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Século XVIII Kant

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Até o século XVIII, um logos divino, absoluto e infinito, havia assegurado ao homem uma ordem inteligível ao mundo; aos poucos, nesse espaço de ordem vão brotando fendas, singularidades ameaçam aqui e ali, o indivíduo psicológico, subjetivo, vai despertando e espreitando por postas secretas seus fundos mais abissais. Tensionando visões absolutas, vão florescendo relativismos.
 O homem do XVIII tenta conferir a essa multiplicidade de imagens uma ordem racional, mas esta não terá mais sua estrutura lógica emanando de uma verdade revelada A veracidade divina é devolvida à contingência humana: sem o elo sagrado que unia homem e mundo, sujeito e objeto, o indivíduo confrontaria essa dessacralização e se interrogaria – 
 Quem sou eu? Que mundo é este?
 Que tipo de relação posso estabelecer com ele? 
O século XVIII é o século da crítica, o mundo é o objeto do pensamento humano cuja percepção é assegurada mediante um método racional. 
A Natureza deixa de ser revelação de ordem imutável do Criador, é agora ambiente humano, individual e social.
 A cultura do Iluminismo é marcada, segundo Argan, pela relação entre Neoclássico e Romântico, como duas atitudes possíveis do homem reagir perante a realidade, assim ambas pertencem ao mesmo ciclo de pensamento. O móvel ideológico ocupa o lugar do princípio metafísico da natureza-revelação, e a diferença consistia no tipo de postura (predominantemente racional ou passional) frente à história, realidade ou natureza.
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ILUMINISMO
Uma nova maneira de se pensar criticamente o mundo e a humanidade, independente de religião, mito e tradição. 
Os iluministas proclamavam que todas as atividades humanas deveriam ser dirigidas pela razão e pelo bem comum, mais que pela tradição e pela autoridade estabelecida. 
A mente iluminada deveria duvidar de doutrinas e teorias para as quais não há provas ou evidências.
Principais linhas de força do iluminismo: 
 pensamento crítico
 primado da razão
 antropologia (conhecimento do Homem)
 pedagogia (educação).
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ILUMINISMO
Os pensadores franceses acreditavam que somente com o acúmulo e a propagação do conhecimento seria possível o avanço e o progresso da Humanidade.
Por isso, criaram a Enciclopédia: democratização do conhecimento.
Pesquisa científica e invenção tecnológica abriram novas possibilidades para a compreensão do mundo e de suas forças e energias. 
A partir de 1740, a máquina a vapor começou uma nova era na história mundial: primeiro para a produção industrial (tecelagem), substituindo a força do homem, depois como transporte (marítimo e terrestre). 
Começava a era do capital e do trabalho industrial. Crescimento das cidades e da classe operária. Surgiam, também, os conflitos de classes.
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Projeto moderno de civilização, elaborado pela Ilustração européia, sob tutela da razão. Em verdade, é um projeto de emancipação do ser humano.
 Universalismo: 
Todos os seres humanos são realmente iguais.
(validade universal dos princípios baseados na natureza humana)
 Individualidade:
Reconhecimento da identidade de cada ser humano.
 Autonomia:
Liberdade de pensamento e de ação.
 Intelectual: Libertar a razão do preconceito, da opinião sem julgamento.
 Política: Reconhecer a liberdade de ação no espaço público.
- Econômica: Igualitarismo, mediante o combate à miséria.
ROUANET, Paulo Sergio. “Iluminismo ou barbárie”. In: _____. Mal-estar na modernidade: ensaios. São Paulo: Cia. das Letras, 1993, p. 9-45.
Iluminismo
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 Alexander Gottlieb Baumgarten (1714-1762)
1750 – “Estética ou Teoria das Artes Liberais”
 Immanuel Kant (1724-1804)
1790 – “Crítica do Julgamento”
 Johann Joachim Winckelmann (1717-1768)
1764 – “A História da Arte Antiga”
 Gotthold Ephraïm Lessing (1729-1781)
1766 – “Laooconte ou sobre as fronteiras da Pintura e da Poesia”
 Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832)
1772 – “Sobre a arquitetura germânica”
 Denis Diderot (1713-1784)
1759-1781 – Escritos sobre os Salons.
Século XVIII: Nascimento da Estética, da História da Arte e da Crítica de Arte
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a relação entre arte e ação na sociedade nasce junto com a crítica de arte no contexto do Iluminismo. 
Seu primeiro representante é Diderot cujos escritos sobre os Salões inserem-se na concepção de que a experiência com a arte seria uma etapa formativa do cidadão. 
Se na França institui-se a crítica na Alemanha aprofunda-se o lugar da estética e da história da arte. Lessing, Winckelmann e Kant. 
Kant tanto na Crítica do Juízo conclui pela universalidade das condições de julgamento sensível e legitima a experiência estética como forma de conhecimento, uma educação por seu intermédio levaria à liberdade. Também o juízo de valor e sua universalidade são importantes na modernidade como projeto.
 A estética, o juízo sensorial, se torna o cimento das nações burguesas, pois permitia a descoberta e educação do sujeito/cidadão e do momento em que é universal assume caráter civilizatório.
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Denis Diderot (1713-1784)
 Apesar de algumas mostras realizadas já no século XVII, é em 1725 que um espaço nobre no Louvre – o Salon Carré – começou a abrigar as mostras oficiais da Academia (Salons).
 É nesse contexto, com a crescente importância dos Salons, que Diderot irá delinear uma nova atividade: a crítica de arte. O público passa a ter interesse por comentários qualificados junto aos livretes que acompanham cada exposição, cotejando a avaliação apresentada com suas próprias opiniões.
 A Crítica de arte trata da arte do presente e a História da Arte, da arte do passado.
Para Argan, toda história da arte é uma crítica de arte.
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SÉCULO XVIII - 1750 – 1850 neoclássico/romântico
- estratificação do espaço renascentista; noção de estilo - pessoas começam a escolher estilo de suas casas, estabelecimento de regras
- a pintura deixa de ser ofício que passava de mestre para aprendiz e converte-se em disciplina ensinada nas academias
- a intenção dos iluministas é a de retirar a arte do monopólio da aristocracia e do clero - Louvre - 1793
- exposições, crítica, estética(Baugarten/1735)
no momento em que se afirma a autonomia da arte, coloca-se o problema de sua articulação com outras atividades, isto é, de seu lugar e sua função no quadro cultural e social da época
- cultura artística do Iluminismo, cujos temas fundamentais eram:
 1) a recusa da retórica figurativa barroca e da função comemorativa tradicional da figuração alegórica e histórico-religiosa
 2) a busca de uma lógica da representação formal e de uma funcionalidade puramente social da arte e assim o desenvolvimento de gêneros mais apropriados para a análise da realidade natural( paisagem) e social(retrato)
 3) a autonomia e especialização profissional dos artistas
- temas clássicos até então: episódios religiosos, mitológicos, histórias heróicas de Roma, temas alegóricos; a partir do sé. XVIII, além dos temas anteriores, os artistas começam a escolher um tema; interesse pela história; cenas históricas contemporâneas; incentivo da revolução francesa ex: Davi
- a natureza não é mais a ordem revelada e imutável da criação, não é mais modelo universal, mas o ambiente da existência humana, um estímulo a que cada um reage de modo diferente
- o fato de o móvel ideológico, que tantas vezes se transforma em explicitamente político, ocupar o lugar do princípio metafísico da natureza-revelação, tanto na arte neoclássica como na romântica, mostra que ambas, apesar da aparente divergência, pertencem ao mesmo ciclo de pensamento. A diferença consiste sobretudo no tipo de postura(predominante racional ou passional) que o artista assume em relação à história e à realidade natural e social 
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Neoclássico
Na arte a linearidade, os contornos rigorosos, a superfície do quadro fortemente estruturada por vetores em ortogonais e diagonais devem demonstrar
a potência transformadora desse gesto. O Neoclassicismo prescreve uma determinada postura, também moral, em relação à arte. O ideal neoclássico francês supõe uma nova ordem social e um novo papel do indivíduo na vida pública, cujo gesto deverá ser atravessado de heroísmos recorrendo ao passado da Antiguidade como modelo, e desenhando um futuro na ação positiva do homem. Fundamental para toda arte neoclássica é a ideação ou projeto da obra. O projeto é desenho, o traço traduz o dado empírico em fato intelectual 
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Jacques-Louis David
O Juramento dos Horácios, 1784/85, de Jacques-Louis David dá o clima estético da época: a cena é Roma, na aurora da República. Os três Horácios, diante de seu pai, juram defender a Pátria. 
No nascer de uma era de alistamento em massa e de exércitos nacionais, aí está a lenda antiga do sacrifício à Pátria, representada num teatro simbólico. O pai, que não olha os filhos, mas as armas que lhes confia, faz mais questão da vitória que da vida deles. Os filhos pertencem mais ao juramento que a si mesmos. O ímpeto heroico implica a superação dos apegos sensíveis e dos elos naturais. 
O poder do desenho e do contorno prevalece para evocar o personagem heroico, em que a ação refletida exerce seu domínio sobre a sensibilidade.
 Para David, o ideal clássico não é inspiração poética, mas modelo ético, valor supremo da arte neoclássica. 
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A Morte de Marat, 1793
David condensa a experiência moral da época, introduz na arte a idéia de dever: quer afrontar os problemas do presente. Funda a concepção do quadro histórico/heróico. Em A Morte de Marat, 1793, a desordem do acontecimento (a agressão, a agonia)já se recompôs; o crime ainda não foi descoberto, mas a história já se iniciou. Quando Marat foi assassinado em seu banho por uma jovem fanática, David pintou-o como um mártir que morrera por sua causa. Marat agora se transformou numa estátua. O intervalo que separa os dois momentos da escrita: a carta da assassina e a assinatura solene de David, esse intervalo é preenchido pela morte e pelo trabalho da arte. São os valores plásticos, o desenho, que prevalecem na representação do herói transfigurado. Para David o pintor deve saber pensar, mas pensar não é apenas compor, é propor ao espectador ações exemplares, é duplicar a exemplaridade do tema por uma execução sujeita a um modelo exemplar. 
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Immanuel Kant (1724-1804)
 três críticas publicadas entre 1781 e 1790: 
 Crítica da Razão Pura - o que podemos conhecer
 Crítica da Razão Prática - o que podemos desejar
 Crítica da faculdade do juízo- o que podemos ajuizar
 se queremos conhecer um fenômeno ou apenas apreciá-lo esteticamente, nossas faculdades – entendimento, imaginação e sensibilidade – se articulam de determinada maneira
A Crítica da Razão constitui-se para Kant em um movimento de delimitação: o que posso conhecer enquanto ser finito e sensível. Isso não se confunde com o que posso pensar. Criticar é limitar, estabelecer os fins para cada âmbito do espírito humano: a ciência, a ética e a arte – a verdade, o bem e o belo .
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Com Kant, o tema central da reflexão não é mais a obra estética normativa clássica, mas o processo interior que nos conduz a pensar que se está de fato diante de uma obra de arte. É a reflexão sobre o objeto que passa a ser considerada estética.
Se na 1ª primeira Crítica é centrada no conhecimento, na Crítica da faculdade do juízo essa soberania será problematizada. Para a experiência estética se efetuar não deve haver determinação do sujeito em relação ao objeto 
 compreensão da experiência estética como fundamento de uma abertura singular do sujeito ao mundo e aos outros. É como se os fenômenos surgissem diante de nós sem que fossem determinados em sua maneira de ser por uma expectativa do entendimento, ou seja, eles nos surpreendem e nos fazem falar.
 a vontade de falar ou escrever depois do impacto de uma obra de arte é uma forma natural de responder à experiência estética e uma vez que o entendimento não é aí determinante, nossa imaginação vai atuar de modo mais livre. É essa vontade de que o outro compartilhe nosso sentimento que vai qualificar a experiência estética como comunicável
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- noção Kantiana de artista como gênio capaz de criar uma obra ao mesmo tempo exemplar e original; Kant atribui ao gênio 4 características;
 a originalidade
 o exemplarismo, 
a autenticidade 
 um acordo secreto com as intenções da natureza, 
criar o novo, mas com valor intersubjetivo;
 o gênio é aquele capaz de criar ideias estéticas que, no entanto, só se apresentam como obras
- o gênio que incute na obra as ideias que a tornam significativa, mas só com o gosto essas ideias seriam transmissíveis 
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- a partir da época de Kant , ou depois do Romantismo, romperam-se definitivamente os parâmetros que organizavam a priori a experiência das obras, fazendo com que o fenômeno artístico só se realize no momento da experiência. 
A arte só existe na medida em que é capaz de elaborar uma linguagem que crie significados e que ultrapasse a dimensão do gosto.
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Apesar da oposição entre o Neoclássico e Romântico, Argan defende que ambos pertencem ao mesmo ciclo de pensamento marcado pela ruptura operada pela cultura iluminista: o móvel ideológico ocupa o principio metafísico da natureza-revelação o que resulta em duas atitudes possíveis do homem reagir perante a realidade e a história, a diferença consistia no tipo de postura predominantemente racional ou passional. 
Na França essa relação é exemplificada pelo antagonismo entre Ingres e Delacroix. 
Ambos vêem a pintura como uma interpretação da história, mas enquanto em Ingres o historicismo é a superação da contingência, Delacroix revive os fatos remotos como se estivessem acontecendo frente a seus olhos. A
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Século XIX – Romantismo
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Um agudo sentido de relatividade impregnará o XIX inspirando sobressaltos e incertezas. O homem é apenas efêmero, um fragmento contingente e errante do mundo. A essência humana, desprovida de sua origem divina e de sua imortalidade, apresenta-se como finitude e transitoriedade, o homem é apenas a sua história. 
A partir do XIX a história imporá suas determinações aos outros saberes, não como coleta da sucessão de fatos, mas como modo de ser fundamental das empiricidades. Evolutiva e teleológica desenrola-se em uma cadeia de casualidades. 
As ciências do XIX, como a filologia, a etimologia, a biologia, baseiam-se no sentido evolutivo; ciência e tecnologia, teologia e metafísica se impregnam de um ethos evolucionista.
 Os filósofos, como Hegel, teorizam a visão da história da arte como uma sucessão de estilos interpretados dialeticamente como uma sucessão de tese, antítese e síntese. 
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O Romantismo pretende superar o ideal de uma humanidade universal e de uma natureza eterna, com leis imóveis e imutáveis que impregnava o sonho racional do iluminismo.
 Faz nascer uma relativização geral acentuada no historicismo romântico .
 Desconfia de leis naturais que governam homens e coisas segundo uma ordem perfeita na sua mecânica racionalidade e celebra a espontaneidade, a espiritualidade e a experiência individual subjetiva.
 Ao universalismo supra-histórico que identificava as artes gregas e romanas como o próprio conceito de arte opõe a autonomia das nações, o sentimento individual.
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A pintura romântica quer ser expressão do sentimento, um estado de espírito frente à realidade. 
 De uma natureza dramática em Turner a vista emocionada de Constable, em todos a natureza reflete e expressa as emoções do homem. 
O belo romântico pitoresco ou sublime, definidos respectivamente por Cozens e Burke no final do XVIII, é justamente o belo subjetivo contraposto ao belo clássico objetivo, universal imutável. 
Constable selecionava na natureza motivos, eram “pitorescos”, é portanto uma vista
emocionada, pois para ele ela não está dissociada de uma reação afetiva do sujeito, Turner em suas telas a natureza dramática e sublime, pois expressa as emoções do homem; visão revela um dinamismo cósmico que escapa ao controle da razão e pode arrastar a alma humana em êxtase.
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 constable_a carroça de feno
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théodore rousseau_temporal, vista da planície de montmartre
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“A pintura romântica quer ser expressão do sentimento; o sentimento é um estado de espírito frente à realidade; sendo individual, é a única ligação possível entre o indivíduo e a natureza, o particular e o universal; assim, sendo o sentimento o que há de mais natural no homem, não existe sentimento que não seja sentimento da natureza.” (p. 33)
ARGAN, G. C. Arte moderna: do Iluminismo aos movimentos contemporâneos. 6ª ed. SP: Companhia das Letras, 1999.
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caspar david friedrich_a cruz e a catedral nas montanhas.
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caspar david friedrich_o oceano polar
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 william blake - o ancião dos dias - 1794.
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 william blake - o redemoinho dos apaixonadore - paolo e francesca - 1824-27

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