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APOSTILA – FAMÍLIA
1.Introdução; 1.1 Legislação Extravagante; 1.3Extensão Familiar na Contemporaneidade; 1.4 Natureza do Direito de Família.
1. INTRODUÇÃO
Atualmente o Direito das Famílias é entendido como o ramo do Direito Privado que disciplina as relações formadas na vida familiar. Conforme Cristiano Chaves[footnoteRef:1], essas relações “podem ter origem no casamento, na união estável, na família monoparental (comunidade de ascendentes e descendentes) e em outros núcleos fundados no afeto e na solidariedade.”. [1: CHAVES, Cristiano; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil. Famílias, 5ª ed. rev., ampl. e atual., Ed. JusPODIVM, 2013, p. 50.] 
O conceito de família revela-se extremamente complexo, possuindo aspectos psicológicos, jurídicos, patrimoniais e sociais diversos, nesse sentido Pablo Stolze afirma que “não é possível apresentar um conceito único e absoluto de Família, apto a aprioristicamente delimitar a complexa e multifária gama de relações socioafetivas que vinculam as pessoas, tipificando modelos e estabelecendo categorias."[footnoteRef:2] [2: GAGLIANO Stolze, Pablo; FILHO Pamplona Rodolfo, cf. Novo Curso de Direito Civil 6, 3ª ed. rev. e atual., Ed. Saraiva, 2013, p. 39.] 
O Código Civil, de 2002, no seu Livro IV da Parte Especial, aborda o Direito de Família, por meio dos arts. 1.511 a 1.783, regulamentando o casamento (celebração, validade, dissolução), a união estável e as relações recíprocas de natureza pessoal e patrimonial entre cônjuges ou companheiros, pais e filhos e parentes, abrangendo, também, os institutos da tutela e curatela, por serem conexos com o direito de família. 
O Direito das Famílias organiza-se em: a) direito matrimonial das famílias (dizendo respeito ao matrimônio e seu regramento afetivo); b) direito convivencial das famílias (abrangendo o instituto da união estável e das demais entidades não casamentárias); c) direito parental das famílias (regulamenta as relações de parentesco e da filiação, decorrentes de origens diversas,); d) direito assistencial das famílias (que regulamenta as relações de assistência entre os componentes de uma mesma família), como no caso de obrigação alimentar, guarda, tutela, curatela e medidas específicas de proteção ao menor. 
É a própria família que é concebida, numa acepção amplíssima, de acordo com Cristiano Chaves, “[...] a partir de uma abrangente relação, interligando diferentes pessoas que compõem um mesmo núcleo afetivo, nele inseridos, inclusive, terceiros agregados, como os empregados domésticos. O art. 1412, §2º, do CC/02, ao tratar do instituto do direito real de uso, chega a mencionar que no conceito de necessidades familiares estão abarcadas, até mesmo, aquelas provenientes, das pessoas do serviço doméstico.”[footnoteRef:3]. [3: CHAVES, Cristiano; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil. Famílias, 5ª ed. rev., ampl. e atual., Ed. Juspodivm, 2013, p. 51.] 
Parece-nos que não é impossível deferir visita a uma ex-empregada doméstica, que cuidou da criança por vários anos, muito mais do que os pais desta criança, já que ambos trabalhavam fora. Assim, há afeto entre a empregada e o menor. O afastamento da serviçal é, por conseguinte, prejudicial à criança. 
Na acepção lata, família abrange os cônjuges, companheiros, os filhos, os parentes na linha reta e na colateral até o quarto grau e os afins (parentes do cônjuge ou do companheiro) na linha reta e na colateral até o segundo grau (art. 1.591/1595 CC). 
No sentido restrito, de considerar como família os pais e os filhos, independente do estado civil (arts. 1.511, 1.513, 1.567, 1.716 e 1.723, CC e 226, § 3º da CF) ou a formada por apenas um dos pais e seus descendentes (família monoparental ou unilinear). 
Atualmente, podemos considerar as seguintes espécies de família, de livre escolha da parte interessada, sem intervenção do estado: a) família matrimonial, advinda do casamento; b) família não-matrimonial: constituída fora do casamento (união estável e famílias monoparentais); c) família adotiva: constituída pelo vínculo de adoção; d) família substituta: que se configura pela guarda, tutela (art. 28 do ECA); e) família homoafetiva, formada por pessoas do mesmo sexo. 
Com relação à família homoafetiva, ainda não há no ordenamento jurídico em vigor regulamentação do casamento civil e da união estável entre pessoas do mesmo sexo, mesmo admitindo o artigo 226 da Constituição Federal outras formas de constituição de família, além da advindo do casamento. Tal dispositivo legal, em seus diversos parágrafos, é apenas exemplificativo. Assim, outras formas de entidades familiares não matrimonializadas poderão existir, a exemplo da família homoafetiva.
Ainda, sobre a entidade familiar homoafetiva Pablo Stolze[footnoteRef:4], salienta que “a jurisprudência, cumprindo o seu papel, passou a admitir a aplicação das regras da união estável, em favor dos companheiros do mesmo sexo, o que foi reforçado pela decisão do Supremo Tribunal Federal na ADI 4.277/DF, de 05.05.2011.”. [4: GAGLIANO Stolze, Pablo; FILHO Pamplona Rodolfo, cf. Novo Curso de Direito Civil 6, 3ª ed. rev. e atual., Ed. Saraiva, 2013, p. 487] 
A união homoafetiva é uma entidade familiar, a qual é resguardada por garantias, tendo em vista o princípio da igualdade. A esse respeito, o Superior Tribunal de Justiça[footnoteRef:5], demonstra por diversas decisões o reconhecimento da entidade familiar, senão vejamos: [5: STJ, 3ª T., REsp nº 1.298.129-SP, rel. Min. Sidnei Beneti, j. em 13/08/2013, publicado no DJ de 05/09/2013.] 
 Agravo regimental. Recurso especial. União homoafetiva. Inscrição de parceiro em plano de assistência médica. Possibilidade. Precedentes da corte. 1.- Reconhecida a união homoafetiva como entidade familiar, aplicável o entendimento desta Corte no sentido de que "a relação homoafetiva gera direitos e, analogicamente à união estável, permite a inclusão do companheiro dependente em plano de assistência médica" (REsp nº 238.715, RS, Relator Ministro Humberto Gomes de Barros, DJ 02.10.06). 2.- Agravo Regimental improvido.
Segundo FARIAS e ROSENVALD[footnoteRef:6], o conceito de direito de família evolui conforme a cultura de cada sociedade e, contemporaneamente, “sobrepujam e rompem, definitivamente, com a concepção tradicional de família. A arquitetura da sociedade moderna impõe um modelo familiar descentralizado, democrático, igualitário e desmatrimonializado”. [6: ROSENVALD, Nelson; FARIAS, Cristiano Chaves de. Direito das famílias. 2ª tiragem, Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009, p.5] 
De outra forma, as famílias hoje são plurais, não mais restritas às advindas do casamento, como no caso da união estável, da família monoparental, da família homoafetiva e em outros núcleos fundados no afeto e na solidariedade.
Para Maria Berenice Dias[footnoteRef:7], “ainda que continue a família a ser essencial para a própria existência da sociedade e do Estado, houve uma completa reformulação do seu conceito. Os ideais de pluralismo, solidarismo, democracia, igualdade, liberdade e humanismo se voltaram à proteção da pessoa humana. ” [7: DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias.10. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, p.130.] 
Cada vez menos a família tem origem no casamento, prevalecendo o afeto, sobre qualquer convenção ou formalidade. Atualmente, o que une as pessoas é o amor e a vontade livre.
Com o advento da Constituição Republicana de 1988 e com o Código Civil de 2002, o Direito das Famílias há que ser despido de preconceitos ou de falsa moralidade. Compete somente às pessoas escolherem como pretendem viver a dois e qual tipo de formação familiar pretendem constituir.
Dessa forma, é entendimento pacificado pelo Superior Tribunal de Justiça[footnoteRef:8]: [8: SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Quarta Turma. REsp 964.489/RS. Relator: Antônio Carlos Ferreira. Data do julgamento: 12/03/2013. DJe publicado em: 20/03/2013.] 
PROCESSUAL CIVIL. DIREITO CIVIL. UNIÃO ESTÁVEL HOMOAFETIVA. EQUIPARAÇÃO À UNIÃO ESTÁVEL HETEROAFETIVA. JUÍZO COMPETENTE. VARA DE FAMÍLIA. LEGISLAÇÃO APLICÁVEL.procedimento de habilitação que o	s nubentes, se vencerem todas as etapas, receberam a autorização para o casamento. 
1 – Habilitação
	A habilitação é um procedimento que se encontra narrado na Lei dos Registros Públicos (Lei 6015/73, arts. 67 a 69). Vários documentos serão apresentados para que os nubentes demonstrem que estão habilitados para o ato nupcial. Esse ato transcorre perante o Oficial de Registro Civil do domicílio dos nubentes e, caso sejam domiciliados em locais distintos, do Registro Civil de qualquer um deles, pena de nulidade relativa do ato (art. 1525, 1550, IV, 1560, II e 1554).
	Os noivos deverão apresentar requerimento subscrito por eles ou por procurador (art 1525/CC) e, se ambos ou algum deles forem analfabetos, será assinado a rogo, com duas testemunhas. 
	Com efeito, determina o art. 1525 do CC: “O requerimento de habilitação para o casamento será firmado por ambos os nubentes, de próprio punho, ou, a seu pedido, por procurador, e deve ser instruído com os seguintes documentos:”.
“I – certidão de nascimento ou documento equivalente”.
	Essa exigência é fundamental não apenas para comprovação da idade núbil dos 16 anos (art. 1517/CC), mas também para identificar o estado e a qualificação dos nubentes, verificando-se se estão sujeitos ao poder familiar (autoridade parental), tutela ou curatela ou, ainda, se incide a restrição do art. 1641, II/CC, no caso de um dos noivos ser maior de 70 anos.
	A expressão “documento equivalente” já não faz muito sentido, já que, a partir da Lei 765/49, que admitiu o registro de nascimento serôdio (fora do tempo), tornou-se mais fácil obter a certidão. O legislador da norma civil atual, no entanto, preferiu manter a expressão resguardando a hipótese, por exemplo, para a eventual situação de casamento de estrangeiros, cuja legislação admita outra prova de nascimento. 
“II – autorização por escrito das pessoas sob cuja dependência legal estiverem, ou ato judicial que a supra”.
	O processo de habilitação dos menores de 18 anos deve incluir a prova de emancipação ou a anuência de seus pais ou tutor.
	Para as pessoas que ainda não atingiram a idade de 18 anos é necessário o consentimento de ambos os pais e, se analfabetos, autorizarão com assinatura a rogo. Na hipótese de divergência entre os pais, poderá qualquer um deles recorrer ao judiciário para solução da questão (Parágrafo único, do art. 1631/CC). 
	No caso de um dos pais estiver ausente do lar conjugal, poderá o outro dar, sozinho. Caso o menor esteja sob tutela, o tutor dará o consentimento. O curatelado, que possui capacidade nupcial, a exemplo do pródigo, deverá ter autorização de seu curador. Os surdos-mudos, que tenham discernimento, poderão contrair casamento considerando que podem manifestar livremente sua vontade.
	Cumpre observar o disposto no art. 1518/CC: até a celebração do casamento a autorização cedida pelos pais, tutores ou curadores pode ser revogada. 
	O art. 1519/CC prevê a possibilidade de suprimento de consentimento pelo juiz quando a autorização é, injustamente, negada. 
	Por fim, diz o art. 1641, III que, obtido o suprimento, vigerá o regime da separação de bens.
“III – declaração de duas testemunhas maiores, parentes ou não, que atestem conhecê-los e afirmem não existir impedimento, que os iniba de casar.”
	O documento aqui referido busca atestar a idoneidade dos nubentes e de suas declarações. Seu valor é relativo, considerando que pode ser facilmente obtido. Aliás, é comum, no momento de habilitação, os noivos serem testemunhas entre si, apesar de sequer conhecerem. 
	Essa exigência está na hora de acabar. O leigo não tem conhecimento de todos os impedimentos. O legislador, através desta exigência, acaba forçando a prática de crime. 
“IV – declaração do estado civil, do domicílio e da residência atual dos contraentes e de seus pais, se forem conhecidos.”
	Residindo os noivos em diferentes circunscrições do registro civil, os editais de casamento deverão ser publicados em ambos os locais.
	Para que os nubentes não fraudem o procedimento, informando domicílio diverso do verdadeiro, no intuito de fugir da oposição de impedimentos, o Ministério Público poderá requerer a juntada de atestado de residência firmado por autoridade policial. 
“V- certidão de óbito do cônjuge falecido, de sentença declaratória de nulidade ou de anulação de casamento, transitada em julgado, ou do registro da sentença do divórcio.”
	A regra visa evitar a consumação de matrimônio de pessoas já casadas.
	No caso de sentença de divórcio proferida no estrangeiro, deverá ser apresentada a respectiva certidão, com a devida homologação pelo STJ., para que o nubente divorciado em seu país de origem possa casar-se novamente no Brasil.
“Certificado do exame pré-nupcial.”
	O exame pré-nupcial apenas será exigido quando os nubentes forem colaterais de terceiro grau (tio e sobrinha, tia e sobrinho). Os noivos devem requerer ao juiz a nomeação de dois médicos que atestem sua sanidade e a conveniência, para eles e sua futura prole, das núpcias a serem contraídas. Sem o exame o casamento é nulo. 
2 – Publicidade nos órgãos locais
art. 1527 “Estando em ordem a documentação, o oficial extrairá o edital, que se afixará durante 15 (quinze) dias nas circunscrições do Registro Civil de ambos os nubentes, e, obrigatoriamente, se publicará na imprensa local, se houver.”
	Os documentos poderão ser apresentados pelos nubentes ou por procurador. Feito isso, o oficial lavrará os proclamas do casamento através de edital que, durante 15 dias, ficará afixado em local ostensivo do edifício onde se realizam os casamentos.
	Esse procedimento é uma forma de convocação para que qualquer cidadão possa opor algum dos impedimentos matrimoniais, na forma do art. 1529/CC.
	
art. 1527, § único, “A autoridade competente, havendo urgência, poderá dispensar a publicação.”
	A publicação é feita em jornal oficial e, facultativamente, em um jornal de grande circulação. Porém, comprovando-se urgência para a realização do casamento, o juiz poderá, após ouvir o Ministério Público, dispensar a publicação do edital. Como hipóteses de urgência de considerar grave enfermidade, parto iminente, viagem inadiável etc.
	Caso alguém oponha algum impedimento ou causa suspensiva, o oficial do registro dará aos nubentes, ou a seus representantes, nota da oposição. Os noivos, então, irão requerer prazo para produção de provas contrárias à alegação e para ajuizamento das ações cabíveis contra o oponente de má-fé.
 
3 – Autorização para a celebração do casamento
 	
Não ocorrendo oposição alguma no prazo de 15 dias, o oficial expedirá certidão, declarando que os nubentes estão habilitados para casar dentro de 90 dias. Decorrendo os 90 dias, sem que haja casamento, todo o processo de habilitação deverá ser repetido (arts. 1531 e 1532/CC).
	Vislumbrando o interesse social é que o nosso Código prevê a necessidade de registro dos editais em cartório e fornecimento de certidões a quem as solicitar. Nesse mesmo sentido, o art. 1526 dá ao Ministério Público o encargo de fiscalizar as habilitações e homologá-las, se observadas as exigências legais. 
	Pelo parágrafo único do art. 1.526 do CC, existindo impugnação da habilitação pelo oficial, pelo Ministério Público ou de terceiro, a habilitação se3rá submetida ao juiz. 
	Por fim, ressaltamos que, de acordo com o art. 1512, § único/CC, a habilitação, o registro e a primeira certidão serão isentos de selos, custas e emolumentos, para as pessoas cuja pobreza for declarada. 
	
III – Celebração do casamento
1 – Formalidades essenciais da cerimônia nupcial
Ao casamento, ato eminentemente formal, deve ser dada a devida publicidade, tudo em razão de sua repercussão social e da necessidade de preservar o consentimento dos nubentes.
	Assim, determina o art. 1533 do CC que “Celebrar-se-á o casamento, no dia, hora e lugar previamente designados pela autoridade que houver de presidir o ato, mediante petição dos contraentes, que se mostrem habilitados com a certidão do art. 1531.”
	O juiz de paz do localem que se de processou a habilitação é o competente para celebração.
	O art. 1534/CC recepciona a necessidade da publicidade no momento da celebração do casamento, na sede do cartório. Entretanto, prevê a possibilidade de sua realização em edifício publico ou particular, caso em que as portas deverão permanecer abertas para que não haja obste à alegação de impedimentos. 
	Duas testemunhas deverão estar presentes no ato, porém, se a celebração se der extracartório ou se algum dos contraentes não souber ou não puder escrever, o número deve subir para quatro. 
	Pelo art. 1535 do CC “Presentes os contraentes, em pessoa ou por procurador especial, juntamente com as testemunhas e o oficial do registro, o presidente do ato, ouvida aos nubentes a afirmação de que pretendem casar por livre e espontânea vontade, declarará efetuado o casamento...”.
	Não há forma prescrita em lei para exteriorização da vontade dos noivos, deverá ser clara e indubitável, não se admitindo mero silêncio. 
	Ocorrerá a suspensão da celebração se houver oposição séria de impedimento ou retratação do consentimento prestado pelos pais, tutores ou curadores e ainda nos casos do art. 1538/CC.
	Assim, o art. 1538 “A celebração do casamento será imediatamente suspensa se algum dos contraentes: I – recusar a solene afirmação de sua vontade; II – declarar que esta não é livre e espontânea; III – manifestar-se arrependido.”.
	Mesmo que se trate de piada de ou que, logo após, o nubente manifeste sua vontade de recomeçar a cerimônia esta só poderá ser celebrada no outro dia, em razão da solenidade do ato. 
	Após o consentimento dos nubentes, o juiz proferirá os dizeres do art. 1535, parte final, declarando os noivos casados. A partir deste momento o casamento estará consumado e de nada valerá o arrependimento. 
Há críticas com relação ao aperfeiçoamento do casamento somente depois de o juiz de paz considerar os contraentes casados, considerando que, se o próprio Código considera o casamento como um contrato, a ponto de afirmar, no caput do art. 1.535, “presentes os contraentes”, bastava o acerto de vontade apenas nas partes. 
	Finalizando as formalidades do casamento, lavrar-se-á assento no livro de registro, assinado pelo presidente do ato, pelos cônjuges, testemunhas e oficial do registro, que conterá todas as informações arroladas no art. 1536, I a VII/CC.
	Em razão do que diz o art. 1543, § único/CC, que admite a prova do casamento por outros meios, a falta de lavratura do assento não invalida o matrimônio.
2 – Casamento por procuração
	Pelo art. 1542 do CC “O casamento pode celebrar-se mediante procuração, por instrumento público, com poderes especiais.”.
	Tendo em vista a solenidade do ato é que se exige que a procuração aqui referida se faça por instrumento público. Os poderes devem ser especiais, indicando o nome da pessoa com quem o outorgante vai consorciar-se. 
	A eficácia do mandato é limitada a 90 dias (art. 1542, § 3º/CC). É indiferente o sexo do procurador. Nada impede que o outorgante, enquanto não concluída a cerimônia, participe dela pessoalmente. Se a procuração estabelecer o regime de bens, amplia-se o objeto do mandato para que se firme também o pacto antenupcial. 
	Há discussão na doutrina se ambos os nubentes podem ser representados por um mesmo procurador. Entretanto, na ausência de proibição legal para tanto, não vemos nenhum obstáculo para que o mandato seja lavrado por ambos os nubentes a apenas um procurador. 
	O mandato pode ser revogado até o momento da celebração e somente por instrumento público (art. 1.542 § 4 do CC).
	Pelo art. 1542, § 1º, do CC, “A revogação do mandato não precisará chegar ao conhecimento do mandatário, mas, celebrado o casamento sem que o mandatário ou o outro contraente tivessem ciência da revogação, responderá o mandante por perdas e danos.”. 
	Portanto, revogada a procuração, sem que o outorgado ou o outro contraente tenha conhecimento da revogação, o casamento é anulável, respondendo o outorgante por perdas e danos. 
	Entretanto, o art. 1.542, § 1º, do CC há que ser compreendido com o disposto no art. 1550, V, também do CC, considerando que o casamento, ocorrida a hipótese do art. 1.542 § 1º, do CC é anulável, desde que não sobrevindo coabitação entre os cônjuges.
O Código Civil não traz solução para o caso de um casamento ser realizado após a extinção do mandato, por morte do mandante, estando de boa-fé o mandatário por ignorar o fato e o outro cônjuge. 
	Nesse caso, não é correto aplicar, analogicamente, o disposto no art. 1550, V, do Código Civil. Com a morte do mandante, antes do casamento, cessa o mandato (art. 682, II, do CC). Assim, não há manifestação de vontade e o ato é inexistente. 
3 – Casamento sob moléstia grave e casamento nuncupativo
	Vimos e insistimos que o casamento é ato solene (é por tal razão que vários preferem viver em união estável) e que deve seguir um ritual demorado, da habilitação até à celebração das núpcias. A partir de agora vamos verificar que, em alguns casos, estas formalidades podem ser quebradas, no todo ou em parte. 
	Assim é que o art. 1539 do CC afirma que, “No caso de moléstia grave de um dos nubentes, o presidente do ato irá celebrá-lo onde se encontrar o impedido, sendo urgente, ainda que à noite, perante duas testemunhas que saibam ler e escrever.”.
	O art. 1539 contempla a hipótese do estado de saúde grave de um ou de ambos os nubentes. A urgência do ato dispensa os atos preparatórios da habilitação e proclamas. 
	Não sendo possível o comparecimento da autoridade competente, o substituto legal realizará a cerimônia. Neste caso, o oficial do registro poderá ser nomeado ad hoc pelo presidente do ato. O oficial nomeado ad hoc lavrará termo avulso, que dentro de cinco dias será levado ao registro, perante duas testemunhas. A prova do casamento urgente é a certidão do termo avulso transcrito no registro.
	Já o artigo art. 1540 permite que, “Quando algum dos contraentes estiver em iminente risco de vida, não obtendo a presença da autoridade à qual incuba presidir o ato, nem a de seu substituto, poderá o casamento ser celebrado na presença de seis testemunhas, que com os nubentes não tenham parentesco em linha reta, ou, na colateral, até o segundo grau.”
	O casamento do art. 1540, também denominado in extremis vitae momentis, é forma especial, que se dá em razão da urgência e por falta de tempo. A diferença entre o disposto no art. 1.539 e no artigo 1.540 é que no primeiro há doença grave, sem iminente risco de vida. 
	Há, nesse caso, até a possibilidade de dispensa da autoridade para presidir o ato, caso em que se deve obedecer ao disposto no art. 1540/CC. 
	Celebrado este casamento, chamado de nuncupativo, dentro de dez dias as testemunhas deverão comparecer espontaneamente (ou se recusarem serão intimadas) diante da autoridade judicial para declararem que foram convocadas pelo enfermo; que este parecia em risco de vida, mas consciente de seus atos; e que presenciaram as declarações livres e espontâneas dos contraentes de se tornarem marido e mulher. 
	A autoridade judiciária irá averiguar se os contraentes poderiam ter se habilitado na forma regular, ouvindo o Ministério Público e os interessados em 15 dias. Verificada a idoneidade dos cônjuges, a autoridade decidirá e, depois de transitada em julgado a decisão, o juiz mandará registrá-la no livro respectivo. Os efeitos desse casamento retroagirão à época da celebração.
	O processo homologatório será dispensado se, recuperado o enfermo, este comparecer e ratificar o casamento diante da autoridade competente.
4 – Casamento perante autoridade diplomática ou consular
		Esclarece art. 7º, § 2º, LINDB “O casamento de estrangeiros poderá celebrar-se perante autoridades diplomáticas ou consulares do país de ambos os nubentes.”.
	Nessa hipótese, os noivos devem possuir a mesma nacionalidade. A forma do ato será a prescrita pelo direito estrangeiro, enquanto os efeitos serão os da legislação brasileira, sendo que, não será possível a transcrição deste tipo de casamento no cartório doRegistro Civil brasileiro.
	E pelo art. 18 da LINDB, “Tratando-se de brasileiros, são competentes as autoridades consulares brasileiras para lhes celebrar o casamento...” 
	Para essa possibilidade, ambos os nubentes devem ser brasileiros e a lei local deve reconhecer os efeitos civis da celebração. Deverão ser registrados em 180 dias contados da volta de um ou de ambos os cônjuges ao Brasil, no cartório de seu respectivo domicílio ou, em sua falta, no 1º Ofício da Capital do Estado que passarem a residir (art. 1544/CC). A volta não significa mera passagem, mas sim retorno com o intuito de permanência. Entretanto, de entender-se tal exigência como mera formalidade. A falta de registro do casamento, no estrangeiro, na forma aqui mencionada não significa que o brasileiro não está casado. 
	Também não é correto entender-se que, se o brasileiro casar-se no estrangeiro, segundo a lei do país escolhido para o casamento, que não está casado e, portanto, pode livremente casar-se no Brasil. Na verdade, mesmo casado no estrangeiro, segundo a lei do país escolhido, o estado civil destes brasileiros é o de casado. O mesmo acontece com o estrangeiro, casado no seu país de origem, que venha a residir no Brasil. O estado civil dele é também o de casado. Evidentemente que, no caso de divórcio, poderá a ação ou requerimento ser proposto no Brasil, segundo nossas leis. 
	No caso de anulação e de nulidade de casamento, celebrado no estrangeiro, fora da embaixada ou do consulado, neste caso de aplicar-se a lei do país em que celebrado o casamento e não a do Brasil, caso a discussão seja aqui enfrentada, em razão de o casal agora estar aqui residindo. 
5 – Casamento religioso com efeitos civis
5.a – Breve histórico 
	A Igreja Católica foi detentora quase absoluta dos direitos matrimoniais, no Brasil, durante muito tempo, sendo que era o direito canônico que regia os atos nupciais. É por tal razão que o casamento foi, durante muito tempo, sacralizado e considerando como a única forma de constituição de família. 
	A imigração de novas culturas para o país e o fortalecimento da República possibilitou a inserção de normas que, a partir da separação dos poderes temporal e espiritual, permitiam a realização de matrimônios acatólicos. 
	A Constituição de 1891 reconhecia apenas o casamento civil, posicionando o religioso como um interesse da consciência individual. 
	O Código Civil de 1916 tratou o casamento religioso como instituto inexistente juridicamente e a união entre seus participantes como mero concubinato.
	Com a Constituição de 1934 permitiu-se a atribuição de efeitos civis ao casamento religioso, desde que observadas as prescrições legais. 
	 A Constituição de 1946 manteve a permissão e, em 1950, a Lei 1110 regulamentou por completo o reconhecimento de efeitos civis ao casamento religioso. 
	Nossa atual Constituição, em seu art. 226, § 1º, diz que o casamento é civil, gratuita sua celebração e que o casamento religioso tem efeito civil, nos termos da lei.
	Atualmente, a lei que disciplina a matéria é a Lei 6015/73, arts. 71 a 75, combinada com os arts. 1515 e 1516 do Código Civil.
 
5.b – Procedimentos para o casamento religioso com efeitos civis
No Brasil temos como regra que o casamento é regido pelas leis civis, mas é possível que o casamento religioso tenha efeitos civis, não havendo distinção entre a modalidade de religião, ou seja, o efeito civil do casamento religioso é com relação a todas as religiões e não há, por conseguinte, reserva de mercado à Igreja Católica, como chegou a entender alguns, numa leitura míope da Constituição. 
Assim e na verdade não é preciso casar no religioso e também no civil, como é da tradição brasileira. Basta dar efeito civil ou casamento religioso. Evidentemente que, se o casamento for apenas o religioso, sem efeito civil, estamos diante de uma união estável e não de casamento.
Ressaltamos como paradoxo a exigência de algumas Igrejas, de que primeiro você case no civil, para depois poder casar naquela religião. Na verdade, tal exigência é descabida e inviabiliza a conversão permitida pela lei civil. Urge que os religiosos repensem tal atitude! 
Portanto e pelo art. 1515 do CC “O casamento religioso, que atender às exigências da lei para a validade do casamento civil, equipara-se a este, desde que registrado no registro próprio, produzindo efeitos a partir da data de sua celebração.”.
	Habilitados, dentro do prazo decadencial de 90 dias (art.1516/CC), o interessado requererá o registro do casamento ao oficial do Registro Civil, tudo conforme os arts. 71 a 75 da Lei dos Registros Públicos.
	
	 A lei também possibilita a habilitação posterior à celebração religiosa, desde que os nubentes apresentem ao oficial de registro os documentos exigidos e a prova do casamento religioso. Reunida a documentação, os editais serão publicados e, não havendo oposição de impedimentos, será lavrado o devido termo. Tal registro produzirá efeitos que retroagirão à data da celebração do casamento.
	Portanto, o efeito civil ao casamento religioso poderá ocorrer mediante prévia habilitação ou, não existindo ou se ultrapassado o prazo de validade de 90 (noventa) dia da habilitação, poderá, posterior ao casamento, ser feita a habilitação e pleitear o efeito civil. 
IV – Provas do casamento
	Pelo art. 1543 do Código Civil, “O casamento celebrado no Brasil prova-se pela certidão do registro”. E pelo § único deste artigo, “Justificada a falta ou a perda do registro civil, é admissível qualquer outra espécie de prova.”.
	Assim e analisando esse citado artigo, podemos falar em:
1 - Provas diretas
	
O casamento é comprovado, de forma direta, pela certidão do registro, que é prova específica. 
	Existem também outras provas diretas, mas supletivas, utilizadas no caso de perda ou destruição dos livros de registro cartoriais (ex: certidão de óbito constando que o de cujus era casado, declarações de testemunhas, certidão de proclamas, passaporte etc).
	Em um primeiro momento deve-se justificar a falta ou perda do registro, para depois provar a existência do ato nupcial.
	O casamento celebrado no exterior prova-se de acordo com a lei do local da celebração. Para que o documento estrangeiro produza efeitos no Brasil, deve ser autenticado de acordo com as leis consulares, sendo as formalidades dispensadas se não houver no Brasil representação diplomática do lugar de celebração do matrimônio. De outro modo, se o casamento foi realizado entre brasileiros, perante autoridade consular ou diplomática, a prova será a certidão do assento no registro do consulado.
2 – Provas indiretas
 	Excepcionalmente, a lei brasileira permite a prova indireta do casamento, qual seja: a posse do estado de casado. Para tanto, exige-se que a mulher use o nome do marido, que ambos tratem-se como casados e que a sociedade lhes conheça a condição de cônjuges (nomen, tractatus, fama). 
	A posse de estado de casado não é peremptória para provar a existência do casamento, devendo vir permeada de circunstâncias que a confirmem. 
	O ordenamento traz esta exceção para as hipóteses de cônjuges que não possam manifestar sua vontade e de falecimento de cônjuges nesse estado, em benefício da prole comum.
	Para que a presunção do casamento se realize é preciso que os pais tenham falecido ou que não possam manifestar sua vontade, que tenham vivido na posse do estado de casados, que exista prole comum e que inexista certidão de registro que ateste ter um dos pais contraído casamento anteriormente. 
	Somente os filhos podem alegar essa posse de estado, depois da morte dos pais. 
	E pelo art. 1546 do CC, “Quando a prova da celebração legal do casamento resultar de processo judicial, o registro da sentença no livro do Registro Civil produzirá, tanto no que toca aos cônjuges como no que respeita aos filhos, todos os efeitos civis desde a data do casamento.”. 
	Assim, a existência do casamento pode ser comprovada por meio requerimento, não havendo divergência entre os interessados, ou, havendo discordância entre eles, por intermédio de ação declaratóriade existência de casamento, com efeito retroativo. 
	O art. 1547 esclarece que, “Na dúvida entre as provas favoráveis e contrárias, julgar-se-á pelo casamento, se os cônjuges, cujo casamento se impugna, viverem ou tiverem vivido na posse do estado de casados.”
	É a admissão do princípio in dúbio pro matrimonio, isto é, produzida as provas e ainda existindo dúvida se foi o não celebrado, de se admitir o requerimento ou o pedido declaratório de existência de casamento. 
 
Efeitos Jurídicos do Matrimônio
	O casamento produz inúmeras consequências que se projetam no meio social, nas relações pessoais e econômicas dos cônjuges e nas relações pessoais e patrimoniais entre pais e filhos, dando origem a direitos e deveres, disciplinados por normas jurídicas. Tais consequências correspondem aos efeitos jurídicos do casamento.
	
Esses efeitos, com base nos efeitos que acarretam, são divididos em três classes: social, pessoal e patrimonial; as quais serão examinadas a seguir.
1.	Efeitos sociais
	O casamento gera efeitos que têm repercussão em toda a sociedade. O principal deles é a constituição da família matrimonial (de acordo com o art. 226, §§ 1o e 2o da Constituição Federal e art. 1.513 do CC).
	
Outro efeito social advindo do casamento é a emancipação do cônjuge menor de idade, tornando-o plenamente capaz, como se houvesse atingido a maioridade (art. 5o, § único, II, do CC); estabelece o vínculo de afinidade entre cada consorte e os parentes do outro (art. 1.595, §§ 1o e 2o, do CC); e confere aos cônjuges o estado de casados, fator de identificação na sociedade.
Ressalta-se que, relação à união estável, não há que se falar em emancipação, continuando os conviventes com o mesmo estado civil. Assim, apenas o vínculo de afinidade, com relação aos efeitos sociais, é que se aplica também à união estável. 
2.	Efeitos pessoais
2.1. Direitos e deveres de ambos os cônjuges
	
	Com o casamento, nascem, automaticamente, para os cônjuges, situações jurídicas que impõem direitos e deveres recíprocos, reclamados pela ordem pública e pelo interesse social e que não são avaliados pecuniariamente.
	
	A fidelidade mútua, por exemplo, é um dever moral, encampando pelo jurídico (art. 1.566, I, do CC), que decorre do caráter monogâmico do casamento. Consiste na abstinência, por parte de cada consorte, de praticar relações sexuais com terceiros, de modo que a liberdade sexual fica restrita ao casamento. Evidentemente que tal fato interessa exclusivamente aos cônjuges que podem até mesmo acordar de maneira contrária, direta ou indiretamente, considerando que é possível dispensar o dever de fidelidade no próprio pacto antenucpcial ou, então, não tomando o cônjuge nenhuma atitude, mesmo sabendo da infidelidade perpetrada pelo outro. Pode também haver o perdão e a vida conjugal continuar, normalmente. Portanto, estamos diante de um questão íntima do casal, a exigir menos juízos de valores de terceiros. 
	O casamento também instaura, entre os cônjuges, a vida em comum no domicílio conjugal, já que requer a coabitação que, por sua vez, exige comunidade de existência (arts. 1.511 e 1.566 do CC).
Cabe aos cônjuges, ainda, fixar o domicílio familiar, com exceção da possibilidade de quaisquer deles recorrerem ao juiz, em caso de deliberações que os prejudique (arts. 1.569 e 1.567, parágrafo único do CC). Além disso, cada consorte tem a obrigação de proteger o outro na sua integridade física ou moral.
A coabitação consiste no estado de pessoas, de sexos diferentes ou não, que moram juntas e convivem sexualmente. Quanto a esse dever, dois aspectos fundamentais podem ser destacados: o fato de os consortes viverem juntos e o imperativo de prestarem, mutuamente, contato íntimo, e praticarem sexo, chamado impropriamente de débito conjugal (direito-dever do marido e de sua mulher de realizarem entre si o ato sexual). Impropriamente chamado de débito conjugal, eis que não é correto analisar o direito de família em similitude com o direito das obrigações. Porém, a abstinência sexual poderá ser também mácula a um dos deveres advindos do casamento. 
Também a coabitação e o relacionamento sexual podem ser negociados entre o casal. Para evitar qualquer questionamento, melhor colocar, no pacto antenupcial, cláusulas a este respeito ou, se entender que tal fato pode ser constrangedor ao casal, em razão da publicidade, pode até mesmo ser objeto de negociação, através de documento particular, entre o casal, a ser apresentado no momento próprio. 
	Os cônjuges devem viver sob o mesmo teto, denominado legalmente de domicílio conjugal. Com base no art. 1.569 do CC, tem-se que o domicílio será escolhido por ambos, mas um pode ausentar-se para atender a encargos públicos, ao exercício da profissão ou a interesses particulares relevantes.
	O abandono injustificado do lar, ou seja, a infração injustificada do dever de coabitação constitui injúria grave e implica ofensa à honra, à respeitabilidade, à dignidade do outro consorte. Nesse caso, o cônjuge abandonado, querendo, pode interpelar judicialmente ou extrajudicialmente ao outro cônjuge, convidando-o a retornar ao lar, pena de incorrer nas sanções legais.
	Outro dever existente entre os cônjuges é a mútua assistência, que se circunscreve aos cuidados pessoais nas moléstias, ao socorro nas desventuras, ao apoio na adversidade e ao auxilio constante nas vicissitudes da vida, envolvendo, apesar de não ser consenso entre os doutrinadores, também o fornecimento de elementos materiais. Neste dever, podem ser apontados os deveres implícitos de respeito e consideração mútuos, que abrangem a sinceridade, a honra, o zelo e a dignidade em relação à família, a não-violação da correspondência epistolar, o respeito à privacidade, dentre outros. A violação dos deveres de mútua assistência e de respeito e consideração mútuos constituem injúria grave.
2.2.	Igualdade de direitos e obrigações entre marido e mulher
	Com o casamento os cônjuges tornam-se titulares de uma série de direitos e deveres, que pertencem igualmente a ambos (art. 226, § 5o, da Constituição Federal) e devem ser exercidos conjuntamente.
	Nesse contexto, destaca-se o exercício da direção da sociedade conjugal. Tendo como objetivo a harmonização do interesse comum da família, a direção da sociedade conjugal cabe a ambos os cônjuges que, para exercê-la, devem ter em vista o interesse comum do casal e dos filhos. Desapareceu, portanto, a idéia de chefe de família, presente no CC de 1916, em que se observava a predominância marital. A esposa passa a ter posição de sócia e não de subalterna, sendo colaboradora na chefia dessa sociedade. Fala-se, portanto, em isonomia conjugal dos deveres e direitos entre os cônjuges, bem como no exercício desses direitos. Assim, caso o direito decisório de um dos cônjuges seja apresentado de maneira abusiva, mesquinha ou nociva ao outro, este poderá reclamar a intervenção judicial. Do mesmo modo, pode-se recorrer ao juiz, quando houver divergência entre os consortes, em questões de interesse do casal e dos filhos. Vale destacar-se que há casos excepcionais em que um dos cônjuges poderá exercer com exclusividade a direção da família, conforme disposição do art. 1.570, do CC.
Ambos são também responsáveis pela colaboração nos encargos da família, de modo que lhes cabe, na proporção de seus bens e rendimentos do trabalho, a manutenção da família, velar pela direção do lar, atender ao funcionamento material, cuidar da educação dos filhos e do padrão moral familiar (vide arts. 1.565, 1.567 e 1.568 do CC). Assim, marido e esposa possuem o poder doméstico, competindo a cada um a função de administrar a comunidade doméstica, prestando ou dirigindo os serviços domésticos (arts. 1.643 e 1.644, CC).
Com o casamento, qualquer dos nubentes poderá adotar o sobrenome do outro ou conservar o nome de solteiro (art. 1.565, § 1o do CC). Contudo, não lhe é permitido tomar o patronímico do consorte e abandonar o próprio, já que apenas pode acrescentar, optativamente. Tal opção deve constar na certidão de casamento. Eentendemos que não é mais possível exigir que, em razão do divórcio, o cônjuge volte a usar o nome de solteiro, posto que não há mais separação no direito brasileiro e também não é correto falar em cônjuge culpado. Assim, é direito potestativo do cônjuge, mesmo com a dissolução do casamento, continuar usando o nome que do ex-cônjuge. 
Outros efeitos pessoais do casamento podem ainda ser aludidos no que tange a igualdade de direitos e deveres entre marido e esposa: o direito de se opor à fixação ou à mudança do domicílio determinada por um deles (arts. 1.569 e 1.567 do CC); direito de exercer livremente qualquer profissão lucrativa; praticar qualquer ato não vedado por lei (art. 1.642, VI); pleitear direitos na Justiça Trabalhista; requerer alistamento na Justiça Eleitoral; exercer o direito de defesa, na Justiça Criminal, sem anuência do cônjuge; não perder a nacionalidade ao se casar com o estrangeiro; aplicar-se a lei brasileira na ordem da vocação hereditária, caso o estrangeiro se case com brasileiro (art. 10, § 1o da LINDB); e, por último, litigar em juízo cível ou comercial, com exceção dos casos em que a causa versar sobre direitos reais imobiliários (art. 73 do Código de Processo Civil; art. 1.647, II do CC), a exigir a consentimento do outro cônjuge, salvo se o regime for o de separação absoluta de bens, podendo propor ação de divórcio; contratar advogado; requerer interdição do consorte; promover a declaração de ausência do consorte; reconhecer filho fora do casamento; praticar atos relativos à tutela ou à curatela; aceitar mandato; aceitar ou repudiar herança ou legado.
Finalmente, ressalta-se a questão do planejamento familiar, que é de livre decisão do casal. Assim, cabe ao Estado proporcionar recursos educacionais e financeiros, além de políticas e programas estatais e comunitários no âmbito da saúde reprodutiva, visando a um responsável exercício desse direito, presente na própria Constituição Federal, em seu art. 226, § 7o.
2.3. 	Direitos e deveres dos pais para com os filhos
		Um dos principais efeitos do casamento é o dever dos pais de sustentar, guardar e educar os filhos, preparando-os para a vida (art. 1.566, IV do CC). Assim, aos pais cabe zelar, psiquicamente e materialmente, pelos filhos. Tal dever, que, concomitantemente constitui um direito para os cônjuges, só lhes pode ser privados excepcionalmente, por meio de sentença judicial e tendo em vista os interesses dos filhos. 
	
	Ressalta-se que a violação das obrigações acarreta a suspensão ou destituição do poder familiar (arts. 1.637 e 1.638), chamado hoje mais corretamente de autoridade parental. 
	Este assunto será analisado, com maiores detalhes, quando tratarmos da guarda, visita e alimentos, bem como da cessação, suspensão e extinção do poder familiar (autoridade parental). 
Efeitos jurídicos patrimoniais do matrimônio
Conceito de regime matrimonial de bens
	
	É a normatização dos bens do casal, antes, durante e depois do casamento, ou seja, se haverá comunicabilidade ou não dos bens, espontaneamente ou por exigência legal e como ficaram tais bens, com a dissolução do casamento. 
Princípios fundamentais do regime de bens
	São três os princípios fundamentais a que se subordina a organização do regime matrimonial dos bens:
	1) A variedade de regime de bens: a norma oferece quatro tipos de regime matrimonial aos nubentes: comunhão universal; comunhão parcial; separação; e participação final dos aqüestos. 
	2) A liberdade dos pactos antenupciais: decorre do primeiro princípio. Permite-se aos nubentes a livre escolha do regime que lhes convier para regulamentar os interesses econômicos decorrentes do ato nupcial, podendo, inclusive, formar um regime misto ou especial. É também permitida a estipulação de cláusulas, desde que se respeite a ordem pública, os fins e a natureza do matrimonio (art.1.639 e 1.640 do CC). É no pacto antenupcial que deve ser estipulado o regime de preferência do casal.
			O pacto nupcial é contrato solene, que antecede ao casamento, com o objetivo de as partes disporem sobre o regime de bens que vigorará entre elas, com o advento do casamento (art. 1.639, § 1o, do CC). Entendemos que não apenas estipulações relativas às relações econômicas dos cônjuges podem constar deste contrato, atualmente. Dessa forma, não são vedadas, no estágio atual do direito das famílias, estipulações no tocante a relações pessoais dos cônjuges, podendo, inclusive, conter cláusula de caráter pecuniária, no tocante à duração do casamento e outras estipulações, abdicando ambos os cônjuges dos deveres pessoais do casamento, a exemplo da fidelidade, da coabitação e outras cláusulas que não contrariem as normas cogentes, de ordem pública, do direito das famílias.
 
			É imprescindível que seja feita a escritura pública dos pactos antenupciais (art. 108 do CC), cuja inobservância acarreta a nulidade do próprio pacto. Para valerem contra terceiros, deverão ser assentados, depois do casamento, em livro especial no Registro de Imóveis do domicílio dos cônjuges. 	Também serão inválidas as convenções antenupciais quando não seguidas pelo casamento (condição suspensiva do pacto, que têm seus efeitos iniciados com o casamento).
		Apesar da liberdade de escolha do regime de bens, a lei, paternalista ou punitiva, impõe, em certos casos (art. 1.641 do CC), um regime obrigatório: o da separação de bens, sem a comunhão de aquestos (bens adquiridos a título oneroso, durante o casamento). Tal regime é misto, formado pelo da comunhão universal (quanto ao futuro) e em parte pelo da separação (quanto ao passado), sendo caracterizado pela comunhão dos bens adquiridos na constância do casamento.
	 Caso o pacto seja nulo, por algum motivo e não sendo caso de regime de separação total obrigatória, de prevalecer o regime de comunhão parcial, que é o supletivo, ou seja, no caso de nulidade do regime escolhido, de prevalecer este, de comunhão parcial, ou, na ausência de pacto, também de prevalecer o regime de comunhão parcial. 
	Antes da lei do divórcio (Lei nº 6.515/77) o regime legal ou supletivo era o de comunhão universal. Como se casava para fazer patrimônio e não por afeto o regime legal ou supletivo, a partir de então, é o de comunhão parcial, ou seja, os bens adquiridos antes do casamento não se comunicam. Acabou segundo, segundo expressão costumeira, o “golpe do baú”.
	3) A mutabilidade do regime adotado: admite-se, em contraposição ao Código Civil de 1916, a alteração do regime matrimonial adotado, mediante autorização judicial, atendendo a um requerimento motivado de ambos os cônjuges (art. 1.639, § 2o). Para tal, deve-se verificar a procedência das razões por eles invocadas e da certeza que tal modificação não será gravosa a terceiros.
	Assim, vejamos a alteração do regime de bens no atual Código de Processo Civil. Pelo art. 734 a alteração do regime de bens, observados os requisitos legais, poderá ser requerida, motivadamente, em petição assinada por ambos os cônjuges, na qual serão expostas as razões que justifiquem a alteração ressalvados os direitos de terceiros.
	As motivações para modificação do regime de bens podem ser diversas, devendo o juiz não ser rigoroso em tal análise, eis que se trata de requerimento de jurisdição voluntária e entre pessoas maiores e capazes. Apenas quando realizada com o escopo de prejudicar terceiros é que o juiz deverá indeferir o requerimento, se de plano comprovado tal fato. Depois, se publicado os editais e não comparecendo ninguém nos autos, insurgindo, fundamentadamente, não há razão para o indeferimento do requerimento de modificação de regime de bens. 
	O § 1º deste artigo faz exigência que antes não existia, com relação à mutabilidade do regime de bens, instituída pelo Código Civil de 2002, ao determinar que o juiz, ao receber a petição inicial, determinará a intimação do Ministério Público e a publicação de edital para divulgação da pretendida alteração de bens, somente podendo decidir depois de decorrido o prazo de 30 (trinta) dias da publicação do edital. Ora, a intervençãode Ministério Público é descabida, eis que, para escolher o regime de bens, no pacto antenupcial, o casal tem plena liberdade. Assim, também deveria ser em juízo, para modificá-lo, como também poderia o legislador permitir a alteração extrajudicial. Depois, a publicação do edital acaba atrasando o procedimento, além de encarecê-lo e, como sabido, esta utópica publicação de edital é de pouco ou nenhum efeito prático.
	Pelo § 2º, do art. 734, os cônjuges, na petição inicial	 ou em petição avulsa, podem propor ao juiz meio alternativo de divulgação da alteração do regime de bens, a fim de resguardar direitos de terceiros. Esta preocupação exagerada do legislador, com a divulgação da alteração do regime de bens, não tem justificativa. Ora, o direito de terceiro é resguardado automaticamente, pelo simples fato de que, a alteração, em prejuízo de terceiro, não terá eficácia. Para o terceiro é como se alteração alguma houvesse, eis que a sentença que modificou o regime de bens não poderá atingi-lo, já que não fez parte neste procedimento de jurisdição voluntária, que sequer faz coisa julgada. Depois, na prática, não indicando o legislador quais são estes outros leis alternativos para publicação de editais e deixando a critério do juiz aceitá-los ou não, acabará, até mesmo em razão da lei do menor esforço, a publicação de edital ocorrendo somente através do Diário Oficial. 
	Também o § 3º do art. 734 exige, burocratizando e encarecendo mais ainda o procedimento que, após o trânsito em julgado da sentença, sejam expedidos mandados de averbação aos cartórios de registro civil e de imóveis e, caso qualquer dos cônjuges for empresário, ao Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades afins. 
	Outra dúvida que persistiu no início da vigência do atual CC, quando foi admitida a modificação do regime de bem, foi com relação aos casamentos celebrados antes, na vigência do Código Civil anterior, que não admitia tal modificação. Assim e principalmente considerando uma leitura apressada do disposto no art. 2039 do CC, a determinar que “o regime de bens nos casamentos celebrados na vigência do Código Civil anterior, Lei n. 3.071, de 1º de janeiro de 1916, e o por ele estabelecido.”, alguns doutrinadores entendiam que não era possível a modificação almejada. 
	Entretanto, o correto é admitir também tal modificação mesmo para os casamentos celebrados antes do atual Código Civil, considerando que, primeiro, o requerimento é formulado por ambos os cônjuges. Portanto, a retroação da lei é por conveniência e benéfica a eles. Depois, com relação à terceiros, há publicação de editais, podendo os mesmos impugnar o requerimento ou, se não comparecerem nos autos, se a modificação for prejudicial a eles, não terá validade, considerando que se trata de jurisdição voluntária e que eles não fizeram parte do procedimento. 
	Depois e com relação ao art. 2039, em hipótese alguma está o mesmo proibindo a modificação. Apenas veio dizer o óbvio, isto é, de prevalecer as mesmas regras do regime de bens anterior, considerando que algumas, no mesmo regime, sofreram alterações, ou seja, as regras do regime de separação total obrigatória do CC anterior não são as mesmas do regime de separação total obrigatória do CC atual, por exemplo. Assim, de prevalecer as regras do Código anterior.
	A respeito da modificação do regime de bens, mesmo para os casamentos celebrados sob a vigência do Código Civil de 1916 colhe-se a seguinte ementa, da Relatoria de Luiz Felipe Brasil Santos, um estudioso também do direito das famílias: 
APELAÇÃO CÍVEL. PEDIDO DE ALTERAÇÃO DO REGIME DE BENS. CASAMENTO CELEBRADO SOB A ÉGIDE DO CÓDIGO CIVIL DE 1916. POSSIBILIDADE. PRELIMINAR DE IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO REJEITADA. REQUISITOS ATENDIDOS. DEFERIMENTO DO PEDIDO. SENTENÇA MANTIDA. 1. IMPOSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO. O art. 2039 do Código Civil não impede a mudança no regime de bens dos casamentos celebrados na vigência do Código Civil de 1916. Ao dispor que o regime de bens nos casamentos celebrados na vigência do Código Civil anterior (...) é o por ele estabelecido, claramente visa a norma resguardar o direito adquirido e o ato jurídico perfeito. Isso porque ocorreram diversas modificações nas regras próprias de cada um dos regimes de bens normatizados no Código de 2002 em relação aos mesmos regimes no Código de 1916, e, assim, a alteração decorrente de lei posterior viria a malferir esses cânones constitucionais. 2. MÉRITO. Há de ser deferida a alteração do regime de bens, porquanto estão atendidos os requisitos legais postos no § 2º do art. 1.639 do CCB: (a) consenso entre os requerentes; b) procedimento de autorização judicial; c) indicação dos motivos - que pode ser o interesse pessoal, pois são os postulantes maiores e capazes e d) ressalva do direito de terceiros. 3. Mudança que vigora para os bens que vierem a ser doravante adquiridos, consoante manifestação expressa dos requerentes. REJEITADAS AS PRELIMINARES, NEGARAM PROVIMENTO. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70050767839, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Luiz Felipe Brasil Santos, Julgado em 29/11/2012)
 
	Portanto, há que se ter o cuidado de verificar se o casamento foi celebrado no CC anterior ou no atual. Se no anterior, de aplicar as regras do CC anterior, desde que o regime não foi modificado, a requerimento das partes. Portanto, a pessoa casada no regime de separação total obrigatória, no regime anterior, que exigia a anuência de ambos os cônjuges, para as práticas de atos disposição de bens, poderá requerer a modificação do regime, para o mesmo regime, com a finalidade de buscar a dispensa da anuência dos cônjuges, como consta do atual CC. 
	Também há certa divergência quanto ao regime de separação total obrigatória, se é possível a mudança para outro regime. O que também apressadamente parece impossível vem sendo admitido na doutrina e na jurisprudência, desde que já superadas as causas que levaram ao regime de separação total obrigatória. Assim, se foi suprida a vontade de um dos cônjuges para casar, o regime é o de separação total obrigatória. Porém, se o casamento já perdura por mais de 10 (dez) anos, por exemplo, o motivo que levou o legislador a duvidar da duração deste matrimônio restou superado. Assim, neste caso é possível a modificação do regime de bens, como também o é no caso de o casamento celebrado por mácula de causas suspensivas, resolvida depois do casamento, a exemplo do viúvo que se casou novamente, sem fazer a partilha de bens, existindo filhos menores. Feita a partilha posterior é possível modificar o regime de bens. 
	Assim, somente em razão da idade, mais de 70 anos, é que não é possível modificar o regime de bens, considerando que, com o passar do tempo, a preocupação é maior com os idosos e sua higidez mental. Entretanto, consideramos esta exigência de separação obrigatória, para os maiores de 70 (setenta) anos, inconstitucional. Não é a idade que torna a pessoa incapaz. Uma pessoa pode ter 80 anos e ser plenamente lúcida; outra, de 25 anos, por exemplo, pode não ser. 
		Vamos então analisar os regimes de bens existentes no direito brasileiro.
	Regime da comunhão parcial
	É o regime que exclui da comunhão os bens que os cônjuges possuíam antes de se casar ou que venham a adquirir por causa anterior e alheia ao casamento, incluindo, portanto, na comunhão, apenas os bens adquiridos posteriormente.
	
	Dispensa o pacto antenupcial que, portanto, no caso é facultativo. Assim, esclarece o parágrafo único do art. 1.640, que “poderão os nubentes, no processo de habilitação, optar por qualquer dos regimes que este Código regula. Quanto à forma, reduzir-se-á a termo a opção pela comunhão parcial, fazendo-se o pacto antenupcial por escritura pública, nas demais escolhas”. 
 
	Tal regime prescreve a comunhão de aquestos, ou seja, bens adquiridos a títulos onerosos, e, assim, estabelece uma solidariedade entre os cônjuges, já que possuirão interesses comuns ao mesmo tempo em que lhes são permitidos cuidar daquilo que lhes pertencia antes docasamento.
		Vale destacar a presença dos bens incomunicáveis, ou seja, que constituem patrimônio pessoal da mulher ou do marido, os quais são retratados no art. 1.659 do CC. No art. 1.661, tem-se, ainda, a incomunicabilidade de bens cuja aquisição tiver por título uma causa anterior ao casamento. Os bens comunicáveis (que integram o patrimônio comum), por sua vez, são colocados pelo art. 1.660 do CC.
	Dessa forma, observa-se a coexistência de três patrimônios nesse regime: comum (os bens adquiridos durante o casamento), pessoal do marido e pessoal da esposa (bens pessoais, advindos da herança ou de doação exclusiva a um dos cônjuges). Os bens comuns são aquestos, portanto, se comunicam. Os bens partilhares não se comunicam. 
	 
	Há de se excluir também da comunicabilidade os bens subrrogados (art. 1.674 do CC), ou seja, os bens adquiridos com a venda dos bens particulares. Evidentemente se o valor do outro bem adquirido, com a venda de bens particulares, o excedente se comunica. 
	Regra prática traz o parágrafo único do art. 1.662, ou seja, “no regime da comunhão parcial, presumem-se adquiridos na constância do casamento os bens móveis, quando não se provar que o foram em data anterior”. 
	Quanto ao passivo, cada consorte responde pelos próprios débitos anteriores ao casamento; e, nas dívidas posteriores, contraídas no exercício da administração do patrimônio comum, obrigam os bens comuns e aos particulares do cônjuge que o administra, e aos do outro na proporção do proveito que houver auferido (art. 1.663, § 1o, do CC).
	 A dissolução do regime dá-se através da morte de um dos cônjuges (cujos bens são entregues aos herdeiros), separação judicial (para os que insistem em sua permanência no direito brasileiro), divórcio, nulidade, anulação de casamento ou por acordo entre as partes. Nesses últimos casos, os bens do patrimônio comum serão partilhados e cada qual fica com os seus bens incomunicáveis.
	De observar-se que os frutos dos bens particulares se comunicam, ou seja, os aluguéis, os rendimentos de aplicação, de uma quantia recebida em doação ou herdada (art. 1.660, V, CC).
	Conforme jurisprudência pacífica e corretíssima, a separação de fato implica na incomunicabilidade na aquisição dos bens, a partir de então. Portanto, se o casamento foi celebrado no regime de separação de bens e o marido abandonou o lar, não mais aparecendo, a mulher, que continua no estado de casada, não conseguirá vender o imóvel, eis que constou o estado civil dela na Cartório de Registro de Imóvel. Assim, caso ela queira postular o divórcio deverá demonstrar que os bens foram adquiridos após a separação, de fato, do casal, e requerer ao juiz que expeça ofício ao Cartório de Registro, para constar que tal bem é incomunicável e que poderá ser vendido, sem a anuência do ouro cônjuge. 
	Entretanto, se a mulher pretender apenas vender o bem por ela adquirido, depois do abandono do lar pelo marido, poderá ajuizar ação declaratória de incomunicabilidade, demonstrando, apenas, que o bem foi adquirido após a separação, de fato, do casal.
	Outra questão que se coloca, neste momento, aproveitando a oportunidade, é com relação à venda de bens comum, adquirido quando o marido ainda estava no lar e depois desapareceu. Portanto, não se aplica o acima dito. Este bem é de ambos os cônjuges. Entretanto e ao contrário do que é comum nas ações de suprimento de vontade do cônjuge ausente, não é correto requerer o depósito, em juízo, da parte do cônjuge desaparecido. É que, com o desaparecimento do outro cônjuge, a administração da família coube apenas ao outro cônjuge, que poderá requerer a autorização para a venda do bem em comum e aplicar o produto desta venda em prol da família, prestando constas, posteriormente, se questionada pelo outro cônjuge. 
	Depositar a cota parte do outro cônjuge em juízo, em prejuízo da família necessitada, não é correto. E, depois, não aparecendo o outro cônjuge, o dinheiro depositado fica no Banco para sempre. 
	Portanto, ao analisar a certidão de casamento, necessário certificar se realmente o regime de bens dela constante é o correto. Por exemplo, se for de comunhão total, necessariamente deverá existir o pacto antenupcial. Sobre o assunto, de destacar-se o julgado abaixo, no qual foi pretendida a retificação de registro de casamento, para que constasse o regime correto: 
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - DIREITO DE FAMÍLIA - NULIDADE DE REGIME DE BENS E RETIFICAÇÃO DE REGISTRO PÚBLICO - REGIME DE COMUNHÃO DE BENS - INEXISTÊNCIA DE PACTO ANTINUPCIAL - FALTA DE INTERESSE DE AGIR - NULIDADE DO REGISTRO - DECADÊNCIA - INAPLICABILIDADE - PRESUNÇÃO DE VERACIDADE DOS REGISTROS PÚBLICOS - ONUS PROBATÓRIO - MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. 1. O interesse de agir concerne à possibilidade e necessidade de se obter por meio do processo um provimento jurisdicional útil. Há interesse de agir, portanto, da parte que requer a nulidade do registro de casamento, na parte em que consignou o regime de bens adotado, tendo em vista a presente e futuras discussões que envolvam interesse patrimonial dos nubentes. 2. Os negócios jurídicos nulos de pleno direito não se submetem a prazo decadencial e prescricional. 3. Nos termos do art. 405, CPC, gozam de presunção relativa de veracidade apenas as declarações constantes num documento público que corresponderem aos fatos que o agente público atestar terem sido por ele constatados, uma vez ocorridos em sua presença, ou se se referirem a fatos de seu próprio conhecimento. Sendo relativa à presunção, pode ser afastada por prova em contrário. 4 - No caso, pleiteia o autor declaração de nulidade do registro de casamento, na parte em que constou que adotaram os nubentes o regime de comunhão de bens, alegando inexistência de pacto antenupcial. Entretanto, havendo menção no registro da existência da referida convenção e, não logrando a parte autora êxito em comprovar suas alegações, a manutenção de presunção de veracidade do registro de casamento é medida que se impõe.
 
(AC: 10317140061092001 MG, Relator: Jair Varão, Data de Julgamento: 06/03/0018,TJ-MG)
Com relação ao produto da venda de imóvel de pessoa casada no regime de comum parcial e interditada, não demonstrada a real necessidade da utilização da cota do cônjuge interditado, não há como deferir o alvará, ficando, porém, à meação do outro cônjuge à livre disposição dele, conforme ementada transcrita abaixo: 
APELAÇÃO CÍVEL – PEDIDO DE ALVARÁ JUDICIAL PARA ALIENAÇÃO DE IMÓVEL – BEM PERTENCENTE A CASAL – CÔNJUGE VAROA INTERDITADA – CURATELA EXERCIDA PELO VARÃO – CASAMENTO SOB O REGIME DE COMUNHÃO PARCIAL DE BENS – AQUISIÇÃO DO IMÓVEL OCORRIDA DURANTE A VIGÊNCIA DO MATRIMÔNIO – PRODUTO ADQUIRIDO COM A VENDA DO BEM – AUSÊNCIA DE PROVAS SOBRE A REAL NECESSIDADE DE LEVANTAMENTO DO QUANTUM EM PROVEITO DA INTERDITADA – ÓBICE QUE, CONTUDO, DEVE SE RESTRINGIR À MEAÇÃO DESTA – FRAÇÃO PERTENCENTE AO CÔNJUGE CURADOR QUE PODE SER LIVREMENTE GERIDA POR ESTE – RECURSO PROVIDO. Adequado obstar o levantamento da quantia obtida com a alienação, através de alvará judicial, de bem imóvel pertencente à pessoa interditada, quando o curador, no caso seu cônjuge, não logra êxito em comprovar que tal providência de fato será revertida em proveito da incapaz. Contudo, levando em consideração que curador e curatelada são casados sob o regime de comunhão parcial de bens, assim como que o imóvel objeto de transmissão foi adquirido na constância do matrimônio, não se pode impedir o varão de levantar a meação que lhe pertence, já que tal quantia pode livremente ser gerida por este, autorização esta que não enseja qualquer abalo ao interesse da incapaz.
 
(TJ-MS 08004560820178120002 MS 0800456-08.2017.8.12.0002, Relator: Des. Luiz Tadeu Barbosa Silva, Data de Julgamento: 12/12/2017, 5ª Câmara Cível)
Regime da comunhão universal
	Por tal regime, todos os bens, presentes ou futuros, adquiridos antes ou depois do casamento, e as dívidas passivas tornam-se comuns, constituindo uma única massa. Tem-se o estado de indivisão, de modo que cada cônjuge tem direito àmetade ideal do patrimônio comum (ideal porque, antes da dissolução e partilha, não há meação – art. 1.667 do CC). 
	
	Necessita da lavratura do pacto antenupcial. E ambos os cônjuges tem que anuírem na venda de bens imóveis. 
		Apesar de se estabelecer a comunicabilidade de todos os bens, esse regime admite, excepcionalmente, a exclusão de alguns, dado o seu caráter personalíssimo ou devido à própria natureza. Assim, o art. 1.668 lista os bens excluídos da comunhão universal. Há de se destacar que, caso não haja estipulação em contrário, a incomunicabilidade dos bens não se estendem aos frutos, quando são percebidos ou vencidos durante o casamento (art. 1.669).
	Qualquer dos cônjuges poderá administrar o patrimônio comum, sendo que as dívidas contraídas, durante a gestão, serão respondidas pelos bens comuns e os particulares do cônjuge administrador. Os do outro só responderão se ficar provado que este obteve lucro.
	Dá-se a extinção com a morte de um dos cônjuges, separação judicial, divórcio, nulidade ou anulação de casamento. Ressalta-se que os bens não são divididos com o advento desses atos, mas apenas com a partilha.
	Declarado nulo o casamento, não se tem a comunhão de bens, devendo cada consorte retirar apenas o que trouxe para a massa. O mesmo se dá com o casamento anulado, salvo se, na sentença, for reconhecida a boa-fé de um ou ambos os cônjuges.
	Com a extinção da comunhão e feita a partilha do ativo e do passivo, cessa a responsabilidade de cada cônjuge para com os credores do outro por dívidas que este houver feito, conforme o art. 1.671 do CC.
Regime de participação final nos aqüestos
	O CC coloca, nos arts. 1.672 a 1.686, um novo regime de bens: o da participação final dos aqüestos, com o intuito de diferenciá-lo do regime da comunhão parcial. Nele, há a formação de massas de bens particulares incomunicáveis durante o casamento, que se tornam comuns no momento da dissolução da sociedade conjugal, já que cada cônjuge é credor da metade do que o outro adquiriu onerosamente na constância do casamento (arts. 1.672 e 1.682). Assim, há dois patrimônios: o inicial (compostos pelos bens possuídos por cada cônjuge antes do casamento e os que foram adquiridos durante a vigência deste) e o final.
	Também necessita da lavratura do pacto antenupcial e, pelo art. 1.656 do CC poderá convencionar a livre disposição dos bens imóveis, desde que particulares.
	Quanto à administração dos bens, cada cônjuge administra os bens que lhes pertencia antes de casar e os adquiridos, gratuita ou onerosamente, durante o casamento (arts. 1.673, 1.656 e 1.647, I).
	No que tange a responsabilidade pelo passivo, cada um responde por seus débitos, salvo quando fica provado que o débito foi revertido, total ou parcialmente, em proveito do outro cônjuge (arts. 1.677, 1.678 e 1.686). Destaca-se que as dívidas de um dos cônjuges, quando superiores à meação, não obriga o outro ou a seus herdeiros.
	A dissolução da sociedade conjugal (provocada por morte de um dos cônjuges, separação judicial ou divórcio) acarreta a apuração do montante dos aqüestos, conforme disciplina os arts. 1.674 a 1.676 e 1.683 a 1.685 do CC.
	Trata-se, portanto, de um regime misto, considerando que, durante o casamento, de aplicar-se as normas da separação de bens, pelas quais cada cônjuge possui seu próprio patrimônio, tendo a titularidade do direito de propriedade sobre os bens adquiridos, que comporão uma massa incomunicável de bens particulares. Todavia, durante o casamento, os cônjuges têm expectativa de direito à meação, de maneira que a partilha (...) obedece a uma precisa e rigorosa verificação contábil”.
	
Regime de separação de bens
	O regime de separação de bens é aquele em que cada consorte conserva, com exclusividade, o domínio, posse e administração de seus bens presentes e futuros e a responsabilidade pelos débitos anteriores e posteriores ao matrimônio. Verifica-se a presença de dois patrimônios perfeitamente individuados e distintos: o da esposa e o do marido.
	Tal regime pode ser dividido em duas espécies, de acordo com a sua origem: legal e convencional. Na legal, têm-se determinados casos em que a lei impõe tal regime, por razões de ordem pública ou como sanção, conforme disciplina o art. 1.641 do CC. A convencional, por sua vez, advém da livre vontade das partes, e pode ser dividida em absoluta ou pura e relativa ou limitada. Na primeira, tem-se a incomunicabilidade de todos os bens adquiridos antes e depois do casamento, incluindo frutos e rendimentos. Já a segunda, no caso de a separação se restringir apenas aos bens presentes, comunicando-se, então, os frutos e os rendimentos futuros (art. 1.687 do CC).
	Ressalta-se que a Súmula 377 do STF, ao afirmar que “No regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do casamento”, acaba com o regime de separação total obrigatória, existindo aquestos, ou seja, bens adquiridos a títulos onerosos, durante o casamento.
	A Súmula 377 do STF foi recentemente citada e ratificada no Superior Tribunal de Justiça, conforme ementa abaixo transcrita: 
PROCESSUAL  CIVIL.  AGRAVO  INTERNO  NO  AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CASAMENTO.  REGIME. SEPARAÇÃO OBRIGATÓRIA DE BENS. PARTILHA. ESFORÇO COMUM PRESUMIDO. DECISÃO MANTIDA. 1.  "No  regime  da  separação  obrigatória,  comunicam-se  os  bens adquiridos  onerosamente na constância do casamento, sendo presumido esforço comum (Súmula n. 377/STF)" (AgRg no AREsp 650.390/SP, Rel. Ministro   JOÃO  OTÁVIO  DE  NORONHA,  TERCEIRA  TURMA,  julgado  em 27/10/2015, DJe 03/11/2015). 2. Agravo interno a que se nega provimento. (STJ, AgInt no AREsp 857923 / MG, Rel Min. Antônio Carlos Ferreira, 4ª Turma, pub. 13/03/2018)
Entretanto, há entendimento também no sentido de que, mesmo havendo aquestos, necessário é a prova de esforço comum, no regime de separação total obrigatória, para que possa existir a meação, o que é um retrocesso, eis que volta a velha e então ultrapassada necessidade de se fazer a difícil prova do esforço comum. 
DIREITO DE FAMÍLIA - PARTILHA - COMPANHEIRO SEPTUAGENÁRIO (CC/2002, ART. 1.641, II)- SEPARAÇÃO OBRIGATÓRIA DE BENS - ESFORÇO COMUM - COMPROVAÇÃO - NECESSIDADE - DECISÃO EXTRA PETITA - INOCORRÊNCIA 1 "Ao Órgão Julgador cabe, frente aos fatos levados ao seu conhecimento, aplicar a adequada regra jurídica à hipótese, em desdobramento da circunstância de que ao fato narrado deve ser aplicado o devido direito - naha mihi factum dabo tibi ius - pois este é de conhecimento do juiz - iura novit curia" (AR n. 2008.010769-0, Des. Eládio Torret Rocha). 2 Conforme o entendimento atual do Superior Tribunal de Justiça, no regime da separação obrigatória de bens comunicam-se aqueles adquiridos onerosamente na constância do casamento/união estável, desde que demonstrado o esforço comum (EREsp n. 1.171.820/PR, Min. Raul Araújo). 3 Inexistente prova, ou meros indícios, no sentido de ter a ex-companheira contribuído direta e/ou indiretamente com a formação do patrimônio adquirido pelo outro na constância da relação, é incabível o reconhecimento do direito à meação.
 
(TJ-SC - AC: 03011061320178240024 Fraiburgo 0301106-13.2017.8.24.0024, Relator: Luiz Cézar Medeiros, Data de Julgamento: 12/06/2018, Quinta Câmara de Direito Civil)
 
 
	Há posição doutrinária, liderada por Zeno Veloso, no sentido de que é possível, através de escritura pública, afastar a aplicação dessa Súmula. Entretanto, somos contrários a esse entendimento, considerando que o STF ao editar a Súmula 377 o que fez foi julgar por equidade, suavizando os rigores da lei. Depois, não é corrente, principalmente após o advento do atual Código de Processo Civil, a reforçar os precedentes dos Tribunais Superiores, admitir a revogação de Súmula pelas próprias partes interessadas, sem judicializar a questão. 
	Comentando e aderindo o entendimento de Zeno Veloso, acima aludido, outro jurista de escol, Flávio Tartuce, in: Migalhas, Quinta-feira, 15 de março de 2018, destaca: 
“Em artigo recentemente publicado no Jornal O Liberal, de Belém do Pará,e replicado em várias páginas da internet, o professor Zeno Veloso trouxe a debate um tema instigante, qual seja a possibilidade de afastamento da incidência da súmula 377 do STF por meio de pacto antenupcial celebrado por cônjuges que sofrem a imposição do regime da separação legal ou obrigatória de bens, na hipótese descrita pelo art. 1.641, inciso II, do Código Civil.
O jurista assim relata o caso, com sua peculiar leveza de pena,sempre disposta a resolver os numerosos conflitos que lhe são levados a consulta em sua atividade profissional e acadêmica:
"Há cerca de um ano João Carlos e Matilde estão namorando. Ele é divorciado, ela é viúva. João fez 71 anos de idade e Matilde tem 60 anos. Resolveram casar-se e procuraram um cartório de registro civil para promover o processo de habilitação. Queriam que o regime de bens do casamento fosse o da separação convencional, pelo qual cada cônjuge é proprietário dos bens que estão no seu nome, tantos dos que já tenha adquirido antes, como dos que vier a adquirir, a qualquer título, na constância da sociedade conjugal, não havendo, assim sendo, comunicação de bens com o outro cônjuge. Mas o funcionário do cartório explicou que, dado o fato de João Carlos ter mais de 70 anos, o regime do casamento tinha de ser o obrigatório, da separação de bens, conforme o art. 1.641, inciso II, do Código Civil. (...). Mas João Carlos é investidor, atua no mercado imobiliário, adquire bens imóveis, frequentemente, para revendê-los. E Matilde é corretora, de vez em quando compra um bem com a mesma finalidade. Seria um desastre econômico, para ambos, que os bens que fossem adquiridos por cada um depois de seu casamento se comunicassem, isto é, fossem de ambos os cônjuges, por força da súmula 377/STF. No final das contas, o regime da separação obrigatória, temperado pela referida súmula, funciona, na prática, como o regime da comunhão parcial de bens. Foi, então, que me procuraram, pedindo meu parecer" (VELOSO, Zeno. Casal quer afastar a súmula 377).
Após tal exposição, o mestre do Pará expõe sua opinião, sustentando que é possível o afastamento da aplicação da sumular, por não ser o seu conteúdo de ordem pública, mas sim de matéria afeita à disponibilidade de direitos. E lança uma questão de consulta, que o presente texto pretende responder: "Mas há um grupo de jovens e competentes professores brasileiros, que integram a Confraria de Civilistas Contemporâneos, formada por mais de 30 mestres (Tartuce, Mário Delgado, Simão, Toscano, Catalan, Pablo Malheiros, Stolze, para citar alguns), a quem peço um parecer sobre o tema acima exposto. Afinal, podem ou não os nubentes, atingidos pelo art. 1.641, inciso II, do Código Civil, afastar, por escritura pública, a incidência da Súmula 377?".
Como um dos fundadores da citada Confraria — um grupo informal que pretende realizar encontros sociais e jurídicos de seus membros e convidados, especialmente para a congregação de vínculos de amizade e de afeto —, pretendo trazer aqui a nossa resposta, após ter consultado os amigos civilistas em nossa comunidade digital.
Estamos total e unanimemente filiados à opinião de Zeno Veloso, levando-se em conta a opiniumdaqueles que se manifestaram no nosso grupo. De início, sem dúvida, a Súmula 377 do STF — do remoto ano de 1964 —, traz como conteúdo matéria de ordem privada, totalmente disponível e afastada por convenção das partes, não só no casamento, como na união estável. Vale lembrar que, pelo teor da sua ementa, "no regime de separação legal de bens, comunicam-se os adquiridos na constância do casamento". Pontue-se que, após muito debate na doutrina e na jurisprudência, tem-se aplicado a súmula integralmente, sem a necessidade de prova do esforço comum dos cônjuges para que haja a comunicação de bens, como destaca o próprio professor em seu texto.
Em outras palavras, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, a quem cabe dar a última palavra a respeito do Direito Privado desde a Constituição Federal de 1988, praticamente transformou o regime da separação legal ou obrigatória de bens em um regime de comunhão parcial. Assim concluindo, por todos, entre os últimos julgamentos: "no regime da separação obrigatória, comunicam-se os bens adquiridos onerosamente na constância do casamento, sendo presumido o esforço comum (Súmula n. 377/STF)" (STJ, AgRg no AREsp 650.390/SP, Rel. ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, TERCEIRA TURMA, julgado em 27/10/2015, DJe 03/11/2015).
Além da clareza do argumento, no sentido de se tratar de matéria de ordem privada e, portanto, disponível, acrescente-se, como pontuou Mário Luiz Delgado em nossos debates, que "é lícito aos nubentes, antes de celebrado o casamento, estipular, quanto aos seus bens, o que lhes aprouver" (art. 1.639, caput, do Código Civil). A única restrição de relevo a essa regra diz respeito às disposições absolutas de lei, consideradas regras cogentes, conforme consta do art. 1.655 da mesma codificação, o que conduziria à nulidade absoluta da previsão. A título de exemplo, se há cláusula no pacto que afaste a incidência do regime da separação obrigatória, essa será nula, pois o art. 1.641 do Código Privado é norma de ordem pública, indisponível, indeclinável pela autonomia privada.
Todavia, não há qualquer problema em se afastar a súmula 377 pela vontade das partes, o que, na verdade, ampliaria os efeitos do regime da separação obrigatória, passando esse a ser uma verdadeira separação absoluta, em que nada se comunica. Tal aspecto foi muito bem desenvolvido por José Fernando Simão também nos debates que travamos.
Em suma, mestre Zeno Veloso, sim, podem os nubentes, atingidos pelo art. 1.641, inciso II, do Código Civil, afastar, por escritura pública, a incidência da súmula 377. Acreditamos que tal afastamento constitui um correto exercício da autonomia privada, admitido pelo nosso Direito, que conduz a um eficaz mecanismo de planejamento familiar, perfeitamente exercitável por força de ato público, no caso de um pacto antenupcial (art. 1.653 do CC/2002).”. 
No caso de o regime de bens ser o de separação obrigatória, qualquer outro regime estipulado é anulável, através de ação própria, conforme ementa que se segue: 
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ANULATÓRIA DE REGIME DE CASAMENTO. É obrigatório o regime da separação de bens ao casamento com a infração do art. 183, XIII, do CC/16 (O viúvo que tiver filho da Cônjuge falecida, enquanto não fizer o inventário dos bens do casal, não pode casar). Inteligência do art. 226, caput, do CC/1916. Apelação parcialmente provida. (Apelação Cível Nº 70075882159, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Jorge Luís Dall'Agnol, Julgado em 28/03/2018).
 
(AC: 70075882159 , Relator: Jorge Luís Dall'Agnol, Data de Julgamento: 28/03/2018, Sétima Câmara Cível, TJ-RS)
O art. 1.688 do CC coloca a ambos os cônjuges o dever de prover a mantença da família, com os rendimentos de seus bens, na proporção de seu valor, excedo quando fora estipulado em contrário no contrato antenupcial. 
	Quanto à administração, tem-se que cada consorte deva conservar a integral e exclusiva administração e fruição daquilo que possui, não dependendo da anuência do outro cônjuge para alienar bens imóveis (arts. 1.687 e 1.647, I). 
	Com a dissolução do regime por separação judicial, cada consorte retira seu patrimônio e, por morte de um deles, o sobrevivente entrega aos herdeiros do falecido a parte deste e, caso haja bens comuns, os administrará até a partilha.
	
	3.1.2. Doações antenupciais
	Doações antenupciais são doações recíprocas, ou de um ao outro nubente, ou mesmo por terceiros, feitas por pacto antenupcial, através de escritura pública, sob a condição de não exceder a metade dos bens do doador, com exceção dos casos de separação obrigatória de bens, em que não se admite nem mesmo doação causa mortis.
	Tem como pressupostos: a realização de evento futuro e incerto (casamento), funcionando, portanto, como condição suspensiva; não requer aceitação expressa do donatário (a própria realização do matrimonio implica aceitação);não são revogadas por ingratidão; não pode ser subordinada à condição de valerem após a morte do doador.
3.1.3. Administração da sociedade conjugal
	Cabe aos cônjuges, durante o casamento, gerir os bens comuns e determinados bens particulares (art. 1.642, II, do CC), em virtude do regime matrimonial adotado, ou de pacto antenupcial (art. 1.567), podendo qualquer deles anular os atos praticados abusivamente pelo outro na administração dos bens.
	Há casos em que um dos cônjuges assume a direção da sociedade conjugal, passando a ter a administração do casal, conforme estabelecido no art. 1.570 do CC, só podendo alienar os imóveis comuns e os móveis e imóveis do outro mediante autorização especial do juiz, exercendo, ainda, sozinho o poder familiar (autoridade parental).
3.1.4. Preservação do patrimônio familiar
Restrições à liberdade de ação dos cônjuges
	O CC estabelece limitações ao poder de administração dos cônjuges, em determinados atos de conteúdo patrimonial. Para praticá-los, mesmo com a direção da sociedade conjugal, é necessária a outorga do outro. Tais limitações têm como intuito assegurar a harmonia e a segurança da vida conjugal, bem como preservar o patrimônio familiar da má administração do outro.
	Assim, salvo no regime de separação absoluta, o marido e a mulher não podem, sem a autorização do outro: alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis (art. 1.647, I, do CC); pleitear como autor ou réu acerca de bens e direitos imobiliários (art. 1.647, II); prestar fiança ou aval (art. 1.647, III); alugar prédio urbano residencial por prazo igual ou superior a 10 anos; fazer doação, não sendo remuneratória, com os bens comuns ou que possam integrar futura meação (art. 1.647, IV).
	Quando um dos consortes negar injustamente a autorização ou não puder dar seu consentimento, o outro poderá requerer suprimento judicial da autorização (arts. 1.647 e 1.648 do CC; art. 11 do CPC). Trata-se de ação de suprimento de consentimento. 
	Vale destacar a presença de atos patrimoniais, como os constantes nos arts. 1.642 e 1.643 do CC, em que os cônjuges podem praticar independentemente de autorização marital ou uxória. 
Impenhorabilidade do único imóvel residencial da família
	A Lei n. 8.009/90, objetivando proteger o patrimônio familiar, estabelece a impenhorabilidade do único imóvel rural ou urbano da família (destinado à moradia permanente), abrangendo construção, plantação e benfeitorias, bem como os equipamentos de uso profissional e os móveis que o guarnecerem, desde que quitados.
	Com a impenhorabilidade, esses bens não responderão por débitos civil, comercial ou previdenciário contraído pela entidade familiar.
	Em caso de mais de um imóvel usado como residência, a impenhorabilidade recairá sobre o de menor valor, salvo quando outro estiver registrado para tal finalidade, na circunscrição imobiliária e conforme o art. 1.711 e segs. do CC.
	Caso a família residir em imóvel alugado, a impenhorabilidade incidirá sobre os bens móveis que guarneçam a residência, desde que pertencentes ao locatário (art. 2o, parágrafo único da referida lei).
	Todavia, há casos em que a penhora recairá sobre o único imóvel da família, assim como sobre os móveis quitados, de acordo com o art. 3o.
Instituição do bem de família (arts. 1.711 a 1.722, do CC)
	O bem de família é um instituto que tem como objetivo assegurar um lar à família ou meios para o seu sustento, resguardando-a de penhoras por débitos posteriores à instituição, com exceção das que provierem de tributos concernentes ao prédio ou de despesas condominiais. Pode consistir em prédio residencial, urbano ou rural, que os cônjuges ou conviventes destinam para abrigo ou domicílio familiar, incluindo as pertenças e acessórios.
	Segundo o art. 1.711, os cônjuges ou entidade familiar podem, mediante testamento ou escritura pública, destinar parte do patrimônio para instituir bem de família, desde que não ultrapasse um terço do patrimônio líquido existente ao tempo da instituição. Observa-se, aqui, que somente os mais favorecidos economicamente poderão fazer uso desse instituto como garantia para suas famílias, já que se fixa o bem de família através de uma fração do patrimônio e não em valor máximo, de modo que, quanto maior o patrimônio da família, maior será o valor correspondente a este bem.
	Ele pode ser instituído pelos cônjuges ou por terceiro, por ato inter vivos ou causa mortis, desde que os beneficiados aceitem expressamente (art. 1.711, parágrafo único) e haja assento no Registro de Imóveis (art. 1.714).
	Salvo seja acordado o contrário no ato de instituição, a administração do bem de família compete a ambos os cônjuges, resolvendo o juiz divergências entre ambos (art. 1.720).
	A inalienabilidade do bem de família, contudo, é relativa, já que somente subsiste enquanto viverem os cônjuges e até que seus filhos atinjam a maioridade, desde que não estejam sujeitos à curatela (art. 1.722).
3.1.5. Dever recíproco de socorro
	Dever recíproco de socorro é aquele que incumbe a cada consorte em relação ao outro de ajuda-lo economicamente, abrangendo o sustento e a prestação alimentícia. Consiste, portanto, na assistência pecuniária recíproca dos consortes.
	Em relação ao dever de sustento, cabe a ambos contribuir com as despesas do casal através do rendimento do trabalho e dos bens, na proporção de seu valor, mesmo quando o regime é o da separação de bens, exceto quando haja uma estipulação em sentido contrário no pacto antenupcial.
	No tocante à prestação de alimentos, diz-se que ela é devida da separação de fato ou judicial. 
3.1.6. Direito sucessório do cônjuge ou companheiro sobrevivente
	No que tange o direito sucessório, o cônjuge ou companheiro sobrevivente, além de herdeiro necessário, concorre na ordem de vocação hereditária, com descendentes e ascendentes e, caso estes faltem, ser-lhe-á deferida a sucessão (art. 1.838, do CC).
	Sobre o direito de a companheira concorrer na herança, a exemplo do cônjuge, de destacar-se a ementa que se segue: 
DO ART. 1725 DO CC - REGIME DA COMUNHÃO PARCIAL DE BENS - EQUIPARAÇÃO CONSTITUCIONAL DA COMPANHEIRA À CÔNJUGE - DIREITO À MEAÇÃO DOS BENS - AUSÊNCIA DE BENS NÃO ONEROSOS - REFORMA DA SENTENÇA. 1 - Reconhecida a união estável pelos herdeiros, a companheira equiparada constitucionalmente a cônjuge, participa do inventário na condição de meeira do de cujus, nos bens adquiridos na constância da união a título oneroso. 2 - Se há somente bens onerosos, a companheira concorrerá no inventário na condição de meeira, sendo que a cumulação de meeira e herdeira somente ocorre na hipótese de concorrência de bens comuns e particulares. 3 - Reforma da decisão, improcedência do pedido.  (TJMG -  Apelação Cível  1.0051.15.003680-7/001, Relator(a): Des.(a) Sandra Fonseca , 6ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 20/02/2018, publicação da súmula em 02/03/2018)
	O consorte supérstite, casado sob o regime de comunhão, continua na posse dos bens até a partilha, desde que estivesse convivendo com o de cujus na época de sua morte ou fosse inocente na separação, tendo a prerrogativa de ser nomeado inventariante (já que a nomeação de inventariante só poderá atingir herdeiro ou testamenteiro, se o cônjuge, culposamente, concorreu para a separaçao).
	O cônjuge sobrevivente, independente do regime de bens adotado, tem direito real de habitação, se observados os requisitos constantes no art. 1.831 do CC.
3.2. Relações econômicas entre pais e filhos
	As relações econômicas entre pais e filhos estão disciplinadas no Código Civil e na Lei n. 8.069/1990 – o Estatuto da Criança e do Adolescente. Ambos prescrevem que é dever dos cônjuges sustentar os filhos até que eles alcancem a maioridade, da mesma forma que são incumbidos de prestar alimentos a eles.
 
	Os pais devem também administrar os bens dos filhos menores, não podendo dispor destes, salvo com autorização judicial, devendo prestar contas de sua gerência quando o filho for emancipado ou atingir a maioridade. Tal administração deve se dar tendo em vista valoresEMPREGO DA ANALOGIA. 1. O Juízo da Vara de Família é competente para dirimir as questões relativas à união estável homoafetiva, diante da aplicação isonômica da legislação que regula a união estável. 2. Aplica-se às relações estáveis homoafetivas, por analogia, a legislação atinente às relações estáveis heteroafetivas, tendo em vista a caracterização dessa relação como modelo de entidade familiar (STF, ADI n. 4.277/DF, Relator Ministro AYRES BRITTO, DJe 5/5/2011). 3. Recurso especial desprovido.
Portanto, a intervenção do Estado, no tocante à escolha, não existe. Também não é correto afirmar que, dentre as diversas formas de constituição de família, o casamento é a melhor.
A escolha compete ao casal e o que sobressai, em respeito ao Princípio da Liberdade e da Dignidade da Pessoa Humana, neste momento, é o afeto. Existindo afeto e traduzido este em felicidade, a eficácia do Direito de Família estará garantida. 
1.1 LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE
O conteúdo do Direito das Famílias é muito amplo, se dividindo em direito matrimonial (casamento), direito convivencial (união estável), direito parental (parentesco, filiação, adoção, poder familiar e alimentos), direito assistencial (guarda, tutela, curatela e medidas específicas de proteção ao menor).
Toda a amplitude do direito de família não se restringe a codificação civil, “toda a normatização jurídica, persiste em vigor uma série de leis que não foram expressamente derrogadas nem trazem dispositivos que se incompatibilizam com o Código Civil[footnoteRef:9]”. O direito de Família se baseia também por diversas legislações extravagantes, senão vejamos: [9: DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias.10. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, p.37.] 
	DECRETO-LEI
	DESCRIÇÃO
	3.200/1941
	Dispõe sobre a organização e proteção da família, autorizando o casamento de colaterais de terceiro grau.
	LEI/ANO
	DESCRIÇÃO
	765/1949
	Dispõe sobre o registro civil de nascimento;
	1.110/1950
	Regula o reconhecimento dos efeitos civis do casamento religioso;
	1.542/1952
	Dispõe sobre o casamento dos funcionários da carreira de diplomacia com pessoa de nacionalidade estrangeira;
	3.764/1960
	Estabelece rito sumaríssimo para retificações no registro civil;
	4.121/1962
	Dispõe sobre a situação jurídica da mulher casada (Estatuto da Mulher Casada);
	5.478/1968
	Dispõe sobre a ação de alimentos e dá outras providências;
	5.891/1973
	Altera normas sobre exame médico na habilitação do casamento entre colaterais de terceiro grau;
	6.015/1973
	Dispõe sobre os Registros Públicos e dá outras providências;
	6.515/1977
	Regula os casos de dissolução da sociedade conjugal e do casamento, seus efeitos e respectivos processos, e dá outras providências;
	6.880/1980
	Dispõe sobre o Estatuto dos Militares;
	8.009/1990
	Dispõe sobre a impenhorabilidade do bem de família;
	8.069/1990
	Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), e dá outras providências;
	8.560/1992
	Regula a investigação de paternidade dos filhos havidos fora do casamento e dá outras providências;
	8.971/1994
	Regula o direito dos companheiros a alimentos e à sucessão;
	9.263/1996
	Regula o § 7º do art. 226, CF/88, que trata do planejamento familiar, estabelece penalidades e dá providências;
	9.278/1996
	Regula o § 3º do art. 226, CF/88;
	10.050/2000
	Altera o art. 1.611 da Lei 3.071/1916 (CC), estendendo o benefício do § 2º ao filho necessitado portador de deficiência.
Vale ressaltar que as Leis Extravagantes são de suma importância para a regulamentação de atos que embora praticados pela sociedade, ainda não foram codificados, como, por exemplo, o procedimento para a adequação da identidade de gênero com o nome e sexo do transgênero, através da retificação dos registros civis.
1.2 EXTENSÃO FAMILIAR NA CONTEMPORANEIDADE 
A família não deve ser entendida como unicamente aquela advinda do matrimônio. Principalmente o direito das famílias, que é inclusivo, deve incorporar, de imediato, as constantes mudanças comportamentais, sem falsa moralidade, pena de exclusão, de marginalização, de diversas pessoas unidas pelo afeto. 
À medida que a sociedade evolui, a lei acompanha, com novas regras, legalizando os novos costumes sociais. O artigo 226 e 227 da Constituição Federal são exemplos desta normatização. 
A Constituição Federal prevê outras formas de entidade familiar como a união estável, isoafetiva ou heteroafetiva. Os princípios constitucionais, da igualdade e da pluralidade, condizem exatamente ao tratamento igualitário que se deve ter com qualquer entidade familiar. Na verdade, casamento, união isoafetiva ou heteroafetiva, família monoparental etc, são apenas rótulos. A melhor família, a única família, na verdade, é a advinda do afeto, nada importando o título, que não passa de uma fiscalização estatal de nossos atos. 
Deixar de incluir a relação homoafetiva como entidade familiar é desprezar o princípio da dignidade da pessoa humana, bem como o princípio da legalidade, eis que não há nenhum dispositivo legal proibindo que pessoas do mesmo sexo vivam em família, existindo afeto entre ambos. Ademais, o art. 226 da Constituição Federal admite outras formas de constituição de família, além da advinda do casamento. Tal dispositivo legal, em seus diversos parágrafos, é apenas exemplificativo. Assim, outras formas de entidades familiares não matrimonializadas poderão existir, a exemplo da família homoafetiva. 
As instituições da família são amplas, já que abrange todas as pessoas que estejam ligadas pelo vínculo da consanguinidade ou da afinidade, inclusive há entendimentos que incluem até mesmo terceiros como membro da família, como empregados domésticos.
Na acepção lata, família abrange os cônjuges, companheiros, os filhos, os parentes na linha reta e na colateral até o quarto grau e os afins (parentes do cônjuge ou companheiro) na linha reta e na colateral até o segundo grau (CC, arts. 1.591 a 1595). 
No sentido restrito, de considerar como família os pais e os filhos, independente do estado civil ou a formada por apenas um dos pais e seus descendentes (família monoparental ou unilinear). 
Assim, atualmente é possível considerar como espécies de família, de livre escolha da parte interessada, sem intervenção do estado: 
a) família matrimonial, advinda do casamento; 
b) família não-matrimonial: constituída fora do casamento (união estável e famílias monoparentais); 
c) família adotiva: constituída pelo vínculo de adoção; 
d) família substituta: que se configura pela guarda, tutela; 
e) família homoafetiva, formada por pessoas do mesmo sexo. 
Contudo, não podemos limitar as instituições familiares as acima aludidas, considerando que, como conclui Nelson Rosenvald e Cristiano Chaves, “em face do reconhecimento da pluralidade das possibilidades familiares, decorrente de preceito constitucional, impõe-se destacar um caráter tão somente didático na referida divisão estrutural, não se negando um conteúdo mais amplo e abrangente[footnoteRef:10]”. [10: CHAVES, Cristiano; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil: Famílias, 7ª ed. rev., ampl. e atual., São Paulo:Atlas, 2015, p. 14.] 
1.4 NATUREZA DO DIREITO DAS FAMÍLIAS
Considerando que o Direito das Famílias está regulado no Código Civil, podemos concluir, de imediato e de forma prática, que a sua natureza é privada, não obstante várias de suas leis sejam de ordem pública, isto é, irrevogáveis por vontade das partes. 
Assim e ainda que se observe certa intervenção estatal e a relação familiar ser protegida por normas de ordem pública, tais fatos não retiram a natureza privada deste importantíssimo direito. Ademais, temos que analisar dois dispositivos legais para concluirmos que a natureza jurídica do Direito é de direito privado. O primeiro, art. 226 da Constituição Federal, dispõe que a família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. Porém, o art. 1.513 do Código Civil aduz que é defeso a qualquer pessoa, de direito público ou privado, interferir na comunhão de vida instituída pela família, consagrando o princípiode lealdade e honestidade, defendendo-os de qualquer ato injusto.
	Enquanto estive sob o poder familiar (autoridade parental), os pais têm usufruto dos bens do filho (art. 1.689, do CC), podendo reter os rendimentos sem prestação de contas e utilizá-los para fazer frente aos encargos familiares, sendo-lhes lícito, inclusive, consumi-los.
	Ao juiz cabe nomear curador especial, visando à gerência dos bens do menor, caso haja colisão dos interesses dos pais com os do filho (art. 1.692, do CC e art.72 do CPC).
Administração da sociedade conjugal. Fundamentação legal: artigos 1.567, 1.642, 1.565, 1.570, 1.647, 1.649 e 1.650, 1.651, I, II e III, 1.652 e 1.775.
Pelos artigos antes citados, verifica-se que cabe ao cônjuge administrar, na constância do casamento, os bens comuns e certos bens particulares (incomunicáveis), dependendo do regime matrimonial adotado e também do que ficou acordado no pacto antenupcial. Entretanto, se um dos cônjuges não puder exercer a administração dos bens que, segundo regime de bens, lhe incumbir, o outro poderá gerir os bens comuns e os do consorte e alienar os bens móveis comuns. Entretanto, com relação aos bens particulares do consorte, seja móveis e imóveis, e os imóveis comuns, somente com autorização judicial a alienação poderá ocorrer. 
Assim, se o regime não for o da separação de bens o cônjuge pode praticar todos os atos de mera administração, com exceção de alienação e disposição de bens imóveis. No de separação total até mesmo os atos alienação e de disposição podem ser praticados sem a anuência do outro cônjuge.
No caso de má administração, qualquer dos cônjuges pode livremente promover as ações necessárias à manutenção do patrimônio do casal. O prazo para propor ação anulatória por falta de autorização marital ou uxória é de até 02 (dois) anos, depois da dissolução da sociedade conjugal (art. 1.649 do CC). Porém, o ato poderá ser validado, se ratificado pelo cônjuge prejudicado (Parágrafo único do art.1.649 do CC). Tem legitimação para propositura da ação anulatória, por falta de outorga, sem consentimento ou sem suprimento judicial, apenas o cônjuge cuja autorização não foi observada ou, na falta, seus herdeiros (art. 1.650 do CC). 
Administração da sociedade conjugal por apenas um cônjuge: a) na ausência do outro, que se encontrar em lugar remoto ou não sabido, independentemente de instauração do processo de ausência previsto no art. 22 do Código Civil; b) recolhimento à prisão por mais de 180 dias, em razão de sentença condenatória. Cumprida a pena, volta o cônjuge condenado à administração conjunta da sociedade conjugal; c) interdição por doença mental ou privação episodicamente da consciência, hipótese em que o outro passa a ser curador do cônjuge interditado (art. 1.570 do CC).
Restrições à liberdade de agir dos cônjuges: fundamentação legal: artigos 978, 1.647, I a IV, 1.648 a 1.652 do CC e art. 3º da Lei nº 8.245/91. 
Anulável será a alienação de imóvel, durante a vigência do casamento, sem o devido assentimento, seja ele pertencente ao casal ou a um dos consortes, salvo no regime de participação final nos aquestos, se for bem móvel e acordada a dispensa no pacto antenupcial, ou no regime de separação total de bens. Assim, nos demais regimes nula será qualquer cláusula constante do pacto antenupcial que dispense a intervenção de um dos cônjuges nos atos de alienação de imóvel. 
O artigo 978 do Código Civil dispensa o empresário casado de colher a outorga conjugal, independentemente do regime de bens, para alienar ou gravar de ônus real os imóveis que compõem o patrimônio da empresa. Portanto, há neste dispositivo legal a possibilidade de, na partilha, um cônjuge ficar sabendo que nada tem a receber, eis que o patrimônio, que se encontrava todo em nome da empresa (os bens eram adquiridos em nome apenas da empresa), não mais existe. 
Para propor ação acerca de bens ou direitos imobiliários o consorte ou o companheiro deverá ter a anuência do outro, salvo quando casado no regime de separação absoluta de bens (art. 73 do CP). Entretanto, há litisconsórcio passivo necessário entre o casal, quando se trata de ação que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de separação absoluta de bens; resultante de fato que diga respeito a ambos os cônjuges ou de ato praticado por eles; fundada em dívida contraída por um dos cônjuges a bem da família; que tenha por objeto o reconhecimento, a constituição ou a extinção de ônus sobre imóvel de um ou de ambos os cônjuges (art. 73, § 1º do CPC). Nas ações possessórias, a participação do cônjuge do autor ou do réu somente é indispensável nas hipóteses de composse ou de ato por ambos praticado (art. 73, § 2º do CPC). 
 Anulável será a fiança ou aval prestado sem o consentimento do cônjuge, salvo no regime de separação absoluta de bens. A legitimação para propor ação anulatória é do cônjuge que faltou a autorização ou seus herdeiros. 
Com relação às doações, podem ser elas concretizadas, sem autorização do outro cônjuge: a) se remuneratórias de bens móveis, posto que tem por escopo pagar um serviço recebido e, por conseguinte, não é propriamente uma liberalidade; b) doações módicas ou de pequeno valor; c) doações propter nuptias de bens móveis, feitas às filhas e filhos por ocasião de seu casamento ou para que possam estabelecer-se com economia separada; Assim, não sendo remuneratória, não pode o cônjuge fazer doação de bens comuns ou dos que possam integrar a remuneração (art. 1.647, IV do CC). 
 Pela lei de locação (Lei n. 8245/91) se o prazo do contrato de locação for igual ou superior a dez anos exige a anuência do outro cônjuge ou companheiro. 
A pratica dos atos mencionados no art 1647 do CC, sob autorização de um dos cônjuges, deve ser escrita e expressa. Quando se tratar de bens imóveis deverá constar de instrumento público (CC, art. 108).
Caso negada a autorização, o outro cônjuge poderá supri-la, mediante autorização judicial (art. 1.649). A ausência de autorização ou de suprimento judicial torna o ato anulável. Entretanto, somente o cônjuge que negou ou seus herdeiros têm legitimação para demandar anulação do ato. Anulada a venda, o bem alienado é reintegrado ao patrimônio do casal e o terceiro prejudicado terá direito de regresso contra o cônjuge prejudicado, que realizou o negócio jurídico, ou seus herdeiros. 
Atos que os cônjuges podem praticar independentemente de autorização (art. 1.642 do Código Civil):
1) Atos imprescindíveis a sua profissão, com as restrições do art. 1647, I do CC (alienação ou gravação de ônus real os bens imóveis);
2) Administrar bens próprios (CC, art. 1.642, II);
3) Desobrigar ou reivindicar os imóveis que tenha alienado, sem autorização do cônjuge ou suprimento judicial (CC, art. 1642, III, e 1645);
4) Anulação dos atos praticados com infração do disposto no artigo 1.647, inciso III (prestação de fiança ou aval sem anuência do outro cônjuge) e IV (doação não remuneratória de bens comuns, ou dos que possam integrar a futura meação); 
5) Reivindicar os móveis ou imóveis doados ou transferidos pelo outro cônjuge ao concubino, cumpridas as exigências do artigo 1.642, inciso V, do Código Civil; Prazo para propositura desta ação: até dois anos depois de dissolvida a sociedade conjugal. Legitimados passivos: cônjuge prejudicado ou herdeiros; 
6) Dispor de bens, móveis ou imóveis, se casados sob o regime de separação absoluta ou, se o regime for de participação final nos aqüestos, desde que conste a desnecessidade da autorização no pacto antenupcial; 
7) Praticar todos os demais atos não vedados por lei. Ex.: ação de alimentos, divórcio etc.
 
Impenhorabilidade do bem de família 
  LEI Nº 8.009, DE 29 DE MARÇO DE 1990
    Dispõe sobre a impenhorabilidade do bem de família.
    Faço saber que o PRESIDENTE DA REPÚBLICA adotou a Medida Provisória nº 143, de 1990, que o Congresso Nacional aprovou, e eu, NELSON CARNEIRO, Presidente do Senado Federal, para os efeitos do disposto no parágrafo único do art. 62 da ConstituiçãoFederal, promulgo a seguinte lei:
    Art. 1º O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é impenhorável e não responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas nesta lei.
    Parágrafo único. A impenhorabilidade compreende o imóvel sobre o qual se assentam a construção, as plantações, as benfeitorias de qualquer natureza e todos os equipamentos, inclusive os de uso profissional, ou móveis que guarnecem a casa, desde que quitados.
    Art. 2º Excluem-se da impenhorabilidade os veículos de transporte, obras de arte e adornos suntuosos.
    Parágrafo único. No caso de imóvel locado, a impenhorabilidade aplica-se aos bens móveis quitados que guarneçam a residência e que sejam de propriedade do locatário, observado o disposto neste artigo.
    Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária, trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido:
    I - em razão dos créditos de trabalhadores da própria residência e das respectivas contribuições previdenciárias;
    II - pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do respectivo contrato;
    III -- pelo credor de pensão alimentícia;
    IV - para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em função do imóvel familiar;
    V - para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou pela entidade familiar;
    VI - por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens.
    Art. 4º Não se beneficiará do disposto nesta lei aquele que, sabendo-se insolvente, adquire de má-fé imóvel mais valioso para transferir a residência familiar, desfazendo-se ou não da moradia antiga.
    § 1º Neste caso, poderá o juiz, na respectiva ação do credor, transferir a impenhorabilidade para a moradia familiar anterior, ou anular-lhe a venda, liberando a mais valiosa para execução ou concurso, conforme a hipótese.
    § 4º Quando a residência familiar constituir-se em imóvel rural, a impenhorabilidade restringir-se-á à sede de moradia, com os respectivos bens móveis, e, nos casos do art. 5º, inciso XXVI, da Constituição, à área limitada como pequena propriedade rural.
    Art. 5º Para os efeitos de impenhorabilidade, de que trata esta lei, considera-se residência um único imóvel utilizado pelo casal ou pela entidade familiar para moradia permanente.
    Parágrafo único. Na hipótese de o casal, ou entidade familiar, ser possuidor de vários imóveis utilizados como residência, a impenhorabilidade recairá sobre o de menor valor, salvo se outro tiver sido registrado, para esse fim, no Registro de Imóveis e na forma do art. 70 do Código Civil.
    Art. 6º São canceladas as execuções suspensas pela Medida Provisória nº 143, de 8 de março de 1990, que deu origem a esta lei.
    Art. 7º Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
    Art. 8º Revogam-se as disposições em contrário.
    Senado Federal, 29 de março de 1990; 169º da Independência e 102º da República.NELSON CARNEIRO
A lei antes citada foi sancionada com o escopo de preservar o patrimônio familiar. Estabelece a impenhorabilidade não apenas do único bem imóvel rural ou urbano, mas também dos equipamentos de uso profissional e dos móveis de uso necessários, desde que quitados. Esses bens não responderão por débito civil, comercial, fiscal ou previdenciário contraído pela entidade familiar. Se a família não possuir imóvel e morar de aluguel haverá apenas impenhorabilidade dos bens móveis quitados que guarneçam a residência. 
Instituição do bem de família, pelo atual Código Civil (artigos 1.711 a 1.722)
O bem de família, instituído mediante escritura pública ou testamento, tem como objetivo assegurar um lar ou meios para sustento da família, pondo-a ao abrigo de penhoras por débito posteriores a instituição, exceto os débitos contraídos de tributos relativos ao prédio, ou de despesas condominiais. Apenas um terço do patrimônio líquido existente ao tempo da instituição é que pode ser destinado como bem de família. Portanto, é um instituto que protege os mais favorecidos economicamente, eis que, se existir apenas um imóvel, não haverá como instituí-lo, além das formalidades necessárias à sua instituição, a exigir despesas cartorárias. 
O bem de família previsto no artigo 1.711 do Código Civil pode ser instituído pelos cônjuges ou por terceiros, por ato inter vivos ou causa mortis, desde que ambos os cônjuges beneficiados, ou a entidade familiar contemplada, aceitem expressamente a liberalidade e haja seu assento no Registro de Imóveis. Observar que, se terceiro doou o bem para constituição de bem de família, poderá lançar cláusula de reversão para que os bens voltem ao seu patrimônio em caso de dissolução conjugal e maioridade da prole (art. 547 do CC). 
A extinção do bem de família poderá ocorrer se comprovada a impossibilidade de sua manutenção, nas condições em que foi instituído, como também poderá haver a sub-rogação dos bens que o constituem em outros, ouvidos o instituidor e o Ministério Público (CC, art. 1.719). 
A inalienabilidade do bem de família é relativa, eis que subsiste enquanto viverem os cônjuges e até que seus filhos atinjam a maioridade, desde que não sujeitos à curatela (art. 1.722, do CC). 
Direito sucessório do cônjuge sobrevivente. Noções prévias. 
O casamento confere direito sucessório, na ordem de vocação hereditária, ao cônjuge sobrevivente, em concorrência com descendentes ou ascendentes e se, por ocasião do falecimento do outro, não existir separação de fato há mais de dois anos ou se ainda não dissolvida a sociedade conjugal (art. 1.829 e 1.830 do CC). Faltando descendentes e ascendentes, será deferida a sucessão ao cônjuge supérstite. Na ausência de cônjuge sobrevivente, nas condições do artigo 1.830, serão chamados a suceder os colaterais até o quarto grau (CC, art. 1.839). 
Dissolvido o casamento pelo óbito de um dos cônjuges, o outro, se casado sob o regime de comunhão, continua na posse dos bens até a partilha, desde que estivesse convivendo com o de cujus ao tempo de sua morte ou fosse inocente na separação de fato. Do direito de continuar na posse da herança até a partilha advém a prerrogativa de ser nomeado inventariante. 
Pelo artigo 1.831 do Código Civil o cônjuge sobrevivente, qualquer que seja o regime de bens, terá o direito real de habitação, sem prejuízo da participação que lhe caiba na herança, relativamente ao imóvel destinado à residência da família, desde que seja o único bem daquela natureza a inventariar. Tal direito também é estendido ao companheiro. 
O cônjuge sobrevivente não precisa permanecer no estado de viuvez para continuar com o direito real de habitação, eis que terá este direito, independentemente do estado civil, até sua morte. 
O artigo 1.829, I, determina que a sucessão legítima defere-se aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo: a)se casado este com o falecido no regime da comunhão universal; b) no da separação obrigatória de bens (art. 1.641; c) no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares. No caso de haver bens particulares aplicar-se-á o disposto no artigo 1.832 do Código Civil. 
Assim, quando o cônjuge concorrer com os descendentes, fora das hipóteses antes citadas, caberá a ele quinhão igual ao dos que sucederem por cabeça. Mas a quota do cônjuge sobrevivente não pode ser inferior à quarta parte da herança, se for ascendente (pai ou mãe) dos herdeiros com que concorrer. 
Deixando o falecido até três filhos, a partilha se faz por cabeça, dividindo-se a herança, em partes iguais, entre os filhos e o cônjuge. No caso de o falecido possuir quatro ou mais filhos,e tendo de ser reservada a quarta parte da herança à viúva ou ao viúvo, os filhos repartirão o restante, e, portanto, o cônjuge sobrevivente fica com um quarto da herança, e os três restantes são destinados aos filhos. Entretanto, essa reserva hereditária mínima (1/4) conferida ao cônjuge sobrevivente pressupõe que ele seja também ascendente (pai ou mãe) dos herdeiros com que concorrer. Se o de cujus deixou descendentes dos quais o cônjuge sobrevivente não é ascendente, será obedecida a regra geral: ao cônjuge caberá um quinhão igual ao dos descendentes que sucederem por cabeça. Dúvida há na hipótese de o falecido possuir filhos com o cônjuge sobrevivente e com outra pessoa. A lei não resolveu expressamente tal situação. Porém, ao que parece, neste caso a quota hereditária mínima de ¼ não é cabível. 
Exercícios:
1 – Maria faleceu. Era casada no regime de comunhão parcial de bens. Seu patrimônio particular era de R$ 90.000,00. Deixou três filhos. Os bens comuns perfazem a quantia de R$ 120.000,00. O marido, sobrevivente, tem também patrimônio particular no valor de R$ 60.000,00. Responder: O marido é também herdeiro? Fazer a divisão dos bens e dar a cota-parte de cada um, inclusive do cônjuge sobrevivo. 
2 – Roberto faleceu. Não deixou patrimônio particular. Porém, o patrimônio comum perfaz o montante de R$ 90.000.00. O casal tem três filhos. Casamento celebrado sob o regime de comunhão parcial de bens. Maria, a viúva, tem bens particulares no valor de R$ 120.000,00. Responder: A mulher é herdeira? Fazer a divisão dos bens e dar a cota-parte de cada um, inclusive da mulher, se herdeira ou meeira. 
3 – Joaquim faleceu. Regime de separação total convencional. Joaquim deixou esposa e três filhos. Seu patrimônio particular é de R$ 90.000,00. A esposa tem patrimônio particular de R$ 160.000,00. Como fica a divisão do patrimônio. É a esposa herdeira? 
Dissolução da sociedade e do vínculo conjugal. Fundamentação legal: artigos 1.571 e respectivo parágrafo primeiro do Código Civil. 
O Código Civil, em seu artigo 1.571, afirma que a sociedade conjugal termina nas seguintes hipóteses: a) pela morte de um dos cônjuges; b) pela nulidade ou anulação do casamento; c) pela separação judicial; d) pelo divórcio. Porém, no § 1º acrescenta que “o casamento válido somente de dissolve pela morte de um dos cônjuges ou pelo divórcio.”. Portanto, mantida ainda foi a incompreensível distinção entre dissolução da sociedade conjugal e dissolução de casamento. Assim, a sociedade conjugal termina com a separação judicial e o vínculo matrimonial com a morte de um dos cônjuges, invalidade do casamento, divórcio e presunção de óbito do consorte declarado ausente. Enquanto não dissolvido o vínculo matrimonial persiste o impedimento para fins de casamento.
Na verdade, a sociedade conjugal, não obstante contida no casamento, é um instituto jurídico menos abrangente do que o matrimônio, segundo o Código Civil. Através do casamento, regulada fica a vida dos consortes, suas relações e suas obrigações recíprocas, tanto as morais como as materiais, e seus deveres para com a família e a prole. A sociedade conjugal rege apenas o regime matrimonial de bens dos cônjuges, os frutos civis do trabalho ou indústria de ambos os consortes ou de cada um deles. 
Entretanto, difícil é explicar ao leigo, que está separado judicialmente, há mais de 20 (vinte) anos, por exemplo, que o casamento persiste e que apenas o que findou foi a sociedade conjugal. Esta distinção não tem nenhuma razão de ser, principalmente se considerarmos que não há mais separação no Brasil, após o advento da EC 66/10. É difícil explicar o acima aludido art. 1.571 do CC também com relação à anulação e nulidade do casamento que, segundo o Código, leva apenas à dissolução da sociedade conjugal, o que não é correto. 
Portanto, neste capítulo vamos estudar todos os casos de dissolução da sociedade conjugal ou do matrimônio, a começar pela dissolução natural, ou seja, pela morte de um dos cônjuges, depois estudando os casos de nulidade e anulação do casamento, a separação judicial e o divórcio. 
Dissolução do matrimônio pela morte de um dos cônjuges: a dissolução do casamento acontece não só em razão da morte real ou efetiva, provada através de certidão de óbito do cônjuge, bem como através da declaração judicial de ausência estabelecida pelo artigo 6º, 2º parte, do Código Civil. Assim, também a morte presumida é forma de dissolução do vínculo matrimonial, novidade do atual Código, eis que, no Código Civil anterior a ausência gerava apenas efeitos de ordem patrimonial ou sucessória. Portanto, no Código anterior, por mais longo que fosse o período de desaparecimento, exigida era a propositura de ação de separação ou do divórcio direto para o cônjuge poder casar-se novamente.
Entretanto, esta novidade poderá causar perplexidade. Imaginemos a declaração de ausência e depois de alguns anos o “morto” voltando e a viúva casada, novamente. Quer nos parecer que o segundo casamento é nulo, considerando que um fato concreto não pode ser desprezado, diante de viuvez, por mera presunção jurídica. 
Dissolução do matrimônio pela nulidade ou anulabilidade do casamento: Fundamentação legal: artigos 166, 167, 1. 548, I e II, 1.549, 1.551, 1.553, 1.559, 1.560, 1.561, §§ 1º e 2º). 
 
Disposições gerais sobre nulidade e anulação de casamento.
 
A dissolução aqui aludida é apenas para fins de entendimento de que, uma vez nulificado ou anulado o casamento, não há mais o impedimento para convolação de novas núpcias. Assim, não adentraremos na discussão acerca da afirmativa de alguns doutrinadores no sentido de que, se o casamento é nulo, na verdade nunca existiu e, portanto, não há que se falar em dissolução do que não existiu. 
O sistema de nulidades e anulabilidade do casamento contém normas próprias que, por conseguinte, não se encaixam, perfeitamente, na teoria geral da nulidade. Assim é que, na teoria geral da nulidade, sabido é que o ato nulo não produz efeito algum. Entretanto, mesmo o matrimônio nulo produz os seguintes efeitos, independentemente de ser putativo: a) comprovação da filiação; b) manutenção do impedimento de afinidade; c) proibição de casamento da mulher nos 300 dias subseqüentes à dissolução da sociedade e do vínculo conjugal pela sentença que decreta a nulidade; d) atribuição de alimentos provisionais ao cônjuge que deles precisar, enquanto aguarda a decisão judicial. 
No direito matrimonial tanto a nulidade como a anulabilidade não podem ser decretadas de ofício pelo juiz. O casamento nulo ou anulável depende para o seu reconhecimento de sua invalidade, através de sentença proferida em ação especialmente ajuizada para esse fim, diferentemente dos negócios nulos em geral, que podem ser decretados nulos, de ofício, pelo juiz. 
Assim e, por exemplo, ajuizada a ação de divórcio, constatando o juiz, no curso do processo, que o casamento foi celebrado desconsiderando a existência de impedimento, não poderá decretar, de ofício, a nulidade do casamento, mas sim analisar o pedido de divórcio. 
Desde o advento do CC/2002 não é mais é exigido, na ação de nulidade ou de anulação de casamento, curador ao /vínculo, ou seja, um defensor do casamento, que era sacralizado pela nossa lei civil. A tramitação destas ações será é em segredo de justiça e, não havendo nascituro, filhos menores e incapazes, não há mais a participação do representante do Ministério Público. Não há mais, também, a necessidade do reexame da sentença pelo Tribunal, o que demonstrava, mais uma vez, a preocupação do Estado com esta entidade familiar. 
Essas ações de nulidade ou anulabilidade de casamento podem ser precedidas da separação de corpos. Cautelar a ser pleiteada, pelo atual Código, como simples petição, que antecede a ação que será entranhada nos mesmos autos. Podem ser pleiteados alimentos provisionais pelo cônjuge necessitado que, nesta hipótese, prevalecerá até o transito em julgado da decisão que anular ou nulificar o casamento. A sentença que decreta o casamentonulo tem efeito “ex tunc”. A sentença que anula o casamento tem efeito “ex nunc”. 
Ressalta-se que, em se tratando de casamento, o Estatuto da pessoa com deficiência permitiu a manifestação de consentimento de maneira diferente das que são exigidas para os outros atos ordinários da vida civil. Assim e para o casamento, com relação à nulidade e anulabilidade, de observar-se o tratamento específico, ditado pelo Estatuto, e que acabou modificando os artigos do Código Civil em análise.
Caso que enseja a nulidade do casamento (art. 1.548 do Código Civil), a partir do advento do Estatuto da pessoa com deficiência. 
No tocante ao casamento, o art. 6º do Estatuto da pessoa com deficiência não obsta o matrimônio, a união estável, o exercício dos direitos sexuais e reprodutivos, bem como a decisão quanto ao número de filhos, o acesso adequado sobre reprodução, planejamento familiar, conservação da fertilidade e o exercício do direito à família: guarda, tutela, curatela e à adoção, como adotante e adotado. 
A dificuldade na aceitação da sobreposição da capacidade legal sobre a capacidade de fato, ou seja, de a pessoa ser deficiente e o legislador dizer que ela não o é, surge principalmente para os que entendem, corretamente, que casamento é contrato, realizado por escritura púbica. E o Estatuto permite que o deficiente mental, nada importando o grau de deficiência, celebre este contato.
Olvidou o legislador que é necessário o cumprimento de toda uma burocracia para celebração do casamento: comparecimento no Cartório, assinatura de requerimento, feitura de pacto antenupcial para escolha do regime de bens. 
Por conseguinte, se a pessoa deficiente pode celebrar contrato do casamento, por permissão legal, poderá também celebrar pacto antenupcial, para escolha do regime de bens, ou deverá, não podendo celebrar o pacto, casar necessariamente no regime de comunhão parcial, a dispensar o pacto, ou no regime de separação total obrigatória? Parece-nos que, para evitar prejuízos e para não cercear a vontade legal do deficiente, o casamento deverá ser realizado sob o regime de comunhão parcial. 
Também o art. 1.518 do Código Civil teve nova redação, ou seja, “até a celebração do casamento podem os pais ou tutores revogar a autorização”. Nota-se que foi suprimida a possibilidade de o curador também revogar a autorização. Portanto, quem pode revogar a autorização para casamento é, a partir do Estatuto da pessoa com deficiência, os pais e os tutores, considerando que a pessoa com deficiência poderá, sem a presença do curador, manifestar a sua vontade e contrair matrimônio. Por conseguinte, o curador não terá mais a atribuição de suprir o consentimento da pessoa para fins de casamento nem de revogá-lo.
Assim também foi revogado o inciso I do art. 1.548, considerando que a incapacidade (arts. 3º e 4º do Código Civil) restringir-se somente à idade da pessoa. As causas então arroladas no inciso I, do art. 1.548, diziam respeito ao estado de saúde. Portanto, os casos de nulidade do casamento são os aludidos apenas no art. 1.521 do Código Civil, ou seja, se referem apenas aos impedimentos. 
Portanto, antes do Estatuto da pessoa com deficiência, o art. 1. 548 determinava que era nulo o casamento contraído: pelo enfermo mental sem o necessário discernimento para os atos da vida civil (inciso I); por infringência de impedimento (inciso II). Assim e após o advento do Estatuto da pessoa com deficiência a ação de nulidade de casamento será apenas por infringência de impedimento. Assim, na petição inicial, a causa remota será o casamento e a causa próxima a infringência de impedimento. Tem legitimidade para propor ação de nulidade de casamento qualquer interessado e também o Ministério Público (art. 1.549 do CC), não existindo prazo decadencial para o ajuizamento desta ação. 
De se questionar esta legitimidade ampla para propositura desta ação. Ora a nulidade interessa diretamente aos cônjuges. Assim, imaginemos o casal descobrindo, anos depois de casados, já com filhos, que são irmãos. Não sabiam que um deles foi adotado, em tenra idade, mudando para outro Estado. Entretanto, acabanaram se casando e depois descobriram tal fato. Caso eles próprios superem este trauma e não ajuízem a ação de nulidade, principalmente considerando que se amam o Ministério Público poderá ajuizá-la, ou qualquer pessoa. Decretada a nulidade, se os cônjuges ainda se amam, continuarão com a vida a dois, agora como concubinos. Não tem nenhuma lógica esta legitimação ampla, a desprezar o princípio do afeto. 
Casos de anulabilidade do casamento. 
O disposto no parágrafo 2º do art. 1550: “A pessoa com deficiência mental ou intelectual em idade núbia poderá contrair matrimônio, expressando sua vontade diretamente ou por meio de seu responsável ou curador”, é consequência do art. 6º, da Lei nº 13.146 de 2015, considerando que a pessoa com deficiência mental, por determinação legal, não terá afetada a sua plena capacidade civil para casar ou constituir união estável e exercer seus direitos sexuais, reprodutivos, de planejamento familiar, de conservar sua fertilidade e os direitos à família. 
Portanto e resumindo: com relação à anulabilidade do casamento verifica-se que o Estatuto da pessoa com deficiência não mais permite o manejo da ação de anulabilidade, com relação às pessoas com deficiência mental ou intelectual em idade núbil. 
Assim e anulável o casamento de quem não completou a idade mínima para se casar (art. 1.550, inciso I), ou seja, de pessoa que ainda não atingiu a idade núbil (16 anos); do menor em idade núbil (entre 16 e 18 anos), quando não autorizado por seu representante legal (art. 1.550, inciso II). Nota-se que a idade núbil é adquirida aos dezesseis anos, entretanto, a capacidade civil advém aos dezoitos anos. 
A legitimação para pleitear a anulabilidade pertence ao incapaz e aos seus representantes legais (artigo 1.550, IV do CC ) e aos seus herdeiros, que poderão mover ação anulatória do casamento no prazo de 180 dias, contado da data da celebração do casamento (art.1.560, I).
 
Também é caso de anulação de casamento realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da revogação do mandato, e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges (art. 1.550, inciso V) e por incompetência da autoridade celebrante (art. 1.550, inciso VI).
O prazo decadencial para propositura da ação de anulação de casamento, por incompetência da autoridade celebrante, é de dois anos, a contar da data da celebração (art. 1.560, I, do CC). Trata-se de incompetência ratione loci. Assim, anulável será o ato nupcial que não for celebrado por juiz de casamento do distrito em que se processou a habilitação matrimonial. Outra será a hipótese do casamento celebrado por quem não for juiz de casamento, em que o ato é nulo e não apenas anulável.
Anulação do casamento por coação (art.1.558): a coação para viciar o ato nupcial deve incutir no nubente temor de dano a sua pessoa, a sua família ou a seus bens, iminente e igual, pelo menos ao receável do ato extorquido. Não serve simples temor reverencial, ou seja, receio de causar desgosto aos pais ou a pessoa a quem se deva respeito e obediência. A coação grave e atual deve ser apreciada atendendo-se às condições pessoais da vítima, excluindo-se do seu conceito a ameaça do exercício normal de um direito. Entretanto, trata-se de uma questão de fato que o órgão judicante terá que decidir de acordo com sua convicção. Ex.: o pai exige que uma filha case sob ameaça de não mais mantê-la se não aceitar o noivo por ele indicado. Ora, se a filha não trabalha, é inexperiente e de idade núbil recente, tal ameaça poderá ser causa de anulação do casamento. O mesmo não se pode dizer com relação a outra filha, que já trabalha e não precisa da ajuda paterna.
A legitimação para pleitear a anulabilidade pertence ao cônjuge coacto, que poderá promovê-la dentro de 04 anos, a contar da data da celebração do casamento (art. 1.560, inciso IV do CC). Na verdade o prazo decadencial de 04 (quatro) anos deveria contara partir do dia em que cessou a coação. Ora, se ainda um dos cônjuges está sob coação e pode até mesmo ser preso em fragrante delito, não é correto computar o prazo decadencial, antes de cessada a coação. 
Com relação à anulação do casamento, de ressaltar-se que o matrimônio anulável pode confirmar-se pelo decurso de tempo (artigo 1.560 do CC, que prevê prazos decadenciais para propositura da ação de anulabilidade), por fatos supervenientes ( artigos 1.550, V, 2ª parte – mesmo quando realizado por mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da revogação do mandato, não se anula o casamento, desde que sobrevindo coabitação entre os cônjuges; art. 1.551 – não será anulado, o casamento, mesmo na ausência de idade, se sobreveio gravidez e art. 1559 – anulação por erro ou coação, sobrevindo a coabitação) ou pela vontade dos consortes (artigo 1.553 – o menor ao atingir a idade núbil pode confirmar o casamento, com a autorização de seus representantes legais, se necessária, ou com suprimento judicial ).
A anulação do casamento dos menores de dezesseis anos será requerida pelo próprio cônjuge menor (art. 1.552, inciso I); por seus representantes (art. 1.552, inciso II); por seus ascendentes (art. 1.552, inciso III). Com relação ao casamento do menor em idade núbil, não autorizado pelo representante legal, só poderá ser anulado se a ação for proposta em cento e oitenta dias, por iniciativa do incapaz, ao deixar de sê-lo, de seus representantes legais ou de seus herdeiros necessários (art. 1.555 do CC). E o § 1º do art. 1.555 esclarece que o prazo estabelecido naquele artigo será contado do dia em que cessou a incapacidade, no primeiro caso; a partir do casamento, no segundo, e, no terceiro, da morte do incapaz. 
E pelo § 2º do art. 1.555 não se anulará o casamento quando à sua celebração houverem assistido os representantes legais do incapaz, ou tiverem, por qualquer motivo, manifestado sua aprovação. 
Observar que o artigo 1.553 do Código Civil permite ao menor, que não atingiu a idade núbil, após completá-la, confirmar seu casamento, com a autorização de seus representantes legais ou com o suprimento judicial.
Anulação do casamento por erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge: também é anulável o casamento (artigo 1.550, III, do CC) se houver, por parte de um dos nubentes, ao consentir, erro essencial (artigo 1.556 do Código Civil) quanto à pessoa do outro cônjuge. 
Após o advento do Estatuto da pessoa com deficiência, o art. 1557, inciso IV, do Código Civil, foi revogado. Por conseguinte, não é mais erro essencial sobre a pessoa, que permitia a anulação do casamento, a ignorância, anterior ao casamento, de doença mental grave que, por sua natureza, tornava-se insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado. Assim, não há mais anulação do casamento, em razão de doença mental grave anterior ao casamento. 
 
Ainda com relação ao erro essencial, que deságua sempre na anulação do casamento, o art. 1.557, inciso III, foi modificado, obtendo a seguinte redação (portanto, caracteriza erro essencial): “A ignorância, anterior ao casamento, de defeito irremediável que não caracterize deficiência ou de moléstia grave e transmissível, por contágio ou por herança, capaz e pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência”. O inciso modificado antes tinha a seguinte redação: “a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável, ou de moléstia grave e transmissível, pelo contágio ou herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência.”.
Assim e a partir do Estatuto da pessoa com deficiência é possível anular o casamento apenas quando, apesar de desconhecer o “defeito físico irremediável” esse “não caracterize deficiência ou de moléstia grave e transmissível, por contágio ou por herança, capaz de por em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência”. Caracterizada a deficiência, não poderá mais ser anulado o casamento. 
Portanto, o artigo 1.557 do CC descrevia, antes do Estatuto da Pessoa com deficiência, o que se considera erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge: o que diz respeito à sua identidade, honra e boa fama, sendo esse erro tal que o seu conhecimento ulterior torne insuportável a vida em comum ao consorte enganado; a ignorância de crime anterior ao casamento que, por sua natureza, torne insuportável a vida conjugal; a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável ou de moléstia grave e transmissível, por contágio ou por herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de sua descendência; e o desconhecimento anterior às núpcias de doença mental grave que, por sua natureza, acarrete a insuportabilidade ao cônjuge enganado de viver com o outro. 
Para que o erro essencial quanto à pessoa do outro consorte seja causa de anulabilidade do casamento, é preciso que ele tenha sido o motivo determinante do ato nupcial, pois de fosse conhecido não teria havido matrimônio. 
Três são os pressupostos justificadores da anulação do matrimônio por erro: anterioridade do defeito ao ato nupcial; desconhecimento do defeito pelo cônjuge enganado e insuportabilidade de vida comum..
De ressaltar-se que a impotência coeundi, ou seja, a inaptidão para realizar o ato sexual, autoriza a anulação, o mesmo não ocorrendo com a generandi (incapacidade para a fecundação) e com a concipiendi (incapacidade para a concepção), eis que a procriação não é da essência do casamento. Entretanto, jurisprudência há no sentido de que a vasectomia ignorada pela mulher anula o casamento. Com também entendemos que, se um dos cônjuges, antes do casamento, já tinha conhecimento de sua incapacidade de fecundação ou para a concepção e não esclareceu tal fato ao outro, possível é a ação de anulação de casamento, por erro essencial. 
O atual Código Civil excluiu a possibilidade de anulação de casamento, em razão de defloramento da mulher ignorado pelo marido, em razão à grande liberdade de costumes e o princípio da igualdade entre homens e mulheres. 
Em todos os casos de anulação do casamento por erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge, arrolados no artigo 1.557 do Código Civil, somente o cônjuge enganado é que tem legitimação para propor a ação anulatória (artigo 1.559 do CC), dentro do prazo de 3 (três) anos, contado da data da celebração do casamento. Entretanto, a coabitação, havendo ciência do vício, validará o matrimônio (artigo 1.559), ressalvadas as hipóteses do artigo 1.557, III e I. 
Declaração de putatividade do casamento nulo e anulável: mesmo o casamento nulo ou anulável, pela teoria das nulidades matrimoniais, produz efeitos civis válidos em relação aos consortes e à prole se um deles ou ambos o contraíram de boa-fé (artigo 1.561 do Código Civil), até o dia do trânsito em julgado da sentença que dissolveu a sociedade conjugal. É o chamado casamento putativo. A ignorância pode decorrer de erro de fato ou de direito. O erro de fato consiste na ignorância de evento que impede a validade do ato nupcial. Exemplo: casamento entre duas pessoas que desconhecem que sejam irmãs e que tal parentesco venha a ser descoberto somente depois do casamento. O erro de direito advém de ignorância da lei que obsta a validade do enlace matrimonial. Exemplo: casamento entre tio e sobrinho sem o exame pré-nupcial, por ignorarem a exigência do Decreto-lei nº 3.200/41.
Declarado putativo o casamento, seus efeitos civis, pessoais ou patrimoniais, retroagem até a sua celebração, em relação aos cônjuges e à prole, tendo, então, efeito ex tunc (artigo 1.563, 2ª parte do CC). E, pelo artigo 1.561, §§ 1º e 2º, do Código Civil, mesmo inválido o casamento, se contraído de boa-fé, por ambos os cônjuges, em relação a estes e aos filhos produzirá todos os efeitos, até o dia da sentença anulatória. Se só um deles estava de boa-fé ao celebrar o casamento, os seus efeitos civis apenas a ele e aos filhos aproveitarão e se ambos estavam de má-fé ao convolar núpcias, os seus efeitos civis somente aproveitarão aos filhos. 
Dissolução da sociedadee do vínculo conjugal: separação judicial – separação consensual - efeitos da separação judicial (se ainda existir a separação) – divórcio: indireto e direito – efeitos do divórcio – Antes e depois da Emenda Constitucional 66/10. 
Como vimos, a separação judicial era (ou é, para aqueles que insistem que ainda existe separação no direito brasileiro) causa de dissolução da sociedade conjugal (artigo 1.571, III). Porém, o vínculo matrimonial somente é rompido com o divórcio. Era, a separação, portanto, até o advento da EC/66-10, medida preparatória da ação de divórcio, salvo o divórcio direito (separação de fato há dois ou mais anos), que exigia separação, de fato, há mais de dois anos. 
Ressaltamos que, desde a Lei 6.515/77 (Lei do Divórcio), o termo desquite não é mais usado e sim o de separação. A proposta de mudança apenas de nome (rótulo) foi para evitar o estigma, em razão dos preconceitos absurdos que existiam, principalmente com relação às mulheres desquitadas. Entretanto, o termo “separação” é dúbio, o que não acontecia com o “desquite”. 
Ressaltamos nossa surpresa com o atual Código de Processo Civil ao legislar acerca da separação litigiosa, dentre as ações de família, bem como sobre a separação consensual, eis que, até então, havia entendimento jurisprudencial e doutrinária, o qual filio-me, no sentido de que, a partir da Emenda Constitucional 66, de 13 de julho de 2010, não mais é correto falar em separação no direito brasileiro, face à seguinte redação dada ao art. 226, § 6º, da Constituição Federal: “O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio.”. Nota-se que a separação deixou de ser requisito para o divórcio. De imediato e desde a vigência desta aludida ementa, pode o divórcio ser imediatamente almejado. Portanto, a conclusão era de que os artigos do Código Civil, alusivos à separação judicial ou consensual, estavam revogados, numa interpretação teleológica ou finalística, partir da EC 66/10. 
Inadmissível é exigir demonstração de culpa, por um dos cônjuges, na separação litigiosa. Insustentável é o entendimento de que a separação põe fim apenas à sociedade conjugal e que a dissolução do casamento acontece somente com a decretação do divórcio. Depois e já pelo lado prático, proposta ação de separação por um dos cônjuges, se o outro ofertar ação de divórcio, os autos deverão ser apensados, para julgamento conjunto e o pedido de divórcio deverá ser julgado primeiramente, eis que mais abrangente, levando à extinção do processo de separação, eis que o pedido nesta ação restará prejudicado. 
Ademais, alguns paradoxos se fazem presentes, com a manutenção da separação no direito brasileiro, seja litigiosa ou consensual, a partir da EC 66/10. Com efeito, no requerimento de separação, ou seja, na separação consensual, necessário é que os cônjuges, para requerê-la, estejam casados pelo prazo mínimo de um ano. Entretanto, o divórcio consensual poderá ser pleiteado de imediato. O divórcio não exige a demonstração de culpa. A separação sim. Portanto, parece-me que o atual CPC, ao prever a separação, consensual ou litigiosa, é inconstitucional, neste artigo, eis que não observou a Ementa Constitucional 66/10 e o forte entendimento jurisprudencial e doutrinário, afirmativos de que não mais havia separação no direito brasileiro. Neste aspecto, o NCPC retrocedeu, sobremaneira. 
Seja como for e considerando que a questão ainda não está pacificada, faremos um breve estudo sobre a separação no direito brasileiro, ressaltando a importância do advogado nesta questão, considerando que, se não for mais proposta ação ou requerimento de separação, mas sim requerimento ou ação de divórcio, não há enfrentamento desta polêmica e a separação será esquecida em nosso ordenamento jurídico. 
Duas são as espécies de separação judicial que existia no direito brasileiro: a) a consensual (artigo 1.574 do CC), até a chegada da EC 66/10. Também denominada de separação por mútuo consentimento dos cônjuges. Para esta separação havia a necessidade de que os cônjuges estivessem casados há mais de um ano e o acordo, que não exige o motivo da separação, somente teria eficácia jurídica depois de homologado judicial, ouvido o Representante do Ministério Público; b) litigiosa ou não consensual (artigo 1.572 do CC): iniciava-se pela vontade unilateral de qualquer dos cônjuges, nos casos autorizados por lei. 
Ressaltamos que, para os que ainda insistem na existência da separação no direito brasileiro, no tocante à consensual, de entender-se que a exigência mínima de um ano para que ela ocorra não pode mais prevalecer, considerando que para o divórcio consensual não há prazo algum. 
Legitimação para propositura da ação de separação: a ação de separação judicial era personalíssima (art. 1.576, parágrafo único do CC). Assim, somente podia ser proposta pelos cônjuges que, se incapazes, serão representados pelo curador, pelo ascendente ou pelo irmão. 
De notar-se que o atual CPC revogou o artigo 3º, § 2º, da Lei nº 6.515/77, que exigia a oitiva dos cônjuges pessoal e separadamente, considerando a necessária audiência de mediação e conciliação que, entendemos, há que ser concretizada na presença do advogado das partes. Afastar o advogado da presença do cliente, não é correto e fere o princípio do devido processo legal. 
Documentos que deviam acompanhar a petição inicial do requerimento de separação: certidão de casamento; b) pacto antenupcial, se houver; c)descrição dos bens móveis e/ou imóveis do casal e respectiva partilha. De observar-se que, no tocante a partilha, poderá ela ser realizada desigualmente, uma vez que os cônjuges são maiores e capazes e, por conseguinte, não estão impedidos de transigirem, 
Separação consensual: na petição do requerimento de separação, e não “ação de separação consensual”, eis que se trata de jurisdição voluntária, os cônjuges devem observar, no tocante ao procedimento (e não processo, na ausência de litigo), as disposições relativas à descrição e à partilha dos bens comuns (art. 731, inciso I); as disposições relativas à pensão alimentícia entre os cônjuges (art. 731, inciso II); o acordo relativo à guarda dos filhos incapazes e ao regime de visitas (art. 731, inciso III); e o valor da contribuição para criar e educar os filhos (art. 731, inciso VI). 
Portanto, é necessário constar, minuciosamente, quem terá a guarda dos filhos, com, preferência à guarda compartilhada, o regime de visitas, se a guarda não for compartilha, a que terá direito àquele que não ficar com a guarda, a repartição das férias escolares e dias festivos, a fim de evitar litígios e prejuízos aos menores. Observar que o poder familiar (autoridade parentas) continua exercido por ambos os pais, que tomarão conjuntamente as decisões no dia-a-dia. Mesmo um cônjuge detendo exclusivamente a guarda dos filhos, a autoridade parental continua com ambos os cônjuges. 
Os alimentos: também na petição inicial deveria ser estipulado o valor da contribuição dos cônjuges para criar e educar os filhos, na proporção de seus recursos (artigo 1.703 do CC). Na prática, o cônjuge que não ficava com a guarda do filho era quem pagava a pensão alimentícia. O outro, que detinha a guarda, já está pagando pensão, indiretamente. Deve-se estabelecer um valor correto, com índice de correção e data mensal para depósito. Na jurisprudência há consenso no sentido de que a verba alimentícia pode ser estipulada em percentagem sobre o salário mínimo. 
Ainda na inicial há necessidade de estipulação de pensão alimentícia ao cônjuge que não possuir bens suficientes para se manter (artigo 1.695). A discussão, no Código Civil e face aos termos do artigo 1.707 daquele Código, é se o cônjuge pode renunciar a verba alimentícia. A questão, no Código anterior, já estava pacificada. O cônjuge podia desistir ou renunciar os alimentos. A desistência é relativa. Se o cônjuge que desistir vier a necessitar de alimentos, poderá pleiteá-los, posteriormente. Porém, se renunciar aos alimentos, nunca mais poderá pleiteá-los. A doutrina tem entendido que,apesar do disposto no artigo 1.707 do Código Civil, o cônjuge poderá renunciar aos alimentos.
Concordamos que é possível a renúncia da verba alimentícia pelo cônjuge, considerando que o art. 1.707 do CC, que proíbe a renúncia da verba alimentar, é direcionado aos parentes. E cônjuge não é parente. Depois, a prevalecer a proibição de renúncia da verba alimentícia pelo ex-cônjuge ou companheiro, inúmeros acordos deixaram de acontecer. 
Também na petição inicial de separação judicial esclarecido deverá ficar se o cônjuge voltará a usar o nome de solteiro. 
CRITICA A TAIS EXIGÊNCIAS
Pensamos que tais exigências contraria o princípio da intervenção mínima e acaba por prejudicar às próprias partes e os filhos, posteriormente. Ora, se não há discordância sobre pensão alimentícia, guarda, visitas de filhos, constar tal fato na petição de requerimento de separação, de divórcio ou de extinção de união estável (os requisitos são os mesmos nestes três casos consensuais) acaba por prejudicar as partes, no futuro. Parece-me que os requerentes poderão, simplesmente, afirmar, na inicial, que não há discordância sobre tais pontos, deixando de esmiuçar tais questões, na inicial, eis que, se constantes daquela peça tais dados e se posteriormente necessitar de alguma alteração e na ausência de acordo, o assunto deverá ser revisto em ação própria, que poderá não ser tão rápida, como o é a fixação de alimentos provisórios em ação própria. 
Não havia mais necessidade de que a petição inicial seja assinada por ambos os cônjuges. Bastava a assinatura do advogado. Nada impedia que o advogado fosse comum a ambas as partes. Entretanto, esse causídico, por questões éticas, não poderia, depois, ser advogado apenas de uma das partes, em qualquer outra ação, com relação às questões familiares, envolvendo estas mesmas pessoas. 
Partilha de bens no requerimento de separação: nada obstava que a partilha, na ausência de acordo, fosse concretizada posteriormente, através de ação em apenso à separação consensual. Assim, no caso não houvesse acordo no que tange aos bens, nada impedia que o requerimento de separação fosse concretizado e a discussão dos bens postergada e enfrentada em ação própria. 
 Na partilha nada impedia que bens fossem doados aos filhos, com ou sem reserva de usufrutos a um ou a ambos os cônjuges. A sentença homologatória basta por si só. Desnecessário é a lavratura de escritura. A carta sentença é documento hábil para registrar a doação. 
Estando a petição de requerimento de separação perfeita, o juiz marcava audiência conciliatória e ratificadora do pedido de separação consensual. Na audiência, se os cônjuges desistissem da separação, os autos do processo eram extintos, sem enfrentamento de mérito, o mesmo acontecendo se um dos cônjuges ou ambos não quiserem mais assinar a separação. Homologada a separação judicial, expedia mandado de separação para registro no Cartório competente e também, se existisse imóvel, expedir-se-á o formal de partilha para registro dela. De observar-se que, em Minas Gerais, o recolhimento de imposto de transmissão é concretizado administrativamente e não mais nos autos de separação, no caso de partilha em desconformidade com o regime de bens. Com o formal de partilha em mãos, a parte interessada se dirigia à Secretaria de Estado da Fazenda e efetuava o cálculo do imposto, se existisse, no caso de torna, ou seja, do valor que ultrapassar a meação. 
Evidentemente que o juiz podia recusar a homologação e não decretar a separação se apurasse que a convenção não preservava os interesses dos filhos ou de um dos cônjuges (artigo 1.574, parágrafo único).
A sentença homologatória de separação perdia a eficácia, com a reconciliação do casal, permitida pelo artigo 1.577 do Código Civil. Assim e até antes do divórcio era lícito aos separados restabelecerem a sociedade conjugal, nos termos ou condições em que foi constituída, através de petição assinada por ambos e pelo advogado, a ser entranhada nos próprios autos da separação judicial. Evidentemente que, se os cônjuges mudassem de cidade, nada impedia que, através de simples comprovação da separação, com sentença trânsita em julgado, requeressem, no juiz do atual domicílio, o restabelecimento da sociedade conjugal. 
DIVÓRCIO, SEPERAÇÃO E EXTINÇÃO DA UNIÃO ESTÁVEL EXTRAJUDICIALMENTE.
O art. 733 do CPC autoriza o divórcio e a separação consensuais e agora também a extinção consensual da união estável, não havendo nascituro ou filhos incapazes e observados os requisitos legais, por escritura pública, da qual constarão as disposições de que trata o art. 731. 
O § 1º do art. 733 do CPC afirma que a escritura não depende de homologação judicial e constitui título hábil para qualquer ato de registro, bem como para levantamento de importância depositada em instituições financeiras. E, pelo parágrafo segundo, deste artigo 733, o tabelião somente lavrará a escritura se os interessados estiverem assistidos por advogado ou por defensor público, cuja qualificação e assinatura constarão do ato notarial. 
Ressalte-se que o Código de Processo Civil perdeu a oportunidade para autorizar a extinção do casamento ou da união estável, mesmo existindo menores e desde que não haja litígio com relação à guarda, visita e pensão aos menores. Assim, poderia ser deferido o procedimento extrajudicial, no tocante à dissolução do casamento e da união estável e, se no futuro houvesse divergência com relação aos filhos, o assunto poderia ser resolvido em ação própria. Assim, mesmo não existindo divergência no que tange aos filhos, o legislador continua insistindo em não permitir o divórcio cartorário. 
Separação judicial: pelo artigo 1.572, do Código Civil, que entendemos revogado com a EC 66-10, a separação judicial podia ser pleiteada, por qualquer um dos cônjuges, independentemente do tempo de casamento, desde que presentes as hipóteses legais que tornavam a vida em comum insuportável. Assim e segundo as causas legais que permitiam separação, eram três as espécies de separação não-consensual:
1 - Separação judicial como sanção (artigos 1.572 e 1.573, I a VI do Código Civil): a insuportabilidade da vida em comum era alegada pelo cônjuge autor, em razão de violação dos deveres matrimoniais pelo cônjuge réu. 
Os deveres do casamento, que se desrespeitados ensejavam a separação judicial, que era pleiteada pelo cônjuge inocente, estavam previstos no artigo 1.566 do Código Civil: fidelidade recíproca, vida em comum no domicílio conjugal, mútua assistência, sustento, guarda e educação dos filhos, respeito e consideração mútuos. 
Vejamos cada uma das causas que ensejavam a separação judicial litigiosa e cuja legitimação para propositura da ação era exclusiva do cônjuge inocente:
Adultério (artigo 1.573, I): não há mais o crime de adultério. Portanto, de considerar a infidelidade, sanção meramente civil. E para a prática desta infração exigia voluntariedade de ação e consumação da cópula carnal propriamente dita. Portanto, não caracterizava adultério as relações sexuais oriundas de estupro, de coação, inseminação artificial, coito anal etc., que podem dar origem à infidelidade moral, caracterizadora de injúria grave e não à infidelidade. 
A violação do dever de vida em comum no domicílio conjugal caracterizava-se no abandono. O abandono voluntário do lar conjugal, por culpa exclusiva do de um dos cônjuges, sem motivo justo, era causa da separação. 
Também por abstinência sexual era possível requerer a separação. Era o abandono do outro cônjuge, mesmo vivendo o casal sob o mesmo teto, diante da recusa, direta ou indireta, de contato íntimo, advindo, deste postura, o inadimplemento do debitum conjugale
O abandono material (ausência física do cônjuge) não exigia tempo. O que interessava era a intenção de abandonar o lar. Assim, era voluntário. O abandono justificado, por motivos relevantes, não é causa de dissolução do casamento, independentemente de autorização judicial para deixar o lar conjugal. 
Permite a separação por descumprimento dodever de mútua assistência (artigo 1.573, II e III do Código Civil) os seguintes atos: tentativa de morte, sevícias, injúria grave. Na tentativa de morte desnecessária era, para decretação da separação judicial, processo criminal. Na própria ação de separação o cônjuge autor poderá comprová-la. 
Sevícias são maus-tratos corporais, agressões físicas. Por injúria grave de entender-se todo ato que ofenda a integridade moral do cônjuge, seja ela real ou verbal. Exemplos de injúria real: expulsão do leito conjugal, transmissão de moléstia venérea, recusa de relações sexuais, ciúme infundado, práticas homossexuais, atentado ao pudor, concubinato. A injúria verbal advém de palavras que ofendam a respeitabilidade do outro consorte.
Dentre as causas que permitiam a separação está a conduta desonrosa (art. 1.573, VI, do Código Civil), que deverá ser analisada diante do caso concreto. Porém, certos elementos eram considerados, tais como: ambiente familiar, a sensibilidade e grau de educação do cônjuge. Assim, desonroso era todo o comportamento do cônjuge que implicasse menosprezo no ambiente familiar ou no meio social em que vive o casal. Portanto, o uso de entorpecentes, lenocínio, embriagues, ociosidade, vício de jogo, negócios ilícitos, recusa em pagar débitos de família, são causas que permitem a separação por conduta desonrosa. 
Também o namoro pela Internet ou o contatos sexuais imaginários com outra pessoa, via “e-mail” permitia a separação por conduta desonrosa e não por infidelidade, na ausência de conjunção carnal. Evidentemente que a prova não podia ser ilícita, isto é, o cônjuge não podia utilizar-se de interceptação de “e-mail” ou conversas relacionadas a interlocutores diferentes, isto é, que não sejam os próprios cônjuges. Assim, não era correto falar em infidelidade virtual, mas sim conduta desonrosa que poderá tornar a vida em comum insuportável e, por conseguinte, permitir que o cônjuge ofendido peça a separação. 
Pelo artigo 1.573, IV, do Código Civil, a separação judicial também podia ser pleiteada ser o outro cônjuge for condenado por crime infamante. 
Nota-se que o Código Civil, após arrolar as hipóteses que tornam impossível a comunhão de vida, justificadoras do pedido de separação judicial litigiosa (o artigo 1.573, caput), permitia, no parágrafo único deste mesmo artigo, que o juiz considerasse outros fatos que tornassem evidentes a insuportabilidade da vida em comum. Portanto, diante do fato concreto o juiz, por outros motivos que não fossem os acima aludidos, também devia decretar a separação judicial, desde que tal fato fossem o motivo da insuportabilidade da vida em comum. 
Portanto e nos casos acima analisados, na petição da ação de separação (e não ação de separação judicial) a causa remota era o casamento e a causa próxima o descumprimento de um ou de vários dos deveres acima aludidos, o que permitia a cumulação ou a sucessão de pedidos, dependendo das provas. 
Era comum também a oferta de reconvenção, caso o outro cônjuge fosse o culpado ou então quando a culpa era recíproca. Depois, por construção jurisprudencial, quando havia reconvenção, mesmo não demonstrada a culpa o divórcio era decretado, eis que evidenciada estava a impossibilidade da manutenção da vida em comum. Como a lei exigia a necessidade de achar um culpado, neste caso ambos, ficticiamente, eram considerados culpados. A ausência da peça reconvencional implicava na improcedência do pedido, se o autor não comprovasse a culpa da parte ré. Portanto, nesta hipótese permanecia o casamento. 
2 – O segundo caso de separação judicial então previsto no artigo 1.572, § 1º do Código Civil. Era a chamada separação judicial por falência do casamento. Exigia apenas a separação de fato há mais de 1 (um) ano e a impossibilidade de reconciliação do casal. Não se discutia a culpa nesta separação. Era a legalização da separação de fato. Era de pouco uso, eis que, se o cônjuge aguardasse mais um ano de separação de fato, podia propor ação de divórcio direto. 
Assim, na petição inicial da ação de separação a causa remota era o casamento. Causa próxima: a separação de fato, há mais de um ano, sem demonstração de culpa. 
3 – O terceiro caso de separação judicial então permitido pelo nosso ordenamento jurídico era a chamada separação judicial remédio. Podia ser ajuizada quando o outro cônjuge fosse acometido de grave doença mental, manifestada após o casamento, que tornasse impossível a continuação da vida em comum, desde que, após a duração de 2 anos, a enfermidade tenha sido reconhecida de cura improvável (artigo 1.572, § 2º do Código Civil). 
Evidentemente que não competia ao julgador fazer qualquer juízo de valor quanto ao pedido de separação lastreado na causa ora em análise. Na verdade, se alguns consideram imoral a separação formulada na hipótese em comento, de verificar-se que nem sempre moral e direito caminham juntos. Nem tudo que é lícito é moral. Entretanto, de notar-se que havia reversão em favor do cônjuge enfermo, que não pediu a separação judicial, do remanescente dos bens que levou para o casamento e, se o regime de bens adotado o permitir, a meação dos adquiridos na constância da sociedade conjugal (art. 1.572, § 3º do Código Civil). 
O foro competente para o requerimento da separação ou para o ajuizamento da ação de separação no CPC anterior ainda era o do domicílio da mulher (art.100, I, do CPC). Entretanto, tal privilégio, que quebrava o princípio da igualdade jurídica entre os cônjuges, deixou de existir no CPC atual, a determinar, em seu art. 53, inciso I, que, para a ação de divórcio, separação, anulação de casamento e reconhecimento ou dissolução de união estável o foro competente é a) o do domicílio do guardião de filho incapaz; b) do último domicílio do casal, caso não haja filho incapaz; c) do domicílio do réu, se nenhuma das partes residir no antigo domicílio do casal. 
Com relação à participação do Ministério Público o art. 698 do atual CPC deixou expressos que somente ocorrerá nas ações de família, quando houver interesse de incapaz e que o “Parquet” deverá ser ouvido, nestes casos, previamente à homologação de acordo. 
Restabelecimento da sociedade conjugal:
Até antes do decreto do divórcio, por simples petição, o restabelecimento da sociedade conjugal podia ocorrer (art. 1.577 do Código Civil). Portanto, nos próprios autos da separação, os requerentes podiam postular o restabelecimento da sociedade conjugal e o juiz, após oitiva do Ministério Público, deferia o pedido, expedindo-se o mandado para averbação no Registro Civil. 
Divórcio:
Com o divórcio há a dissolução do vínculo matrimonial (art. 1.571, IV e § 1º do CC). Duas eram as modalidades de divórcio admitidas até o advento da EC 66/10: a) divórcio indireto consensual ou litigioso (artigo 1.580 e § 1º); b) divórcio direto, também sobre a forma consensual ou litigiosa (§ 2º do artigo 1.580 do Código Civil). 
Divórcio consensual indireto: era o requerido por ambos os cônjuges, após prévia separação judicial, por mais de um ano ou, se existisse liminar de separação de corpos, após um ano do deferimento da liminar (artigo 1.580 do CC). Assim, existindo prévia separação de corpos, através de medida cautelar, imediatamente após o trânsito em julgado da sentença que decretou a separação, podia ser requerido o divórcio indireto consensual. 
Divórcio litigioso indireto: na recusa do outro cônjuge em aceitar o divórcio, ao outro interessado restava ajuizar a ação de divórcio, após de decurso de um ano de separação judicial. 
Verifica-se que o artigo 1.581 do Código Civil permite que o divórcio seja concedido sem que haja prévia partilha de bens. Entretanto, há entendimento que este artigo se destina apenas ao divórcio litigioso direto (Súmula 197 do 
STJ), como o qual não concordamos, eis que se trata de direito patrimonial, podendo os próprios cônjuges deixar tal assunto para discussão posterior. Depois, com o passar do tempo, os ex-cônjuges acabam acordando sobre a partilha dos bens. 
O pedido de conversão de separaçãoem divórcio era apensado aos autos da ação da separação judicial (art. 35, parágrafo único da Lei 6.515). Portanto, o juiz da separação era o prevento para decretação do divórcio. Entretanto, se houvesse modificação de domicílio, o pedido de divórcio podia ser ajuizado na Comarca em que os requerentes estavam domiciliados. De observar-se que a mulher continuava com o privilégio de foro, findando com o CPC atual. Portanto, podia propor o divórcio no atual domicílio dela. Para tanto, a petição inicial era instruída com a certidão da sentença ou de sua averbação no assento de casamento (art. 47 da Lei 6.515).
Também no caso de extravio dos autos da separação, o divórcio era requerido com cópia da sentença que decretou a separação ou com a averbação desta no cartório de Registro Civil respectivo. Não há necessidade de restauração dos autos de separação. 
No pedido de conversão de separação judicial em divórcio, formulado por ambos os cônjuges, o juiz, após oitiva do Representante do Ministério Público, decretava, por sentença, o divórcio. O trabalho do julgador restringe-se ao aspecto processual, o de verificar-se se todas as formalidades legais foram cumpridas e se transcorrido um ano de separação judicial ou de separação de corpos. 
No caso do divórcio indireto não consensual, o outro cônjuge era citado e tinha o prazo de 15 dias para apresentação de contestação. Não era permitida reconvenção. Discutia se a defesa se restringe à ausência do prazo de um ano, face ao disposto no art. 226, § 6º da Constituição Federal, a revogar o artigo 36 da Lei do Divórcio. 
Na verdade, a posição majoritária era a de que o descumprimento de obrigações assumidas pelo requerente, na separação, não era obstáculo ao decreto do divórcio. A parte prejudicada podia executar a sentença. 
A sentença do divórcio também devia ser averbada no registro público competente, após o trânsito em julgado. Ressaltamos que, como então juiz de família, indeferimos requerimentos de alguns Promotores que, para o decreto do divórcio, exigiam a averbação da separação no cartório onde foi lavrado o assento de matrimônio. Entendíamos que não havia exigência legal para tanto. A averbação da sentença de separação era mero ato administrativo e que podia ser concretizado concomitantemente com a averbação do divórcio. Competia ao Oficial de Registro não averbar o divórcio indireto antes da averbação da separação.
Divórcio direto: resultava de um estado de fato, ou seja, separação de fato, por mais de 2 (dois) anos (artigo 226, § 6º da Constituição Federal). Pode ser consensual, hipótese em que seguirá o procedimento ditado pelos artigos 1.120 a 1.124 do Código de Processo Civil. Assim, a petição devia indicar os meios probatórios da separação de fato, com fixação da pensão do cônjuge que dela precisar e partilha de bens.
Efeitos do divórcio: a sentença que decreta o divórcio tem efeito “ex nunc”. Portanto, não atingia ou suprimia os efeitos produzidos pelo casamento. Outros efeitos: dissolvia definitivamente o vínculo matrimonial; punha fim aos deveres recíprocos dos cônjuges; extinguia o regime matrimonial de bens; fazia cessar o direito sucessório dos cônjuges, que deixavam de ser herdeiros um do outro, em concorrência ou na falta de descendente e ascendente; possibilitava novo casamento aos que se divorciam; não admitia reconciliação entre os cônjuges divorciados etc. 
 Fim da separação e o divórcio, a partir da EC 66/10.
Portanto e até o advento da EC 66/10 existia o divórcio, por conversão ou indireto, a exigir prévia separação judicial, por mais de um ano, e também o divórcio direito, a dispensá-la, entretanto exigindo, nesse caso, separação, de fato, por mais de 2 (dois) anos. O art. 226 § 6º da Constituição era assim redigido: o casamento civil poderá ser dissolvido pelo divórcio, mediante prévia separação judicial, pelo prazo de 1 (um) ano, ou mediante separação de fato, por mais de 02 (dois) anos. Após a ementa em comento, que acabou com o divórcio por conversão e com o prazo para o divórcio direito, o art. 226 § 6º da CF teve a seguinte redação: o casamento civil pode se dissolvido pelo divórcio. 
Portanto, considerando que não há mais divórcio, por conversão, a partir da EC/66 10, bem como de não mais exigir prazo para a propositura da ação ou do requerimento de divórcio, de entender que não existe mais separação no direito brasileiro, consensual ou litigiosa. Depois, com relação à discussão de culpa era uma verdadeira invasão da privacidade do casal e desprezava o princípio do afeto, considerando que, mesmo sem amor, persistia o casamento, se não demonstrada a culpa de um dos cônjuges. 
Portanto, hoje existe requerimento de divórcio, cartorário, desde que a mulher não esteja grávida ou não exista menores ou incapazes, ou judicial, uma vez não preenchidos os pressupostos para o divórcio cartorário. É opção dos requerentes escolher entre o divórcio consensual cartório ou o divórcio consensual judicial. 
Não havendo consenso, deverá ser proposto o divórcio litigioso. Porém e por ser direito potestativo, a parte ré não tem defesa quanto ao mérito do pedido, que será julgado procedente. Portanto, entendemos até mesmo possível a antecipação de tutela no divórcio, já que a parte ré não tem como contra-argumentar quanto a este pedido de dissolução de casamento. 
Decretado o divórcio do casal poderá ser restabelecido o casamento, nos próprios autos do divórcio, sem necessidade de casar-se novamente? Nota-se que, com a separação e antes do decreto do divórcio, pelo art. 1.577 do Código Civil, era possível restabelecer a sociedade conjugal, por disposição expressa. 
Com relação ao restabelecimento do casamento não há permissão legal para tanto. Entretanto, entendemos perfeitamente possível o juiz permitir o restabelecimento do casamento, mediante o requerimento de ambos os cônjuges. Para tanto, basta socorrer do art. 226, § 3ª da Constituição Federal, ou seja, se o legislador constituinte determinou que deve ser facilitada a conversão da união estável em casamento, com maior razão deverá possibilitar, a doutrina e a jurisprudência, o restabelecimento do casamento.
Partilha dos bens. 
Partilha desigual. 
Pelo artigo 1.581 do CC o divórcio pode ser concedido sem que haja prévia partilha de bens. Entendemos que tanto no divórcio consensual como o litigioso não é necessária a partilha prévia. Evidentemente que a partilha há que ser realizada em consonância com o regime de bens, caso não haja acordo, estabelecendo de outra maneira, considerando que, por se tratar de direito patrimonial, o casal tem direito a plena disposição dos bens, que podem ser doados aos filhos, ao outro cônjuge, inclusive para terceiros, enclausurados com inalienabilidade, incomunicabilidade, impenhorabilidade, gravado com reserva de usufruto e inclusive com relação a terceiros. 
A partilha será realizada em consonância com as regras da partilha causa mortis. A ação será a de partilha que, se não cumulada, deverá ser apensada aos autos do divórcio. 
Entretanto, se a partilha for desigual, o valor que ultrapassar a meação será tributado já que é considerado torna, ou seja, do excedente da partilha incide o imposto de transmissão. A dúvida é se incide o ITBI (municipal e devido sobre compra e venda na percentagem de 3%) ou o ITCMD (estadual e devido sobre heranças e doações, no valor de 5% sobre o valor do bem ou dinheiro doado).
O ITBI é o imposto incidente sobre as transmissões onerosas de propriedade de bens imóveis. O ITCMD é a exigência incidente sobre as transmissões gratuitas de quaisquer tipos de bens (doação e causa mortis). Assim, incidirá o ITBI se onerosas as transmissões e o ITCMD se gratuitas, apesar de opinião contrária, a entender que incide apenas o ITBI. 
Feita a partilha e levado a registro a sentença, sem necessidade alguma de lavratura de escritura, estabelece um condomínio entre os condôminos, de direito. Antes existia a meação, que não reflete no Cartório de Registro de Imóveis, já que lá o imóvel está em nome docomprador apenas. Assim, na ausência de acordo, há que ser ofertada ação de extinção de condomínio que poderá, se já não ajuizada antes, ser cumulada com arbitramento de aluguel, se um dos ex-cônjuges estiver ocupando, exclusivamente, o imóvel. 
Ressalta-se que em alguns Estados, com a partilha a ação de extinção de condomínio é proposta na Vara Cível, eis que acabada a competência do Juiz Familiarista. Entretanto, em Minas Gerais, através da Resolução 871, de 6/3/2018, foi fixada a competência das Varas de Família também para a extinção de condomínio. Olvidada foi a questão referente ao arbitramento de aluguel que, por conseguinte, continua com o juiz civilista, obrigando a oferta de duas ações e proibindo o acúmulo, por se tratar de competência absoluta, em razão da matéria. 
Cúmulos de ações. 
A partir do atual Código de Processo Civil não é mais correto ajuizar a ação de divórcio para depois ajuizar a ação de partilha, em apenso. Tal expediente era utilizado considerando que, por exemplo, o autor tinha pressa no desfecho do divórcio, eis que almejada casar o mais rapidamente possível. Assim, o cúmulo de ação, divórcio e partilha, acabava dificultando o desfecho do divórcio. 
Agora, com o julgamento parcial do mérito, o juiz deverá julgar o divórcio, logo após a manifestação do autor sobre a contestação, requerendo o julgamento parcial de mérito, já que é direito potestativo de qualquer um dos cônjuges de colocar fim ao matrimônio, o mais rapidamente possível. Após, segue o feito com relação à partilha, ainda existindo fato controverso, o que impede o julgamento antecipado da lide.
Entendemos perfeitamente possível a antecipação de tutela, com relação ao divórcio, por ser direito potestativo da parte autora a dissolução do casamento. A respeito do assunto assim ementou, à unanimidade, a 12ª Câmara Cível, do Tribunal de Justiça do Paraná, no Processo: 1478219-1 (Acórdão), Relator: Joeci Machado Camargo, da Comarca de Carlópolis, julgamento realizado em 27/07/2016. 00. Fonte/Data da Publicação: DJ: 1862 12/08/2016:
EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - DIVÓRCIO LITIGIOSO - DECRETAÇÃO DE DIVÓRCIO EM SEDE DE TUTELA ANTECIPADA - EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 66/2010 - INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 226, § 6º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL - DIREITO POTESTATIVO DO CÔNJUGE - POSSIBILIDADE - PROSSEGUIMENTO DA AÇÃO EM RELAÇÃO À PARTILHA DE BENS - EXEGESE DO ARTIGO 1.581 DO CÓDIGO CIVIL E DA SÚMULA Nº 197 DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA - AUSÊNCIA DE PREJUÍZO AO CONTRADITÓRIO E À AMPLA DEFESA - DECISÃO MANTIDA - RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO.
 
Portanto, há diferença entre julgamento parcial de mérito e julgamento antecipado da lide. No primeiro caso há cúmulo de ações e apenas um ou alguns dos pedidos estão incontroversos, ou seja, aptos para sentença, seguindo a instrução do feito, com relação aos demais pedidos, controversos. No julgamento antecipado, todos os pedidos estão incontroversos, não carecendo mais de prova e, por conseguinte, não haverá necessidade de audiência de instrução e julgamento. 
Na verdade, quando se propõe o divórcio, geralmente há o cumulo de diversas ações. Exemplo: ação de divórcio c/c partilha de bens c/c guarda c/c visita c/c pensão alimentícia, não obstante o nome da ação seja apenas de divórcio. Entretanto, se descritas as causas remotas, próximas e feitos os pedidos, trata-se de cumulação de ações. E o mesmo entendimento acima deve ser aplicado, ou seja, não existindo mais litigiosidade ou surgindo acordo, com relação a uma ou algumas demandas, o juiz deverá julgar ou homologar os acordos, seguindo o feito com relação aos pedidos remanescentes. 
O valor da causa, com relação às diversas ações, deverá ser analisado e fixado individualmente e depois somado. Por exemplo, nas ações acima, no divórcio, que não tem vantagem econômica, o valor da causa será o mínimo (R$1.000,00); na ação de guarda, visita idem. Na ação de partilha, o benefício econômico. Assim, se o casamento foi celebrado no regime de comunhão parcial e o único bem adquirido durante o casamento o foi no valor de R$ 800.000,00, o valor da causa nesta ação de partilha será de R$ 400.000,00 (valor da meação). Com relação aos alimentos, pleiteados, no valor mensal de R$ 2.000,00, o valor da causa será de R$ 24.000,00 (o valor pleiteado vezes 12). Assim e para evitar determinação de esclarecimento pelo juiz, no exemplo dado, deverá constar da inicial; “Dá-se às causas o valor total de R$ 427.000,00 (quatrocentos e vinte e sete mil reais), referente, na ação de divórcio, guarda e visita, em R$ 1.000,00 reais para cada, no total de R$3.000,00. Na ação de partilha: R$ 400.000,00 e na ação de alimentos: R$ 24.000,00 (o valor mensal pleiteado vezes doze).”.
Ocupação do bem exclusivamente por um dos cônjuges. 
Assim, com relação à ação de partilha de bens, que deve ser cumulada com a ação de divórcio ou ação declaratória de existência ou de dissolução de união estável, a discussão que surge é, considerando que um dos cônjuges deixou o lar, continuando o bem ocupado exclusivamente pelo outro cônjuge, não obstante bem comum, a partir de quando é devido o aluguel, na percentagem de 50% para o outro cônjuge que não ocupada mais o imóvel, a título de indenização?
Essa questão não tinha enfrentamento correto pela jurisprudência que entendia, desprezando o princípio do enriquecimento ilícito que, somente após a partilha dos bens é que era possível o arbitramento de aluguel, o que levava o cônjuge beneficiado com tal entendimento a protelar, ao máximo, a partilha dos bens. Para tanto, fazia a distinção entre mancomunhão e condomínio, ou seja, que em se tratando de mancomunhão o bem ainda pertencia ao casal. Assim, imóvel é comum. Porém e na verdade a mancomunhão é espécie do gênero condomínio e não pode ser obstáculo para evitar a indenização, pelo uso exclusivo por um dos cônjuges do patrimônio que pertence a ambos os casados ou conviventes. 
Entretanto, equivocado entendimento, acima aludido, não vem mais prevalecendo e, destacamos o voto publicado em 20/10/2017, da lavra da Ministra Nancy Andrighi, recurso especial nº 1.3875.272-
SP, que enfrentou bem a questão e que, por conseguinte, será analisado nos parágrafos que se seguem, com algumas críticas construtivas. 
Portanto e segundo o voto antes aludido, havendo separação ou divórcio (de acrescentar-se a união estável também) e sendo possível a identificação inequívoca dos bens e do quinhão de cada ex-cônjuge, antes da partilha, cessado restará o estado de mancomunhão existente enquanto perdura o casamento, passando o bem ao estado de condomínio. 
O voto evitaria também a protelação na ação de partilha de bens se encampasse o entendimento de que a simples separação de fato já é o bastante para propositura da ação de arbitramento de aluguel ou de indenização por fruição exclusiva do bem comum por apenas um dos cônjuges ou companheiros. 
Assim, se o imóvel foi adquirido durante o casamento ou da união estável, no regime de comunhão parcial, pela jurisprudência anterior necessário era que se esperasse a partilha do bem que, na verdade, apenas diria o óbvio, ou seja, que o bem pertence à razão de 50% (cinquenta por cento) para cada um do casal. Ora, mais isto já é desde o momento em que o bem foi adquirido, durante o casamento, eis que a comunhão é instantânea, se o regime de bens o permitir. 
Pelo entendimento atual, da Ministra Nancy, não é necessária a partilha, bastando o divórcio ou a separação. De considerar que, primeiramente, após o abandono do imóvel por um dos cônjuges, o outro imediatamente está ocupando-o, a título de comodatário. 
E, para colocar fim ao comodato, necessário que o outro cônjuge, que deixou o imóvel, notifique o comodatário, colocando fim a esta cessão gratuita do bem, bem como estipulando aluguel, para colocar o agora locatário em mora, para, em seguida, entrar com a ação de estipulação de aluguel. 
É que, após a separação ou divórcio e enquanto não partilhado o imóvel (diz a Ministra, separação apenas de fato, digo eu), a propriedade do casalda liberdade. 
Portanto e apesar da forte proteção do Estado, o direito das famílias é ramo do direito privado, não obstante a maioria de suas normas serem cogentes ou de ordem pública. Assim e pelo princípio da liberdade, todos podem escolher livremente a forma de família de sua preferência, adotar filhos e escolher o regime de bens etc. Feita a escolha, a família estará submetida às normas cogentes, de interesse público, que, na verdade, são mais deveres, do que direitos, como acontece, por exemplo, com o poder familiar, hoje chamado de autoridade parental. 
É, ainda, o direito de família personalíssimo, portanto, intransferível, intransmissível por herança e irrenunciável. Ninguém pode transferir ou renunciar sua condição de marido ou de filho, por exemplo. 
Como bem conclui Maria Berenice[footnoteRef:11], por mais que o direito das famílias tenha suas particularidades, “faz-se imperioso considerá-lo como um microssistema jurídico, a merecer tratamento legal autônomo, um código apartado da codificação civil. ”. [11: DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias.10. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, p.35.
] 
2. Princípios do Direito de Família; 2.1. Princípio da Livre União; 2.2. Monogamia como Princípio; 2.3.Princípio da Solidariedade; 2.4. Princípio da Igualdade; 2.5. Princípio da Dignidade da Pessoa Humana; 2.6. Princípio da Afetividade; 2.7. Princípio da Pluralidade.
2. PRINCÍPIOS DO DIREITO DE FAMÍLIA
Havendo mais de duas pessoas, o direito se faz necessário para determinar o agir de cada destinatário e para dirimir os conflitos sociais. A sociedade vive em constante mudança e, para que o direito seja efetivo, é necessário que acompanhe essas diversas mutações sociais.
Princípios são de suma importância no estágio atual do direito, principalmente no que diz respeito às Famílias, a exigir interpretações mais elásticas das leis, mormente no que tange ao encampamento do princípio do afeto. Assim e em várias ocasiões as leis poderão estar em desacordo com os princípios e, por conseguinte, devem ser desprezadas. Os princípios são sempre atuais e receptivos às mudanças sociais. 
As entidades familiares são muitas e todas elas devem ser protegidas na sua essência, de forma igualitária, sem distinção, sem preconceitos e, por este motivo, os princípios são de suma importância na aplicação do direito das famílias, dando-lhe mais efetividade. 
Há no direito das famílias os princípios constitucionais e os gerais, como bem explica Maria Berenice[footnoteRef:12] “os princípios constitucionais vêm em primeiro lugar e são as portas de entrada para qualquer leitura interpretativa do direito. Dispõem de primazia diante da lei, sendo os primeiros a ser invocados em qualquer processo hermenêutico”, já os princípios gerais condizem a “preceitos extraídos implicitamente da legislação pelo método indutivo e cabem ser invocados quando se verificam lacunas da lei”. [12: DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias.10. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, p.42.] 
2.1 PRINCÍPIO DA LIVRE UNIÃO 
As normas legislativas estabelecem deveres e direitos aos seus destinatários, o que não retira a manifestação de vontade, a livre escolha dentro do que é legalmente permitido.
As pessoas são livres e possuem autonomia quanto as suas escolhas. Assim, as intervenções estatais somente devem existir “quando fundamentadas, mormente numa interpretação sistemática dos preceitos constitucionais, levando-se em conta os interesses de outras pessoas, dotadas de igual liberdade”.[footnoteRef:13] [13: ALMEIDA, Renata Barbosa de; JÚNIOR, Walsir Edson Rodrigues. Direito Civil-Famílias. 2. Ed. São Paulo: Atlas, 2012, p.40.] 
A livre união dos futuros cônjuges é corolário do princípio constitucional da liberdade. É através da vontade que se decide com quem estabelecer uma união, o melhor momento para se firmar a instituição familiar, a decisão sobre pole.
2.2 MONOGAMIA COMO PRINCÍPIO
Um dos deveres conjugais é a fidelidade, dever este exigido pelo Código Civil em seus artigos 1566, I e 1724. Entretanto, tal dever pode ser desprezado, se houver consentimento das pessoas envolvidas. Assim, tal princípio está em questionamento, no momento presente, considerando que também já é admitida a família poliafetiva e considerando que já existem pessoas vivendo em união estável com mais de um homem ou mais de uma mulher. E estas pessoas poderão querer converter, por permissão constitucional, estas uniões em casamento. 
Assim o princípio monogânico significa que a pessoa casada não poderá casar-se novamente, salvo se for viúva ou divorciada. 
Ressalta-se que o adultério, então previsto pelo artigo 240 do Código Penal foi, em atrasada hora, revogado, considerando que era o cúmulo do conservadorismo entender a infidelidade, além de ilícito civil, também como crime. 
O Código Civil (CC, 1727) faz previsão de relações extraconjugais na tentativa de coibir o concubinato, mas a família advinda do concubinato não pode deixar de ser assistida pelo Estado. Afinal, a Constituição garante igualdade entre os filhos advindos ou não da relação conjugal.
Ressaltamos que consideramos, ao contrário do que diz o Código Civil, o concubinato, ou seja, a união entre pessoas impedidas de se casar, também como entidade familiar, em razão do princípio do afeto. 
A monogamia há que ser entendida como uma regra que proíbe relações simultâneas, advindas do matrimônio, como forma de proteger confusões patrimoniais. Além disso, esclarece Maria Berenice[footnoteRef:14], “o estado tem interesse na mantença da estrutura familiar, a ponto de proclamar que a família é a base da sociedade. Por isso, a monogamia é considerada função ordenadora da família.”. [14: DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias.10. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, p.42.] 
Entretanto, não pensamos assim. Primeiro, considerando que em razão de proteção de patrimônio não se pode desprezar o princípio do afeto; não se pode desprezar a polifamília e nem também a possibilidade de várias uniões estáveis. Todas estas famílias, independentemente do título, de monogâmica ou poligâmica, também são a base da sociedade e carecem de proteção e não de repelência do Estado. 
Enfim, a monogamia é adotada pela maioria dos países, eis que entendem que a entrega mútua só é possível no matrimônio monogâmico. Contudo, deve-se observar que toda discussão acerca da monogamia diz respeito a regras e não a princípio, pois este não é sinônimo daquele. Assim, o mais adequado é considerar a monogamia como regra e não como princípio.
2.3 PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE
O Princípio da Solidariedade abrange tanto o afeto quanto às questões patrimoniais. O princípio da solidariedade, como afeto, é encontrado principalmente na Constituição Federal e é um dos objetivos fundamentais para a mantença da família.
Em decorrência ao afeto, a solidariedade deve abranger também o patrimônio, considerando que um dos componentes da família poderá necessitar de assistência financeira.
O artigo 1.695, do Código Civil, determina que “são devidos os alimentos quando quem os pretende não tem bens suficientes, nem pode prover, pelo seu trabalho, à própria mantença, e aquele, de quem reclamam, pode fornecê-los, sem desfalque do necessário ao seu sustento.” Sobre esse tema, nos ensina Arnaldo Marmitt[footnoteRef:15] que: [15: MARMITT, Arnaldo. Pensão Alimentícia. Rio de Janeiro: Aide Ed, 1993, p.13 e 14.] 
Os pressupostos básicos da ação de alimentos são a necessidade de um e a possibilidade de outro. Trata-se da necessidade do alimentando, que não tem bens, nem meios de trabalho, capazes de lhe renderem o suficiente para sua sobrevivência. É a situação de penúria que legitima o postulante que, embora maior, pode estar doente, velho, inválido, etc., sem condições de auto-sustentar-se. As possibilidades do devedor condizem com seus recursos financeiros, com os rendimentos que aufere, descontado o que ele próprio precisa para manter-se. A pensão não pode superar as forças financeiras do devedor,sobre o bem é regida pelo instituto do condomínio, aplicando-se a regra contida no art. 1.319 do CC, ou seja: cada condômino responde ao outro pelos frutos que percebeu da coisa. 
Portanto, o voto da Ministra Nancy trouxe novidade, eis que sepulta, de vez, a jurisprudência anterior, que somente admitia a ação de indenização contra o cônjuge, que ocupava o imóvel exclusivamente, após a partilha, é um avanço. Entretanto, lendo o voto, vê-se que poderia ser admitida a ação de arbitramento de aluguéis antes mesmo da separação ou divórcio, isto é, com a simples separação, de fato, do casal.
 
É que a Ministra esclarece que “ainda mais importante do que o modo de exercício do direito de propriedade (se mancomunhão ou condomínio), é a relação de posse mantida com o bem, sito é, se é comum do casal ou se é exclusivamente de um dos ex-cônjuges, uma vez que o fato gerador da indenização não é a propriedade, mas, ao revés, a posse exclusiva do bem no caso concreto.“. 
Ora, a posse exclusiva do imóvel por um dos cônjuges ocorre a partir do momento em que o outro abandonou o lar e, portanto, a partir de então, e não a partir da separação ou do divórcio, é que poderá ser estipulada indenização, a título de aluguéis, pela fruição exclusiva de bem comum, por apenas um dos cônjuges, desde que o outro cônjuge notifique o cônjuge da pretensão de receber indenização, pela ocupação exclusiva do bem. 
Necessário que o cônjuge que ficar no imóvel tenha ciência inequívoca da irresignação do outro cônjuge, quanto à fruição exclusiva do imóvel. Assim, a notificação é o marco para a incidência de aluguéis, como também para a incidência da correção monetária e dos juros. Como matéria de defesa o outro cônjuge poderá requerer a compensação das despesas comum, feita exclusivamente por ele. 
Sobrepartilha
Aplica-se à partilha e à sobrepartilha, com as devidas adaptações as regras do inventário e da partilha ditadas pelo arts. 610 a 673 do CPC. O art. 699 do CPC esclarece quais bem estão sujeitos à sobrepartilha, com as modificações aqui realizadas para a partilha entre pessoas vivas: os sonegados; os descobertos após a partilha; os litigiosos, assim como os de liquidação difícil ou morosa; situados em lugar remoto da sede do juízo onde se processa o divórcio.
Abaixo transcrevemos ementa demonstrando a possibilidade de sobrepartilha, em se tratando de recebimento de a indenização em decorrência de danos patrimonial ocorrido em patrimônio comum das partes, quando ainda casadas: 
APELAÇÃO CÍVEL. SOBREPARTILHA. VALORES DE VERBA INDENIZATÓRIA. RESPONSABILIDADE CIVIL DE TERCEIRO. DANOS EM ÁREA DE TERRA E PLANTIO DE ARROZ. MEAÇÃO DA DIVORCIADA RECONHECIDA. SENTENÇA MANTIDA. O apelante alega que valores de indenização destinados a recompor prejuízo pessoal referente às suas atividades laborais não constituem patrimônio passível de comunicação. Sem razão, contudo, pois a verba indenizatória foi recebida por decorrência de dano patrimonial e postulado em ação de responsabilidade civil contra terceiros, tendo como causa contaminação de solo por dejetos (óleo lubrificante, impermeabilizante e graxas) de máquinas pesadas das empresas demandadas naquela ação, e consequente reflexos na lavoura. Não se reveste de natureza personalíssima a verba indenizatória, na hipótese, não sendo caso de dano à pessoa, mas contaminação do solo e perda de safra, patrimônio comum do casal, que, na época, ainda estava junto. O fato de a autora não ter exercido atividade laboral diretamente nas referidas lavouras não lhe suprime o direito patrimonial e a comunicação da verba indenizatória, pois foi afetada área de terras e atividade agrícola familiar sendo os litigantes casados pelo regime da comunhão universal de bens. NEGARAM PROVIMENTO. UNÂNIME. 
 
(TJ-RS - AC: 70076117811 RS, Relator: Luiz Felipe Brasil Santos, Data de Julgamento: 12/04/2018, Oitava Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 17/04/2018)
União estável. 
Antes do Código Civil atual foi publicada a Lei nº 8.971, de 29 de dezembro de 1994, e, depois, a Lei 9.278, de 10 de maio de 1996. Com o advento do Código Civil tais leis foram extirpadas do ordenamento jurídico, considerando que os assuntos nelas tratados foram encampados pelo Código Civil e é uma síntese dos princípios constitucionais do direito das famílias. Portanto, tais leis, a partir do advento do Código Civil atual, foram abrrogadas. Porém, tiveram importantes destaques, na afirmação da união estável, como entidade familiar. 
Ressaltamos que até mesmo após a Constituição/88 havia resistência, absurda, de entender que o juiz competente para a ação de declaração ou de dissolução de existência ou inexistência de união estável era o da Vara das Famílias. Foi assim que Lei 9.278, de 10 de maio de 1996, em seu art. 9º, teve que determinar, expressa e vergonhosamente, que “Toda a matéria relativa à união estável é de competência do juízo da Vara de Família, assegurado o segredo de justiça.”. 
Evidentemente que, como um levantamento histórico e em reforço à normatização da união estável pelo Código Civil, tais leis podem e devem ser citadas sempre, considerando que foram as primeiras normas a regulamentar a união estável, como entidade familiar, no nosso país conservador e de tradição católica, que insistia em sacralizar o casamento e em negar o princípio do pluralismo familiar. 
Quando se fala em união estável, presentemente, estamos lidando como a união entre pessoas do mesmo sexo ou de sexo diferente. União isoafetiva ou heteroafetiva, não obstante o disposto no art. 226, § 3º, determinar que, “Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.”. 
A equiparação da união isoafetiva à entidade familiar pelo STF ocorreu no julgamento histórico, datado de 06/95/11, em razão da ADIn 4277 e da ADPF 132, valendo citar parte da fala da Ministra Cármen Lúcia, 
“Aqueles que fazem sua opção pela união homoafetiva não podem ser desigualados em sua cidadania. Ninguém pode ser de uma classe de cidadãos diferentes e inferiores, porque fizeram a escolha afetiva e sexual diferente da maioria."
Assim, não é correto mais entender, a exemplo do casamento, que há necessidade de diversidade de sexo. A respeito do tema em análise, colhe-se a seguinte ementa do TJMG: 
EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO ORDINÁRIA - TUTELA DE URGÊNCIA - IPSEMG - ARTIGO 300 DO NCPC - DEFERIMENTO - INCLUSÃO DE COMPANHEIRO COMO DEPENDENTE DE EX-SEGURADO - UNIÃO ESTÁVEL HOMOAFETIVA - REQUISITOS PREENCHIDOS - DECISÃO MANTIDA. 1. O Novo Código de Processo Civil flexibilizou os requisitos previstos pelo CPC de 1973 no que concerne à tutela antecipada, que sob a ótica do CPC de 2015 será concedida quando houver elementos que convençam o juiz da probabilidade do direito da parte, existindo elementos, ainda, que demonstrem o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo, o que se observa na hipótese em análise. 2. Extraindo-se da documentação apresentada elementos suficientes indicativos da união estável existente entre o autor e o segurado falecido, deve ser mantida a decisão que determinou a inclusão do companheiro junto ao IPSEMG, sendo a dependência econômica presumida, a teor do artigo 4º, §4º da LC 64/2002, reconhecendo a jurisprudência, há muito, a união estável homoafetiva. 3. Recurso não provido. (TJMG, AI nº Agravo de Instrumento-Cv 1.0000.17.064155-9/001      0641559-55.2017.8.13.0000 (1), Rel Des. Teresa Cristina da Cunha Peixoto, 8ª Câmara Cível, pub. 04/10/2017)
E como se aplica à união estável homoafetiva as regras da união estável heteroafetiva, por mandamento constitucional o legislador também deverá facilitar a conversão da união estável isoafetiva em casamento. 
Sobre o reconhecimento da união estável isoafetiva, com aplicação das regras do regime de comunhão parcial, ou seja, meação dos bens adquiridos durante esta convivência, de destacar-se a ementa que se segue: 
AÇÃO DECLARATÓRIA DE UNIÃO ESTÁVEL HOMOSSEXUAL.PARCERIA CIVIL. RELACIONAMENTO HOMOSSEXUAL ESTÁVEL E DURADOURO COMPROVADO. 1. A união estável para ser reconhecida como entidade familiar, exige a convivência duradoura, pública e contínua de um homem e uma mulher, estabelecida com objetivo de constituição de família. 2. A união homossexual constitui típica parceria civil e é um arranjo familiar, que o Estado não desconsidera e, no caso, ficou comprovada, devendo receber tratamento análogo ao da união estável. 3. Reconhecida a relação estável deve ser partilhado igualitariamente o valor pago pelo imóvel até a data em que a autora demonstrou ter contribuído para o pagamento das prestações, com abatimento do valor da motocicleta e do FGTS de ambas as partes, cujos valores deverão ser apurados em liquidação de sentença, devidamente corrigidos. Recurso provido, em parte. (Apelação Cível Nº 70076929900, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, Julgado em 30/05/2018).
 
(TJ-RS - AC: 70076929900 RS, Relator: Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, Data de Julgamento: 30/05/2018, Sétima Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 06/06/2018)
Conversão da união estável homoafetiva em casamento.
Sobre a possibilidade de conversão da união estável homoafetiva em casamento, de destacarem-se os seguintes ensinamentos: 
APELAÇÃO. UNIÃO ESTÁVEL HOMOAFETIVA. CONVERSÃO EM CASAMENTO. POSSIBILIDADE. POSTULADO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA. SENTENÇA REFORMADA. A união estável é a convivência entre duas pessoas, alicerçada na vontade dos conviventes, de caráter notório e estável, visando à constituição de família. Durante muitos anos, discutiu-se na doutrina e na jurisprudência sobre a possibilidade de se reconhecer a união estável entre pessoas do mesmo sexo. Contudo, no julgamento da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental n.º 132 e da Ação Direita de Inconstitucionalidade n.º 4277, o Supremo Tribunal Federal encerrou os debates e reconheceu como instituto jurídico a união homoafetiva. E não poderia ser diferente. Pessoas ligadas por um vínculo afetivo, a manter uma relação duradoura, pública e contínua, como se casadas fossem, formam um núcleo familiar à semelhança do casamento, independentemente do sexo a que pertencem. Não obstante o reconhecimento da união estável homoafetiva, o Judiciário vem sendo reticente quando o assunto é a sua conversão em casamento. Todavia, não há qualquer motivo razoável que impeça a conversão pretendida. Ora, se a própria Constituição da República determina que seja facilitada a conversão da união estável em casamento e se o Supremo Tribunal Federal determinou que não fosse feita qualquer distinção entre uniões hétero e homoafetiva, não há que se negar aos requerentes a conversão da união estável em casamento, máxime porque consta dos autos a prova de convivência contínua, estável e duradoura. O comando principal do artigo 226 é a "proteção especial", em si, independentemente da forma pela qual a família é constituída, porquanto por trás dessa "proteção especial" reside a dignidade da pessoa humana, alçada, no texto constituinte, a fundamento da República (art. 1º, inciso III). Restringir o casamento aos heterossexuais confere um selo oficial de aprovação do estereótipo destrutivo de que os relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo são inerentemente instáveis e inferiores às uniões entre sexos opostos e não merecedores de respeito, o que não se pode admitir. Precedentes deste E. TJERJ e do STJ. Provimento do recurso. (TJ-RJ - APL: 00533282020128190000 RIO DE JANEIRO, Relator: RENATA MACHADO COTTA, Data de Julgamento: 07/11/2012, TERCEIRA CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 14/11/2012)
 
Distinção entre namoro e união estável
Evidentemente que não se pode confundir união estável com namoro, apesar de a linha que distingue um instituto do outro ser tênue, principalmente considerando que os namorados estão sempre juntos, vários praticam sexos, enfim, visualmente falando, vivem como se fossem conviventes e já estão namorando por longos anos (namoro qualificado).
Entretanto, há que se fazer a distinção entre a união estável e o namoro. E a diferença está na vontade de os conviventes de constituir família, na espécie de união estável ou de querer apenas namorar. Portanto, não é correto assinar “contrato de namoro”, com o objetivo de descaracterizar a união estável. O que vale é a vontade das partes. 
Porém e considerando que a vontade de constituir união estável poderá ser negada, por um dos conviventes, neste caso a questão fica dependendo de provas, conforme ementa abaixo transcrita, com a ressalva do que será exposto abaixo, com relação aos elementos essenciais caracterizadores da união estável: 
Apelação cível. UNIÃO ESTÁVEL. Requisitos. Inocorrência. Para a caracterização da união estável é imprescindível a existência de convivência pública, contínua, duradoura e estabelecida com objetivo de constituir família. O relacionamento que ostenta apenas contornos de um namoro, sem atender aos requisitos do art. 1.725, não caracteriza união estável.
Apelação desprovida. (TJRS, AC Nº 70074894692, Relator: Jorge Luís Dall'Agnol, 7ª Caciv, J. 24/10/2017). 
Sobre a diferença entre união estável e namoro, assim escreveu Zeno Veloso,
"Nem sempre é fácil distinguir essa situação – a união estável – de outra, o namoro, que também se apresenta informalmente no meio social. Numa feição moderna, aberta, liberal, especialmente se entre pessoas adultas, maduras, que já vêm de relacionamentos anteriores (alguns bem-sucedidos, outros nem tanto), eventualmente com filhos dessas uniões pretéritas, o namoro implica, igualmente, convivência íntima – inclusive, sexual –, os namorados coabitam, frequentam as respectivas casas, comparecem a eventos sociais, viajam juntos, demonstram para os de seu meio social ou profissional que entre os dois há uma afetividade, um relacionamento amoroso. E quanto a esses aspectos, ou elementos externos, objetivos, a situação pode se assemelhar – e muito – a uma união estável. Parece, mas não é! Pois falta um elemento imprescindível da entidade familiar, o elemento interior, anímico, subjetivo: ainda que o relacionamento seja prolongado, consolidado, e por isso tem sido chamado de 'namoro qualificado', os namorados, por mais profundo que seja o envolvimento deles, não desejam e não querem – ou ainda não querem – constituir uma família, estabelecer uma entidade familiar, conviver numa comunhão de vida, no nível do que os antigos chamavam de affectio maritalis. Ao contrário da união estável, tratando-se de namoro – mesmo do tal namoro qualificado –, não há direitos e deveres jurídicos, mormente de ordem patrimonial entre os namorados. Não há, então, que falar-se de regime de bens, alimentos, pensão, partilhas, direitos sucessórios, por exemplo" (VELOSO, Zeno. Direito Civil: temas. Belém: ANOREGPA, 2018. p. 313).
Namoro qualificado
Na jurisprudência o simples relacionamento por um longo tempo não é suficiente para caracterização da união estável e tão fato pode não passar de mero namoro qualificado.
DIREITO DE FAMÍLIA. UNIÃO ESTÁVEL. PLEITO DE RECONHECIMENTO DEDUZIDA POR MULHER EM FACE DE HOMEM COM O QUAL MANTEVE RELACIONAMENTO AMOROSO POR CERCA DE QUATRO ANOS (CRFB, ART. 226, § 3º; E CC, ART. 1.723, CAPUT). NÃO CARACTERIZAÇÃO. AUSÊNCIA DE AFFECTIO MARITALIS. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA PROLATADA NA ORIGEM. APELAÇÃO. INSURGÊNCIA DA AUTORA VISANDO À REVERSÃO DA DECISÃO DE PRIMEIRO GRAU. INVIABILIDADE. APELANTE QUE NÃO DEMONSTRA SATISFATORIAMENTE OS FATOS CONSTITUTIVOS DE SEU DIREITO (CPC/73, ART. 333, I). OBJETIVO DE CONSTITUIÇÃO DE FAMÍLIA (LEI N. 9.278/96, ART. 1º) INVIABILIZADO DIANTE DA CARACTERIZAÇÃO, NO MÁXIMO, DO DENOMINADO NAMORO QUALIFICADO. PRECEDENTES DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA E DESTA CORTE. COABITAÇÃO. ENTRECHOQUE DE PROVAS. PROVA ORAL COLHIDA QUE SE DIVIDE ACERCA DA EXISTÊNCIA DE RELAÇÃO AMOROSA DURADOURA SOB O MESMO TETO. FACILIDADE DE DEMONSTRAÇÃO POR OUTROS MEIOS. INEXISTÊNCIA, ADEMAIS, DE QUALQUER DOCUMENTO COMO FATURAS/BOLETOSDE DESPESAS COM CONSUMO ENDEREÇADAS PARA O SUPOSTO LAR CONJUGAL. DEMONSTRAÇÃO DE CONSTITUIÇÃO DE ACERVO PATRIMONIAL COM ESFORÇO COMUM. INOCORRÊNCIA. IMÓVEIS ADQUIRIDOS E REGISTRADOS PELO FALECIDO PAI DO REQUERIDO. BENS MÓVEIS E AUTOMOTORES COMPRADOS E DOADOS PELO GENITOR AO FILHO SEM GANHOS PRÓPRIOS QUE EM TUDO ERA SUSTENTADO PELO FALECIDO PAI. FARTA E ROBUSTA PROVA DOCUMENTAL E TESTEMUNHAL NESSE SENTIDO. SUPOSTAS RENDAS DA REQUERENTE E DO REQUERIDO ('MESADA') QUE, NO CONTEXTO PROBATÓRIO, NÃO OPORTUNIZARIA, EM CURTO ESPAÇO DE TEMPO SUSCITADO PELA PARTE AUTORA, A AQUISIÇÃO DE IMÓVEL DE VALOR CONSIDERÁVEL, PRINCIPALMENTE QUANDO TAMBÉM ALEGADA A COMPRA DE CAMIONETE E DOS MÓVEIS. ARGUMENTAÇÃO FRÁGIL. HIPÓTESE DE NAMORO E NÃO DE UNIÃO ESTÁVEL. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. Nos dias atuais, em que se revela extraordinariamente difícil divisar exatos os contornos das relações amorosas dadas as irrefreáveis mudanças sociais, cumpre ao julgador perscrutar de forma minuciosa o cenário probatório a fim de identificar os elementos caracterizadores dos institutos. Sabe-se que, segundo precedente paradigmático do Superior Tribunal de Justiça, tem-se "namoro qualificado" e não "união estável" quando ausente o "affectio maritalis" ou a intenção de constituir família de forma presente.
 
(AC: 00050807020118240080 , Relator: Luiz Felipe Schuch, Data de Julgamento: 26/02/2018, Câmara Especial Regional de Chapecó,TJ-SC)
Contrato de namoro ou contrato de união estável.
Tanto um contrato como outro não tem forma legal. Assim, podem ser celebrados, se quiseram as partes, eis que também não são necessários, tanto por escritura pública como por escrito particular. 
Há certa resistência em reconhecer o contrato de namoro. Alguns consideram tal concerto como algo inexiste; outros como nulo, por impossibilidade jurídica do pedido. Entretanto, entendemos que é perfeitamente possível celebrar contrato de namoro, com a finalidade de distinguir tal relacionamento da união estável. 
Por conseguinte, celebrado o contrato de namoro, qualquer discussão a respeito deste pacto deverá ser entabulada na Vara Cível, eis que ainda não se trata de família. Entretanto, tal contrato também será analisado pelo juiz de família, quando a pretensão for a descaracterização da união estável. 
Portanto, entendemos que o contrato de namoro é válido, devendo ser nulificado ou anulado, como qualquer ato jurídico. E, com relação à terceiro, se para fraudar execução ou possível garantia de dívida, não terá o mesmo eficácia.
E, caso negado esse contrato por uma das partes, compete a essa parte o ônus da provar que não se trata de contrato de namoro, mas sim de união estável. Depois e mesmo que desconsiderado, nada impede, como os advogados vem fazendo, que conste cláusula de salvação, no contrato, no sentido de que, se porventura não desconsiderado como contrato de namoro e reconhecida a união estável entre os contratantes, de prevalecer o regime de bens que poderão escolher, ao celebrar o pacto, eis que o art. 1.725 permite contrato escrito estipulando as relações patrimoniais entre eles, eis que, na ausência de tal cláusula, de prevalecer o regime de comunhão parcial. 
Requisitos caracterizadores da união estável
Assim é que o art. 1.723 do Código Civil esclarece que, “É reconhecida como entidade familiar a união estável entre o homem e a mulher, configurada na convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição de família.”. 
Por conseguinte, caso negada a união estável, por um dos companheiros, a convivência pública, com o objetivo de constituição de família, deverá ser demonstrada pelo companheiro interessado. Discordamos da exigência de que a convivência seja contínua e duradoura. Evidentemente que, se presentes estes requisitos, mais fácil é provar a existência desta entidade familiar. Entretanto, pode haver união estável, mesmo havendo descontinuidade no relacionamento, e a união estável por ser reconhecida, independente de prazo, considerando que, de prevalecer, sempre, a vontade de se unir em união estável. 
Nota-se que antes do reconhecimento pela Constituição atual da união estável, como uma das várias entidades familiares, falava-se em concubinato puro, quando não havia impedimento para se casar, e concubinato impuro, quando presente o impedimento. Após a Constituição/88 acabou as adjetivações, eis que o concubinato puro é a atual união estável e o impuro é o concubinato. 
Ressalta-se também que antes da Constituição/88 a jurisprudência entendia que, para o reconhecimento da união estável era necessário que os conviventes ficassem juntos pelo prazo de pelo menos 05 (cinco) anos, o que ensejava inúmeras injustiças, considerando que, quando se aproximava deste quinquênio, o concubinato puro era desfeito, por uma das partes, para não gerar direito ao outro. O Código Civil não exige mais prazo, embora contraditoriamente determine que a união seja duradoura, desprezando que, se as partes querem viver em união estável, por um dia que seja, união é. Portanto, o mais correto é falar em união, deixando de lado a adjetivação estável, em reforço à vontade das partes e para que não haja discriminação, com relação ao casamento, que pode existir até por minuto que seja.
Por conseguinte, não concordamos com a ementa abaixo, que considerou inexistir união estável considerando que os conviventes estiveram juntos por menos de quatro meses. Insistimos que, o que vale é a intenção, o querer das partes que, somente se não demonstrado, utiliza-se dos critérios objetivos ditados pelo art. 1.723 do Código 
Civil: 
	
APELAÇÃO. DIREITO DE FAMÍLIA. UNIÃO ESTÁVEL. Depreende-se do contexto probatório que há fortes indícios da existência de um simples namoro. Ausentes indicativos dos requisitos mínimos para o reconhecimento de união estável, a começar pelo breve tempo, menos de quatro meses. APELO PROVIDO. UNÂNIME. (TJRS, AC Nº 70072616378, Relator: Ivan Leomar Bruxel, Oitava Câmara Cível, J. 08/02/2018)
O parágrafo § 1o , do artigo 1.723, esclarece “que união estável não se constituirá se ocorrerem os impedimentos do art. 1.521; não se aplicando a incidência do inciso VI no caso de a pessoa casada se achar separada de fato ou judicialmente.”
Portanto e existindo impedimento, trata-se de concubinato e não união estável. Entretanto, tanto o homem como a mulher pode viver em união estável, mesmo que ainda casados, desde que estejam separados, de fato, da esposa ou do marido. A desconsideração deste impedimento de vínculo é importante, considerando que várias pessoas deixam o lar, sem se divorciarem, e passam a conviver com outra, em união estável. E, como sabido, mesmo que casado, se houve a separação de fato, não há mais que se falar em comunicabilidade de bens do casal separado. Assim, mesmo que casado, mais vivendo em união estável com outra pessoa, o bem adquirido durante esta convivência será meado é com a companheira e não com a esposa. 
Famílias paralelas ou simultâneas, poliamor: o fim do concubinato puro. 
O artigo 1.727 do Código Civil afirma que “As relações não eventuais entre o homem e a mulher, impedidos de casar, constituem concubinato.”. Entretanto, entendemos que concubinato também é uma das várias entidades familiares, em razão do princípio do afeto. E, por conseguinte, no caso de discussão em juízo, a ação a ser proposta é de declaração e/ou de extinção de concubinato, nas Varas de Família, e o regime de bens também será o de comunhão parcial, não havendo convenção em sentido contrário. Caso entenda que concubinato não é entidade familiar, a discussão será travada nas Varas cíveis e também deverá ser provado, para fins de partilha de bens, esforço comum, o que é um retrocesso. 
Já se fala, doutrinariamente, em uniões estáveis plúrimas, paralelas ou concomitantes. Porém, na jurisprudência, infelizmente, tem certa resistência em admiti-la, com destaque para a ementa abaixo, do TJRJ:
0195627-08.2012.8.19.0004 – APELAÇÃO – 1ª Ementa Des(a). MÁRIO GUIMARÃES NETO - Julgamento:25/07/2017 - DÉCIMA SEGUNDA CÂMARA CÍVEL EMENTA. APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DAS FAMÍLIAS. AÇÃO DE RECONHECIMENTO DE UNIÃO ESTÁVEL. IMPOSSIBILIDADE DE RECONHECIMENTO DE RELAÇÕES CONCOMITANTES. VERBETE SUMULAR Nº 122 DESTA E. CORTE. DESPROVIMENTO DO RECURSO. MAJORAÇÃO DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS, NA FORMA DO ART. 85, § 11, DO CPC/2015. Íntegra do Acórdão em Segredo de Justiça - Data de Julgamento: 25/07/2017
Com pensando oposto e reconhecendo a existência de união estável concomitantemente com o casamento, destacamos a seguinte ementa: 
EMENTA: APELAÇÃO CIVEL. DIREITO DE FAMÍLIA. AÇÃO DE RECONHECIMENTO E DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL POST MORTEM. UNIÃO ESTÁVEL SIMULTANEA. PRINCIPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E DA AFETIVIDADE. PROVA ROBUSTA. POSSIBILIDADE. 1. Ainda que de forma incipiente, doutrina e jurisprudência vêm reconhecendo a juridicidade das chamadas famílias paralelas, como aquelas que se formam concomitantemente ao casamento ou à união estável. 2. A força dos fatos surge como situações novas que reclamam acolhida jurídica para não ficarem no limbo da exclusão. Dentre esses casos, estão exatamente as famílias paralelas, que vicejam ao lado das famílias matrimonializadas. 3. Havendo nos autos elementos suficientes ao reconhecimento da existência de união estável entre a apelante e o de cujus, o caso é de procedência do pedido. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO IMPROVIDO. (Classe: Apelação,Número do Processo: 0002396-95.2010.8.05.0191, Relator (a): Maurício Kertzman Szporer, Segunda Câmara Cível, Publicado em: 15/04/2015 )
 
(TJ-BA - APL: 00023969520108050191, Relator: Maurício Kertzman Szporer, Segunda Câmara Cível, Data de Publicação: 15/04/2015)
União estável putativa
Entretanto, antes do advento das famílias simultâneas (com vários núcleos familiares) ou do poliamor (um único núcleo familiar) era reconhecida é a união estável putativa, ou seja, quando um dos conviventes ignora que o companheiro tenha outra entidade familiar, o que é correto, em razão do princípio da boa-fé, conforme ensinamentos constantes da ementa que se segue:
UNIÃO ESTÁVEL. SITUAÇÃO PUTATIVA. AFFECTIO MARITALIS. NOTORIEDADE E PUBLICIDADE DO RELACIONAMENTO. BOA-FÉ DA COMPANHEIRA. PROVA DOCUMENTAL E TESTEMUNHAL. 1. Tendo o relacionamento entretido entre a autora e o de cujus se assemelhado a um casamento de fato, com coabitação, clara comunhão de vida e de interesses, resta induvidosa a affectio maritalis. 2. Comprovada a notoriedade e a publicidade do relacionamento amoroso havido entre a autora e o falecido companheiro, mas ficando comprovado que ele mantinha concomitantemente união estável com outra mulher, em outra cidade, é cabível o reconhecimento de união estável putativa, pois ficou bem demonstrado que ela não sabia do relacionamento paralelo do varão com a outra mulher. 3. Comprovada a união estável, tem a autora direito à meação dos bens adquiridos a título oneroso na constância da vida em comum, devendo a questão sucessória ser apreciada nos autos do inventário do companheiro, pois ela, em tese, deverá participar da sucessão relativamente aos bens para cuja aquisição tiver concorrido. Inteligência do art. 1.725 do CCB. Recurso desprovido. (Apelação Cível Nº 70072235328, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sérgio Fernando de Vasconcellos Chaves, Julgado em 22/02/2017)
O § 2o do art. 1.723 do Código Civil esclarece também que “as causas suspensivas do art. 1.523 não impedirão a caracterização da união estável.”. Na verdade, as causas suspensas também não impedem a realização de casamento, que apenas será celebrado no regime de separação total obrigatória. Assim e em se tratando de união estável, as causas suspensivas não interferem no regime de bens. 
Pelo art. 1.724 do Código Civil, “As relações pessoais entre os companheiros obedecerão aos deveres de lealdade, respeito e assistência, e de guarda, sustento e educação dos filhos.”. Este artigo sintetiza vários princípios do direito de família, como o de solidariedade, da paternidade responsável, dignidade etc. 
Regimes de bens na união estável
Pelo artigo 1.725, também do Código Civil, verifica-se que o regime de bens na união estável é o de comunhão parcial, salvo se existir contrato escrito entre os companheiros, prevendo outro regime de bens. Este contrato escrito, prevendo outro regime de bens, não precisa ser por instrumento público, eis que não há forma prescrita em lei. 
Nota-se que, se já há um contrato prévio estipulando a incomunicabilidade dos bens, o regime que está vigendo é o de separação total convencional. Entretanto, na ausência de contrato escrito, nada impede que, na aquisição de um bem, o outro convivente compareça na escritura de compra e venda, dispensando a meação. Se assim o fizer, com relação a todos os bens adquiridos por um dos conviventes, no final o regime será o de separação total convencional. E se em alguns bens adquiridos o convivente dispensou a meação e em outros não, teremos, um regime misto, eis que, com relação aos bens adquiridos com a dispensa, na escritura, de meação, não haverá partilha e, com relação aos bens em que não houve a dispensa de meação, evidentemente haverá partilha.
Sobre a possibilidade de eleição de outro regime de bens, na união estável, colhem-se os seguintes ensinamentos do Superior Tribunal de Justiça: 
EMENTA.RECURSO ESPECIAL - AÇÃO DE RECONHECIMENTO E DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL - ESCRITURA PÚBLICA DE UNIÃO ESTÁVEL ELEGENDO O REGIME DE SEPARAÇÃO DE BENS - MANIFESTAÇÃO DE VONTADE EXPRESSA DAS PARTES QUE DEVE PREVALECER - PARTILHA DO IMÓVEL DE TITULARIDADE EXCLUSIVA DA RECORRENTE - IMPOSSIBILIDADE - INSURGÊNCIA DA DEMANDADA. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.
Hipótese: Cinge-se a controvérsia a definir se o companheiro tem direito a partilha de bem imóvel adquirido durante a união estável pelo outro, diante da expressa manifestação de vontade dos conviventes optando pelo regime de separação de bens, realizada por meio de escritura pública. 1. No tocante aos diretos patrimoniais decorrentes da união estável, aplica-se como regra geral o regime da comunhão parcial de bens, ressalvando os casos em que houver disposição expressa em contrário. 2. Na hipótese dos autos, os conviventes firmaram escritura pública elegendo o regime da separação absoluta de bens, a fim de regulamentar a relação patrimonial do casal na constância da união. 2.1. A referida manifestação de vontade deve prevalecer à regra geral, em atendimento ao que dispõe os artigos 1.725 do Código Civil e 5º da Lei 9.278/96. 2.2. O pacto realizado entre as partes, adotando o regime da separação de bens, possui efeito imediato aos negócios jurídicos a ele posteriores, havidos na relação patrimonial entre os conviventes, tal qual a aquisição do imóvel objeto do litígio, razão pela qual este não deve integrar a partilha. 3. Inaplicabilidade, in casu, da Súmula 377 do STF, pois esta se refere à comunicabilidade dos bens no regime de separação legal de bens (prevista no art. 1.641, CC), que não é caso dos autos. 3.1. O aludido verbete sumular não tem aplicação quando as partes livremente convencionam a separação absoluta dos bens, por meio de contrato antenupcial. Precedente. 4. Recurso especial provido para afastar a partilha do bem imóvel adquirido exclusivamente pela recorrente na constância da união estável.
(Recurso especial Nº 1.481.888 ,Relator : Ministro Marco Buzzi ,Data do julgamento :10/04/2018,STJ)
Entretanto, em outra ementa abaixo, verifica-se que não foi possível aceitar efeito retroativo ao regime de separação total de bens estabelecido na escritura pública de união estável, eis que realizado para prejudicar outras pessoas:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL. ESCRITURA PÚBLICA DE UNIÃO ESTÁVEL ESTABELECENDO O REGIME DA SEPARAÇÃO TOTAL DE BENS COM EFEITO RETROATIVO. IMPOSSIBILIDADE. As partes, quando da escritura pública de união estável, optaram pelo regime de bens da separação de bens. É inviável, no entanto, aplicar o regime da separação total de bens previsto na escritura pública declaratóriade união estável, porquanto atribui efeitos retroativos, atingindo bens particulares. Estabelecido o regime da comunhão parcial de bens, determinada a partilha em 50% para cada parte daquele adquirido na constância da união. Apelação cível provida. (Apelação Cível Nº 70073905101, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Jorge Luís Dall'Agnol, Julgado em 26/07/2017).
 
(AC: 70073905101 RS, Relator: Jorge Luís Dall'Agnol, Data de Julgamento: 26/07/2017, Sétima Câmara Cível,TJ-RS)
Nota-se, portanto, que a judicialização para a mutabilidade de regime de bens não se aplica à união estável, eis que os próprios conviventes, a qualquer momento, poderão estipular, por escrito particular, sobre os bens presentes e futuros do casal. 
Nada impede que a dispensa de comunicabilidade dos bens seja realizada, mesmo após o estabelecimento da união estável, por um ou vários documentos particulares. Quando falamos no comparecimento do convivente na escritura pública de compra e venda foi apenas considerando que basta colocar uma cláusula neste documento público e também a prova é de mais difícil desaparecimento.
Sobre o direito de meação e também de concorrência da companheira sobrevivente, de destacar-se a seguinte ementa:
DO ART. 1725 DO CC - REGIME DA COMUNHÃO PARCIAL DE BENS - EQUIPARAÇÃO CONSTITUCIONAL DA COMPANHEIRA À CÔNJUGE - DIREITO À MEAÇÃO DOS BENS - AUSÊNCIA DE BENS NÃO ONEROSOS - REFORMA DA SENTENÇA. 1 - Reconhecida a união estável pelos herdeiros, a companheira equiparada constitucionalmente a cônjuge, participa do inventário na condição de meeira do de cujus, nos bens adquiridos na constância da união a título oneroso. 2 - Se há somente bens onerosos, a companheira concorrerá no inventário na condição de meeira, sendo que a cumulação de meeira e herdeira somente ocorre na hipótese de concorrência de bens comuns e particulares. 3 - Reforma da decisão, improcedência do pedido.  (TJMG -  Apelação Cível  1.0051.15.003680-7/001, Relator(a): Des.(a) Sandra Fonseca , 6ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 20/02/2018, publicação da súmula em 02/03/2018)
 
Conversão da união estável em casamento.
Vimos que a Constituição, no art. 226, § 3o, parte final, determina que a lei deverá facilitar a conversão da união estável em casamento. Assim é que o art. 1.726 determina que “A união estável poderá converter-se em casamento, mediante pedido dos companheiros ao juiz e assento no Registro Civil.”.
Primeira ressalva a ser feita é que converter a união estável em casamento não significa que estar casado é viver melhor do que as pessoas que optaram por estar união estável. A conversão é mera opção dos conviventes e o fato de eles viverem em união estável não significa que são inferiores às pessoas que estão casadas. Depois, com a equiparação dos direitos sucessórios entre os casados e os conviventes, tal conversão perde mais força ainda. 
De ressaltar-se que poderá haver prejuízo a um dos conviventes, a conversão da união estável em casamento, considerando que, se a pessoa já tem mais de 70 anos e faz aludida conversão, o regime que era de comunhão parcial passa a ser de separação total obrigatória. 
Entendemos que o regime de separação total obrigatória não se aplica à união estável, considerando que é um cerceamento do direito de escolha, que, por conseguinte, deve ser interpretado restritivamente. Portanto, se aplica apenas com relação ao casamento. 
Entretanto e na prática verifica que a facilitação da conversão da união estável em casamento não foi bem assimilada e perdeu o legislador a oportunidade de carear melhor o assunto que acabou, em vários Estados, regulamentado, timidamente, pelas Corregedorias dos Tribunais de Justiça, exigindo que tal requerimento de jurisdição voluntária, em determinada situação, seja realizado judicialmente, quando o correto é que o Oficial de Registro Civil o fizesse, porém, sem exigir também a prévia habilitação, como pretende alguns. Para tanto, bastava simples requerimento dos conviventes, isoafetivo ou hetero, diretamente no cartório, que procederia à conversão, anotando no livro próprio, com efeito “ex tunc”, ou seja, retroativo, conforme entendimento majoritário da doutrina e jurisprudência. 
Na verdade, discordamos do entendimento de que a conversão da união estável em casamento tenha efeito “ex tunc”, eis que, não se pode desprezar, houve dois momentos na vida do casal, um: de união estável e outro: de casamento. Retroagir é apagar o passado, como se ele não existisse, o que não é correto. 
Em Minas Gerais, a Corregedoria de Justiça regulamentou os procedimentos para conversão da união estável em casamento, por meio do Provimento n. 
nº190/CGJ/2009, de 11 de agosto, deixando expresso que, “ Para reconhecimento, sem constar data de início da união estável:
- O pedido do requerimento da conversão deve ser feita ao Oficial do Registro Civil que inicia o processo de habilitação -verifica impedimentos e regime de bens,  envia a homologação ao Juiz de Direito e publica o edital de proclamas.
Para conversão com reconhecimento da data de início da união estável:
- O pedido deve ser direcionado ao Juiz de Direito que apura os fatos nos termos da lei e expede mandado ao Oficial de Registro Civil para que seja incluída a data de inicio da união”. 
Nota-se como foi conservadora demais a Corregedoria de Justiça Mineira, primeiro ao exigir o procedimento (e não processo) de habilitação e publicação de proclamas. A única dispensa, portanto, foi o não comparecimento dos conviventes para celebrar a conversão. Depois, foi rigorosa e desconfiada, sobremaneira, ao exigir que, se incluída a data de início da união estável, a questão deve ser judicializada. 
Portanto, fez a ilustre Corregedoria de Justiça Mineira imposição não prevista no artigo 226, § 3o, parte final, da Constituição e acabou não facilitando a conversão da união estável em casamento. 
Ações ou requerimentos na união estável
Com relação os requerimentos ou as ações que podem surgir da união estável, no caso de consenso entre os conviventes poderá ser requerido, em juízo, declaração de união estável, constando o início e deixando expresso que a mesma ainda persiste ou, se não mais existe, ação declaratória c/c dissolução de união estável, constando também o termo final desta entidade familiar. Não havendo consenso, deverá ser proposta ação declaratória de união estável, se a mesma ainda persistir. Caso não mais exista, parece-nos que o mais correto é propor ação declaratória c/c dissolução de união estável, deixando expresso, na inicial, o início e o fim desta entidade familiar, para fins de partilha de bens. A ação poderá ser cumulada com partilha de bens, com guarda, regulamentação de visitas e com fixação de alimentos, para o companheiro necessitado ou para os filhos ou para ambos. 
 
Falecido um dos conviventes a ação declaratória e de dissolução de união estável deverá ser proposta contra os herdeiros. Nota-se que, se o falecido deixou filho menor com a companheira, neste caso há necessidade de nomeação de curador à lide, eis que a autora da ação será a mãe do menor, que será o réu. Assim, não poderá a mãe, neste caso, ser representante legal do menor.
Benfeitorias construídas em terreno alheio.
Uma questão tormentosa nas Varas de Família é quando os conviventes constroem em imóvel de outrem, por exemplo, da sogra. Finda a relação de união estável como fica a questão da indenização da benfeitoria? Certo é que, se a casa foi erguida no imóvel da mãe de um dos conviventes, o outro poderia ajuizar ação declaratória c/c ação de dissolução de união estável c/c indenização de 50% da benfeitoria contra a ex-companheiro, que continuou residindo no imóvel. Entretanto, considerando que a ex-companheira não tem outros bens, o ex-companheiro poderá ter um crédito, porém não recebê-lo, já que este único bem que ficou com a ex-companheira é moradia dela, portanto impenhorável. 
Pensamos que, no exemplo acima, possível é que o ex-companheiro ajuíze ação de indenização contra a sogra, na Vara Civil,considerando que houve um mero comodato verbal da sogra com os companheiros e não houve renúncia da benfeitoria em prol da sogra que, portanto,está enriquecendo, ilicitamente. 
Ilustrando o acima afirmado, colhem-se os seguintes ensinamentos jurisprudenciais: 
RECURSO ESPECIAL. UNIÃO ESTÁVEL. DISSOLUÇÃO. PARTILHA DE BEM CONSTRUÍDO SOBRE TERRENO DE TERCEIRO, PAIS DO EX-COMPANHEIRO. ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM DOS TERCEIROS. NÃO OCORRÊNCIA. CONSTRUÇÃO DE ACESSÃO (CASA) QUE SE REVERTE EM PROL DO PROPRIETÁRIO. DIREITO À INDENIZAÇÃO. PARTILHA DOS DIREITOS SOBRE O IMÓVEL. POSSIBILIDADE. EXPRESSÃO ECONÔMICA QUE DEVE SER OBJETO DE DIVISÃO.
1. O Código Civil estabelece que "aquele que semeia, planta ou edifica em terreno alheio perde, em proveito do proprietário, as sementes, plantas e construções; se procedeu de boa-fé, terá direito a indenização" (CC, art. 1.255), evitando-se, desta feita, o enriquecimento indevido do proprietário e, por outro lado, não permitindo que aquele que construiu ou plantou em terreno alheiro tire proveito às custas deste.
2. Na espécie, o casal construiu sua residência no terreno de propriedade de terceiros, pais do ex-companheiro, e, agora, com a dissolução da sociedade conjugal, a ex-companheira pleiteia a partilha do bem edificado.
3. A jurisprudência do STJ vem reconhendo que, em havendo alguma forma de expressão econômica, de bem ou de direito, do patrimônio comum do casal, deve ser realizada a sua meação, permitindo que ambos usufruam da referida renda, sem que ocorra o enriquecimento sem causa e o sacrifício patrimonial de apenas um deles.
4. É possível a partilha dos direitos decorrentes da edificação da casa de alvenaria, que nada mais é do que patrimônio construído com a participação de ambos, cabendo ao magistrado, na situação em concreto, avaliar a melhor forma da efetivação desta divisão.
5. Em regra, não poderá haver a partilha do imóvel propriamente dito, não se constando direito real sobre o bem, pois a construção incorpora-se ao terreno, passando a pertencer ao proprietário do imóvel (CC, art. 1.255), cabendo aos ex-companheiros, em ação própria, a pretensão indenizatória correspondente, evitando-se o enriquecimento sem causa do titular do domínio.
6. No entanto, caso os terceiros, proprietários, venham a integrar a lide, torna-se plenamente possível, no âmbito da tutela de partilha, o deferimento do correspondente pleito indenizatório. No ponto, apesar de terem integrado o feito, não houve pedido indenizatório expresso da autora em face dos proprietários quanto à acessão construída, o que inviabiliza o seu arbitramento no âmbito da presente demanda.
7. Na hipótese, diante da comprovação de que a recorrida ajudou na construção da casa de alvenaria, o Tribunal de origem estabeleceu a possibilidade de meação "com o pagamento dos respectivos percentuais em dinheiro e por quem tem a obrigação de partilhar o bem", concluindo não haver dúvida de "que o imóvel deve ser partilhado entre os ex-companheiros, na proporção de 50% para cada um".
8. Assim, as instâncias ordinárias estabeleceram forma de compensação patrimonial em face do ex-companheiro, em razão dos direitos decorrentes da edificação da casa de alvenaria, sendo que o valor percentual atribuído deverá ser apurado em sede de liquidação de sentença e pago pelo varão, não havendo falar em partilhamento do imóvel, já que que se trata de bem de propriedade de outrem.
9. Recurso especial parcialmente provido. (STJ, RESP Nº 1.327.652, Relator: Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, J. 10/10/2017). 
Pensão por morte do companheiro
Outro importante entendimento, também advindo do Superior Tribunal de Justiça, foi a inclusão da companheira na suplementação de pensão por morte, mesmo não constando a mesma como beneficiária, com rateio igualitário de tal verba com a ex-esposa do falecido: 
RECURSO ESPECIAL. CIVIL. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. INEXISTÊNCIA. PREVIDÊNCIA PRIVADA. SUPLEMENTAÇÃO DE PENSÃO POR MORTE. INDICAÇÃO DE BENEFICIÁRIO NO PLANO. OMISSÃO. COMPANHEIRA. ÓBITO DO PARTICIPANTE.
INCLUSÃO POSTERIOR. POSSIBILIDADE. VALOR DA BENESSE. PREJUÍZO AO FUNDO PREVIDENCIÁRIO. AUSÊNCIA. RATEIO ENTRE A EX-ESPOSA E A CONVIVENTE. UNIÃO ESTÁVEL. DEMONSTRAÇÃO. FINALIDADE SOCIAL DO CONTRATO. REGIME DE PREVIDÊNCIA OFICIAL. EQUIPARAÇÃO. 1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado na vigência do Código de Processo Civil de 1973 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ). 2. Cinge-se a controvérsia a saber se é possível a inclusão de companheira como beneficiária de suplementação de pensão por morte quando existente, no plano de previdência privada fechada, apenas a indicação da ex-esposa do participante. 3. A pensão por morte complementar consiste na renda a ser paga ao beneficiário indicado no plano previdenciário em decorrência do óbito do participante ocorrido durante o período de cobertura, depois de cumprida a carência. A princípio, a indicação de beneficiário é livre. Todavia, não pode ser arbitrária, dada a finalidade social do contrato previdenciário. 4. A Previdência Complementar e a Previdência Social, apesar de serem autônomas entre si, pois possuem regimes distintos e normas intrínsecas, acabam por interagir reciprocamente, de modo que uma tende a influenciar a outra. Assim, é de rigor a harmonização do sistema previdenciário como um todo. 5. Nos planos das entidades fechadas de previdência privada, é comum estabelecer os dependentes econômicos ou os da previdência oficial como beneficiários do participante, pois ele, ao aderir ao fundo previdenciário, geralmente possui a intenção de manter o padrão de vida que desfruta na atividade ou de amparar a própria família, os parentes ou as pessoas que lhe são mais afeitas, de modo a não deixá-los desprotegidos economicamente quando de seu óbito. 6. A designação de agraciado pelo participante visa facilitar a comprovação de sua vontade para quem deverá receber o benefício previdenciário suplementar na ocorrência de sua morte; contudo, em caso de omissão, é possível incluir dependente econômico direto dele no rol de beneficiários, como quando configurada a união estável, sobretudo se não houver prejuízo ao fundo mútuo, que deverá repartir o valor da benesse entre os indicados e o incluído tardiamente. 7. Para fins previdenciários, a comprovação da união estável pode se dar por qualquer meio robusto e idôneo de prova, não se esgotando no contrato escrito registrado ou não em cartório (preferencial para disciplinar o regime e a partilha de bens, conforme o art. 5º da Lei nº 9.278/1996) ou na sentença judicial declaratória. Precedentes. 8. Tendo em vista a finalidade assistencial da suplementação de pensão por morte, não pode haver o favorecimento do cônjuge separado em detrimento do companheiro do participante. A união estável é reconhecida constitucionalmente como entidade familiar, pressupondo o reconhecimento da qualidade de companheiro a inexistência de cônjuge ou o término da sociedade conjugal (arts. 1.723 a 1.727 do CC). Efetivamente, a separação se dá na hipótese de rompimento do laço de afetividade do casal, ou seja, ocorre quando esgotado o conteúdo material do casamento. 9. A inclusão da companheira, ao lado da ex-esposa, no rol de beneficiários da previdência privada, mesmo no caso de omissão do participante quando da inscrição no plano, promoverá o aperfeiçoamento do regime complementar fechado, à semelhança do que já acontece na previdência social e nas previdências do servidor público e do militar nos casos de pensão por morte. Em tais situações, é recomendável o rateio igualitário do benefício entre o ex-cônjuge e o companheiro do instituidor da pensão, visto que não há ordem de preferência entre eles. 10. Havendo o pagamento de pensão por morte, seja a oficial ou o benefício suplementar, o valor poderá ser fracionado, em partes iguais, entre a ex-esposa e a convivente estável, haja vista a possibilidade de presunção de dependência econômica simultânea de ambas em relação ao falecido. 11. Recurso especial não provido.
 
(REsp: 1715485RN 2015/0296897-1, Relator: Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, Data de Julgamento: 27/02/2018, T3 - TERCEIRA TURMA,STJ)
União estável igualada ao casamento, para fins sucessórios 
O Supremo Tribunal Federal igualou a união estável ao casamento, para fins de direitos sucessórios e tal proposta já repercute nos Tribunais Estaduais, conforme ementa abaixo transcrita: 
DIREITO CIVIL. AÇÃO ANULATÓRIA. INVENTÁRIO. SUCESSÃO EM UNIÃO ESTÁVEL. INCONSTITUCIONALIDADE DO ARTIGO 1.790 DO CÓDIGO CIVIL. RE-RG N º 646.721/RS E RE-RG N º 878.694/MG. REJULGAMENTO. PARÁGRAFO TERCEIRO DO ARTIGO 543-B DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 1973 CORRESPONDENTE AO INCISO II DO ARTIGO 1.040 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 2015. ADEQUAÇÃO DO ACÓRDÃO ANTERIOR AO ENTENDIMENTO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. 1 - Nos termos da orientação firmada pelo Supremo Tribunal Federal em julgamento de recursos extraordinários submetidos à sistemática da repercussão geral, é inconstitucional o artigo 1.790 do Código Civil, o qual estabeleceu a distinção, para fins sucessórios, entre cônjuges e companheiros, devendo-se aplicar, em ambos os casos, o regime jurídico estabelecido no artigo 1.829 do Código Civil (RE-RG nº 646.721/RS e RE-RG nº 878.694/MG - Temas nº 498 e 809, respectivamente). Assim, impende adequar o entendimento firmado anteriormente por esta Quinta Turma Cível, a fim de que a orientação nele estampada coincida com os paradigmas vinculantes do STF, resultante da uniformização da questão constitucional controvertida. 2 - O regime de sucessão de cônjuges estabelece que os "colaterais" só têm direito a herança se não houver mais filhos, cônjuge ou ascendentes vivos. No caso concreto, tendo o de cujus companheira viva, sem ascendentes ou descendentes, os irmãos do falecido não têm legitimidade para fazer pedidos relacionados à herança. Apelação Cível provida.
 
(TJDFT 20080110423329 DF 0050303-68.2008.8.07.0001, Relator: ANGELO PASSARELI, Data de Julgamento: 04/04/2018, 5ª TURMA CÍVEL, Data de Publicação: Publicado no DJE : 11/04/2018 . Pág.: 490/493)
 
Direito parental. 
1 - Parentesco no nosso ordenamento jurídico: a) parentesco por consanguinidade: vinculo estabelecido entre as pessoas que descendem de um mesmo tronco ancestral; b) afinidade: relação estabelecida entre um cônjuge e os parentes do outro; c) adoção: estabelecido entre o adotante e filho adotivo, com previsão no ECA (Lei nº 8.069/90), com relação aos menores de 18 anos. Assim, o pedido de adoção, com relação aos menores, deverá ser formulado na Vara da Infância e Juventude. Com relação aos maiores, nas Varas de Família. Pelo atual Código Civil, tanto a adoção de menores como de maiores deverá ser concretizada através de sentença constitutiva (Parágrafo único, do artigo 1.623). Não há mais adoção por escritura pública.
A Constituição Republicana de 1988 equiparou, em seu artigo 227, § 7º, os filhos adotivos aos advindos da filiação biológica e, por conseguinte, proibiu designações discriminatórias. O Código Civil, no artigo 1.596, face à determinação constitucional antes aludida, atribuiu aos filhos adotivos os mesmos direitos e deveres dos concebidos pelos próprios pais. Entretanto, o artigo 1.593, do Código Civil, considera a adoção como “parentesco civil” e, para o parentesco resultante da consangüinidade, considera-o “parentesco natural”. 
Portanto e após a Constituição Federal de 1988, não é mais correto aludir a parentesco legítimo (advindo do casamento) e ilegítimo (aflorados de relações sexuais fora do casamento). O conservadorismo era tão sério e sempre em prejuízo da prole, a ponto de o filho ser considerado natural (pais que não tinham impedimento para casamento e que, entretanto, não se casavam) ou adulterino (de pessoas que não podiam casar, eis que uma já era casada) e filhos incestuosos (nascidos de parentes próximos). Essas discriminações preconceituosas foram sepultadas pelo artigo 227, § 6º da Constituição Federal. O filho passa, então e como não poderia deixar de ser, mais importante do que o casamento, apenas uma das várias formas de entidades familiares, todas também constitucionalmente garantidas.
Pelo artigo 1.591 do Código Civil parentes em “linha reta” são “as pessoas que estão umas para com as outras na relação de ascendentes e descendentes”. Portanto, nasceram uma da outra diretamente, em direção ao tronco comum (ascendentes) ou deste se afaste (descendente).
O artigo 229 da Constituição Republicana de 1988 estipula obrigações entre os parentes em linha reta. Assim, há obrigação de sustento entre pais e filhos e os filhos têm o dever de amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade. O artigo 1.694, concretizando o mandamento constitucional ora citado, estabelece a possibilidade de os parentes pedirem uns aos outros alimentos que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social. O artigo 1.521 impede o casamento entre parentes em linha reta. 
Parente colateral, pelo artigo 1.592 do Código Civil, é o que une os provindos do mesmo tronco ancestral, sem descenderem uns de outros. Portanto, há de se considerar duas linhas distintas que tem como ponto de convergência no autor comum. Assim, entre irmãos existem dois graus, entre primos, quatro. Assim, não existe primeiro grau nas relações de parentesco colateral. Esse parentesco é também chamado de colateral ou transversal. 
Pelo artigo 1.594 do Código Civil “contam-se, na linha reta, os graus de parentesco pelo número de gerações, e, na colateral, também pelo número delas, subindo de um dos parentes até ao ascendente comum, e descendo até encontrar o outro parente”. Assim, o grau de parentesco é obtido através da contagem do número de gerações que separam as pessoas cujas relações estão sendo determinadas. Na “linha reta” contam-se subindo ou descendo, e tantos são os graus quantas as gerações: de pai a filho um grau; de bisneto a bisavô três graus (parentesco no terceiro grau). 
Na linha colateral conta-se o parentesco subindo por uma das linhas genealógicas até o ponto ancestral comum e descendo pela outra até a pessoa cujo parentesco é pesquisado. Cada geração, na linha colateral, corresponde a um grau de parentesco. Assim, tio e sobrinho são parentes em terceiro grau. Irmãos são parentes colaterais no segundo grau. Primos são parentes colaterais em quarto grau. 
Pelo § 1º do artigo 1.595 do Código Civil, “o parentesco por afinidade limita-se aos ascendentes, aos descendentes e aos irmãos do cônjuge ou companheiro”. Assim, não há vínculo jurídico entre concunhados, eis que o parentesco por afinidade é de natureza pessoal. Entretanto, pelo § 2º do art. 1.595 do Código Civil, “na linha reta, a afinidade não se extingue com dissolução do casamento”. Assim, mesmo após a dissolução do vínculo matrimonial, sogro ou sogra, genro ou nora, continuam unidos pelo vínculo de afinidade. Por conseguinte, não é correto falar em “ex-sogra”. Temos, portanto, várias sogras, dependendo do número de vezes em que casamos. 
Há impedimentos, para fins de casamento, entre os parentes colaterais (artigo 1.521-IV). Também pelo direito processual os parentes colaterais até o terceiro grau (art. 447, § 2º, do CPC), por consanguinidade ou afinidade, estão impedidos de prestarem declarações. O juiz não pode participar do feito, eis que é impedido, quando for parente colateral da parte até 3º grau, por consanguinidade ou afinidade (art. 144, inciso IV do CPC). 
No parentesco colateral é também comum a distinção entre irmãos “germanos ou bilaterais” e “unilaterais”. Irmãos germanos ou bilaterais são considerados os filhos dos mesmos pais. Irmãos unilaterais quando há coincidência apenas de um dos pais. 
Esquema de graus de parentesco, em linha reta e colateral: 
A é pai de B e C (parentesco em linha reta do 1º grau)
A é avô de D e E (parentesco em linha reta do 2º grau)
E é filho de C (parentesco em linha reta do 1º grau)
E é neto de A (parentesco em linha reta do 2ª grau)
E é sobrinho de B (parentesco em linha colateral do 3ª grau)
E é primo de D (parentesco em linhacolateral do 4ª grau)
Paternidade socioafetiva:
A paternidade socioafetiva, antes admitida na doutrina e na jurisprudência, foi positivada em nosso ordenamento jurídico, com previsão no artigo 1.593, em sua parte final, do Código Civil, ao afirmar que: “O parentesco é natural ou civil, conforme resulte de consangüinidade ou outra origem” (grifamos). Portanto, ampliado foi o conceito jurídico de parentesco. De prevalecer, inclusive sobre a paternidade biológica, o afeto, a posse de estado de filho. A própria reprodução heteróloga confirma este entendimento, ou seja, o marido ou o companheiro admite como filho o ser gerado por inseminação artificial, porém com sêmem de outro. Comum, também, o pai assumir filho de outrem, registrando-o. Portanto, entendemos que, posteriormente, não pode este pai, com simples exame de DNA, pretender desconstituir o vínculo paternal, desde que estabelecido espontaneamente por ele. Evidentemente que, se tal atitude é crime, no direito de família o que interessa é a vontade de o homem reconhecer um filho de outro como se fosse dele e, com o filho “adotado”, estabelecer afeto, carinho, apresentá-lo publicamente como filho dele. 
Sobre a paternidade socioafetiva, de destacarem-se os seguintes ensinamentos jurisprudenciais: 
DIREITO CIVIL - FAMÍLIA - RECONHECIMENTO DE FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA POST MORTEM - IMPROCEDÊNCIA EM PRIMEIRO GRAU - RECURSO DO REQUERENTE - PROVAS DOCUMENTAL E TESTEMUNHAL DA SOCIOAFETIVIDADE - ESTADO DE FILIAÇÃO COMPROVADO - DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA - SENTENÇA REFORMADA - RECURSO PROVIDO   A posse do estado de filiação, consubstanciada em relação afetiva e pública como pais e filho, autoriza o reconhecimento de filiação socioafetiva, amparada na lei civil (art. 1.593 do CC) e no princípio constitucional da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III, da CF/88). (TJSC, Apelação Cível n. 0301375-12.2014.8.24.0039, de Lages, rel. Des. Monteiro Rocha, Sexta Câmara de Direito Civil, j. 05-12-2017).
2 - Filiação: é a relação jurídica que liga o filho a seus pais, independentemente do casamento (artigo 226, § 6º da Constituição Federal e art.1.596 do Código Civil). Entretanto, o artigo 1.597 do Código Civil estabelece a presunção de filho àquele “concebido na constância do casamento”. Na verdade e considerando que o legislador optou pela manutenção de presunções quanto à filiação (art. 1.597- CC), eis que a paternidade não pode ser diretamente provada, deveria, automaticamente, estender tais presunções também às outras formas de constituição de família. Portanto, presume-se, também filho, o que foi concebido na constância da união estável, desde que, evidentemente, provada. 
Assim e admitindo como filho o concebido durante o casamento, o art. 1.597, inciso I, do Código Civil, estabelece, com base em probabilidades, os termos máximo e mínimo de uma gestação. Presume-se concebido na constância do casamento o filho nascido cento e oitenta dias, pelo menos, depois de estabelecida a convivência conjugal e não do dia em que as núpcias foram celebradas. E, como não é provável uma gestação por período superior a trezentos dias, presume-se filho o nascido até 300 dias subseqüentes à dissolução da sociedade conjugal. 
Nota-se que poderá haver conflito de presunções, ou seja, um filho poderá nascer até 300 dias a contar da morte do primeiro marido, mas após 180 dias de vigência do segundo casamento. Assim e se analisarmos o inciso I e II, do artigo 1.597 do Código Civil, isoladamente, o filho terá dois pais. Para impedir tal fato (turbatio sanguinis) foi instituída a causa suspensiva prevista no inciso II, do artigo 1.523 do Código Civil. Entretanto, causas suspensivas não impedem a celebração de casamento. E, se casar a viúva ou aquela cujo casamento se desfez, há necessidade de utilizar-se de todos os meios de provas admitidos em direito: documentos, exame de DNA, oitiva de testemunha. E, não solucionada a questão, por intermédio das provas, o Código, no art. 1.598, presume que o filho seja do primeiro marido, se nascer dentro dos trezentos dias a contar da dissolução da sociedade conjugal. Nascendo depois, será filho do segundo marido, desde que decorridos cento e oitenta dias depois de estabelecida a convivência conjugal. 
Também presume concebido na constância do casamento o filho havido por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido (art. 1.597-III). Na fecundação artificial homóloga o óvulo e o sêmem pertecem à mulher e ao marido, respectivamente. Há entendimento de que, no caso de falecido o marido, a presunção persiste, desde que haja autorização escrita do marido, eis que deve haver convergência de vontade.
Aliás, a inseminação artificial traz para ao direito sucessório controvérsia séria, ou seja, se são herdeiros os filhos advindos de reprodução assistida e nascidos após a morte do marido. De ressaltar-se que, pelo artigo 1.784 do Código Civil, “aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários”. Basta imaginar, a título de exemplo, uma inseminação artificial post-mortem ocorrida 20 (vinte) anos depois da morte do pai do nascituro. 
Também são presumidos como filhos os havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga (art. 1.597-IV). Embriões excedentários são os que não foram, ainda, introduzidos no ventre da mãe e que permanecem depositados junto às entidades especializadas. A concepção de embriões excedentários é admitida somente se estes derivarem de fecundação homóloga, isto é, gametas da mãe e do pai, casados ou convivendo em união estável. 
Finalmente e pelo artigo 1.597-V, do Código Civil, há presunção de paternidade dos filhos havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização do marido. Neste caso há utilização do sêmen de outro homem, geralmente um doador anônimo, para fecundação do óvulo da mulher. 
Pelo artigo 1.599 do Código Civil, a prova da impotência do cônjuge para gerar, à época da concepção, ilide a presunção, independentemente da causa (psíquica, anatômica, fisiológica ou patológica). A impotência há que coincidir com o período legal da concepção. 
Entretanto, o artigo 1.600 é taxativo: “não basta o adultério da mulher, ainda que confessado, para ilidir a presunção legal da paternidade”. E, desprezado fica, por completo, a prova da infidelidade, para ilidir a presunção de paternidade, se o marido convivia com a mulher. A infidelidade (provada ou confessada) não descaracteriza a presunção. O filho pode ser do marido e a dúvida não é o bastante para ilidir a presunção. Na mesma linha de raciocínio, o art. 1.602 afirma que “não basta a confissão materna para excluir a paternidade”. 
De ressaltar-se que a presunção de filho concebido durante o casamento é relativa (juris tantum) e, por conseguinte, admite prova em contrário. E, pelo artigo 1.601, do Código Civil, o direito de o marido contestar a paternidade do filho nascido de sua mulher é imprescritível. Falecendo o autor, no curso da ação negatória de paternidade, os herdeiros dele podem prosseguir na ação (Parágrafo único, do artigo 1.601). Há, portanto, substituição de parte.
A maternidade, pelo artigo 1.608 do Código Civil, somente poderá ser impugnada se provada a falsidade “do termo ou das declarações nele contida”. De ver-se que não foi previsto o “contrato de gestação” ou barriga de aluguel. 
Assim, a negatória da maternidade poderá ocorrer provando que determinada pessoa não é a que nasceu da mulher (falta de identidade), bem como que àquela mulher não teve aquele filho, ou nunca teve filho nenhum como, por exemplo, no caso de simulação de parte. Também poderá ser provada a falsidade do registro ou a substituição do recém-nascido. A ação é imprescritível e pode ser intentada por quem tenha ou prove ter legítimo interesse. 
No tocante à negatória de paternidade pelo marido da mãe, resultante de inseminação homóloga (art. 1.597, I e II), deverá o pai comprovar que o profissional ou o hospital utilizaramde sêmen que não foi o dele. Entretanto, na inseminação heteróloga (art. 1.597, V) não se admite a contestação da paternidade, principalmente considerando que houve autorização do pai para que ela ocorresse. 
A prova da filiação é feita pela certidão do termo de nascimento registrada no Registro Civil (art. 1.603). Na falta do respectivo assento, destruição do livro, etc., qualquer outro meio de prova é válido, desde que haja um começo de prova por escrito emanado dos pais (cartas familiares, reconhecimento extrajudicial etc.). 
No tocante a maternidade a prova é mais fácil. Prova-se a gravidez, o parto e a identidade da pessoa. 
O artigo 1.604 determina que “ninguém pode vindicar estado contrário ao que resulta do registro de nascimento, salvo provando-se erro ou falsidade do registro”. Assim, o registro civil gera a presunção de veracidade do estado da filiação e sobrepõe à paternidade biológica. Portanto, a presunção decorrente do registro é iuris tantum. Provada a existência de falsidade (ideológica ou material), ou de erro cometido pelo oficial ou pelo declarante, desfeita restará a presunção. 
Não existindo registro ou não sendo este encontrado, ou encontrando-se o registro em local inacessível, ou constando dele declarações inexatas, admite o Código que se prove a filiação por qualquer modo admissível em direito, eis que o artigo 1.605 determina que “na falta, ou defeito, do termo de nascimento, poderá provar-se a filiação por qualquer modo admissível em direito: I –quando houver começo de prova por escrito, proveniente dos pais, conjunta ou separadamente; II – quando existirem veementes presunções resultantes de fatos já certos”. 
A prova da paternidade pela “posse de estado de filho” (ter o nome paterno ou ser considerado na família e no meio social em que vive como filho) poderá ser considerado como fato certo (art. 1.605-II). 
Pelo artigo 1.606 e seu parágrafo único a legitimação para a ação da prova da filiação é do filho e passa aos herdeiros, os quais poderão continuá-la, se não extinto o processo. 
Negada a condição de filho, em razão da presunção legal da paternidade (filho nascido durante o casamento dos pais) poderá ele ajuizar “ação de vindicação do estado de filiação”. Entretanto, tal nome está em desuso, considerando que a ação geralmente ofertada é a declaratória de paternidade, já que o nome da ação não é fundamental e também há que se considerar é a causa de pedir e o pedido. Tal ação é imprescritível e pode ser intentada pelo filho enquanto viver, passando aos seus herdeiros, se morrer incapaz ou na pendência da lide. Para tanto, o autor deverá comprovar: a data do nascimento coincidindo com o estado de casados dos pais e a identidade da pessoa em relação à criança nascida daquele casamento. Assim, deverá o autor apresentar: certidão do casamento dos pais e assento de nascimento do filho. Neste caso, com tais documentos, dispensada é a produção de outras provas.
Pelo artigo 1.599 do Código Civil a prova da impotência do cônjuge ilide a presunção de paternidade. Portanto, se o marido comprovar que era impotente (impotência coeundi e generadi) dentro do período legal da concepção do filho, a presunção legal da paternidade restará descaracterizada. 
Reconhecimento do estado de filho. 
 O reconhecimento de um filho pode ser espontâneo ou judicial, neste último caso, através da ação de investigação de paternidade ou maternidade. O ato de reconhecimento, judicial ou extrajudicial, é sempre declaratório, posto que não cria a paternidade, mas apenas declara uma situação fática. 
Pelo artigo 1.613 do Código Civil o reconhecimento há de ser puro e simples, ou seja, não pode ser celebrado sob condição e/ou termo. No caso reconhecimento, por escritura pública, o menor púbere deverá ser assistido pelos pais ou tutor. 
Entretanto, se reconhecimento ocorrer após a maioridade do filho, o artigo 1.614 exige o expresso consentimento do filho, pena de nulidade do ato, eis que o consentimento do filho maior constitui condição de validade do ato. 
Portanto, com exceção do reconhecimento por testamento, o artigo 1. 609 do Código Civil indica as formas para aceitação do reconhecimento pelo filho, isto é, o filho comparecerá no registro de nascimento ou quando da lavratura da escritura pública concordando, expressamente, ou poderá manifestar sobre o reconhecimento em escrito particular concordando com a afirmação, mesmo feita perante a autoridade judicial.
A “maternidade”, que sempre é certa (mater semper certa est), em razão de notórios sinais exteriores (gravidez, parto, aleitamento, educação), pode ser reconhecida, em documento ou no assento de nascimento e até mesmo por testamento. Não havendo o reconhecimento, o filho poderá propor ação investigatória de maternidade, com utilização de todos os meios de prova em direito permitidos. 
A Constituição de 1988, ao proibir quaisquer designações discriminatórias (art. 227, § 6º), revogou diversos dispositivos do Código Civil anterior, que ainda insistiam em fazer a distinção entre filhos “adulterinos” e “incestuosos”. Com relação aos filhos adulterinos ainda existia uma subdivisão: adulterino a patre (filho de pai casado e mãe solteira; adulterino a matre (filho de mãe casada e pai solteiro); bilateralmente adulterino, que era considerando com adulterino “a matre”.
Pelo art. 1.609, do Código Civil, o reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento é irrevogável e será feito: no registro de nascimento; por escritura pública ou escrito particular, a ser arquivado em cartório; por testamento, ainda que incidentalmente manifestado; por manifestação direta e expressa perante o juiz, ainda que o reconhecimento não haja sido o objeto único e principal do ato que o contém. E o parágrafo do artigo ora focado deixa expresso que o reconhecimento pode preceder o nascimento do filho ou ser posterior ao seu falecimento, se ele deixar descendentes.
O reconhecimento, por escritura pública ou documento particular (inciso II do art. 1.609), pode ser realizado por procurador, investido de poderes especiais e expressos. O documento particular deverá ficar arquivado no Cartório. 
No reconhecimento concretizado através de testamento (inciso III do art. 1.609), por ser ato personalíssimo, não há que se falar, evidentemente, em representação. E, pelo artigo 1.610, do Código Civil, o reconhecimento não pode ser revogado, nem mesmo por outro testamento. Portanto, regra geral é que o segundo testamento anula o primeiro e assim por diante. Porém, a paternidade reconhecida prevalecerá. De ressaltar-se, ainda, que o maior de 16 anos tem capacidade de testar (art. 1.860). Portanto, nesta hipótese o relativamente capaz atua sem assistência.
Pelo artigo 1.609 inciso IV, o reconhecimento da paternidade poderá ocorrer diretamente ao juiz. Neste caso, a paternidade será averbada, desde que não discorde o filho, se maior de idade. Essa maneira de reconhecer a paternidade poderá acontecer em qualquer ação. Portanto, mesmo em uma ação de alimentos, se o registro do nascimento for nulo, poderá ser sanado o ato, se o pai comparece em juízo e concorda no pagamento de verba alimentícia ao filho. Também em um processo criminal, se o pai declara que o réu é filho dele, basta o magistrado determinar a expedição de ofício determinando o registro. 
Reconhecido o filho, por uma das formas acima aludidas, do registro de nascimento já aberto pela mãe constará o nome do pai e avós paternos, bem como o novo nome do reconhecido, se modificado, desde que haja concordância do filho. Da certidão do Registro Civil não poderá mencionar a circunstância de ter o filho nascido do casamento ou de relação extramatrimonial. 
O artigo 1.614 do Código Civil permite ao filho impugnar o reconhecimento da paternidade nos quatro anos que se seguirem à maioridade, ou à emancipação. Estamos, pois, frente a uma ação negatória de paternidade, que terá como causa próxima a falta de sinceridade do declarante, bem como a assertiva de que o reconhecimento veio de quem não é o verdadeiropai. 
O procedimento oficioso, de investigação de paternidade, e suas consequências.
De ressalta-se que a Lei nº 8.560/92 prevê a possibilidade de a mãe indicar o nome do pai e o Juiz de Registro Público, em averiguação oficiosa, através de procedimento provocado pelo Oficial do Cartório, chamará o suposto pai. Caso haja o reconhecimento, nesta fase, lavrar-se-á termo e expedir-se-á mandado ao Cartório para acrescentar o nome do pai e dos avós paternos. Não havendo reconhecimento, o Representante do Ministério Público poderá ajuizar ação investigatória de paternidade, como substituto processual do investigado. 
Após permitir, a Lei 8.560/92, o reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento no próprio registro de nascimento, por escritura pública, escrito particular, a ser arquivado m cartório ou por testamento, ainda que incidentalmente manifestado, o art. 3º, desta mesma lei, contraditoriamente acaba por vedar o reconhecimento de filho ata do casamento. Ora, até mesmo no pacto antenupcial será possível o reconhecimento do filho, tal vedação não pode prosperar. 
O parágrafo único, do art. 3º, da Lei 8.560/92, ressalvou o direito de averbar alteração do patronímico materno, em decorrência do casamento, no termo do nascimento. Assim, consequência de um novo casamento, a mãe poderá averbar a alteração do patronímico, direito este que, consequência de uma interpretação extensiva, se estende também ao pai, que também poderá modificar o nome, se casar novamente. 
O § 4º da Lei 8.560/92 não permite o reconhecimento do filho maior, sem o consentimento dele. E os arts. 5º e 6º vão ao encontro do princípio da igualdade dos filhos, nascidos ou não de pais casados, ou seja, não permite discriminação com relação aos filhos, independentemente do estado civil dos pais deles (art. 227, § 6º das CF).
Portanto, estamos, com a Lei 8.56-0/92, tratando do registro de filho de mãe solteira. Na verdade, quando se fala em mãe solteira a adjetivação é apenas em reforço ao que pretendemos demonstrar aqui. Não há nenhum preconceito no título acima. A mulher tanto pode ser mãe, em razão de viver com outro, em estado de casado, em união estável, concubinato ou até mesmo com pessoa do mesmo sexo, no caso de inseminação ou adoção. A mãe pode optar pela família homoparental e não querer a presença do outro na vida do filho. 
Entretanto, necessária a distinção acima, considerando que, se for casada a mulher, há as presunções de paternidade, que permite o registro em nome do pai da criança. Portanto, a mulher casada pode registrar o filho, no Cartório, independentemente da presença do marido, se a concepção da criança ocorreu dentre de umas das presunções ditadas pelo art. 1. 597 do Código Civil, no nome dela e do marido. As presunções existem justamente para evitar a propositura da ação investigatória de paternidade e também dispensando a presença do pai no momento do registro do filho dele. 
Entretanto, em se tratando de filho nascido fora das presunções e principalmente de mães solteiras, a lei nº Lei 8.560/92, que regula a investigação de paternidade dos filhos havidos ora do casamento, foi muito feliz, considerando que permitiu que a mãe, ao comparecer no Cartório, para registrar o filho apenas no nome dela, indicasse o nome do suposto pai ao oficial e aí começa o procedimento oficioso em análise. 
Destacamos que é faculdade da mãe indicar o nome do suposto pai do filho dela. O oficial em hipótese alguma poderá obrigar que a mãe indicasse o nome do suposto pai. E, se a mãe assim o fizer, espontaneamente, o oficial remeterá, pelo art. 2º da Lei nº 8.560/92, ao juiz, certidão integral do registro e o nome e prenome, profissão, identidade e residência do suposto pai, a fim de ser averiguada, oficiosamente, a procedência da alegação. Ressalta-se que não se trata de ação, não se trata de processo. É mero procedimento. Assim, não há contraditório. 
O juiz aludido é o de direito. E, em existindo Varas Especializada, a remessa é enviada para o Juiz de Registro Público, o que entendemos não ser correto, eis que, na verdade, está em discussão a paternidade da criança, o estado de filho. Portanto, o adequado seria a remessa dos dados acima ao juiz de família, principalmente considerando que, comparecendo o suposto pai e reconhecendo a criança como filha, poderá também, desde aquele momento, acordar as partes sobre guarda, visita e pensão alimentícia, matérias estas alheias à competência do Juiz da Vara de Registro Público. 
Pelo § 1º do art. 2º, da Lei nº 8.560/92, o juiz, sempre que possível, ouvirá a mãe sobre a paternidade alegada e mandará, em qualquer caso, notificar o suposto pai, independentemente de seu estado civil, para que se manifeste sobre a paternidade que lhe é atribuída. Tal entrevista poderá ocorrer em segredo de justiça (§ 2º do art. 2º da Lei 8.560/92). 
Pelo § 3º, do art. 2º, da Lei nº 8.560/92, confirmada, expressamente, a paternidade, pelo suposto pai, será lavrado termo e remetida certidão ao oficial do registro, para a necessária averbação. Portanto, neste caso houve o reconhecimento espontâneo, evitando a propositura da ação declaratória de paternidade e, lado outro, o pai poderá aproximar mais rapidamente do filho, indo tal lei ao encontro do princípio do afeto e também o princípio da paternidade responsável.
Entretanto, se o suposto pai não atender, no prazo e 30 (trinta) dias, a notificação judicial, ou negar a alegada paternidade, pelo § 4º, do art. 2º, da Lei nº 8.560/92, o juiz remeterá os autos ao representante do Ministério Público para que intente, havendo elementos suficientes, a ação de investigação de paternidade. 
Nota-se que o legislador deferiu legitimação extraordinária ao representante do Ministério Público para oferta da ação de investigação de paternidade. Tão logo a lei nº 8.560/92 foi publicada, o que aconteceu em 29 de dezembro de 1992, em Minas Gerais a legitimidade extraordinária do representante do Ministério Público foi questionada perante, na época, a Corte Superior do TJMG que, por pouco, não rotulou de ilegal tal permissão, o que seria um desserviço às inúmeras crianças pobres existentes neste Estado e residentes em várias Comarcas, ainda não abarcadas pelo eficiente atuação da Defensoria Pública. 
Na época, em 1993, estávamos atuando, como juiz, em Itamarandiba/MG, cidade que tinha no máximo 05 (cinco) advogados atuantes e vários filhos de mães solteiras, não reconhecidos pelos pais. Estes advogados geralmente tinham como clientes os supostos pais dos menores e, portanto, não ofertavam ação investigatória de paternidade, além da pressão que sofriam, considerando que estes supostos pais eram pessoas influentes naquela cidade. 
Assim foi que, naquela hospitaleira cidade, o então Promotor, André Luís Garcia de Pinho, com base na lei em comento, ofertou centenas de ações investigatórias de paternidades, inclusive aplicando aludida legislação para os filhos nascidos antes do advento desta normatização. 
A questão chegou, em recurso de apelação, no Tribunal mineiro que acabou entendendo, em algumas de suas Câmaras, que o representante do Ministério Público não poderia propor ação para os filhos nascidos antes da lei nº 8.560/92. Assim, vários autos de processos foram extintos, sem enfrentamento de mérito. Porém, a Procuradoria do Ministério Público ofertou recurso especial e o Superior Tribunal de Justiça acabou entendo que poderia sim o Parquet propor ação também em prol dos filhos nascidos antes da lei nº 8.560/92.
O § 4º, da Lei 8.560/92, deixa expresso que, mesmo ofertando o representante do Ministério Público ação investigatória de paternidade, tal fato não inibe que o menor, representado pela mãe, compareça nos autos, com advogado ou com defensor, hipótese em que o representante do Ministério Público se afasta da ação, como substituto processual, se iniciada, ou, então, não a ajuizaria, caso ainda não ofertada. 
Efeitos do reconhecimento da paternidade.
O reconhecimento da paternidade, que é irrevogável, incondicional, indivisível, tem tambéma ponto de impor-lhe sacrifícios. Impende mensurar as circunstâncias, a exigência de outros alimentandos, e de outros parentes em condições de complementar a pensão, se for o caso. A proporcionalidade na fixação do quantitativo, pois, é fator indispensável e fundamental. 
O princípio da solidariedade exige amparo efetivo entre os membros necessitados da família, que pode traduzir em alimentos, mesmo que seja a ex-companheira. Para tanto, basta o binômio necessidade/possibilidade, como demonstra decisão do egrégio Tribunal de Justiça[footnoteRef:16] ao determinar que o ex-companheiro prestasse alimentos a ex-companheira pelo dever de solidariedade. [16: TJ/MG, 4ª Câmara Cível, Agravo de Instrumento nº 1.0518.14.003070-2/001, Des. Duarte de Paula, j. em 09/10/2014, publicado em 16/10/2014.] 
EMENTA: ALIMENTOS. EX-COMPANHEIRA. PROVA DA NECESSIDADE DE AUXÍLIO FINANCEIRO. UNIÃO DE 35 ANOS, SEM EXERCÍCIO DE ATIVIDADE REMUNERADA. POSSIBILIDADE DO VARÃO. PAGAMENTO DE PENSÃO EM FAVOR DA EX-COMPANHEIRA. Os alimentos ao ex-cônjuge ou ex-companheiro são devidos em face do dever de solidariedade previsto em lei, quando demonstrada a efetiva necessidade e dependência econômica - na forma prevista no art. 1.694 do Código Civil. No caso, a ex-esposa sempre trabalhou nas tarefas do lar, sendo dependente do marido, devendo-se impor ao varão a obrigação de prestar-lhe alimentos. A fixação da pensão deve observar o binômio necessidade/possibilidade, devendo ser fixado em patamar razoável, sob pena de inviabilizar a subsistência do alimentante. 
Assim, a entidade familiar é constituída também pelo princípio da solidariedade que pode ou não condizer a auxílio financeiro, ainda que seja desfeito o vínculo.
2.4 PRINCÍPIO DA IGUALDADE
No direito de família é primordial a adoção do Princípio da Igualdade, sendo amplamente protegido pela Constituição Federal e pelo Código Civil.
Foi respeitando o princípio da igualdade que a instituição do artigo 227, §6º, da Constituição Federal, garantiu que todos os filhos são iguais, independente se advierem da entidade matrimonial ou não, ou seja, não importa a origem do filho, este deve ter tratamento igual aos outros, mesmo se advier de adoção.
O princípio da igualdade sepultou a família patriarcal, na qual prevalecia o entendimento do homem, num verdadeiro monólogo, já que a mulher praticamente não tinha voz neste ditatorial família. A partir da Constituição Federal de 1988 há igualdade jurídica entre marido e mulher e, por conseguinte, também entre os companheiros. Portanto, ambos os conviventes decidem o destino da família, através do consenso. Prevalecendo divergências, a questão deverá ser judicializada.
De destacar-se interessante artigo de Leonardo Boff, teólogo e filósofo[footnoteRef:17], a demonstrar, com base nas colocações das feministas Riane Eisler e Francoise Gange, como o patriarcado se impôs ao matriarcado há mais de 10 mil anos. [17: Artigo publicado no jornal: O Tempo, Belo Horizonte. Sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018. Deixamos expresso que não temos nenhum preconceito com relação à citação de artigos jornalísticos, coisa que a Academia não gosta muito. Na verdade, temos vários e excelentes artigos em diversos jornais desta país, a exemplo do citado neste momento.. ] 
Com efeito, esclarece Boff que, segundo as feministas antes citadas,“se realizou um processo de culpabilização das mulheres no esforço de consolidar o domínio patriarcal. Os ritos e símbolos sagrados do matriarcado são diabolizados e retroprojetados às origens na forma de um relato primordial, com a intenção de apagar totalmente os traços do relato feminino anterior.
Assim, continua Boff, “o primeiro símbolo a ser atacado foi a própria mulher (G n 3,16), que na cultura matriarcal representava o sexo sagrado, gerador de vida. Como tal, simbolizava a Grande Mãe, a Suprema Divindade.”
Em segundo lugar, desconstruiu-se o símbolo da serpente, considerado o atributo principal da Deusa Mãe. Ela representava a sabedoria divina que se renovava sempre, como a pele da serpente.
 Em terceiro lugar, desfigurou-se a árvore da vida, sempre tida como um dos símbolos principais da vida. Ligando o céu com a terra, a árvore continuamente renova a vida, como fruto melhor da divindade e do universo. Gênesis 3,6 diz explicitamente “a árvore era boa para se comer, uma alegria para os olhos e desejável para se agir com sabedoria.”.
Em quarto lugar, destruiu-se a relação homem-mulher que originariamente constituía o coração da experiência do sagrado. A sexualidade era sagrada, pois possibilitava o acesso ao êxtase e ao saber místico.
Ora, o que fez o atual relato do pecado das origens? Inverteu totalmente o sentido profundo e verdadeiro desses símbolos. Dessacralizou-os, diabolizou-os e os transformou de benção em maldição.
A mulher será eternamente maldita, feita um ser inferior. O texto bíblico diz explicitamente que “o homem a dominará”(Gen 3,16). O poder da mulher de dar a vida foi transformado numa maldição: “multiplicarei o sofrimento da gravidez” (Gn 3,16). A inversão foi total e de grande perversidade.
A serpente é maldita (Gn 3,14) e feita símbolo do demônio tentador. O símbolo principal da mulher foi transformado em seu inimigo fidagal “porei inimizade entre ti e a mulher... tu lhe ferirás o calcanhar” (Gn 3,15)
A árvore da vida e da sabedoria vem sob o signo do interdito (Gn 3,3). Antes, na cultura matriarcal, comer da árvore da vida era se imbuir de sabedoria. Agora, comer dela significa um perigo mortal (Gn 3,3), anunciado por Deus mesmo. O cristianismo posterior substituirá a árvore da vida pelo lenho morto da cruz, símblolo do sofrimento redentor de Cristo. 
O amor sagrado entre o homem e a mulher vem distorcido: “entre ores darás à luz os filhos; a paixão arrastar-te-á para o marido e ele te dominará” (Gn 3,16). A partir de então se tornou impossível uma leitura positiva da sexualidade, do corpo eda feminilidade.
Aqui se operou uma desconstrução total do relato anterior, feminino e sacral. Apresentou-se outro relato das origens, que vai determinar todas as significações posteriores. Todos somos, bem ou mal, reféns do relato adâmico, antifeminista e culpabilizador.”. 
Nota-se, por conseguinte, que o princípio da igualdade jurídica não mais admite o patriarcado. As decisões devem ser tomadas de comum acordo e uma não pode ser superior à outra, independentemente do sexo. 
2.5 PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA
A Constituição Federal prevê um dos mais importantes princípios, que faz com que outros tantos derivem dele, ao determinar que a dignidade da pessoa humana é um dos fundamentos da República Federativa do Brasil, constitutivo, por conseguinte, do Estado Democrático de Direito.
A dignidade é um conjunto de direitos e deveres que garantem o mínimo que toda pessoa humana necessita para existir.
Como o Direito das Famílias não se trata da pessoa humana em sua individualidade, o princípio aqui abordado é essencial no seio familiar, já que se trata de garantia de existência mínima dentro da entidade familiar. É o que nos ensina Maria Berenice[footnoteRef:18] ao afirmar que o “direito das famílias está umbilicalmente ligado aos direitos humanos, que têm por base o princípio da dignidade da pessoa humana, versão axiológica da natureza humana”. [18: DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias.10. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, p.45.] 
Os diversos direitos das famílias somente podem coexistir pela funcionalidade da dignidade da pessoa humana, pois é através desse que a igualdade, solidariedade, afetividade, etc., podem nascer em meio ao direito.
2.6 PRINCÍPIO DA AFETIVIDADE
O afeto é a razão do direito das famílias. Sem afeto não é correto falar em entidades familiares. Afeto é amor, carinho, querência. É uma construção diária e pode, se não regado constantemente, acabar. Portanto, não é correto manter uma família, na ausência de afeto, apenas por comodismo ou para que não haja perda patrimonial. 
A ausência de afeto no seio familiar é causador de inúmeros infortúnios, taisefeito ex tunc, isto é, retroage ao dia do nascimento do filho, sem prejuízo das situações jurídicas já definitivamente constituídas. 
Com relação à mãe, além dela própria poder fazer o reconhecimento, dentre os diversos meios indicados no artigo 1.609 do Código Civil, outras pessoas também podem declarar o nascimento no registro civil, autorizadas pelo art. 52 da Lei de Registro Público (Lei nº 6.015/73), quais sejam: o pai, um parente, os administradores de hospitais, médicos e parteiras. É em razão de terceiras pessoas poderem declarar a maternidade que o art. 1.608 do Código Civil dá legitimação à mãe para impugnar a maternidade provando a falsidade do termo ou as declarações nele contidas. 
Ao filho, a partir do momento em que reconhecido, são atribuídos direitos, faculdades e deveres de ordem pessoal e patrimonial. Assim, estará sob a autoridade parental. Entretanto, pelo artigo 1.611 do Código Civil, não será admitido no lar do que o reconheceu, sem a anuência do outro cônjuge. 
Pelo artigo 1.612, “o filho reconhecido, enquanto menor, ficará sob a guarda do genitor que o reconheceu, e, se ambos o reconheceram e não houver acordo, sob a de quem melhor atender aos interesses do menor”. É a aplicação do princípio do “melhor interesse do menor”. 
Ação de investigação de paternidade e de maternidade
O artigo 363 do Código Civil de 1916 dava legitimação ao filho natural para propor ação de paternidade, desde que fundada nos seguintes fatos: concepção do filho durante o concubinato da mãe com o pretenso pai; coincidência da concepção com o rapto da mãe pelo suposto pai, ou suas relações sexuais com ele; existência de escrito do pretendido pai, reconhecendo expressamente a paternidade. 
Assim, os filhos “adulterinos” e “incestuosos” não podiam investigar a paternidade no regime do Código Civil de 1916. Entretanto, pelo Decreto-lei n٥ 4.737/42, foi permitido ao filho “adulterino”, após o “desquite” ajuizar ação de investigação de paternidade. A jurisprudência entendeu, em uma interpretação extensiva, que no lugar de “desquite”, apenas, era de se considerar a dissolução da sociedade conjugal, em qualquer uma de suas formas, para que qualquer dos cônjuges reconhecesse o filho havido fora do matrimônio e ao filho para propor ação de paternidade ou maternidade. 
Entretanto, desde a Constituição de 1988, que proibiu qualquer designação discriminatória (art. 227, § 6º) entre os filhos, não há mais obstáculo para que o filho, advindo ou não do casamento, possa ofertar ação de pesquisa da paternidade biológica ou até mesmo sócioafetiva. A ação investigatória de paternidade deverá, pelo artigo 46 do Código de Processo Civil, ser ajuizada no foro do domicílio do investigado, se não for cumulação com ação de alimentos. 
Havendo cumulação de pedido, investigação e alimentos, pela Súmula n٥ 1, do Superior Tribunal de Justiça, a ação deverá ser proposta no foro do domicílio ou residência do alimentando. Trata-se de competência relativa, a impedir, ainda segundo Súmula 33, do Superior Tribunal de Justiça, que o juiz, de ofício, decline da competência. Há, pois, necessidade de o réu ofertar o incidente de exceção de incompetência relativa, pena de haver prorrogação da competência. 
A ação de investigação de paternidade ou maternidade deverá ser propostas pelo investigante, pessoalmente, que, se menor, deverá ser representado ou assistido pelo representante legal, geralmente, nestes casos, a mãe, que detém a guarda, de fato, do investigante, desde o nascimento. Pelo parágrafo único do artigo 1.606, os herdeiros prosseguiram não ação iniciada pelo filho. Trata-se do fenômeno processual de substituição de parte. 
Réu na ação investigatória de paternidade é o suposto pai, se vivo, ou os herdeiros, se falecido, que, dependendo do regime de bens (artigo 1.829 do CC), terá também a viúva como herdeira concorrente. Assim, não tem o espólio legitimidade passiva na ação investigatória de paternidade. 
O réu poderá alegar impossibilidade jurídica do pedido se, por exemplo, o filho, concebido durante o casamento, foi registrado pelo pai. No mérito, poderá o investigado demonstrar a impossibilidade material da coabitação, bem como a impotência coeundi e generandi, se existente no momento da concepção do filho. Também poderá o réu alegar a exceptio plurium concubentium. ou seja, demonstração de que no período legal da concepção do investigante (os primeiros 120 dias, dos 300 que antecederam ao nascimento – art. 1.597, II), a mãe teve relações com outro homem. Entretanto, tal defesa deverá ser afastada se o pretenso pai recusar a submeter-se ao exame do DNA. 
A discussão hoje é sobre a recusa do suposto pai de se submeter ao exame de DNA, principalmente considerando que, por determinação do Supremo Tribunal Federal, não pode o juiz obrigar as partes a submeterem-se a tal exame. Assim, da análise da súmula 301, do STJ, conclui-se que tal recusa induz presunção juris tantum de paternidade. Portanto, se o suposto pai não comparece ao exame de DNA, depois de intimado pessoalmente (a intimação pessoal é necessária, por ser ato personalíssimo), haverá inversão do ônus de prova, ou seja, restará ao investigado, a partir de então, demonstrar que não é o pai do investigante. 
Entretanto, se realizado o exame de DNA, de notar-se que tal prova não é absoluta, ou seja, deverá ser confrontada com as demais e poderá até mesmo ser rechaçada. Fosse outro o entendimento, com a realização do exame e juntada do laudo aos autos, após oitiva das partes poderia haver o julgamento antecipado da lide. Entretanto e pena de cerceamento de defesa, haverá necessidade, na ação de investigação de paternidade, de audiência de instrução e julgamento, inclusive com oitivas de testemunhas, se arroladas ou se referidas, hipótese em que o juiz, do ofício, poderá inquiri-las. Evidentemente que, caso as partes, após a realização do exame, permitam o julgamento antecipado ou não indiquem outras provas, nestes casos de prevalecer o exame realizado. 
Portanto, o exame de DNA é mais uma prova, dentre várias outras, que poderão ser colhidas no curso da instrução. Nenhuma prova é mais importante do que a outra, competindo o juiz, através de seu livre convencimento motivado, desprezar a que entender fora do contexto do conjunto probatório, inclusive o exame de DNA, eis que, pelo art. 369, do Código de Processo Civil, todos os meios de provas legais e os moralmente legítimos são hábeis para provar a verdade, ainda que não especificados naquele Código. 
Portanto, a Lei nº 8.8560/92, além de dar legitimidade extraordinária ao Ministério Público para propositura de ação investigatória de paternidade, acabou, no parágrafo único do seu art. 2º-A, acrescentado pela Lei nº 12.004, de 29-7-2009, por encampar a Súmula 301 do STJ ao afirmar que “a recusa do réu em se submeter ao exame de código genético – DNA gerará a presunção da paternidade, a ser apreciada em conjunto com o contexto probatório.”. 
Com efeito, a Súmula 301 do STJ afirma: “em ação investigatória, a recusa do suposto pai a submeter-se ao exame de DNA induz presunção juris tantum de paternidade.”.
Portanto e conforme dito acima, se o suposto pai, réu na ação investigatória de paternidade, não comparece ao exame de DNA, há inversão do ônus de prova. O réu é pai, salvo se provar o contrário, a ser realizada no curso da ação. Assim e considerando que pelo próprio STF não é possível a condução coercitiva do suposto pai ao exame de DNA, na verdade o réu na ação de investigação de paternidade acaba trocando, beneficiado que foi com tal entendimento, uma prova científica por qualquer outro meio, até mesmo pelas oitivas de meras testemunhas. 
Interessante que o STF ao não permitir a condução coercitiva do suposto pai ao exame de DNA argumentou que ninguém é obrigado a fazer prova contra si mesmo. Entretanto, na verdade se o réu contesta a paternidade, afirmando que não é o pai da criança, ele não irá fazer prova contra ele, mas sim a favor dele mesmo, salvo se estiver mentindo, o que não é correto(art. 80, II, III, IV, VI do CPC). Depois, se tal argumento ainda não for convincente à condução coercitiva do réu ao exame de DNA, a ponderação dos princípios favorece tal proposta, ou seja, entre o pai não querer se submeter ao exame e o direito de o filho investigar sua ascendência genética, de prevalecer esse direito, em razão do princípio do melhor interesse da criança e o da paternidade responsável (art. 226,§ 7º da CF). 
Também como prova e ainda alicerçado no artigo 369 do Código de Processo Civil entendemos que há que ser considerada, desde que corroborada por outras provas, a posse de estado de filho, como meio de prova. Caracteriza-se, na doutrina, a posse de estado de filho se o investigante traz e usa nome do investigado e dele recebe tratamento como filho, tanto em casa como na sociedade, a ponto de todos que conhecem a família considerar que se trata de relacionamento entre pai e filho. 
A união estável e também o concubinato devem ser considerados como provas em uma ação de investigação de paternidade. 
E, julgado procedente o pedido declaratório da ação de investigação de paternidade cumulada com ação de alimentos, a verba alimentar é devida a partir da citação, conforme Súmula 277, do Superior Tribunal de Justiça, e que está em consonância com o efeito “ex tunc” das ações declaratórias. Poder-se-ia, argumentar que, neste caso os alimentos deveriam, então, retroagir à data do nascimento do investigante. Entretanto, não podemos olvidar que é com citação que o devedor é colocado em mora. 
No registro de nascimento não se fará, no momento da averbação dos nomes dos avôs paternos e do pai, qualquer referência à natureza da filiação, por exigência Constitucional, a proibir designações discriminatórias. Também das certidões de nascimento não constarão indícios de haver sido a concepção decorrente de relação extraconjugal (art. 5º e 6º da Lei nº 8.560/92). O filho tem o direito de usar o sobrenome do pai. 
O mandado com o novo nome do filho, nomes dos avôs paternos e do pai, deverá ser levado ao Registro de Nascimento para ser averbado à margem do assento de nascimento ou para lavratura deste, se o filho ainda não era registrado e terá validade “erga omnes”. 
Acerca da coisa julgada na ação de investigação de paternidade, temos o seguinte entendimento, considerando o direito de investigar a paternidade indisponível e imprescritível: se a ação foi ajuizada antes da existência do exame de DNA, não há que se falar em coisa julgada. Ofertada a ação após o advento do exame de DNA a sentença transitará em julgado no caso de recusa de alguma das partes em se submeter ao exame. Para tanto e independentemente de existir ou não contestação, as partes deverão ser intimadas, pessoalmente, para comparecimento no laboratório. Não comparecendo, caracterizada estará a recusa e, por conseguinte, a ausência de tal prova não é obstáculo o trânsito em julgado da sentença. 
Acerca do tema o então Desembargador, Francisco de Assis Figueiredo, profundo conhecedor do Direito de Família em Minas Gerias, assim se pronunciou, com a clareza e sensibilidade que lhe é peculiar, no Agravo Regimental nº 1.0701.03.039620-7/002, publicado no Diário do Judiciário de Minas Gerais, em data de 1º de Maio de 2004:
“tendo sido a ação investigatória de paternidade julgada improcedente por falta de prova, à investigante tem sido reconhecida a possibilidade de novo ajuizamento, pautado no entendimento jurisprudencial do STJ de relativização da coisa julgada, de que, nas atuais ações rescisórias, o exame do DNA, mesmo somente realizado e obtido agora, ser entendido como documento novo (art. 485 do CPC) capaz de justificar a nova ação. Este novo entendimento, aplicado no campo do Direito de Família, é fruto do reconhecimento do Direito Real da Verdade, que deve inspirar o processo, bem como e também da proteção integral do Direito Personalíssimo da Pessoa. Em sede de investigatória, deve estar o agravante advertido para o teor dos artigos 231 e 232 do Novo Código Civil.”. 
Ação negatória de paternidade c/c ação declaratória de paternidade. 
Quando o filho já estiver registrado em nome de outra pessoa que, na verdade, não é o pai dele, o pretenso pai poderá ajuizar ação para desconstituir o registro de nascimento, no tocante ao pai registrário, cumulando tal pretensão com a ação declaratória de paternidade contra o suposto filho. 
Tal proposta não encontra ressonância pacífica entre alguns doutrinadores e até diante de alguns julgados, considerando que uns dizem que a ação correta será a de nulidade de registro c/c ação declaratória de paternidade. E, em se tratando de Comarcas em que não há Varas de registro público, a questão não tem maiores consequências, considerando que, como sabido, o nome da ação não tem importância, devendo o juiz se ater à causa remota, próxima e aos pedidos. 
Entretanto, considerando as Comarcas que têm Varas especializadas, especialmente de família e também Vara de registros públicos, propor ação de nulidade de registro c/c ação declaratória de paternidade já não é possível, considerando que são duas Varas, de competência absoluta divergentes, em razão da matéria. Fosse correto o entendimento de que se trata de ação de nulidade de registro, primeiramente deveria ser proposta tal ação na Vara de registro público e, nulificado o registro, propor então ação declaratória de paternidade, agora na Vara de Família. 
Assim, insistimos que, se o filho estiver registrado em nome de outro, que não seja o pai dele, biológico ou socioafetivo, as ações a serem cumuladas são: ação negatória de paternidade c/c ação declaratória de paternidade. Julgado procedente o pedido de negação de paternidade, que é uma ação declaratória negativa, passa-se então à análise do segundo pedido, ou seja, o de declaração de paternidade. Julgado improcedente o pedido de negação de paternidade, o segundo, de declaração de paternidade, restará prejudicado. 
Evidentemente que anos atrás o Superior Tribunal de Justiça entendia que bastava propor ação declaratória de paternidade, eis que, se procedente o pedido, a consequência era desconstituir o registro anterior. Entretanto, tal entendimento não era o mais correto, considerando que desprezava o devido processo legal, com relação ao pai registrário, que deixava de ser pai, sem participar do processo. Era uma autêntica decisão surpresa!
Nessas demandas, negatória de paternidade c/c ação declaratória de paternidade, evidentemente que haverá um cúmulo de ações contra réus diferentes, o que é perfeitamente possível, principalmente em se tratando do direito das famílias e também se levando em consideração o princípio da economia processual. 
Assim, réu nesta ação poderá ser o próprio filho, que poderá propor ação negatória contra o pai que o registrou e ação declaratória de paternidade contra o pai, seja biológico ou afetivo ou contra ambos, se for o caso. Neste caso, perfeitamente possível também cumular a ação declaratória de paternidade com alimentos, hipótese em que, se declarada a paternidade, os alimentos são devidos a partir da citação, conforme Súmula 277 do Superior Tribunal de Justiça. Nesse caso, a ação também deverá ser proposta no domicílio do alimentando (Súmula 01 do STJ). 
A defesa na ação negatória de paternidade poderá ser no tocante à possível paternidade socioafetiva, se for o caso. Com relação ao réu, na ação declaratória de paternidade, caso haja recusa de submeter-se ao exame de DNA, após ser intimado pessoalmente para tanto, de aplicar-se a Súmula 301, do Superior Tribunal de Justiça, ou seja, gera presunção de paternidade, o que implica em inversão do ônus de prova, ou seja, a partir da recusa o réu é pai, salvo prova em contrário, ônus dele. 
No caso de o pretenso pai propor ação, a negatória de paternidade será contra o pai registrário e a paternidade contra suposto filho. 
Portanto, entendemos que tanto o filho como o pai tem legitimidade ativa para propositura da ação negatória de paternidade c/c ação declaratória de paternidade e nada impedetambém que apenas a ação negatória de paternidade seja ofertada, considerando que o filho, por exemplo, não sabe quem realmente é o pai dele, porém, não tem nenhuma aproximação com o pai registrário, que não é o pai biológico. A ação negatória de paternidade poderá ser proposta pelo filho contra o pai registrário ou vice-versa. 
Ilustrando o acima exposto, bem como demonstrando que se o reconhecimento foi espontâneo e que houve afeto entre pai e filho, reforçando o registro, de destacar a seguinte ementa: 
APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DE FAMÍLIA. AÇÃO NEGATÓRIA DE PATERNIDADE. CERCEAMENTO DE DEFESA E AUSÊNCIA DE MOTIVAÇÃO DA SENTENÇA NÃO CONFIGURADOS. PAI NÃO BIOLÓGICO. INEXISTÊNCIA DE VÍCIO DE CONSENTIMENTO CAPAZ DE JUSTIFICAR A MODIFICAÇÃO DO REGISTRO DE NASCIMENTO. VÍNCULO SOCIOAFETIVO DEMONSTRADO. PATERNIDADE RECONHECIDA. 1. A força que ganhou a afetividade no moderno Direito de Família deve-se ao alargamento do conceito de família ao longo dos tempos, por influência das fortes mudanças socioeconômicas e culturais a que se submeteu e se submete dia a dia a sociedade brasileira. 2. A seara do Direito de Família se conscientizou de que o melhor genitor ou genitora nem sempre é quem se liga à prole pela via consanguínea, mas sim aqueles que, de fato, vivem a condição de pai e mãe na melhor acepção das palavras. 3. Tem entendido o STJ que o reconhecimento voluntário da paternidade é ato irrevogável, sendo indispensável a comprovação de que houve engano na manifestação da vontade de registrar para que haja a possibilidade de modificação dessa situação jurídica, o que não se verifica no caso em deslinde. 4. No presente caso, restou demonstrado que o reconhecimento da paternidade foi feito de forma voluntária e que havia laços de afetividade entre as partes, o que caracteriza a paternidade socioafetiva. Recurso conhecido e provido. Decisão unânime (Relator: Des. Tutmés Airan de Albuquerque Melo, TJ- AL, data: 03/04/2018)
 Ação declaratória de paternidade c/c ação de alimentos. 
Interessante é a cumulação da ação de alimentos com a ação declaratória de paternidade, considerando que os alimentos, se não estipulados a títulos de provisórios, são devidos retroativamente à citação, conforme Súmula 277, do Superior Tribunal de Justiça. Portanto, havendo necessidade alimentar, de se propor ação declaratória de paternidade c/c alimentos. 
A lei nº 8.560/92, que continua vigente, mesmo depois do atual Código Civil, seu artigo 7º, permite, inclusive, que o Juiz, se o investigante for pobre, fixe alimentos, independentemente de pedido neste sentido, na ação de declaratória de paternidade. Os alimentos passam a ser, por conseguinte, efeito da procedência do pedido declaratório de paternidade. 
Portanto, modificação significativa foi a ditada pelo art. 7º, da Lei 8.560/92, ao determinar que, “sempre que na sentença de primeiro grau se reconhecer a paternidade, nela se fixarão os alimentos provisionais ou definitivos do reconhecido que deles necessite”. Nota-se que os alimentos passaram a ser consequência da procedência do pedido declaratório de paternidade, não havendo mais necessidade, neste caso, de cumulação da ação investigatória de paternidade c/c alimentos. 
Tal proposta é interessante considerando que não basta ser pai, apenas fornecendo o nome. Necessário também que os alimentos sejam estipulados, ao declarar a paternidade, até mesmo de ofício pelo juiz. Tal proposta não macula o devido processo legal, eis que o advogado, já ciente de tal disposição legal, ao contestar a ação de investigação de paternidade, pelo princípio da eventualidade, deverá também contestar o que será uma consequência da procedência do pedido desta ação, ou seja, a fixação, na sentença, dos alimentos, principalmente em se tratando de investigante pobre. Porém, a destinação desse artigo não é exclusivamente para filho pobre, mas sim ao necessitado da verba alimentar que, no nosso entendimento, todos os filhos são e o pai já está em mora, no tocante à verba alimentícia, desde a citação na ação investigatória de paternidade. 
Assim e a partir do disposto no art. 7º, da Lei 8.560/92, há que ser revisada a Súmula 01 do STJ, a determinar que: “o foro do domicílio ou da residência do alimentando é o competente para a ação de investigação de paternidade, quando cumulada com a de alimentos”. Na verdade e a partir da Súmula em análise, o correto é entender que o foro do domicílio ou da residência do investigante é o competente para a ação declaratória de paternidade, independentemente de haver cumulação desta ação com a ação de alimentos. 
Também necessário é entender a Súmula 277 do STJ em consonância com o art. 7º, da Lei 8.560/92, ou seja, fixados os alimentos, mesmo não havendo cumulação de ações (ação declaratória de paternidade c/c ação de alimentos), a verba alimentar é devida a partir da citação. A Súmula 277 assim afirma: “julgada procedente a investigação de paternidade, os alimentos são devidos a partir da citação”. Na verdade julgado procedente o pedido. Com relação à ação há que se falar em carência e não improcedência, que já discussão de mérito. 
Multiparentalidade e seus reflexos nos Ofícios da cidadania (Cartórios de Registro civil de pessoas naturais). 
Multiparentalidade é a possibilidade de uma pessoa ter mais de um pai e também mais de uma mãe concomitantemente, em razão da convivência entre a paternidade biológica e a paternidade socioafetiva, segundo entendimento do Supremo Tribunal Federal, advindo do tema de repercussão geral, de relatoria do ministro Luiz Fux. 
A sessão do STF que firmou a tese da multiparentalidade aconteceu no dia 21/09/2016, em deliberação do pleno do STF. O caso balizador da apreciação da temática foi o RE 898060/SC, no qual o Instituto Brasileiro de Direito de Família-IBDFAM atuou como Amicus Curiae. 
A tese aprovada pelo STF tem o seguinte teor: "A paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro público, não impede o reconhecimento do vínculo de filiação concomitante baseado na origem biológica, com os efeitos jurídicos próprios". 
Lado outro e considerando o título deste tema, de esclarecer-se, ainda, que Ofícios de cidadania é o nome dos ofícios de registro civil das pessoas naturais, ditado pelo § 3º, do art. 19, da Lei 13.384: “os ofícios de registro civil das pessoas naturais são considerados ofícios da cidadania e estão autorizados a prestar outros serviços remunerados, na forma prevista em convênio, em credenciamento ou em matrícula com órgãos públicos e entidades interessadas”. 
Assim e após a admissão da multiparentalidade no nosso ordenamento jurídico a maneira de materializar tal instituto nos Ofícios de registro civil, agora Ofícios de cidadania, gerou inúmeras dúvidas, exigindo da Corregedoria Nacional de Justiça que emitisse o Provimento nº 63, com a finalidade de sanar as imprecisões e também de auxiliar nas decisões a serem efetivadas de maneira uniforme em todo este país. 
Assim, tal instrumento contêm normas para emissão, pelos cartórios de registros civis, de certidão de nascimento, casamento e óbito, que terão obrigatoriamente o número de CPF, bem como permite o reconhecimento voluntário da maternidade e paternidade socioafetiva. 
Na omissão e vagareza do nosso conservador legislador e encampado, de imediato, os novos direitos advindos do atual e democrático direito das famílias, alguém tem que fazer algo, em prol de efetivação destes aludidos direitos, de imediato, evitando a judicialização da questão. Assim o fez o atuante e culto Corregedor Nacional de Justiça, Ministro João Otávio de Noronha, em 20/11/17. O provimento 63, por conseguinte, tem natureza jurídica de lei, no sentido material, merecendo destaques os seguintes CONSIDERANDOS, uma verdadeira síntese do atual direito das famílias, no tocante à filiação: 
“CONSIDERANDO a competência da Corregedoria Nacional de Justiça de regulamentar a padronização das certidões de nascimento, casamento, óbito e certidão de interior teor (art. 19, caput, da Lei de Registro Público); 
CONSIDERANDOa existência de regulamentação pelas corregedorias-gerais de justiças dos Estados do reconhecimento voluntário de paternidade e maternidade socioafetiva perante os oficiais de registro civil das pessoas naturais; 
CONSIDERANDO a ampla aceitação doutrinária e jurisprudencial da paternidade e maternidade socioafetiva, contemplando os princípios da afetividade e da dignidade da pessoa humana como fundamento da filiação civil;
CONSIDERANDO a possibilidade de o parentesco resultar de outra origem que não a consaguinidade e o reconhecimento dos mesmos direitos e qualificações aos filhos, havidos ou não da relação de casamento ou por adoção, proibida toda designação discriminatória relativa à filiação (arts. 1.539 e 1.596 do Código Civil);
CONSIDERANDO a possibilidade de reconhecimento voluntário da paternidade perante o oficial de registro civil das pessoas naturais e, ante o princípio da igualdade jurídica e de filiação, de reconhecimento voluntário da paternidade ou maternidade socioafetiva; 
CONSIDERANDO a necessidade de averbação, em registro público, dos atos judiciais ou extrajudiciais que declararem ou reconhecerem a filiação (art. 10, II, do Código Civil); 
CONSIDERANDO o fato de que a paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro público, não impede o reconhecimento do vínculo de filiação baseado na origem biológica, com os efeitos jurídicos próprios (Supremo Tribunal Federal – RE n. 898.060/SC);”.
Logo depois da publicação do provimento nº 63, a Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais, em 06/12/17, emitiu nota de esclarecimento sobre aludido provimento, que instituiu modelos únicos de certidão de nascimento, casamento e de óbito, a serem adotadas pelos ofícios de registro civil das pessoas naturais e dispõe sobre o reconhecimento voluntário e a averbação da paternidade e maternidade socioafetiva no Livro “A” e também sobre o registro de nascimento e emissão da respectiva certidão dos filhos havidos por reprodução assistida.
A paternidade socioafetiva foi tratada, pelo provimento nº 63, na Seção II, arts. 10 a 15. O art. 10 deste provimento permite o reconhecimento voluntário da paternidade ou da maternidade socioafetiva de pessoa de qualquer idade perante os oficiais de registro civil das pessoas naturais, esclarecendo, o § 1º, deste mesmo artigo, que tal reconhecimento é irrevogável, somente podendo ser desconstituído pela via judicial, nas hipóteses de vício de vontade, fraude ou simulação. 
Pelo § 2º, ainda do art. 10, do provimento nº 63, poderão requerer o reconhecimento da paternidade ou maternidade socioafetiva de filho os maiores de dezoito anos de idade, independentemente do estado civil. Pelo § 3º, também do art. 10, não poderão reconhecer a paternidade ou maternidade socioafetiva os irmãos entre si nem os ascendentes e, pelo § 4º o pretenso pai ou mãe será pelo menos dezesseis anos mais velho que o filho a ser reconhecido. 
Continuando nossa manifestação sobre o provimento 63, emitido pela Corregedoria Nacional de Justiça, através do Ministro João Otávio de Noronha, que regulamenta o reconhecimento da paternidade e/ou maternidade socioafetiva, dentre outras medidas, face à importância deste aludido instrumento normativo, a evitar o ajuizamento da ação declaratória de paternidade ou maternidade socioafetivas, havendo consenso entre as partes e desde que presentes os requisitos abaixo, com destaque para o art. 11. 
Assim e pelo art. 11, do provimento 63, o reconhecimento da paternidade ou maternidade socioafetiva será processado perante o oficial de registro civil das pessoas naturais, ainda que diverso daquele em que foi lavrado o assento, mediante a exibição de documento oficial de identificação, com foto do requerente e da certidão de nascimento do filho, ambos em original e cópia, sem constar do traslado menção à origem da filiação. Assim, não constará que o filho é “socioafetivo”, o que seria uma discriminação, vedada pela Constituição Federal. 
Pelo § 3º, desse artigo 11, o registrador deverá colher a assinatura do pai e da mãe do reconhecido, caso este seja menor. E, pelo § 4º, ainda do artigo 11, se o filho for maior de doze anos, o reconhecimento da paternidade ou maternidade socioafetiva exigirá seu consentimento. Portanto, nota-se que, se o filho maior de doze anos não consentir com o reconhecimento extrajudicial, não há como fazê-lo. 
Pelo § 5º do art. 11, a coleta da anuência, tanto do pai quanto da mãe e do filho maior de doze anos, deverá ser feita pessoalmente, perante o oficial de registro civil das pessoas naturais ou escrevente autorizado. 
Pelo § 6º, também do art. 11, na falta da mãe ou do pai do menor, na impossibilidade de manifestação válida destes ou do filho, quando exigido, o caso será apresentado ao juiz competente, nos termos da legislação local. Este dispositivo é de difícil entendimento ao não esclarecer o que seria a falta da mãe ou do pai, ou seja: desaparecidos, mortos ou em razão de o menor não ter pai ou mãe no registro. Caso o filho não seja registrado, evidentemente que não há que se falar em anuência dos pais biológicos, o mesmo acontecendo se já são falecidos. 
Depois, na impossibilidade de manifestação válida dos pais ou do filho o correto seria a proibição da lavratura da escritura, diante da impossibilidade de consenso. Ora, o juiz, geralmente o de registro público, não poderá fazer nada, nestes casos. Portanto, necessário será, nestes casos, é o ajuizamento da ação declaratória de paternidade e/ou maternidade socioafetiva. 
O 7º, art. 11, do provimento 63, determina a observância das regras da tomada de decisão apoiada quando o procedimento envolver a participação de pessoa com deficiência. 
Pelo § 8º, ainda do art. 11, o reconhecimento da paternidade ou da maternidade socioafetiva poderá ocorrer por meio de documento público ou particular de disposição de última vontade, desde que seguidos os demais trâmites previstos naquele provimento, ou seja, também por testamento público ou particular poderá ser reconhecido o filho socioafetivo. 
Porém e pelo art. 12, se o registrador suspeitar de fraude, falsidade, má-fé, vício de vontade, simulação ou dúvida sobre a configuração do estado de posse de filho, deverá recusar o registro, em decisão fundamentada, encaminhando o pedido ao juiz competente, nos termos da legislação local. Neste caso, o juiz, geralmente o de registro público, em consonância com a Lei de Organização Judiciária do Estado, deverá ouvir o Ministério Público e, após, deferir ou não o pedido, tudo a nível ainda administrativo, ou seja, tal decisão não impede o ajuizamento da ação declaratória de paternidade e/ou maternidade socioafetiva. 
Pelo art. 13 a discussão judicial sobre o reconhecimento de paternidade ou de procedimento de adoção obstará o reconhecimento da filiação pela sistemática estabelecida naquele provimento. Para tanto, determina o parágrafo único, deste art. 13, que o requerente deverá declarar o desconhecimento da existência de processo judicial em que se discuta a filiação do reconhecendo, sob pena de incorrer em ilícito civil e penal. 
O art. 14, do provimento nº 63, limita a multiparentalidade ao não permitir o registro de mais de dois pais e de duas mães no campo FILIAÇÃO, no assento de nascimento. Portanto e pelo mencionado provimento, se o filho já é registrado em nome dos pais biológicos poderão ser registrados os nomes dos pais socioafetivos, por apenas uma vez. Entretanto e em razão do afeto, quer nos parecer que uma pessoa possa ter vários pais e não apenas mais um, além dos biológicos. 
O art. 15 esclarece que o reconhecimento espontâneo da paternidade ou maternidade socioafetiva não obstacularizará a discussão judicial sobre a verdade biológica, seguindo também o entendimento do Supremo Tribunal Federal, no sentido de que não há incompatibilidade entre a paternidade de sangue e a paternidade socioafetiva, infelizmente, eis que, conforme já dissemos em outras manifestações, entendemos que possa haver sim vários pais ou várias mães, desde que presenteem todas as paternidades o afeto. Assim, não poderia ser permitida a discussão da paternidade biológica, se desacompanhada de afeto. Porém, este não foi o entendimento do STF.
Nos Tribunais está prevalecendo o entendimento de que é possível prevalecer tanto a paternidade socioafetiva como a biológica, conforme ementa abaixo transcrita:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE CUMULADA COM ALIMENTOS. DEMANDA AJUIZADA CONTRA A GENITORA E O PAI SOCIOAFETIVO. PROVA PERICIAL (EXAME DE DNA). PATERNIDADE BIOLÓGICA DO AUTOR COMPROVADA. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA. MAGISTRADO QUE ENTENDEU PELA PREVALÊNCIA DA PATERNIDADE SOCIOAFETIVA. RECURSO DO DEMANDANTE. PLEITO DE RECONHECIMENTO DA MULTIPARENTALIDADE. VIABILIDADE. RECONHECIMENTO NESTE GRAU DE JURISDIÇÃO DA DUPLA PARENTALIDADE. DETERMINAÇÃO DE RETIFICAÇÃO DO REGISTRO CIVIL PARA CONSTAR O NOME DO PAI BIOLÓGICO COM A MANUTENÇÃO DO PAI SOCIOAFETIVO. VÍNCULO SOCIOAFETIVO QUE NÃO EXCLUI O BIOLÓGICO. POSSIBILIDADE DE COEXISTÊNCIA DE AMBOS. PREVALÊNCIA INTERESSE DA CRIANÇA. TESE FIRMADA EM REPERCUSSÃO GERAL. FIXAÇÃO DE ALIMENTOS A PEDIDO DO AUTOR. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. "A paternidade responsável, enunciada expressamente no art. 226, § 7º, da Constituição, na perspectiva da dignidade humana e da busca pela felicidade, impõe o acolhimento, no espectro legal, tanto dos vínculos de filiação construídos pela relação afetiva entre os envolvidos, quanto daqueles originados da ascendência biológica, sem que seja necessário decidir entre um ou outro vínculo quando o melhor interesse do descendente for o reconhecimento jurídico de ambos" (STF, RE n. 898.060/SP. Rel. Min. Luiz Fux, j. 21.9.2016).
 
(AC: 03026749320158240037 Joaçaba 0302674-93.2015.8.24.0037, Relator: Saul Steil, Data de Julgamento: 17/04/2018, Terceira Câmara de Direito Civil,TJ-SC)
 
Alimentos 
Introdução:
O direito das famílias, por ser eminentemente prático, em razão de regularizar, de imediato, os acontecimentos da vida em sociedade, exige uma permanente interlocução com o direito processual. Portanto e para facilitar a compreensão dos temas da área de família necessário que, de imediato, saibamos aplicá-los nas ações respectivas.
Não se pode ser um bom profissional do direito das famílias se não entender o direito processual. Não se aprende bem o direito das famílias se não souber direito processual civil, principalmente considerando que as leis extravagantes, isto é, fora do Código (alimentos, inclusive gravídicos, alienação parental, a própria Lei do Divórcio etc) são mistas, ou seja, além do direito material também trazem questões de ordem processual. Portanto, direito das famílias se direito processual se completam, caminham juntos. 
Assim e reforçando o acima dito, vamos analisar o direito aos alimentos, material e processualmente falando. Tem legitimidade ativa para propor ação de alimentos os filhos menores, cuja necessidade é presumida, bem como os filhos maiores, neste caso demonstrando a necessidade. Também os pais, se necessitados, poderão propor a ação de alimentos contra os filhos, pagando cada um segundo as suas possibilidades (art. 1.694 do CC). 
Os alimentos são considerados obrigações divisíveis e não solidárias, entendimento esse que vai ao encontro do binônimo possibilidade/necessidade. Alguns mencionam o trinônimo possibilitada/necessitadade/ proporcionalidade. Porém, a proporcionalidade é a operação mental necessária para chegar ao valor dos alimentos. Fiquemos, pois, com o binônimo. 
Com relação aos cônjuges, companheiros hetero e isoafetivos, o necessitado pode pleitear alimentos do outro, que vai pagar, se tiver condições econômicas para tanto (art. 1.694 do CC). Não coaduno com a proposta, que vem crescendo na jurisprudência, no sentido de que os alimentos devem ser fixados por prazo certo. Na verdade, os alimentos devem persistir enquanto o outro ex-cônjuge ou ex-companheiro não tiver outra família ou trabalhar o suficiente para si manter, enfim, enquanto persistir a necessidade. 
Estipular alimentos por prazo certo, sem maiores reflexões, é um risco e poderá prejudicar a pessoa necessitada, financeiramente falando. Basta imaginarmos, ainda neste nossa cultura machista, que para casar alguns homens exigem que as mulheres parem de trabalhar, de estudar e que fiquem apenas com os trabalhos domésticos, além de criar três, quatros ou mais filhos. Dez, quinze ou vinte anos depois do casamento vem o divórcio, pleiteado pelo homem, que trocou a esposa ou companheiro(a) por outra(o), bem mais nova(o). E na ação de divórcio c/c alimentos proposta pelo homem o juiz fixa os alimentos para a ex-mulher, pelo prazo de 05 (cinco anos. Entretanto, não é difícil pensar na dificuldade dessa mulher, que geralmente fica com a guarda dos filhos, de ser inserida ou reinserida no mercado de trabalho, competindo com pessoas mais jovens e com formação profissional mais recente. 
Assim e sobre os alimentos fixados para o ex-cônjuge ou companheiro necessitado, estipulado por prazo certo, não é correto generalizar e também é preciso ter muito cuidado ao fixá-los. É necessário, antes, analisar todo o histórico do casal, desde os momentos que antecederam o casamento e também o comportamento de ambos, durante o casamento, sob pena de deixar o cônjuge necessitado em dificuldades, com o fim o prazo estipulado. 
O disposto no art.1.694 § 2º do CC é de manifesta inconstitucionalidade, ao determinar que “os alimentos serão apenas os indispensáveis à subsistência, quando a situação de necessidade resultar de culpa de quem os pleiteia”. Na verdade, em se tratando de verba alimentícia, não há que se perquirir culpa, mas sim na necessidade do cônjuge que ofertou a ação de alimentos. Não é correto discutir mais a culpa sequer na separação. Assim e com maior razão não se fala nisto na ação de alimentos.
Portanto, não é mais verdadeira a diferenciação, ditada pelo art. 1.694, § 2º do CC, entre alimentos denominados naturais ou necessários (que compreendem alimentação, vestuário, habitação), e os civis ou côngruos (englobando educação, instrução e assistência – os quais têm como intuito manter a qualidade de vida do credor, conforme as condições sociais dos envolvidos). Na medida do possível, havendo possibilidade do alimentante, de se manter o mesmo nível de vida do alimentado, como o era quando casado. 
A discussão, no Código Civil e face aos termos do artigo 1.707 daquele Código, é se o cônjuge pode renunciar a verba alimentícia. A questão, no Código anterior, já estava pacificada. O cônjuge podia desistir ou renunciar aos alimentos. A desistência era relativa. Se o cônjuge que desistir viesse a necessitar dos alimentos, poderia pleiteá-los, posteriormente, até antes do divórcio. Porém, se renunciar aos alimentos, nunca mais poderá pleiteá-los. A doutrina tem entendido que, apesar do disposto no artigo 1.707 do Código Civil, o cônjuge poderá renunciar aos alimentos, considerando que tal proibição é destinada aos parentes e,como sabido, cônjuge não é parente.
Não há prazo decadencial para pleiteiar alimentos. Entretanto, o valor devido prescreve, em 02 (dois) anos, a partir da data em que se vencer, conforme determinação do §2º do art. 205 do Código Civil. Porém, de aplicar-se, com relação à prescrição, o disposto no art. 197, também do Código Civil, que deixa expresso não iniciar o prazo prescricional entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar (autoridade parentasl) e o art. 198, inciso I, do CC, afirmar que também não há contagem de prazo prescricional contra incapazes de que trata o art. 3º daquele Código. 
Portanto, durante a menoridade, não há contagem de prazo prescriconal, que se inicial somente com o advento da maioridade de também não há prescrição em razão de incapacidade advinda de deficiência mental, que impede o necessário discernimento do alimentado. Tal artigo, entretanto, com relação à incapacidade por doença mental vai de encontro ao Estatuto da Pessoa com Deficiência. Entretanto e apesar do Estatuto da Pessoa com Deficiência, que não considera maisdoença mental, entendemos que prevalece o inciso II, do art. 3º, do Código Civil, considerando que deficiência mental não acaba por simples disposição legal. 
 Legitimados passivos na ação de alimentos. 
Na ausência dos pais, física ou economicamente, os alimentos podem ser pleiteados dos ascendentes e também dos colaterais, até o segundo grau (arts. 1.695 e 1.696 do CC). 
Portanto, se o os pais não podem pagar alimentos aos filhos, total ou parcialmente, tais verbas alimentícias podem ser pleiteadas contra os avôs (responsabilidade avoenga). 
Sobre o tema, a 2ª seção do Superior Tribunal de Justiça aprovou a Súmula 596, soante:“A obrigação alimentar dos avós tem natureza complementar e subsidiária, somente se configurando no caso da impossibilidade total ou parcial de seu cumprimento pelos pais.”.
Obrigação subsidiária é a que advém na impossibilidade total dos pais em pagar a verba alimentícia. Obrigação complementar é no caso de os pais não terem condições de suportar totalmente as necessidades alimentar dos filhos. Assim, os avós, tendo possibilidades econômicas para tanto, arcarão com o restante das necessidades dos netos.
A súmula 596, antes citada, ao que parece ainda não esclareceu a dúvida que existia, no sentido de que se realmente é necessário primeiro propor a ação de alimentos contra os pais e, somente depois, contra os avós. Ou seja, há entendimento encampado por alguns Tribunais, inclusive pelo TJMG, no sentido de que, primeiro, proponha ação de alimentos contra os pais e, somente depois, na impossibilidade total ou parcial deles em arcar com a verba alimentícia necessitada pelo filho, é que o neto poderá ajuizar ação contra os avós. 
Encampando o acima dito, ou seja, que primeiramente é necessário propor ação de alimentos contra os pais e somente depois acionar os avós, são as decisões abaixo transcritas: 
 Apelação Cíve Ação de Alimentos Preliminar de Ilegitimidade Passiva Ad Causam
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE ALIMENTOS. PRELIMINAR DE LEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM. MATÉRIA DE MÉRITO. OBRIGAÇÃO ALIMENTAR DOS AVÓS. CARÁTER SUBSIDIÁRIO E COMPLEMENTAR. IMPOSSIBILIDADE DOS PAIS. NÃO COMPROVADA. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO IMPROVIDO.
 1) a responsabilidade dos avós, na prestação de alimentos, revela-se subsidiária e complementar à dos genitores, mas não se pode atribuí-la a eles sem antes se exaurirem as possibilidades de os genitores responderem pela obrigação.
 2) Indemonstrado o esgotamento de todas as medidas judiciais cabíveis contra os genitores e tendo em vista o arquivamento da ação de alimentos sem resolução do mérito proposta contra um deles, e ainda pela temporânea declaração de fl. 56, indicativa da aparente condições materiais paterna em arcar com a obrigação, não se pode avançar na aferição de responsabilidade dos avós, sob pena de se atropelar a ordem sucessiva de chamamento prevista na Lei Civil.
 3) Apelação cível conhecida e não provida. 
(Apelação Cível n 0019939-22.2011.8.03.0001, Câmara Única, TJ- AP,  Des. Carlos Tork Data do julgamento: 27/01/2015)  
APELAÇÃO CIVEL. ALIMENTOS AVOENGOS. FIXAÇÃO. CABIMENTO. MENOR COM NECESSIDADE ESPECIAL. A obrigação de alimentos somente será repassada aos avós, excepcionalmente, quando comprovada a incapacidade dos genitores de prestá-los, a quem incumbe primeiramente esse dever, decorrente do poder familiar, e a possibilidade daqueles, ausente prova neste sentido. RECURSO PROVIDO. (Apelação Cível Nº 70074712035, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Liselena Schifino Robles Ribeiro, Julgado em 30/08/2017).
 
(TJ-RS - AC: 70074712035 RS, Relator: Liselena Schifino Robles Ribeiro, Data de Julgamento: 30/08/2017, Sétima Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 01/09/2017) 
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COMPLEMENTAÇÃO DE ALIMENTOS. RESPONSABILIDADE DA AVÓ PATERNA. OBRIGAÇÃO SUCESSIVA E COMPLEMENTAR. IIRRESIGNAÇÃO CONTRA O VALOR ARBITRADO. PERCENTUAL INADEQUADO E DESPROPORCIONAL. DESEQUILIBRIO ENTRE A NECESSIDADE DAS ALIMENTANDAS E A POSSIBILIDADE DA ALIMENTANTE. REDUÇÃO DA VERBA. PROVIMENTO PARCIAL AO APELO. Restando comprovada a insuficiência do pagamento da obrigação alimentar pelo genitor, é cabível a responsabilidade subsidiária e em caráter excepcional da avó paterna de prestar alimentos avoengo. No caso, sopesado o binômio alimentar e os documentos colacionados aos autos, cumpre modificar a decisão recorrida, reduzindo o percentual, pois fixado em patamar inadequado, desproporcional ao ponto de sobrecarregar o sustento da avó paterna e de sua família. (TJPB - ACÓRDÃO/DECISÃO do Processo Nº 00167341420148150011, 1ª Câmara Especializada Cível, Relator DES LEANDRO DOS SANTOS , j. em 05-04-2016)
 
(TJ-PB - APL: 00167341420148150011 0016734-14.2014.815.0011, Relator: DES LEANDRO DOS SANTOS, Data de Julgamento: 05/04/2016, 1 CIVEL)
Sempre divergimos dessa opinião, considerando que o filho necessitado acaba passando por sérias dificuldades alimentar, considerando que, primeiramente ter que propor a ação de alimentos contra o pai, depois executá-lo, para depois ajuizar ação contra os avós, demanda um longo tempo. Depois, alguns pais estão desaparecidos, o que implicaria na demorada e burocrática citação editalícia tanto na ação de alimentos como na de execução de tais verbas. 
Assim, o correto é entender que a ação de alimentos poderá ser proposta diretamente contra os avós, demonstrando o credor, no curso do processo, a impossibilidade de os pais em pagar os alimentos ou o desparecimento deles. Ou, então e principalmente em se tratando de responsabilidade complementar, que a ação de alimentos seja pleiteada em litisconsórcio passivo contra o pai e contra os avós, demonstrando o autor qual a possibilidade do pai e qual será o complemento dos avós, para, principalmente, fixação dos alimentos provisórios. 
Com relação aos avós, a ação poderá ser proposta apenas contra os avós maternos que, se quiseram, deverão, no prazo de contestação, fazer o chamamento dos avós maternos, para divisão de responsabilidade (art. 1.698 do CC). Portanto, não há litisconsórcio passivo necessários entres os avós maternos e paternos. 
Entretanto, o chamamento ao processo, no prazo de contestação, dos outros avós, pode não ser uma atitude inteligente e apenas retardar o deslinde da ação. 
É que os avós maternos podem não ter condições de pagar nada ou então demonstrar que já estão pagando alimentos in natura,”considerando que acolheram a filho e o neto em casa, após a separação, de fato, do casal. 
Depois, basta os avós paternos, na ação apenas contra eles proposta pelo neto, demonstrar que nada podem pagar ou então que podem pagar apenas determinada quantia, considerando sempre que alimentos são obrigações divisíveis e não solitárias. 
Há crítica também quanto à limitação do pleito de alimentos, na colateralidade, até o segundo grau, em razão do princípio da solidariedade. Assim e pelo Código Civil, o irmão pode pleitear alimentos para outro irmão apenas e, por conseguinte, beneficiando diretamente os filhos que dele dependem. Porém, se morrer o irmão, dentro da limitação da obrigação alimentar, ditada pelo Código Civil, os sobrinhos não têm condições de pleitear alimentos do tio, o que levariam à extinção do processo, por ilegitimidade passiva. 
Portanto o correto é entender que essa limitação do art. 1.697 não pode prevalecer, em razão do princípio da solidariedade, e que os alimentos podem ser pleiteados dos parentes, na colateralidade, segundo a ordem de vocação hereditária até o quarto grau, o parente mais próximo excluindo o mais remoto.
Também os filhos podem ser acionados para pagamento dos alimentos aos pais, se deles carecerem, conforme ementa que se segue: 
AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO DE ALIMENTOS - FIXAÇÃO DE ALIMENTOS PROVISÓRIOS - PAGAMENTO DE PENSÃO PELOS FILHOS À GENITORA - PRINCÍPIO DA SOLIDARIEDADE RECÍPROCA. - O pagamento de pensão pelos filhos aos pais tem fundamento justamente no princípio da solidariedade recíproca que deve reger as relações de família. - Pela leitura conjunta dos artigos 1.694e 1.696 do Código Civil em vigor, resta estreme de dúvidas a possibilidade de ser imposta obrigação de prestar alimentos em decorrência da relação de parentesco. - Na fixação dos alimentos, ainda que provisórios, deve haver conjugação do binômio necessidade/possibilidade, ou seja, possibilidade econômica do alimentante e necessidade do alimentado. - No caso versado, as alegações dos agravantes de que não dispõem de condições para arcarem com o pensionamento determinado pelo d. Magistrado a quo não é o bastante para respaldar a revogação do decisum primevo, mas sim, para minorar para 01 (um) salário mínimo os alimentos provisórios fixados. - Recurso parcialmente provido. V.V.: - Nos termos do artigo 1.694, § 1º, do Novo Código Civil, o arbitramento da verba alimentar deve atender ao binômio necessidade - possibilidade. - O direito à prestação de alimentos entre pais e filhos é recíproco (CC., artigo 1.696) e na hipótese dos autos, decorre do vínculo de parentesco e do dever de solidariedade entre os familiares. - Inexistindo nos autos elementos suficientes para comprovar a necessidade da agravada ou que estaria impossibilitada para o exercício de atividade que lhe garanta o próprio sustento, incabível a fixação de alimentos em seu benefício. (TJ-MG - AI: 10702130867063002 MG, Relator: Heloisa Combat, Data de Julgamento: 28/05/2015, Câmaras Cíveis / 4ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 03/06/2015)
O Ministério Público tem legitimidade para propor ação de alimentos, em favor da criança necessitada, não existindo Defensoria Pública na Comarca, e também em favor do idoso, cuja legitimidade, por substituição processual, em relação aos idosos é ampla. A respeito da ação cominatória c/c alimentos proposta pelo Ministério Público, contra os filhos de pai idoso, destacamos a seguinte ementa: 
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO COMINATÓRIA C/C ALIMENTOS E TUTELA ANTECIPADA. DEMANDA AFORADA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO EM FAVOR DE IDOSA, PORTADORA DE TETRAPLEGIA, EM ESTADO DE ABANDONO. DECISÃO INTERLOCUTÓRIA QUE CONCEDE A TUTELA DE URGÊNCIA E FIXA ALIMENTOS, A CARGO DOS FILHOS, EM FAVOR DA VALETUDINÁRIA, OBRIGANDO-LHES, TAMBÉM, A CONTRATAR CUIDADORA EM PERÍODO INTEGRAL. REQUISITOS PREVISTOS NO ART. 273 DO CPC/73, VIGENTES À ÉPOCA EM QUE PROFERIDO O INTERLOCUTÓRIO, PRESENTES NO CASO CONCRETO. MANIFESTO ESTADO DE ABANDONO, SEQUER NEGADO PELA RÉ/AGRAVANTE. RECIPROCIDADE, ENTRE PAIS E FILHOS, DO DIREITO À PRESTAÇÃO DE ALIMENTOS. EXEGESE DO ART. 1.694 DO CC/02. Uma vez que o direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, à luz do que timbrado nos arts. 1.694 e 1.696 do Código Civil, e avultando a situação de abandono e negligência em que vive a interessada, pessoa idosa portadora de severas limitações funcionais por tetraplegia, é inafastável a conclusão encerrada na origem quanto à verossimilhança do direito alegado, o que, aliado ao perigo de demora evidente, já que os alimentos in natura e in pecunia destinam-se, na espécie, a garantir a sobrevivência da interessada, autoriza o deferimento da tutela de urgência, a luz dos requisitos timbrados no art. 273 do CPC/73, vigente ao tempo em que proferida a decisão. DECISÃO RECORRIDA MANTIDA. AGRAVO DE INSTRUMENTO DESPROVIDO.
 
(TJ-SC - AI: 02249572420128240000 Capinzal 0224957-24.2012.8.24.0000, Relator: Jorge Luis Costa Beber, Data de Julgamento: 22/06/2017, Primeira Câmara de Direito Civil)
Com relação à cobrança de alimentos contra o espólio, a ementa abaixo esclarece que o Superior Tribunal de Justiça, principalmente através da 4ª Turma, (acrescentamos), entende que há responsabilidade do espólio quando o falecido foi previamente condenado, apesar do dispostos no art. 1.695 e 1.696 do CC, a possibilitar o entendimento no sentido de que é possível ajuizar ação diretamente contra o espólio. 
APELAÇÃO CIVEL. FAMÍLIA. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE POST MORTEM . EXAME DE DNA COMPROVANDO A PATERNIDADE BIOLÓGICA. PEDIDO DE PETIÇÃO DE HERANÇA. PATERNIDADE SOCIOAFETIVA CONCOMITANTE AO RECONHECIMENTO DE VINCULO BIOLÓGICO. PLURIPARENTALIDADE. PEDIDO PARA FIXAÇÃO DE ALIMENTOS IMPOSSIVEL. FIXAÇÃO DE HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. O exame de DNA foi preciso ao demonstrar o vinculo biológico entre o autor e o de cujus. Deve ser incluído concomitantemente ao nome do pai socioafetivo, os dados do pai biológico na certidão de nascimento do autor. Conforme o RE 898060, STF, de relatoria do Min. Luiz Fux: A paternidade socioafetiva, declarada ou não em registro público, não impede o reconhecimento do vínculo de filiação concomitante baseado na origem biológica, com os efeitos jurídicos próprios . O autor é filho biológico e, por conseqüência, herdeiro do de cujus. Não há provas acerca dos bens deixados ou do inventário do de cujus. No que tange aos alimentos, conforme decisão do STJ, o espólio somente tem responsabilidades acerca dos alimentos quando o falecido genitor foi previamente condenado. Nos autos não há provas da fixação ou acordo de alimentos antes do óbito do pai biológico. Os honorários advocatícios devem ser fixados em 20% do valor atualizado da causa ao... representante da parte autora, tendo em vista o grau de zelo do profissional, a importância e a natureza da causa e, o trabalho e tempo exigido pelo profissional. APELO PARCIALMENTE PROVIDO. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70072947419, Oitava Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ivan Leomar Bruxel, Julgado em 22/03/2018).
 
(TJ-RS - AC: 70072947419 RS, Relator: Ivan Leomar Bruxel, Data de Julgamento: 22/03/2018, Oitava Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 26/03/2018)
De destacar-se que, mesmo destituídos da autoridade parental, os pais podem ser acionados, para pagamento de alimentos aos filhos que deles carecem. A respeito e para melhor compreensão, segue ementa sintentizando bem a questão aqui posta: 
APELAÇÃO CÍVEL. ECA. AÇÃO DE DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR. SITUAÇÃO DE RISCO VERIFICADA. PREVALÊNCIA DO INTERESSE DOS MENORES. ALIMENTOS. DEVER DE SUSTENTO QUE NÃO SE EXTINGUE COM A DESTITUIÇÃO DO PODER FAMILIAR. Em cotejo com o princípio da prevalência da família natural, não há olvidar princípio maior que norteia o direito posto em liça, qual seja, o do bem-estar dos menores. Situação de fato em que os menores, quatro meninos, estavam expostos a situação de risco decorrente da conduta negligente do genitor, que sempre adotou comportamento agressivo com os filhos homens, empreendendo violência psicológica e física contra eles, a fim de que não divulgassem a relação incestuosa mantida com a filha, da qual, inclusive, resultou o nascimento de duas crianças. Os pais destituídos do poder familiar têm o dever de prestar alimentos a seus filhos até o momento em que possam providenciar no sustento próprio. Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada, visando à satisfação das necessidades básicas dos filhos sem onerar, excessivamente, os genitores. O acolhimento de alegação de incapacidade, por sua vez, pressupõe a existência de prova inequívoca, a cargo do alimentante, da desnecessidade do alimentando ou da... impossibilidade de cumprimento da obrigação imposta. Nesse sentido a Conclusão nº 37 do Centro de Estudos do TJRS. Caso concreto em que o apelante não logrou demonstrar a incapacidade de prestar alimentos aos filhos no valor fixado. APELO DESPROVIDO. PROCESSO EXTINTO EM RELAÇÃO AO UM DOS JOVENS ENVOLVIDOS, ANTE A MAIORIDADE ATINGIDA. (Apelação Cível Nº 70076433556, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sandra Brisolara Medeiros, Julgado em 28/03/2018).
 
(TJ-RS - AC: 70076433556 RS, Relator: Sandra Brisolara Medeiros, Data de Julgamento: 28/03/2018, Sétima Câmara Cível, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 02/04/2018)
 
, segue ementd. A , conforme entendi, principalmente evi
Estipulação do valor dos alimentos
Os alimentos são fixados “in natura” ou “in pecúnia. Destarte, os alimentos podem ser pagos em dinheiro (pecúnia) ou através do pagamento de plano de saúde, farmácia, alugueletc. Nas Varas das famílias é comum acordar ou fixar tanto “in natura” ou “in pecúnia”,ou seja, o devedor paga determinada quantia em dinheiro e também arca com o plano de saúde ou com o valor da escola do filho, por exemplo. 
O cuidado que se deve ter, no chamado alimentos “in natura”, é que poderá ser uma maneira de o devedor continuar “vigiando” o ex-cônjuge e, por conseguinte, ser motivo de discórdia mensal. Excelente mesmo é fixar os alimentos “in pecúnia”, para que o ex-cônjuge credor ou administrador do dinheiro do filho menor tenha liberdade de ação e não fique dependente do devedor. Depois, nada impede que esta maneira de pagar os alimentos, se necessário, em razão de gastos irregulares ou de atrasos nos pagamentos diversos (escola, aluguel, dentista etc), possa ser, posteriormente, revista, em ação própria. 
De ressaltar-se que a verba alimentícia paga é com relação às despesas ordinárias mensais da criança. Assim, despesas extraordinárias deverão ser rateadas entre os cônjuges, segundo as possibilidades de cada um. 
É por tal razão que é aconselhável, além de o pagamento em dinheiro, também e quando possível o alimentante arcar com o plano de saúde do filho, para que, na eventualidade futura de uma doença, não tenha que arcar também com tal despesa extra ou que o filho passe for dificuldades, na ausência de condições econômicas para suportar tais despesas extraordinárias. 
Também os alimentos podem ser fixados em percentagem sobre o salário mínimo ou em percentagem sobre os rendimentos líquidos do devedor, ou seja: sobre o valor bruto menos imposto de renda e previdência. Não há nenhuma inconstitucionalidade em fixar alimentos em percentagem sobre salário mínimo, eis que o plenário virtual do STF reafirmou jurisprudência daquela Corte no sentido de que a fixação da pensão alimentícia em salários mínimos não viola a Constituição Federal. Aludida decisão foi tomada na análise do Recurso Extraordinário com Agravo (ARE) 842157, que teve repercussão geral reconhecida. 
Portanto, a vedação da vinculação ao salário mínimo, aludida no art. 7º, inciso IV, da CF diz, respeito à impossibilidade de utilização desse parâmetro como fator de indexação de obrigações não alimentícias. 
Fixados os alimentos sobre percentagem do salário mínimo, regra geral não incide gratificação de férias e nem décimo terceiro salário. Fixada a verba alimentícia sobre rendimentos líquidos, ou seja: valor bruto menos imposto de renda e previdência, do devedor, automaticamente incide gratificação de férias e décimo terceiro. 
Portanto, na estipulação de alimentos sobre percentagem sobre o salário mínimo, caso o credor queira que incida gratificação de férias e décimo terceiro salário, deverá pleitear expressamente na inicial, para discussão acerca desta inclusão. E, caso o devedor, em se tratando de alimentos incidentes sobre rendimentos líquidos, não concorde com tal proposta, deverá, na contestação, se insurgir, demonstrando a desnecessidade do credor em perceber tais verbas.
Descontada a pensão alimentícia da folha de pagamento do devedor, tal fato interfere na base de cálculo do imposto de renda. Alimentos são os únicos descontos que reduzem automática e integralmente a base de cálculo para apuração de imposto de renda. Algumas despesas, como as médicas, embora também permitam deduções integrais, somente no ano seguinte, quando da declaração,é que são computadas. Depois, se você paga a Escola do filho, como alimento “in pecúnia”, vai poder abater apenas parte no IR, eis que tal desconto é limitado. Pagando em dinheiro os alimentos, o desconto será realizado mensalmente. Tais questões são postas não no sentido de fraudar o fisco, mas sim de facilitar o acordo da pensão alimentícia e também que esta composição seja em prol o do alimentado, pessoa mais fraca, financeiramente falando, na relação jurídica.´
Entendemos incorreto incidir imposto de renda sobre a verba alimentar recebida, considerando que o quantum percebido é o suficiente para as necessidades mensais do credor. Assim, incidindo imposto de renda sobre os alimentos percebidos, o credor está recebendo menos do que devia. Porém, tal questão ainda não mereceu a devida atenção dos legisladores que, quase sempre, caminham juntos com os interesses do Executivo e acobertam a ânsia desenfreada do Fisco em arrecadar sempre mais.
Os alimentos podem ser também estipulados “intuitu familae”, ou seja, em uma única cota parte para todos os credores ou “intuitu personae”, cada credor recebendo sua cota parte determinada. Ao falarmos sobre a ação revisional e exoneratória da pensão alimentícia voltamos a falar sobre tal assunto. 
Impenhorabilidade, imprescritibilidade e irrepetibilidade da verba alimentar. 
Considerando que os alimentos são destinados à manutenção do alimentado, não podem ser eles objetos penhoras (art. 1.707 do CC). Assim e considerando que a remuneração de uma pessoa é considerada como alimentos, não é correto o entendimento jurisprudencial que vem relativizando a impenhorabilidade, alguns julgados a permitindo, desde que no patamar de 30% (trinta por cento) dos rendimentos líquidos. A impenhorabilidade é total, ou seja, de toda a remuneração, independentemente do valor percebido (art. 833, inciso IV do CPC). 
O direito aos alimentos é imprescritível, mesmo quando não exercido por longo tempo. Entretanto, as prestações alimentícias prescrevem no prazo de dois anos (art. 206, § 2º do CC). Ressalta-se que, contra menor (art. 197, I, do CC) e também durante a autoridade parental (art. 197, II, do CC) não há contagem de prazo prescricional.
Os alimentos também não podem ser cedidos a outrem, eis que é inseparável da pessoa que o percebe. São considerados irrepetíveis, ou seja, uma vez pagos não podem ser objeto de ação de repetição de indébito. Esta irrepetibilidade dos alimentos pagos indevidamente é questionada, no momento. Assim, entendemos que, existindo má-fé do alimentado, o pedido de devolução do que foi pago indevidamente deverá ser acatado, sob pena de locupletamento ilícito. Por exemplo, quando o ex-cônjuge continua percebendo pensão, já em união estável ou casado com outro ou quando não mais necessita deles, dentre outros vários exemplos, a serem discutidos na própria ação de repetição de indébito, desde que demonstrada a escancarada má-fé do alimentado.
A proposta acima, de relativização do princípio da irreptibilidade da verba alimentícia, vai ao encontro do principio que abomina o enriquecimento ilícito. Portanto, o dogma da irrepetibilidade absoluta da verba alimentar há que ser superado, desde que demonstrada a má-fé de quem a recebeu, indevidamente. 
Alimentos compensatórios e ação de oferta de alimentos.
Há também os alimentos compensatórios, que surgiram diante da necessidade de se manter o equilíbrio econômico-financeiro do ex-cônjuges ou dos ex-companheiros. Por conseguinte, tem natureza indenizatória, pela quebra da expectativa de manutenção do mesmo padrão de vida de vida, gerado em virtude do casamento ou da união estável. 
Portanto, se em consequência do divórcio ou da dissolução de união estável vier o outro cônjuge empobrecer, poderá o necessitado pleitear alimentos do cônjuge que continuar em melhores condições, inclusive alimentos compensatórios provisórios, conforme ementa que se segue:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO RELATIVA À UNIÃO ESTÁVEL. ALIMENTOS COMPENSATÓRIOS. TUTELA PROVISÓRIA MANTIDA. A finalidade dos alimentos compensatórios é restabelecer o equilíbrio financeiro rompido com o término do casamento/união estável, em situações nas quais somente um dos cônjuges/companheiros permanece usufruindo do patrimônio comum, que produz frutos, renda, situação que está satisfatoriamente demonstrada nos autos pela agravada, assim como a extensão e rentabilidade desse patrimônio, razão pela qual deve ser ratificada a decisão agravada na por seus próprios fundamentos. AGRAVO DE INSTRUMENTO DESPROVIDO. (Agravo de Instrumento Nº 70073650301, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Sandra Brisolara Medeiros,Julgado em 26/07/2017)
 Podem ser pagos esses alimentos compensatórios em uma ou em várias prestações e, dependendo do caso, durar por longos ou durante a vida do cônjuge empobrecido. 
A respeito dos alimentos compensatórios, destaca-se a seguinte ementa, que negou, por falta de prova, os alimentos provisórios, o que não impede que, no exame de mérito e colhidas as provas necessárias, o pedido de alimentos compensatórios seja julgado procedente:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE DIVÓRCIO. DECISÃO QUE INDEFERIU O PEDIDO PARA FIXAÇÃO DE ALIMENTOS COMPENSATÓRIOS EM FAVOR DA AGRAVANTE. PLEITO FORMULADO INITIO LITIS, SEM OITIVA DA PARTE CONTRÁRIA. AUSÊNCIA DE PROVA EFICAZ DA ADMINISTRAÇÃO EXCLUSIVA DE BENS COMUNS PELO VARÃO. NECESSIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA. DEPAUPERAMENTO DAS CONDIÇÕES SOCIAIS DA RECORRENTE, SUFICIENTE A ENSEJAR A URGÊNCIA DE UMA VERBA DE NATUREZA INDENIZATÓRIA, TENDENTE A COMPENSAR OU REEQUILIBRAR AS FORÇAS ECONÔMICAS ALEGADAMENTE DIZIMADAS PELA RUPTURA DA VIDA EM COMUM, IGUALMENTE NÃO DEMONSTRADO. VIRAGO QUE AUFERE PROVENTOS PREVIDENCIÁRIOS, A PRIORI, SUFICIENTES À SUA MANTENÇA DIGNA. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO.   A verba compensatória, que não se confunde com os alimentos disciplinados pelo art. 1.694 do CC, trás em si mesmo inegável feição indenizatória, que é a de equiponderar o descompasso econômico gerado pelo término do conúbio matrimonial ou da sociedade conjugal de fato, compelindo o cônjuge ou companheiro, desaquinhoado de bens, a viver num padrão social em nível bem inferior ao que mantido na vigência da união.   A queda do padrão de vida, com amesquinhamento das condições sociais da recorrente, derribadas pela repentina dissonância econômica gerada pela separação, exigem um mínimo de prova, o que somente será possível após sopesado o contraditório e joeirados os elementos apresentados para supedanear os fatos que fundamentam tanto o pedido inicial como a peça de resistência. (TJSC, Agravo de Instrumento n. 4008363-06.2016.8.24.0000, de São José, rel. Des. Jorge Luis Costa Beber, Primeira Câmara de Direito Civil, j. 28-09-2017).
 
Portanto, não coadunamos com os entendimentos de que os alimentos compensatórios são permitidos somente em determinados regime de bens ou sempre por prazo determinado ou em uma única quantia. Na verdade o desequilíbrio econômico, a permitir o ajuizamento da ação de alimentos compensatórios, deverá ser analisado em cada caso. Certo é que, geralmente, o homem é que detêm, ainda no momento atual, exclusivamente a administração do patrimônio do casal, bem como, em vários casos, todo o patrimônio do casal é reduzido em cotas de sociedades, sob a administração do homem. 
Portanto, nesses casos é perfeitamente possíveis pleitear os alimentos compensatórios, que também podem ser cumulados com os alimentos transitórios ou necessários, que tem natureza jurídica diversa e são destinados a suprir a necessitada imediata do cônjuge ou companheiro necessitado. Ilustra esta posiciohamento as ementas que se seguem: 
ALIMENTOS PROVISÓRIOS - BINÔMIO NECESSIDADE/ DISPONIBILIDADE ENTRE ALIMENTANDO E ALIMENTANTE NO MOMENTO DE SUA FIXAÇÃO - RAZOABILIDADE DA MAJORAÇÃO DOS ALIMENTOS PROVISÓRIOS E DE DEFERIMENTO DE ALIMENTOS COMPENSATÓRIOS TAMBÉM EM VALOR PROVISÓRIO. Por se tratar de alimentos, não se deve afastar a regra básica na sua fixação, tomando por base os elementos e circunstâncias que se apresentem em obediência ao princípio maior contido no binômio necessidade/disponibilidade, respectivamente entre alimentando e alimentante. No caso concreto, demonstra-se que o pai e ex-marido alimentante deixou de contribuir com qualquer auxílio direto e indireto para as despesas da ex-mulher e filhas menores, e levando-se em conta o estado anterior de sustento e conforto em que estas viviam e o que deve, por iterativa jurisprudência e forte em doutrina, ser preservado em situação mais próxima possível daquele. Ressalta-se a demonstração de manter o alimentante elevado padrão de vida social, econômico e financeiro, que era, também, o das alimentadas, as quais, sofreram considerável diminuição nestes aspectos. E também não se contesta que o agravado continua na posse e administração exclusiva dos bens do casal. Tudo a justificar a majoração dos alimentos provisórios e a fixação, ainda que parcial e por antecipação, de alimentos compensatórios, na forma legal.
 
(TJ-MG - AI: 10382140003270001 MG, Relator: Geraldo Augusto, Data de Julgamento: 20/05/2014, Câmaras Cíveis / 1ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 28/05/2014)
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE ALIMENTOS COMPENSATÓRIOS EM FAVOR DA EX-ESPOSA. POSSIBILIDADE. DECISÃO DE 1.ª INSTÂNCIA MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO EM CONSONÂNCIA COM O PARECER MINISTERIAL. - A teor dos precedentes emanados do Colendo STJ, é admissível que decisões judiciais adotem os fundamentos de manifestações constantes de peças do processo, desde que haja a transcrição de trechos das peças às quais há indicação (fundamentação aliunde ou per relationem). Precedentes (REsp 1399997/AM). - È cabível a fixação de alimentos compensatórios a serem repassados pelo cônjuge que, depois de rompida a relação, permanece na administração do patrimônio ou usufruindo dos bens comuns, de forma exclusiva, como forma de compor eventual desequilíbrio patrimonial, o que se verifica na hipótese dos autos - Entendo como adequada a estipulação de pensionamento em favor da Agravada, a título de alimentos compensatórios, cuja fixação, destaco, tem cabimento quando um dos conviventes, depois de rompida a relação, permanece na administração do patrimônio dos bens comuns, como forma de compor eventual desequilíbrio patrimonial, visto que restou, a priori, assente que o Agravante, através de sua curadora, mantem a administração dos bens, inclusive, deixando a Agravada de perceber os aluguéis de imóveis que estariam em seu nome, razão pela qual requer na presente ação a referida pensão até que se resolva a questão da partilha debens em ação de divórcio em tramitação - Decisão mantida - Recurso conhecido e desprovido, em consonância com o Parecer do Graduado Órgão Ministerial.
 
(TJ-AM 40026090720178040000 AM 4002609-07.2017.8.04.0000, Relator: Ernesto Anselmo Queiroz Chixaro, Data de Julgamento: 25/02/2018, Primeira Câmara Cível)
Considerando que os alimentos compensatórios têm caracteres indenizatórios, a doutrina e jurisprudência não têm admitido execução indireta deles, ou seja, não cabe execução com pedido de prisão. Portanto, cabível apenas execução direta, isto é, com penhora de bens.
Sobre os alimentos compensatórios ainda de destacar-se esta outra ementa, a demonstrar que, se a administração do patrimônio do casal era exclusivamente do marido, cabível são os alimentos compensatórios, em caráter até mesmo provisório:	
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE DIVÓRCIO. VERBA ALIMENTAR PROVISÓRIA. FILHO MENOR. REDUÇÃO. DESCABIMENTO. A fixação de alimentos, inclusive os provisórios, há de atender ao binômio possibilidade-necessidade. Situação que recomenda a manutenção dos alimentos provisórios, até que, com as provas que ainda serão produzidas, reste melhor visualizada a real situação financeira do alimentante e as necessidades do alimentando. Ademais, pertence ao alimentante o ônus da prova acerca da sua impossibilidade de prestar os alimentos no valor fixado. ALIMENTOS COMPENSATÓRIOS EM FAVOR DA EX-ESPOSA. POSSIBILIDADE. Tendo em vista que o agravante está na posse e administração exclusiva do patrimônio comum, que gerava a renda familiar, prudente, no caso dos autos, a manutenção dos alimentos compensatórios em favor da agravada. Manutenção do decisum. Agravo de instrumento desprovido. (Agravo de Instrumento Nº 70075245274, Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Jorge Luís Dall'Agnol, Julgado em 28/02/2018)
Ação de oferta de alimentos.
Com relação à ação de alimentos possível é que o devedor antecipe aludida ação, deixando de ser réu nesta possível ação e tornando autor na ação de oferta de alimentos. Réus, portanto, podem ser o cônjuge, companheiro ou filhos,como abstinência sexual, agressões verbais e físicas, enfim, permanente desrespeito de um cônjuge ou companheiro com relação ao outro. 
Assim e na ausência de afeto o melhor caminho é o divórcio, o desfazimento da sociedade conjugal que, de fato, já não existe mais, em prol de ambos e até mesmo dos próprios filhos. 
Evidentemente que não concordamos que este princípio tem relação direta com o parentesco por afinidade, primeiro considerando que cônjuge ou companheiro não são parentes e, depois, considerando ainda que este parentesco surge da simples união entre os cônjuges ou companheiros, exista ou não afeto. Parentesco por afinidade é antes de tudo uma construção legal. 
2.7 PRINCÍPIO DA PLURALIDADE
O correto é falar, após a Constituição de 1988, em Direito das Famílias, eis que o casamento deixou de ser a única entidade familiar. Várias outras foram encampadas e outras surgirão, em razão dos demais princípios, acima aludidos, com destaque para o princípio do afeto e também da liberdade dos cônjuges ou companheiros, isoafetivos ou heteroafetivos. 
Ressalte-se que a Constituição Federal, em seu artigo 226, encampou outras entidades familiares apenas como exemplo, ou seja, deixando, pelos demais princípios acima aludidos, possibilidades para o advento de outras espécies de famílias. 
Antes da Constituição de 1988 prevalecia o princípio do singularismo, já que apenas a união advinda do casamento era considerada e o concubinato era marginalizado e rotulado de puro, se não existisse impedimento entre os concubinos, e impuro, quando havia impedimentos, para fins de casamento, entre eles.
A discussão do fim do concubinato era realizada na Vara Cível através da ação de dissolução de sociedade de fato c/c com partilha de bens. Ora, se não existia lei encampando o concubinato, o mais correto era, por analogia, seria aplicar as leis do matrimônio e não, por puro preconceito e conservadorismo, a lei da sociedade de fato. 
Ressalta-se a questão era tão séria que na partilha de bens era necessário a prova de esforço comum. Não provado tal esforço, não haveria partilha. Foi assim que, principalmente as mulheres, que não trabalhavam fora do lar, acabaram fazendo um pedido sucessivo, de indenização por serviços domésticos prestados.
É por tal razão que chamamos o direito antes da Constituição de 1988 de cínico, conservador e atrelado fortemente à religião, eis que o casamento era sacralizado e em nome desta entidade o homem casado era blindado, protegido, a ponto de o filho nascido de um relacionamento extraconjugal não poder discutir a paternidade, enquanto persistisse o casamento do pai dele. 
3. DIREITO MATRIMONIAL
	
3.1 Noções gerais sobre o matrimônio; 3.2. Capacidade para o casamento. 3.3. Conceito e fins do casamento; 3.4. Natureza jurídica do casamento; 3.4. Caracteres do casamento; 3.6. Esponsais ou promessa de casamento; 3.7 Impedimentos matrimoniais e causas suspensivas; 3.8 Impedimentos; 3.9 Causas suspensivas; 3.10. Oposição dos impedimentos matrimoniais e das causas suspensivas
	
3.1 NOÇÕES GERAIS SOBRE O MATRIMÔNIO
Atualmente e pelo princípio da liberdade, a escolha é livre quanto à forma de constituição de família. As pessoas são livres para escolher a instituição familiar, da tradicional a mais moderna.
Existe uma pluralidade de entidades familiar, mas nem sempre foi assim. O casamento era a única forma de constituição familiar, instituição essa “patrimonial, heterossexual, hierarquizada, patrimonializada e matrimonializada[footnoteRef:19]”. [19: ALMEIDA, Renata Barbosa de; JÚNIOR, Walsir Edson Rodrigues. Direito Civil-Famílias. 2. Ed. São Paulo: Atlas, 2012, p.91.] 
O casamento deixou de ser a única forma de constituição familiar com o advento da Constituição Federal de 1988, a qual adotou valores e princípios, como da liberdade, igualdade, dignidade da pessoa humana, dentre outros.
O casamento pode ser visto pela perspectiva religiosa, civil ou por ambas. É importante salientar que, civilmente, o casamento não condiz simplesmente à definição arcaica de ser união formal entre duas pessoas de sexo diferente.
Como nos ensina Cristiano Farias e Nelson Rosenvald[footnoteRef:20] o conceito arcaico do casamento foi totalmente modificado, inicialmente pelo fato do casamento ser “comunhão de vida entre pessoas humanas, independentemente da procriação”. Além disso, o casamento não pode ser mais visto como indissolúvel, já que são previstos a separação e o divórcio. Por fim, a grande influência religiosa foi superada, pois vivemos em um país laico, “não sendo possível conectar o casamento civil às exigências e às formalidades (ou mesmo às finalidades) típicas da sua estrutura religiosa.”. [20: FARIAS, Cristiano Chaves de; ROSENVALD, Nelson. Curso de Direito Civil: famílias, 7. Ed. São Paulo: Atlas, 2015, p.144/145.] 
3.2. CAPACIDADE PARA O CASAMENTO
	Pelo art. 1.517 a idade núbil é de dezesseis anos. Entretanto, não se pode olvidar que a maioridade civil é alcançada aos 18 (dezoito) anos, salvo emancipação. Portanto, o filho com mais de 16 anos e menos de 18 anos pode se casar, desde que ambos os pais ou seus representantes legais consintam, por ser o menor pessoa relativamente incapaz.
	Portanto, consentido os pais ou os representantes legais não precisa da intervenção judicial e a questão será resolvida no momento da habilitação. Ressalta-se que até à celebração do casamento podem os pais, tutores ou curadores, revogar a autorização (art. 1.518 do CC). 
	Entretanto, pode acontecer de apenas um dois pais ou ambos não concordar com o casamento. No caso de apenas um não concordar, o filho, assistido pelo concordante, proporá ação de suprimento de vontade contra o pai discordante.
	No caso de ambos os pais não concordarem, a ação de suprimento de vontade será proposta pelo filho contra ambos. Neste caso e face à colisão de interesse, deverá ser, por exigência do artigo 72, do Código de Processo Civil, nomeado curador à lide. 
	Não se trata de mero requerimento de jurisdição voluntária, considerando que há pretensão resistida por parte de um ou ambos os pais (art. 1.519 do CC). Nota-se que, suprido o consentimento pelo juiz, o casamento necessariamente e por determinação legal (art. 1.641, III, do CC) será celebrado sob o regime de separação obrigatória de bens. 
	Pelo art. 1.520, excepcionalmente será permitido o casamento de quem ainda não alcançou a idade núbil, ou seja, de quem tenha menos de dezesseis anos, para evitar a imposição ou cumprimento de pena criminal ou em caso de gravidez. Na verdade, não há mais permissão para casamento, de quem ainda não tenha a idade nupcial, para evitar a imposição ou cumprimento de pena criminal. Assim, a permissão é somente para os casos de gravidez. 
	Portanto e se a filha grávida, com menos de 15 anos de idade, pretende se casar e se ambos os pais concordam, neste caso basta mero requerimento de suprimento de idade, eis que a questão necessariamente deverá ser judicializada. Na hipótese de ambos os pais não consentirem, deverá ser proposta ação de suprimento de vontade contra ambos e requerimento de suprimento de idade, com nomeação de curador à menor. Caso um dos pais apenas não consita, este será réu na ação de suprimento de vontade e a menor será representada pelo pai concordante. 
	No caso de suprimento de idade necessariamente o casamento será celebrado sob o regime de separação total de bens (art. 1.641, III, do CC).
3.3. CONCEITO E FINS DO CASAMENTO
O casamento é a relação jurídica solene, entre pessoas de sexo divergente ou não, com a finalidade de constituição de família e que terá a direção conjunta de ambos os cônjuges. Assim, tem as seguintes finalidades: 
a) Instituição da família matrimonial: por opção do próprio casal que, inclusive, poderá escolher outra forma de família, a exemplo da união estável; 
b) Procriação dos filhos: consequência lógico-natural do casamento. Porém, não é da essencialidade do casamento a existência de filhos. Não são raros os casais sem filhos e tal fato em nada afeta o casamento. Pessoas em idades avançadasparte ré.”.
Portanto, os alimentos gravídicos são devidos até o momento do nascimento da criança, quando ocorre, então, a conversão automática destes alimentos em pensão alimentícia, em prol do nascido. Portanto, neste caso a mãe deverá apresentar a certidão de nascimento da criança, que passa a ser autora da ação, representada pela mãe, que até então era a legitimada passiva. 
Como pensão alimentícia que é, após o nascimento da criança, estes alimentos podem ser revistos, a qualquer momento, para mais ou para menos, havendo fato superveniente a modificar o binômino possibilidade necessidade. 
O art. 7º da Lei de alimentos determina a citação do réu, com prazo de 5 (cinco) dias para resposta. Vetados os arts. 8º, 9º e 10º, o art. 11 deixa expresso que “aplicam-se supletivamente nos processos regulados por esta Lei as disposições das Leis nos 5.478, de 25 de julho de 1968” e o Código de Processo Civil. 
Na verdade, o legislador poderia deixar que o assunto fosse regulado todo pela lei de alimentos, ou seja, o juiz fixava os alimentos provisórios gravídicos, ao despachar a inicial, e já marcaria audiência de instrução e julgamento, em razão da necessária celeridade desta ação. Assim, pelo rito ditado pela lei em análise o réu terá o prazo de 5 (cinco) dia para contestação e, depois, aplica-se o procedimento comum, ou seja, após a contestação vêm a réplica, especificação de prova, saneador, audiência de instrução e julgamento. 
Outra questão a ser superada, em razão desta lei, é a seguinte: nascida a criança, os alimentos gravídicos passam a ser alimentos, vem a sentença e o pai continua pagando-os por 05 (cinco) anos, por exemplo. Nota-se que a ação de alimentos gravídicos não foi cumulada com a ação declaratória de paternidade. Depois de pagar alimentos, por 05 (cinco) anos, o alimentante morre. Nesta hipótese, haverá necessidade de propositura de ação declaratória de paternidade? Pensamos que não. Basta, neste caso, o alimentado comparecer nos autos da ação de alimentos gravídicos e requerer que o juiz oficie ao cartório de registro de pessoas naturais para incluir o nome do alimentante como pai do credor, bem como o nome dos avós paternos. 
Para tanto, basta socorrermos da revogada lei n. 883/43, que permitiu a propositura de alimentos contra pai casado. Na época não era possível o reconhecimento de paternidade contra homem casado. Assim, era ofertada apenas ação de alimentos. E, nos autos da ação de alimentos, no caso de o suposto pai separar, enviuvar ou morrer, possível era que, naqueles mesmos autos, o juiz determinasse que fosse incluído o nome do alimentante como pai do alimentado. Nota-se que a situação á praticamente o mesmo. Portanto, a jurisprudência que era aplicada com relação à lei 883/43 pode ser aplicada também à lei de alimentos gravídicos. 
Na verdade, na ação de alimentos se discute é a paternidade. A relação jurídica é de filiação. Depois, caso o pai não considerasse o menor como filho, que ajuizasse ação negatória de paternidade. Se não o fez, imediatamente ao nascimento da alimentado ou a qualquer tempo, cada mês que passou, pagando alimentos, reforçava a situação de pai do alimentante. 
Ação de exigir contas de verba alimentar. 
A antiga ação de prestação contas é, pelo atual CPC, ação de exigir contas (arts. 539 a 770). E, apesar do princípio da irrepetibilidade da verba alimentar, o art.1.589 do Código Civil acabou por permitir a ação de contas de alimentos, como uma maneira de fiscalizar como a guardiã utiliza dos recursos destinados ao sustentos dos menores e não para apurar possíveis créditos, em favor do alimentante.
Determina o § 5º do art. 1.583, do Código Civil, que “A guarda unilateral obriga o pai ou a mãe que não a detenha a supervisionar os interesses dos filhos, e, para possibilitar tal supervisão, qualquer dos genitores sempre será parte legítima para solicitar informações e/ou prestação de contas, objetivas ou subjetivas, em assuntos ou situações que direta ou indiretamente afetem a saúde física e psicológica e a educação de seus filhos.”. 
Portanto, a legitimidade ativa do alimentante para exigir a prestação de conta da verba alimentar é com relação ao guardião ou guardião apenas. Não poderá a ação ser proposta pelo ex-marido, se a pensão é devida à ex-mulher, exclusivamente, nem o pai contra a filha, se pagar pensão diretamente à mesma. Neste caso, a discussão pode ser enfrentada em outras ações, como a ação revisional ou exoneratória, por exemplo.
Porém, ressalte-se que, primeiramente o legislador, na ânsia desesperada de eleger a guarda compartilhada como a melhor de todas, não fez a necessária distinção em genitores e pais. Genitores são os que apenas geraram os filhos. Pais sãos os que, gerando ou não, também amam os filhos, tem afeto para com eles. 
Depois, há que conciliar a proposta de poder o outro cônjuge, que não detém a guarda dos filhos, de prestar alimentos, com a ação de prestação de contas (na verdade e pelo atual CPC ação de exigir contas – art. 550) que, como sabido, tem o objetivo de apurar saldo credor em favor do autor, que, se procedente o pedido, depois executará o réu, percebendo o dinheiro desviado, com o princípio da irrepetibilidade, eis que se procedente o pedido lançado na ação de exigir contas o pai também estaria recebendo, de volta, o que pago e que era crédito do filho. 
Na verdade, se o pai, por exemplo, paga alimentos ao filho, que está sob a guarda da mãe, que está desviando dinheiro e deixando de pagar as prestações mensais e rotineiras do filho (escola, plano de saúde, conta de luz, água etc), possível é a ação de prestação de contas, desde que ocorram duas hipóteses: a) o pai comprove que pagou a escola, a luz ou a água, para evitar que o filho fosse proibido de estudar ou para que não ocorresse o corte de tais serviços. Assim, o pai poderá ajuizar ação de exigir contas, contra a mãe, para que ela demonstra que o dinheiro não foi desviado. Comprovado o desvio, será ele credor de tais quantias, reconhecidas na ação de prestação de contas; b) as despesas mensais, antes exemplificadas, não foram pagas. Assim, o pai demonstra que há um crédito em prol do filho e a mãe deverá repô-la, ficando sob a responsabilidade de o pai pagar aquele valor. Evidentemente que, para essas hipóteses, necessário que os alimentos sejam fixados exclusivamente em favor dos filhos ou que, se também a mãe for credora, sejam estipulados intuitu personae.
Ressalta-se que dependendo do modo como a pensão alimentícia é administrata pelo guardião ou guardiã, poderá ensejar a propostura de declaratória de alienação parental ou de suspensão ou até mesmo destituição da autoridade parental. 
Permitindo a ação de exigir conta, na qual em primeira instância os autos do processo foram extintos, sem enfrentamento de mérito, e que deve a sentença terminativa cassada, de destacar-se que seguinte ementa: 
Prestação de contas. Alimentos. Fixação no montante de R$ 9.000,00, reajustável de acordo com a variação do salário mínimo. Sentença extintiva. Irresignação. Acolhimento. Ação proposta pelo alimentante em face da genitora dos alimentandos, visando a prestação de contas da pensão alimentícia destinada aos filhos comuns. Legitimidade ad causam, interesse de agir e possibilidade jurídica do pedido reconhecidos. Exegese do art. 1.583, § 5º, do Código Civil. Precedentes. Extinção afastada. Recurso provido.
 
(TJ-SP - APL: 10220841620168260002 SP 1022084-16.2016.8.26.0002, Relator: Rômolo Russo, Data de Julgamento: 16/12/2016, 7ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 16/12/2016)
 
Ação revisional e exoneratória de verba alimentícia. 
Tais ações estão previstas, no art. 1.699 do Código Civil, ao determinar que, “se fixados os alimentos, sobrevier mudança na situação financeira de quem os supre,ou na de quem os recebe, poderá o interessado reclamar ao juiz, conforme as circunstâncias, exoneração, redução ou majoração do encargo.”.
É por tal razão que se fala que os alimentos apenas transitam formalmente em julgado, ou seja: não podem serou que, em razão de doenças, não podem procriar não estão impedidas de se casar. Porém, a lei exige aptidão física dos nubentes, eis que, regra geral, só permite o casamento de pessoas acima de 16 (dezesseis) anos e também faculta a sua anulação diante da impotência de um dos cônjuges para a prática do ato sexual; 
c) Prestação do auxílio mútuo: consequência da convivência em comum entre os cônjuges. Desta convivência surgirão também adversidades que, através do afeto e do diálogo, deverão ser superadas pelos cônjuges;
d) Estabelecimento de deveres entre os cônjuges, patrimoniais ou não: assim têm os cônjuges o dever legal, de caráter patrimonial, de prover, na proporção dos rendimentos do seu trabalho e de seus bens, a manutenção da família, exigência do artigo 1.568 do CC. Como dever não-patrimonial, temos o da fidelidade recíproca; o do respeito e consideração mútuos (CC, art. 1566, I e V); 
e) Educação da prole: exercido conjuntamente pelos pais, através do poder familiar (autoridade parental), que seria mais corretamente se chamasse dever familiar dos pais. Com efeito, os pais têm o dever de criar, educar e assistir os filhos, material e psicologicamente (art. 1.634 do CC e artigo 22 do ECA);
f) Atribuição do nome ao cônjuge (art. 1.565, § 1º do CC) e aos filhos: hoje consequência da igualdade de direitos e deveres, tanto o homem como a mulher podem utilizar o nome do outro. Antes do atual Código Civil, somente a mulher podia, com o casamento, usar o nome do marido. 
3.4. NATUREZA JURÍDICA DO CASAMENTO
Há duas correntes acerca da natureza jurídica do casamento, a contratualista e a institucionalista. 
O casamento como contrato tem origem no direito canônico, que via como fundamental na celebração das núpcias o consentimento dos nubentes. A intervenção do sacerdote, na formação do vínculo matrimonial, era secundária. Essa corrente considera o casamento como contrato civil, regido pelas normas comuns a todos os pactos, e que se aperfeiçoará com o simples consentimento dos nubentes. Entretanto, dentre desta própria corrente há os que afirmam ser o casamento um contrato especial ou sui generis, posto que tem regras próprias no que tange à capacidade dos contraentes, aos vícios de consentimento e aos efeitos. 
Na verdade e face ao disposto no art. 1.535 do Código Civil, os teóricos que considera o casamento apenas como contrato restaram enfraquecidos, eis que, por esse aludido dispositivo legal, não basta a afirmação dos nubentes de que pretendem se casar por livre e espontânea vontade. Há necessidade de que o juiz de paz declare efetuado o casamento, nos termos ditados pelo artigo antes citado. Sem essa declaração não há casamento.
Já a concepção institucionalista, vê o casamento como instituição social que advém da vontade das partes. Entretanto, as normas, os efeitos e forma encontram-se preestabelecidos pela lei. Não podem as partes desprezar os ditames legais, por vontade própria. Portanto, os nubentes são livres para escolher o seu parceiro, decidir se vai casar ou não. Porém, realizado o matrimônio, já em consonância com o Direito das Famílias, os direitos e deveres, a forma de resolver a sociedade ou o vínculo conjugal, os direitos e deveres dos cônjuges, a autoridade parental, após o nascimento do filho, incidem imediatamente e não podem ser derrogados ou modificados pelo casal. 
Diante da liberdade inicial em escolher o casamento, como forma de entidade familiar, o momento próprio para celebração das núpcias, o regime de bens, salvo nos casos em que a separação total é obrigatória, bem como, após a celebração das núpcias, a incidência imediata das leis que regem o Direito de Família, surge a doutrina eclética ou mista. Assim, é o casamento para esses teóricos um ato complexo, por ser contrato na formação, ao prevalecer, até então, a vontade dos nubentes, e instituição no conteúdo, com a império da lei. 
Entretanto, entendemos que hoje o casamento é sem dúvida alguma um contrato, considerando que, com a dissolubilidade do vínculo, agora a qualquer momento e sem necessidade de motivação, não é correto falar mais em entidade. Aliás, entender o casamento como um contrato, ajuda na sua necessária dessacralização.
3.5 Caracteres do casamento
Os nubentes possuem liberdade de escolha e não há mais a exigência da diversidade de sexos, para que exista casamento, desde o momento em que a família isoafetiva foi reconhecida como entidade familiar pelo Supremo Tribunal Federal. Nota-se que a Constituição Federal permite, no seu art.226, § 6º, a conversão da união estável em casamento. 
A sociedade atual evoluiu ao entender que a relação homoafetiva é uma entidade familiar. Para tanto, não se pode entender como requisito para eficácia de casamento a diversidade de sexos. 
O Egrégio Superior Tribunal de Justiça[footnoteRef:21] também entende que a união de pessoas do mesmo sexo, não anula o casamento por si só, vejamos o entendimento: [21: STJ, 4ª T.,REsp 1.183.378 / RS, Relator Ministro Luis Felipe Salomão, j. em 25/10/2011, publicado no DJ em 01/02/2012.
] 
EMENTA: direito de família. Casamento civil entre pessoas do mesmo sexo (homoafetivo). Interpretação dos arts. 1.514, 1.521, 1.523, 1.535 e 1.565 do código civil de 2002. Inexistência de vedação expressa a que se habilitem para o casamento pessoas do mesmo sexo. Vedação implícita constitucionalmente inaceitável. Orientação principiológica conferida pelo stf no julgamento da adpf n. 132/rj e da adi n. 4.277/df. 1. Embora criado pela Constituição Federal como guardião do direito infraconstitucional, no estado atual em que se encontra a evolução do direito privado, vigorante a fase histórica da constitucionalização do direito civil, não é possível ao STJ analisar as celeumas que lhe aportam "de costas" para a Constituição Federal, sob pena de ser entregue ao jurisdicionado um direito desatualizado e sem lastro na Lei Maior. Vale dizer, o Superior Tribunal de Justiça, cumprindo sua missão de uniformizar o direito infraconstitucional, não pode conferir à lei uma interpretação que não seja constitucionalmente aceita. 2. O Supremo Tribunal Federal, no julgamento conjunto da ADPF n. 132/RJ e da ADI n. 4.277/DF, conferiu ao art. 1.723 do Código Civil de 2002 interpretação conforme à Constituição para dele excluir todo significado que impeça o reconhecimento da união contínua, pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar, entendida esta como sinônimo perfeito de família . 3. Inaugura-se com a Constituição Federal de 1988 uma nova fase do direito de família e, consequentemente, do casamento, baseada na adoção de um explícito poliformismo familiar em que arranjos multifacetados são igualmente aptos a constituir esse núcleo doméstico chamado "família", recebendo todos eles a "especial proteção do Estado". Assim, é bem de ver que, em 1988, não houve uma recepção constitucional do conceito histórico de casamento, sempre considerado como via única para a constituição de família e, por vezes, um ambiente de subversão dos ora consagrados princípios da igualdade e da dignidade da pessoa humana. Agora, a concepção constitucional do casamento Documento: 18810976 - EMENTA / ACORDÃO - Site certificado - DJe: 01/02/2012 Página 1 de 3 Superior Tribunal de Justiça - diferentemente do que ocorria com os diplomas superados - deve ser necessariamente plural, porque plurais também são as famílias e, ademais, não é ele, o casamento, o destinatário final da proteção do Estado, mas apenas o intermediário de um propósito maior, que é a proteção da pessoa humana em sua inalienável dignidade. 4. O pluralismo familiar engendrado pela Constituição - explicitamente reconhecido em precedentes tanto desta Corte quanto do STF - impede se pretenda afirmar que as famílias formadas por pares homoafetivos sejam menos dignas de proteção do Estado, se comparadas com aquelas apoiadas na tradição e formadas por casais heteroafetivos. 5. O que importa agora, sob a égide da Carta de 1988, é que essas famílias multiformes recebam efetivamente a "especial proteçãodo Estado", e é tão somente em razão desse desígnio de especial proteção que a lei deve facilitar a conversão da união estável em casamento, ciente o constituinte que, pelo casamento, o Estado melhor protege esse núcleo doméstico chamado família. 6. Com efeito, se é verdade que o casamento civil é a forma pela qual o Estado melhor protege a família, e sendo múltiplos os "arranjos" familiares reconhecidos pela Carta Magna, não há de ser negada essa via a nenhuma família que por ela optar, independentemente de orientação sexual dos partícipes, uma vez que as famílias constituídas por pares homoafetivos possuem os mesmos núcleos axiológicos daquelas constituídas por casais heteroafetivos, quais sejam, a dignidade das pessoas de seus membros e o afeto. 7. A igualdade e o tratamento isonômico supõem o direito a ser diferente, o direito à autoafirmação e a um projeto de vida independente de tradições e ortodoxias. Em uma palavra: o direito à igualdade somente se realiza com plenitude se é garantido o direito à diferença . Conclusão diversa também não se mostra consentânea com um ordenamento constitucional que prevê o princípio do livre planejamento familiar (§ 7º do art. 226). E é importante ressaltar, nesse ponto, que o planejamento familiar se faz presente tão logo haja a decisão de duas pessoas em se unir, com escopo de constituir família, e desde esse momento a Constituição lhes franqueia ampla liberdade de escolha pela forma em que se dará a união. 8. Os arts. 1.514, 1.521, 1.523, 1.535 e 1.565, todos do Código Civil de 2002, não vedam expressamente o casamento entre pessoas do mesmo sexo, e não há como se enxergar uma vedação implícita ao casamento homoafetivo sem afronta a caros princípios constitucionais, como o da igualdade, o da não discriminação, o da dignidade da pessoa humana e os do Documento: 18810976 - EMENTA / ACORDÃO - Site certificado - DJe: 01/02/2012 Página 2 de 3 Superior Tribunal de Justiça pluralismo e livre planejamento familiar. 9. Não obstante a omissão legislativa sobre o tema, a maioria, mediante seus representantes eleitos, não poderia mesmo "democraticamente" decretar a perda de direitos civis da minoria pela qual eventualmente nutre alguma aversão. Nesse cenário, em regra é o Poder Judiciário - e não o Legislativo - que exerce um papel contramajoritário e protetivo de especialíssima importância, exatamente por não ser compromissado com as maiorias votantes, mas apenas com a lei e com a Constituição, sempre em vista a proteção dos direitos humanos fundamentais, sejam eles das minorias, sejam das maiorias. Dessa forma, ao contrário do que pensam os críticos, a democracia se fortalece, porquanto esta se reafirma como forma de governo, não das maiorias ocasionais, mas de todos. 10. Enquanto o Congresso Nacional, no caso brasileiro, não assume, explicitamente, sua coparticipação nesse processo constitucional de defesa e proteção dos socialmente vulneráveis, não pode o Poder Judiciário demitir-se desse mister, sob pena de aceitação tácita de um Estado que somente é "democrático" formalmente, sem que tal predicativo resista a uma mínima investigação acerca da universalização dos direitos civis. 11.Recurso especial provido.
Ainda de acordo com esse entendimento, o Corregedor-Geral de Justiça do Estado de Minas Gerais, através do provimento nº 287/2014, expediu ato normativo com a finalidade de evitar constrangimentos as pessoas que mantêm relação homoafetiva, embasando-se em fundamentos e princípios constitucionais, como a dignidade da pessoa humana e a isonomia. O ato normativo veda a recusa da celebração de casamento civil ou a conversão da união estável em casamento entre pessoas do mesmo sexo.
A segunda característica do casamento é a solenidade do ato nupcial, já que o casamento exige celebração em consonância com a lei. Como bem esclarecem os professores Renata Barbosa e Walsir Edson[footnoteRef:22], “têm-se o processo de habilitação dos nubentes e a publicação dos editais, a realização da cerimônia e, por último, a sua inscrição no registro público.”. [22: ALMEIDA, Renata Barbosa de; JÚNIOR, Walsir Edson Rodrigues. Direito Civil. 2ª ed. São Paulo: Atlas, 2012, p.99.] 
A Lei nº 6.515/77 trouxe a característica da dissolubilidade do vínculo matrimonial, que, entretanto, poderia ser dissolvido somente por uma única vez. Foi após a Constituição Federal de 1988 que a dissolubilidade passou a ser ilimitada. 
Por fim, é também característica ainda do matrimônio a união exclusiva, já que no atual sistema jurídico brasileiro não permite a poligamia, a qual corresponde a união matrimonial simultânea com mais de duas pessoas, sendo ou não do mesmo sexo. A fidelidade conjugal é exigida pelo art. 1.566, I, do Código Civil, sendo, portanto, um dever do casamento. Contudo, com a Emenda Constitucional nº 66 de 2010, não é mais correto se discutir a culpa pelo fim do relacionamento. 
3.6. ESPONSAIS OU PROMESSA DE CASAMENTO
Esponsais ou noivado é, na verdade, promessa recíproca que fazem as pessoas de se casarem, futuramente. Portanto, devem assumir esse compromisso duas pessoas, de sexos diferentes ou não, que não estejam impedidas de se casarem. Tem por finalidade possibilitar melhor conhecimento entre os nubentes para que a instituição casamento não seja apenas uma aventura ou uma aposta que poderá dar certo ou não. É, pois, um ato preparatório do matrimônio. 
A dúvida, desde a Lei de Casamento Civil de 1890, do Código Civil de 1916 e do atual, já que tais legislações deixaram de regulamentar o assunto, é se o rompimento de tal promessa de casamento enseja consequência jurídica, isto é, permite o ajuizamento da ação indenizatória de perdas e danos. 
Porém e pelo artigo 186 do Código Civil (culpa aquiliana ou extracontratual) há que se entender que é possível o ajuizamento da ação de indenização por perdas e danos, desde que presentes todos os seguintes requisitos:
a) Promessa de casamento concretizada diretamente pelos próprios noivos. Era comum, num passado não muito distante, pais assumirem, até mesmo sem a anuência dos filhos, futuros casamentos de suas proles. Neste caso, nenhuma responsabilidade há com relação ao filho, que não fez promessa alguma. Porém, se o fez diretamente e uma vez presentes os demais requisitos adiante aludidos, deverá o nubente arcar com as consequências deste ato. Para comprovar a existência de promessa de casamento, todos os meios de provas são admitidos, inclusive prova testemunhal;
b) Recusa de cumprir a promessa esponsalícia: tal requisito pode ser comprovado expressa ou tacitamente. Ex.: o noivo contrai outro noivado ou viaja, por longo período, perdendo contado com a noiva; 
c) Ausência de motivo justo: a recusa, para dar ensejo à indenização, há que ser imotivada ou oca. Os motivos que permitem o noivo desfazer promessa de casamento, sem arcar com indenização alguma, são os oriundos de culpa grave por parte do outro nubente, tais como: erro essencial, infidelidade, sevícia, injúria grave ou abandono. Também a culpa leve (prodigalidade, condenação por crime desonroso, situação econômica ou social diversa da apresentada, aversão ao trabalho, falta de honestidade etc) ou levíssima (mudança de religião, grave enfermidade, ruína econômica que ponha em risco a estabilidade matrimonial etc) permite o rompimento do noivado, sem direito à indenização; 
d) Existência de dano: na atualidade e uma vez presentes os requisitos anteriores, apenas os danos morais são suficientes para o ajuizamento da ação indenizatória pelo nubente prejudicado. É admissível que o nubente, com o desfazimento do noivado, tenha depressão, além do constrangimento que tal fato poderá acarretar a ele, perante a comunidade em que vive, dissabor esse que aumenta à medida que se aproxima da data do casamento. Existindo também danos materiais (gastos com o preparo de documentos, preparação da cerimônia, enxoval, perda do emprego, por exigência do noivo etc), nada impede que haja cumulação de pedidos, em uma única ação, na Vara Cível, posto que o Juiz de Família é competente paradirimir apenas questões envolvendo casamento e estado de pessoas. Os noivos ainda não são uma família. i 
Pelo artigo 546 do Código Civil o inadimplemento doloso ou culposo dos esponsais por parte de um dos noivos acarreta também a devolução dos presentes trocados, das cartas e dos retratos, eis que, “se tiver havido doação feita em contemplação de casamento futuro, só ficará sem efeito se o casamento não se realizar”.
A este respeito, assim já decidiu o egrégio Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro[footnoteRef:23], em acordo que exemplifica bem a questão posta: [23: TJ/RJ, 6ª Câmara Cível. Apelação nº 0000813-45.2010.8.19.0075, Relator: Des. Claudia Pires dos Santos Ferreira, j. em 19/10/2011. 
	] 
 Ementa: Apelação cível. Ação indenizatória por danos materiais e morais. Rompimento de noivado. Não comparecimento do noivo ao matrimônio. Dano moral configurado. Ausência de comunicação prévia o que evitaria maiores constrangimentos. Danos materiais, comprovados. Ausência de impugnação específica. Sentença mantida. Negado provimento ao recurso. 
	Também decidiu o egrégio Tribunal de Justiça de Minas Gerais[footnoteRef:24] sobre esta questão: [24: TJ/MG, 10ª Câmara Cível. Apelação nº 1.0024.07.529811-7/001, Relator: Des. Gutemberg da Mota e Silva, j. 31/08/2010, publicado em 21/09/2010.
] 
 Ementa: apelação cível - indenização por danos materiais e morais - noivado desfeito às vésperas do casamento - traição - danos materiais e morais caracterizados - dever de indenizar. A vida em comum impõe aos companheiros restrições que devem ser seguidas para o bom andamento da vida do casal e do relacionamento, sendo inconteste o dever de fidelidade mútua. O término de relacionamento amoroso, embora seja fato natural da vida, gerará dever de indenizar por danos materiais e morais, conforme as circunstâncias que ensejaram o rompimento. São indenizáveis danos morais e materiais causados pelo noivo flagrado pela noiva mantendo relações sexuais com outra mulher, na casa em que morariam, o que resultou no cancelamento do casamento marcado para dias depois e dos serviços contratados para a cerimônia. Recurso não provido. 
3.7. IMPEDIMENTOS MATRIMONIAIS E CAUSAS SUSPENSIVAS
O Código Civil, sob o nome de impedimento, proíbe que as pessoas aludidas nos incisos I a VII do artigo 1.521 se casam. É enfático: “não podem casar”. O casamento, se celebrado em desobediência a este dispositivo legal é considerado nulo. Já o artigo 1.523 do Código Civil tem consequências menos drásticas, ao sugerir que “não podem casar” as pessoas mencionadas nos incisos I a IV daquele dispositivo legal. Neste caso, estamos diante das chamadas causas suspensivas que, se desrespeitadas, implicará na aplicação automática do disposto no artigo 1.641, inciso I, do Código Civil, ou seja, o casamento será celebrado sob o regime de separação obrigatória de bens e, em alguns casos, permitirá a anulação do casamento, se ausente a capacidade matrimonial. 
Com os impedimentos ou as causas suspensivas evitam-se uniões que afetem a prole, a ordem moral ou pública ou interesses de terceiros, já que o casamento tem consequência imediata em toda a sociedade. Assim, impedimento matrimonial é a ausência de requisitos para casamento que, se mesmo assim celebrado, ensejará a propositura de ação de nulidade. 
Os impedimentos envolvem causas relacionadas à instituição da família e à estabilidade social. Assim, podem ser opostos por qualquer interessado e pelo Ministério Público, como representante da sociedade, até o momento da celebração do casamento (art. 1.522, do CC).
As causas suspensivas, estatuídas no interesse de um dos nubentes, procura preservar a livre manifestação do consentimento. Assim, podem ser causas de anulabilidade do casamento (art. 1550 do CC) e, se não anulado, o casamento convalidará e o regime de bens será o de separação obrigatória. Tem legitimação para propor a ação de anulação de casamento o cônjuge prejudicado, representante legal ou ascendente. 
Não há que se confundir incapacidade para casamento com impedimento matrimonial. O impedido de se casar não é incapaz de contrair casamento. A incapacidade se refere à vontade e à idade núbil (CC, arts. 1.517 a 1.520). Ex.: o genro, divorciado, não pode se casar com a sogra, em razão do laço de parentesco por afinidade, que é para sempre. Porém, poderá se casar com outra mulher. Tem ele capacidade para tanto. Porém, o menor de 11 (onze) anos não tem aptidão para se casar com pessoa alguma. É incapaz. A incapacidade é geral, enquanto o impedimento circunstancial, isto é, existe apenas nos casos ditados pelo Código Civil. O impedido não tem legitimação para casar-se, embora seja capaz para o matrimônio.
A causa suspensiva da celebração do matrimônio era denominada, pelos doutrinadores do Código Civil anterior, de impedimento impediente ou meramente proibitivo ou, ainda, de impedimento suspensivo. Porém, não é correto confundir a causa suspensiva como espécie de impedimento, posto que não proíbe casamento, mas apenas adverte os nubentes que não devem casar-se, sob pena de sofrer sanção (CC, art. 1.641, I). 
Em se tratando de matrimônio de estrangeiro no Brasil, de aplicar-se a norma brasileira, quanto aos impedimentos e às formalidades de celebração (art. 7º, § 1º da LICC). No tocante às causas suspensivas, antes chamadas de impedientes, de aplicar-se o estatuto pessoal (a lei do estrangeiro). Assim, se a lei nacional do estrangeiro não prescrever que, se não observadas as causas suspensivas, o regime será o de separação obrigatória de bens, não haverá para ele tal sanção. 
3.8. IMPEDIMENTOS
São distribuídos em três categorias pelo atual Código Civil:
1) Impedimentos resultantes de parentesco (CC, art. 1.521, I a V), que têm a seguinte subdivisão:
a) Impedimento de consanguinidade: existe para evitar núpcias incestuosas e a imoralidade no ambiente familiar, bem como em razões de ordens biológicas ou eugênicas (taras fisiológicas, defeitos psíquicos, malformações somáticas etc); 
Portanto e pelo art. 1.521, I, do Código Civil “não podem casar: os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil”. Ex.: não podem contrair matrimônio pai com filha, bisavô e bisneta. De ressaltar-se que na linha reta o impedimento vai até o infinito. Assim, abrange todo e qualquer grau de parentesco da linha reta, advindo ou não do casamento. 
A proibição do matrimônio por consanguinidade abrange os irmãos, unilaterais ou bilaterais e os demais colaterais até o 3º grau (tios e sobrinhos) inclusive (art. 1.521, IV, CC). 
Entretanto, acerca do impedimento entre colaterais de 3º grau, de ressaltar-se que, nos termos dos arts. 1º e 3º do Decreto-lei nº 3.200/41, poderá haver casamento entre tio e sobrinha se dois médicos, nomeados pelo juiz, atestarem a sanidade dos requerentes, afirmando não ser inconveniente, sob o ponto de vista da saúde de qualquer deles e da prole, a realização do casamento. Assim, através de simples requerimento de jurisdição voluntária, o juiz poderá permitir o casamento entre tios e sobrinhos. Tal Decreto foi recepcionado pelo atual Código, por ter a natureza de lei especial e face ao disposto no art. 2.043 do Código Civil, que não o revogou expressamente. 
b) Impedimento de afinidade: estabelecido no art. 1.521, II, do Código Civil ao determinar: “Não podem casar os afins em linha reta”. Parentesco por afinidade é o estabelecido em virtude do casamento entre um dos cônjuges e os parentes do outro. Assim, o pai do cônjuge é parente por afinidade do outro cônjuge (sogro e nora). O irmão do cônjuge é parente afim do irmão do outro cônjuge (cunhado). 
A afinidade só é impedimento matrimonial quando em linha reta. Portanto, não podem se casar sogra e genro, sogro e nora, padrasto e enteada, madrasta e enteado ou qualquer outro descendente do marido (neto, bisneto) nascido de outra união, embora tenha sido dissolvido o casamento que originou a afinidade. É que, pelo artigo 1.595, § 2º do Código Civil, “na linha reta, a afinidade não se extinguecom a dissolução do casamento ou da união estável”. Por conseguinte, não pode o viúvo casar com a mãe ou filha de sua falecida mulher; da mesma forma não pode o filho casar com a mulher de seu pai. 
O impedimento de afinidade extingue-se na linha colateral. Portanto, com o desfazimento do vínculo conjugal não há que se falar mais em cunhadio. Assim, o viúvo poderá casar-se com a irmã de sua finda mulher. 
c) Impedimento de adoção: pelo artigo 1.521, I, do CC, não podem casar os ascendentes com os descendentes de vínculo ou parentesco civil (CC, art. 1.593). Portanto, o adotante não pode contrair matrimônio com a adotada e vice-versa. Já o artigo 1.521, III, do CC, proíbe o casamento entre o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem foi cônjuge do adotante, por razões morais. O artigo 1.521, V, proíbe-se casamento do adotado com o filho do adotante, que terá, na família, a posição de irmão do adotado. 
Tal impedimento fica resolvido no de consanguinidade se aplicarmos o artigo 227, § 7º, da Constituição Federal e artigo 1.626, parágrafo único, do Código Civil, a proibir qualquer discriminação entre os filhos. 
2) Impedimento de vínculo (art. 1.521, VI): que deriva do princípio da bigamia. Assim, enquanto não dissolvido o vínculo matrimonial por morte, anulação, nulidade de casamento ou divórcio, não poderá haver segundo casamento;
3) Impedimento de crime: pelo artigo 1.521, VII não podem casar o cônjuge sobrevivente com o condenado como delinquente no homicídio ou tentativa de homicídio contra o seu consorte. Evidentemente que tal dispositivo diz respeito apenas ao homicídio doloso. No culposo não há intenção alguma de matar um consorte para casar com o outro. 
3.9. CAUSAS SUSPENSIVAS
Estabelecidas com o escopo de evitar a confusio sanguinis e a confusão de patrimônios, na hipótese de segundas núpcias, ou no interesse do nubente, presumivelmente influenciado pelo outro.
Assim, para evitar confusão de patrimônios, proíbe o Código Civil, no artigo 1.523, I, o casamento de viúvo ou viúva que tiver filho do cônjuge falecido, enquanto não fizer o inventário dos bens do casal e der partilha aos herdeiros. O viúvo ou viúva que desrespeitar tal dispositivo legal sofrerá as seguintes sanções: celebração do segundo casamento sob o regime de separação de bens (CC, art. 1.641, I) e hipoteca legal de seus imóveis em favor dos filhos (CC, art. 1.489, II). Porém, se provada a inexistência de prejuízo aos herdeiros (CC, art. 1.523, parágrafo único), tais sanções deixarão de ser aplicadas. 
Para evitar a confusão de sangue, proíbe o Código Civil, no artigo 1.523, II, o casamento de viúva ou de mulher cujo matrimônio se desfez por ser nulo ou por ter sido anulado, até 10 meses depois do começo da viuvez, ou da dissolução da sociedade e do vínculo conjugal, salvo se antes de findo esse prazo provar a inexistência da gravidez ou parir algum filho (CC, art. 1.523, parágrafo único). Tal dispositivo legal quer evitar a incerteza da paternidade. Imaginemos a viúva, três meses depois da morte do primeiro marido, convolando núpcias. Porém, no 7º meses desse segundo casamento nasce um filho. Dúvida resta acerca da paternidade, se o falecido ou do segundo marido. A violação desse preceito acarreta a obrigatoriedade do regime de separação de bens (art. 1.641, I, do CC).
Também para evitar confusão de patrimônio da antiga com o da nova sociedade conjugal, não deve casar o divorciado enquanto não homologada ou decidida a partilha dos bens do casal (CC, art. 1.523, III), sob pena de ter de se adotar o regime obrigatório de separação de bens (CC, art. 1.641, I), salvo se demonstrar que não haverá qualquer dano ao ex-cônjuge (CC, art. 1.523, parágrafo único). 
O artigo 1.523, IV, do Código Civil afirma que não podem casar “o tutor ou curador e os seus descendentes, ascendentes, irmãos, cunhados ou sobrinhos, com a pessoa tutelada ou curatelada, enquanto não cessar a tutela ou curatela, e não estiverem saldadas as respectivas contas”. Evita-se, com tal norma, que o administrador dos bens do incapaz possa encontrar no casamento um meio de se ver livre da prestação de contas, judicialmente, se dilapidou o patrimônio daquela que estava em poder dele. Violado esse preceito, a consequência também será a obrigatoriedade do regime de separação de bens (CC, art. 1.641, I), salvo comprovação de inexistência de prejuízo para o tutelado ou curatelado (CC, art. 1.523, parágrafo único). 
3.10. OPOSIÇÃO DOS IMPEDIMENTOS MATRIMONIAIS E DAS CAUSAS SUSPENSIVAS
Opor impedimentos matrimoniais é permitir que a pessoa legitimada a tanto leve ao conhecimento do oficial perante o qual se processa a habilitação ou do juiz que celebra a solenidade, a existência de um dos impedimentos previstos nos artigos 1.521 ou das causas suspensivas do art. 1.523 do Código Civil. 
Assim, os impedimentos (art.1.521, inciso I a VII do Código Civil), por interessar à coletividade, podem ser suscitados, ex officio pelas seguintes pessoas: oficial do registro civil; pelo juiz de paz ou por quem presidir à celebração do casamento (CC, art. 1.522, parágrafo único); pelo Ministério Público. Também qualquer pessoa maior e capaz poderá apresentar, até o momento de celebração do casamento, declaração escrita, com sua assinatura, anexando as provas do fato que alegar (CC, arts. 1.522 e 1.529). Caso o oponente, que deverá ser maior e capaz, não puder instruir a oposição com as provas, deverá indicar o lugar onde existam ou possam ser obtidas (CC, art. 1.529, parte final).
As causas suspensivas (art. 1.523, I a IV) interessam exclusivamente à família. Portanto, tem legitimação para ofertá-las: os parentes, em linha reta (ascendentes ou descendentes), de um dos nubentes, por consanguinidade ou afinidade; pelos colaterais, em segundo grau (irmãos e cunhados), por consanguinidade ou afinidade (art. 1.524, CC). Neste caso, com a oposição deverá haver comprovação de parentesco do oponente com uma ou ambas as partes. 
As causas suspensivas podem ser ofertadas durante o processo de habilitação. Assim, com a publicação dos proclamas, os interessados, acima aludidos, podem opô-las no prazo de 15 dias (CC, art. 1.527). Os impedimentos podem ser opostos até o momento da celebração das núpcias (CC, art. 1.522). Nesta hipótese, a autoridade, que preside ao ato, suspende-o, de imediato, sem examinar se a oposição é regular ou irregular e se o impedimento é procedente ou não. 
Processamento da oposição: o oficial do Registro Civil receberá a declaração escrita do impedimento ou causa suspensiva, se apresentadas com os requisitos legais. Após, dará ciência do fato aos nubentes, ou a seus representantes legais, indicando os fundamentos, as provas, e, se o impedimento não foi ofertado de ofício, o nome do oponente (CC, art. 1.530) para que requeiram prazo razoável para fazer a prova contrária ao fato alegado e promover as ações civis e criminais contra o oponente de má-fé (CC, art. 1.530, parágrafo único). Depois, o oficial do Registro Civil remeterá os autos a juízo. Produzidas as provas pelo oponente e pelos nubentes, no prazo de 10 dias, com ciência do Ministério Público, e ouvidos os interessados e o órgão do Ministério Público, em 5 dias, o juiz decidirá em igual prazo, se a oposição procede ou não (Lei 6.015/73, art. 67, § 5º). Entretanto, esta decisão não faz coisa julgada. Assim, se julgado improcedente o pedido de oposição, nada impede que o assunto seja reexaminado na ação de nulidade baseada no mesmo impedimento. 
Nota-se que, pelo art. 1.530, parágrafo único, do Código Civil, o oponente poderá sofrer ações civis ou criminais, se agiu, ao ofertar a oposição, de má-fé. Assim, deverá reparar os danos morais ou patrimoniais que causar com seu comportamento leviano (art. 186, do C). 
Formalidades preliminares à celebração do casamento
	O casamento é ato burocrático, considerando 	que o Estado exige o cumprimento de diversas etapas, que antecedem às núpcias, evitando, com tais exigências, principalmente a celebração de casamentos nulos. Assim, será através doparte ré.”.
Portanto, os alimentos gravídicos são devidos até o momento do nascimento da criança, quando ocorre, então, a conversão automática destes alimentos em pensão alimentícia, em prol do nascido. Portanto, neste caso a mãe deverá apresentar a certidão de nascimento da criança, que passa a ser autora da ação, representada pela mãe, que até então era a legitimada passiva. 
Como pensão alimentícia que é, após o nascimento da criança, estes alimentos podem ser revistos, a qualquer momento, para mais ou para menos, havendo fato superveniente a modificar o binômino possibilidade necessidade. 
O art. 7º da Lei de alimentos determina a citação do réu, com prazo de 5 (cinco) dias para resposta. Vetados os arts. 8º, 9º e 10º, o art. 11 deixa expresso que “aplicam-se supletivamente nos processos regulados por esta Lei as disposições das Leis nos 5.478, de 25 de julho de 1968” e o Código de Processo Civil. 
Na verdade, o legislador poderia deixar que o assunto fosse regulado todo pela lei de alimentos, ou seja, o juiz fixava os alimentos provisórios gravídicos, ao despachar a inicial, e já marcaria audiência de instrução e julgamento, em razão da necessária celeridade desta ação. Assim, pelo rito ditado pela lei em análise o réu terá o prazo de 5 (cinco) dia para contestação e, depois, aplica-se o procedimento comum, ou seja, após a contestação vêm a réplica, especificação de prova, saneador, audiência de instrução e julgamento. 
Outra questão a ser superada, em razão desta lei, é a seguinte: nascida a criança, os alimentos gravídicos passam a ser alimentos, vem a sentença e o pai continua pagando-os por 05 (cinco) anos, por exemplo. Nota-se que a ação de alimentos gravídicos não foi cumulada com a ação declaratória de paternidade. Depois de pagar alimentos, por 05 (cinco) anos, o alimentante morre. Nesta hipótese, haverá necessidade de propositura de ação declaratória de paternidade? Pensamos que não. Basta, neste caso, o alimentado comparecer nos autos da ação de alimentos gravídicos e requerer que o juiz oficie ao cartório de registro de pessoas naturais para incluir o nome do alimentante como pai do credor, bem como o nome dos avós paternos. 
Para tanto, basta socorrermos da revogada lei n. 883/43, que permitiu a propositura de alimentos contra pai casado. Na época não era possível o reconhecimento de paternidade contra homem casado. Assim, era ofertada apenas ação de alimentos. E, nos autos da ação de alimentos, no caso de o suposto pai separar, enviuvar ou morrer, possível era que, naqueles mesmos autos, o juiz determinasse que fosse incluído o nome do alimentante como pai do alimentado. Nota-se que a situação á praticamente o mesmo. Portanto, a jurisprudência que era aplicada com relação à lei 883/43 pode ser aplicada também à lei de alimentos gravídicos. 
Na verdade, na ação de alimentos se discute é a paternidade. A relação jurídica é de filiação. Depois, caso o pai não considerasse o menor como filho, que ajuizasse ação negatória de paternidade. Se não o fez, imediatamente ao nascimento da alimentado ou a qualquer tempo, cada mês que passou, pagando alimentos, reforçava a situação de pai do alimentante. 
Ação de exigir contas de verba alimentar. 
A antiga ação de prestação contas é, pelo atual CPC, ação de exigir contas (arts. 539 a 770). E, apesar do princípio da irrepetibilidade da verba alimentar, o art.1.589 do Código Civil acabou por permitir a ação de contas de alimentos, como uma maneira de fiscalizar como a guardiã utiliza dos recursos destinados ao sustentos dos menores e não para apurar possíveis créditos, em favor do alimentante.
Determina o § 5º do art. 1.583, do Código Civil, que “A guarda unilateral obriga o pai ou a mãe que não a detenha a supervisionar os interesses dos filhos, e, para possibilitar tal supervisão, qualquer dos genitores sempre será parte legítima para solicitar informações e/ou prestação de contas, objetivas ou subjetivas, em assuntos ou situações que direta ou indiretamente afetem a saúde física e psicológica e a educação de seus filhos.”. 
Portanto, a legitimidade ativa do alimentante para exigir a prestação de conta da verba alimentar é com relação ao guardião ou guardião apenas. Não poderá a ação ser proposta pelo ex-marido, se a pensão é devida à ex-mulher, exclusivamente, nem o pai contra a filha, se pagar pensão diretamente à mesma. Neste caso, a discussão pode ser enfrentada em outras ações, como a ação revisional ou exoneratória, por exemplo.
Porém, ressalte-se que, primeiramente o legislador, na ânsia desesperada de eleger a guarda compartilhada como a melhor de todas, não fez a necessária distinção em genitores e pais. Genitores são os que apenas geraram os filhos. Pais sãos os que, gerando ou não, também amam os filhos, tem afeto para com eles. 
Depois, há que conciliar a proposta de poder o outro cônjuge, que não detém a guarda dos filhos, de prestar alimentos, com a ação de prestação de contas (na verdade e pelo atual CPC ação de exigir contas – art. 550) que, como sabido, tem o objetivo de apurar saldo credor em favor do autor, que, se procedente o pedido, depois executará o réu, percebendo o dinheiro desviado, com o princípio da irrepetibilidade, eis que se procedente o pedido lançado na ação de exigir contas o pai também estaria recebendo, de volta, o que pago e que era crédito do filho. 
Na verdade, se o pai, por exemplo, paga alimentos ao filho, que está sob a guarda da mãe, que está desviando dinheiro e deixando de pagar as prestações mensais e rotineiras do filho (escola, plano de saúde, conta de luz, água etc), possível é a ação de prestação de contas, desde que ocorram duas hipóteses: a) o pai comprove que pagou a escola, a luz ou a água, para evitar que o filho fosse proibido de estudar ou para que não ocorresse o corte de tais serviços. Assim, o pai poderá ajuizar ação de exigir contas, contra a mãe, para que ela demonstra que o dinheiro não foi desviado. Comprovado o desvio, será ele credor de tais quantias, reconhecidas na ação de prestação de contas; b) as despesas mensais, antes exemplificadas, não foram pagas. Assim, o pai demonstra que há um crédito em prol do filho e a mãe deverá repô-la, ficando sob a responsabilidade de o pai pagar aquele valor. Evidentemente que, para essas hipóteses, necessário que os alimentos sejam fixados exclusivamente em favor dos filhos ou que, se também a mãe for credora, sejam estipulados intuitu personae.
Ressalta-se que dependendo do modo como a pensão alimentícia é administrata pelo guardião ou guardiã, poderá ensejar a propostura de declaratória de alienação parental ou de suspensão ou até mesmo destituição da autoridade parental. 
Permitindo a ação de exigir conta, na qual em primeira instância os autos do processo foram extintos, sem enfrentamento de mérito, e que deve a sentença terminativa cassada, de destacar-se que seguinte ementa: 
Prestação de contas. Alimentos. Fixação no montante de R$ 9.000,00, reajustável de acordo com a variação do salário mínimo. Sentença extintiva. Irresignação. Acolhimento. Ação proposta pelo alimentante em face da genitora dos alimentandos, visando a prestação de contas da pensão alimentícia destinada aos filhos comuns. Legitimidade ad causam, interesse de agir e possibilidade jurídica do pedido reconhecidos. Exegese do art. 1.583, § 5º, do Código Civil. Precedentes. Extinção afastada. Recurso provido.
 
(TJ-SP - APL: 10220841620168260002 SP 1022084-16.2016.8.26.0002, Relator: Rômolo Russo, Data de Julgamento: 16/12/2016, 7ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 16/12/2016)
 
Ação revisional e exoneratória de verba alimentícia. 
Tais ações estão previstas, no art. 1.699 do Código Civil, ao determinar que, “se fixados os alimentos, sobrevier mudança na situação financeira de quem os supre,ou na de quem os recebe, poderá o interessado reclamar ao juiz, conforme as circunstâncias, exoneração, redução ou majoração do encargo.”.
É por tal razão que se fala que os alimentos apenas transitam formalmente em julgado, ou seja: não podem ser

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