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Direito Civil I – Carlos da Fonseca Nadais 1 CIVIL I – AULA 13 PRESCRIÇÃO Os direitos extinguem-se quando ocorrer: ∆ Perecimento do objeto sobre o qual recaem, se ele perder suas qualidades essenciais ou valor econômico; se se confundir com outro modo que não possa distinguir (confusão, mistura de líquidos) se cair em local onde não se pode mais ser retirado (anel no mar); ∆ Alienação, que é o ato de transferir o objeto de um patrimônio a outro, havendo perda do direito para o antigo titular; ∆ Renúncia, que é o ato jurídico pelo qual o titular de um direito se despoja, sem transferi-lo a quem quer que seja; ∆ Abandono, que é a intenção do titular de se desfazer da coisa, porque não quer mais continuar sendo dono; ∆ Falecimento do titular, sendo o direito personalíssimo e por isso intransferível; ∆ Abolição de uma instituição jurídica, como aconteceu com a escravidão; ∆ Confusão, se uma só pessoa se reúnem as qualidades de credor e de devedor; ∆ Implemento de condição resolutiva; ∆ Prescrição; � módulo 13 ∆ Decadência. � módulo 14 1. Conceito O legislador não definiu a prescrição, logo a doutrina se debruçou para buscar uma definição. Desse modo, tomaremos como ponto de partida a doutrina clássica. Maria Helena Diniz afirma aponta a origem do termo prescrição na palavra latina praescriptio, derivação do verbo praescribere, que significa "escrever antes". Clóvis Bevilácqua assevera que "prescrição é a perda da ação atribuída a um direito, e de toda a sua capacidade defensiva, em consequência do não-uso delas, durante um determinado espaço de tempo”. Pontes de Miranda afirma ser a prescrição "... a exceção, que alguém tem contra o que não exerceu, durante certo tempo, que alguma regra jurídica fixa, a sua pretensão ou ação". Caio Mário destaca que a prescrição é o modo pelo qual se extingue um direito (não apenas a ação) pela inércia do titular durante certo lapso de tempo. Pelas definições, já se inicia a polêmica em torno do tema. Para uns a prescrição extingue a ação, enquanto que outros, direito de ação. Iniciemos então pelo conceito de pretensão, que é o poder de exigir de outrem, coercitivamente, o cumprimento de um dever jurídico, ou seja, a submissão de um interesse subordinado (devedor) a um interesse subordinante (credor). A violação desse direito que causa dano ao titular do direito subjetivo, faz nascer para o credor o poder de exigir do devedor uma ação ou omissão, para recomposição de um dano. Assim, a prescrição extingue a pretensão, que é a exigência de subordinação de um interesse alheio ao interesse próprio, extinguindo também e indiretamente a ação. Carlos da Fonseca Nadais - 2016 Direito Civil I – Carlos da Fonseca Nadais 2 Art. 189 CC. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela prescrição, nos prazos a que aludem os arts. 205 e 206 [prazos prescricionais] A par de inúmeras dúvidas sobre o uso da prescrição ou decadência, apresentamos um esquema, nos estudos de Agnelo Amorim Filho, baseado no tipo de ação. a) ações condenatórias, correspondentes às pretensões, possuem prazos prescricionais; b) ações constitutivas, correspondentes aos direitos potestativos, possuem prazos decadenciais; c) ações meramente declaratórias, que só visam obter certeza jurídica, não estão sujeitas nem à decadência nem à prescrição, em princípio, sendo perpétuas, mas sujeitas a prazos decadenciais quando estes são previstos em lei. São imprescritíveis as ações constitutivas que não têm prazo especial fixado em lei, assim como as ações meramente declaratórias. Os principais exemplos de imprescritibilidade no direito civil são: ∆ As que protegem direito de personalidade (aula 04); ∆ As que prendem ao estado das pessoas (filiação, condição conjugal, cidadania); ∆ As de exercício facultativo (ou potestativo), em que não existe direito violado (extinção de condomínio); ∆ As referentes a bens públicos de qualquer natureza (aulas 06 e 07); ∆ As pretensões de reaver bens confiscados à guarda de outrem, a título de depósito, penhor ou mandato; ∆ As que protegem direito de propriedade (reivindicatórias); ∆ As destinadas a anular inscrição do nome empresarial feita com violação à lei ou ao contrato. Vale ressaltar que a usucapião é a única espécie de prescrição aquisitiva de direitos, pois todas as demais são formas são extintivas de direito. 2. Elementos para configuração da prescrição Pelo que vimos até agora, podemos apontar 3 requisitos caracterizadores da prescrição: ∆ violação do direito, com o nascimento da pretensão; ∆ inércia do titular do direito; ∆ decurso de prazo fixado na lei. 3. Legitimidade para arguição da prescrição A prescrição pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição pela parte a quem aproveita, conforme dispõe o art. 193 CC. Logo, poderá ser arguida em qualquer fase, na segunda ou primeira instância, mesmo que não levantada na contestação. A prescrição poderá era arguida pelas partes (art. 193 CC) ou de ofício (art. 219, §5° CPC/73 ou arts. 332 §1° e 487 II NCPC). O Ministério Público, em nome do incapaz ou dos interesses que tutela, e o curador da lide, em favor do curatelado, ou o curador especial, também poderão invocar a prescrição, entretanto o Ministério Público não poderá arguí-la, em se tratando de interesse patrimonial, quando atuar como custus legis (STF. REsp 15.265/PR. 2ª Turma. Rel. Min. Peçanha Martins. DJU 17/05/1993). Carlos da Fonseca Nadais - 2016 Direito Civil I – Carlos da Fonseca Nadais 3 Art. 193 CC. A prescrição pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição, pela parte a quem aproveita. Art. 194 CC. O juiz não pode suprir, de ofício, a alegação de prescrição, salvo se favorecer a absolutamente incapaz. (revogado) César tem 16 anos e seu pai, que tem seguro de vida, comete suicídio. A seguradora se recusa a pagar a indenização do contrato de seguro, pois nele havia uma cláusula de não pagamento por suicídio do segurado. A partir da “ocorrência do sinistro”, começa a correr o prazo de prescrição - 1 ano. César, aos 17 anos, percebe que a mãe não acionou a seguradora para pleitear a indenização pactuada, ocorrendo à prescrição. Cesar pode entrar com ação contra sua mãe. Art. 195 CC. Os relativamente incapazes e as pessoas jurídicas têm ação contra os seus assistentes ou representantes legais, que derem causa à prescrição, ou não a alegarem oportunamente. [“regresso”] Art. 196 CC. A prescrição iniciada contra uma pessoa continua a correr contra o seu sucessor. [accessio praescritionis] 4. Momento de arguição da prescrição Art. 193 CC. A prescrição pode ser alegada em qualquer grau de jurisdição, pela parte a quem aproveita. 5. Renuncia à prescrição Aqui temos outra característica da prescrição: a possibilidade de renúncia. Renunciar à prescrição consiste na possibilidade do devedor de dívida prescrita, desde de que: a) a prescrição já esteja consumada; e b) não prejudique terceiros*. Art. 191 CC. A renúncia da prescrição pode ser expressa ou tácita, e só valerá, sendo feita, sem prejuízo de terceiro, depois que a prescrição se consumar; tácita é a renúncia quando se presume de fatos do interessado, incompatíveis com a prescrição. * prejuízo de terceiro: Júlio deve 10 mil para César; deve 5 mil para Jonas, deve 5 mil para Marcos e deve 3 mil para Otávio. O patrimônio total de Júlio é de exatamente 10 mil (valor da dívida com César). A pretensão de cobrança da dívida com César já foi prescrita, mas Júlio renuncia a essa prescrição e paga para César (dívida prescrita)! César não pode fazer isso, pois prejudica os demais, cujas dívidas estavam ativas. 6. Inalterabilidade do prazo prescricional Mais uma característica da prescrição: inalterabilidade dos prazos prescricionais. Qualquerque seja o prazo prescricional, ele não poderá ser mudado. Art. 192 CC. Os prazos de prescrição não podem ser alterados por acordo das partes. 7. Impedimento, suspensão e interrupção da prescrição. O impedimento da prescrição é fato que não permite que o prazo prescrição comece a correr, ou seja, impede a fluidez do prazo, antes de seu início. Se o obstáculo surge após o prazo ter iniciado temos a suspensão. A suspensão é a cessação temporária do curso do prazo prescricional, assim, cessando as causas suspensivas, a prescrição volta a correr, aproveitando o tempo decorrido anteriormente. Carlos da Fonseca Nadais - 2016 Direito Civil I – Carlos da Fonseca Nadais 4 As causas que impedem ou suspendem estão elencadas nos arts. 197 a 201 do CC. Art. 197 CC. Não corre a prescrição: [relação de confiança] I - entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal [união estável]; II - entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar; III- entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela ou curatela. Art. 198 CC. Também não corre a prescrição: I - contra os incapazes de que trata o art. 3°; II - contra os ausentes do País em serviço público da União, dos Estados ou dos Municípios; III- contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de guerra. Art. 199 CC. Não corre igualmente a prescrição: I - pendendo condição suspensiva; II - não estando vencido o prazo; III- pendendo ação de evicção*. *evicção: É a perda total ou parcial da propriedade, posse ou uso de um bem adquirido, em decorrência de sentença judicial, que reconheceu o direito desse bem a um terceiro, antes da aquisição. Art. 200 CC. Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não correrá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva. [transitada em julgado] Art. 201 CC. Suspensa a prescrição em favor de um dos credores solidários, só aproveitam os outros se a obrigação for indivisível. A interrupção depende, via de regra, de um comportamento ativo do credor, que extingui o tempo decorrido, fazendo o prazo prescricional volte a correr por inteiro. As causas da interrupção estão descritas nos arts. 202 a 204 do CC. Art. 202 CC. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez, dar-se-á: I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a promover no prazo e na forma da lei processual; II - por protesto, nas condições do inciso antecedente; III- por protesto cambial; IV- pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em concurso de credores; V- por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor; VI- por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento do direito pelo devedor. Parágrafo único. A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do último ato do processo para a interromper. Art. 203 CC. A prescrição pode ser interrompida por qualquer interessado. Art. 204 CC. A interrupção da prescrição por um credor não aproveita aos outros; semelhantemente, a interrupção operada contra o co-devedor, ou seu herdeiro, não prejudica aos demais coobrigados. Carlos da Fonseca Nadais - 2016 Direito Civil I – Carlos da Fonseca Nadais 5 § 1° A interrupção por um dos credores solidários aproveita aos outros; assim como a interrupção efetuada contra o devedor solidário envolve os demais e seus herdeiros. § 2° A interrupção operada contra um dos herdeiros do devedor solidário não prejudica os outros herdeiros ou devedores, senão quando se trate de obrigações e direitos indivisíveis. § 3° A interrupção produzida contra o principal devedor prejudica o fiador. 8. Espécies de prescrição 8.1. Prescrição extintiva Como o próprio nome indica, faz desaparecer direitos. É a prescrição propriamente dita, tratada no novo Código Civil, na parte geral, aplicada a todos os direitos. 8.2. Prescrição intercorrente É a prescrição extintiva que ocorre no decurso do processo, ou seja, já tendo o autor provocado a tutela jurisdicional por meio da ação. Obviamente, se autor utiliza a ação para fugir à prescrição e, já sendo processada essa ação, o processo ficar paralisado, sem justa causa, pelo tempo prescricional, caracterizada está a desídia do autor, a justificar a incidência da prescrição. 8.3. Prescrição aquisitiva Corresponde à usucapião, previsto no CC na parte relativa ao direito das coisas, mais precisamente no tocante aos modos originários de aquisição do direito de propriedade. Podem ser ordinário (art. 1.242 CC – com justo título e boa-fé: 10 anos); extraordinário (art. 1.238 CC – independente justo título e boa-fé: 15 ou 10 anos); constitucional/especial urbano (art. 1.240 CC e art. 183 CF – 250 m2: 5 anos); constitucional/especial rural (art. 1.239 CC e art. 191 CF – 50 hectares: 5 anos); e especial urbano residencial familiar (art. 1.240-A CC – ex-cônjuge que abandona o lar: 2 anos). Temos ainda outras modalidades muito específicas como a usucapião indígena (art. 33 – Lei 6.001/73 - Estatuto do Índio) e a usucapião coletiva (art. 10 Lei 10.257/2001 – Estatuto da Cidade) Art. 1.242 CC. Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por dez anos. [usucapião ordinário] Art. 1.238 CC. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade, independentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis. [usucapião extraordinário] Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo. Art. 1.240 CC. Aquele que possuir, como sua, área urbana de até duzentos e cinqüenta metros quadrados, por cinco anos ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. [usucapião especial urbano] Art. 183 CF. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinqüenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem Carlos da Fonseca Nadais - 2016 Direito Civil I – Carlos da Fonseca Nadais 6 oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. Art. 1.239 CC. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como sua, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra em zona rural não superior a cinqüenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade. [usucapião especial rural] Art. 191 CF. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural, não superior a cinquenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade. Art. 1.240-A. Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250 m² (duzentos e cinquenta metros quadrados) cuja propriedade divida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural. [usucapião especial urbano residencial familiar] Art. 33 Estatuto do Índio. O índio, integrado ou não, que ocupe como próprio, pordez anos consecutivos, trecho de terra inferior a cinquenta hectares, adquirir-lhe-á a propriedade plena. Art. 10 Estatuto da Cidade. As áreas urbanas com mais de duzentos e cinquenta metros quadrados, ocupadas por população de baixa renda para sua moradia, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, onde não for possível identificar os terrenos ocupados por cada possuidor, são susceptíveis de serem usucapidas coletivamente, desde que os possuidores não sejam proprietários de outro imóvel urbano ou rural. 8.4. Prescrição ordinária É aquela cujo prazo é genericamente previsto em lei. No Código Civil está disciplinada no art. 205 (10 anos) 8.5. Prescrição especial É aquela cujo prazo é pontualmente previsto em lei. No Código Civil está disciplinada no art. 206 (1 a 5 anos). 9. Prazos prescricionais (arts. 205 e 206 CC) Vamos, por enquanto, sinalizar àqueles mais comuns, para fins didáticos, entretanto vale ressaltar que os prazos fixados no Código Civil não excluem outros prazos previstos em legislação especial. Art. 205 CC. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor. [prescrição ordinária] Art. 206 CC. Prescreve: [prescrição extraordinária] § 1° Em um ano: Carlos da Fonseca Nadais - 2016 Direito Civil I – Carlos da Fonseca Nadais 7 II - a pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra aquele, contado o prazo: a) para o segurado, no caso de seguro de responsabilidade civil, da data em que é citado para responder à ação de indenização proposta pelo terceiro prejudicado, ou da data que a este indeniza, com a anuência do segurador; b) quanto aos demais seguros, da ciência do fato gerador da pretensão; § 2° Em dois anos, a pretensão para haver prestações alimentares, a partir da data em que se vencerem. § 3° Em três anos: I - a pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou rústicos; V - a pretensão de reparação civil; § 4° Em quatro anos, a pretensão relativa à tutela, a contar da data da aprovação das contas. § 5° Em cinco anos: II - a pretensão dos profissionais liberais em geral, procuradores judiciais, curadores e professores pelos seus honorários, contado o prazo da conclusão dos serviços, da cessação dos respectivos contratos ou mandato. 10. Prescrição contra a fazenda pública (direito tributário) A prescrição para cobrança dos créditos ativos da Fazenda Pública, frente ao particular, a que também se submetem quaisquer direitos e ações, inclusive de titularidade de entidades paraestatais, tem sido invocada com base Decreto 20.910/32, cuja incidência foi estendida para alcançar fundações e outros entes, pelo Decreto-Lei 4.597/42. Art. 1º Decreto 20.910/32. As dívidas passivas da União, dos Estados e dos Municípios, bem assim todo e qualquer direito ou ação contra a Fazenda federal, estadual ou municipal, seja qual for a sua natureza, prescrevem em cinco anos contados da data do ato ou fato do qual se originarem. Art. 2º Decreto-Lei 4.597/42. O Decreto 20.910/32, que regula a prescrição qüinqüenal, abrange as dívidas passivas das autarquias, ou entidades e órgãos paraestatais, criados por lei e mantidos mediante impostos, taxas ou quaisquer contribuições, exigidas em virtude de lei federal, estadual ou municipal, bem como a todo e qualquer direito e ação contra os mesmos. Controvertem renomados juristas, a respeito do tema, considerando ora a imprescritibilidade dessas ações, ora com fundamento no artigo 37, § 5º da Constituição Federal; ora admitindo a regra geral do artigo 205 CC, dispondo sobre prescrição decenal; ora, invocando o princípio da isonomia, considerando a prescrição quinquenal das dívidas passivas exigível contra a Fazenda Pública. A Fazenda entende que o prazo prescricional é de três anos, fundamentado no art. 206, §3°, inciso V do CC, pertinente a “pretensão à reparação civil”, que era o entendimento dominante nos tribunais. O STJ reviu sua posição (prescrição trienal) e decidiu pela prescrição quinquenal, fundado no disposto do art. 1-C da Lei 9.494/97 (norma especial - quinquenal) em detrimento do art. 206 do Código Civil (norma de caráter geral - trienal). (STJ. REsp 1.277.724-PR. Terceira Turma. Rel. Min. João Otávio de Noronha. Julgado em 26.05.2015). Carlos da Fonseca Nadais - 2016 Direito Civil I – Carlos da Fonseca Nadais 8 A título “ilustrativo” a prescrição do fisco contra o contribuinte é mais “pacífica”. Art. 174 CTN. A ação para a cobrança do crédito tributário prescreve em cinco anos, contados da data da sua constituição definitiva. Parágrafo único. A prescrição se interrompe: I – pelo despacho do juiz que ordenar a citação em execução fiscal; II - pelo protesto judicial; III - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor; IV - por qualquer ato inequívoco ainda que extrajudicial, que importe em reconhecimento do débito pelo devedor. 11. Prescrição no Código de Defesa do Consumidor – CDC (direito do consumidor) Os prazos prescricionais referem-se à pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço ambos previstos no CDC e estão dispostas no art. 27 CDC (norma especial – cinco anos), também prevalecendo sobre o art. 206, §3°, inciso V do CC (norma de caráter geral – três anos). Art. 27 CDC. Prescreve em cinco anos a pretensão à reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria. Há uma corrente que afirma que quanto ao vício do produto ou serviço a prescrição é de três anos, pois a lei consumerista não se pronuncia sobre esse tema, logo se deve atentar a lei geral, ou seja, o Código Civil, no art. 206, §3°, inciso V que versa sobre “pretensão a reparação civil”. A fundamentação se baseia que no Código de Defesa do Consumidor há menção expressa para fato do produto e de serviço (art. 12 e 14 CDC) e para vício do produto e de serviço (art. 18 e 20 CDC), ou seja, deixa expresso a diferenciação, logo o art. 27 CDC “excluiria” o “vicio do produto e serviço”. 11.1. Termo inicial da prescrição no CDC O termo inicial da prescrição consumerista se dá a partir do momento do conhecimento do dano ou de sua autoria (art. 27 in fine CDC). Isto é, a partir do momento em que se conheça o dano e possa-se relacioná-lo com o defeito do produto ou do serviço. Conhecimento dos efeitos do dano, não é conhecimento do dano, necessário que o consumidor tenha consciência de que aquilo que observa é, de fato, um dano, já que tal ilação pode não ser imediata em todos os casos. Quanto à identificação do autor, o comerciante é responsável subsidiário. Inexistindo informação sobre fabricante, construtor, produtor ou importador, bem como quando o fato se deve exclusivamente ao comerciante (art. 13 CDC). Nada impede que o consumidor descobrindo demais fornecedores, venha ajuizar ação já que só a contar deste conhecimento individualizado terá início o prazo prescricional. Poderá o consumidor demandar um ou mais dentre os responsáveis (solidariedade legal). A propositura de ação contra um não libera os demais. Liberação que só ocorre se houver o pagamento integral. 11.2. Impedimento, suspensão e interrupção da prescrição consumerista. O parágrafo único do artigo 27 do CDC, que previa a interrupção foi vetado, logo a matéria é disciplinada pelo Código Civil, fonte subsidiária do direito do consumidor. Art. 27 CDC. [...] Parágrafo único - Interrompe-se o prazo de prescrição do direito de indenização pelo fato do produto ou serviço nas hipóteses previstas no § 1º do artigo anterior, sem prejuízo de outras disposições legais. (vetado) Carlos da Fonseca Nadais - 2016
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