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CURSO LIVRE AUDIOVISUAL Produção Audiovisual MATERIAL DE ESTUDO Produção Audiovisual MATERIAL DE ESTUDO AUDIOVISUAL Produção Audiovisual MATERIAL DE ESTUDO CURSO LIVRE AUDIOVISUAL © 2024 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás. Este material, no que diz respeito tanto à linguagem quanto ao conteúdo, não reflete necessariamente a opinião do Instituto Federal de Goiás. As opiniões são de responsabilidade exclusiva dos respectivos elaboradores. É permitida a reprodução total ou parcial desde que citada a fonte. Programa Nacional de Formação e Qualificação para o Mundo do Trabalho em Cultura CURSO LIVRE PRODUÇÃO AUDIOVISUAL Coordenação Geral do projeto Mônica Mitchell Morais Braga Coordenação de EaD Helen Betane Ferreira Pereira Coordenação pedagógica Rosselini Diniz Barbosa Ribeiro Coordenação de Curso Murilo Gabriel Berardo Bueno Coordenação de Acessibilidade e Inclusão Gláucia Mendes da Silva Equipe técnica Editoria Helen Betane Ferreira Pereira Rosselini Diniz Barbosa Ribeiro Organização Murilo Gabriel Berardo Bueno Revisão Aguimario Pimentel Silva Projeto gráfico Pedro Henrique Pereira de Carvalho Diagramação e Capa Isabela Maia Marinho Lía Vallejo Torres Rafael Oliveira de Souza Equipe elaboradora Álvaro André Zeini Cruz Doutor e mestre em Multimeios pela Unicamp — com doutorado-¡sanduíche pela University of Leeds —, especialista em Roteiro pela FAAP e bacharel em Cinema e Vídeo pela Unespar. Curtametragista, realizador dos curtas “Palhaços”, “Mimese”, “Memórias do meu tio” e “Janelas”. Roteirista e crítico de cinema e televisão. Professor universitário. Brener Neves Silva Mestre em Cinema e Audiovisual, especialista em Cinema e Linguagem Audiovisual e graduado em Produção Audiovisual. Editor de Cinema Ameríndio no Observatório de Cinema e Audiovisual (OCA) da UFF. INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE GOIÁS Diretoria de Educação a Distância - Reitoria Avenida C-198, Qd. 500, Jardim América Goiânia/GO | CEP 74270–040 (62) 3612-2278 coordenacao.minc@ifg.edu.br contato@escult.cultura.gov.br escult.cultura.gov.br CURSO LIVRE PRODUÇÃO AUDIOVISUAL TÓPICO Da produção à distribuição de conteúdo audiovisual TÓPICO 4 Unidades Temáticas do Tópico 4.1 Produção 4.2 Distribuição 4.3 Exibição 4.4 Novas possibilidades, outros audiovisuais No tópico anterior, falamos sobre a organização e os processos de uma produção audiovisual. Agora, vamos avançar um pouco e pensar sobre como viabilizar financeiramente uma produção e como fazê-la chegar às várias possibilidades de telas hoje existentes. Além disso, vamos estudar outras linguagens, suportes e formas de exibição audiovisual. CURSO LIVRE PRODUÇÃO AUDIOVISUAL TÓPICO 4 DA PRODUÇÃO À DISTRIBUIÇÃO DE CONTEÚDO AUDIOVISUAL 65 4.1 Produção Em vez de pensar a equipe e os processos de realização, como fizemos no tópico anterior, agora vamos falar um pouco sobre como conseguir recursos para uma pro- dução audiovisual, apresentando diferentes variáveis e caminhos. Antes de tudo, é preciso relembrar que cada produto tem suas especificidades, como duração, gêne- ro e valor de produção. Por exemplo: a ficção científica e a fantasia são gêneros com elementos que costumam tornar a produção mais cara do que uma comédia român- tica. Um exemplo mais prático: se um filme tem cenas com personagens em um país estrangeiro, a produção precisa orçar, já no projeto, o custo dessa viagem, pensando a equipe e os artistas envolvidos. A produção também pode encontrar alternativas: as cenas do longa O casamento de Romeu e Julieta (2005) que se passavam no Japão foram gravadas em São Paulo, em locais adaptados pela direção de arte. Em casos como esse, a produção também pode adquirir imagens pré-captadas, disponíveis em bancos de imagens, para retratar transições e imagens externas daquele país. Esse é apenas um exemplo entre tantos possíveis. Fato é que um ponto de partida importante é saber qual o melhor formato e a melhor tela para o produto que você planeja realizar. Hoje em dia, nas rodadas de negócios — como são cha- madas as reuniões entre os que têm ideias para vender e os que querem investir nelas —, uma das primeiras coisas perguntadas por representantes de produtoras, streamings e canais é: onde você imagina o seu produto? Isso porque, se você imagina seu produto como uma série para streaming, ele provavelmente será desenvolvido de maneira diferente do que se fosse para TV aberta. Se você imagina sua história como um curta-metragem, em vez de um lon- ga, pode-se pressupor que a obra finalizada dificilmente será exibida em salas do circuito comercial, mas por exibidores alternativos, como festivais de cinema ou canais e streamings dedicados a esse formato. https://www.imdb.com/title/tt0429743/?ref_=nv_sr_srsg_0_tt_7_nm_0_in_0_q_O%2520casamento%2520de%2520romeu%2520e%2520julieta CURSO LIVRE PRODUÇÃO AUDIOVISUAL TÓPICO 4 DA PRODUÇÃO À DISTRIBUIÇÃO DE CONTEÚDO AUDIOVISUAL 66 Já que falamos das rodadas de negócio, elas são um tipo de evento cada vez mais comum para que o/a roteirista ou produtor/a apresente uma ideia em busca de parcerias e maneiras de realizá-la. Funciona assim: você envia um projeto cur- tinho (geralmente chamado de bíblia de venda) e ele fica à disposição para que os chamados players (emissoras, streamings, produtoras maiores) leiam. Caso um ou mais players se interessem, você tem a oportunidade de apresentar a ideia ao vivo para representantes dessas empresas. Em uma defesa oral (e bre- ve!), você tem que dizer (e convencer!) por que aquela obra merece ser produzida e por que só você pode produzi-la. É essa defesa oral que chamamos de pitching. As rodadas de negócio costumavam acontecer em grandes eventos de mercado, mas, nos últimos anos, têm ocorrido em eventos mais abertos e com caráter edu- cativo, normalmente voltados à área do roteiro audiovisual. Mas digamos que você já tem um roteiro pronto. Então, o que você tem a fazer é estudar a melhor forma de viabilizá-lo. Se o seu projeto é para cinema, o melhor caminho (no Brasil e quase no mundo todo) é buscar um edital cultural que favoreça a produção cinematográfica. Esses editais podem partir de iniciativas privadas, mas normalmente são elaborados e lançados por instituições públicas relacionadas à arte e à cultura, nos âmbitos municipal, estadual ou federal. Via de regra, existem dois tipos de editais: o de fomento direto e o de fo- mento indireto. Editais de fomento direto são aqueles em que, após a avaliação e escolha de uma banca, os projetos recebem o valor previsto para a produção. Já os editais de fomento indireto também preveem processos de avaliação e con- corrência, mas, ao invés de os proponentes receberem os recursos financeiros diretamente, a produção do projeto é autorizada a captá-los com empresas. Além de terem suas marcas vinculadas a uma iniciativa cultural, geralmente essas em- presas podem abater parte do investimento em impostos. Existem diferentes tipos de editais: para curta, longa, documentário, vídeo edu- cativo, desenvolvimento de roteiro, produções voltadas a uma temática ou a um pú- blico-alvo específico. São várias as possibilidades, e, para entender se seu projeto se encaixa, é preciso ler o edital com atenção. Editais costumam ser documentos longos e recheados de detalhes que explicam o que é preciso para que você inscreva seu projeto e para que ele esteja apto a concorrer aos recursos previstos. Portanto, tire um bom tempo para ler esse documento com calma. Se possível, organize um checklist do que o edital pede para a inscrição do projeto; a falta de um documento, por exem- plo, já basta para eliminar um projeto inteiro! Essa elaboração do projeto visando um CURSO LIVRE PRODUÇÃO AUDIOVISUAL TÓPICO 4 DA PRODUÇÃO À DISTRIBUIÇÃO DE CONTEÚDO AUDIOVISUAL 67 edital, uma rodada de negócios ou um pitching é um planejamento que antecede a pré-produção. No mercado, muitas vezes essa etapa é chamadade preparação. Cada edital tem seus pormenores, mas, no geral, o que se pede no audiovisual são documentos que comprovem a importância cultural, a originalidade do projeto e a capacidade que o/a proponente (aquele/a que propõe o projeto) e sua equipe têm de produzi-lo. Assim, roteiro, justificativa do projeto, cartas de intenção, currículos da equipe principal e orçamento são itens recorrentes em um projeto. Saiba Mais Itens importantes na preparação de um projeto • Justificativa: Item comum (mas que pode vir com outros nomes), é um texto que explica a importância artística e cultural do projeto, pensando a proposta no contexto sociocultural em que ela se apresenta. É aqui que se discute a importância de determinados temas e abordagens que o projeto pretende apresentar. • Cartas de intenção: Textos em que diretores/as e produtores/as explicam visões e intenções criativas sobre o projeto. Muitas vezes são chamadas de visão do/a diretor/a ou visão do/a produtor/a. • Equipe principal: Profissionais que lideram cada departamento, ou seja, direção, produção, direção de arte, direção de fotografia, edição e som. • Orçamento: Documento que prevê todos os custos da produção. Não descuide do orçamento: some, verifique e, de preferência, trabalhe em algum editor de planilhas. Uma soma errada, um valor que não bate pode derrubar um projeto. Chamamos cada linha/valor de um orçamento de rubrica. Editais são uma boa alternativa para produtoras e realizadores iniciantes, mas não são a única: curtas-metragens — que costumam ser um bom formato para apren- der e melhorar o currículo — são realizados, muitas vezes, de forma independente, em coletivos, ou com recursos próprios. No meio universitário, especialmente em cursos de audiovisual, tem sido cada vez mais comum o expediente de captar re- cursos em plataformas de financiamento coletivo: a pessoa doa um valor e tem seu nome creditado como apoiador do filme. Uma dica importante: mantenha sempre CURSO LIVRE PRODUÇÃO AUDIOVISUAL TÓPICO 4 DA PRODUÇÃO À DISTRIBUIÇÃO DE CONTEÚDO AUDIOVISUAL 68 atualizada a lista de patrocinadores e apoiadores do seu projeto, para que logoti- pos e nomes sejam devidamente citados nos créditos e materiais publicitários. Esse cuidado precisa ser redobrado em produções incentivadas por leis e editais, seja com recursos diretos ou captados junto a empresas. Nesses casos, é comum existir um manual explicando como a lei ou edital, os patrocinadores e apoiadores devem aparecer, tanto nos créditos quanto nos materiais publicitários. Já que falamos em leis, há algumas específicas para incentivar a produção au- diovisual, como a Lei do Audiovisual, com destaque para os artigos 1°, 3°, 1-A e 3-A. Esses mecanismos de incentivo são complexos e cheios de detalhes, e não cabe aprofundá-los aqui, mas podemos apontar algumas características e diferenças bá- sicas entre eles. O Artigo 1° é exclusivo para obras cinematográficas; já o 1-A, embora aberto a outras mídias, tem como foco as produções independentes. Por sua vez, o Artigo 3° é pensado para distribuidoras estrangeiras que querem coproduzir filmes brasileiros, enquanto o Artigo 3-A estende esse mecanismo à televisão. As leis preveem a regulação de impostos convertidos para o setor audiovisual, assim como a participação de empresas dispostas a investir em produções audiovi- suais. Entretanto, é preciso estudar a fundo cada uma dessas leis, que costumam ser acessadas por médias e grandes produtoras registradas na Ancine. Saiba Mais E a Lei Rouanet? A famosa Lei Rouanet é um mecanismo de incentivo à cultura criado em 1991. Embora abranja todas as áreas culturais, é uma lei pouco usada no cinema, pois só permite o financiamento de curtas e médias-metragens, enquanto o artigo 1-A da Lei do Audiovisual ficou com o incentivo de longas mais independentes. ACESSE AQUI O que é Ancine?! Ora, você já deve ter visto o logotipo dessa autarquia nos crédi- tos de algum filme nacional. Autarquia é uma instituição ou serviço autônomo, criado por lei para atender a interesses públicos (Conselho Nacional do Ministério Público, 2015), como a produção e a regulação audiovisual. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8313cons.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8313cons.htm CURSO LIVRE PRODUÇÃO AUDIOVISUAL TÓPICO 4 DA PRODUÇÃO À DISTRIBUIÇÃO DE CONTEÚDO AUDIOVISUAL 69 Criada em 2001, a Agência Nacional do Cinema incentiva, regula e fiscaliza a pro- dução audiovisual brasileira, visando um mercado audiovisual justo, crescente e vol- tado para questões culturais e artísticas. Figura 14 – Logomarca da Ancine Fonte: Portal Ancine. http://www.gov.br/ancine/pt-br https://www.gov.br/ancine/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/manuais/aplicacao-logomarca CURSO LIVRE PRODUÇÃO AUDIOVISUAL TÓPICO 4 DA PRODUÇÃO À DISTRIBUIÇÃO DE CONTEÚDO AUDIOVISUAL 70 4.2 Distribuição O produto audiovisual foi finalizado, armazenado nas mídias (podem ser ar- quivos digitais, DVDs ou até mesmo a boa e velha película) e está prontinho para seguir viagem com destino às telas. É hora de levá-lo ao público! Como? Quem movimenta essa produção pronta, fazendo-a chegar às telinhas e telões dos exibi- dores, são os/as distribuidores/as. Há alguns anos, quando os filmes eram distribuídos em película, o/a distribuidor/a era quem se encarregava de toda a logística desses rolos de filmes. Além de pe- sadas e volumosas, essas cópias precisavam de cuidados de transporte e entrega para chegarem aos projetores de película nos cinemas. Hoje, com a maioria das obras gravadas e finalizadas digitalmente, a distribuição se tornou mais fácil, com os arquivos dos filmes enviados em HDs (em arquivos chamados de DCP - Digital Cinema Package) ou até mesmo transmitidos via satélite para salas com suporte para essa tecnologia. Ainda assim, o/a distribuidor/a continua cuidando do envio, além de ter outras tarefas e novos desafios. Figura 15 – Rolos de filmes em películas Fonte: Blog da biblioteca da ECA. https://bibliotecadaeca.wordpress.com/2017/05/29/rolos-de-filmes/ CURSO LIVRE PRODUÇÃO AUDIOVISUAL TÓPICO 4 DA PRODUÇÃO À DISTRIBUIÇÃO DE CONTEÚDO AUDIOVISUAL 71 Isso porque é papel da distribuição pensar por quais circuitos exibidores o filme passará e onde será lançado. No caso de um longa-metragem, é comum querer que o filme chegue às salas do chamado circuito comercial, que são os cinemas que frequentamos normalmente (aqueles em que compramos ingresso e pipoca). Pode parecer fácil, mas lançar um filme nessas salas é um desafio, já que a maioria dos grandes exibidores quer ter, em seus cinemas, filmes com alto apelo comercial (ge- ralmente do cinema hollywoodiano), o que acaba limitando o lançamento de pro- duções menores e independentes. Por isso é tão importante a continuidade da Lei da Cota de Tela, que obriga essas salas de cinema a exibirem um mínimo de filmes nacionais. Retomada em 2024, a cota de tela dá oportunidade para que o cinema brasileiro, em sua pluralidade, chegue às salas de grande público. Além disso, cabe à distribuição estudar o calendário de lançamentos (disponível no Portal do Exibi- dor) para evitar, por exemplo, que uma produção brasileira pequena entre em cartaz no mesmo dia da estreia de um blockbuster estadunidense. Assim, é preciso procurar as melhores janelas e oportunidades para lançamen- to, sem perder de vista as particularidades de cada produto. Cabe também à distri- buição pensar em circuitos alternativos: muitas vezes, é melhor que um filme co- mece sua carreira em festivais antes de tentar entrar no circuito comercial. Além do público frequentador do evento, festivais de cinema costumam chamar a atenção de críticos e especialistas. Os debates e premiações podem legitimar e alavancar a carreira de um filme, aumentando suas chances de ser reproduzido em outras telas. Existem vários tipos de festivais: os temáticos (LGBTQIAPN+, ambientais, infan- tis, de horror etc.), os que recortam formatos (curta,média, longa), gêneros (ficção, documentário, videoarte etc.), técnicas, tipos de produção (cinema universitário, por exemplo) e os que aceitam tudo isso em diversas categorias. Outra questão muito recente é a forma de acesso, já que hoje é possível encontrar esses eventos de forma presencial, on-line e híbrida. Mostras e festivais costumam ser uma ótima janela exi- bidora para curtas-metragens e obras mais experimentais. Mas cuidado! Há festivais que exigem ineditismo, ou que a obra não esteja disponível no YouTube e em outros streamings. Aliás, streamings e canais de televisão são importantes janelas de dis- tribuição, pois, no Brasil, a lei da TV paga obriga uma cota de produções nacionais. Além disso, há emissoras e streamings especializados em curtas. Mas, para negociar seu filme com esses exibidores, é preciso que você tenha o CPB da sua obra. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2023-2026/2024/Lei/L14814.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2023-2026/2024/Lei/L14814.htm CURSO LIVRE PRODUÇÃO AUDIOVISUAL TÓPICO 4 DA PRODUÇÃO À DISTRIBUIÇÃO DE CONTEÚDO AUDIOVISUAL 72 Saiba Mais O que é CPB? CPB é a sigla para Certificado de Produto Brasileiro. Trata-se de um registro da obra que os produtores fazem junto à Ancine, garantindo que aquela produção existe sob especificidades de suporte, gênero e formato, e que é brasileira. É um documento importante, cobrado por alguns festivais, mas, principalmente, por streamings e emissoras de televisão. Você pode pedir seu CPB on-line pelo Sistema Ancine Digital. Pode-se entender a distribuição como uma área intermediária entre produtores e exibidores. Para estabelecer essa ponte, os responsáveis pela distribuição precisam conhecer o mercado e suas regulamentações, assim como o produto que estão lan- çando. O distribuidor, ou a distribuidora, é quem planeja e investe nas estratégias de marketing e nas peças publicitárias, como pôsteres e trailers que anunciam o filme. Também é responsabilidade da distribuição negociar o produto audiovisual com ou- tros mercados, fazendo com que ele viaje para além das nossas fronteiras. Mas, para que isso aconteça, é preciso pensar nas legendas lá na etapa anterior, na produção. Outro item cada vez mais importante é a acessibilidade para as pessoas com deficiên- cia, que pode se dar através da tradução em Libras (destinada a pessoas surdas) e da audiodescrição (para pessoas com deficiência visual). Em 2022, a Ancine atualizou suas instruções normativas, ressaltando que cabe às distribuidoras disponibilizar filmes com legendagem, legendagem descritiva, Libras e audiodescrição (Codogno, 2022). CURSO LIVRE PRODUÇÃO AUDIOVISUAL TÓPICO 4 DA PRODUÇÃO À DISTRIBUIÇÃO DE CONTEÚDO AUDIOVISUAL 73 4.3 Exibição É comum pensar o exibidor como as salas de cinema do circuito comercial. De fato, essas salas — hoje localizadas principalmente em shoppings — são boa parte dos chamados exibidores. Mas não só: já mencionamos mostras e festivais de cine- ma como formas de um circuito exibidor alternativo, geralmente associado a projetos educativos e culturais. Os cineclubes são outra prática exibidora que existe desde os primeiros anos do cinema. E isso porque falamos aqui do cinema em seu entendimen- to mais tradicional, já que existem outras experiências audiovisuais que driblam a sala convencional. Falaremos sobre isso adiante. Saiba Mais Cine-semana No Brasil, um filme costuma entrar em cartaz às quintas-feiras, e a semana de exibição fecha na quarta-feira seguinte. Isso é chamado de “cine-semana”. Se um filme tiver boa bilheteria, ele costuma continuar em cartaz (essa negociação costuma ser feita às segundas), caso contrário ele sai do circuito comercial em direção à sua nova janela de exibição (que hoje costuma ser os streamings). Se o digital abriu outras possibilidades de produção, tem oportunizado, tam- bém, novas formas de exibição; algumas mais restritas, caso dos grandes strea- mings; outras mais viáveis, como as plataformas de vídeo em que qualquer usuário pode disponibilizar sua produção. Mas, se há novas possibilidades, há também no- vos desafios: neste mundo de telas que mostram imagens o tempo todo, é preciso compreender rapidamente as mudanças e pensar estratégias para que sua produção se destaque em meio a tantos conteúdos. CURSO LIVRE PRODUÇÃO AUDIOVISUAL TÓPICO 4 DA PRODUÇÃO À DISTRIBUIÇÃO DE CONTEÚDO AUDIOVISUAL 74 Para você disponibilizar suas próprias produções em plataformas como YouTube, é importante lembrar de alguns cuidados: esteja respaldado com contratos e autori- zações relativas a direitos autorais e de imagem; seja prudente na classificação indi- cativa de seu conteúdo; e, claro, autovigilante em questões éticas relacionadas a con- teúdos de terceiros. Indicada como material complementar, a websérie Dicionário de cinema é um bom exemplo: realizada com trechos de curtas-metragens paranaenses, a produção teve o cuidado de pedir autorização de uso desses materiais a seus repre- sentantes. Uma vez liberados, esses curtas e seus realizadores aparecem nominados nos créditos finais, respeitando os devidos direitos autorais. Saiba Mais Direitos autorais morais x direitos morais patrimoniais Direito autoral moral é aquele que diz respeito à autoria e é inalienável, isto é, a autoria da obra estará sempre vinculada a quem a realizou (em outras palavras, uma vez autor/a, sempre autor/a). Já o direito patrimonial tem a ver com a vida comercial da obra: o autor (ou, em caso de morte, seus descendentes) pode ceder os direitos patrimoniais a outros sob circunstâncias determinadas contratualmente. Um/a produtor/a que quer adaptar um livro para o cinema precisa adquirir os direitos patrimoniais da obra em questão. Importante: Se você é o exibidor, deve negociar com quem representa o produto audiovisual que pretende ir para sua tela. Nos longas, essa representação costuma ficar com os distribuidores, mas em curtas é comum que produtores distribuam a própria obra e que, portanto, respondam por essas negociações. https://www.youtube.com/@DicionariodeCinema https://www.youtube.com/@DicionariodeCinema CURSO LIVRE PRODUÇÃO AUDIOVISUAL TÓPICO 4 DA PRODUÇÃO À DISTRIBUIÇÃO DE CONTEÚDO AUDIOVISUAL 75 4.4 Novas possibilidades, outros audiovisuais Desde o início do cinema, a indústria audiovisual já passou por mudanças importantes: por exemplo, a invenção da televisão, o surgimento do home video com os videocassetes (e as videolocadoras, onde se alugavam filmes, desde os VHS aos blu-rays) e, mais recentemente, os streamings on demand, nos quais o público pode escolher o que ver e quando ver por meio de aplicativos que podem ser instalados em diferentes aparelhos. Todas essas mudanças (além de outras narradas ao longo deste curso) enten- dem o audiovisual como um diálogo entre duas perspectivas: o entretenimento e a arte. Esses dois modos de ver o audiovisual não são tão separados assim; um filme para o grande público pode ser entendido como arte. Aliás, o cinema foi chamado de sétima arte pelo italiano Ricciotti Canudo porque, no entendimento desse crítico, ele reúne as seis artes anteriores — pintura, escultura, arquitetura, dança, música e poesia. Mais tarde, o vídeo, como alternativa mais barata e acessível, também foi pensado a partir de suas possibilidades e potencialidades artísticas. Nessa perspectiva artística, é preciso observar que o audiovisual não se limita mais às telas convencionais. Outras superfícies podem se tornar telas, e as telas podem se somar a outros objetos. Você já deve ter ouvido falar de “cinema expan- dido”, “videoarte”, “videomapping”, “instalação”. Esses e outros termos conceituam possibilidades de imagem e som em novas experiências, cada vez mais transmidiá- ticas. Vamos ver alguns desses conceitos: • Cinema expandido: É uma ideia de cinema que ultrapassa os espaços e sensações convencionais, incentivando experiências sinestésicas (quando visão e audição estimulam outros sentidos) e a subversãodos rituais e outras experiências propostas pelo cinema CURSO LIVRE PRODUÇÃO AUDIOVISUAL TÓPICO 4 DA PRODUÇÃO À DISTRIBUIÇÃO DE CONTEÚDO AUDIOVISUAL 76 convencional. Geralmente, é um cinema que interage com outros meios e mídias. Ci- nema expandido é um termo complexo, que costuma abarcar outras possibilidades de realização, como a videoinstalação. Figura 16 – Projeção expandida em quatro paredes na Japan House Fonte: Equipe de elaboração do curso (2024). • Videoinstalação: É uma forma de arte em que a imagem e o som “transbordam” da tela, interagindo com o espaço, com objetos ou até mesmo com o público, podendo trabalhar outros sen- tidos além da visão e da audição. Costuma ser vista em museus de arte contemporânea. Figura 17 – Videoinstalação “Gentre”, de Gustavo Torres, exibida em 2012 na Cinelândia, Rio de Janeiro Fonte: G1. https://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2012/07/videomostra-gratuita-leva-arte-espacos-publicos-do-rio.html CURSO LIVRE PRODUÇÃO AUDIOVISUAL TÓPICO 4 DA PRODUÇÃO À DISTRIBUIÇÃO DE CONTEÚDO AUDIOVISUAL 77 • Videoarte: Realização artística que pensa o vídeo como vanguarda, o que significa que são obras que se propõem a estar à frente das experiências audiovisuais cotidianas. Costuma priorizar a forma em vez da narrativa. Figura 18 – Frame da videoarte “Trans Amazônica”, de Luciana Magno Fonte: Associação Cultural VideoBrasil. • Videomapping: Imagens projetadas sobre fachadas de casas, prédios ou até mesmo outras su- perfícies com texturas irregulares. Ou seja, o videomapping é um vídeo mapeado para ser projetado, produzindo determinados efeitos sobre o suporte escolhido. O videomapping também pode ser usado como ferramenta pedagógica, como fazem alguns museus, que projetam vídeos dando “vida” a maquetes. Figura 19 – Videomapping em Leeds, Inglaterra Fonte: Equipe de elaboração do curso (2024). https://site.videobrasil.org.br/acervo/obras/obra/1801336 CURSO LIVRE PRODUÇÃO AUDIOVISUAL TÓPICO 4 DA PRODUÇÃO À DISTRIBUIÇÃO DE CONTEÚDO AUDIOVISUAL 78 Revisando Produção, distribuição e exibição são processos que conduzem o produto audio- visual da ideia, preparada no papel, às telas dos cinemas, das televisões, dos celu- lares etc. Cada uma dessas etapas tem suas particularidades, mas é preciso lembrar que uma influencia a outra. Por exemplo: suponhamos que um/a diretor/a decida fazer um filme de horror pesado, cheio de cenas gráficas assustadoras. Essa decisão de produção implicará uma classificação indicativa para maiores de 16 anos, ou até mesmo para maiores de 18, o que afeta toda a cadeia de distribuição e exibição do filme (um filme para maiores de 18 anos só pode ser exibido na TV depois das 23h!). Em seu livro sobre roteiro para documentário, Sérgio Puccini (2009) sugere algu- mas perguntas para guiar a escrita de um projeto como esse. São perguntinhas bem básicas, mas certeiras; tanto que vamos tomá-las para nos ajudar a pensar questões determinantes a toda essa cadeia. O QUÊ? O que é meu produto? Qual seu gênero e formato? COMO? Como eu pretendo realizá-lo e por que só eu posso fazer isso? POR QUÊ? Por que meu filme é importante como produto e como obra cultural? QUEM? Quem é meu público-alvo? ONDE? Em que telas eu penso ver minha produção? QUANDO? Em que tempo? Quando terminarei a produção? Quando pretendo estrear? As perguntas podem parecer bobas, mas servem como um roteiro para que não percamos de vista as principais características de nossa produção audiovisual. São uma rota para facilitar os caminhos nem sempre tão simples entre o ponto de partida (a produção) e o de chegada (a exibição). CURSO LIVRE PRODUÇÃO AUDIOVISUAL TÓPICO 4 DA PRODUÇÃO À DISTRIBUIÇÃO DE CONTEÚDO AUDIOVISUAL 79 Material Complementar VÍDEO Dicionário de Cinema / Link: https://www.youtube.com/@DicionariodeCinema https://www.youtube.com/@DicionariodeCinema CURSO LIVRE PRODUÇÃO AUDIOVISUAL TÓPICO 4 DA PRODUÇÃO À DISTRIBUIÇÃO DE CONTEÚDO AUDIOVISUAL 80 Referências BRASIL. Lei nº 8.313, de 23 de dezembro de 1991. Restabelece os princípios da Lei n. 7.505, de 2 de julho de 1986, institui o Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac) e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República, 1991. Disponível em: https://www.pla- nalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8313cons.htm. Acesso em: 28 jul. 2024. BRASIL. Lei nº 14.814, 15 de janeiro de 2024. Altera a Medida Provisória nº 2.228-1, de 6 de setembro de 2001, que estabelece princípios gerais da Política Nacional do Cinema, para prorrogar o prazo de obrigatoriedade de exibição comercial de obras cinematográficas bra- sileiras. Brasília, DF: Presidência da República, 2024. Disponível em: https://www.planalto. gov.br/ccivil_03/_Ato2023-2026/2024/Lei/L14814.htm. Acesso em: 28 jul. 2024. CODOGNO, Yuri. Ancine lança nova instrução normativa para acessibilidade de conteúdo. Portal Exibidor, 30 set. 2022. Disponível em: https://www.exibidor.com.br/noticias/mer- cado/12954-ancine-lanca-nova-instrucao-normativa-para-acessibilidade-de-conteudo. Acesso em: 28 jul. 2024. CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO. Autarquia. Portal do CNMP, Brasília, 2015. Disponível em: https://www.cnmp.mp.br/portal/institucio- nal/476-glossario/8336-autarquia#:~:text=É%20o%20serviço%20autônomo%2C%20cria- do,%2DLei%20nº%20200%2F67. Acesso em: 28 jul. 2024. DICIONÁRIO de Cinema. Direção de Alexandre Rafael Garcia. Produção de Anderson Simão. Intérpretes: Gabriel Borges; Ju Choma. Roteiro: Álvaro André Zeini Cruz; Iury Peres Malucelli; Maria Gabriela Goulart; Pâmela Kath. Curitiba: O Quadro, 2023. P&B. Disponível em: https:// www.youtube.com/@DicionariodeCinema. Acesso em: 28 jul. 2024. PUCCINI, Sérgio. Roteiro de documentário. Campinas: Papirus, 2009. https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8313cons.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8313cons.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2023-2026/2024/Lei/L14814.htm https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2023-2026/2024/Lei/L14814.htm https://www.exibidor.com.br/noticias/mercado/12954-ancine-lanca-nova-instrucao-normativa-para-acessi https://www.exibidor.com.br/noticias/mercado/12954-ancine-lanca-nova-instrucao-normativa-para-acessi https://www.youtube.com/@DicionariodeCinema https://www.youtube.com/@DicionariodeCinema Escult Escola Solano Trindade de Formação e Qualificação Artística, Técnica e Cultural escult.cultura.gov.br 4.1 Produção 4.2 Distribuição 4.3 Exibição 4.4 Novas possibilidades, outros audiovisuais