 1997. 
BOFF, Leonardo. Igreja, Carisma e Poder. São Paulo: Ática, 1994. 
BOTTOMORE, T. B. Introdução à Sociologia. Rio de Janeiro, Zahar, s/a 
BOUDON, Raymond. Dicionário Crítico de Sociologia. São Paulo: Ática, 2000. 
BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 2004. 
___. CHAMBOREDON, Jean-Claude. PASSERON, Jean-Claude. A profissão de sociólogo. 
Preliminares epistemológicas. Petrópolis: Editora Vozes, 2002. 
___. Contrafogos. Táticas para enfrentar a invasão neoliberal. Rio de Janeiro: Jorge Zahar 
Editor, 1998. 
___. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2000. 
___. Razões Práticas. Sobre a teoria da ação. Campinas: Papirus, 1997. 
BURITY, Joanildo A (org.). Cultura e identidade: perspectivas interdisciplinares. Rio de 
Janeiro: DP&A Editora, 2002. 
CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 1998. 
CHEVALIER, Jean-Jacques. As grandes obras políticas: de Maquiavel a nossos dias. Rio de 
Janeiro: Agir, 1973. 
COSTA, Sérgio. As cores de Ercília. Esfera pública, democracia, configurações pós-
nacionais. Belo Horizonte: Editora UFGM, 2002. 
COVRE, Maria de Lourdes Manzili. O que é Cidadania (Coleção Primeiros Passos). São 
Paulo: Brasiliense, 2001. 
DaMATTA, Roberto. Relativizando. Uma introdução à Antropologia Social. Rio de Janeiro: 
Editora Rocco, 5º ed., 1997. 
24 
 
DURKHEIM, Émile. As formas elementares da Vida Religiosa. São Paulo: Martins Fontes, 
1996. 
___. As regras do método sociológico. São Paulo, Martins Fontes, 1995. 
___. Da divisão do trabalho social. São Paulo: Martins Fontes, 2004. 
___. Sociologia e filosofia. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1970. 
EAGLETON, Terry. Ideologia. São Paulo: Editora UNESP/Editora Boitempo, 1997. 
ECO, Umberto. Como se faz uma tese. São Paulo: Perspectiva, 1999. 
ELIAS, Norbert e SCOTSON, John L. Os estabelecidos e os outsiders. Rio de Janeiro: Jorge 
Zahar Editor, 2000. 
FERNANDES, Florestan. Ensaios de Sociologia Geral e Aplicada. São Paulo: Pioneira, 1971. 
FIORI, José L. Existe um Estado pós-fordista? Reforma e funções do Estado brasileiro no 
novo paradigma. Ensaios FEE, Porto Alegre, (16) 1995, p. 345-355. 
FIORI, José L. Existe um Estado pós-fordista? Reforma e funções do Estado brasileiro no 
novo paradigma. Ensaios FEE, Porto Alegre, (16) 1995, p. 345-355. 
FORACCHI, Marialice M. & MARTINS, J. S. (Org.) Sociologia e Sociedade. Leituras de 
Introdução a Sociologia. São Paulo: LTC, 1977. 
FORRESTER, Viviane. O Horror Econômico. São Paulo: Editora da Universidade Estadual 
Paulista, 1997. 
FREUND, Julian. A sociologia de Max Weber. Rio de Janeiro: Forense, 1970. 
FURTADO, Celso. Raízes do subdesenvolvimento. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 
2003. 
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Rio de Janeiro:LTC, 1989. 
GIDDENS, Anthony. A constituição da Sociedade. São Paulo: Martins Fontes, 2003. 
___. Capitalismo e moderna teoria social. Lisboa: Presença, 1994. 
GOHN, Maria da Glória. Teoria dos movimentos sociais. Paradigmas clássicos e 
contemporâneos. São Paulo: Loyola, 1997. 
GRAMSCI, Antonio. Poder, Política e Partido. São Paulo: Brasiliense, 1992. 
HABERMAS, Jürgen. Mudança estrutural da Esfera Pública. RJ: Tempo Brasileiro, 2003. 
HAGUETTE, T. M. Frota. Metodologias qualitativas na sociologia. Petrópolis: Vozes, 2001. 
HALL, Stuart. Da diáspora. Identidades e mediações culturais. Belo Horizonte/Brasília: 
UFMG/UNESCO, 2003. 
HOLANDA, Sergio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. 
IANNI, Octávio. Sociologia da sociologia Latino-Americana. Rio de Janeiro: Civilização 
Brasileira, 1976. 
JOHNSON, Allan G. Dicionário de Sociologia. Guia prático da linguagem sociológica. Rio 
de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1997. 
LOWY, Michael. A guerra dos deuses. Religião e política na América Latina. Petrópolis: 
Vozes, 2000. 
LUKÁCS, Georg. História e Consciência de Classe. Estudos sobre a dialética marxista. São 
Paulo: Martins Fontes, 2003. 
MARIANO, Ricardo. Neopentecostais. Sociologia do novo pentecostalismo no Brasil. São 
Paulo: Edições Loyola, 1999. 
MARSHALL, T. H. Cidadania, classe social e status. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1967. 
MARTINS, Carlos B. O que é Sociologia. São Paulo: Editora Brasiliense, 1994. 
MARTINS, J. de Souza. Sociologia e Sociedade. São Paulo: LTC, 1977. 
MARX, Karl. Manuscritos Econômico-Filosóficos. São Paulo: Martin Claret, 2003. 
___ & ENGELS, F. A ideologia alemã (Feuerbach). São Paulo: Hucitec, 1999. 
___. O 18 Brumário e cartas a Kugelmann. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. 
___. O Capital. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999. 
MEKSENAS, Paulo. Sociologia. São Paulo: Cortez, 1994. 
25 
 
MOSCOVICI, Serge. Representações Sociais: investigações em Psicologia Social. 
Petrópolis: Editora Vozes, 2003. 
PARSONS, Talcot. Sociedades: Perspectivas evolutivas e comparativas. São Paulo: Livraria 
Pioneira Editora, 1969. 
PIERUCCI, Antônio Flávio & PRANDI, Reginaldo. A realidade social das religiões no 
Brasil. São Paulo: HUCITEC, 1996. 
POULANTZAS, N. O Estado, o poder, o socialismo. Rio de Janeiro: Graal, 2000. 
ROSA, F. A. Miranda. Sociologia do Direito: o fenômeno jurídico como fato social. 17° ed. 
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004. 
RUSSEL, Bertrand. História do pensamento ocidental. A aventura dos pré-socráticos a 
Wittgenstein. Rio de Janeiro: Ediouro, 2001 
SANTOS, Boaventura de S. Pela mão de Alice. O social e o político na pós-modernidade (8ª 
edição). São Paulo: Cortez Editora, 2001. 
___. Um discurso sobre as ciências (13ª edição). São Paulo: Cortez Editora, 2003. 
SANTOS, Gilberto de Moura. Religião e Política: afinidades seletivas e negativas no 
processo de representação/ação na IPB em Aracaju. Dissertação de Mestrado, NPPCS, UFS, 
2004. 
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização. Do pensamento único à consciência 
universal. Rio de Janeiro, São Paulo: Editora Record, 2000. 
SARAMAGO, José. A jangada de pedra. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 1999. 
SCHWARTZ, Roberto. Aos vencedores as batatas. São Paulo: Editora 34, 1997. 
SELL, Carlos Eduardo. Sociologia Clássica. Blumenau: FURB, 2001. 
TELLES, Vera da Silva. Pobreza e cidadania. São Paulo: Ed. 34, 2001. 
VALLS, Álvaro L. M. O que é Ética. São Paulo: Brasiliense, 2001. 
VIEIRA, Liszt. Os argonautas da cidadania. A sociedade civil na globalização. RJ: Record, 
2001. 
VITA, Álvaro de. Sociologia da Sociedade Brasileira. São Paulo: Ática, 1997. 
WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. São Paulo: Pioneira, 1982. 
___. GERTH, H. H. & MILLS, C. W. (Orgs.). Ensaios de sociologia. RJ: LTC, 1982. 
___. Metodologia das Ciências Sociais. (I e II). Campinas: Cortez e Unicamp, 1999. 
WEFFORT, Francisco C. (Org). Os clássicos da política. Vol. I e II. São Paulo: Editora 
Ática, 1998. 
ZIZEK, Slavoj (org.). Um mapa da ideologia. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996. 
	CONHECIMENTO, VERDADE E CIÊNCIA.
	Uma Introdução à Sociologia Jurídica.0F
	DO GEOCENTRISMO À RELATIVIDADE.
	MARX, DURKHEIM E WEBER: OS FUNDAMENTOS DO PENSAMENTO SOCIOLÓGICO.
	A RESPOSTA de MARX: o Materialismo Histórico
	A RESPOSTA DE DURKHEIM: O FATO SOCIAL.
	TERCEIRA RESPOSTA: A SOCIOLOGIA COMPREENSIVA DE WEBER.

Continue navegando