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1 DIREITO CIVIL I – PARTE GERAL PROF. DANIEL PAIVA UNIDADE II – DAS PESSOAS NATURAIS 1. CONCEITO DE PESSOA NATURAL: O Título I do Livro I do Código Civil de 2002, concernente às pessoas, dispõe sobre as “pessoas naturais”, reportando-se tanto ao sujeito ativo como ao sujeito passivo da relação jurídica. Pessoa natural é o ser humano considerado como sujeito de direitos e obrigações. Ver: Art.1º CC/2002 Para qualquer pessoa assim designada, basta nascer com vida e, desse modo, adquirir personalidade. 2. COMEÇO DA PERSONALIDADE JURÍDICA: A Personalidade jurídica (também conhecida por personalidade natural) é o conjunto de poderes conferidos ao homem para figurar nas relações jurídicas como titular de direitos ou detentor de obrigações. Isto é, aptidão genérica para adquirir direitos e contrair obrigações ou deveres na ordem civil. Prescreve o Código Civil que a personalidade natural da pessoa começa do nascimento com vida. Ver: Art. 2º CC/2002 No instante em que principia o funcionamento do aparelho cárdio-respiratório, clinicamente aferível por exame denominado “docimasia hidrostática de Galeno”, o recém-nascido adquire personalidade natural, tornando-se sujeito de direito, mesmo que venha a falecer minutos depois. Na mesma linha, a Resolução nº 1/88 do Conselho Nacional de Saúde, dispõe que o nascimento com vida é: “a expulsão ou extração completa do produto da concepção quando, após a separação, respire e tenha batimentos cardíacos, tendo sido ou não cortado o cordão, esteja ou não desprendida a placenta”. O Código Civil, na esteira de diversos diplomas contemporâneos, NÃO faz quaisquer outras exigências além do “nascimento com vida”. Perante nosso direito, qualquer ser humano que venha a nascer com vida será uma pessoa (no sentido jurídico), não importando as anomalias, as deformidades ou a falta de órgãos essenciais. Em uma perspectiva constitucional de respeito à dignidade da pessoa, não importa que o feto tenha forma humana ou tempo mínimo de sobrevida. 2 A importância da averiguação do nascimento do feto com vida se dá em vários aspectos da vida civil, como, por exemplo, no direito sucessório. Onde, se o feto nascido com vida - cujo pai já tenha morrido - falece minutos após o parto, terá adquirido, todos os direitos sucessórios do seu genitor, transferindo-os logo em seguida para a sua mãe, uma vez que se tornou, ainda que por breves instantes, sujeito de direito. Caso contrário, se o feto nasceu morto, não adquiriu personalidade natural e, portanto, não chegou a receber nem a transmitir a herança deixada por seu pai, ficando esta com os avós paternos. Malgrado a personalidade natural da pessoa comece do nascimento com vida, a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro (parte final do art.2º CC/2002). Nascituro é o “ser” que está por nascer, mas já concebido no ventre materno. Cuida- se do “ser” concebido, ainda não nascido, dotado de vida intra-uterina. A lei não lhe concede personalidade, a qual só lhe será conferida se nascer com vida. Mas, como provavelmente nascerá com vida, o ordenamento jurídico, desde logo, preserva seus interesses futuros, tomando medidas para salvaguardar os direitos que, com muita probabilidade, em breve serão seus. É razoável o entendimento no sentido de que, não sendo pessoa, o nascituro possui mera expectativa de direito. Maria Helena Diniz, defensora da teoria concepcionista, leciona que, na vida intrauterina, tem o nascituro “personalidade jurídica formal” no que atina aos direitos da personalidade, visto ter carga genética diferenciada desde a concepção. Passando a ter “personalidade jurídica material”, alcançando os direitos patrimoniais e obrigacionais, que se encontravam em estado potencial, somente com o nascimento com vida. Isto é, o Nascituro, desde a concepção, já é titular de direitos da personalidade (sem conteúdo patrimonial). Ao passo que adquirirá os direitos patrimoniais no momento do nascimento com vida. A proteção legal ao nascituro apresenta-se em diversos aspectos, tais como: • O nascituro é titular de direitos personalíssimos (direito à vida, o direito à proteção pré-natal, etc.); • O nascituro pode receber doação (expectativa de direito); • O nascituro pode ser beneficiado por legado e herança (expectativa de direito); • Pode ser-lhe nomeado curador para a defesa dos seus interesses; • O Código Penal tipifica o crime de aborto; 3. CAPACIDADE: O art. 1º do Código Civil entrosa o conceito de capacidade com o conceito de personalidade, ao declarar que “Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil”. Afirmar que o homem tem personalidade é o mesmo que dizer que ele tem capacidade para ser titular de direitos. Embora entrosados, os conceitos de personalidade e capacidade não se confundem. Enquanto a personalidade é um valor, a capacidade seria a projeção desse valor. Isto é, ter personalidade jurídica significa ter direitos da personalidade e gozar de proteção, ao passo que ter capacidade é ter aptidão para exercer tais direitos. 3 Por sua vez, a capacidade se divide em 2 espécies: Capacidade de Direito e Capacidade de Fato (ou de Exercício). Adquirida a personalidade natural (oriunda do nascimento com vida), toda pessoa passa a ser capaz de contrair direitos e obrigações. Possui, portanto, capacidade de direito. Todo ser humano tem capacidade de direito, pelo simples fato de que a personalidade natural é um atributo inerente à sua condição de ser humano. Já a capacidade de fato ou de exercício é a aptidão de exercer por si os atos da vida civil. No direito brasileiro não existe incapacidade de direito, porque todos se tornam, ao nascer com vida, capazes de adquirir direitos. Há, portanto, somente incapacidade de fato (ou de exercício). Se a pessoa puder exercer pessoalmente seus direitos, podemos afirmar que ela reúne tanto a capacidade de direito e como a capacidade de fato. Ou seja, ela é detentora da Capacidade Civil Plena: CAPACIDADE CIVIL PLENA = CAPACIDADE DE DIREITO + CAPACIDADE DE FATO Outrossim, a eventual falta de capacidade de fato ou de exercício, conduz-nos ao problema da Capacidade Civil Limitada(ou Incapacidade): CAPACIDADE CIVIL LIMITADA = CAPACIDADE DE DIREITO – CAPACIDADE DE FATO A Incapacidade é a restrição legal ao exercício dos atos da vida civil, imposta pela lei somente aos que, excepcionalmente, necessitam de proteção, pois a capacidade é regra e a incapacidade é a exceção. Devemos salientar que estamos tratando da falta da capacidade de exercício, e não da capacidade de direito, já que esta todos possuem. Assim, quem possui as 2 espécies de capacidade (de direito e de fato) tem capacidade civil plena para realizar sozinho os atos da vida em sociedade. Já quem ostenta somente a capacidade de direito, tem capacidade civil limitada e necessita de outra pessoa que substitua ou complete sua vontade (são os chamados incapazes). Nestes termos, a incapacidade (de exercício) pode ser: Absoluta ou Relativa. 3.1. INCAPACIDADE ABSOLUTA: É absoluta a incapacidade quando a lei considera um indivíduo totalmente inapto ao exercício da atividade da vida civil. Os absolutamente incapazes podem adquirir direitos, pois possuem a capacidade de direito, mas não são habilitados a exercê-los por si, porque lhes falta a capacidade de exercício. 4 Como são proibidos totalmente do exercício de qualquer atividade no mundo jurídico, nos atos que se relacionam com seus direitos e interesses, procedem por via de representantes, que agem, no caso, em nome destes incapazes. Assim, por exemplo, se a casa de um absolutamenteincapaz for alugada, quem realizará tal ato em nome do incapaz será o seu representante. Segundo o Código, as seguintes pessoas são consideradas absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: Os menores de dezesseis anos - Trata-se dos menores impúberes. Abaixo deste limite etário, o legislador considera que a pessoa é inteiramente imatura para atuar na órbita jurídica. Isto é, não teria discernimento suficiente para dirigir sua vida e seus negócios e, por essa razão, deve ser representada nos atos jurídicos pelos pais, tutores ou curadores. Ver: art. 3º, I, CC/2002 Os privados do necessário discernimento por enfermidade ou deficiência mental – Abrange todos os casos de insanidade mental, provocada por doença ou enfermidade mental congênita ou adquirida. Refere-se, justamente, à falta do necessário discernimento para os atos da vida civil, compreensiva de todos os casos de insanidade mental, permanente e duradoura, caracterizada por graves alterações das faculdades psíquicas. A incapacidade deve ser oficialmente reconhecida por meio do procedimento de interdição, previsto nos arts. 1.177 a 1.186 do Código de Processo Civil. Uma vez declarada judicialmente a incapacidade, não devem ser considerados válidos quaisquer atos praticados pelo incapaz, mesmo nos intervalos de perfeita lucidez. Para o legislador, a incapacidade mental é considerada um estado permanente e contínuo. Ver: art. 3º, II, CC/2002 Os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade – Só estão incluídas nesse caso de incapacidade absoluta, embora temporária, as hipóteses que acarretam a impossibilidade de exprimir a vontade. É o caso da pessoa em estado de coma, ou acometida de paralisia total. Trata-se de hipótese da supressão total da vontade da pessoa, ainda que transitoriamente. Não confundir com a incapacidade permanente dos ébrios habituais e dos viciados em tóxicos, a qual é relativa pela diminuição (e não supressão) da vontade acarretada por esses vícios. Ver: art. 3º, III, CC/2002 3.2. INCAPACIDADE RELATIVA: Além dos absolutamente incapazes, destacam-se dentre os incapazes aqueles que NÃO são totalmente privados da capacidade de fato. Entende o ordenamento jurídico que, em razão de certas circunstâncias e para sua proteção, devem ser colocadas certas pessoas em um termo médio entre a incapacidade e o livre exercício dos direitos. Estão nessa categoria os chamados Relativamente Incapazes. Esses não são privados de ingerência ou participação na vida civil. Ao contrário, o exercício de seus direitos se realiza com a sua presença, exigindo, apenas, que sejam assistidos por seus responsáveis. Em suma, os relativamente incapazes são aqueles cuja manifestação de vontade é reconhecida pelo ordenamento jurídico, desde que eles sejam assistidos. 5 Consoante a diretriz do Código Civil, são incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer : Os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos – São os chamados menores púberes. O ordenamento jurídico não despreza a sua vontade, pois atribui ao ato praticado pelo relativamente incapaz todos os efeitos jurídicos, desde que esteja assistido por seu representante (pais ou tutores). Os referidos menores figuram nas relações jurídicas e delas participam pessoalmente, inclusive, assinando os respectivos documentos. Contudo, não podem fazê-lo sozinhos, mas acompanhados, ou seja, assistidos por seu representante legal. Ver: art. 4º, I, CC/2002 Os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido - A embriaguez, o vício de tóxico e a deficiência, consideradas como causas de incapacidade relativa, neste caso, REDUZEM, mas NÃO ANIQUILAM a capacidade de discernimento. Se privarem totalmente o agente de capacidade de consciência e orientação, como na embriaguez patológica ou toxicomania grave (dependência química total) configurar-se-á caso de incapacidade absoluta, na forma do art. 3°, II. Ver: art. 4º, II, CC/2002 Os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo – Para o legislador, excepcional é o indivíduo que tem deficiência mental (índice de inteligência significativamente abaixo do normal). O Código Civil considera relativamente incapazes não apenas os portadores da “Síndrome de Down”, mas todos os excepcionais sem completo desenvolvimento mental, como por exemplo, os surdos-mudos (que não receberam educação adequada e permaneceram isolados). Ver: art. 4º, III, CC/2002 Os pródigos - A prodigalidade é um desvio comportamental por meio do qual o indivíduo desordenadamente dilapida o seu patrimônio, podendo reduzir-se à miséria. Para a sua própria proteção (e para evitar que bata às portas de um parente ou do Estado) e, eventualmente, de seus credores, o pródigo poderá ser interditado. Segundo a legislação em vigor, a curatela do pródigo somente o privará de, sem respectivo curador, emprestar, transigir, dar quitação, alienar, hipotecar, demandar ou ser demandado, e praticar, em geral, atos que não sejam de mera administração. Ver: art. 4º, IV; e art. 1.782 CC/2002 Os índios – O Código Civil remete a disciplina normativa dos índios para legislação especial. O diploma legal que atualmente regula a situação jurídica dos índios no país é a Lei nº 6.001/73 (Estatuto do índio). Referida lei considera nulos os negócios celebrados entre um índio e uma pessoa estranha à comunidade indígena, sem a participação da FUNAI, enquadrando-o como absolutamente incapaz. Entretanto, o Estatuto do índio excepciona que se considerará válido tal ato se o índio revelar consciência e conhecimento do ato praticado e, ao mesmo tempo, tal ato não o prejudicar. Ver: art. 4º, parágrafo único CC/2002; art. 8º da Lei nº 6.001/73 6 3.3. EFEITOS DA INCAPACIDADE: A incapacidade absoluta acarreta a proibição total, pelo incapaz, do exercício de atos jurídicos. Fica ele inibido de praticar qualquer ato jurídico ou de participar de qualquer negócio jurídico. Estes atos regularmente praticados ou celebrados pelo representante legal do absolutamente incapaz, sob pena de NULIDADE1. Ver: art. 166, I, CC/2002 Já a incapacidade relativa permite que o incapaz pratique atos da vida civil, desde que assistido, por seu representante legal, sob pena de ANULABILIDADE2. Ver: art. 171, I, CC/2002 3.4. SUPRIMENTO DA INCAPACIDADE (representação e assistência): O suprimento da incapacidade absoluta dá-se através da representação, e o da incapacidade relativa, por meio da assistência. Cuidam-se de institutos protetivos dos incapazes. Para o absolutamente incapaz os atos são exclusivamente praticados ou celebrados pelo representante legal do incapaz (isoladamente). Já para o relativamente incapaz os atos são realizados com a presença de ambos: o relativamente incapaz e o seu representante assistente (se for necessária a assinatura em algum documento, ambos assinarão). Ver: arts. 1.690 e 1.747, I CC/2002 4. CESSAÇÃO DA INCAPACIDADE: Cessa a incapacidade desaparecendo os motivos que a determinaram. Assim, no caso da loucura e da surdo-mudez, por exemplo, desaparece a incapacidade, cessando a enfermidade físico-psíquica que as determinou. Quando a causa é a menoridade, desaparece pela maioridade ou pela emancipação. 4.1. MAIORIDADE: A maioridade começa aos 18 anos completos, tornando-se a pessoa apta para as atividades da vida civil que não exigirem limite especial, como as de natureza política. O critério é unicamente etário (biológico): leva-se em conta somente a idade, mesmo havendo, em determinados casos, maturidade precoce. Ver: art. 5º CC/20021 A Nulidade tem por consequência, em regra, que o ato praticado não produza qualquer efeito jurídico. 2 Já a Anulabilidade traz por consequência que o ato produz todos os efeitos até ser julgado em sentença. 7 4.2. EMANCIPAÇÃO: Emancipação é definida como a aquisição da capacidade civil antes da idade legal. Consiste, desse modo, na antecipação da maioridade. Pode decorrer de concessão dos pais ou de sentença do juiz, bem como de determinados fatos a que a lei atribui esse efeito. Conforme a sua causa ou origem, a emancipação pode ser: Emancipação voluntária – É a emancipação que ocorre pela concessão de ambos os pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, desde que o menor haja completado 16 anos. Se houver divergência entre os pais, deverá ser dirimida pelo Juiz. É ato unilateral irrevogável praticado pelos pais que reconhecem ter seu filho a maturidade necessária para reger sua pessoa e seus bens. Ver: art. 5º, parágrafo único, I (parte inicial) CC/2002 Emancipação judicial – É a emancipação deferida por sentença, ouvido o tutor, em favor do tutelado que já completou 16 anos. Entendeu o legislador que tal espécie de emancipação deve ser submetida à análise do juiz, para evitar emancipações destinadas apenas a livrar o tutor dos ônus da tutela. O tutor, desse modo, não pode emancipar o tutelado. O procedimento é disciplinado no Código de Processo Civil (art.1.103 e seguintes) Ver: art. 5º, parágrafo único, I (parte final) CC/2002 Emancipação legal – É a emancipação que decorre de determinados fatos previstos na lei, como o casamento, o exercício de emprego público efetivo, a colação de grau em curso de ensino superior e o estabelecimento com economia própria. Independe de registro e produzirá efeitos desde logo, isto é, a partir do ato ou do fato que a provocou. Ver: art. 5º, parágrafo único, II, III, IV e V CC/2002 Didaticamente, podemos resumir as formas de emancipação do menor em: 8 5. INDIVIDUALIZAÇÃO DA PESSOA NATURAL: A identificação da pessoa se dá pelo NOME, que a individualiza; pelo ESTADO, que define a sua posição, na sociedade política e na família, como indivíduo; e pelo DOMICÍLIO, que é o lugar de sua atividade social. 5.1. NOME: O nome integra a personalidade por ser o sinal exterior pelo qual se designa, se individualiza e se reconhece a pessoa no seio da família e da sociedade. Daí a sua proteção legal. O nome completo de uma pessoa compõe-se de 2 elementos: NOME COMPLETO = PRENOME + SOBRENOME O prenome é o nome próprio de cada pessoa e serve para distinguir membros da mesma família. Pode ser simples (José, João ...) ou composto (José Roberto, Antônio Carlos ...). O prenome pode ser livremente escolhido pelos pais, desde que não exponha o filho ao ridículo. Em regra o prenome é imutável. Todavia, admite-se excepcionalmente a sua mudança em caso de evidente erro de grafia; exposição ao ridículo de seu portador; utilização de apelido público notório; fundada coação ou ameaça decorrente da colaboração com a apuração de crime; e adoção de menor. Ver: art. 58 da Lei nº 6.015/73; art. 1.627 CC/2002 Já o sobrenome é sinal que identifica a procedência da pessoa, indicando a sua filiação ou estirpe. Enquanto o prenome é a designação do indivíduo, o sobrenome é o característico de sua família, transmissível por sucessão. Igualmente o sobrenome só deve ser alterado em casos excepcionais e se não prejudicar os apelidos de família. Ver: arts. 56 e 57 da Lei nº 6.015/73 O nome completo pode também sofrer alterações no casamento e na separação judicial e divórcio. Ver: arts. 1.565, §1º; art.1.571, §2º CC/2002 5.2. ESTADO DA PESSOA: O estado das pessoas constitui a soma das qualificações que a pessoa reúne na sua vida em sociedade, hábeis a produzir efeitos jurídicos. O estado das pessoas pode ser encarado sob o aspecto individual, familiar e político: Estado individual (ou estado físico) – É o modo de ser da pessoa quanto à idade (maior e menor), ao sexo (feminino e masculino) e à saúde mental (são, insano e incapaz). Estado familiar – É o que indica a situação da pessoa na família, em relação ao matrimônio (solteiro, casado, viúvo, separado, divorciado) e ao parentesco (pai, filho irmão, sogro, cunhado...). Estado político – É a qualificação jurídica que advém da posição da pessoa na sociedade política, caso em que poderá ser nacional, naturalizada ou estrangeira (Art. 12 CF/88) 9 5.3. DOMICÍLIO: A noção de domicílio é de grande importância no direito, levando-se em consideração as relações jurídicas que se formam entre pessoas, é necessário que estas tenham um local onde possam ser encontradas para responder por suas obrigações. Domicílio civil da pessoa natural é o lugar onde estabelece residência com ânimo definitivo, convertendo-o, em regra, em centro principal de seus negócios jurídicos ou de sua atividade profissional. Ver: arts. 70 e 72 CC/2002 Para uma efetiva compreensão da matéria, é necessário também fixar e distinguir as noções de morada, residência e domicílio: Morada - É o lugar onde a pessoa natural se estabelece provisoriamente. A estada passageira de alguém por um hotel caracterizaria moradia e não a residência. Residência - É o lugar onde a pessoa natural se estabelece habitualmente. A residência pressupõe maior estabilidade. Domicílio – A noção de domicílio abrange a de residência, e, por consequência, a de morada. Para ser caracterizado como domicílio, não basta, pois, o simples ato de residir. Requer o ato de residir, aliado ao propósito de permanecer, convertendo-se aquele local em centro de suas atividades. Em outros termos, também podemos classificar as espécies de domicílio em: Domicílio Voluntário - É o fixado de acordo com a vontade exclusiva do voluntário. Qualquer pessoa, não sujeita ao domicílio necessário, tem a liberdade de estabelecer o local em que pretende instalar a sua residência com ânimo definitivo, bem como mudá-lo, quando lhe convier. Ver: art. 70 CC/2002 Domicílio legal ou necessário - Decorre de mandamento da lei, em atenção à condição especial de determinadas pessoas (como os militares, servidores públicos etc.). Nesses casos, deixa de existir liberdade de escolha. Ver: art. 76 CC/2002 Domicílio de eleição - Decorre do ajuste entre as partes de um contrato (fruto de um acordo de vontades). A lei permite aos contratantes a escolha do local onde se promoverá o cumprimento do ato negocial efetivado por eles. Esse domicílio gera a competência para solução de eventual conflito entre contratantes, determinando o foro em que a demanda deverá ser julgada. Ver: art. 78 CC/2002 Existe também a noção de domicílio aparente ou ocasional, considerando como domicílio da pessoa natural, que NÃO tenha residência habitual, o lugar onde for encontrada”. Cria- se uma “aparência de domicílio”. É o caso de profissionais de circo, caixeiros viajantes e outros profissionais que vivem em trânsito e não têm domicílio certo. Ver: art. 73 CC/2002 10 6. EXTINÇÃO DA PERSONALIDADE: Cessa a personalidade da pessoa natural com a morte real ou presumida, deixando de ser sujeito de direitos e obrigações. Ver: art. 6º CC/2002 6.1. MORTE: A morte real é apontada na primeira parte do art. 6º do Código Civil como responsável pelo término da existência da pessoa natural. Assim, com a morte termina a personalidade jurídica, não sendo mais o morto sujeito de direitos e obrigações, acarretando a extinção do poder familiar, a dissolução do vínculo matrimonial, aabertura da sucessão, a extinção dos contratos personalíssimos, a extinção de usufruto, etc. Entretanto, a morte não significa o aniquilamento completo dos direitos da pessoa, porque, apesar do morto não possuir mais os direitos da personalidade, não significa dizer que o ordenamento jurídico deixa de protegê-lo, garantindo a ele o respeito ao seu cadáver (existem dispositivos que prevêem crimes atos cometidos contra o cadáver do morto – artigo 209 a 212 do CP), garante também que sua vontade seja respeitada através do testamento. A prova da morte real (com o cadáver) se dá com o atestado de óbito. Já a morte presumida é destacada na segunda parte do art. 6º do Código Civil. De fato, em algumas situações, tendo em vista o desaparecimento injustificado de alguma pessoa por vasto período de tempo, ou ainda, o conhecimento de que o indivíduo se encontrava no local onde ocorreu alguma catástrofe, donde houveram muitos óbitos, necessário se faz declarar a morte do indivíduo, para se poder administrar seus bens e dissolver alguns vínculos que ele possuía em vida. Para se obter a declaração de óbito SEM o cadáver do indivíduo, o ordenamento jurídico prevê 2 (duas) possibilidades judiciais: Na declaração de morte presumida (sem decretação de ausência) - Há efetiva presunção da morte, tendo em vista algumas situações ou lugares em que se encontrava o indivíduo antes de desaparecer, e que denotam que o mesmo estava em perigo de vida (sendo extremamente provável a sua morte). Ver: art. 7º CC/2002 Na declaração de ausência - A pessoa desaparece, por tempo prolongado, sem dar notícias, ou sequer deixar um representante ou procurador para cuidar de seus interesses. É o caso, por exemplo, do marido que saiu para comprar cigarros e nunca mais voltou. Este declaração autoriza aos herdeiros administrarem os bens e interesses do desaparecido, enquanto este não voltar ao convívio comum. Ver: arts. 22 ao 25 CC/2002 11 6.2. COMORIÊNCIA OU MORTE SIMULTÂNEA: Cumpre ressaltar que é importante estabelecer o momento da morte ou fazer sua prova para que ocorram os efeitos inerentes ao desaparecimento jurídico da pessoa humana (como por exemplo, a abertura da sucessão hereditária). O fenômeno jurídico da Comoriência ocorre quando duas ou mais pessoas morrem ao mesmo tempo, ou quando não é possível concluir qual delas morreu primeiro, razão pela qual o direito trata como se elas tivessem morrido no mesmo instante. Ver: art. 8º CC/2002 O fato tem especial interesse no Direito das Sucessões — parte do direito que dispõe sobre as regras aplicáveis ao destino do patrimônio das pessoas falecidas. O assunto é de vital importância, já que a pré-morte de um casal, por exemplo, tem implicações no direito sucessório. Se faleceu primeiro o marido, transmitiu a herança à mulher; se ambos não tivessem descendentes e a mulher falecesse depois, transmitiria a herança a seus herdeiros ascendentes (pais). O oposto ocorreria se se provasse que a mulher faleceu primeiro. A situação prática pode ocorrer em catástrofes ou acidentes. O principal efeito da morte simultânea é que, não tendo havido tempo ou oportunidade para a transferência de bens entre os comorientes, um não herda do outro. Assim, se em um acidente marido e mulher morrem juntos, um não herda do outro, e se não tiverem filhos, serão seus respectivos ascendentes que herdarão suas heranças (os pais da mulher ficarão com a meação dela, enquanto que os pais do marido ficarão com a meação dele). 7. DIREITOS DA PERSONALIDADE: O reconhecimento dos direitos da personalidade como categoria de direito subjetivo é relativamente recente. O grande passo para a proteção dos direitos da personalidade foi dado com o advento da Constituição Federal de 1988, que expressamente a eles se refere no: Art.5º ... (...) X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação; Por sua vez, o Código Civil dedicou um capítulo inteiro aos direitos da personalidade (Art. 11 ao 21), visando à sua salvaguarda, sob múltiplos aspectos, desde a proteção ao nome e à imagem até o direito de dispor do próprio corpo para fins científicos ou altruísticos. Mas o que seriam os “Direitos da personalidade” ? A doutrina define os Direitos da Personalidade como direitos subjetivos que têm por objeto os bens e valores essenciais ao ser humano, no seu aspecto físico, moral e intelectual. 12 Assim, os direitos da personalidade defenderiam aquilo que é próprio da condição de pessoa humana: a sua integridade física (vida; alimentos; próprio corpo vivo ou morto; corpo alheio vivo ou morto; partes separadas do corpo vivo ou morto); a sua integridade intelectual (liberdade de pensamento; autorias científica, artística e literária); e sua integridade moral (honra; recato; segredo pessoal, profissional e doméstico; imagem; identidade pessoal, familiar e social). Importante apontar algumas características inerentes aos direitos da personalidade, que por interpretação ao Art.11 do Código Civil, seriam: Absolutos – São tão relevantes e necessários que impõem a todos um dever de respeito. Em outro aspecto, têm o caráter geral, porque são inerentes a todo ser humano. Intransmissíveis – Não podem ser transferidos à esfera jurídica de outrem. Nascem e se extinguem com o seu titular, por serem dele inseparáveis. Ninguém pode desfrutar em nome de outrem bens como a vida, a honra, a liberdade, etc. Contudo, alguns atributos da personalidade admitem a cessão de seu uso, como a imagem, que pode ser explorada comercialmente. Irrenunciáveis – Não pode o seu titular renunciar ao seu uso ou abandoná-los, pois nascem e se extinguem com ele, dos quais são inseparáveis. Inexpropriáveis – Por serem inatos, adquiridos no instante da concepção, não podem ser retirados da pessoa enquanto ela viver por dizerem respeito à qualidade humana. Impenhoráveis – Pela razão de serem indisponíveis e insuscetíveis de aferição econômica, os direitos da personalidade não podem ser penhorados. Imprescritíveis – Não se extinguindo pela falta de uso ou pelo decurso do tempo, nem pela inércia do titular na pretensão de defendê-los. Vitalícios – São adquiridos no instante da concepção e acompanham a pessoa até sua morte. Todavia, mesmo após a morte, alguns desses direitos são ainda resguardados, como, por exemplo, o respeito aos mortos, à sua honra ou memória e ao seu direito moral de autor. Ilimitados – É ilimitado o número de direitos da personalidade, malgrado o Código Civil, nos artigos 11 a 21, tenha se referido expressamente apenas a alguns. Reputa-se tal rol meramente exemplificativo, pois não esgota o seu elenco. Noutro aspecto, o da proteção, destinam-se os direitos da personalidade também a resguardar a dignidade humana, por meio de medidas judiciais adequadas, que devem ser ajuizadas pelo ofendido ou pelo lesado indireto, tendo por objeto a cessação da ameaça ou lesão que vem sofrendo, além de reclamação de perdas e danos. Ver: art. 12 CC/2002 Igualmente importante é falar sobre os direitos da personalidade na espécie, e o primeiro a ser objeto de estudo é o Direito à Vida Digna, que se encontra positivado no Pacto de San José da Costa Rica e em nossa Constituição Federal: Pacto de San José da Costa Rica Art. 4º - Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. Esse direito deve ser protegido pela lei, em geral, desde o momento da concepção. Ninguém pode ser privado da vida arbitrariamente. 13 Constituição Federal de 1988 Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúveldos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: (...) III - a dignidade da pessoa humana. Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: Dessas normas iniciais surge forte corrente doutrinária, denominada de “Princípio do Primado do Direito à Vida”, segundo o qual a vida do ser humano tem prioridade sobre todas as coisas, uma vez que a dinâmica do mundo nela se contém e sem ela nada teria sentido e, por corolário, o direito à vida (digna) prevalecerá sobre qualquer outro direito da personalidade. O novo Código Civil, em referido capítulo, também disciplinou algumas situações em que se coloca em xeque tais direitos da personalidade, tais como: Atos de disposição do próprio corpo – O direito à integridade física compreende a proteção jurídica à vida, ao próprio corpo vivo ou morto, quer na sua totalidade, quer em relação a tecidos, órgãos e partes suscetíveis de separação. Assim, a regra é a de preservação do corpo, sendo defeso o ato de sua disposição quando importar em qualquer limitação permanente da integridade física ou contrária aos bons costumes, com exceção de exigência médica. Já em relação ao corpo humano sem vida (cadáver) é coisa fora do comércio, insuscetível de apropriação. Ver: Arts. 13 e 14 CC/2002 Tratamento médico de risco – Obrigam-se os médicos, nos casos mais graves, a não atuarem sem prévia autorização do paciente, que tem a prerrogativa de se recusar a se submeter a um tratamento médico perigoso. Na impossibilidade de o doente manifestar a sua vontade, deve-se obter a autorização escrita, para o tratamento médico ou a intervenção cirúrgica de risco, de um familiar. Ver: Art. 15 CC/2002 Direito ao nome – O direito ao nome é espécie dos direitos da personalidade, pertencente ao gênero do direito à integridade moral, pois todo indivíduo tem o direito à identidade pessoal, de ser reconhecido em sociedade por denominação própria. Ver: Arts. 16 a 19 CC/2002 Proteção à palavra e à imagem – Segundo o Código, a parte lesada pelo uso não autorizado de sua palavra ou voz, ou de seus escritos, bem como de sua imagem, pode obter ordem judicial restringindo esse uso e condenando o infrator a reparar os prejuízos causados. Ver: Art. 20 CC/2002 Proteção à intimidade – A proteção à vida privada visa resguardar o direito das pessoas de intromissões indevidas em seu lar, em sua família, em sua correspondência, em sua economia, etc. Ou seja, protege todos os aspectos da intimidade da pessoa, concedendo ao prejudicado a prerrogativa de pleitear que cesse o ato abusivo ou ilegal. Ver: Art. 21 CC/2002
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