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Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância EEnnssiinnoo àà DDiissttâânncciiaa Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância A circulação extracorpórea é um agente capaz de produzir alterações nas funções do sistema renal e no equilíbrio dos líquidos e dos eletrólitos do organismo. Os rins são fundamentais na regulação do meio interno, em que estão imersas as células de todos os órgãos. Os rins desempenham duas funções primordiais no organismo: 1. Eliminação de produtos terminais do metabolismo orgânico, como uréia, creatinina e ácido úrico, dentre outros; 2. Controle das concentrações da água e da maioria dos constituintes dos líquidos do organismo, tais como sódio, potássio, cloro, bicarbonato e fosfatos. Os principais mecanismos através os quais os rins exercem as suas funções são a filtração glomerular, a reabsorção tubular e a secreção tubular de diversas substâncias. Anatomia do Sistema Renal Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância O sistema urinário, encarregado da produção, coleta e eliminação da urina está localizado no espaço retroperitonial, de cada lado da coluna vertebral dorsolombar. É constituído pelos rins direito e esquerdo, a pelve renal, que recebe os coletores de urina do parênquima renal, os uretéres, a bexiga e a uretra. Os rins são envolvidos por uma cápsula fibrosa que ao nível do hilo renal se deixa atravessar pela artéria renal, a veia renal e a pelve coletora que se continua com o ureter. O parênquima renal apresenta duas regiões bastante distintas: a região periférica, cortical ou córtex renal e a região central, medular ou medula renal. À semelhança do alvéolo pulmonar na fisiologia respiratória, o rim é constituído de unidades funcionais completas, chamadas néfron. Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância O néfron representa a menor unidade do rim; cada néfron é capaz de filtrar e formar a urina independentemente dos demais. A função renal pode, portanto, ser compreendida estudando-se a função de um único néfron. Existem aproximadamente 1.200.000 néfrons em cada rim, que funcionam alternadamente, conforme as necessidades do organismo a cada momento. O néfron é constituído basicamente por um glomérulo e um longo túbulo que desemboca nos tubos coletores de urina. O glomérulo é uma rede ou um novelo de capilares recobertos por células epiteliais. Um glomérulo pode ter até 50 capilares. O sangue penetra no glomérulo pela arteríola aferente e sai através da arteríola eferente. A camada cortical do rim, a mais externa, é constituída principalmente por néfrons corticais, que tem os túbulos coletores menores que os néfrons localizados mais próximos da região medular, chamados néfron justa-medulares. A camada medular é constituída principalmente pelos longos túbulos coletores de urina, que se juntam em túbulos maiores até se constituírem na pelve renal. O glomérulo tem a função de filtrar o sangue enquanto o sistema de túbulos coletores absorve parte do líquido filtrado nos glomérulos. Os túbulos também podem secretar diversas substâncias, conforme as necessidades do organismo. Envolvendo cada glomérulo existe uma cápsula, chamada cápsula de Bowman que se continua com o túbulo proximal. A pressão do sangue nos glomérulos produz a Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância filtração de líquido para o interior da cápsula de Bowman, de onde escoa para o túbulo proximal. Do túbulo proximal o líquido penetra na alça de Henle, que tem uma porção com parede muito fina, chamada segmento fino da alça de Henle. Da alça de Henle, o líquido penetra no túbulo distal que se insere num canal coletor, juntamente com os túbulos distais de diversos outros glomérulos. O canal coletor acumula a urina proveniente de vários néfrons e se lança na pelve renal. O líquido filtrado no glomérulo, chamado filtrado glomerular, é transformado em urina à medida que passa pelos túbulos proximal e distal. As artérias renais são ramos da aorta abdominal. Ao penetrar no hilo do rim, a artéria renal dá origem a diversos ramos, chamados ramos interlobares que mergulham na profundidade do parênquima renal. Desses ramos interlobares, emergem as artérias arqueadas das quais se originam as arteríolas aferentes. Cada arteríola aferente produz um tofo ou novelo de capilares que constituem o glomérulo; no extremo oposto os capilares se reúnem novamente, formando a via de saída do glomérulo, a arteríola eferente. A arteríola eferente se ramifica em diversos outros capilares, formando a rede capilar peritubular, que se emaranha com os túbulos proximais e distais do sistema coletor. Outros vasos emergem da arteríola eferente e se dirigem às regiões que circundam as alças tubulares, e são conhecidos como vasos retos, que após formarem as alças na medula renal, se lançam nas veias. Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância FUNÇÃO DO NÉFRON A função essencial do néfron consiste em depurar o plasma sanguíneo das substâncias que devem ser eliminadas do organismo. O néfron filtra uma grande proporção do plasma sanguíneo através da membrana glomerular. Cerca de 1/5 do volume que atravessa o glomérulo é filtrado para a cápsula de Bowman que coleta o filtrado glomerular. Em seguida, à medida que o filtrado glomerular atravessa os túbulos, as substâncias necessárias, como a água e grande parte dos eletrólitos são reabsorvidas, enquanto as demais substâncias, como uréia, creatinina e outras, não são reabsorvidas. A água e as substâncias reabsorvidas nos túbulos voltam aos capilares peritubulares para a circulação venosa de retorno, sendo lançadas nas veias arqueadas, e finalmente, na veia renal. Uma parte dos produtos eliminados pela urina é constituída de substâncias que são secretadas pelas paredes dos túbulos e lançadas no líquido tubular. A urina formada nos túbulos é constituída por substâncias filtradas do plasma e pequenas quantidades de substâncias secretadas pelas paredes tubulares. O fluxo sanguíneo através dos rins corresponde, em média, à aproximadamente 20% do débito cardíaco, podendo variar, mesmo em condições normais. Em um adulto de 60 Kg de peso, o débito cardíaco corresponde a 4.800 ml/min; a fração renal do débito cardíaco será de 960 ml. O fluxo sanguíneo renal é muito maior que o necessário para o simples suprimento de oxigênio. Cerca de 90% do fluxo sanguíneo renal são distribuídos pela camada cortical, onde abundam os glomérulos e, apenas 10% se distribuem pela região medular. Os rins possuem um eficiente mecanismo de autoregulação que permite regular o fluxo de sangue e, através dele, regular a filtração glomerular. Este mecanismo é capaz de manter um fluxo renal relativamente constante com pressões arteriais que variam entre 80 e 180 mmHg. Sob determinadas condições, como por exemplo, na depleção líquida ou no baixo débito cardíaco, quando o fluxo renal não pode ser mantido, o mecanismo autoregulador preserva a filtração glomerular, produzindo vasoconstrição da arteríola eferente, que mantém o gradiente transglomerular de Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância pressão. A resistência vascular renal se ajusta automaticamente às variações na pressão de perfusão renal. As arteríolasaferente e eferente são influenciadas por muitos dos estímulos nervosos e hormonais vasculares, embora sua resposta dependa das necessidades renais e seja moderada pelos mecanismos autoregulatórios. A membrana glomerular possui três camadas principais: uma camada endotelial, do próprio capilar, uma camada ou membrana basal e uma camada de células epiteliais na face correspondente à cápsula de Bowman. Apesar da presença das três camadas, a permeabilidade da membrana glomerular é cerca de 100 a 1.000 vêzes maior do que a permeabilidade do capilar comum. A fração de filtração glomerular é de aproximadamente 125 ml/minuto. Em 24 horas são filtrados aproximadamente 180 litros de líquido por todos os glomérulos (filtrado glomerular), para formar de 1 a 1,5 litros de urina, o que demonstra a enorme capacidade de reabsorção dos túbulos renais. O líquido reabsorvido nos túbulos passa para os espaços intersticiais renais e daí para os capilares peritubulares. Para atender à essa enorme necessidade de reabsorção, os capilares peritubulares são extremamente porosos. A grande permeabilidade da membrana glomerular é dependente da estrutura daquela membrana e das numerosas fendas e poros existentes, cujo diâmetro permite a livre passagem das pequenas moléculas e impede a filtração das moléculas maiores, como as proteínas. O filtrado glomerular possui aproximadamente a mesma composição do plasma, exceto em relação às proteínas. Existem no filtrado glomerular, diminutas quantidades de proteínas, principalmente as de baixo peso molecular, como a albumina. Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância FILTRAÇÃO GLOMERULAR A filtração do plasma nos glomérulos obedece às diferenças de pressão existentes no glomérulo. A pressão nas artérias arqueadas é de aproximadamente 100 mmHg. As duas principais áreas de resistência ao fluxo renal através do néfron são as arteríolas aferente e eferente. A pressão de 100 mmHg na arteríola aferente, cai para uma pressão média de 60 mmHg nos capilares do glomérulo, sendo esta a pressão que favorece a saída do filtrado do plasma para a cápsula de Bowman. A pressão no interior da cápsula de Bowman é de cerca de 18 mmHg. Como nos capilares glomerulares 1/5 do plasma filtra para o interior da cápsula, a concentração de proteínas aumenta cerca de 20% à medida que o sangue passa pelos capilares do glomérulo, fazendo com que a pressão coloido-osmótica do plasma se eleve de 28 para 36 mmHg, com um valor médio de 32 mmHg, nos capilares glomerulares. A pressão no interior da cápsula de Bowman e a pressão coloido-osmótica das proteínas do plasma são as forças que tendem a dificultar a filtração do plasma nos capilares glomerulares. Dessa forma a pressão efetiva de filtração nos capilares glomerulares é de apenas 10 mmHg, ou seja, a diferença entre a pressão arterial média nos capilares (60 mmHg) e a soma da pressão da cápsula de Bowman com a pressão coloido-osmótica do plasma. A membrana capilar glomerular tem poros de aproximadamente 30 angstroms de diâmetro e, portanto, partículas de maiores dimensões, podem atravessar esses poros. Seu peso molecular é da ordem de 80.000 a 90.000 daltons. A destruição normal de hemácias produz uma pequena quantidade de hemoglobina livre no plasma sanguíneo. Os glomérulos dispõem de um mecanismo especial capaz de manter essas pequenas quantidades de hemoglobina livre em concentrações de aproximadamente 5%. Se a destruição de hemácias aumenta e gera concentrações de hemoglobina elevadas (100-125 mg%), os mecanismos glomerulares de processamento da hemoglobina se esgotam e ocorre a filtração para a urina. Como a hemoglobina filtrada não é reabsorvida, esse pigmento protéico aparece na urina; é a hemoglobinúria. Portanto, quando a hemoglobina aparece na Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância urina significa que houve uma grande quantidade de destruição de hemácias. Diversos fatores podem afetar a filtração glomerular. O fluxo sanguíneo renal aumentado pode aumentar o coeficiente de filtração e a quantidade final de urina produzida. O grau de vasoconstrição das arteríolas aferentes dos glomérulos faz variar a pressão glomerular e conseqüentemente a fração de filtração glomerular. O mesmo ocorre na estimulação simpática neurogênica ou através de drogas simpáticas como a adrenalina, por exemplo. O estímulo pela adrenalina produz constrição intensa das arteríolas aferentes, com grande redução da pressão nos capilares glomerulares que podem reduzir drasticamente a filtração do plasma e consequente formação de urina. REABSORÇÃO TUBULAR O filtrado glomerular que alcança os túbulos do néfron flui através do túbulo proximal, alça de Henle, túbulo distal e canal coletor, até atingir a pelve renal. Ao longo desse trajeto mais de 99% da água filtrada no glomérulo é reabsorvida, e o líquido que penetra na pelve renal constitui a urina propriamente dita. O túbulo proximal é responsável pela reabsorção de cerca de 65% da quantidade de água filtrada nos capilares glomerulares, sendo o restante reabsorvido na alça de Henle e no túbulo distal. A glicose e os aminoácidos são quase inteiramente reabsorvidos com a água enquanto outras substâncias, por não serem reabsorvidos no túbulos, tem a sua concentração no líquido tubular aumentada em cerca de 99 vezes. A reabsorção da glicose exemplifica bem os mecanismos de reabsorção de determinadas substâncias dentro dos túbulos renais. Normalmente não existe glicose Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância na urina ou no máximo, existem apenas ligeiros traços daquela substância, enquanto no plasma a sua concentração oscila entre 80 e 120 mg%. Toda a glicose filtrada é rapidamente reabsorvida nos túbulos. À medida que a concentração plasmática de glicose se aproxima dos 200 mg%, o mecanismo reabsortivo é acelerado até atingir o ponto máximo, em que a reabsorção se torna constante, não podendo ser mais aumentada. Esse ponto é chamado limiar de reabsorção da glicose. Acima do valor plasmático de 340 mg%, a glicose deixa de ser completamente absorvida no sistema tubular e passa para a urina, podendo ser facilmente detectada pelos testes de glicosúria. Os produtos terminais do metabolismo, como a uréia, creatinina e uratos tem outro tratamento nos túbulos renais. Apenas quantidades moderadas de uréia, aproximadamente 50% do total filtrado, são reabsorvidos nos túbulos enquanto a creatinina não é reabsorvida. Os uratos são reabsorvidos em cerca de 85%, da mesma forma que diversos sulfatos, fosfatos e nitratos. Como todos são reabsorvidos em muito menor proporção que a água, a sua concentração aumenta significativamente na urina formada. A reabsorção nos túbulos renais obedece à diferença de concentração das substâncias entre o espaço intersticial peritubular e os vasos retos peritubulares. A reabsorção de água é dependente da reabsorção de íon sódio, que é o soluto mais reabsorvido nos túbulos renais. Existem ainda dois mecanismos de intercâmbio muito importantes. O primeiro se refere à troca de íon sódio (Na+) pelo íon hidrogênio (H+), nos túbulos, como parte dos mecanismos de regulação renal do equilíbrio ácido-básico. Quando há necessidade de eliminar íon hidrogênio, os túbulos secretam ativamente o hidrogênio para a luz, dentro do filtrado e, em troca, para manter o equilíbrio iônico absorvem o íon sódio. O outro mecanismo de intercâmbio corresponde à reabsorção de íons cloreto (Cl-) quando há necessidade de se eliminar ácidos orgânicos pelo mecanismo de secreção tubular. Os mecanismos de transporte nareabsorção tubular podem ser ativos ou passivos, dependendo da necessidade de utilizar energia celular para a sua realização. O sódio, a glicose, os fosfatos e os aminoácidos estão entre as substâncias cujo Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância transporte é feito com utilização de energia celular, transporte ativo, enquanto o transporte da água, uréia e cloretos não necessita consumir a energia das células (transporte passivo). SECREÇÃO TUBULAR A secreção tubular atua em direção oposta à reabsorção. As substâncias são transportadas do interior dos capilares para a luz dos túbulos, de onde são eliminadas pela urina. Os mecanismos de secreção tubular, à semelhança dos mecanismos de reabsorção, podem ser ativos ou passivos, quando incluem a utilização de energia pela célula para a sua execução ou não. Os processos de secreção mais importantes estão relacionados à secreção tubular de íon hidrogênio, potássio e amônia. Determinadas substâncias são eliminadas do organismo pelos mecanismos de secreção tubular, após metabolização no fígado. Os processos de reabsorção e de secreção ativa dos túbulos distais são influenciados por hormônios, pela quantidade total de solutos, pela dieta, pelo equilíbrio ácido- base e pelo fluxo do filtrado. Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância CONCENTRAÇÃO E DILUIÇÃO DA URINA Cerca de 1/5 dos néfrons, localizados na região justa-medular, tem as alças de Henle imersas na medula renal e retornam ao córtex. Nestes glomérulos cerca de 65% do filtrado glomerular é reabsorvido no túbulo proximal como solução isotônica. Na porção mais espessa da alça de Henle, em que o epitélio é relativamente impermeável à água, o cloreto de sódio é ativamente transportado do lúmen para o espaço intersticial da medula, criando um ambiente hipertônico e um gradiente osmótico que propicia mecanismos de secreção e reabsorção ditos contra-corrente, capazes de permitir aos rins a produção de urina concentrada ou diluída, conforme a necessidade de eliminar substâncias dissolvidas na urina e a necessidade de preservar água. Os mecanismos físico-químicos envolvidos são bastante complexos e são baseados nas diferenças de concentração do sódio entre o interstício e os capilares peritubulares e vasos retos. A filtração e a produção de urina dependem de diversos fatores dentre os quais o mais importantes é a autoregulação do fluxo de sangue através os glomérulos. Dentre de limites fisiológicos a produção diária de urina por um adulto oscila entre 1 e 1,5 litros/dia. A diurese mínima, capaz de manter a adequada eliminação de dejetos do metabolismo, equivale a 0,5 a 1 ml/Kg/hora em crianças e aproximadamente 30 a 40 ml/hora para os adultos. Os rins são fundamentais na regulação do volume e da composição do líquido extracelular (intersticial), através de mecanismos complexos que incluem variações das pressões vasculares, variações dos volumes filtrados, alterações da osmolaridade e ação de hormônios. Os receptores existentes na parede dos átrios, direito e esquerdo, quando distendidos pela hipervolemia, alteram a frequência dos impulsos emitidos produzindo uma redução da atividade simpática, que resulta em dilatação das arteríolas aferentes e conseqüente aumento da filtração glomerular. Simultaneamente, na hipófise posterior, é inibida a secreção de hormônio anti-diurético, reduzindo a reabsorção de água nos túbulos distais e, portanto, aumentando o volume da urina eliminada. Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância O hormônio antidiurético é responsável pelo aumento da reabsorção de água nos túbulos distais, como parte dos mecanismos reguladores do volume urinário. Um pequeno segmento do túbulo distal, pós alça de Henle, se insinua no ângulo entre as arteríolas aferente e eferente nos glomérulos, formando uma região especial, conhecida como aparelho justa-glomerular. Neste aparelho, as células tem uma densidade maior que as demais, constituindo a região chamada de mácula densa. A mácula densa é capaz de detectar a concentração de sódio no túbulo distal e estimular a produção de renina, pelas células do aparelho justa-glomerular. A renina cataliza a formação de angiotensina I à partir do angiotensinogênio produzido no fígado. A angiotensina I origina a angiotensina II, um potente vasoconstritor das arteríolas renais. A angiotensina II, por seu turno, estimula a produção da aldosterona pela glândula supra-renal, que promove a reabsorção de sódio e a eliminação de potássio nos túbulos distais. A experiência tem demonstrado que o comprometimento da função renal pré- operatória, aumenta consideravelmente as chances de desenvolvimento de insuficiência renal aguda após a circulação extracorpórea. A avaliação da função renal antes da perfusão é fundamental, para a prevenção de injúria renal induzida pela perfusão. Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância Certas cardiopatias cianóticas de longa duração podem ser associadas à graus leves de insuficiência renal, bem como a aterosclerose, o diabetes e a hipertensão arterial. A história clínica e o exame do paciente poderão mostrar a existência de edema, alterações do volume urinário e a presença de infecção urinária. A insuficiência renal aguda é uma alteração grave, com mortalidade e morbidade elevadas, em que ocorre deterioração súbita da função renal, que causa profunda desordem no equilíbrio do organismo. Há extrema redução da excreção dos produtos nitrogenados, ureia e creatinina; alterações da regulação do volume e da composição dos líquidos do organismo e alterações da síntese de determinados hormônios essenciais. O marco clínico da síndrome é a acumulação rápida de produtos finais nitrogenados, levando à uremia progressiva e à marcada redução da diurese. Ocasionalmente a insuficiência renal aguda pode se acompanhar de diurese abundante. A urina eliminada, porém, tem densidade baixa porque os túbulos perdem a capacidade de reabsorver água e, em conseqüência, de concentrar a urina. A avaliação pré-operatória da função renal inclui a determinação dos níveis da uréia e da creatinina no plasma sanguíneo e o exame sumário da urina, para a detecção da presença de elementos anormais. A ureía plasmática oscila entre 20 e 60 mg% enquanto a creatinina oscila entre 1 e 2 mg% nos adultos. Nas crianças os valores normais variam com a idade, sendo, em geral, menores. O exame da urina não deve revelar proteinúria ou hematúria. A normalidade dos valores da uréia e da creatinina equivale à presença de função renal adequada. Quando os valores de ureia ou da creatinina estão elevados ou quando há proteinúria ou hematúria no exame da urina, torna-se necessária uma avaliação mais completa da função renal, na tentativa de quantificar o grau de função renal existente. AÇÃO DOS DIURÉTICOS Os diuréticos são substâncias que aumentam a formação de urina e sua principal aplicação é reduzir a quantidade total de líquidos no organismo. Durante a circulação Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância extracorpórea alguns diuréticos podem ser utilizados, com aquele objetivo. As diversas substâncias com efeitos diuréticos tem mecanismos de ação diferentes. Ao se administrar um diurético, ocorre a eliminação associada de sódio e água. Se o diurético eliminasse apenas a água dos líquidos orgânicos, haveria um aumento da concentração de sódio nos líquidos, que se tornariam hipertônicos e provocariam uma resposta dos receptores osmíticos, seguida de aumento da secreçãodo hormônio antidiurético. O excesso desse hormônio promoveria a reabsorção de grande quantidade de água nos túbulos, anulando os efeitos do diurético. Quando o sódio é eliminado junto com a água, a concentração iônica dos líquidos se mantém e não há estimulação antidiurética. DIURÉTICOS OSMÓTICOS O manitol é uma substância que quando injetada na circulação, pode atravessar facilmente os poros da membrana glomerular, sendo inteiramente filtrada pelos glomérulos. Suas moléculas, contudo, não são reabsorvidas nos túbulos renais e a sua presença no líquido dos túbulos gera uma sobrecarga osmótica importante. Essa Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância pressão osmótica elevada no interior dos túbulos impede a reabsorção da água, fazendo com que grandes quantidades de filtrado glomerular atravessem os túbulos e sejam eliminados como urina. Níveis muito elevados de glicose no sangue produzem uma diurese osmótica semelhante à do manitol. DIURÉTICOS DE ALÇA São substâncias capazes de reduzir os sistemas transportadores nas células tubulares, diminuindo a reabsorção ativa dos solutos tubulares e, portanto, aumentando a pressão osmótica no interior dos túbulos, propiciando grande aumento da eliminação de urina. Os principais diuréticos desse tipo são a furosemida, a bumetanida e o ácido etacrínico. A furosemida bloqueia a reabsorção ativa do íon cloro na porção ascendente da alça de Henle e no segmento restante do túbulo distal. Como os íons cloro não são reabsorvidos, os íons positivos absorvidos em conjunto, principalmente o sódio também não são absorvidos. O bloqueio da reabsorção de cloro e sódio determina diurese, porque permite que grandes quantidades de solutos sejam levadas até os túbulos distais onde atuam como agentes osmóticos e impedem a reabsorção da água. Além disso, a incapacidade de reabsorver íons cloro e sódio pela alça de Henle para o interstício medular diminui a concentração daqueles íons no líquido intersticial medular e a capacidade de concentrar urina fica muito reduzida. Esses dois mecanismos tornam a furosemida um diurético muito eficiente. A bumetanida age do mesmo modo que a furosemida. O ácido etacrínico pode ser usado em pacientes que não respondem a furosemida. Entretanto, seu uso prolongado pode produzir distúrbios auditivos. Existem outros diuréticos que atuam por mecanismos diferentes, mas não são aplicados nas situações agudas, como na circulação extracorpórea. OS RINS NA CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA Diversas alterações funcionais e orgânicas dos rins tem sido detectadas em relação à circulação extracorpórea. Esta pode afetar adversamente a função renal por diversos mecanismos, tais como: Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância 1. Variações do tônus vascular, produzindo vasodilatação e hipotensão sistêmica; 2. Exacerbação da atividade simpática, com produção e liberação excessiva de catecolaminas na circulação; 3. Exacerbação da atividade hormonal, com produção e liberação excessiva de vasopressina e outros hormônios; 4. Traumatismo aos elementos figurados do sangue, com liberação de substâncias vasoconstritoras, como o tromboxano A2 das plaquetas; 5. Redistribuição irregular do fluxo arterial sistêmico, reduzindo a fração renal do débito; 6. Redução do fluxo sanguíneo renal; 7. Alterações do volume e da composição eletrolítica do líquido extracelular; 8. Aumento da eliminação renal de sódio e potássio; 9. Hemólise e hemoglobinúria; 10. Produção de microembolia na circulação renal. A hipotensão é bastante comum, no início e após os primeiros momentos da circulação extracorpórea. É causada por uma multiplicidade de fatores que agem em sincronia, como a redução do fluxo de perfusão em relação ao débito cardíaco do paciente, a hemodiluição com redução da viscosidade do sangue e diluição das catecolaminas circulantes, e a redução da remoção de bradicinina pelos pulmões na fase de “bypass” total. A hipotensão estimula a atividade simpática e aumenta a Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância produção de catecolaminas, renina, angiotensina, aldosterona e hormônio antidiurético. Ocasionalmente, a hipotensão produzida pela circulação extracorpórea requer a administração de drogas adrenérgicas ou vasoconstritoras. Os rins participam dos mecanismos de redistribuição protetora do fluxo sanguíneo, na medida em que sacrificam o seu próprio fluxo sanguíneo através da constrição das arteríolas aferentes, para aumentar o afluxo sanguíneo de outros órgãos, como o cérebro e o miocárdio, durante períodos de hipotensão e hipovolemia. O período inicial de hipotensão da circulação extracorpórea é seguido por um período de elevação progressiva da pressão arterial causado pela resposta regulatória do próprio organismo que, com freqüência, resulta em hipertensão. A vasoconstrição produzida pela hipotermia, a elevação da resistência vascular sistêmica e a ausência de Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância pulsatilidade na circulação, são também contributivos na gênese da resposta hipertensiva. Os mecanismos dessa resposta hipertensiva, produzem vasoconstrição renal, que reduz o fluxo sanguíneo renal, predispondo os rins à isquemia e injúria. A redução do fluxo sanguíneo renal reduz a energia disponível para os mecanismos da atividade renal normal, inclusive a autoregulação. Algumas das alterações renais durante a circulação extracorpórea podem ser atribuidas à essa redução do suprimento de energia, particularmente a depressão das funções de reabsorção ativa, da secreção renal e da regulação da concentração e diluição. A autoregulação e o balanço tubular dependem da integridade dos mecanismos de reabsorção de sódio. A eliminação excessiva de sódio (natriurese), que ocorre durante a perfusão, estimula a resposta regulatória do aparelho justa-glomerular, que aumenta a produção de renina, angiotensina e aldosterona, que acentuam a vasoconstrição renal. A aldosterona aumenta a eliminação de potássio e reduz a de sódio. Esta diurese eletrolítica, pode causar deseqüilíbrio eletrolítico durante a circulação extracorpórea. A redistribuição do fluxo sanguíneo, durante a circulação extracorpórea, é uma resposta que objetiva a preservação do cérebro e do coração, às custas dos demais leitos vasculares, inclusive o renal. A redistribuição é o resultado do aumento da atividade simpática; os órgãos mais afetados são os que tem preponderância de inervação simpática e muitos receptores simpáticos, como os rins. A hipotermia também contribui para a vasoconstrição renal e redistribuição do fluxo sanguíneo renal. O fluxo renal reduzido é redistribuido para a periferia da camada cortical. O mecanismo concentrador dos rins (mecanismos de contra-corrente), devido à redução de fluxo na camada medular é deprimido. A proteção da hipotermia é menos eficaz para os rins, em relação aos demais órgãos. A vasoconstrição renal é precoce e ocorre antes que o órgão esteja uniformemente resfriado. Além da vasoconstrição, a hipotermia produz o aumento da viscosidade do sangue, que favorece a aglutinação intravascular que, contudo, pode ser minimizada pelo uso criterioso da hemodiluição. A hemodiluição com soluções cristalóides, quando em excesso, predispõe o paciente à formação de edema, devido à redução da pressão coloido-osmótica do plasma e diminui a reabsorção nos capilares peritubulares, que resulta em uma diurese Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância aquosa e rica em eletrólitos.Além de contribuir na formação de microêmbolos de restos celulares, a hemólise produz vasoconstrição pela liberação de produtos vasoativos do interior das células lesadas. A hemoglobina livre é captada pela haptoglobina do plasma e subseqüentemente metabolizada no fígado. Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância Importância do Cálcio 1. Criação ou manutenção dos potenciais de ação 2. Contração muscular 3. Motilidade 4. Divisão celular 5. Secreção e modulação de atividades enzimáticas 6. Coagulação Cálcio Concentração sangüínea: 8,6 a 10,6 mg/dl. Sua concentração extracelular é maior 4x que a intracelular (fixada no retículo endoplasmático, mitocôndrias e na membrana plasmática 9g e 0,2 mg Cálcio livre Regulação Endócrina do Metabolismo do Cálcio e Fósforo Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância intracelular). O esqueleto e dentes contêm cerca de 1 a 2 Kg de Cálcio e 99% da quantidade total. A homeostasia do Cálcio depende da ação coordenada de 3 sistemas de órgãos: 1. Ossos 2. Rins 3. Intestino E de 3 hormônios: 1. PTH 2. Calcitonina 3. Vitamina D Importância do Fosfato 1. Íon intracelular mais importante 2. Componente de numerosos intermediários no metabolismo de carboidratos, lipídios e proteínas 3. Faz parte de componentes de alta energia ATP, vários co-fatores (NADP), segundos mensageiros cAMP, DNA, RNA 4. Um dos principais componentes da estrutura cristalina dos ossos e dentes Cerca de 85% está contido no esqueleto e 6% nos músculos. Sua concentração no sangue: 2,5 a 4,5 mg/dl. Cerca de 70% do fosfato ingerido é absorvido pelo organismo. Déficit fosfato: fraqueza muscular (esquelética e cardíaco), formação anormal osso, perda da integridade das membranas das hemácias. Dinâmica do Osso Cerca de 80% da massa óssea é constituída por osso cortical (densas camadas concêntricas do esqueleto apendicular - ossos longos, e as camadas externas mais delgadas dos ossos chatos - planos, são os principais componentes do osso cortical). Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância Cerca de 20% da massa óssea é constituída por osso trabecular (pontes de espículas ósseas que constituem as maiores partes internas do esqueleto axial - crânio, costelas, vértebras, pelve e o interior menos volumosos das diáfises dos ossos longos). O osso trabecular tem maior importância que o osso cortical na renovação (turnover) do Cálcio. Osso cortical tem maior massa, mas o osso trabecular tem maior área de superfície que o cortical (5x maior); osso mais acessível. Ocorre renovação da massa óssea durante toda a vida pelo acoplamento bem regulado dos processos de formação e reabsorção do osso. Pico de massa óssea 25 a 35 anos de idade. No adulto cerca 10% da massa óssea total são renovados normalmente a cada ano. Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância Fatores de Alteram o Crescimento Ósseo Dieta adequada, minerais, vitaminas e hormônios: Cálcio, Fósforo, Flúor, Magnésio, Ferro e Manganês Vitamina C - síntese do colágeno e diferenciação do osteoblasto em osteócito Vitamina K e B12 são necessárias para a síntese de proteínas (produção osso novo) Vitamina A estimula a atividade dos osteoblastos Formação óssea, estimulada por: GH IGFs Insulina Estrogênio Androgênio Vitamina D Fator de crescimento esquelético, fator-β transformador de crescimento, fator de crescimento derivado das plaquetas PTH (intermitente) Calcitonina. Reabsorção óssea, estimulada por: PTH (constante) Vitamina D Cortisol Hormônio tireoideo Prostaglandinas Interleucina-1 Interleucina-6 Fator de necrose tumoral α e β. Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância Os seres humanos adquirem a vitamina D de duas fontes: ingerida na dieta (D2 e D3) ou é sintetizada na pele pela irradiação ultravioleta (D3), a partir do 7- desidrocolesterol. D2 difere de D3 pela dupla ligação adicional na posição 21 para 22, deriva do esterol vegetal, ergosterol. O termo vitamina D é utilizado para designar em ambas as formas. São fisiologicamente inativos e necessitam de conversão para sua forma ativa a 1,25-diidroxicolecalciferol. A vitamina D promove a mineralização do osso novo e suas ações são coordenadas para aumentar ambas as concentrações de Cálcio e de Fosfato, de modo que esses elementos possam ser depositados no mineral do osso novo. A vitamina D é lipossolúvel fica armazenada no fígado, podendo decorrer vários meses para serem dissipadas. A vitamina D tem pouca ou nenhuma atividade biológica intrínseca, terá que sofrer hidroxilações sucessivas para poder agir como hormônio. Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância Síntese de Vitamina D A síntese de vitamina D ocorre nas células cutâneas especializadas, queratinócitos, localizadas na epiderme. Sob a influência da luz solar (raios UV) o 7- desidrocolesterol é fotoconvertido a pré-vitamina D, que depois de 3 dias é convertida em vitamina D3. A exposição contínua à luz solar acarreta fotodegradação da pré- vitamina D3 a produtos inativos. A síntese de Vitamina D3 é inibida pela 1,25 (OH)2-D e estimulada pelo PTH. No fígado o Colecalciferol é hidroxilado para formar a 25-hidroxicolecalciferol, que também é inativo. A 25-hidroxicolecalciferol circula no plasma ligada a uma alfa- globulina plasmática, e é a principal forma circulante da Vitamina D. No rim a 25- hidroxicolecalciferol passa por nova hidroxilação e se transforma em 1,25- diidroxicolecalciferol que é a forma ativa da Vitamina D. Essa etapa é catalisada pela 1- alfa-hidroxilase ativada pela concentração plasmática diminuída de Cálcio, pelo PTH e concentração diminuída de Fosfato. Ações da Vitamina D Aumentar a Concentração de Cálcio e Fosfato plasmático: 1. Intestino: aumenta a absorção de Cálcio, Fosfato e Magnésio 2. Rim: aumenta a absorção de Cálcio e Fosfato 3. Osso: atua com PTH estimulando a atividade osteoclástica e reabsorção óssea (remodelagem óssea). Deficiência de Vitamina D Acesso inadequado a luz solar Fontes dietéticas inadequadas Má absorção de gorduras Doença hepática Insuficiência renal Gens defeituosos que codificam a enzima 25 hidroxilase ou 1 alfa hidroxilase Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância A doença renal crônica consiste em lesão renal e perda progressiva e irreversível da função dos rins (glomerular, tubular e endócrina).Em sua fase mais avançada (chamada de fase terminal de insuficiência renal crônica - IRC), os rins não conseguem mais manter a normalidade do meio interno do paciente. EPIDEMIOLOGIA A doença renal crônica constitui hoje em um importante problema médico e de saúde pública. No Brasil, a prevalência de pacientes mantidos em programa crônico de diálise mais que dobrou nos últimos oito anos. De 24.000 pacientes mantidos em programa dialítico em 1994, alcançamos 59.153 pacientes em 2004. A incidência de novos pacientes cresce cerca de 8% ao ano, tendo sido 18.000 pacientes em 2001. O gasto com o programa de diálise e transplante renal no Brasil situa-se ao redor de 1,4 bilhões de reais ao ano.Doença Renal Crônica Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância Levando-se em conta dados norte-americanos, para cada paciente mantido em programa de diálise crônica existiriam cerca de 20 a 25 pacientes com algum grau de disfunção renal, ou seja, existiriam cerca de 1,2 a 1,5 milhão de brasileiros com doença renal crônica. Trabalho populacional recente em Bambui – MG mostrou que a prevalência de creatinina sérica elevada foi de 0,48% em adultos da cidade, chegando a 5,09% na população mais idosa (>60 anos), o que projetaria a população brasileira com disfunção renal a cerca de 1,4 milhão de pessoas. A detecção precoce da doença renal e condutas terapêuticas apropriadas para o retardamento de sua progressão pode reduzir o sofrimento dos pacientes e os custos financeiros associados à DRC. Como as duas principais causas de insuficiência renal crônica são a hipertensão arterial e o diabetes mellitus, são os médicos clínicos gerais que trabalham na área de atenção básica à saúde que cuidam destes pacientes. Ao mesmo tempo, os portadores de disfunção renal leve apresentam quase sempre evolução progressiva, insidiosa e assintomática, dificultando o diagnóstico precoce da disfunção renal. Assim, a capacitação, a conscientização e vigilância do médico de cuidados primários à saúde são essenciais para o diagnóstico e encaminhamento precoce ao nefrologista e a instituição de diretrizes apropriadas para retardar a progressão da DRC, prevenir suas complicações, modificar comorbidades presentes e preparo adequado a uma terapia de substituição renal. ESTADIAMENTO DA DOENÇA RENAL CRÔNICA Nos pacientes com doença renal crônica o estágio da doença deve ser determinado com base no nível de função renal, independentemente do diagnóstico. Para efeitos clínicos, epidemiológicos, didáticos e conceituais, a DRC é dividida em seis estágios funcionais, de acordo com o grau de função renal do paciente. Estes estágios são: Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância Fase de função renal normal sem lesão renal – importante do ponto de vista epidemiológico, pois inclui pessoas integrantes dos chamados grupos de risco para o desenvolvimento da doença renal crônica (hipertensos, diabéticos, parentes de hipertensos, diabéticos e portadores de DRC, etc), que ainda não desenvolveram lesão renal. Fase de lesão com função renal normal – corresponde às fases iniciais de lesão renal com filtração glomerular preservada, ou seja, o ritmo de filtração glomerular está acima de 90 ml/min/1,73m2. Fase de insuficiência renal funcional ou leve - ocorre no início da perda de função dos rins. Nesta fase, os níveis de uréia e creatinina plasmáticos ainda são normais, não há sinais ou sintomas clínicos importantes de insuficiência renal e somente métodos acurados de avaliação da função do rim (métodos de depuração, por exemplo) irão detectar estas anormalidades. Os rins conseguem manter razoável controle do meio interno. Compreende a um ritmo de filtração glomerular entre 60 e 89 ml/min/1,73m2. Fase de insuficiência renal laboratorial ou moderada - nesta fase, embora os sinais e sintomas da uremia possam estar presentes de maneira discreta, o paciente mantém-se clinicamente bem. Na maioria das vezes, apresenta somente sinais e sintomas ligados à causa básica (lupus, hipertensão arterial, diabetes mellitus, infecções urinárias, etc.). Avaliação laboratorial simples já nos mostra, quase sempre, níveis elevados de uréia e de creatinina plasmáticos. Corresponde a uma faixa de ritmo de filtração glomerular compreendido entre 30 e 59 ml/min/1,73m2. Fase de insuficiência renal clínica ou severa – O paciente já se ressente de disfunção renal. Apresenta sinais e sintomas marcados de uremia. Dentre estes a anemia, a hipertensão arterial, o edema, a fraqueza, o mal-estar e os sintomas Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância digestivos são os mais precoces e comuns. Corresponde à faixa de ritmo de filtração glomerular entre 15 a 29 ml/min/1,73m2. Fase terminal de insuficiência renal crônica – como o próprio nome indica, corresponde à faixa de função renal na qual os rins perderam o controle do meio interno, tornando-se este bastante alterado para ser incompatível com a vida. Nesta fase, o paciente encontra-se intensamente sintomático. Suas opções terapêuticas são os métodos de depuração artificial do sangue (diálise peritoneal ou hemodiálise) ou o transplante renal. Compreende a um ritmo de filtração glomerular inferior a 15 ml/min/1,73m2. GRUPO DE RISCO PARA A DOENÇA RENAL CRÔNICA Todo paciente pertencente ao chamado grupo de risco para desenvolverem a doença renal crônica deve ser submetido a exames para averiguar a presença de lesão renal (análise de proteinúria) e para estimar o nível de função renal (RFG) a cada ano. Dados da literatura indicam que portadores de hipertensão arterial, de diabetes mellitus, ou história familiar para doença renal crônica têm maior probabilidade de desenvolverem insuficiência renal crônica. Estadiamento e classificação da doença renal crônica: Estágio Filtração Glomerular Grau de Insuficiência Renal (ml/min) 0 > 90 Grupos de Risco para DRC - Ausência de Lesão Renal 1 > 90 Lesão Renal com Função Renal Normal 2 60 – 89 IR Leve ou Funciona 3 30 – 59 IR Moderada ou Laboratorial 4 15-29 IR Severa ou Clínica 5 < 15 IR Terminal ou Dialítica IR = insuficiência renal; DRC=doença renal crônica. Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância DIRETRIZES GERAIS DE TRATAMENTO A avaliação e o tratamento de pacientes com doença renal crônica requer a compreensão de conceitos separados, porém relacionados de diagnóstico, risco de perda da função renal, gravidade da doença, condições comórbidas e terapia de substituição renal. O tratamento de pacientes portadores de insuficiência renal progressiva pode ser dividido em vários componentes, a saber: • Programa de promoção à saúde e prevenção primária (grupos de riscos para DRC) • Identificação precoce da disfunção renal (Diagnóstico da DRC) • Detecção e correção de causas reversíveis da doença renal • Diagnóstico etiológico (tipo de doença renal) • Definição e estadiamento da disfunção renal • Instituição de intervenções para retardar a progressão da doença renal crônica • Prevenir complicações da doença renal crônica • Modificar comorbidades comuns a estes pacientes • Planejamento precoce da terapia de substituição renal (TSR). Risco para Doença Renal Crônica: 1. Elevado Hipertensão arterial Diabetes mellitus História familiar de DRC 2. Médio Enfermidades sistêmicas Infecções urinárias de repetição Litíase urinária repetida Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância Uropatias Crianças com < 5anos Adultos com > 60 anos Mulheres grávidas DOENÇA RENAL CRÔNICA “DE NOVO” Pacientes portadores de aloenxerto renal, apresentando DRC resultante das diferentes formas de agressão ao tecido transplantado: Causas: • Rejeição crônica • Nefrotoxicidade por uso de drogas imunussupressoras • Recidiva de glomerulopatias • Glomerulopatia do transplante Apresentação clínica • Aumento gradual da creatinina • Proteinúria • Hipertensão arterial Fatores de risco para DRC • Proteinúria • Hipertensão arterial • Aumento do colesterol Tratamento • Devem ser acompanhados com os mesmos cuidados e indicaçõesde qualquer portador de DRC, somando-se a manipulação adequada de drogas imunossupressoras nefrotóxicas. Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância A desnutrição é achado comum na fase avançada da DRC não-dialítica. A etiologia da desnutrição nessa fase é claramente multifatorial. Evidências indicam que a redução do apetite é fator importante que contribui para o problema. A redução espontânea da ingestão alimentar e dos parâmetros antropométricos está diretamente associada ao grau de perda da função renal. O problema ocorre, particularmente, naqueles pacientes que não recebem acompanhamento clínico e dietético regularmente. Além disso, como a restrição proteica é a intervenção dietética proposta nessa fase da doença, há risco de desnutrição, caso não haja monitoramento cuidadoso da ingestão alimentar. O estado inflamatório crônico, usualmente encontrado nos pacientes nesse estágio da doença, é apontado como fator independente para a desnutrição. As citocinas próinflamatórias ativam as vias do catabolismo proteico muscular, além de inibirem o apetite. Manejo Nutricional Não-Dialítico Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância Na DRC ocorre resistência à ação de hormônios anabólicos, como insulina e hormônio do crescimento. Por outro lado, ocorre elevação de hormônios catabólicos, como glucagon e paratormônio. Essas alterações levam à combinação de inibição da síntese e aumento do catabolismo proteico muscular. A acidose metabólica resulta em aumento da degradação proteica e da oxidação de aminoácidos. Sua correção leva à diminuição da degradação proteica, com melhora do balanço nitrogenado. Assim, fica claro que a terapia nutricional não deve ser empregada isoladamente, sem que os outros distúrbios relacionados à doença renal sejam adequadamente tratados. Recomendação A DRC, particularmente nas fases mais avançadas (estágios 4 e 5), pode levar a alterações importantes no estado nutricional e no metabolismo. O acúmulo de metabólitos tóxicos e a perda, ainda que parcial, da função reguladora do equilíbrio hidroeletrolítico, ácido-básico e hormonal podem causar redução do apetite, distúrbios gastrintestinais, acidose metabólica, resistência à insulina, hiperparatireoidismo secundário e inflamação. Essas condições estão associadas à diminuição da ingestão alimentar e ao hipercatabolismo. Métodos indicados para a avaliação do estado nutricional de pacientes com DRC não-dialítica: Apesar de ser consenso que a combinação de métodos deva ser empregada na avaliação do estado nutricional de pacientes com DRC, há falta de critérios padronizados para o diagnóstico da desnutrição, principalmente na fase não-dialítica. Critérios são propostos para o diagnóstico da desnutrição em pacientes com DRC, baseados em quatro grandes categorias. Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância Apesar dos critérios incluídos serem válidos individualmente e se associarem com desfechos, como morbidade e mortalidade, a combinação deles, conforme proposta, ainda necessita ser validada. O apetite e a ingestão alimentar são dados importantes para a identificação de risco nutricional dos pacientes. A ingestão alimentar detalhada pode ser avaliada por meio do recordatório alimentar de 24 horas ou do registro alimentar de três dias. Entretanto, o objetivo maior da aplicação desses instrumentos para o diagnóstico nutricional não é a obtenção acurada dos nutrientes ingeridos, já que existem erros inerentes ao método e ao indivíduo. O foco é a análise subjetiva, seriada e a longo prazo, que possibilita a identificação rápida de alterações significativas na quantidade e na qualidade dos alimentos ingeridos. A avaliação global subjetiva (AGS), que inclui dados da história e do exame físico, tem sido amplamente empregada para a identificação da desnutrição de pacientes com DRC. A AGS original parece ser acurada para a avaliação do estado nutricional de pacientes na fase nãodialítica. É importante ressaltar que, tanto as medidas antropométricas quanto as bioquímicas, empregadas na avaliação do estado nutricional de pacientes com DRC, devem ser obtidas e interpretadas com cuidado. Vários Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância distúrbios da doença per se podem alterar os resultados laboratoriais sem que isso signifique, necessariamente, distúrbio nutricional. Nesse aspecto, destacam-se as alterações do peso corporal em decorrência dos distúrbios do balanço hídrico. Esse fator pode, também, influenciar na concentração sérica de vários marcadores proteicos viscerais, entre eles, da albumina. Além disso, a concentração sérica da albumina pode estar baixa devido à diminuição de sua síntese hepática, em consequência da ativação da resposta inflamatória. Para pacientes com DRC não-dialítica, a ingestão proteica pode ser estimada a partir de testes bioquímicos, como pelo cálculo do equivalente proteico do aparecimento de nitrogênio (PNA). Porém, para a validade do uso do PNA, algumas premissas são essenciais, como a necessidade de coleta completa da urina de 24horas e a estabilidade metabólica do paciente. Condições como infecção, perda abrupta de peso, febre e uso de alguns medicamentos podem causar aumento do catabolismo proteico. Nesses casos, o PNA estará aumentado, independente da ingestão proteica. Além disso, o cálculo do PNA estima a ingestão proteica de um único dia, e pode não refletir o habitual. Recomendação A combinação de métodos, incluindo a história global e alimentar, o exame físico detalhado, as medidas antropométricas e os testes bioquímicos, deve ser empregada para a avaliação do estado nutricional de pacientes com DRC na fase não- dialítica. A terapia nutricional, desde que bem planejada, implementada de forma individualizada, com acompanhamento frequente e boa adesão do paciente, possibilita a manutenção ou o restabelecimento do estado nutricional e da qualidade de vida. O efeito independente da restrição proteica sobre a progressão da DRC, que é a principal manipulação dietética nessa fase, ainda é controverso. Porém, essa intervenção é capaz de retardar a necessidade da terapia renal substitutiva. Além disso, há evidência consistente de que a terapia nutricional adequada nessa fase da doença contribui para controlar o acúmulo de metabólitos potencialmente tóxicos, ajuda no controle da hiperpotassemia e da hipertensão, reduz Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância a proteinúria e é parte fundamental no controle dos distúrbios do metabolismo mineral ósseo. Recomendação Os objetivos da terapia nutricional na DRC não-dialítica são: 1) manter ou restabelecer o estado nutricional; 2) retardar a progressão da doença renal; 3) minimizar o acúmulo de compostos nitrogenados tóxicos; 4) prevenir ou minimizar os distúrbios hidroeletrolíticos, mineral, ácido básico e hormonal. Recomendação de energia e nutrientes para pacientes com DRC na fase não-dialítica: Estudos de balanço nitrogenado e de medidas do turnover proteico demonstram que pacientes com DRC na fase não-dialítica, em condições clínicas estáveis e que são submetidos à dieta com menor quantidade de proteína, são capazes de ativar mecanismos adaptativos. Esses possibilitam a manutenção das reservas proteicas corporais, desde que a oferta de energia seja suficiente. A quantidade recomendada é em torno de 0,6 g/kg/dia de proteína alimentar. Pelo menos, 50% dessas devem ser provenientesde fontes de alto valor biológico. Não existe definição a respeito do grau de disfunção renal em que a diminuição na quantidade de proteína da dieta deve ser iniciada. Porém, estima-se que, a partir do estágio três da DRC (TFG <60 mL/min), há benefícios na restrição proteica. Embora exista escassez de estudos controlados, de longo prazo, e com número significativo de indivíduos estudados, a dieta muito restrita em proteína (0,3 g/kg/dia), suplementada com aminoácidos essenciais e cetoácidos, pode ser segura do ponto de vista nutricional e oferecer benefícios, como melhora dos sintomas urêmicos, do controle da pressão arterial, da acidose metabólica, da sensibilidade à insulina e dos distúrbios do metabolismo mineral ósseo. Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância Esse tipo de dieta é mais indicado para pacientes com taxa de filtração glomerular <25 mL/min. Porém, não existem estudos comparativos e de longo prazo entre as duas modalidades de dieta. Os maiores limitantes da dieta muito pobre em proteína são a dificuldade de aderência a longo prazo, pois o indivíduo deve seguir dieta vegetariana controlada, e o custo elevado dos suplementos de aminoácidos essenciais ou cetoácidos. Apesar dos estudos metabólicos demonstrarem que 30 kcal/kg/dia é o mínimo a ser fornecido para a manutenção dos parâmetros nutricionais, há alguns estudos que sugerem que a necessidade de energia pode ser menor, particularmente nos pacientes idosos ou com estilo de vida sedentário. Por outro lado, ajustes devem ser feitos para pacientes com desnutrição ou em risco nutricional, principalmente aqueles que apresentam doenças crônicas graves associadas (diabetes mellitus de difícil controle, insuficiência cardíaca congestiva crônica, doença pulmonar obstrutiva crônica, processos inflamatórios e/ou infecciosos crônicos, e outros). Vale ressaltar que, nesses casos, o foco principal é o aumento da oferta de energia. A hipertensão é um dos fatores de risco para o desenvolvimento e progressão da DRC, e o problema piora conforme a função renal se deteriora. Embora exista escassez de estudos comparando diferentes quantidades de sódio alimentar, recomenda-se o controle na ingestão do mineral. O potássio não é normalmente restringido até que haja perda significativa da função renal. Usualmente, os pacientes recebem diuréticos e enquanto existe volume urinário médio de 1.000 mL/dia, o potássio não necessita de restrição na dieta. Entretanto, alguns medicamentos antihipertensivos, como inibidores da enzima conversora, podem elevar precocemente os níveis séricos de potássio. Esse fator indica a restrição alimentar do mineral. Os líquidos também não necessitam de restrição na dieta, até que ocorra perda significativa da função renal. Pelo fato de a absorção intestinal de cálcio diminuir com a progressão da DRC, pode ser necessária a suplementação do mineral, assim como da vitamina D ativa. Porém, as quantidades recomendadas são baseadas mais em consensos do que em estudos controlados. Também, os níveis elevados de fósforo estão ligados à progressão Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância da DRC e ao desenvolvimento do hiperparatireoidismo secundário. Quando ocorre elevação dos níveis séricos de fósforo, existe indicação do controle do mineral na dieta. As necessidades de vitaminas na fase nãodialítica da DRC ainda não estão bem definidas. As reservas de vitamina A estão, aparentemente, aumentadas, já nessa fase da DRC, portanto a sua suplementação não é recomendada. As necessidades de oligoelementos também não estão bem definidas e, provavelmente, são semelhantes às da população em geral. A suplementação de ferro pode ser necessária para alguns pacientes, especialmente quando em terapia com a eritropoietina. Recomendações Na fase não-dialítica da DRC, é recomendada dieta hipoproteica (0,6-0,8 g/kg/dia) ou muito hipoproteica (0,3 g/kg/dia) suplementada com aminoácidos essenciais e/ou cetoácidos, associada à oferta adequada de energia. Na fase não-dialítica da DRC, é recomendada restrição de sódio e de fósforo na dieta. A necessidade de restrição de potássio depende da função renal, e é determinada pelos níveis séricos do eletrólito. O cálcio pode necessitar de suplementação, mas depende dos níveis séricos do mineral, do fósforo e do hormônio da paratireoide (PTH). Com o uso em longo prazo de dietas hipoproteicas, é recomendada a suplementação de vitaminas hidrossolúveis, e pode ser indicada a administração da vitamina D. Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância A hemodiálise (HD) é uma terapia dialítica intermitente. O procedimento ocorre, em geral, três vezes por semana, durante quatro horas cada sessão. Os maiores problemas nutricionais estão relacionados ao acúmulo de metabólitos entre as sessões dialíticas e à perda de nutrientes durante o procedimento. A prevalência da desnutrição nesses pacientes é elevada, e varia entre 40% a 80%. A desnutrição, associada à piora da capacidade funcional e ao pior prognóstico de morbidade e mortalidade, resulta em aumento significativo nos gastos com saúde. A prevalência e a gravidade da desnutrição aumenta de acordo com o número de anos de HD, sendo mais pronunciada em indivíduos mais velhos. Embora todas as opções de terapia enteral e parenteral possam ser indicadas, o reforço da alimentação convencional via oral e, quando necessário, o uso de suplementos, parecem ser as opções mais efetivas e bem toleradas para a prevenção e a recuperação nutricional dos pacientes em HD. Manejo Nutricional Dialítico Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância HD crônica influenciando o estado nutricional e o metabolismo: O tratamento de HD pode contribuir para a diminuição das reservas corporais de proteína e de energia. Esse quadro parece ser resultado das alterações no metabolismo energético e proteico inerentes à doença renal crônica (DRC) e ao próprio procedimento dialítico. A influência do procedimento dialítico sobre o metabolismo energético e proteico foi demonstrada pela redução de aminoácidos plasmáticos e síntese intracelular de proteína muscular; ocorrendo a proteólise muscular na tentativa de manter a concentração plasmática de aminoácidos. Esses eventos resultam em estado catabólico, que se estende até duas horas após a sessão de diálise. Essa cadeia é acompanhada por aumento no gasto de energia durante e até duas horas após a sessão de diálise. Outros fatores pelos quais a HD pode alterar o metabolismo incluem o início da resposta inflamatória causada pelo contato do sangue do paciente com o dialisador, que é uma membrana não totalmente biocompatível, e a perda de aminoácidos e de outros nutrientes que ocorrem durante a diálise. Outra causa tratável de aumento de catabolismo proteico, frequentemente observada em pacientes em HD, é a acidose metabólica. Além dos fatores que aumentam o catabolismo proteico, sabe-se que a ingestão alimentar baixa, condição frequentemente observada nos pacientes em HD, também contribui para alteração do estado nutricional. As causas de hiporexia são diversas, e incluem os efeitos das citocinas inflamatórias, da subdiálise, do longo tempo fora de casa no dia do procedimento dialítico, os fatores sociais e psicológicos, as dietas pouco palatáveis, o número elevado de medicamentos e o sedentarismo. Recomendação Vários fatores relacionados ao procedimento hemodialítico e à DRC afetam o estado nutricional e o metabolismo dos pacientes. Durante o procedimento, sãoperdidos nutrientes, como aminoácidos, pequenos peptídeos, vitaminas e glicose. Além disso, o procedimento ativa o processo inflamatório crônico que, por sua vez, eleva o Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância catabolismo e pode afetar o apetite. Consequentemente, os pacientes em HD estão em grande risco de depleção das reservas corporais de proteína e de energia. Métodos indicados para a avaliação do estado nutricional de pacientes em HD: Para avaliar o estado nutricional do paciente em HD, deve-se empregar um conjunto de indicadores nutricionais subjetivos e objetivos. Existem sugestões de critérios a serem utilizados para diagnosticar a desnutrição nos pacientes com DRC, porém, a ferramenta ainda não está validada. Dentre os métodos subjetivos, o simples questionamento sobre o apetite é válido. O apetite foi diretamente correlacionado à desnutrição e à inflamação dos pacientes em HD. Dados sobre a ingestão alimentar, qualitativa e quantitativa, também são valiosos, a ingestão alimentar pode ser avaliada por registros alimentares de três a quatro dias e recordatórios de 24 horas. A avaliação global subjetiva (AGS), que associa dados da história e do exame físico, tem se destacado, por apresentar bom poder de prognóstico, ser simples e apresentar baixo custo. Recentemente, a AGS modificada de sete pontos foi validada para pacientes em HD crônica. Outro sistema modificado da AGS tradicional, mas que adiciona medidas antropométricas e testes laboratoriais, é o Escore de Desnutrição- Inflamação (Malnutrition-Inflammation Score: MIS). Estudo realizado com pacientes em diálise, durante o período de um ano, comparou as três ferramentas: AGS tradicional, AGS modificada (7 pontos) e MIS15. Os resultados mostraram que o último teve correlação mais forte e significativa com a taxa de hospitalização e de mortalidade. Nas medidas antropométricas, destacam-se o peso, a estatura, as dobras cutâneas e a circunferência do braço; medidas que devem ser feitas periodicamente, de tal forma que o próprio paciente seja controle dele mesmo, principalmente pelo fato de não haver valores de referência para HD. Alguns cuidados, como usar o braço contrário ao da fístula arteriovenosa e realizar a avaliação logo após a sessão de HD, devem ser tomados. Nos testes laboratoriais, destaca-se a albumina sérica, devendo ser usada com cautela para essa finalidade, uma vez que a DRC e o procedimento dialítico per se Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância podem desencadear processo inflamatório subclínico. Porém, independente da causa, os valores reduzidos de albumina plasmática merecem atenção por se associarem com piora das taxas de mortalidade. A ureia e a creatinina séricas baixas podem refletir ingestão proteica deficiente, sendo que a concentração sérica baixa de creatinina pode refletir massa muscular reduzida. O equivalente proteico do aparecimento de nitrogênio (PNA) pode ser calculado para avaliar a ingestão proteica. Alguns distúrbios clínicos comumente presentes em pacientes em HD, como edema, variação hídrica no período interdialítico, osteodistrofia renal e inflamação, podem alterar o resultado de vários marcadores nutricionais. Recomendação Não existe um marcador único capaz de avaliar o estado nutricional do paciente em HD. Portanto, recomenda-se a aplicação de um conjunto de métodos, que inclui a história global e alimentar, o exame físico detalhado, as medidas antropométricas e os testes bioquímicos, para se chegar ao diagnóstico nutricional adequado. Objetivos da terapia nutricional na HD crônica: Uma vez que vários estudos reportam associação entre piora de indicadores nutricionais corporais com a diminuição da ingestão de energia e de nutrientes, acredita-se que a terapia nutricional (TN), independente da via de acesso, seja aspecto importante para pacientes em HD. Além disso, a TN contribui para a prevenção e o tratamento da retenção hídrica, hipertensão, hiperpotassemia e hiperfosfatemia dos pacientes em HD. Apesar de sua reconhecida importância, os estudos que avaliaram a eficiência da TN sobre o tratamento da desnutrição apresentam amostras pequenas, tempo curto de acompanhamento e resultados pouco conclusivos sobre o impacto na melhora do prognóstico. Recomendações Recuperar e/ou manter o estado nutricional; Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância Minimizar o catabolismo proteico; Manter o equilíbrio ácido-básico, hidroeletrolítico, de minerais e de vitaminas; Melhorar o prognóstico. Recomendação de energia e nutrientes para pacientes em HD: Com relação à recomendação de energia, estudos demonstram que o gasto energético de repouso de pacientes em HD é semelhante ao de indivíduos saudáveis, pareados por sexo e idade. Embora o gasto energético aumente durante e até duas horas após o procedimento dialítico, o estilo de vida sedentário e a ingestão alimentar baixa; possivelmente contrabalanceiam o gasto energético total. Sendo assim, as recomendações de energia para pacientes em HD são semelhantes à de indivíduos saudáveis. Em razão da perda de aminoácidos que ocorre durante o procedimento dialítico, a necessidade de proteína desses pacientes é superior a de indivíduos saudáveis. A recomendação de sódio e de potássio é individualizada, dependendo do volume e das perdas urinárias. Como a desnutrição é um grande risco, aqueles pacientes sem manifestações clínicas de sobrecarga hídrica e com ingestão calórica baixa podem ser orientados para o consumo habitual de sódio, principalmente na última refeição anterior à sessão de diálise (7 a 9 horas antes). Pacientes com volume urinário igual ou maior que 1.000 mL/dia, em geral, não necessitam de restrição de potássio na dieta. Os níveis séricos de potássio e o volume urinário determinam a necessidade de restrição, e devem ser monitorados regularmente. O volume de excreção urinária é, também, um bom guia para a recomendação da ingestão de líquidos. A recomendação para o ganho de peso interdialítico em termos relativos (porcentagem do peso seco) considera diferenças individuais na estrutura física. O aumento de 2,0% a 4,5% do peso seco é seguro para a maioria dos pacientes. A recomendação de cálcio é em torno de 1.000 mg por dia. Esse mineral pode requerer suplementação devido a sua absorção intestinal diminuída e em virtude da restrição usual de produtos de laticínio (ricos em fósforo) na dieta. Entretanto, depósitos de Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância fosfato de cálcio nas artérias de pacientes em diálise podem levar a complicações e morte cardiovascular. Por outro lado, é recomendada a restrição de fósforo, sendo ideal, no máximo, 800 mg ao dia. Porém, como as proteínas são recomendadas em quantidades elevadas, é impossível grande restrição de fósforo na dieta, podendo ser necessário o uso dos quelantes. Estes se ligam ao fósforo da dieta e são excretados via intestinal. A vitamina D pode ser recomendada em sua forma ativa (1,25-diidroxicolecalciferol) para aumentar a absorção intestinal do cálcio, prevenir e tratar o hipertireoidismo e melhorar o metabolismo ósseo. A indicação de suplementação é individualizada, de acordo com os níveis séricos de cálcio, fósforo e PTH. As vitaminas lipossolúveis (exceto a vitamina D), usualmente, não exigem suplementação. As vitaminas hidrossolúveis são perdidas durante a diálise, além de a ingestão alimentar usualmente estar deficiente. A suplementação é recomendada principalmente para o complexo B (ácido fólico e piridoxina) e vitaminaC. Um fato relacionado à deficiência de vitaminas hidrossolúveis é a aterosclerose, causa comum de morte de pacientes em diálise. A homocisteína é um potente agente aterosclerótico, e suas concentrações sanguíneas estão geralmente elevadas em pacientes renais crônicos. A hiperhomocisteinemia está correlacionada com doença vascular precoce. E as vitaminas B12, B6 e o ácido fólico funcionam como cofatores nas reações enzimáticas do metabolismo da homocisteína. Em doses farmacológicas, a suplementação diária dessas vitaminas reduz as concentrações plasmáticas de homocisteína em indivíduos com insuficiência renal crônica (IRC). A recomendação de suplementação de ferro varia de acordo com o uso ou não da eritropoietina. Pacientes recebendo eritropoietina normalmente necessitam da suplementação rotineira de ferro. Recomendação Pacientes em HD necessitam de dietas hiperproteicas, normocalóricas e restritas em líquido, sódio, potássio e fósforo. Devido às perdas significativas durante o procedimento hemodialítico, existe indicação de suplementação diária de vitaminas Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância hidrossolúveis para pacientes em HD. Com a exceção da vitamina D, a suplementação de vitaminas lipossolúveis não é recomendada, particularmente de vitamina A, que pode se acumular no organismo. TN enteral e parenteral na HD crônica: Já é bem reconhecido que a presença da desnutrição é determinante independente de morbidade e mortalidade de pacientes em HD. Os indicadores nutricionais preditores do aumento da mortalidade em HD incluem a redução da ingestão de energia e de proteína, e baixos valores de IMC e de albumina sérica. Logo, a ocorrência dessas condições é usada para sinalizar a necessidade do início da TN nos pacientes em HD. O aconselhamento nutricional intensivo, com orientações específicas para aumentar a ingestão de energia e de proteína, deve ser a primeira conduta a ser tomada. No entanto, caso essa intervenção não seja bem sucedida e os parâmetros nutricionais continuarem a piorar, a iniciação da suplementação oral deve ser considerada. Pacientes em HD e diálise peritoneal (DP), sendo cinco avaliados sobre os parâmetros clínicos, bioquímicos e nutricionais, demonstraram que a TN aumenta a ingestão de energia e de proteína, e eleva a concentração de albumina sérica em 0,23 g/dL. A suplementação oral contendo 500 kcal e 19 g de proteína por dia, durante três meses, pode aumentar a ingestão energética e proteica, associada com a elevação da albumina sérica. Entretanto, uma das limitações do uso da suplementação oral é a baixa adesão e/ou a descontinuidade após o primeiro mês de tratamento. O efeito do uso do suplemento oral somente durante as sessões de HD (3x/semana), por nove meses pode melhorar os níveis da albumina sérica após o sexto mês de suplementação, e da AGS ao final do estudo. Portanto, uma boa alternativa para os pacientes em HD é realizar a suplementação oral durante (logo antes ou após) a sessão de diálise. Caso a suplementação oral não obtenha resultados satisfatórios e o trato gastrointestinal esteja íntegro, a dieta via sonda nasogástrica ou nasojejunal pode ser indicada. Entretanto, o risco de comprometimento da membrana peritoneal pode ser Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância limitante para a indicação imediata dessas modalidades de acesso de sonda, além da dificuldade de aceitação do paciente. Outra via de acesso com bons resultados em pacientes em HD é a nutrição parenteral intradialítica (NPID). Nesse caso, aproveita-se a via de acesso da HD (fístula arteriovenosa) para a NPID. É recomendado que a infusão (inserção da agulha) seja feita na linha de retorno venoso, e não diretamente na fístula. Essa terapia fornece energia e nutrientes nos dias de tratamento dialítico (três vezes por semana). Sob o ponto de vista metabólico e nutricional, a estratégia tem se mostrado eficiente em reverter o hipercatabolismo proteico e o aumento do gasto de energia que ocorre durante a HD. No entanto, vale mencionar que NPID apresenta custo superior à TN oral e via sonda. Sendo assim, a relação custo-benefício dessa via de acesso ainda precisa ser melhor investigada. Recomendação Para pacientes em HD, a TN com suplementos orais deve ser iniciada em caso de desnutrição e ingestão de energia e nutrientes abaixo das necessidades, após tentativas de aumentar o consumo alimentar somente com a dieta. A TN via sonda deve ser reservada para pacientes hipercatabólicos ou inconscientes, com dificuldade de alcance das necessidades de nutrientes pela via oral. A TN parenteral deve ser utilizada para pacientes com disfunção ou impedimento do trato gastrointestinal. Indicação para o emprego de fórmulas especializadas para a TN: Fórmulas desenvolvidas para pacientes em tratamento não dialítico da DRC não devem ser usadas para aqueles em diálise, pois são pobres em proteínas. O objetivo do uso de fórmulas especializadas para HD é oferecer energia e nutrientes sem promover efeitos adversos no controle hídrico e de eletrólitos. As fórmulas especializadas se caracterizam por serem hiperproteicas e com quantidades baixas de potássio e de fósforo. A densidade energética dessas fórmulas varia entre 1,5 kcal/mL a 2,0 kcal/mL, favorecendo o balanço hídrico. O benefício das fórmulas especializadas sobre os padrões foi avaliado; onde a definição das fórmulas especializadas foi inconsistente, e a Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância descrição do conteúdo de nutrientes estava incompleta; não havendo diferença entre as fórmulas em relação aos efeitos colaterais gastrointestinais, ingestão energética e proteica, nos parâmetros antropométricos e na albumina sérica. Não foi comparado o efeito sobre o controle sérico de potássio e de fósforo. Sendo assim, o benefício de fórmulas especializadas para HD ainda é inconclusivo e requer mais estudos. Para a potencialização dos efeitos anabólicos da suplementação nutricional, a exposição concomitante ao exercício físico tem demonstrado bons resultados. Estudos de curto prazo, em indivíduos em regime de hemodiálise, mostraram que após o exercício o acréscimo de proteína muscular é maior quando comparado ao suplemento oral sozinho. Recomendação Para pacientes em HD, as fórmulas especializadas são preferidas. Porém, a indicação delas depende do aporte recebido pela TN especializada e pela quantidade ingerida dos alimentos, quando existente. Independente do tipo de fórmula utilizada, durante a TN deve ser realizado, regularmente, o controle da concentração plasmática de fósforo e de potássio, e do ganho de peso interdialítico. Apostila Curso Nutrição na Doença Renal Crônica Ensino à Distância Referências: Abel, R.M.; Buckley, M.J.; Austen, W.G.; Barnett, G.O.; Beck, C.H, Jr.; Fischer, J.E. – Etiology, incidence, and prognosis of renal failure following cardiac operations. 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