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Curso Auxiliar VeterinárioCurso Auxiliar Veterinário Monitoramento do Paciente na Clínica de Pequenos AnimaisMonitoramento do Paciente na Clínica de Pequenos Animais Prof.ª M.V. Ana Maria F. Neves Após a consulta realizada pelo Médico Veterinário, havendo necessidade de internação, o paciente passa a ser cuidado pelos Auxiliares/Enfermeiros Veterinários. O Monitoramento dos pacientes internados é função básica destes profissionais. O paciente internado fica sob a responsabilidade dos auxiliares veterinários, que são encarregados dos cuidados imediatos e da medicação sob a orientação dos médicos veterinários. São os auxiliares quem primeiro percebem qualquer mudança no estado do paciente e devem comunicar ao responsável. Alteração do apetite e/ou sede, manifestação de dor, alteração nas fezes e/ou urina e nos parâmetros clínicos (temperatura, cor das mucosas, alteração na respiração...). A identificação do animal é feita inicialmente no Prontuário que fica aos cuidados do veterinário. Ali encontra-se todo o histórico do paciente (atendimentos, retornos, vacinas e tratamentos a que o ele já foi submetido, queixa atual, etc. ) e dados de seu proprietário. Já na INTERNAÇÃO deve haver uma ficha específica para o tratamento que está em curso. Esta ficha vai ser atualizada por aquele que está encarregado de medicar o animal, geralmente o auxiliar ou enfermeiro veterinários. Cada estabelecimento adota um tipo de controle, de acordo com a conveniência e a forma de trabalho desenvolvida pela equipe. Abaixo um modelo que pode ser usado como Ficha de Internação: Ficha de Internação Veterinário responsável: _________________________________ Animal: Nome___________________ Espécie: __________ Raça:_____________ Pelagem: _________________ Idade: _______________ Peso:___________kg Diagnóstico: ___________________________________________________________ Exames realizados: ____________________________________ (exame/data – anexar o exame à ficha) ___________________________________________________________________________________ Tratamento (medicamentos): 1. ______________ Dose: __________ Frequência: _______________ Início em : _____/_____/_____ 2. ______________ Dose: __________ Frequência: _______________ Início em:______/_____/_____ 3. ______________ Dose: __________ Frequência: _______________ Início em:______/_____/_____ Fluidoterapia:_________________________________________________________________________ Data Observação: Enfermeiro/Vet ____/_____/____ _________________________________________________________/_____________ ___/_____/____ __________________________________________________________/____________ ___/_____/____ __________________________________________________________/____________ ___/_____/____ __________________________________________________________/____________ ___/_____/____ __________________________________________________________/____________ MODELO DE FICHA DE INTERNAÇÃO Monitorando Desde o momento em que o animal dá entrada na clínica devemos observar seu comportamento e postura, se há algum ferimento ou dor evidente. Assim que possível pesá-lo e anotar o peso em seu prontuário. A avaliação dos sinais vitais é feita durante a consulta pelo médico veterinário e também anotada no prontuário. Ao ser internado, o veterinário determina o tratamento. A rotina de cuidados passa para o enfermeiro/auxiliar, sob a supervisão e acompanhamento de um veterinário. Obviamente, o animal internado apresenta uma razão para estar ali: doença que não é tratável em casa, preparação para cirurgia, cuidados pós-cirúrgicos, realização de curativos, etc. Mesmo estando em local estranho muitos animais são dóceis e interagem bem com seu tratador. Outros no entanto, além do desconforto inerente ao seu estado, ficam muito estressados por estarem em ambiente e com pessoas desconhecidos. Todo recurso para tornar a internação mais agradável para o paciente é valioso, como manter a baia limpa, posição confortável, temperatura agradável, alimento e água acessíveis, chamar o animal pelo seu nome, etc. Peso: o peso do animal, em quilos, deve constar de sua ficha de internação, uma vez que todos os medicamentos são calculados de acordo com o peso do animal. Alimentação: se não for recomendado jejum e o paciente puder ser alimentado, o tratador deve observar: Tipo de dieta:é recomendada alguma dieta específica para o tratamento? Apetite: o animal demonstra interesse pelo alimento ? Condição física: ele consegue comer sozinho ou precisa ser auxiliado(mudança de posição, segurar o animal enquanto come)? ele consegue apreender o alimento ou tem que ser colocado na boca? Tipo de alimento:é necessária a utilização de alimento pastoso que possa ser administrado com uma seringa? Água: está bebendo água sozinho ou precisa de ajuda? Vômito: tem histórico de vômito? Ainda está vomitando? Logo após a refeição ou muito depois?Com que frequência? Qual o aspecto do vômito ? Urina: está urinando normalmente? Apresenta alguma dificuldade em urinar? Qual o aspecto da urina (clara, escura, turva, presença de sangue etc)? Fezes: está defecando normalmente? Qual o aspecto das fezes (firmes, pastosas, liquidas, claras, escuras, presença de parasitas, sangue)? Medicamentos: está sendo medicado? Está apresentando melhora com a terapia instituída? Piorou? Apresenta algum sinal de efeito adverso à medicação, ou seja, sinais diferentes daqueles esperados (prurido, vermelhidão, inchaço, inquietação, fraqueza muscular, prostração)? Dor: demonstra algum sinal de estar sentindo dor? (ver abaixo – capitulo específico sobre Dor) Sinais Vitais O veterinário deve avaliar os sinais vitais durante a consulta. Porém o animal internado pode necessitar de uma checagem mais frequente até que o quadro se estabilize. Neste caso, o auxiliar veterinário deve saber realizar esta checagem para informar ao veterinário qualquer valor fora do esperado. Frequência Cardíaca (FC) A frequência cardíaca pode ser avaliada através da auscultação com estetoscópio, posicionado entre o 3° e o 5° espaço intercostal esquerdos, em cães e gatos, ou ainda através da palpação do pulso na artéria femoral na face medial da coxa. Na tabela abaixo, as frequências normais: Espécie Frequência Cardíaca (bpm*) Cães: recém-nascidos até 180 raças miniaturas até 160 adultos 70 - 160 raças gigantes 60 - 140 Gatos: recém-nascidos 220 - 260 adultos 120 – 200 Coelhos 180 – 250 Ferrets 200 – 250 *bpm = batimentos por minuto Auscultação cardíaca. Fonte: fluid Frequência Respiratória (FR) A Frequência Respiratória é avaliada pela observação da expansão da caixa torácica, contando-se o número de movimentos por minuto: Espécie FrequênciaRespiratória (mpm*) Cães 10 a 30 Gatos 20 a 40 Coelhos 30 a 60 Ferrets 33-36 *movimentos por minuto Temperatura Os animais homeotérmicos (mamíferos e aves), quando saudáveis, são capazes de manter a temperatura corporal dentro dos limites ideais para o bom desempenho das funções corporais, independente da variação da temperatura ambiental. Alguma variação na temperatura corporal é possível por fatores fisiológicos: • após ingerir alimentos a temperatura pode estar alguns décimos acima do normal; • ingestão de água fria pode abaixar a temperatura em alguns décimos; • animais desnutridos tendem a apresentar temperatura ligeiramente maisbaixa; • esforços físicos tendem a elevar a temperatura • temperatura ambiental: mudanças bruscas de temperatura no ambiente são acompanhadas por alterações na temperatura corporal. Condições febris são causadas na sua maioria por doenças infecciosas – a febre é uma tentativa do corpo de eliminar o agente infeccioso. A febre é diferente da hipertermia. A hipertermia é uma elevação da temperatura corporal de origem não inflamatória. As principais causas de hipertermia são: temperatura ambiente e umidade do ar elevada, exercício, desidratação, convulsões, pêlos em excesso, obesidade e confinamento ou transporte sem ventilação adequada A hipotermia é a diminuição da temperatura abaixo dos níveis de referência, o que pode ocorrer por uma perda excessiva de calor ou por produção insuficiente de calor, ou ainda devido a toxinas que possam afetar a regulação térmica (p. ex.: septicemias). Os neonatos são particularmente suscetíveis às hipotermias ambiental e nutricional. A aferição da temperatura em cães e gatos é realizada com termômetro clínico por via retal. Espécie Temperatura (°C)* Cães 37,5 a 39,3°C Gatos 38 a 39,5°C Coelhos 38,5 a 40°C Ferrets 37,7 a 40°C °C = graus Celsius Mucosas A coloração das mucosas pode ser indicativa de doença. As mucosas normalmente inspecionadas em cães e gatos são: conjuntivas palpebrais (olhos); gengivas, lábios, vulva, pênis e face interna do pavilhão auricular. O tempo de preenchimento capilar (TPC), também pode ser indicativo de anormalidades circulatórias ou da hidratação. No quadro abaixo as colorações e suas possíveis causas: Figura 1: Avaliação do TPC .Fonte: Hidratação X Desidratação A água corporal total representa aproximadamente 60% do peso do animal adulto. Nos recém-nascidos este valor pode chegar a 75% e nos idosos 55%. Os obesos tem uma porcentagem menor de água corporal, como os idosos. A diminuição de água corporal pode se dar através de vômitos, diarreia, poliúria (muita urina), hemorragias, disfagia (dificuldade de comer e beber), etc.. Este déficit hídrico, se for muito severo, põe a vida em risco. Os sinais característicos da desidratação são praticamente os mesmos para todas as espécies e esta avaliação se dá conforme a tabela a seguir. Desidratação Sinais clínicos < 5% Nenhuma anormalidade detectável 5% Pele ligeiramente inelástica e flácida, mucosas secas. 7 a 8% Inelasticidade definida da pele. TPC aumentado (2 a 3s). Ligeira depressão do olho na órbita. Extremidades frias 10 a 12% Perda severa da elasticidade da pele; TPC >3s; olhos afundados nas órbitas; animais debilitados em choque;contrações musculares involuntárias; extremidades frias. 12 a 15% Choque óbvio; morte iminente. Fonte: Manual Merck – 7a. Edição Mucosas Normal: rosada Pálida: rosa clara, esbranquiçada - anemia Hiperêmica: vermelha – infecção/toxemia Ictérica: amarelada - hepatopatia Cianótica: azulada – oxigenação deficiente Perlácea: branca, perolada – anemia grave Tempo de Preenchimento Capilar (TPC): Normal: 1-2 segundos Desidratação: 2-3 segundos Desidratação grave: >3 segundos Sistemas Corporais Cada sistema apresenta sinais de anormalidade possíveis de serem observados nos pacientes tão logo cheguem na clínica para consulta ou naqueles que permanecem internados, para avaliação da evolução do quadro: Sistema Possíveis alterações Locomotor Claudicação Impotência funcional Deformidade em coluna ou membros Dificuldade em vencer obstáculos Pele Alopecia Prurido Descamação Untuosidade Odor Feridas Parasitas Meneios de Cabeça (orelhas) Digestivo Apetite/ Sede Defecações: frequência, volume, aspecto, presença de parasitas, região anal Vômito: aspecto, frequência, momento Hálito, cavidade oral Gases Variação de peso Depravação do Apetite Respiratório Cansaço Dispnéia Corrimento nasal/ocular Tosse Espirro Cardiovascular Atitude Posicionamento Edema em membros Ascite Desmaios Cianose Tosse Genito urinário Corrimento Micção: frequência, aspecto, volume Cio, pseudociese Mamas, vulva Testículos, prepúcio Nervoso Alteração de hábito ou comportamento Posicionamento Episódios convulsivos Desmaios Audição Visão Tabelas Acrescento abaixo tabelas para avaliação da idade de cães e gatos comparativamente ao ser humano; datas esperadas de erupção dos dentes assim como a troca para os dentes permanentes e, finalmente, avaliação do escore corporal de cães e gatos. Embora não sejam de uso rotineiro, ajudam na avaliação de nossos pacientes. Fonte: Enciclopédia do Cão – Royal Canin Cães GatosEscore Corporal 1: Muito Magro Costelas, Coluna e Ossos Pélvicos bem visíveis, em animais de pelo curto. Cintura muito marcada Evidente perda de massa muscular Ausência de gordura 3: Peso Ideal Costelas, coluna e ossos pélvicos não perceptíveis mas facilmente palpáveis, com fina camada de gordura; Cintura perceptível atrás das costelas Discreta gordura abdominal 2: Abaixo do Peso Costelas, Coluna e Ossos Pélvicos visíveis Cintura marcada Mínima gordura abdominal 4: Acima do Peso Costelas, coluna e ossos pélvicos dificilmente palpáveis Cintura de difícil percepção Marcante depósito de gordura abdominal, sobre a coluna e a base da cauda 5: Obeso Costelas, coluna e ossos pélvicos não palpáveis Sem cintura Grande depósito de gordura abdominal, sobre a coluna e a base da cauda (cães) Grande distensão abdominal Avaliação do Escore Corporal de Cães e Gatos Adaptado de: Veterinary Technician's Daily Reference Guide: Canine and Feline, Third Edition; Edited by Jack, Candice et all, Published by John Wiley & Sons Inc, 2014 Paciente CirúrgicoPaciente Cirúrgico O paciente que vai passar por uma cirurgia deve ser monitorado antes, durante e após o ato cirúrgico. Antes da cirurgia devem ser conferidos os exames laboratoriais e de imagem realizados previamente. Exames Normalmente, em um animal saudável, jovem (menos de 6 anos) são suficientes o hematócrito (porcentagem de células vermelhas do sangue – avalia possível anemia), enzimas hepáticas (avalia a função do fígado), creatinina (avalia a função dos rins) e glicemia (quantidade de glicose presente no sangue). Em um animal que já tenha algum problema de saúde e/ou tenha mais de 6 anos de idade, o ideal é que se faça previamente um hemograma completo, funções renal e hepática completas, glicemia e exames de imagem: ultrassom (US), raios-X (RX), eletrocardiograma (ECG), ecocardiograma (ECO), endoscopia, etc, de acordo com a necessidade da cirurgia a ser realizada. Por exemplo, no caso de uma piometra, se faz um US onde se avaliará a condição do útero a ser retirado; no caso de uma fratura, se faz um RX, para avaliar a extensão e o tipo de fratura. Condições Ideais Para uma Cirurgia Embora nem sempre seja possível realizar uma cirurgia em condições ótimas, a equipe deve se empenhar para não se afastar do ideal. Os estabelecimentos veterinários onde se realizam cirurgias devem ter um local apropriado que seja utilizado apenas para este fim: o centro Paciente posicionado para cirurgia; colocação monitor cardíaco cirúrgico. O decreto 40.400/95 que dispõe sobre a instalação de estabelecimentos veterinários, especifica que a sala de cirurgia deve ter piso liso, impermeável e resistente a pisoteio e desinfetantes, paredes impermeabilizadas até a altura de 2m, forro que permita assepsia, não deve ter cantos retos nos limites parede-piso e parede-parede, acesso por antecâmara onde o cirurgião fará a desinfecção das mãos e braços, etc.. Toda essa exigência não é sem motivo. As cirurgias são tratamentos invasivos que requerem o máximo de assepsia,visando uma boa recuperação do paciente assim como sua segurança e da equipe cirúrgica. Além do local, o instrumental cirúrgico deve ser esterilizado e adequado ao tipo de cirurgia: ortopédica, excisão de tumores, oftálmica, etc. Equipamentos para monitorar o paciente anestesiado: monitor cardíaco, pressão, oxímetro de pulso; Aparelho de anestesia inalatória, anestésicos e medicamentos de emergência para diferentes situações e pacientes. E, finalmente, pessoal devidamente capacitado: cirurgião, anestesista, auxiliar de cirurgia e auxiliar de sala. A realidade nem sempre nos permite dispor de todos esses recursos o que deve levar cada membro da equipe a se empenhar para suprir as deficiências. Quem determina se o paciente está em condições de ser submetido a uma cirurgia naquele momento é o cirurgião veterinário ou o anestesista veterinário. Da mesma forma, são eles quem irão estabelecer os procedimentos em caso de uma emergência, assim como o tipo de anestesia indicada para aquele indivíduo. Monitor cardíaco e de pressão Colocando os panos de campo Classificação ASA Toda cirurgia envolve risco. Para se mensurar este risco devemos levar em consideração três fatores: o paciente (seu estado físico), a anestesia a ser utilizada e o tipo de cirurgia a ser realizado. A Sociedade Americana de Anestesiologistas (American Society of Anesthesiologists – ASA) propôs uma classificação que hoje é utilizada amplamente tanto na Medicina Humana quanto na Medicina Veterinária. Esta classificação avalia o grau de risco de vida do paciente de acordo com suas condições clínicas antes do início da cirurgia. O escore vai de 1 a 6, sendo o paciente ASA 1 aquele que tem menor risco de vida: ASA Estado do paciente Exemplos 1 Saudável, normal, risco mínimo Profilaxia dental, orquiectomia, OSH, caudectomia (corte da cauda)*, conchectomia(corte da orelha)* e oniectomia(retirada das garras)* em gatos 2 Doença sistêmica leve, ou localizada; risco pequeno Fratura, laceração da pele, ruptura do ligamento dpo joelho, paciente pediátrico ou geriátrico saudável; fratura exposta (E) 3 Doença sistêmica grave, já com alterações clínicas; risco moderado Gato com obstrução uretral, cadela com piometra, febre, desidratação leve a moderada, anemia; perfuração gastrointestinal (E) 4 Doença grave que ameaça a vida; a cirurgia pode salvar a vida, risco alto Doenças cardíacas, insuficiência hepática ou renal, hemorragia interna, dilatação torção gástrica (E) 5 Paciente em estado muito grave, com pequena chance de sobrevivência com ou sem cirurgia Trauma severo seguido de choque, hemorragia massiva, ruptura do intestino 6 Paciente com morte cerebral do qual podem ser extraídos órgãos para transplante. Na Medicina Veterinária ainda não é uma prática de rotina. * atualmente estas cirurgias são proibidas e consideradas mutilações, conforme resolução do Conselho Federal de Medicina Veterinária (E) = emergências Antes da Cirurgia Cabe ao auxiliar veterinário checar antes da cirurgia começar, repassando tudo o que será necessário ao procedimento que a ser realizado, com relação ao material e ao paciente: Material e Medicamentos: • Medicamentos: anestésicos, analgésicos , fluidos IV, antibióticos, etc • Medicamentos de Emergência: adrenalina; atropina; doxapram, etc.... • Descartáveis: seringas , agulhas , cateteres , gaze estéril , equipo, sondas endotraqueais, etc • Aparelho anestesia: verificar circuitos e cilindro de oxigênio; laringoscópio • Instrumental cirúrgico: de acordo com a cirurgia e com o cirurgião Paciente: Muitas vezes o animal é trazido para a clínica pelo seu tutor momentos antes da cirurgia. Neste caso deve-se verificar se foi feito o jejum recomendado e se o paciente foi medicado, caso tenha sido prescrito algum tratamento prévio. • Verificar os exames solicitados para avaliação pré-cirúrgica. • Avaliar: FR, FC, TPC, temperatura • Aplicar medicação pré-anestésica, geralmente via IM, indicada pelo cirurgião ou pelo anestesista • Realizar tricotomia ampla da área cirúrgica • Acesso venoso: verificar com o cirurgião qual a veia mais indicada de maneira que não atrapalhe o campo cirúrgico e seja de fácil acesso ao anestesista • Assepsia da área cirúrgica • Após a indução da anestesia pelo anestesista, colocar sonda endotraqueal (verificar antecipadamente o tamanho da sonda para aquele animal) • Colocar gel oftálmico para evitar ressecamento da córnea (particularmente em gatos que permanecem com os olhos abertos durante a anestesia) ou instilar solução fisiológica periodicamente antes e durante a cirurgia. • Avaliar necessidade de colchão térmico em cirurgias de longa duração ou em caso de temperatura ambiente baixa. colocação de cateter na veia cefálica de um cão Obs: nem todos os procedimentos acima são realizados pelo auxiliar veterinário. Cada médico veterinário adota um método de trabalho e delega funções conforme ache necessário. Fonte: Fundamentals of Small Animal Surgery – 2011 ; Ilustrações: DR. Gheorghe M. Constantinescu sondas endotraqueais posicionando o paciente para entubar oxímetro de pulso Durante a Cirurgia É função do anestesista a monitoração do paciente através da avaliação constante dos parâmetros abaixo: • Frequência Cardíaca: estetoscópio, eletrocardiograma (monitor cardíaco) • Pressão arterial • Frequência Respiratória • Ventilação: oxímetro de pulso • Hemogasometria: gases sanguíneos No caso de não haver um anestesista deve-se monitorar a FC (estetoscópio) e FR (visualização dos movimentos torácicos), o que nestes casos cabe, quase sempre, ao auxiliar veterinário. Este vai informando ao cirurgião, no decorrer da cirurgia, qualquer alteração nestes parâmetros. Além das avaliações acima pode ser necessária a mensuração da glicemia, particularmente em pacientes diabéticos, ou muito jovens ou idosos que foram submetidos a jejum prolongado. Depois da Cirurgia Nas cirurgias de rotina onde o paciente não precise de cuidados especiais, quem monitora o pós-operatório é o auxiliar veterinário. Checar sempre com o cirurgião e com o anestesista se há algum procedimento ou medicação que deva ser administrada ao paciente logo ao término da cirurgia ou mais tarde, ou ainda, instruções que devam ser passadas ao proprietário caso o paciente seja liberado para ir para casa. • Curativo cirúrgico ou roupa cirúrgica: caso o animal vá para casa, orientar o proprietário quanto ao retorno para a troca do curativo e retirada dos pontos cirúrgicos • Retirada da sonda endotraqueal: desinflar o cuff (balão na extremidade da sonda que a mantém posicionada na traqueia), aguardar a volta do reflexo de deglutição. Em raças braquicefálicas aguardar levantar a cabeça e tentar “mastigar” a sonda. Tendo retirado a sonda avaliar a frequência respiratória antes de sair de perto do animal. • Temperatura: o paciente anestesiado não tem capacidade de regular a temperatura corporal, o que resulta em hipotermia. Muitas vezes o animal é operado diretamente sobre a mesa ou calha cirúrgica o que facilita a perda de calor para o ambiente. Portanto, deve ser colocado em colchão térmico, em temperatura em torno dos 37,5-38°C, até que acorde e e volte a apresentar temperatura corporal normal. • Monitorar frequência cardíaca e respiratória até que acorde. • Monitorar TPC até que acorde. • Avaliar glicemia • Retirar o cateter endovenoso, apenas após o animal estar acordado, caso não seja necessária a continuidade de fluidoterapia. DORDOR A maiordificuldade em se controlar a dor e a angústia no pós operatório ou em pacientes traumatizados, ou ainda com doenças crônicas, não é a falta de medicamentos analgésicos. A grande dificuldade está no veterinário e seus auxiliares em reconhecerem a presença da dor. Em identificar o paciente que sente dor. Mesmo na medicina humana, os pacientes internados que solicitam a atenção dos médicos e pessoal da enfermagem alegando estarem com dor, são considerados os pacientes “chatos” enquanto que aqueles que se calam são “os bons” pacientes. Isto resulta da falta de empatia com a dor do paciente. Embora o incomodo da dor por si só já seja razão suficiente para médicos veterinários e auxiliares providenciarem analgesia, sabemos hoje que o estresse causado pela persistência da dor leva a imunossupressão, retardo na cicatrização de feridas, aceleração de processos patológicos, diminuição ou supressão do apetite, alteração do sono etc. Assim, aprender a identificar a dor nos sinais fisiológicos e comportamentais de nossos pacientes e tratá-la de forma adequada o mais cedo possível torna-se um dever moral e ético. O que é a dor ? É uma sensação desagradável causada por um estímulo externo ou interno que envolve o sistema nervoso central e periférico. Ao ocorrer uma lesão tecidual há uma liberação de substâncias que são percebidas por terminações nervosas especializadas (nociceptores), presentes na pele, nos músculos e nas vísceras. Estes nociceptores irão fazer a transdução destes sinais para outros neurônios que irão conduzir a informação até que ela chegue ao cérebro onde ocorrerá a consciência da dor. Esta sensação de dor pode variar de leve à severa e vai modificar o comportamento e a movimentação do animal na tentativa de evitar um dano maior. Tipos de Dor Dor Aguda: tem início súbito como resposta a um trauma (ex. acidente, cirurgia) ou inflamação (ex.pancreatite) Dor Crônica: tem longa duração (meses); causada por doença crônica (câncer, osteoartrite, etc) ou após uma amputação (dor fantasma) Dor Visceral: tem origem nos órgãos internos (inflamação (ex.pancreatite), grande distensão (ex. obstrução uretra = distensão da bexiga) do órgão. Dor Neuropática: resultado de injúria ao sistema nervoso. Em humanos descrita como sensação de queimação, alodinia (sensação de dor em situação aparentemente normal); dor fantasma Analgésicos Analgésico ( do grego algia = dor) é a substância que diminui ou suprime a sensação de dor. São várias as substâncias que exercem este papel. Hoje a medicina veterinária tem um bom conhecimento dos efeitos analgésicos dos diferentes tipos em várias espécies e, já os usa sem receio de reações adversas. Os tipos mais comumente usados são: opióides, anti-inflamatórios não esteroides, alfa2-agonistas, corticoides,anestésicos/ anestésicos locais e sedativos. Os analgésicos interferem na transmissão neuronal, impedindo que o impulso chegue ao cérebro e impedindo a consciência da dor. Cada tipo de analgésico age em uma parte do caminho do impulso (veja figura abaixo): Causas de dor Na clínica veterinária os pacientes nos chegam muitas vezes com um quadro que evidentemente causa dor. Infelizmente nem sempre nos damos conta de que aquele paciente é candidato a um tratamento de analgesia, principalmente em situações que provocam dor leve . As causas naturais mais comuns de dor são apresentadas no quadro abaixo. O segundo quadro descreve causas iatrogênicas (causadas pelo médico). Neste caso, o veterinário deve instituir um tratamento analgésico antecipado uma vez que já sabe que a dor vai ocorrer. Sinais de Dor Os sinais de dor são classificados de sutis a evidentes. Os proprietários que convivem com seus animais tem mais facilidade em reconhecer alterações sutis de comportamento, por isso devem ser ouvidos ao levar seu animal ao veterinário. Os gatos frequentemente apresentam sinais de dor mais sutis do que os cães. Os sinais fisiológicos sugestivos de dor são: • Taquipneia • Taquicardia • Hipertensão • Midríase (pupilas dilatadas) • Sialorreia sendo os três primeiros comumente observados em pacientes inconscientes que respondem a um estímulo cirúrgico sob anestesia inadequada. Os sinais comportamentais são: • Atividade anormal: inquietação, agitação ou mesmo delírios(cães) ou, ao contrário, outros animais ficam letárgicos, introvertidos, entorpecidos e deprimidos. • Não prestam atenção aos estímulos do ambiente. • Alteração do ciclo normal de alerta/sono ( animal dorme menos). • As atividades normais como alimentação ou cuidados com a higiene (gatos) podem diminuir ou parar. • Cães podem morder, lamber, mastigar ou sacudir o membro ouregião dolorida. • Adotar posturas corporais anormais na tentativa de aliviar a dor: cães com dor abdominal assumem uma postura arqueada e rígida; Cães com dor torácica relutam em deitar mesmo com óbvia exaustão. • O desuso ou proteção de uma região dolorida é um óbvio indicador de dor. • Modo de andar anormal ou muito rígido. • Comportamento interativo muda: ◦ os cães podem tornar-se agressivos e resistir ao contato ou à palpação. ◦ tornar-se mais tímidos do que o usual e procurar manter distância dos tratadores. • Mudanças na expressão facial (alguns cães podem fazer caretas, atitude não comum quando não sentem dor.) • Orelhas para trás ou abaixadas. • Olhos bem abertos (com as pupilas dilatadas) ou parcialmente fechados (com aparência entorpecida). • Olhar fixo num ponto no espaço, aparentemente esquecidos do ambiente. • Gatos exibem sinais mais sutis que podem se definir por falta de atividade: ficam no fundo da gaiola evitando interagir com os tratadores ou debatem-se violentamente na gaiola. Tratando a Dor Como veterinários e auxiliares podem assegurar o alívio da dor e angústia de seus pacientes ? Não há uma simples abordagem terapêutica para todos animais. O plano terapêutico para o alívio da dor deve ser executado segundo as necessidades individuais. Assim, o plano pode antecipar o grau de dor que será causada por uma cirurgia e adotar a administração preventiva de analgésicos, que deverá ser alterada com base na frequente avaliação do animal. Esta avaliação é essencial no tratamento da dor no pós-cirúrgico: ajuda na seleção dos analgésicos, na instituição de terapias com múltiplas drogas e na duração do tratamento. Na década de 1990, a Faculdade de Veterinária do Colorado – EUA, elaborou um escore de avaliação da dor através da observação de vários aspectos clínicos e comportamentais. Atualmente este tipo de avaliação é bastante utilizado nos hospitais e clínicas veterinários. Fonte: Blog Pet Care Hospital Veterinário Tabela I Escore de Avaliação da Dor Utilizado pelo Hospital da Faculdade de Veterinária da Universidade do Colorado - EUA Observação Score Paciente Conforto 0 1 2 3 4 Dormindo ou calmo Alerta; interessado no ambiente Leve agitação; deprimido e desinteressado do ambiente Agitação moderada; irriquieto e desconfortável Extremamente agitado; debatendo-se Movimento 0 1 2 Movimentação normal Mudança frequente de posição; relutância em se mover Debatendo-se Aparência 0 1 2 3 Normal Leve alteração; pálpebras parcialmente fechadas; orelhas abaixadas ou em posição anormal Alteração moderada; olhos fundos ou vidrados; unthrifty appearence Alterações severas; olhos parados; pupilas dilatadas; “caretas” ou outra expressão facial anormal; prevenido; posição arqueada; pernas em posição anormal; gemendo antes da expiração; dentes rangendo Comportamento (sem estímulo) 0 1 2 3 Normal Pequenas mudanças Moderadamente anormal: menosmóvel e menos alerta do que o normal; desinteressado do ambiente; muito irriquieto Marcadamente anormal: muito agitado; vocalizando; auto-mutilação; gemendo; virado para o fundo da gaiola Comportamento Interativo 0 1 2 3 Normal Afasta-se quando a ferida cirúrgica é tocada; olha para a ferida; movimenta-se Vocaliza quando a ferida é tocada; agita-se de vez em quando; relutante em se mover mas move-se se coagido Reação violenta ao estímulo; vocaliza mesmo quando a ferida não é tocada; tenta morder; rosna ou uiva quando alguém se aproxima; extremamente agitado; não se move mesmo se houver insistência Vocalização 0 1 2 3 Calado Chorando; responde quando chamado e acariciado Choro intermitente; não responde quando chamado e acariciado Vocalização contínua que não é usual para este animal. Frequência Cardíaca 0 1 2 3 0 a 15% acima do valor pré cirúrgico 16% a 29% acima do valor pré-cirúrgico 30% a 45% acima do valor pré-cirúrgico > 45% acima do valor pré cirúrgico Frequência Respiratória 0 1 2 3 0 a 15% acima do valor pré cirúrgico 16% a 29% acima do valor pré-cirúrgico 30% a 45% acima do valor pré-cirúrgico > 45% acima do valor pré cirúrgico Escore total (0 a 24): ESTA AVALIAÇÃO NÃO TEM COMO OBJETIVO PROVAR QUE O ANIMAL TEM DOR ANTES QUE SE INSTITUA O TRATAMENTO. O objetivo é ajudar na avaliação da dor de um cão ou gato que tenha passado por cirurgia ou trauma. O escore exato vai indicar se o tratamento é adequado variando de indivíduo para indivíduo. Animais que passarão por procedimentos dos quais se espera dor moderada a severa, baseado no procedimento cirúrgico a ser realizado, devem ser tratados ANTES de apresentar dor severa. Os animais devem receber analgésicos antes da dor ser detectada por este escore. Contudo, um escore maior do que 15 deve resultar em tratamento a menos que por outro motivo não seja recomendado o uso de analgésicos. Bibliografia: Anestesia em Cães e Gatos; editora Roca 2002 BSAVA – Manual of Canine and Feline Rehabilitation – 2010 Clinical Anatomy and Phisiology veterinary Technicians , 2a Edição 2008 Compendium on Continuing Education – Small Animals; fev/ 98 Dentistry and Oral Health – Virbac; www.virbac.com A Enciclopédia do Cão – Royal Canin The Feline Patient – 4a. Edição Fluid Therapy for Veterinary Technicians and Nurses – 2012 Fundamentals of Small Animal Surgery, 2011 Manual Merck, 7a. Edição Semiologia Veterinária, A arte do diagnóstico, 2a, Edição
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