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MOTIVAÇÃO E LIDERANÇA Olá! Nos últimos anos, o debate sobre inclusão e respeito à diversidade tem crescido em diversas áreas da sociedade, e isso não é diferente no contexto das organizações. Por diversidade podemos entender a representação de pessoas com diferentes identidades de grupo num sistema social (COX JR., 1993, p. 43). Frequentemente, o termo é vinculado exclusivamente à raça ou gênero, porém, a diversidade abrange elementos como idade, história pessoal e profissional, formação educacional, função e personalidade. Conforme observado por Nkomo e Cox Jr (1999, p. 334), essa abrangência envolve ainda estilo de vida, orientação sexual, religião, origem geográfica, tempo de serviço na organização, status privilegiado ou não, e a condição de ter responsabilidades gerenciais ou não. A sociedade brasileira é diversa, e isso se deve principalmente à forma como está estruturada na história. No entanto, ainda testemunhamos as desvantagens causadas pela desigualdade social. Nesta aula, entenderemos como as empresas abordam a diversidade e examinaremos as práticas de RH das organizações em relação aos desafios de promoção da inclusão e da diversidade hoje. Bons estudos! AULA 8 - DIVERSIDADE 8 DIVERSIDADE NAS ORGANIZAÇÕES Segundo a Convenção da UNESCO sobre a Diversidade das Expressões Culturais em 2005, a diversidade pode ser caracterizada como a expressão diversificada das culturas de grupos e sociedades. Tais expressões são transmitidas entre e dentro de grupos e sociedades. O autor Fleury (2000, p. 20) conceitua diversidade como a interação de indivíduos com identidades distintas em um mesmo sistema social. O autor destaca que nesse sistema coexistem grupos majoritários, representando aqueles que ao longo da história obtiveram recursos financeiros e poder, e grupos minoritários. Alves e Galeão-Silva (2004) caracterizam a diversidade como diferentes características de indivíduos e grupos. A partir dessas definições, entendemos que vivemos em uma sociedade diversa porque interagimos em nosso meio social com diferentes pessoas cujas experiências e identidades diferem das nossas. Contudo, é importante ressaltar o que Fleury (2000) traz para a discussão sobre esse tema, que são diferentes relações de poder entre grupos majoritários e minoritários. Os grupos minoritários não são definidos pelo seu número na população. Séguin (2002) associa essas pessoas aos chamados grupos vulneráveis, descritos como grupos que sofrem de discriminação e intolerância. Estes grupos estão econômica e socialmente desfavorecidos porque têm sido historicamente discriminados devido ao poder do grupo maioritário. Atualmente, as empresas têm diferentes abordagens à diversidade. O'Mara (1994) classificou-as em categorias: organizações que utilizam uma abordagem estrutural e sistêmica; organizações focadas na promoção da educação informacional; organizações que se concentram em áreas problemáticas específicas, como assédio sexual, cuidados especiais para crianças, etc. Independentemente da abordagem utilizada, Morrison (1996) defende que esta deve envolver a participação dos colaboradores e basear-se nas necessidades específicas da organização e do seu mercado de negócio. Ou seja, a diversidade cultural não é apenas uma moda, mas um pré-requisito para a competitividade de uma empresa. No contexto da gestão, Bitencourt (2010) argumenta que diversidade é tudo o que se desvia da identidade de um homem branco, heterossexual e sem deficiência. Mendes (2005) elenca razões que promoveram os benefícios da diversidade corporativa e colocaram esta questão na agenda das estratégias das organizações: legislação resultante de mobilizações sociais, globalização corporativa, migração laboral para países mais desenvolvidos, estruturas de trabalho multifuncionais e responsabilidade social, corporativa e políticas. Uma estratégia que visa reduzir a discriminação no mercado de trabalho é a introdução de um sistema de ação afirmativa. Bergmann (1996) dá uma definição muito ampla do que é ação positiva: Ação afirmativa é planejar e atuar no sentido de promover a representação de certos tipos de pessoas, aquelas pertencentes a grupos que têm sido subordinados ou excluídos em determinados empregos, ou escolas. É uma companhia de seguros tomando decisões para romper com sua tradição de promover a posições executivas unicamente homens brancos. É a comissão de admissão da Universidade da Califórnia em Berkeley buscando elevar o número de negros nas classes iniciais [...]. Ações Afirmativas podem ser um programa formal e escrito, um plano envolvendo múltiplas partes e com funcionários dele encarregado, ou pode ser a atividade de um empresário que consultou sua consciência e decidiu fazer as coisas de uma maneira diferente (BERGMANN, 1996, p. 7). O objetivo desta política favorável é promover a representação dos grupos mais baixos da sociedade e tentar igualar as oportunidades entre eles. No entanto, as políticas favoráveis não são amplamente aceitas e utilizadas no mercado de trabalho. As organizações de hoje lutam sem esta ferramenta para criar um ambiente inclusivo onde os grupos minoritários tenham oportunidades de crescer e entrar no ambiente organizacional. Hayes (2002) caracteriza a inclusão como aceitação dos indivíduos, sentindo- se acolhidos e valorizados como membros da organização. A inclusão também pode ser definida quando os membros de todos os grupos são tratados de forma justa, sentem-se incluídos, têm oportunidades iguais e estão representados em todas as funções e níveis organizacionais (HOLVINO; FERDMAN; MERRILL-SANDS, 2004). A inclusão efetiva nas organizações só ocorre quando há uma gestão da diversidade que permite que esses indivíduos prosperem com os objetivos da empresa (THOMAS; ELY, 1996). A seguir veremos a definição de gestão da diversidade, suas características e efeitos. Ferdman (2009) apresenta dois conceitos relacionados ao tema da inclusão: a experiência de inclusão e o comportamento inclusivo. O primeiro conceito refere-se à percepção de aceitação, respeito e estima das pessoas e à percepção psicológica do indivíduo de que realmente pertence a algum grupo social. Os componentes relacionados com a experiência de envolvimento são: Impacto no poder de decisão; Reconhecimento social; Participação no grupo de trabalho; Autenticidade; e Reconhecer a diversidade. O segundo conceito mencionado refere-se às atividades individuais e em grupo realizadas através dos princípios e procedimentos operacionais da organização, que promovem um ambiente inclusivo e são aceitos por todos na organização. O comportamento inclusivo pode ser dividido em seis grupos: Criação de um ambiente seguro; representação de diferentes pessoas do grupo; identificar outros; resolver conflitos e divergências; a capacidade e o desejo de aprender e a capacidade de falar. Segundo Hanashiro, Teixeira e Zaccarelli (2008), o Instituto Ethos realizou em 2000 um estudo sobre a valorização da diversidade nas empresas. Entre outras coisas, este estudo listou atividades para desenvolver a diversidade em organizações compartilhadas em duas categorias: mudanças na política de pessoal e mudanças na cultura organizacional. Exemplos de iniciativas de mudança de políticas de RH são: Monitorizar a demografia organizacional; tornar a diversidade um parâmetro importante em todas as políticas de RH; promover atividades regulares de formação e comunicação. No que tange à cultura organizacional, foi destacado o reforço das iniciativas benevolentes da empresa, a propagação de uma cultura de diversidade entre as organizações do setor, o comprometimento em recrutar e promover indivíduos com experiências e perspectivas diversas, ea adesão irrestrita aos princípios de diversidade. Isso inclui não apenas a implementação de campanhas diretas de publicidade e marketing, mas também a promoção de práticas que fomentem a inclusão e a valorização da multiplicidade de experiências e visões de mundo. Essas ações visam criar um ambiente mais representativo e enriquecedor, alinhado com os valores contemporâneos de equidade e respeito à diversidade. 8.1 Diversidade nas Organizações no Brasil Como mencionado anteriormente, a diversidade é uma das suas principais características, mas sofre de extrema desigualdade e marginalização de grupos minoritários em diversas esferas da sociedade. Além disso, embora o Brasil seja uma das maiores economias do mundo, seus indicadores sociais são uma das sociedades mais desiguais do mundo. Apesar dessas características, o tema da diversidade no Brasil tem sido discutido recentemente em comparação com toda a sua história. O primeiro trabalho acadêmico sobre o tema no país foi publicado apenas em 2000 por Maria Tereza Leme Fleury, onde a autora apresenta a experiência do Brasil na gestão da diversidade cultural. Segundo Moehlecke (2002), no contexto brasileiro, o primeiro registro de tentativa de legislação referente a ações afirmativas no mercado de trabalho remonta à década de 1980. Nessa época, o Projeto de Lei nº 1.332 de 1983 propôs uma série de medidas compensatórias. Entre essas medidas, destacam-se a reserva de 20% das vagas para mulheres negras e 20% para homens negros na seleção de candidatos para cargos no serviço público. Além disso, o projeto visava incentivar as empresas do setor privado a adotarem práticas que eliminem a discriminação racial, promovendo, assim, uma maior igualdade e inclusão no ambiente profissional. No entanto, o Congresso Nacional não aprovou o mencionado projeto. Cabe ressaltar que a Constituição de 1988 é considerada outro marco relevante na trajetória de redução da discriminação no mercado de trabalho. Ela é interpretada como um sinal do reconhecimento por parte das autoridades dos longos períodos de marginalização enfrentados por certos grupos na sociedade. A Constituição aborda especificamente a proteção do mercado de trabalho para as mulheres, destacando a importância da igualdade de oportunidades, e propõe a reserva de uma determinada porcentagem de cargos públicos para pessoas com deficiência, reforçando o compromisso com a inclusão e a equidade no âmbito profissional. Em 1996, como parte contínua dos esforços das autoridades para mitigar a desigualdade social, o Ministério do Trabalho instituiu o Grupo de Trabalho para a Eliminação da Discriminação no Trabalho e nas Profissões (Gtedeo). Com uma composição tripartite, incluindo representantes do governo, trabalhadores e empresários, o grupo foi incumbido da missão de elaborar um plano de ação abrangente. Este plano visava à eliminação da discriminação enfrentada pela população negra em diversas esferas, abrangendo áreas cruciais como saúde, educação, trabalho e comunicação. Essa iniciativa reflete o compromisso institucional em enfrentar as disparidades e promover uma sociedade mais inclusiva e equitativa (FONSECA, 2002). 8.2 Gestão da Diversidade A gestão da diversidade cultural é uma das questões mais difíceis de lidar porque envolve questões emocionais e empresariais. Segundo Triandis, Kurowski e Gelfand (2002), gerir a diversidade significa mudar a cultura, ou seja, alterar os procedimentos operacionais padrão da organização. Isto requer dados, experimentação e encontrar os métodos mais adequados para cada grupo. Thomas e Ely (1996) caracteriza a gestão da diversidade como a adoção de medidas administrativas para garantir que as características individuais ou grupais sejam vistas como recursos para melhorar o desempenho organizacional. Segundo Alves e Galeão-Silva (2004), este tipo de gestão é defendido por duas razões: programas internos orientados para questões específicas são socialmente mais justos do que implementar uma política de ação afirmativa e, em segundo lugar, uma boa gestão da diversidade nas organizações ganhariam uma vantagem competitiva no mercado graças a um ambiente multicultural com diferentes pontos de vista, experiências e informações diversas. Segundo estudo de Ivancevich e Gilbert (2000), uma empresa se torna multicultural somente quando as formas mais sutis de discriminação são concluídas e eliminadas. Para esses autores, as atividades que permitem a diversidade organizacional ao focar nas diferenças incluem: Mudanças demográficas (inclusão de minorias); Estabelecer um comitê de diversidade como parte da missão da organização multicultural de monitorizar e melhorar o clima de diversidade; Desenvolver um programa de educação continuada com foco na diversidade; Desenvolver intervenções que ofereçam múltiplos benefícios; Receber apoio e iniciativa do RH; e Envolver funcionários. Thomas e Ely (1996) enfatizam que a gestão da diversidade deve ir além de aumentar o número de funcionários com identidades diferentes em toda a organização ou fornecer-lhes treinamento e desenvolvimento. Eles acreditam que tal pensamento é limitante porque entendem que a diversidade não só traz informações para a organização, mas também traz conhecimentos e perspectivas importantes para executar tarefas diárias, desenhar processos, atingir metas, estruturar tarefas, criar equipes eficazes e comunicar suas ideias. Para eles, a organização não deve apenas fazer uma integração estrutural formal, mas também querer ouvir os membros dos vários grupos sociais que estão presentes, porque podem ajudar a empresa a crescer, para enfrentar os principais desafios operacionais, estratégias, operações, políticas e procedimentos. Contudo, para gerir a diversidade de forma eficaz, os gestores devem utilizar o processo de aprendizagem como a ferramenta mais importante. Thomas e Ely (1996) argumentam que aprender com esses grupos nas organizações exige respeitar suas diferentes opiniões, criando condições equitativas para todos, porque leva em consideração todos os envolvidos. As organizações o integraram em suas estratégias de gestão, principalmente em virtude da concepção de que salvaguardar as pessoas e suas distinções pode constituir uma vantagem competitiva financeira. Autores Taylor Cox Jr. e Stacy Blake (1991) estiveram entre os primeiros a defender os benefícios da gestão da diversidade a partir de uma perspectiva de desempenho financeiro. Os benefícios citados incluem redução dos custos de rotatividade e absentismo – especialmente entre as minorias envolvidas; atrair funcionários talentosos para a empresa; consciência de novas culturas que moldam o mercado; aumento da criatividade e inovação na empresa; aumento das habilidades de resolução de problemas; aumentando a flexibilidade do sistema de controle (COX JR.; BLAKE, 1991). Além disso, Thomas e Ely (1996) comenta que uma maior diversidade na força de trabalho aumenta a eficácia organizacional, ou seja, traz mais criatividade, flexibilidade, crescimento organizacional e capacidade de ser flexível e se adaptar a possíveis mudanças no mercado. Alves e Galeão-Silva (2004) afirmam que os movimentos sociais antidiscriminação foram os fatores mais importantes na difusão de práticas de gestão da diversidade nas organizações brasileiras. Segundo os mesmos autores, essa administração no contexto brasileiro baseia-se em duas ideologias tipicamente nacionais: a ideologia tecnocrática, que tenta apresentar a administração de empresas como uma função neutra, e a ideologia da democracia racial brasileira, na qual o Brasil é visto como nacional, lugar sem preconceito racial, onde brancos, negros e indígenas convivem de forma harmoniosa e sem discriminação. Estas ideologias dificultam a implementação correta e segurada gestão da diversidade e a implementação de medidas que criem uma cultura corporativa inclusiva. Em suma, o principal objetivo da gestão da diversidade cultural é a gestão das relações laborais, das práticas profissionais e da vida pessoal e da composição interna da força de trabalho visando atrair e reter os melhores talentos entre os chamados grupos minoritários. Isto pode acontecer através de uma política de recrutamento que inclua na sua composição critérios relacionados com a diversidade. A incapacidade de gerir a diversidade pode causar intenso conflito intergrupal entre membros minoritários e não minoritários, minando o desempenho eficaz de ambos os grupos (COX JR., 1994). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, M.; GALEÃO-SILVA, L. A Crítica da Gestão da Diversidade nas Organizações. RAE – Revista de Administração de Empresas, v. 21, p. 18-25, 2004. BERGMANN, B. In defense of affirmative action. 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