Prévia do material em texto
B IO L O G IA T E C ID U A L E D E S E N V O L V IM E N T O H U M A N O FAMETRO Av. Djalma Batista, Nossa Sra. das Gracas. Manaus, AM Todos os direitos reservados © FAMETRO IME Instituto Metropolitano de Ensino Ltda Wellington Lins de Albuquerque | Presidente - IME Cinara da Silva Cardoso | Reitora Wellington Lins de Albuquerque Júnior | Vice-Reitor Iyad Amado Hajoj | Diretor de EaD e Expansão Leonardo Florêncio da Silva | Diretor Editorial e Gestor de EaD Ana Maria Oliveira de Araújo | Coordenação Pedagógica EaD Luciana Braga | Projeto Gráfico e Direção de Arte Ana Augusta de Oliveira Simas | Supervisora de Produção e Revisora Leandro Carvalho | Revisor Imagens | depositphotos.com "Este material literário é de uso pessoal e intransferível do aluno FAMETRO Digital e, portanto, possui finalidades exclusivamente pedagógica e institucional, vedada em qualquer hipótese a sua comercialização, sob pena da aplicação das sanções previstas no Regimento Interno do Grupo FAMETRO e demais penalidades cabíveis pela legislação brasileira." Pa la vr a da R ei to ra “É a educação que faz o futuro parecer um lugar de esperança e transformação”. (Marianna Moreno) “Sejam todos e todas bem-vindos ao EaD do Centro Universitário Fametro” O Centro Universitário Fametro acredita que o papel de uma instituição de ensino é formar não apenas profissionais, mas também formar profissionais no Ensino Superior, com valores éticos, humanísticos e com respeito ao meio ambiente capazes de contribuir para o desenvolvimento da nossa Amazônia. A Fametro, portanto, tem premissas claras a cumprir como instituição de ensino de qualidade. Praticar o ensino, pesquisa e extensão é a sua principal bandeira. A Fametro, ao longo das últimas duas décadas, vem se consolidando como a melhor instituição de ensino do Norte, um espaço democrático e docentes com variadas visões de mundo. Somos uma instituição de ensino plural que avança a cada ano em busca sempre de desenvolver a economia da Amazônia. Nossa estrutura é moderna, estamos em diversos municípios levando uma educação inclusiva e de qualidade. Conheça o Centro Universitário Fametro e viva a experiência em estudar numa instituição com o corpo docente com mestres e doutores e de qualidade de ensino comprovada pelo MEC. Maria do Carmo Seffair Reitora UNIDADE I - CONCEITOS BÁSICOS EM ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO Carboidratos Lipídios Proteínas Su m ár io 19 27 34 UNIDADE II - CONCEITO, CLASSIFICAÇÃO, FUNÇÕES, CARÊNCIA, EXCESSO E PROPRIEDADES DAS FIBRAS E ÁGUA Fibras Água Micronutrientes Minerais Macrominerais UNIDADE III - LEIS DA ALIMENTAÇÃO E PIRÂMIDE ALIMENTAR Guias Alimentares Pirâmide Alimentar Porções da nova Pirâmide Alimentar 45 49 52 59 60 71 72 73 UNIDADE IV - DRIs Tabelas de composição de alimentos Alimentos Funcionais Legislação brasileira Fitoterápicos Referências Caderno de Exercícios 88 91 92 97 99 103 U ni da de 1 Videoaula 1 Videoaula 2 13 Todos os organismos ne- cessitam de energia para realizar suas funções vitais. Diferentes das plantas que são capazes de produ- zir seu próprio alimento (autótro- fos), os seres humanos dependem de uma alimentação variada que contenha todos os nutrientes em quantidade e qualidade adequadas (heterótrofos). A alimentação é as- sim considerada um dos elementos essenciais à manutenção da vida, mas nem sempre que nos alimen- tamos estamos, necessariamente, contribuindo para uma adequada nutrição. CONCEITOS BÁSICOS EM ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO 14 Anotações: Com o objetivo de esclarecer quaisquer dúvi- das a respeito do assunto, neste livro são apresen- tados os conceitos a seguir: • ALIMENTAÇÃO — ação voluntária e consciente de receber, ingerir alimentos. • ALIMENTO — toda substância ou mistura de substâncias que fornece ao organismo os nutrientes necessários à sua formação, manutenção e desenvolvimento. Para o ser humano, além da função biológica, os alimentos possuem funções psicológicas, sociais e culturais. • ALIMENTO FUNCIONAL — alimento que, além dos nutrientes, contém compos- tos bioativos e, quando consumido como parte de uma alimentação saudável, pode trazer benefícios específicos em relação à prevenção de doenças. Exemplo: leite fer- mentado contendo probióticos. • ALIMENTO INTEGRAL — aquele que man- teve o máximo possível de suas caracte- rísticas nutricionais no processo de indus- trialização, tais como o arroz integral e o leite integral. • ALIMENTO ORGÂNICO — produzido sem agrotóxicos e por meio de um sistema de produção agrícola que busca manejar, de forma equilibrada, o meio ambiente. • ALIMENTO TRANSGÊNICO — resultante da modificação em laboratório da sua com- posição genética, a qual é responsável pe- las características de cada organismo. • ALIMENTOS CONSTRUTORES — têm fun- ção plástica, isto é, mantêm os processos 15 Anotações:orgânicos de crescimento, desenvolvi- mento e de reparação dos tecidos, repre- sentados principalmente por alimentos ricos em proteínas. • ALIMENTOS ENERGÉTICOS — possuem função essencialmente energética, repre- sentados principalmente por alimentos ri- cos em lipídios e carboidratos. • ALIMENTOS REGULADORES — favorecem e aceleram as diversas atividades bioló- gicas no organismo, representados por alimentos ricos em vitaminas, minerais, fibras e água. • ANABOLISMO — síntese enzimática de bio- moléculas complexas a partir de seus pre- cursores. Exige energia. • ATP — adenosina trifosfato é o transdutor universal de energia nos processos celula- res. • CALORIA — também chamada de peque- na caloria, é a unidade-padrão para medir calor, usada em nutrição para indicar um equivalente energético. Do ponto de vista físico-químico, representa a quantidade de energia necessária para elevar de 14,5º C para 15,5º C a temperatura de 1 g de água. • CATABOLISMO — degradação enzimática através de reações oxidativas nas quais moléculas grandes são reduzidas a molé- culas menores, liberando energia. • COMPOSTOS BIOATIVOS — substâncias na- turalmente presentes nos alimentos, mas ainda não consideradas nutrientes. Têm sido apontadas pelos estudos científicos 16 Anotações: como importantes, principalmente na pre- venção e redução do risco de doenças. • DIET — termo usado em alguns alimentos para fins especiais, direcionados para um público com condições metabólicas espe- cíficas como, por exemplo, diabéticos e hipertensos. Nem todo produto dietético é isento de açúcar, havendo a necessidade de sempre consultar seu rótulo. • DIETA — conjunto de alimentos sólidos e líquidos consumidos por um indivíduo ou por um grupo populacional, expresso em média para um determinado período. • LIGHT — termo que indica uma informação nutricional complementar de um produto de consumo geral da população que foi re- duzido em valor energético ou em algum nutriente em comparação com outro. Para ser considerado light, o produto deve ter redução significativa de, pelo menos, 25% no valor energético ou no conteúdo do nu- triente objeto da alegação em relação ao produto convencional. • METABOLISMO — conjunto de processos químicos realizados por um organismo ou uma célula. O metabolismo é um processo dinâmico, no qual o catabolismo e o ana- bolismo ocorrem simultaneamente. • NUTRIÇÃO — ação involuntária e incons- ciente, sendo um conjunto de processos por meio dos quais todos os organismos vivos recebem e utilizam os nutrientes necessários para sua manutenção, de- senvolvimento e funcionamento orgânico normal. 17 Anotações:• NUTRIÇÃO COMO CIÊNCIA — ciência que tem como objetos de estudo os alimentos, o ser humano e a utilização dos alimentos por ele no sentido de prevenir doenças, manter e recuperar a saúde. • NUTRIENTE — composto orgânico ou inor- gânico contido nos alimentos, responsá- vel pela manutenção de todas as reações bioquímicas necessárias para o pleno fun- cionamento dodeve ser quantitativamente suficiente, qualitativamente completa, harmoniosa em seus componentes e adequada à sua finalidade e ao organismo a que se destina. GUIAS ALIMENTARES Guias Alimentares são instrumentos que defi- nem as diretrizes utilizadas na orientação de esco- lhas alimentares saudáveis pela população, visan- do a promoção da saúde e prevenção de doenças. Existem vários formatos: pirâmide, roda e arco-íris. A pirâmide alimentar foi desenvolvida em 1992 pelo Departamento da Agricultura nos Estados Uni- dos (USDA), sendo uma forma clara e objetiva de como alcançar as necessidades de calorias e nu- trientes da população utilizando seus alimentos ha- bituais. Alimentos na base da pirâmide são as fontes primárias, ou seja, que devem estar presentes em maior quantidade, enquanto seu topo é constituí- do por alimentos que devem ser moderados ou até mesmo evitados. A Pirâmide Alimentar encoraja os princípios bá- sicos de uma dieta saudável, apresentados a serguir: VARIEDADE: não há um único alimento que forneça todos os nutrientes necessários. Uma dieta variada inclui alimentos diferentes de todos os gru- pos para atender às recomendações nutricionais. EQUILÍBRIO: uma dieta equilibrada incorpora diariamente as quantidades apropriadas dos 5 gru- pos de alimentos, provendo as calorias e nutrientes 72 Anotações: necessários. A idade, o gênero e o nível de atividade física podem alterar o número de porções necessá- rias para uma dieta balanceada. MODERAÇÃO: todos os alimentos podem ser consumidos, desde que haja moderação na ingestão. PIRÂMIDE ALIMENTAR Figura 1: Pirâmide Alimentar Fonte: Em 2005 foi publicada a nova pirâmide ali- mentar pela Harvard School of Public Health (Esta- dos Unidos). Dentre as principais modificações ocorridas na nova pirâmide estão: • A prática de exercícios físicos, a hidrata- ção e o controle de peso corporal foram incluídos na base da pirâmide; 73 Anotações:• Os pães, arroz e massas à base de farinhas refinadas foram substituídos pelos inte- grais; • As gorduras mono e poliinsaturadas na forma de óleos vegetais, nozes e casta- nhas receberam destaque; • As leguminosas, frutos oleaginosos, nozes e castanhas ganharam espaço acima das frutas e hortaliças; • As carnes vermelhas foram separadas do grupo das carnes brancas e ovos, sendo colocadas no topo da pirâmide; • Os pães, arroz e massas à base de farinhas refinadas foram para o topo junto com as guloseimas; • Junto com o grupo dos laticínios (magros), foi incluída a opção de suplemento de cál- cio e vitamina D; e • Uso de suplementos de vitaminas e mi- nerais, bem como uma pequena dose de bebida alcoólica, foram inclusos com res- salvas. PORÇÕES DA NOVA PIRÂMIDE ALIMENTAR • Pães, arroz, cereais e massas – nas princi- pais refeições. • Óleos vegetais – no preparo dos alimentos. • Vegetais – à vontade. • Frutas – 2 a 3 porções. • Leguminosas e oleaginosos – 3 porções. • Carnes, aves, peixes, ovos, feijões e nozes 74 Anotações: – até 2 porções. • Leite e derivados – 1 a 2 porções. • Carne vermelha, gordura saturada, pães, arroz e massas à base de farinhas refina- das – 1 a 2 porções. Nova Pirâmide Alimentar Figura 2: Nova Pirâmide Alimentar Fonte: Guia alimentar para a população brasileira e grupos alimentares É uma publicação do Ministério da Saúde que contém as diretrizes oficiais sobre hábitos alimentares saudáveis para a nossa população. O guia pode ser utilizado como um instrumento de Educação Alimentar e Nutricional para promover a saúde de pessoas, famílias e comunidades. 75 Anotações:Figura 3: Nova Pirâmide Alimentar Fonte: O Guia Alimentar para a População explica que existe um grau de processamento dos alimentos. A partir disso, pode-se começar a escolher melhor o que comer no dia a dia e, consequentemente, ter mais saúde com a mudança de hábito. São 4 as ca- tegorias de alimentos defi nidas no Guia Alimentar. Depois de aprender a identifi car quais são elas, de- ve-se entender sobre uma regra de ouro que ajuda- rá a organizar a rotina alimentar. A primeira categoria são os alimentos in na- tura ou minimamente processados. Os alimen- tos in natura são aqueles obtidos diretamente de plantas ou de animais (como folhas e frutos ou ovos e leite) e adquiridos para consumo sem que tenham sofrido qualquer alteração após deixarem 76 a natureza. Os alimentos minimamente processa- dos são alimentos in natura que, antes de sua aqui- sição, foram submetidos a alterações mínimas. Incluem grãos secos, polidos e empacotados ou moídos na forma de farinhas,raízes e tubércu- los lavados,cortes de carne resfriados ou conge- lados e leite pasteurizado. A segunda categoria corresponde a produ- tos extraídos de alimentos in natura ou diretamen- te da natureza e usados pelas pessoas para tem- perar e cozinhar alimentos e criar preparações culinárias. Exemplos desses produtos são óleos, gorduras, açúcar e sal. A terceira categoria corresponde a pro- dutos fabricados essencialmente com a adi- ção de sal ou açúcar a um alimento in natura ou minimamente processado, como legumes em con- serva, frutas em calda, queijos e pães. A quarta categoria corresponde a produ- tos que passaram por diversas etapas e técni- cas de processamento. Exemplos dela incluem re- frigerantes, biscoitos recheados, salgadinhos de pacote e macarrão instantâneo. IN NATURA: obtidos diretamente de plantas ou de animais sem que tenham sofrido qualquer alteração. MINIMAMENTE PROCESSADOS: são alimentos in natura que, antes de sua aquisição, foram submetidos a altera- ções mínimas. ÓLEOS, GORDURAS, SAL E AÇÚCAR Produtos extraídos de alimentos in na- tura ou diretamente da natureza e usa- dos para criar preparações culinárias. 77 Alimentação é mais que ingestão de nutrien- tes. Os alimentos podem ser divididos em 9 grupos: ALIMENTOS PROCESSADOS Produtos fabricados essencialmente com a adição de sal ou açúcar a um ali- mento in natura ou minimamente pro- cessado. ALIMENTOS ULTRAPROCESSADOS Produtos cuja fabricação envolve di- versas etapas, técnicas de processa- mento e ingredientes, muitos deles de exclusivamente industrial. Feijões e demais leguminosas Cereais Raízes e tubérculos Frutas Leites e iogurtes Legumes e verduras Castanhas Carnes e ovos Água 78 DEZ REGRAS PARA COMER MELHOR: MINISTÉRIO DA SAÚDE 1. Faça alimentos in natura ou minimamente processados a base de sua alimentação. 2. Dê preferência, quando fora de casa, a lo- cais que servem refeições feitas na hora. 3. Coma com regularidade e atenção em am- bientes apropriados e, sempre que possí- vel, com companhia. 4. Planeje o uso do tempo para dar à alimen- tação o espaço que ela merece. 5. Faça compras em locais que ofertem va- riedades de alimentos in natura ou mini- mamente processados. 6. Desenvolva, exercite e partilhe habilida- des culinárias. 7. Utilize óleos, gorduras, sal e açúcar em pequenas quantidades ao temperar e co- zinhar alimentos ou criar preparações culinárias. 8. Seja crítico quanto a informações, orien- tações e mensagens sobre alimentação veiculadas em propagandas comerciais. 9. Evite o consumo de alimentos ultraprocessados. 10. Limite o consumo de alimen- tos processados. 79 U ni da de 4 Videoaula 1 Videoaula 3 Videoaula 2 Videoaula 4 82 83 A primeira referência para ingestão de nutrientes deu-se em 1938, no Canadá - elaborada pela Canadian Council on Nutri- tion. Em 1941, a Academia Na- cional de Ciências dos Estados Unidos formulou a RDA (Recom- mended Dietary Allowances), que foi revisada até 1989. Em 1942, o Canadá adotou a RDA (USA) de 1941 mas, em 1945, devido a dife-renças de interpretações, foram elaboradas as RNI, sendo que sua última revisão ocorreu em 1990. DRIs 84 Anotações: As RDI constituem um grupo de 4 valores de referência de ingestão de nutrientes formulados pelos EUA e Canadá, publicadas desde 1997. Vieram substituir com maior abrangência as RDA, podendo ser usadas para planejar dietas, definir rotulagem e planejar programas de orientação nutricional. As principais diferenças conceituais entre RDA e DRI são: • A RDA considerava somente a promoção do crescimento e ausência de sinais de deficiência; • Para a construção dos valores das DRI, foi considerada também a redução do risco de doenças crônicas não-transmissíveis; • Quando se dispunha de dados, foi incluída a recomendação de que a ingestão diária não ultrapasse um limite máximo para pre- venir efeitos adversos; • A comissão optou por relatar os nutrientes por grupos correlatos; • Devido a ações biológicas variadas, foram incluídos componentes dos alimentos não classificados como nutrientes pela litera- tura, tal como a colina. Dentre as novidades das DRIs destacam-se: • Término da faixa etária de “crianças” na idade dos 8 anos, para iniciar a faixa de “homens” e “mulheres” com 9 a 13 anos.; • Criação de mais duas faixas para pessoas entre 51 e 70 e acima de 71 anos. O termo “estágio de vida”, por ser mais abrangente, substitui o termo “faixa etária”; • Diminuição das recomendações de cálcio para crianças menores e aumento para jo- 85 Anotações:vens de até 18 anos; • Diminuição para a maioria das recomen- dações de fósforo; • Aumentos moderados para quase todos as recomendações de magnésio, assim como aumentos médios (50%) para vitamina C e consideráveis (próximos de 100%) para ácido fólico; • Diminuições discretas em todas as faixas e categorias para as vitaminas B1, B2, nia- cina, B6 e vitamina D; e • Inclusão do fluoreto, ácido pantotênico, biotina e colina na tabela geral. As DRIs possuem 4 níveis de referências, que são: EAR (Estimated Average Requirement) Traduzida como Recomendação Média Es- timada, representa a ingestão de nutrientes que atende à recomendação de 50% dos indivíduos saudáveis. Inclui um ajuste para a biodisponibilida- de do nutriente. É utilizada para avaliar a adequa- ção da ingestão de grupos. RDA (Recommended Dietary Allowance) Traduzida como Recomendação Diária Ade- quada, representa a média de ingestão diária de nu- trientes suficientes para atender à recomendação de praticamente todos (97 a 98%) indivíduos sau- dáveis. A RDA se aplica ao indivíduo, não a grupos, sendo calculada por: 86 RDA= EAR + 2 SD RDA= EAR + 2 (EAR x 0,1) AI (Adequate Intake) Traduzida como Ingestão Adequada, foi ba- seada em estimativas de ingestões observadas ou determinadas experimentalmente de um grupo de indivíduos saudáveis. É utilizada quando a RDA não pode ser determinada. UL (Tolerable Upper Intake Level) Traduzida como Nível Tolerável de Maior Inges- tão, representa o valor médio mais alto de ingestão diária de um nutriente que supostamente não coloca os indivíduos em risco de efeitos adversos à saúde. O termo “ingestão tolerável” foi utilizado para evitar a implicação de possíveis efeitos benéfi cos desta alta ingestão. Se o UL não puder ser determinado, isto não implica em não existência de potencial para efeitos adversos. Quando os dados forem muito limi- tados, deve-se tomar ainda mais precaução. Figura 4: Representação dos 4 níveis de referências das DRIs Fonte: 87 Acceptable Macronutrient Distribution Range (AMDR), ou Alcance de Distribuição de Macronutrien- tes Aceitável representa o alcance de ingestão de um nutriente para uma fonte de Energia particular, como carboidrato, proteína e gordura. Está associa- do ao risco reduzido de doença crônica relacionado à ingestão desses nutrientes essenciais. O consumo acima da AMDR pode aumentar potencialmente o risco de doenças crônicas, enquanto que o consumo abaixo da AMDR pode causar ingestão insuficiente de nutrientes essenciais. Variação aceitável de distribuição de macronutrientes Carboidratos: 45 a 65% Proteínas: 10 a 35% Lipídeos: 20 a 35% Tabela 1: RDA e AI dos micronutrientes. Fonte: 88 As DRIs devem ser utilizadas com muita cau- tela em nosso meio, pois se baseiam nas necessi- dades da população dos EUA e do Canadá. Outra limitação é que como não dispomos de dados atuali- zados de inquéritos dietéticos da nossa população, não é possível conhecer a variabilidade intrapes- soal na ingestão dos vários nutrientes. Portanto, a avaliação da adequação nutricional deve levar sem- pre em consideração outros parâmetros biológicos relacionados ao nutriente analisado. Tabela 2: RDA e AI dos micronutrientes Fonte: TABELAS DE COMPOSIÇÃO DE ALIMENTOS Avaliar a composição dos alimentos consumi- dos é uma tarefa complexa devido às dificuldades na coleta dos dados e na conversão dos alimentos em quantidades de energia e de nutrientes. A aná- lise dos alimentos pode ser feita por meio de análi- 89 Anotações:ses químicas em laboratórios e de tabelas de com- posição de alimentos. As informações contidas nas tabelas de com- posição de alimentos podem ser usadas em diver- sas atividades relevantes na nutrição, na economia e saúde coletiva, tais como: programas de educa- ção nutricional, controle da qualidade e segurança dos alimentos, avaliação e adequação do consumo alimentar individual e populacional, organização de metas nutricionais e rotulagem de alimentos, de- senvolvimento de novos produtos, e na promoção da comercialização nacional e internacional de ali- mentos. Além disso, são necessárias ao estudo da relação entre a dieta e os riscos de doenças, sendo fundamentais na área da epidemiologia nutricional. A obtenção dos dados de composição de ali- mentos pode ser feita através da realização de aná- lises laboratoriais, nas quais os nutrientes têm suas quantidades determinadas, o que é o ideal. Porém, representa um alto custo e uma tarefa trabalhosa, além de exigir infraestrutura complexa. Uma outra forma seria através da compilação de dados existentes em outras publicações, o que, apesar de válido, pode reproduzir erros de análises. A compilação exige ainda uma complexa base te- órica, com critérios pré-estabelecidos em relação ao número de amostras, plano de amostragem, tra- tamento da amostra, método analítico, controle de qualidade analítica, informações detalhadas sobre a identificação do alimento/nutriente, fator de con- versão, entre outros. Dentre as tabelas mais usadas no Brasil, des- tacam-se: • Tabela de Composição de Alimentos: su- porte para a Decisão Nutricional – Philippi; 90 Anotações: • Tabela Brasileira de Composição de Ali- mentos (TACO) – UnB; • Estudo Nacional da Despesa Familiar. Ta- bela de composição de alimentos- Funda- ção Instituto Brasileiro de Geografia e Es- tatística (IBGE); • Tabela de Composição Química dos Ali- mentos - Guilherme Franco; • TBCAUSP (Tabela Brasileira de Composi- ção de alimentos – Projeto integrado de composição de alimentos) – USP e BRA- SILFOODS (Rede Brasileira de Sistema de dados em alimentos); • TABNUT – (Tabela de Composição Química de Alimentos) – Escola Paulista de Medici- na/UNIFESP – USDA. As tabelas podem apresentar as informações de análise dos alimentos sob a forma de composição centesimal de cada alimento, ou seja, na proporção em 100g de produto considerado ou no formato de medidas caseiras, considerando as porções nor- malmente consumidas. Os resultados podem ainda ser apresentados em relação ao alimento integral ou em relação a sua matéria seca. As tabelas precisam ser confiáveis, atualiza- das e mais completas possíveis, baseadas em aná- lises bem conduzidas, com plano de amostragem representativo e métodos validados, de modo a produzir informações que verdadeiramente repre-sentem a composição dos alimentos consumidos. 91 Anotações:ALIMENTOS FUNCIONAIS Hipócrates, há cerca de 2500 anos já pregava em uma de suas célebres frases: “que seu remédio seja seu alimento e que seu alimento seja seu re- médio”. O conceito de alimentos funcionais foi intro- duzido pelo governo do Japão nos anos 80 com o objetivo de reduzir os recursos financeiros dispen- sados com a saúde pública e conter os avanços das doenças crônicas. Foram definidos como “Ali- mentos para uso específico de saúde”, ou Foods for Specified Health Use – FOSHU, tendo sua legislação elaborada em 1997. Em 1998, a Comissão Europeia, coordenada pelo International Life Sciense Institute Europe (ILSI), criou o Projeto Ciência dos Alimentos Fun- cionais na Europa (Functional Food Sciense in Euro- pe - FUFOSE), apresentando, na época, uma forma de relacionar as alegações aos alimentos funcio- nais com sólidas evidências científicas. Nos anos 90, o conceito de alimentos funcio- nais começou a ser difundido nos Estados Unidos a partir dos investimentos nas pesquisas com cân- cer. Atualmente, vários países contam com uma legislação específica. O FDA (Food and Drug Admi- nistration) regula os alimentos funcionais basean- do-se no uso que se pretende dar ao produto, na descrição presente nos rótulos ou nos ingredientes desse. A partir destes critérios, o FDA classificou os alimentos funcionais em cinco categorias: • Alimento; • Suplementos alimentares; • Alimento para usos dietéticos especiais; e • Alimento-medicamento ou droga. 92 Anotações: A maioria dos países não possui uma defini- ção oficial, e nessa categoria engloba os alimentos que sofreram algum tipo de processamento e/ou alimentos in natura como frutas, legumes e cereais. LEGISLAÇÃO BRASILEIRA A legislação brasileira não define alimento funcional, somente as alegações. A legislação vi- gente aprovada pela ANVISA é a resolução N° 18, de 30 de abril de 1999, que define: ALEGAÇÃO DE PROPRIEDADE FUNCIONAL - “aquela relativa ao papel metabólico ou fisiológico que o nutriente ou não nutriente tem no crescimen- to, desenvolvimento, manutenção e outras funções normais do organismo humano”. ALEGAÇÃO DE PROPRIEDADE DE SAÚDE - “é aquela que afirma, sugere ou implica a existência da relação entre o alimento ou ingrediente com do- ença ou condição relacionada à saúde”. A Gerência Geral de Alimentos (GGALI) da An- visa avalia e comprova a segurança de uso e eficá- cia, e só então o alimento pode ser disponibilizado no mercado para consumo. Em consideração às alegações de propriedade funcional, desde que seu consumo esteja associado a uma alimentação equi- librada e hábitos de vida saudáveis, os alimentos podem auxiliar: • Na manutenção de níveis saudáveis de tri- glicerídeos; • Na proteção das células contra os radicais livres; • No funcionamento do intestino; 93 • Na redução da absorção do colesterol; e • No equilíbrio da flora intestinal, entre ou- tros. É importante ressaltar que as alegações não podem fazer referência ao tratamento, prevenção ou cura de doenças. Quadro 1: Alegações de Propriedades Funcionais e/ou de Saúde Aprovadas pela Anvisa Fonte: Adaptado de Brasil, 2016. Assim, entende-se que os alimentos funcio- nais são alimentos convencionais consumidos na dieta normal/usual, compostos por substâncias Classes Ingredientes Funcionais Benefícios Ácidos Graxos Ômega 3 Auxilia na manutenção de níveis saudáveis de triglicerídeos. Fibras Fibras Alimentares Auxiliam no funcionamento do intestino. Frutoligossacarídeos, Inulina (Prebióticos) Contribuem para o equilíbrio da flora intestinal. Fitoesteróis Fitoesteróis Auxiliam na redução da absorção de colesterol. Carotenóides Licopeno, Luteína, Zea- xantina Ação antioxidante que protege as células contra os radicais livres. Proteínas de Soja Proteínas de Soja O consumo diário de, no mínimo, 25g de proteína de soja pode ajudar a reduzir o colesterol. Probióticos A alegação de propriedade funcio- nal ou de saúde deve ser proposta pela empresa e será avaliada, caso a caso, com base nas definições e princípios estabelecidos na Resolu- ção nº 18/1999. 94 Anotações: naturais, estando, algumas vezes, em elevada con- centração, e possuem efeitos positivos além do valor básico nutritivo, que pode aumentar o bem- -estar e a saúde, e/ou reduzir o risco de ocorrência de doenças, promovendo benefícios à saúde além de aumentar a qualidade de vida, incluindo os de- sempenhos físico, psicológico e comportamental. Possuem propriedade funcional com embasamen- to científico. As alegações de propriedade funcional e de saúde devem estar baseadas em ensaios clínicos conduzidos com metodologia adequada ou em es- tudos epidemiológicos. Os resultados desses es- tudos devem demonstrar, de forma consistente, a associação entre o alimento ou seu constituinte e o efeito benéfico à saúde, com pouca ou nenhuma evidência em contrário. É fundamental que a subs- tância ou constituinte para o qual é feita a solicita- ção de alegação comprovadamente possua a mes- ma especificação daquela utilizada nos estudos apresentados. Estudos em modelos animais, (ex vivo ou in vitro) podem ser apresentados como in- formações de suporte para a relação proposta, mas não são suficientes para substanciar qualquer tipo de alegação. Outra legislação brasileira importante é a Re- solução de Diretoria Colegiada RDC Nº 02, de 07 de janeiro de 2002, que possui em seu anexo o Regu- lamento Técnico de Substâncias Bioativas e Pro- bióticos Isolados com Alegação de Propriedades Funcional e ou de Saúde. Substância ou composto Bioativo (CBA) não pode ser confundido com nu- triente, pois possui uma conotação mais ampla que engloba nutrientes e não nutrientes, possuindo ain- 95 Anotações:da ação fisiológica ou metabólica específica, mui- tos deles sendo antioxidantes. Os principais CBAs são: • CAROTENOIDES — grupo de substâncias antioxidantes pertencentes à classe dos terpenos. São responsáveis pela pigmen- tação dos alimentos, portanto conferem coloração às plantas, como o laranja, vermelho e verde escuro. São formados por um grupo de mais de 600 compostos químicos, porém apenas 10% destes são precursores da vitamina A. Os principais presentes nos alimentos são α-caroteno, β-caroteno, β-criptoxantina, luteína, lico- peno e zeaxantina. Os carotenoides pos- suem potente função antioxidante a partir da neutralização dos radicais peróxidos, sendo que o licopeno apresenta maior capacidade antioxidante em relação aos outros carotenoides. Por serem liposso- lúveis, têm ação principalmente em meios lipídicos. Encontram-se em frutas e horta- liças coloridas (verdes, vermelhas e ama- relas). • FITOESTERÓIS — são esteróis de origem vegetal e apresentam configuração estru- tural muito parecida com a do colesterol, diferindo-se desse por possuírem 28 ou 29 carbonos (o colesterol possui 27). Os mais conhecidos são o beta sitosterol e o beta campesterol, que possuem insatu- rações em sua estrutura, assim como no colesterol. Ligam-se a sais biliares e ao colesterol, aumentando a excreção de es- 96 Anotações: teroides. São encontrados em óleos vege- tais, nozes, cereais e leguminosas (feijões, amendoim, grão-de-bico, soja, lentilhas, ervilhas). • COMPOSTOS FENÓLICOS OU POLIFENÓIS — originados do metabolismo das plantas, são essenciais para o seu crescimento e reprodução. Em alimentos, são respon- sáveis pela cor, adstringência, aroma e estabilidade oxidativa. Derivados da feni- lalanina e da tirosina, possuem estrutura variável, mas, de modo geral, apresentam anéis aromáticos e hidroxilas nas formas simples ou de polímeros. Existem mais de 5.000 compostos fenólicos, podendo ser naturais ou sintéticos • COMPOSTOS SULFURADOS — englobam diversas substâncias com alta concen- tração de componentes sulforados, como os sulfetos alílicos, alinase e tiosulfinato. Possuem ação anticarcinogênica, antibi- ótica e antiinflamtória. São encontrados em vegetaisda família Allium – alho, cebo- la, etc. • GLICOSINOLATOS — precisam ser hidro- lisados para exercer atividade biológica, tanto nas plantas quanto nos seres huma- nos. São compostos hidrofílicos, química e termicamente estáveis, cuja hidrólise ocorre pela enzima mirosinase, a qual se encontra em compartimentos separa- dos. Essa enzima entra em contato com os glicosinolatos apenas quando a planta sofre alguma injúria, o que resulta no sur- 97 Anotações:gimento de isotiocianatos (ITC), nitrilas e tiocianatos. Possuem alta capacidade antioxidante e ações anti-carcinogêni- cas. Presentes nos vegetais Crucíferos ou brássicas - brócolis, couve-flor, couve de bruxelas, nabos, rabanetes, repolho, cou- ve, mostarda e agrião. A melhor maneira de consumir as brássicas é na forma crua ou levemente cozidos no vapor, pois o ca- lor destrói boa parte das vitaminas e elimi- na os compostos glicosinolatos com ação anticancerígena. FITOTERÁPICOS O uso das plantas medicinais para o tratamen- to das doenças remonta às origens da humanidade, desde a Babilônia, passando pela Medicina Chinesa e por Hipócrates. O termo fitoterapia vem do grego therapeia = “tratamento”, e phyton = vegetal, e con- siste no tratamento através dos vegetais baseado no estudo das plantas medicinais e em suas aplica- ções na cura das doenças. Todo produto farmacêu- tico, seja extrato, tintura, pomada, ou cápsula, que utiliza como matéria-prima qualquer parte de uma planta com conhecido efeito farmacológico, pode ser considerado um medicamento fitoterápico. É importante diferenciar medicamentos fitoterápicos de plantas medicinais. Plantas medicinais são capazes de aliviar ou curar enfermidades e têm tradição de uso como remédio em uma população ou comunidade, normalmente sendo utilizadas na forma de chás e infusões. 98 Anotações: Já os medicamentos fitoterápicos são obtidos com emprego exclusivo de matérias-primas ativas vegetais. Não se considera medicamento fitoterápico aquele que inclui na sua composição substâncias ativas isoladas, sintéticas ou naturais, nem as associações dessas com extratos vegetais. Deve-se evitar o equívoco de que “se é natu- ral não faz mal?”. Portanto, os fitoterápicos, se não forem usados de forma adequada, podem causar diversas reações como intoxicações, enjoos, ir- ritações, edemas (inchaços) e até a morte, como qualquer outro medicamento, por isso devem ser regularizados na Anvisa antes de serem comercia- lizados. Sua eficácia e a segurança devem ser vali- dadas através de levantamentos de estudos farma- cológicos e toxicológicos pré-clínicos e clínicos. A qualidade deve ser alcançada mediante o controle das matérias-primas, do produto acabado, mate- riais de embalagem e estudos de estabilidade. Dentre os benefícios do uso dos fitoterápicos destacam-se o auxílio no combate de doenças in- fecciosas, disfunções metabólicas, doenças alérgi- cas e traumas diversos, bem como uma alternativa enquanto uma terapia menos agressiva e de menor custo. Alguns cuidados devem ser observados no uso de fitoterápicos, tais como: • Buscar orientações de profissionais de saúde; • Informar de quais medicamentos já se faz uso ou sobre qualquer reação desagradá- vel; • Adquirir apenas em farmácias e drogarias autorizadas pela Vigilância Sanitária; • Desconfiar de produtos que prometem curas milagrosas. 99 REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Alimentação e Nutrição. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2012. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Aten- ção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia alimentar para a população brasileira / Minis- tério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2014. COZZOLINO, Silvia Maria Franciscato. Biodisponi- bilidade de Nutrientes. 3. ed. São Paulo: Manole, 2009. COZZOLINO, SMF; COMINETTI, C. Bases Bioquími- cas e Fisiológicas da Nutrição: nas diferentes fases da vida, na saúde e na doença. São Paulo: Manole, 2013. DAL BOSCO, Simone Morelo; CONDE, Simara Rufat- to (Orgs.). Nutrição e Saúde. Lajeado: Ed. nivates, 2013. DUTRA-DE-OLIVEIRA, JE; MARCHINI, JS. Ciências Nutricionais - Aprendendo a aprender. 6 ed. São Paulo: Sarvier, 2008. FOOD AND NUTRITION BOARD. DRI: Applications in Dietary Planning, 2003. FRANCO, G. Tabela de Composição Química dos Alimentos. 9 ed. São Paulo: Atheneu, 1998. GALISA, Mônica Santiago.; ESPERANÇA, Leila Ma- ria Biscólla. SÁ, Neide Gaudêncio de. Nutrição Con- 100 ceitos e Aplicações. São Paulo: M. Books, 2008. GIBNEY, MJ; VORSTER, HH; KOK, FJ. Introdução à Nutrição Humana. Rio de Janeiro: Koogan, 2005. MAHAN, LK; ESCOTT-STUMP, S; RAYMOND, JL. Krause - Alimentos, Nutrição e Dietoterapia. 13 ed. São Paulo: Elsevier. 2013. PHILIPPI, S. T. Pirâmides dos alimentos: fundamen- tos básicos da nutrição. Barueri: Manole, 2008. TADDEI, JA.; LANG, RMF; SILVA, GL. Nutrição em Saúde Pública. Rio de Janeiro: Rubio, 2011. THE NATIONAL ACADEMY PRESS. Dietary Refe- rence Intakes for Energy, Carbohydrate, Fiber, Fat, Fatty Acids, Cholesterol, Protein, and Amino Acids (Macronutrients) (2005). Food and Nutrition Board. TIRAPEGUI, Julio. Nutrição: fundamentos e aspec- tos atuais. São Paulo: Editora Atheneu, 2002. WARDLAW, GM; SMITH, AM. Nutrição Contemporâ- nea. 8 ed. Porto Alegre: Ed. Mcgraw Hill. 2013. WHITNEY, E; ROLFES, SR. Nutrição, vol. 1: enten- dendo os nutrientes. Trad. 10 ed. norte-americana. São Paulo: Cengage Learning, 2008. 101 Anotações: 102 U ni da de 4organismo. Os nutrientes são: carboidratos, lipídios, proteínas, vita- minas, minerais, água e fibras. • QUILOCALORIA — quantidade de energia necessária para elevar de 14,5º C para 15,5º C a temperatura de 1 kg de água. A quilo- caloria pode ser abreviada em kcal. Na prática, o termo caloria é utilizado como sinônimo de quilocaloria, mas não está correto, pois 1 quilocaloria equivale a 1000 calorias. A obtenção de energia e nutrientes a partir da alimentação compreende vários estágios. Inicial- mente, os alimentos ingeridos passam pelo pro- cesso de digestão, na qual serão transformados em unidades menores por meio de processos químicos e mecânicos que ocorrem no sistema digestório. Em seguida, ocorre a absorção dos nutrientes para a corrente sanguínea através das vilosidades e mi- crovilosidades intestinais, de onde serão transpor- tados para as células, podendo assumir vários des- tinos, como: • Ser incorporados ao organismo no proces- so de síntese (anabolismo); 18 • Ser degradados para fins energéticos (ca- tabolismo); • Participar dos processos metabólicos, controlando a velocidade das reações; e • Ser armazenados. Nutrientes Os nutrientes podem ser classificados como macronutrientes e micronutrientes. Esses primei- ros são chamados de energéticos, pois fornecem calorias ao nosso corpo e são consumidos em por- ções maiores, quantificadas em gramas (g), sendo representados pelos carboidratos, lipídeos e pro- teínas. Os micronutrientes estão presentes nos alimentos em menores quantidades, geralmente miligramas (mg) ou microgramas (mcg/μg), sendo constituídos em as vitaminas e minerais. Existem ainda as fibras e a água, consideradas também nu- trientes. NUTRIENTES Macronutrientes Fibras Água Micronutrientes Carboidratos Lipídeos Proteínas Vitaminas Minerais 19 CARBOIDRATOS Os carboidratos são compostos orgânicos formados basicamente por carbono e água, daí sua denominação: carbono hidratado. O açúcar mais simples, a glicose, consiste em 6 átomos de car- bono, 12 de hidrogênio e 6 de oxigênio, na seguinte fórmula: C6H12O6 De acordo com o número de moléculas, os carboidratos podem ser classificados em: • MONOSSACARÍDEOS – contêm apenas uma molécula de açúcar simples, portanto não se dividem. Foram encontrados mais de 200 na natureza, sendo os mais rele- vantes as hexoses, ou seja, os monossa- carídeos que contêm 6 carbonos, como a glicose, a frutose e a galactose. • DISSACARÍDEOS – formados pela combi- nação de 2 moléculas de monossacaríde- os, sendo comuns a sacarose, a lactose e a maltose. • OLIGOSSACARÍDEOS - quando hidroli- sados produzem de 3 a 10 unidades de monossacarídeos e apresentam pouca importância na alimentação humana. A rafinose, a estaquiose e a verbascose são encontradas nas leguminosas, como fei- jão e soja. • POLISSACARÍDEOS – açúcares comple- xos que apresentam mais de 3 unidades de monossacarídeos, podendo chegar a 26.000. Podem ser de origem vegetal ou 20 Anotações: animal, sendo as duas formas de polissa- carídeos vegetais mais importantes o ami- do e a celulose. O polissacarídeo de origem animal é o glicogênio. Os mono e dissacarídeos são comumente chamados de açúcares simples. Dentre eles, sem dúvida, a mais importante é a glicose, encontra- da nos alimentos ou resultante da gliconeogênese (síntese de glicose em nosso organismo a partir de outros compostos). Sua absorção é rápida, sendo logo depois utilizada como fonte de energia ime- diata e armazenada como glicogênio nos músculos (glicogênio muscular) e fígado (glicogênio hepático) ou ainda transformada em gordura para ser assim estocada. O amido é formado por uma estrutura linear ou amilose (glicoses unidas por ligações α 1,4) com ramificações de amilopectina (glicoses unidas por ligações α 1,6). A dextrina ou maltodextrina é um produto da hidrólise parcial do amido ou do glicogê- nio, e constitui-se em uma mistura de maltose com produtos de ramificações. A celulose é um tipo de carboidrato que faz parte da estrutura dos vegetais. É formada por uni- dades de glicose unidas por ligações β1,4. Como não temos enzimas que quebram esta ligação, não reconhecemos a celulose como substrato, não sen- do, portanto, digerida por nosso organismo. Dentre os polissacarídeos animais, destaca- -se o glicogênio, sintetizado a partir da glicose no Sacarose Lactose Maltose glicose + frutose glicose + galactose glicose + glicose 21 Anotações:processo de gliconeogênese, sendo assim arma- zenado nos tecidos animais (muscular e fígado). É formado por unidades de glicose, exatamente igual à estrutura do amido, só que mais ramificada. A digestão do amido inicia na boca por ação da enzima amilase salivar ou ptialina, que no estomago é inativada pela acidez. Desta forma, a digestão é apenas parcial. No intestino delgado, a degradação recomeça devido à ação da amilase pancreática, que vai terminar a ação iniciada pela ptialina, for- mando uma mistura de maltose, glicose e dextrina. As enzimas contidas no suco entérico (dissa- caridases), poduzidas pela borda em escova do in- testino, vão atuar até sobrar somente monossaca- rídeos, que serão absorvidos. • Lactase → lactose = glicose + galactose; • Maltase → maltose = glicose + glicose; • Sacarase ou invertase → sacarose = glico- se + frutose; • Isomaltase ou 1,6 glicosidase → vai com- pletar a ação iniciada pelas amilases, que- brando as ligações α1,6, produzindo glico- se; e • Produto final → glicose, frutose e galacto- se. Após a absorção, boa parte da frutose e da galactose se transforma em glicose, cuja principal via de degradação para gerar ATP é a via glicolítica, glicólise ou ciclo das hexoses, que possui 2 etapas: fase anaeróbica e fase aeróbica. A glicose não utili- zada como fonte de energia irá manter os estoques de glicogênio muscular e hepático ou, ainda, se transformar em gordura e ser armazenada no teci- do adiposo. 22 Anotações: As funções dos carboidratos são apresenta- das a seguir: • FONTE DE ENERGIA — principal função dos carboidratos, servindo como combus- tível energético para o corpo. A energia proveniente da oxidação da glicose e do glicogênio é utilizada para acionar a con- tração muscular e todos os outros traba- lhos biológicos. • PRESERVAÇÃO DE PROTEÍNAS — ao suprir as necessidades de energia, os carboidra- tos estarão economizando as proteínas para outras funções específicas, como manutenção, reparo e construção de te- cidos. Assim, a ingestão de carboidratos ajuda a manter a proteína tecidual, evitan- do perdas da massa muscular. • FUNÇÃO ESTRUTURAL — a ribose e a de- soxirribose são carboidratos que fazem parte da estrutura dos ácidos nucleicos (DNA e RNA), precursores de componen- tes das células, como a matriz do tecido conjuntivo e os galactosídeos do tecido nervoso. • ATIVIDADE METABÓLICA — fragmentos provenientes do desdobramento dos car- boidratos que facilitam o metabolismo das gorduras. Se a quantidade de carboidrato é insuficiente, a metabolização da gordura é incompleta, resultando na formação de corpos cetônicos, substâncias ácidas pre- judiciais ao organismo. • COMBUSTÍVEL PARA O SISTEMA NERVO- SO CENTRAL — os carboidratos são es- senciais para o funcionamento do cérebro, 23 Anotações:cuja única fonte energética em condições normais é a glicose. Carboidratos na Alimentação Monossacarídeos • GLICOSE — também chamada de glucose, dextrose ou açúcar do sangue, é abundan- te nas frutas, no açúcar, xarope de milho, raízes e no mel. É o principal produto for- mado na hidrólise de carboidratos mais complexos. É a melhor fonte de açúcar para ser utilizada rapidamente, daí sua uti- lização em soros. • FRUTOSE — também chamada de levulose ou açúcar das frutas, é encontrada no mel e nas frutas, sendo considerada o mais doce dos açúcares. Por ter uma absorção lenta, e ser uma fonte gradual de energia, não precisa de insulina para ser utilizada pelas células e evita aumentos bruscos de glicemia (níveis deglicose no sangue). • GALACTOSE — não é encontrada livremen- te na natureza, sendo produzida pela que- bra da lactose (dissacarídeo), o açúcar do leite. No corpo, a galactose é convertida em glicose para fornecer energia ou pode ser encontrada no tecido nervoso. Dissacarídeos • SACAROSE — é o açúcar comum de mesa, o qual encontra-se principalmente no 24 Anotações: açúcar de cana, de beterraba, no melaço, no xarope e açúcar de bordo e no mel. Possui sabor fortemente doce. • LACTOSE — aparentemente só tem origem no leite dos mamíferos, de 4 a 6% no leite de vaca e 5 a 8% no leite humano. É pou- co solúvel e tem apenas 1/6 da doçura da sacarose. Pode ser processada artificial- mente e adicionada nos alimentos líqui- dos. • MALTOSE — ou açúcar do malte, não exis- te livre na natureza. É chamado de açúcar derivado, pois é um produto da hidrólise do amido. Está presente nos cereais em fase de germinação e nos derivados do malte. Possui sabor adocicado. Polissacarídeos • AMIDO — encontrado nos cereais (arroz, trigo, milho), raízes (aipim, cenoura, cará) e tubérculos (batata e inhame). O amido é encontrado no interior das células das plantas, na forma de grânulos de vários ta- manhos e formas, constituindo o reserva- tório de energia dos vegetais. • CELULOSE — é um tipo de fibra que faz parte da estrutura dos vegetais, sendo também reconhecida a hemicelulose, pectina, lignina, gomas e mucilagens, po- lissacarídeos de algas e de reserva. Não é digerida por nossas enzimas digestivas. • GLICOGÊNIO — muito pouco é encontra- do nos alimentos. As pequenas quantida- 25 des em carnes e alimentos marinhos são amplamente convertidas em ácido lático quando o animal é abatido. Os seres hu- manos bem nutridos possuem cerca de 375 a 475 g de glicogênio muscular e 90 a 110 g de glicogênio hepático. Os alimentos que fornecem quantidades apreciáveis de carboidratos na dieta são os cereais (arroz, trigo, aveia, milho, centeio, cevada), os pro- dutos preparados a partir de farinhas (pães, tapio- ca, biscoitos, massas e bolos), as legumino- sas (feijões, ervilha, lentilha, grão-de-bico e soja), as hortaliças (batata, macaxeira, cará, cenoura, beterraba, jerimum, chuchu, entre outros), as frutas, o leite, o açúcar e os doces. Em relação às necessida- des nutricionais, cerca de 50 a 60% das quilocalorias de uma dieta equilibrada devem ser provenientes dos carboidratos, predominantemente na forma de frutas, hortaliças, leguminosas e cereais integrais. Estudos atuais têm correlacionado a qualidade dos carboidratos ingeridos ao con- trole do peso corporal no sentido de identifi- car escolhas alimentares que possam auxiliar no processo de emagrecimento e no combate à obesidade. Os carboidratos são digeridos e absorvidos em diferentes velocidades pelo organismo, promovendo diferentes impactos na glicemia pós-prandial (concentração de gli- cose no sangue após uma refeição), a chamada resposta glicêmica. 26 Anotações: Nesse sentido, o Índice Glicêmico (IG) é um indicador da qualidade dos carboidratos nos ali- mentos e consiste num parâmetro para classificar os alimentos contendo carboidratos de acordo com sua resposta glicêmica, comparado com um pa- drão, que pode ser o pão branco ou a glicose. Já a Carga Glicêmica (CG) é mais completa, pois indica a qualidade em função da quantidade de carboidra- to ingerida, sendo calculada pela multiplicação do IG do alimento pela quantidade de carboidrato em gramas da porção ingerida do alimento dividido por 100. Assim, um alimento com alto IG, se consumi- do em pequena quantidade terá baixa CG, não será, portanto, tão prejudicial ao metabolismo. O importante disso tudo é entender que o consumo excessivo de alimentos com alta IG/CG fa- vorece o acúmulo de gordura corporal e causa alte- rações no metabolismo energético, que pode levar, em longo prazo, ao desenvolvimento de diabetes e doenças cardiovasculares. Por outro lado, uma ali- mentação baseada em alimentos com baixo IG/CG é mais saudável, auxilia na manutenção do peso cor- poral desejado, diminui os níveis de triglicérideos e aumenta a sensação de saciedade após as refei- ções, entre outros benefícios. Desta forma, o ideal é dar preferência aos car- boidratos provenientes de cereais integrais, tais como arroz , macarrão, farinhas e pães integrais. Por outro lado, deve-se minimizar o uso de arroz branco, macarrão comum, pão branco, torradas, bolachas e outros produtos feitos com trigo refina- do, açúcar e doces. 27 Anotações: LIPÍDIOS Os lipídios, também denominados gorduras, constituem uma classe heterogênea de compos- tos, formada por carbono, hidrogênio e oxigênio, só que com uma relação hidrogênio para oxigênio consideravelmente maior do que nos carboidratos. Em geral, os lipídeos apresentam baixa solubilidade em solventes polares (H2O) e alta solubilidade em solventes apolares (éter e álcool). Os lipídios podem ser divididos em 3 grupos principais: • GORDURAS SIMPLES — compostas apenas de carbono, hidrogênio e oxigênio, consis- tindo principalmente em triglicerídeos. • GORDURAS COMPOSTAS — formadas por combinação dos lipídeos com outras subs- tâncias químicas como fosfato, nitrogê- nio, sulfato, etc. Os mais comuns são fos- folipídeos, glicolipídeos e lipoproteínas. • GORDURAS DERIVADAS — substâncias derivadas dos lipídios, como o colesterol, ácidos graxos, glicerol, etc. Alguns auto- res incluem neste grupo as vitaminas li- possolúveis A, D, E e K. Os triglicerídeos são as gorduras mais abun- dantes na natureza, sendo encontrados nos ali- mentos e nas reservas lipídicas do corpo (mais de 95% da gordura corpórea existe na forma de trigli- cerídeos). Uma molécula de triglicerídeo consiste em um éster de glicerol (um álcool com 3 carbonos) unido a 3 cadeias de ácidos graxos (cadeias longas de carbono, hidrogênio e oxigênio) que por sua vez, 28 são distintas, tornando possível a existência de uma grande variedade de triglicerídeos no mesmo alimento. O comprimento da molécula de ácido graxo, assim como o seu grau de saturação, interfere na digestão e na absorção da gordura. Um ácido graxo saturado possui apenas ligações univalentes entre os átomos de carbono. As demais ligações se pro- cessam com o hidrogênio. Os ácidos graxos que contêm uma ou mais ligações duplas ao longo da principal cadeia de carbono são classifi cados como insaturados. De acordo com o número de carbonos dos áci- dos graxos, os triglicerídeos são classifi cados em cadeia curta (TCC, 4 a 6 carbonos), média (TCM, 8 a 12 carbonos) e longa (TCL, mais de 12 carbonos). Os TCL são absorvidos mais lentamente pelo orga- nismo, pois precisam passar pelo sistema linfático antes de chegar à circulação sanguínea. Já os TCM são absorvidos rapidamente e transportados pelo fígado, sendo considerados, portanto, uma fonte de energia imediata. Os ácidos graxos que não podem ser sinteti- zados pelo organismo e precisam ser fornecidos através da dieta são denominados ÁCIDOS GRA- XOS ESSENCIAIS, como é o caso ácido linoléico (C18:2;9,12), linolênico (C18:3;9,12,15) e araquidôni- co (C20:4;5,8,11,14). A sua ausência causa sinais de carência. Na presença de vitamina B6, o organismo GLICEROL 3 AG TRIGLICERÍDEO + 3 H2O 29 tem capacidade de converter o linoléico nos outros dois. Os fosfolipídeos consistem em uma combi- nação de uma ou mais moléculas de ácidos graxos, um álcool, com ácido fosfórico, e uma base nitro- genada. São formados em todas as células, porém a maioria é sintetizada no fígado. Os mais comuns são a lecitina, cefalina (estrutural) e a esfingomieli- na (bainha de mielina). Os glicolipídeos possuem na sua estrutura, além dos ácidos graxos, um tipo de carboidrato e nitrogênio, como cerebrosídeos (galactose) e gan- gliosídeos (glicose) que possuem função estrutural. As lipoproteínas constituem a principal forma de transporte dos lipídios no sangue. São forma- das principalmente no fígado e em menor escala na mucosa intestinal.Temos como exemplo os quilo- mícrons (lipídeos recém absorvidos, alto teor de TG exógeno), VLDL (síntese no fígado e alto teor de TG), LDL (maior teor de colesterol) e HDL (maior teor de proteína). O colesterol é um esterol encontrado apenas no tecido animal e que não contém ácidos graxos, mas exibe algumas das características físicas e VLDL LDL HDL • Very Low Density Lipopratein • Lipoproteína de Muita baixa Densidade • Low Density Lipopratein • Lipoproteína de baixa Densidade • High Density Lipopratein • Lipoproteína de alta Densidade 30 Anotações: químicas da gordura. O colesterol pode ser consu- mido através dos alimentos (colesterol exógeno) ou sintetizado dentro da célula (colesterol endógeno). As principais funções do colesterol são a síntese de hormônios sexuais, a emulsificação de gorduras (fazendo parte da secreção biliar) e ser o precursor de vitamina D. A digestão dos lipídios tem início no estômago por ação da lípase gástrica que atua nos TG, mas esta participação é mínima. Quase todo o lipídio da dieta está na forma de TG, mas há também uma pequena participação do colesterol, fosfolipídeos, derivados de vitaminas lipossolúveis e as vitaminas liposso- lúveis. Quanto maior o conteúdo lipídico da dieta, maior será o tempo de esvaziamento gástrico. A bile, produzida pelo fígado e armazenada na vesícula biliar, desempenha importante função, promovendo a emulsificação dos lipídios e forman- do as micelas, ou seja, pequenas gotículas de gor- dura espalhadas no meio aquoso estabilizadas pe- los sais biliares. A bile contém água, ácidos biliares (ácidos glicocólico e taurocólico), lecitina e coles- terol, basicamente. As micelas possibilitam a ação das ENZIMAS DIGESTIVAS do suco pancreático e do entérico liberadas no intestino delgado. Essas en- zimas são: • LIPASE PANCREÁTICA — atua sobre os TG, liberando os AG do glicerol, formando AG livres, abundantes monoglicerídeos e al- guns diglicerídeos; • FOSFOLIPASE — atua sobre os fosfolipíde- os, deixando os AG livres; • COLESTEROL ESTERASE — atua sobre o colesterol esterificado (ligado a um álco- 31 Anotações:ol), deixando o colesterol livre para a ab- sorção; e • LIPASE ENTÉRICA — atua nos monoglice- rídeos. Os lipídios são absorvidos na forma de mice- las e carreados pelas lipoproteínas para os tecidos onde ficarão armazenados (tecido adiposo, fígado e órgãos periféricos) na forma de TG. Para serem utilizados, os TG serão clivados em glicerol e AG. A principal via de degradação dos AG é a β-oxidação, que ocorre nas mitocôndrias. As funções dos lipídeos são apresentadas a seguir: • FONTE E RESERVA DE ENERGIA — os lipí- deos constituem o combustível ideal, pois cada molécula carreia grande quantidade de energia. Além disso, a gordura é uma fonte concentrada de energia, uma vez que é relativamente isenta de água (ao contrário do glicogênio). Os nutrientes em excesso são transformados em gordura para armazenamento, dessa forma fun- cionando como o principal depósito do ex- cesso de energia alimentar. • CONTRIBUEM PARA A SENSAÇÃO DE SA- CIEDADE — por retardar o esvaziamento gástrico, a saída da gordura do estômago só se processa cerca de três horas e meia após a ingestão. • CONTRIBUEM PARA O SABOR DOS ALI- MENTOS — grande parte do sabor dos ali- mentos é devida ao conteúdo de gordura do próprio alimento ou de gordura adicio- nada no preparo. 32 Anotações: • PROTEÇÃO E ISOLAMENTO — na forma de tecido adiposo, protege os órgãos e desempenha função importante de isola- mento térmico, determinando a capacida- de das pessoas de tolerar os extremos de exposição ao frio. • CARREADOR DE VITAMINAS LIPOSSOLÚ- VEIS — a gordura dietética funciona como meio de transporte das vitaminas A, D, E e K, além de auxiliar na absorção destas e dos carotenoides (fonte de vitamina A não lipídica). Lipídeos na Alimentação TRIGLICERÍDEOS — de 95% a 98% de toda gor- dura ingerida está forma de TG. São os principais componentes de gorduras e óleos comuns. Os TG podem ser: • TCC — contêm AG com 4 a 6 C, incluindo os ácidos butírico (4C), valérico (5C) e capróico (6C), todos saturados e com pouco signi- ficado nutricional, encontrados somente em pequenas quantidades na manteiga. • TCM — contêm AG com 8 a 12 C, incluindo o ácido caprílico (8C – pequenas quantida- des na manteiga e outros óleos vegetais), cáprico (10C – idem ao anterior) e láurico (12C, encontrado no óleo de coco e de pal- meira), todos saturados. Na natureza são encontrados em quantidades insignifi- cantes. Os TCM são gorduras sintéticas, formuladas para utilização na nutrição clí- nica como fonte energética de fácil diges- 33 Anotações:tão e assimilação, importante em casos de má-absorção de gorduras, deficiência de sais biliares ou de enzimas lipolíticas. • TCL — contém AG com mais de 12C, in- cluindo os saturados e insaturados. São os mais encontrados nos óleos e gorduras em geral. ÁCIDOS GRAXOS SATURADOS — em geral en- contrados em alimentos de origem animal, como gorduras das carnes de boi, carneiro, porco, frango, leite integral e derivados, margarinas sólidas, man- teiga, queijos gordos, óleos e leite de coco, óleo de palma e dendê, frituras e óleos reutilizados. A mar- garina, apesar de ser feita com matéria-prima de origem vegetal, passa pela hidrogenação, processo pelo qual o produto é submetido para aumentar sua consistência e desfaz as duplas ligações, tornando a gordura saturada. Em gorduras e óleos reutiliza- dos, a temperatura elevada também vai favorecer a formação de acroleína, uma substância irritante do TGI, além de favorecer a saturação dos AG e a formação de peróxidos (radicais livres) a partir dos AGPI. Estudos mostram que há uma associação en- tre a ingestão de AG saturados e um maior risco de doença cardiovascular. ÁCIDOS GRAXOS INSATURADOS — os AGMI são encontrados principalmente no azeite de oliva, óleo de canola e de amendoim. Os AGPI estão presentes no óleo de cártamo, girassol, milho, soja e algodão. Dentre os AGPI, destacam-se os do tipo ômega 3 e 6, encontrados principalmente em peixes de águas frias, como salmão, atum, carpas, trutas, pescadas e cavalas. 34 Anotações: GORDURA TRANS — produzida a partir de óle- os vegetais que sofreram processo de hidrogena- ção na indústria (adição de átomos de hidrogênio), transicionando do estado líquido para o sólido, pas- sando a ser chamada de gordura vegetal hidroge- nada. COLESTEROL — exclusivo dos alimentos de origem animal, sendo mais abundante em carnes com alto teor de gordura (porco, boi, frango e pei- xe), bacon, embutidos, pele de peixe e aves, vísce- ras, crustáceos, gema de ovo, manteiga, leite inte- gral, creme de leite e queijos amarelos. Os grupos de alimentos que fornecem quanti- dades apreciáveis de lipídeos são os óleos vegetais (soja, azeite, canola, girassol, coco, entre outros) as gorduras de origem animal, como manteiga, lei- te integral, creme de leite, iogurte integral e quei- jos gordos (normalmente amarelos), carnes de boi, porco, carneiro, aves, peixes, frutos do mar, vísce- ras, ovos e bacon. Os produtos industrializados, tais como maionese, molhos prontos, biscoitos, caldo de carne ou frango (cubos), sorvetes e doces (alto teor de gordura hidrogenada) e ainda as frutas olea- ginosas (abacate, coco, pupunha, açaí, castanha, amendoim, avelã, etc). No que diz respeito às necessidades nutricio- nais, os lipídios devem completar o valor calórico da dieta, não ultrapassando 30%. Dessa ingestão, cer- ca de 10% ou menos devem ser na forma de gordura saturada. Recomenda-se a relação de 1:1:1 para as gorduras mono, poli e saturadas, respectivamente. Além disso, deve-se procurar incluir na dieta fontes de ácidos graxos essenciais, como os óleos de cozi- nha. Deve-se evitar frituras e adição de gordura em excesso no preparo dos alimentos. Para este fim, 35 Anotações:deve-se utilizar sempre óleo vegetal. É comprova- do haver associação entre dietas ricas em gorduras comcâncer de mama e cólon, assim como o apa- recimento de outras enfermidades, como doenças cardiovasculares e obesidade. PROTEÍNAS Proteína deriva da palavra grega proteios, que significa “da primeira classe”. As proteínas são compostas principalmente de C, H, e O, assim como os carboidratos e lipídeos, porém seu diferencial consiste no fato de possuir também nitrogênio. De acordo com sua composição química, as proteínas podem ser divididas em: • PROTEÍNAS SIMPLES — são aquelas que, por hidrólise, só liberam aminoácidos e nenhum outro composto orgânico ou inor- gânico. • PROTEÍNAS CONJUGADAS — são aquelas que por hidrólise liberam não só aminoáci- dos, mas também um ou mais componen- tes orgânicos ou inorgânicos, chamado de grupo prostético. Exemplos: nucleopro- teínas, glicoproteínas, lipoproteínas, fos- foproteínas, metaloproteínas, entre ou- tros. • DERIVADOS PROTÉICOS — produtos do desdobramento de proteínas conjugadas ou simples. Os aminoácidos são as unidades monoméri- cas das proteínas, havendo cerca de 300 na nature- 36 Anotações: za, sendo que somente 20 são metabolizados pelo nosso organismo. Dentre esses 20, 9 são essen- ciais, sendo que alguns são essenciais somente em alguns momentos fisiológicos. São: • ESSENCIAIS — o organismo não os produz. São: fenilalanina, histidina, isoleucina, leucina, lisina, metionina, treonina, tripto- fano, valina. • NÃO ESSENCIAIS — o rganismo tem capa- cidade de sintetizar. São: arginina, alanina, cisteína, glicina, prolina, serina, tirosina, asparagina, glutamina, ácido aspártico, ácido glutâmico. Para a digestão de proteínas no estômago é desprezível três enzimas que atuam nas ptns, fa- zendo com que a digestão, a este nível seja despre- zível. Pessoas com acloridria conseguem manter o balanço nitrogenado equilibrado pois e o HCl é es- sencial para a liberação destas enzimas. • PEPSINA — sintetizada pelas células prin- cipais das glândulas do fundo. No interior da célula se encontra na forma inativa de grânulos de zimogênio, evitando assim a autólise. Quando o meio começa a acidifi- car, o pepsinogênio é liberado e por ação do HCl se transforma em pepsina. Esta vai atuar sobre as ptns, quebrando as liga- ções peptídicas, tendo como produto final raríssimos AAs livres e bastantes pepto- nas (ptns menores). • RENINA GÁSTRICA — é responsável pela coagulação do leite, produzida pelas cé- lulas principais das glândulas do fundo. É 37 Anotações:liberada junto com a pepsina, e à medida que o indivíduo vai envelhecendo, ela vai sendo produzida em menor escala. Isto ocorre porque a renina é uma enzima indu- zível pela presença de substrato, ou seja, o leite e, normalmente seu consumo é maior na infância. Atua sobre a ptn do leite, pre- cipitando-a e formando o coalho, facilitan- do assim a ação da pepsina. • GASTRINA — difere da pepsina por atuar em pH 3,5 e esta outra atuar em pH 1,5. Desta forma, ela é eficaz numa faixa de pH em que a pepsina ainda não está atuando. Suco pancreático • TRIPSINOGÊNIO — forma ativa da enzima tripsina que atua quebrando os enlaces peptídicos cujos radicais carboxila este- jam presentes nos AAs arginina e lisina. É chamada de endopeptidase, pois só atua se estes AAs estiverem no meio da cadeia. • QUIMIOTRIPSINOGÊNIO — forma inativa da enzima quimiotripsina que atua quebran- do os enlaces peptídicos cujos grupos car- boxílicos estejam presentes nos AAs trip- tofano, fenilalanina e tirosina e, em menor escala, leucina e metionina. É também uma endopeptidase. • PROCARBOXIPEPTIDASE — forma ina- tiva da enzima carboxipeptidase que atua em todos os enlaces peptídicos com radical ácido terminal, de prefe- 38 Anotações: rência quando são arginina e lisina. Se o último resíduo for a prolina, ela também atuará. É uma exopeptidase. PROELASTASE — forma inativa da elastase que atua quebrando os enlaces peptídicos que possuam AAs neutros, estejam eles na extremidade ou não. Obs.: Estas 4 enzimas são produzidas nas células α do pâncreas e são armazenadas na for- ma de zimogênio. Quando o pâncreas deságua sua secreção, uma enzima é produzida pela mucosa intestinal, a enteroquinase, que atua a princípio no tripsinogênio, catalisando-o em tripsina. Quando alguma concentração de pepsina já está presente, ela própria se autocalisa e catalisa a transformação das demais enzimas. Após ação destas, temos di- peptídeos. • SUCO ENTÉRICO — possui dipeptidases que vão quebrar os dipeptídeos em AAs li- vres, que é a forma de absorção. As proteínas são absorvidas principalmen- te na forma de di e tripeptídeos, em menor escala, como aminoácidos livres. O metabolismo dos ami- noácidos pode seguir várias rotas bioquímicas, de- pendendo das necessidades do organismo. As principais funções das proteínas são: • ESTRUTURAL — as proteínas são par- tes fundamentais das células, como por exemplo, colágeno, miosina e actina. • ATIVIDADE ENZIMÁTICA — existem milha- res de enzimas e todas são proteínas. • ATIVIDADE HORMONAL — tais como insuli- na, somatotrofina, melatonina. 39 Anotações:• ATIVIDADE IMUNOLÓGICA — os anticorpos são proteínas altamente específicas. • TRANSPORTE E ARMAZENAMENTO — he- moglobina que transporta o oxigênio. O ferro é transportado pela transferrina e ar- mazenado na forma de ferritina. • ATIVIDADE PROTETORA — formação de trombina e fibrinogênio na coagulação sanguínea. • TRANSMISSÃO DE IMPULSOS NERVOSOS — proteínas como receptor de membrana. Exemplo: rodopsina nos bastonetes. • MANUTENÇÃO DA PRESSÃO OSMÓTICA — a albumina desempenha esse papel. • FONTE DE ENERGIA — gerando ATP, apesar de não ser sua função essencial. Proteínas na Alimentação As proteínas podem ser classificadas de acor- do com sua qualidade em: • ALTO VALOR BIOLÓGICO (AVB) — são aque- las de origem animal que fornecem todos os AAs essenciais na proporção adequada e com ótima disgestibilidade. • ALTO VALOR BIOLÓGICO (BVB) — são as de origem vegetal (vegetais e grãos) que não possuem todos os AAs essenciais. Os AAs que faltam são denominados AAs limitantes, considerados incompletos. • CASEÍNA — a principal proteína do leite de vaca. É uma fosforoproteína que forma um coágulo espesso (AVB). • Lactoalbumina — a principal proteína do 40 Anotações: leite humano. É a proteína do soro do lei- te que forma coágulos leves e flocolentos (AVB). • OVOALBUMINA — proteína da clara do ovo (AVB). • ZEÍNA — proteína do milho. Possui AAs li- mitantes. As fontes de proteínas na alimentação podem ser organizadas em AVB, tais como: carne de boi, aves, peixes e frutos do mar, vísceras, embutidos e derivados da carne (salame, patês, hambúrgue- res, salsicha, presunto, mortadela, linguiça e afins), ovos, leites e derivados (queijo, iogurte, requeijão), e alimentos que contêm proteínas de BVB, como leguminosas (feijões, lentilha, ervilha e grão-de-bi- co), cereais e derivados, frutas oleaginosas (casta- nhas, nozes, amêndoas, etc). As necessidades proteicas são dadas em cer- ca de 1,0 g/kg/dia, dose mínima necessária para um indivíduo manter-se saudável. Em termos percen- tuais, as proteínas devem corresponder de 12 a 15% do VET. Torna-se importante incluir, na alimenta- ção, fontes de proteínas de AVB. Entretanto, o bom senso deve falar mais alto, evitando-se o excesso desses nutrientes nas refeições, pois, além destas fontes serem quase sempre acompanhadas de gor- dura, dietas hiperproteicas podem aumentar a per- da de cálcio através da urina, favorecendo o apare- cimento de raquitismo em crianças e osteoporose em adultos, além de poder promover sobrecarga renal e hepática. Vários estudos epidemiológicos têm também associado dietas ricas em carne e proteína animal ao aumento do risco de certos tipos de câncer e doenças cardiovasculares. 41 Anotações: U ni da de 2 Videoaula 1 Videoaula 2 44 45 FIBRAS Fibra dietética é o termo mais cor- reto para designar esse grupo de nu- trientes encontrado nos alimentos de origem vegetal e quenão são digeridos pelas enzimas digestivas humanas, tais como celulose, hemicelulose, pectina, lignina (a única que não é carboidrato), gomas e mucilagens. A fibra dietética tem recebido especial atenção por parte dos pesquisadores devido suas inúme- ras propriedades desenvolvidas ao lon- go do trato gastrintestinal. Assim, vários CONCEITO, CLASSIFICAÇÃO, FUNÇÕES, CARÊNCIA, EXCESSO E PROPRIEDADES DAS FIBRAS E ÁGUA 46 Anotações: estudos têm correlacionado dietas ricas em fibras com baixa prevalência de doenças a uma vida mais saudável. As fibras alimentares são comumente classi- ficadas de acordo com a solubilidade de seus cons- tituintes em água, podendo, portanto, ser: • SOLÚVEIS — pectina, gomas, mucilagens, algumas hemiceluloses, polissacaríde- os de algas e polissacarídeos de reserva. Seus efeitos são retardar o esvaziamento gástrico, aumentar o tempo de trânsito intestinal, tornar mais lenta a absorção da glicose, retardar a digestão do amido e reduzir os níveis elevados de colesterol e LDL-colesterol. Suas principais fontes alimentares são as frutas, leguminosas, aveia e cevada. • INSOLÚVEIS — celulose, lignina e a maio- ria das hemiceluloses. Seus efeitos são di- minuir o tempo de trânsito intestinal, au- mentar o volume fecal, tornar mais lenta a absorção da glicose e retardar a digestão do amido. Suas principais fontes são o tri- go, os grãos integrais e hortaliças. A Dietary Reference Intakes (DRI) recomen- da o consumo de 38g de fibras alimentares ao dia para homens e 25g para mulheres na faixa de 19 a 50 anos de idade. Especificamente para a preven- ção do desenvolvimento de doenças cardiovascula- res, câncer, doença renal e diabetes, a Associação Norte-americana do Coração desenvolveu algu- mas diretrizes. Dentre elas, está incluída a de que o consumo de fibras deve estar entre 25 e 30 g/dia 47 Anotações:provenientes da alimentação, como legumes, grãos integrais, frutas e vegetais. Da mesma forma, a So- ciedade Brasileira de Cardiologia também orienta valores entre 20 a 30 g de fibras alimentares totais/ dia para adultos, sendo que, desse total, 5 a 10 g devem ser fibras do tipo solúvel (como frutas, legu- minosas, aveia), como medida complementar para a diminuição do colesterol sanguíneo. Para diabéti- cos, a Sociedade Brasileira de Diabetes recomenda de 21 a 30 g/dia de fibras totais para adultos. Efeitos Fisiológicos das Fibras no Organismo a. ALTERAÇÃO NO TEMPO DE TRÂNSITO IN- TESTINAL — dietas com alto teor de fibras são acompanhadas por rápida passagem de resíduos alimentares através do intes- tino e pelo aumento do bolo fecal. O tipo de fibra que mais colabora para uma redu- ção do tempo de trânsito intestinal e au- mento do bolo fecal é a celulose (pão inte- gral). Em contrapartida, as fibras solúveis (pectina) podem atrasar o esvaziamento gástrico e aumentar o tempo de trânsito intestinal devido à formação de gel, tendo um pequeno efeito no bolo fecal. b. ADSORÇÃO DE ÁGUA — a maioria dos po- lissacarídeos incha na presença de água para formar géis. A hidratação das fibras ocorre por adsorção (incorporação de uma substância à superfície de outra) de moléculas de água e por incorporação nos espaços intersticiais. Pectinas, gomas, mucilagens e polissacarídeos de reserva 48 Anotações: são altamente hidrofílicos, formando géis. Algumas hemiceluloses estruturais tam- bém têm esta capacidade, enquanto que outras hemiceluloses e celulose se pren- dem à água numa extensão limitada. No intestino, este gel pode retardar a absor- ção de glicídios e outros nutrientes, além de aumentar a viscosidade e lubrificar as fezes. c. ADSORÇÃO DE SUBSTÂNCIAS ORGÂNICAS — sais biliares são adsorvidos principal- mente pela lignina e pectina. Perda fecal de sais biliares apresenta papel importan- te nos efeitos hipocolesterolêmico de cer- tas fibras. Outras substâncias, como as carcinogênicas, já parecem ser também carreadas pelas fibras. Assim, dietas com alto teor de fibras podem proteger contra o desenvolvimento de câncer de cólon. d. LIGAÇÃO COM CÁTIONS — uma dieta com alto teor de fibras pode aumentar a excre- ção fecal de Ca, Fe, Zn e Mg. No entanto, as quantidades de fibras comumente ingeri- das parecem não ter efeito significativo na absorção de minerais. e. DIGESTÃO DAS FIBRAS PELAS BACTÉRIAS DO CÓLON — com excreção da lignina, as fibras parecem ser parcialmente digeridas por fermentação no cólon. Apenas uma pe- quena porcentagem das fibras ingeridas pode ser recuperada nas fezes. A digestão das fibras depende da sua estrutura físi- ca, da flora bacteriana do cólon, ao tempo de trânsito ao longo do intestino grosso, e 49 Anotações:da composição química das fibras. Pecti- nas, mucilagens, certas gomas e a maior parte das hemiceluloses podem ser quase completamente degradadas e a celulose ser apenas parcialmente digerida. Assim, as fibras das frutas e hortaliças são muito mais fermentáveis do que as de farelo de cereais, as quais apresentam alto teor de lignificação. Os produtos metabólicos da ação bacteriana sobre as fibras são meta- no, CO2, H +, água e ácidos graxos voláteis de cadeia curta (acetato, butirato e pro- pionato). ÁGUA Apesar da água não contribuir para o valor ca- lórico da alimentação, é considerada um nutriente essencial à vida, pois constitui cerca de 45 a 65% do peso corporal de um indivíduo adulto, havendo dife- renças entre gêneros devido ao conteúdo de gor- dura, que é desigual. Quanto mais novo o indivíduo, maior será o teor de água no organismo. As necessidades de água para um indivíduo adulto sedentário num meio ambiente normal são de cerca de 2,5 l ou 1,0 mL/kcal (1,5 mL/kcal para crianças). Essa água provém de 3 fontes, que são: • ÁGUA DOS LÍQUIDOS — água, sucos, leites, chás e outros. Um indivíduo consome cer- ca de 1,2 L/dia. • ÁGUA DOS ALIMENTOS — a maioria dos ali- mentos, especialmente frutas e vegetais, contêm grande quantidade de água, con- tribuindo com cerca de 1 L/dia. 50 Anotações: • ÁGUA METABÓLICA — quando as molé- culas alimentares são degradadas para a obtenção de energia, forma-se dióxido de carbono e água, a denominada água me- tabólica, que contribui com cerca de 300 mL/dia. Muitas funções importantes da água estão re- lacionadas às suas propriedades físico-químicas, tais como: • ÁGUA COMO SOLVENTE — a água é considerada um solvente universal por ter a capacidade de solver ou dispersar um grande número de substâncias polares. Esta função é muito importante para a nutrição no transporte de nutrientes e metabólitos nos fluídos corporais e tecidos, como na digestão, absorção e excreção, no transporte de eletrólitos, na manutenção da pressão osmótica, no equilíbrio ácido- básico e do tônus muscular; na questão estrutural, conferindo a forma das células, e como lubrificante na saliva e nas articulações. • ÁGUA COMO REAGENTE — por a água ser uma substância de grande reatividade, participa do metabolismo em um grande número de reações de hidratação e hidrólise. • CONTROLE DA TEMPERATURA CORPO- RAL — devido a seu elevado calor latente de evaporação (540 kcal/g), a água desem- penha papel fundamental na regulação da temperatura corporal através da sudore- 51 Anotações:se. Assim, a evaporação do suor na pele para o ar promove o resfriamento da tem- peratura do corpo. Em climas secos, isto se dá de forma mais efetiva. A mesma água é reutilizada várias vezes com diferentes finalidades (sucos gástricos, sangue e filtração renal). No entanto, parte desta é elimina- da pelo organismo através de basicamente 4 vias (urina, fezes, pele e pulmões). A urina é a principal via de excreção, uma vez que cerca de 1500 ml são excretados diariamente. As perdas pela pele incluem a perspiração invisível ou insensível (350 ml) e o suor, por onde podem ser eliminados de 500 a 700 ml/dia sob condições normais. A eliminação pelos pulmões se dá através de minúsculas gotas, contribuindo com cerca de 350 ml diariamente.Pelas fezes, ocor- re perda de 100ml/dia, podendo ser maior em caso de diarreia ou ingestão aumentada de fibras. É im- portante ressaltar que a perda de água está sempre acompanhada da perda de eletrólitos, fazendo-se necessária a reposição hidroeletrolítica. O controle da homeostase ou homeostasia, ou seja, estado de equilíbrio do corpo em relação à água, ocorre em 2 níveis: • SENSAÇÃO DE SEDE — que não é um bom indicador das necessidades de líquidos, pois quando ela aparece, é sinal de que nosso organismo já se encontra num esta- do avançado de desidratação. A sede faz aumentar a ingestão. • CONTROLE HIPOTALÂMICO — existe um centro da sede no hipotálamo, rico em receptores, que detectam as concentra- 52 Anotações: ções de eletrólitos e água no organismo. Em caso de desidratação, é enviada uma mensagem para a hipófise (fator de libera- ção), que por sua vez irá liberar ADH, um hormônio antidiurético, que atuará nos rins, aumentando a reabsorção de água, reduzindo, portanto, a excreção. MICRONUTRIENTES Conforme mencionado, apesar de serem re- queridos em pequenas quantidades, geralmente em miligramas (mg) ou em microgramas (mcg ou μg), os micronutrientes são essenciais à manutenção do organismo humano e, caso estejam ausentes na ali- mentação, provocarão manifestações de carência. Tanto a falta de micronutrientes quanto o excesso devem ser evitados a fim de manter suas atividades metabólicas em pleno funcionamento. Fazem parte deste grupo as vitaminas e os minerais. A carência de micronutrientes pode ser pro- vocada por: • Alimentação insuficiente, monótona, com pouca variedade de alimentos; • Exclusão da dieta de algum grupo de ali- mento, como dietas vegetarianas ou res- trições alimentares radicais baseadas em dietas “da moda”; • Circunstâncias que necessitam de uma in- gestão de vitaminas e minerais mais ele- vada, como no caso da gravidez, do aleita- mento ou da infância; • Consequência de distúrbios orgânicos que 53 Anotações:impedem um aproveitamento adequado dos micronutrientes; e • Ingestão de medicamentos ou produtos tóxicos que interfiram no metabolismo das vitaminas e minerais. Vitaminas As vitaminas são compostos orgânicos, or- ganizados por suas características de solubilidade, sendo cada um responsável por uma ou mais fun- ções específicas, independentemente do grupo a que pertencem. a) Vitaminas lipossolúveis: VITAMINA A — importante oxidante que prote- ge as células contra a ação dos radicais livres, parti- cipando do processo de visão e mantendo a integri- dade da pele e mucosas, desempenhando também importante papel na prevenção de infecções. Sua carência pode causar cegueira noturna (dificuldade de enxergar na pouca luz) e uma doença denomina- da xeroftalmia, que acomete os olhos. Encontrada na forma de retinol (origem animal) e carotenoides (origem vegetal), suas principais fontes são carnes, fígado, ovos, leite, frutas e vegetais de cores verdes e amarelas, como cenoura, abóbora, brócolis e espinafre. VITAMINA D — sintetizada na pele a partir do colesterol e dos raios solares, imprescindível para a produção de insulina e a manutenção do siste- ma imunológico. A deficiência de vitamina D pode acarretar raquitismo em crianças e osteoporose 54 Anotações: em adultos. Além disso, mantém o equilíbrio do cál- cio em nosso organismo. Suas principais fontes são peixes gordos, como o atum e o salmão. VITAMINA E — potente antioxidante no com- bate aos radicais livres. Previne o câncer e doenças cardiovasculares, protege o sistema reprodutor, previne catarata, reforça o sistema imunológico e melhora a ação da insulina. Sua carência não é comum e, em recém-nascidos prematuros, pode ocorrer anemia hemolítica pela falta de vitamina. Suas principais fontes são óleos (girassol, amen- doim), sementes de girassol, amêndoas, amendoim e vegetais de folhas verde-escuras. VITAMINA K — componente importante na for- mação de proteínas essenciais para a coagulação do sangue e envolvida na construção dos ossos, sendo produzida pelas bactérias do cólon. Sua defi- ciência causa distúrbios de coagulação. Suas prin- cipais fontes são alimentos verdes, como vegetais de folhas e legumes (couve, couve de Bruxelas, bró- colis e salsa). b) Vitaminas hidrossolúveis: Vitaminas do Complexo B VITAMINA B1 (tiamina): a tiamina forma a co- enzima TPP (tiamina pirofosfato), uma coenzima do metabolismo energético que atua no ciclo de Kre- bs. Fundamental para as membranas das células nervosas, mantém o sistema nervoso e circulatório saudáveis e além disso, auxilia na formação do san- gue, previne o envelhecimento, combate a depres- são e a fadiga. A deficiência dessa vitamina pode se 55 Anotações:apresentar de quatro formas clássicas: polineuro- patia periférica, anorexia e fraqueza muscular (be- ribéri seco), insuficiência cardíaca de alto débito com sinais congestivos (beribéri úmido), beribéri associado ao choque (Shoshin beribéri) e encefalo- patia de Wernicke. Os principais sintomas são: fa- diga, instabilidade emocional, depressão, anorexia e retardo do crescimento. Suas principais fontes são vegetais de folhas, berinjela, cogumelos, grãos de cereais integrais, feijão, nozes, atum, carne bo- vina e de aves. VITAMINA B2 (riboflavina): atua na forma das coenzimas flavina adenina dinucleotídeo (FAD) e fla- vina mononucleotídeo (FMN), participando da for- mação de células vermelhas do sangue e anticor- pos envolvidos na respiração e processos celulares. Previne catarata, ajuda na reparação e manutenção da pele e na produção do hormônio adrenalina. A deficiência de riboflavina ocasiona distúrbios me- tabólicos e hematológicos diversos, diminuição de vilosidades intestinais com redução da absorção, anormalidades neurológicas, neuropatia periférica, problemas na córnea, fotofobia, perda de sensibili- dade nos lábios, boca e língua. Suas principais fon- tes são alimentos de origem animal e vegetal, tais como leite, queijo, peixes, carnes, ovos, cereais, al- gumas frutas e hortaliças de folhas verdes-escuras, VITAMINA B3 (niacina): indispensável para for- mar as coenzimas nicotinamida-adenina dinucleo- tídeo (NAD) e nicotinamida-adenina dinucleotídeo fosfato (NADP), necessárias em vários processos metabólicos. A sua carência causa a pelagra, ca- racterizada por alterações cutâneas (eritema, des- camação, pigmentação dos membros inferiores e 56 Anotações: superiores), digestivas (acloridria, gastrite, esto- matite, glossite, podendo ocorrer vômitos, diarreia ou constipação) e neurológicas (depressão, apa- tia, tremores, cefaleia, fadiga, perda de memória e demência). Suas principais fontes são levedura, carnes magras de bovinos e de aves, fígado, leite, gema de ovos, cereais integrais, vegetais de folhas (brócolis, espinafre), aspargos, cenoura, batata- -doce, frutas secas, tomate e abacate. VITAMINA B5 (ácido pantotênico): precursor da coenzima A, atua na produção de células ver- melhas do sangue, previne degeneração de carti- lagens, auxilia na construção de anticorpos, reduz colesterol e triglicérides e ajuda nas disfunções hormonais. Sua deficiência é rara, mas pode re- duzir a síntese de lipídios e a produção de energia, acarretando sinais clínicos na pele, no fígado e no sistema nervoso. A vitamina B5 está presente nos alimentos na forma livre, em gema de ovo, leite, le- vedura, cogumelo, abacate, semente de girassol, batata doce, alguns cereais e legumes, ou na forma ligada, como Acetil-CoA, em tecido animal, como fígado, rins e vísceras em geral. VITAMINA B6 (piridoxina): faz parte da coen- zima Piridoxal Fosfato (PLP), fundamental no me- tabolismo dos macronutrientes, na produção de energia, na síntese de glóbulos vermelhos e de neu- rotransmissores. A deficiência de vitamina B6 pode causar alterações dermatológicas e neurológicas como queilose, dermatite seborreica, fraqueza, in- sônia, neuropatias periféricas, glossite, estomatite e anemia. Suas principais fontes são cereaisinte- grais, semente de girassol, feijões (soja, amendoim, feijão), aves, peixes, frutas (banana, tomate, abaca- te) e vegetais (espinafre). 57 Anotações:VITAMINA B7 (biotina): também conhecida como vitamina H, funciona como uma coenzima transportadora de dióxido de carbono, atuando no metabolismo proteico, lipídico e energético do or- ganismo. Sua deficiência é rara, podendo acometer grupos específicos, tais como pessoas com consu- mo prolongado e excessivo de clara de ovo crua, in- divíduos submetidos à nutrição parenteral total por tempo prolongado, pacientes tratados com drogas anticonvulsivantes, alcoólicos crônicos e desnu- tridos severos. Os sintomas incluem dermatites, erupções cutâneas, alopecia, retardo no desenvol- vimento, conjuntivites, perda de acuidade visual e auditiva. Suas principais fontes são o levedo de cer- veja, fígado de galinha e bovino, gema do ovo, soja, couve-flor e espinafre. VITAMINA B9 (ácido fólico): precursora das coenzimas dihidrofolato e tetrahidrofolato, que atuam na transferência de carbono no metabolis- mo dos ácidos nucleicos (DNA e RNA) e dos amino- ácidos, é uma vitamina fundamental em várias rea- ções celulares necessárias ao crescimento normal do organismo, auxiliando também na conversão da vitamina B12 para sua forma ativa. A sua defi- ciência pode ocasionar anemia megaloblástica e aumentar o risco para doenças cardiovasculares e complicações na gravidez, pois é necessária ao correto fechamento do tubo neural e, na sua au- sência, podem ocorrer malformações do embrião, acarretando espinha bífida e anencefalia. Suas principais fontes são amplamente distribuídas nos alimentos na forma de folato, tais como vísceras, carnes, verduras com folhas verde-escuras (espi- nafre, aspargo e brócolis), leguminosas (ervilhas, feijão e lentilha), laranja e gema de ovo. 58 Anotações: VITAMINA B12 (cobalamina): auxilia na síntese de eritrócitos e na manutenção do sistema nervoso, além de ajudar no crescimento e no desenvolvimen- to do corpo, sendo essencial para o funcionamento adequado das células do organismo, especialmente as do trato digestório, tecido nervoso e medula ós- sea. Atua também no metabolismo de carboidratos, lipídeos e proteínas. A carência dessa vitamina é cau- sada geralmente por sua má absorção, acarretando anemia megaloblástica, alterações neurológicas graves e irreversíveis, com paralisias nas pernas, pés e mãos, acompanhadas ou não de glossite, edemas e icterícia. Suas principais fontes são encontradas es- pecialmente em alimentos de origem animal, como carnes, aves, peixes, leite e ovos. VITAMINA C (ácido ascórbico): necessária à síntese de serotonina, noradreanalina e colágeno, sendo primordial no processo de reparo e cicatri- zação de tecidos, atuando como antioxidante na remoção do colesterol. Aumenta a absorção do ferro não-heme e participa do processo imunoló- gico. Sua carência causa uma doença denominada escorbuto, caracterizada por cicatrização demo- rada, gengivas edemaciadas e com sangramento, causando perda dentária, hemorragias cutâneas e depressão. Suas principais fontes são camu-camu, acerola, goiaba, laranja, limão, abacaxi, mamão, pi- mentão e vegetais frescos (repolho, couve-flor, es- pinafre, pimentão verde). COLINA: recentemente reconhecida como vitamina, é precursora da adrenalina e de fosfoli- pídios (lecitina), sendo necessária à transmissão nervosa, função cerebral e funcionamento do fígado, regulando a produção biliar e o metabolismo 59 Anotações:de lipídeos e colesterol. Suas principais fontes são lecitina de soja, gema de ovo, fígado, germe de tri- go, feijão, levedo de cerveja, lentilha, farelo de ar- roz, cevada, aveia, amendoim e trigo integral. MINERAIS Os minerais são compostos inorgânicos ge- ralmente divididos em macrominerais e micromi- nerais. Esses primeiros são necessários em quanti- dades diárias superiores a 100mg, sendo eles cálcio (Ca), fósforo (P), magnésio (Mg), enxofre (S), sódio (Na), potássio (K) e cloro (Cl). Já os microminerais (ou elementos traços) são necessários em quantidades diárias inferiores a 15mg, sendo eles ferro (Fe), zin- co (Zn), iodo (I), selênio (Se), cobre (Cu), cromo (Cr), flúor (F), manganês (Mn), cobalto (Co) e molibdênio (Mb). Há ainda os minerais provavelmente essen- ciais, cuja essencialidade para o organismo huma- no ainda não está cientificamente comprovada, que são o arsênio (Ar), boro (B), níquel (Ni), silício (Si), vanádio (V) e estanho (Sn). Os minerais possuem uma particularidade: além da quantidade fornecida pelos alimentos, de- ve-se levar em conta sua biodisponibilidade, que se refere aos fatores fisiológicos ou nutricionais que podem interferir no seu aproveitamento pelo organismo. Existem diversos fatores que podem influenciar no aproveitamento dos nutrientes, tais como a forma como o mineral se encontra no ali- mento, a quantidade do mineral na refeição e o es- tado nutricional de cada indivíduo. A presença de 60 Anotações: vários minerais pode competir pela mesma área de absorção no intestino. A seguir estão apresentados os minerais de maior importância nutricional e descritas suas principais características. MACROMINERAIS CÁLCIO - macromineral mais abundante no organismo, fundamental na formação de ossos e dentes. Exerce funções de transporte em nível de membrana celular, na contração muscular, na transmissão de impulsos nervosos e na secreção glandular. Sua homeostase é regulada pela vitami- na D. O cálcio é encontrado principalmente no leite e seus derivados e nos vegetais folhosos. Sua defi- ciência na infância pode acarretar retardo no cres- cimento ósseo (raquitismo) e no desenvolvimento cognitivo, na idade adulta. Uma dieta pobre neste mineral é causa de enfraquecimento ósseo, poden- do levar à osteoporose. FÓSFORO - juntamente com o cálcio, parti- cipa da formação de ossos e dentes, desempenha importante função no metabolismo energético, faz parte do ATP e atua no balanço acidobásico. O de- sequilíbrio da ingestão diária entre cálcio e fósfo- ro também pode acarretar enfraquecimento ósseo em adultos, pois o excesso sérico de fósforo induz a descalcificação óssea. Sua deficiência é rara, pois está amplamente distribuído na natureza e pratica- mente todos os alimentos constituem boas fontes de fósforo. MAGNÉSIO — presente em ossos, músculos, tecidos moles e fluidos corpóreos. Atua na manu- 61 Anotações:tenção do potencial elétrico de membranas, fibras nervosas e musculares (relaxamento) e, ainda, como cofator em inúmeros sistemas enzimáticos. Sua deficiência é rara, mas pode contribuir para a depleção do metabolismo ósseo e na gênese de do- enças crônicas como hipertensão arterial, infarto e isquemia. O magnésio é encontrado principalmente nos alimentos verdes de origem vegetal, já que faz parte da clorofila, tais como folhosos. ENXOFRE — presente em todas as células do organismo, é constituinte das moléculas proteicas, fazendo parte das enzimas, componente estrutural de vitaminas (biotina e tiamina) e de ácidos biliares (ácido taurocólico), necessários na formação de mucoproteínas. Sua carência é rara, pois está bem distribuído nos alimentos, principalmente nos de origem animal, ricos em proteínas, como carnes e ovos. SÓDIO — atua na transmissão de impulsos ner- vosos, no relaxamento muscular e na manutenção do equilíbrio ácido-base, necessário na absorção de glicose e AAS. Seu excesso, na forma de clore- to de sódio, é apontado como o grande responsável pela Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS). Junto com o cloro, compõe o cloreto de sódio (NaCl) ou sal de cozinha, sendo também encontrado em em- butidos, conservas e alimentos industrializados em geral (principalmente em salgadinhos), aves empa- nadas, enlatados e outros alimentos processados. POTÁSSIO — principal cátion intracelular do corpo humano, fundamental para a transmissão de impulsos nervosos e relaxamento muscular, neces- sário para biossíntese proteica, sendo ativadorde enzimas do metabolismo energético. Juntamente com o sódio, é importante para a manutenção do 62 Anotações: equilíbrio hídrico. Sua deficiência é rara devido a am- pla distribuição nos alimentos mas, quando ocorre, é caracterizada pela hipocalemia, cujas consequên- cias adversas são arritmia cardíaca, fadiga e fraque- za muscular. Suas fontes na dieta são carnes, aves, peixes, leites e derivados, hortaliças e frutas (princi- palmente melão, melancia, banana e maçã). CLORO — encontrado na forma de cloreto, principal ânion do organismo. É necessário à for- mação de ácido clorídrico, à manutenção do volu- me extracelular, à pressão osmótica e ao equilíbrio ácido-básico. Sua carência é rara, pois junto com o sódio faz parte do sal de cozinha, sendo ampla- mente encontrado nos alimentos industrializados e in natura. FERRO — elemento estrutural da hemoglo- bina e da mioglobina, cofator de diversas enzimas (antioxidantes), participando da síntese de purinas (componentes estruturais do DNA e RNA), de carni- tina, de colágeno e de neurotransmissores (seroto- nina). A deficiência de ferro é a principal causa de anemia ferropriva em crianças e adultos, um grave problema de saúde pública, caracterizada por apa- tia, palidez, cefaleia, redução da imunidade e baixa concentração. O ferro está presente nas carnes em geral, principalmente na carne vermelha, em sua forma heme (ligada à hemoglobina, melhor absorvi- da), em vegetais folhosos de cor verde escura e nas leguminosas, em sua forma não heme. Atualmente as farinhas de trigo e de milho no Brasil são fortifi- cadas com ferro e ácido fólico, conforme lei nacio- nal preconizada pelo Ministério da Saúde, podendo ser consideradas fontes destes elementos no com- bate à anemia. 63 Anotações:ZINCO — atua como componente essencial de cerca de 200 enzimas, sendo algumas respon- sáveis pela regulação da expressão genética, pelo crescimento e desenvolvimento, possuindo ação antioxidante e estando envolvido na função imune. Sua deficiência no organismo geralmente é causa de retardo no crescimento e na maturação sexu- al, podendo acarretar também disfunções imunes, dermatites, redução do apetite, disfunção do pala- dar e do olfato. É encontrado em carnes vermelhas, aves, peixes, frutos do mar, leite e cereais integrais. IODO — componente essencial dos hormônios da tireoide envolvidos na regulação de diversas en- zimas, no controle do metabolismo e no desenvolvi- mento cerebral. Sua falta no organismo provoca os Distúrbios por Deficiência de Iodo (DDI), que inclui várias doenças que atingem as funções da tireoide. O iodo pode ser encontrado principalmente em pro- dutos do mar (moluscos, lagostas, ostras, sardinha e outros peixes) e no sal iodado. Desde a década de 50 é obrigatória no Brasil a iodação de todo o sal destinado ao consumo humano e animal SELÊNIO — componente de algumas proteí- nas denominadas selenoproteinas, que juntamente com as vitaminas C, E e os betacarotenos, consti- tuem um eficiente sistema antioxidante. Sua de- ficiência, um quadro pouco frequente, causa um tipo específico de doença cardíaca e também está relacionada ao aumento do estresse oxidativo, acarretando degeneração e dor muscular, glóbulos vermelhos debilitados e retardo no crescimento. O selênio está amplamente distribuído nos alimentos, e o seu teor nos vegetais depende da sua quanti- dade no solo. É presente também nos seguintes 64 Anotações: alimentos: castanha, cereais integrais, carnes, mi- údos e frutos do mar. COBRE — faz parte de diversas rotas enzimáti- cas, atuando principalmente como cofator. Sua de- ficiência é caracterizada por anemia, neutropenia e anormalidades esqueléticas, como a desmineraliza- ção. Outras alterações também podem se desenvol- ver, inclusive hemorragias, despigmentação da pele e do cabelo. O cobre está amplamente distribuído nos alimentos, inclusive nos produtos de origem ani- mal (exceto leite), mariscos (ostras), vísceras (fígado, rim), carnes (músculo), chocolate, nozes, grãos de cereais, leguminosas e frutas secas. CROMO — potencializador da ação da insuli- na. A deficiência resulta em resistência à insulina e algumas anormalidades lipídicas. Dentre as fontes que possuem alto conteúdo de cromo encontram- -se o levedo de cerveja, ostras, fígado, batatas, fru- tos do mar, grãos integrais, queijos, frango, carnes e farelos. FLÚOR — essencial para o crescimento, re- produção normal e componente dos ossos e dos dentes, desempenhando importante papel na saú- de dentária, pois atua na prevenção da cárie den- tal. Sua ausência aumenta a susceptibilidade de desenvolvimento da cárie dental. É encontrado na água fluoretada, cremes dentais e enxaguantes bu- cais, além dos frutos do mar, fígado bovino, carnes, arroz e feijão. MANGANÊS — atua também como cofator en- zimático em diversas rotas metabólicas, inclusive na inativação dos radicais livres, envolvido também na reprodução, na formação dos ossos e do tecido conjuntivo. Sua carência afeta a capacidade repro- 65 Anotações:dutiva, a função pancreática e o sistema nervoso. Suas principais fontes são os grãos integrais, legu- minosas e nozes. COBALTO — constituinte da vitamina B12, é fundamental para a função de todas as células, especialmente da medula óssea e dos sistemas nervoso e gastrointestinal. Sua deficiência pode acarretar anemia e retardo no crescimento. É en- contrado nas carnes, rins, fígado, leite, ostras e me- xilhões, ovos, queijos. MOLIBDÊNIO — como o manganês, é essen- cial em diversas rotas enzimáticas, onde atua como cofator. Sua carência inclui sintomas de alterações mentais e anormalidades do metabolismo de enxo- fre e purina. O molibdênio é distribuído amplamente nos alimentos comumente consumidos, tais como leguminosas, cereais de grãos integrais, leite e seus derivados e vegetais de folhas verde-escuras. 66 Anotações: U ni da de 3 Videoaula 1 Videoaula 2 68 Anotações: 69 A Nutrição na América Latina foi fortemente influenciada pelo mé- dico argentino Pedro Escudero, que em 1937 criou e divulgou as Leis Fun- damentais da Alimentação, carac- terizadas pela simplicidade de seus enunciados, sendo até hoje aplica- das como um guia para uma alimen- tação saudável. Essas leis são: LEIS DA ALIMENTAÇÃO E PIRÂMIDE ALIMENTAR 70 Anotações: 1. LEI DA QUANTIDADE – “A quantidade de ali- mentos ingeridos deve ser suficiente para cobrir as exigências energéticas do organismo e manter seu equilíbrio”. Deve haver uma adequação das quanti- dades ingeridas às necessidades individuais para manter o funcionamento do organismo e permitir o cumprimento das atividades diárias. 2. LEI DA QUALIDADE – “O regime alimentar deve ser completo em sua composição para ofere- cer ao organismo, que é uma unidade indivisível, to- das as substâncias que o integram”. Da mesma for- ma que a quantidade, a ingestão de nutrientes deve ser adequada em termos qualitativos às necessida- des nutricionais de cada fase da vida, pois, quanto mais variada a alimentação, menor o risco de faltar algum nutriente. 3. LEI DA HARMONIA – “As quantidades dos diversos nutrientes que integram a alimentação devem guardar uma relação de proporção entre si”. Em nosso organismo, as substâncias agem em con- junto e não de forma isolada, devendo ser conside- rada a harmonia entre os alimentos nas refeições e a biodisponibilidade de nutrientes. 4. LEI DA ADEQUAÇÃO – “A finalidade da ali- mentação está subordinada à sua adequação ao organismo. A adequação está subordinada ao mo- mento biológico da vida e, além disso, deve ade- quar-se aos hábitos individuais, à situação econô- mico-social do indivíduo e, em relação ao enfermo, ao seu sistema digestivo e ao órgão ou sistemas al- terados pela enfermidade. ”A alimentação deve es- tar adequada às características de cada indivíduo, para cada faixa etária, cada fase da vida e às suas preferências, entre outros aspectos. 71 Anotações:De forma resumida, a alimentação