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Defeitos do Negócio Jurídico

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MATERIAL DIREITO CIVIL – 3 BIM (EDITADO)
Dos Defeitos do Negócio Jurídico
Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio.
Anulabilidade por defeito do ato jurídico - Quando inexiste correspondência entre a vontade declarada e a que o agente quer exteriorizar, o negócio jurídico é viciado ou deturpado, tornando-se anulável se no prazo decadenal de quatro anos for movida ação de anulação.
Há casos em que aparecem vícios de consentimento, como erro, dolo, lesão, estado de perigo e coação, que levam à anulabilidade.
	Há casos também de vícios sociais, em que se tem uma vontade funcionando normalmente, mas ela se desvia da lei ou da boa-fé, violando direito e prejudicando terceiros, levando à anulabilidade.
Erro e ignorância - Ato negocial viciado por erro ou ignorância será passível de anulação, por existir deturpação da manifestação de vontade das partes.
Erro - é a falsa noção sobre algum objeto; Ignorância - é a ausência completa de conhecimento sobre algo. O legislador equiparou os dois nos seus efeitos jurídicos.
Erro substancial - É o erro de fato, por recair sobre circunstância de fato, ou seja, sobre as qualidades essenciais da pessoa ou da coisa, e além disso, é reconhecível pelo destinatário da declaração da vontade. Ex.: Comprar um cavalo pensando que servia para corridas e descobrir que ele só serve para procriar. Trata-se de erro de qualidade.
Art. 139. O erro é substancial quando:
I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das qualidades a ele essenciais;
II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante;
III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico.
Casos de erro substancial: a) erro sobre a natureza do ato negocial; b) erro sobre o objeto principal da declaração; c) erro sobre alguma das qualidades essenciais do objeto.
Erro sobre a natureza do ato negocial - Quando recair sobre a natureza do ato. Ex.: Uma pessoa pensa estar vendendo uma casa e a outra recebe, na verdade, um título de doação. Não se terá um real acordo volitivo e o ato é suscetível de anulação.
Erro sobre o objeto principal da declaração - Quando o objeto não é o pretendido pelo agente. Ex.: Comprar um terreno em péssimo local pensando estar adquirindo um imóvel de excelente localização.
Erro sobre a qualidade essencial do objeto - Ex.: Uma pessoa pensa estar adquirindo um relógio de prata que, na realidade, é de aço.
Erro substancial sobre a qualidade da pessoa no direito obrigacional - O erro sobre as qualidades essenciais da pessoa, atingindo sua identidade física ou moral, poderá tornar o ato anulável, desde que a consideração pessoal era condição primordial para a efetivação daquele ato. Mas o erro só anulará o negócio se influiu, de forma relevante, na manifestação volitiva.
Erro substancial sobre a pessoa no direito de família e no direito sucessório - No direito de família, seria o caso de anulação de casamento em virtude de relevante erro sobre a identidade física ou moral do cônjuge (ex.: uma moça de boa formação moral casar-se com um homem, vindo a saber depois que se tratava de um desclassificado ou homossexual).
No direito das sucessões, será anulado o testamento ou o legado se houver erro sobre a qualidade essencial do herdeiro ou legatário (ex.: alguém fez testamento contemplando sua mulher, mas após ele morrer, ao procurar cumprir o testamento, o órgão judicante verifica que a herdeira não é mulher do testador, por ser casada com outra pessoa).
Erro de direito - Não consiste apenas na ignorância da norma jurídica, mas também em seu falso conhecimento e na sua interpretação errônea, podendo ainda abranger a idéia errônea sobre as conseqüências jurídicas do ato negocial.
Art. 140. O falso motivo só vicia a declaração de vontade quando expresso como razão determinante.
Erro relativamente ao motivo - Motivo é a razão subjetiva da efetivação do ato negocial. O erro neste caso, seja ela de fato ou de direito, não é considerado essencial, logo não poderá acarretar a anulação do negócio. O motivo é o impulso psíquico que leva alguém a efetivar o negócio (ex.: intenção de recompensar alguém por um favor recebido). A causa é a razão objetiva do negócio (ex.: aquisição de moradia).
Argüição de nulidade relativa do ato por falso motivo (fim colimado) - O erro quanto ao fim colimado só vicia o negócio jurídico se nele figurar expressamente, integrando-o como sua razão determinante ou essencial. Ex.: Alguém doa um prédio a uma pessoa, declarando que o faz porque o donatário lhe salvou a vida num incêndio. Se isso não corresponder à realidade, provando-se que a citada pessoa nem mesmo havia participado do salvamento, o negócio estará viciado e, portanto, será anulável.
Art. 141. A transmissão errônea da vontade por meios interpostos é anulável nos mesmos casos em que o é a declaração direta.
Erro na transmissão da vontade por meios interpostos - É o erro por defeito de intermediação mecânica ou pessoal, que altera a vontade declarada na efetivação do ato negocial. Ex.: Alguém recorre a rádio, televisão, telefone etc. para transmitir uma declaração de vontade, e o veículo utilizado, devido a interrupção ou deturpação sonora, o fizer com incorreções acarretando desconformidade entre a vontade declarada e a interna. Esse tipo de erro só anula o negócio se a alteração verificada vier a prejudicar o real sentido da declaração expedida. Em caso contrário, ele será insignificante e o negócio efetivado prevalecerá.
Art. 142. O erro de indicação da pessoa ou da coisa, a que se referir a declaração de vontade, não viciará o negócio quando, por seu contexto e pelas circunstâncias, se puder identificar a coisa ou pessoa cogitada.
Trata-se de erro acidental, que diz respeito às qualidades secundárias da pessoa ou do objeto. Ele não induz anulação do ato negocial por não incidir sobre a declaração de vontade, se se puder, por seu contexto e pelas circunstâncias, identificar a pessoa ou a coisa.
Art. 143. O erro de cálculo apenas autoriza a retificação da declaração de vontade.
Trata-se de engano sobre peso, medida ou quantidade do bem. Não anula o negócio, nem vicia o consentimento, autorizando tão somente a retificação da declaração volitiva se as duas partes tiverem ciência do real valor do negócio efetivado.
Art. 144. O erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa a quem a manifestação de vontade se dirige se oferecer para executá-la na conformidade da vontade real do manifestante.
Se A comprou de B o lote 5 da quadra X pensando que se tratava do lote X da quadra Y, o erro substancial, no caso, não prejudicará o negócio se B vier a entregar-lhe o lote X da quadra Y.
Seção II - Do Dolo
Art. 145. São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa.
Dolo - emprego de uma artifício astucioso para induzir alguém à prática de um ato que o prejudica e resulta em vantagem para o autor ou terceiro.
Dolo principal (ou essencial) - é aquele que dá causa ao negócio jurídico, sem o qual ele não seria concluído, acarretando o referido ato negocial. Ex.: Um vendedor empurra um carro com problema mecânico para o comprador. Se este soubesse do problema, não teria realizado o negócio.
Requisitos para configuração do dolo principal - a) haja intenção de induzir o declarante a praticar o negócio lesivo; b) os artifícios maliciosos sejam graves, com apresentação de fatos falsos que venham a suprimir ou alterar os verdadeiros, ou silêncio sobre fatos relevantes para o contratado; c) o dolo seja a causa dominante da declaração de vontade; d) o dolo proceda do outro contratante, ou dele seja conhecido se procedente de terceiro.
Art. 146. O dolo acidental só obriga à satisfação
das perdas e danos, e é acidental quando, a seu despeito, o negócio seria realizado, embora por outro modo.
Dolo acidental - É o que leva a vítima a realizar o negócio, porém em condições mais onerosas ou menos vantajosas, não afetando sua declaração de vontade, embora venha a provocar desvios. Autoriza o prejudicado a buscar ressarcimento. Ex.: Um vendedor influencia um comprador a comprar um carro por um valor maior que o real. Neste caso, o comprador pode obter ressarcimento na Justiça, através de provas documentais, periciais ou testemunhais.
Conseqüências jurídicas - Por não ser vício de consentimento nem causa do contrato, o dolo acidental não acarretará a anulação do negócio, obrigando apenas à satisfação de perdas e danos ou a uma redução da prestação convencionada.
Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado.
Dolo positivo - É o artifício astucioso decorrente de ato comissivo (por ação) em que a outra parte é levada a contratar por força de afirmações falsas sobre a qualidade da coisa.
Dolo negativo - É a manobra astuciosa que constitui uma omissão dolosa ou reticente para induzir um dos contratantes a realizar o negócio. Ocorre quando uma das partes oculta algo que a outra deveria saber e, se sabedora, não teria efetivado o ato negocial. Esse tipo de dolo acarretará anulação do ato se o dolo for principal, acatando-se o princípio da boa-fé objetiva.
Requisitos do dolo negativo - Deverá haver: a) contrato bilateral; b) intenção de induzir; c) silêncio sobre uma circunstância ignorada pela outra parte; d) relação de causalidade entre omissão intencional e a declaração volitiva; e) ato omissivo do outro contratante e não de terceiro; f) prova de não-realização do negócio se o fato omitido fosse conhecido da outra parte.
Art. 148. Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e danos da parte a quem ludibriou.
Dolo de terceiro - Há três situações: a) há cumplicidade de um dos contratantes (o ato será anulado por vício de consentimento, havendo indenização de perdas e danos por parte do autor do dolo);
b) o dolo advém de terceiro, mas a parte beneficiada o conhece ou devia conhecer (também aí o ato será anulado por vício de consentimento, havendo indenização de perdas e danos por parte do autor do dolo); 
c) o contratante favorecido não tinha conhecimento do dolo de terceiro (o negócio continuará válido, mas o terceiro deverá responder por perdas e danos).
Art. 149. O dolo do representante legal de uma das partes só obriga o representado a responder civilmente até a importância do proveito que teve; se, porém, o dolo for do representante convencional, o representado responderá solidariamente com ele por perdas e danos.
O dolo pode ser praticado por:
a) representante legal (pais, tutores, curadores) - o representado arca com perdas e danos até a importância do proveito, ficando o restante do prejuízo para ser ressarcido pelo representante.
b) representante convencional (procuradores, gestores do negócio) - O representado é solidário ao representante e com ele arca solidariamente com todas as perdas e danos.
Art. 150. Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o negócio, ou reclamar indenização.
No caso, há dolo recíproco. As partes agem dolosamente, praticando ato comissivo ou omissivo, configurando-se torpeza bilateral. Nenhuma das partes pode buscar anulação do ato ou ressarcimento, porque há compensação entre os dois delitos, sendo o negócio é mantido.
Seção III - Da Coação
Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens.
Parágrafo único. Se disser respeito a pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se houve coação.
Coação - É qualquer pressão física ou moral exercida sobre a pessoa, os bens ou a honra de um contratante para obrigá-lo a efetivar certo ato negocial. Essa pressão tem que ser iminente e que incuta fundado temor, medo. A coação tem que ser irresistível. Ex.: Alguém seqüestra o filho menor do dono de uma residência, liga para o mesmo e avisa que se não lhe vender o imóvel, mata o garoto.
Art. 152. No apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o temperamento do paciente e todas as demais circunstâncias que possam influir na gravidade dela.
A lei, ao pressupor que todos somos dotados de certa energia ou grau de resistência, não desconhece que sexo, idade, saúde, condição social e temperamento podem tornar decisiva a coação que, exercida em certas circunstâncias, pode pressionar e influir mais poderosamente. Ex.: É mais fácil coagir um policial ou uma pessoa tímida, retraída, medrosa? Um jovem forte ou um velhinho?
Art. 153. Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, nem o simples temor reverencial.
Ameaça do exercício normal de um direito - Ex.: Se o credor de uma dívida vencida e não paga ameaçar o devedor de protestar o título e requerer falência, não se configurará coação, por ser ameaça justa que se prende ao exercício normal de um direito. Logo, o devedor não poderá reclamar a anulação do protesto.
Simples temor reverencial - É o receio de desgostar ascendente (pai, mão, tio...) ou pessoa a quem se deve obediência e respeito. Desde que não haja ameaças ou violências irresistíveis, o ato negocial não pode ser anulado.
Art. 154. Vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela tivesse ou devesse ter conhecimento a parte a que aproveite, e esta responderá solidariamente com aquele por perdas e danos.
C sabe que A quer comprar um bem de B, que não quer vendê-lo. C, então, age com coação contra B, que acaba se desfazendo do bem. Se A sabia ou devia saber da coação, responderá com o coator por todas as perdas e danos, sendo o negócio anulado.
Art. 155. Subsistirá o negócio jurídico, se a coação decorrer de terceiro, sem que a parte a que aproveite dela tivesse ou devesse ter conhecimento; mas o autor da coação responderá por todas as perdas e danos que houver causado ao coacto.
No exemplo acima, se A não tinha conhecimento da coação, o negócio será mantido, mas o coator terá que responder pelas perdas e danos causados a B. 
Seção IV - Do Estado de Perigo
Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa.
Estado de perigo - Há temor de grave dano moral (direto ou indireto), ou risco (perigo de vida, lesão à saúde, à integridade física ou psíquica) à própria pessoa (ou parente seu), que a compele a concluir contrato mediante prestação exorbitante. Ex.: Venda de casa bem abaixo do valor de mercado para pagar um débito (caução) assumido com um hospital, em razão de urgente intervenção cirúrgica, por encontrar-se o paciente em perigo de vida. Outro exemplo: realizar péssimo negócio para obter quantia do resgate pedido para libertação do filho seqüestrado. Sendo os negócios acima anulados, o adquirente, que conhecia a situação de perigo do alienante, deverá complementar o preço ou restituir o bem adquirido.
OBS.: No caso da caução hospitalar, há polêmica. Como ela é destinada a todos os pacientes (até a quem está simplesmente gripado), como impor que um caso particular, como estado de perigo, pode levar à sua anulação? A Justiça pode entender que a caução não especifica nenhum casos, e assim validá-la.
Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do declarante, o juiz decidirá
segundo as circunstâncias - guiando-se pelo bom senso. 
Seção V - Da Lesão
Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta.
§ 1º Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico.
§ 2º Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito.
O termo correto deveria ser lesão patrimonial.
Qualquer pessoa que tenha o patrimônio lesado por inexperiência ou premente necessidade, gerando-se desproporção no negócio, pode recorrer à Justiça para obter a sua anulação.
Ex.: Um jovem que acabou de completar 18 anos (inexperiente), fica órfão e vende sua mansão por apenas R$ 30 mil. Através de prova pericial, documentos, depoimento do seu psicólogo ou de testemunhas, ele pode posteriormente provar sua inexperiência na Justiça e conseguir a anulação do negócio. Provado isso, o Judiciário fixa parâmetro para verificar se houve desproporcionalidade, de acordo com valores vigentes na época em que foi firmado o negócio jurídico.
Ex.: Vender um imóvel por preço bem abaixo do mercado para pagar hipotecas atrasadas de uma residência, sem o que ele perderia o imóvel. É um caso de necessidade. Se o autor da lesão (o comprador) oferecer suplemento suficiente ou concordar com a redução do proveito, o ato não será anulado.
Seção VI - Da Fraude Contra Credores
Art. 158. Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida, se os praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores quirografários, como lesivos dos seus direitos.
§ 1º Igual direito assiste aos credores cuja garantia se tornar insuficiente.
§ 2º Só os credores que já o eram ao tempo daqueles atos podem pleitear a anulação deles.
Fraude contra o credor - trata-se de uma prática maliciosa, pelo devedor, de atos que desfalcam seu patrimônio, com o fim de colocá-lo a salvo de uma execução por dívidas em detrimento dos direitos do credor.
Ex.: Uma pessoa que tem um patrimônio de R$ 150 mil e deve R$ 100 mil, para não pagar a dívida inteira, faz uma doação de R$ 100 mil a uma instituição, com o intuito de receber a quantia de volta posteriormente. Tal doação é posterior à dívida e, portanto, é uma fraude ao crédito, podendo ser anulada.
Todo negócio jurídico lesado por doação de bens ou perdão de dívidas pode ser anulado, mesmo que o devedor não tenha tido a intenção de prejudicar o credor.
Credor quirografário - É aquele que tem o título na "mão", sem a garantia do crédito. Trata-se de crédito não privilegiado, sem nenhuma garantia. 
Art. 159. Serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do devedor insolvente, quando a insolvência for notória, ou houver motivo para ser conhecida do outro contratante.
Contrato oneroso fraudulento - É aquele firmado por devedor insolvente ou quando a insolvência for notória ou se houver motivo para ser conhecida do outro contratante, podendo ser anulado pelo credor. Ex.: Quando se vender imóvel em data próxima ao vencimento das obrigações, inexistindo outros bens para saldar a dívida.
Com este artigo, o legislador visa impedir que o patrimônio do devedor seja dilapidado e se evite deixá-lo sem garantias para pagar a dívida.
Insolvência notória - Aquela que é patente, do conhecimento de todos.
Art. 160. Se o adquirente dos bens do devedor insolvente ainda não tiver pago o preço e este for, aproximadamente, o corrente, desobrigar-se-á depositando-o em juízo, com a citação de todos os interessados.
Parágrafo único. Se inferior, o adquirente, para conservar os bens, poderá depositar o preço que lhes corresponda ao valor real.
Perda de legitimação ativa para mover ação pauliana - Os credores perderão a legitimação ativa para mover ação revocatória se o adquirente dos bens do devedor insolvente que ainda não pagou o preço (sendo este o corrente) depositá-lo em juízo, com citação de todos os interessados, ou, ainda, se o adquirente , sendo o preço inferior, para conservar os bens, depositar quantia equivalente ao valor real.
Manutenção do negócio - Para que o referido negócio não seja anulado, será mister que o adquirente: a) ainda não tenha pago o preço real, justo ou correspondente ao do mercado; b) faça o depósito judicial desse preço; c) requeira a citação edital de todos os interessados, para que tomem ciência do depósito.
Art. 161. A ação, nos casos dos arts. 158 e 159, poderá ser intentada contra o devedor insolvente, a pessoa que com ele celebrou a estipulação considerada fraudulenta, ou terceiros adquirentes que hajam procedido de má-fé.
É o caso de litisconsórcio, que é obrigatório, não podendo as partes dispensá-lo. A ação poderá ser ser proposta contra todos os que intervieram na fraude contra os credores, citando-se todos os que nela tiverem tomado parte.
Art. 162. O credor quirografário, que receber do devedor insolvente o pagamento da dívida ainda não vencida, ficará obrigado a repor, em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores, aquilo que recebeu.
O pagamento da dívida não vencida não é exigível. Logo, se o devedor paga-a antes do prazo, em detrimento de outros credores, comete ilegalidade. O credor beneficiado terá que devolver o dinheiro.
Art. 163. Presumem-se fraudatórias dos direitos dos outros credores as garantias de dívidas que o devedor insolvente tiver dado a algum credor.
O devedor insolvente não pode privilegiar nenhum credor em detrimento dos demais, sob pena de anulação do negócio.
Art. 164. Presumem-se, porém, de boa-fé e valem os negócios ordinários indispensáveis à manutenção de estabelecimento mercantil, rural, ou industrial, ou à subsistência do devedor e de sua família.
Ex.: O devedor gasta mensalmente R$ 100 mil com pagamento da folha de sua empresa. Isto é legal. O que ele não poderia fazer era majorar os gastos ordinários. Estes têm de ser suficientes para manutenção de estabelecimento ou subsistência do devedor e sua família.
Art. 165. Anulados os negócios fraudulentos, a vantagem resultante reverterá em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores.
Parágrafo único. Se esses negócios tinham por único objeto atribuir direitos preferenciais, mediante hipoteca, penhor ou anticrese, sua invalidade importará somente na anulação da preferência ajustada.
A ação visa revogar o negócio lesivo aos interesses dos credores quirografários, repondo o bem no patrimônio do devedor, cancelando a garantia real concedida em proveito do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores, possibilitando a efetivação do rateio, aproveitando a todos os credores e não apenas ao que a intentou.

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