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DIFERENÇA ENTRE ADAPTAÇÃO BIOLÓGICA E ADAPTAÇÃO COMO TERMO USUALMENTE EMPREGADO NA PSICOLOGIA

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DIFERENÇA ENTRE ADAPTAÇÃO BIOLÓGICA E ADAPTAÇÃO COMO TERMO USUALMENTE EMPREGADO NA PSICOLOGIA.
A perspectiva etológica pode ser resumida em um pressuposto, que orienta as perguntas do etólogo e suas opções metodológicas: o com- porta mento, tal como os órgãos ou estruturas corporais, é produto e instrumento do processo de evolução através de seleção natural. Este pressuposto é de certa forma auto-evidente em muitos casos: a organização corporal do animal não poderia ser funcional - e, portanto não poderia ser testada e moldada pela evolução - se não estivesse acompanhada por uma organização comportamental adequada (por exemplo, um sistema digestivo adaptado para uma alimentação herbívora ou carnívora requer organizações comportamentais diferentes em termos de seleção de alimentos, comportamentos de busca do alimento, etc.; uma coloração corporal que ajuda o animal a se camuflar no ambiente, protegendo-o de predadores, só é eficaz se o animal selecionar adequadamente seus locais de pouso ou permanência; um sistema reprodutivo que gera ovos pede comportamentos paternais diferentes daquele que gera filhotes vivos, etc.). A evolução não poderia, portanto, produzir estruturas físicas se não pudesse usar e moldar também os comportamentos que as tornam funcionais. 
Esse pressuposto tem duas implicações mais importantes: o reconhecimento de que o comportamento tem função adaptativa no sentido biológico de adaptação, isto é, afeta o sucesso reprodutivo e, portanto, a sobrevivência das espécies; e a necessidade de admitir algum nível de determinação genética do comportamento, uma vez que a seleção natural atua através de seleção genética. 
Essas implicações são freqüentemente motivo de certas confusões, que devem ser esclarecidas de início. Em primeiro lugar, é preciso diferenciar o sentido biológico de adaptação do sentido que esse conceito adquiriu ao ser emprestado pela Psicologia. No sentido biológico original, adaptação não se refere a modificações ou ajustamentos individuais a pressões ou exigências ambientais (como, por exemplo, nas expressões "o homem é um ser muito adaptável", ou "a criança se adapta facilmente a situações novas"). Uma adaptação é uma característica (física ou comportamental) que um organismo apresenta pelo fato de ser portador de uma carga genética que determina ou facilita sua ocorrência - e que foi selecionada, na história da espécie, por sua contribuição para a sobrevivência. O processo de adaptação não ocorre, portanto, na história individual, mas na história da espécie; função adaptativa, ou valor de sobrevivência de uma característica, não se refere a qualquer efeito dessa característica, mas àqueles efeitos que favorecem, seja a curto, médio ou longo prazo, o sucesso reprodutivo do organismo - e, portanto, sua possibilidade de transmitir sua carga genética a seus descendentes, de tal forma que essa característica continue a existir na espécie. 
Uma decorrência importante desse conceito é que a função adaptativa de uma característica só pode ser identificada quando se conhece o modo de vida de um animal em seu ambiente natural - isto é, no ambiente onde estão presentes as pressões seletivas em relação às quais essa característica é adaptativa, e que, portanto explicam sua seleção. Desse fato decorre a ênfase do etólogo nos estudos "naturalísticos", isto é, realizados no ambiente natural (ou ambiente de evolução) do animal. Estudo em ambiente natural não significa, portanto, "estudo de campo", por oposição a "estudo de laboratório" - uma jaula de zoológico, por exemplo, não se torna ambiente natural pelo fato do animal não estar sujeito a controles experimentais, enquanto uma colônia artificial de formigas ou abelhas mantida em laboratório pode eventualmente preservar em maior ou menor grau as características do ambiente natural desses animais. 
Discussão sobre comportamentos INATOS e comportamentos aprendidos
Outro conceito cujas implicações são freqüentemente mal compreendidas é o de determinação genética do comportamento. Comportamento geneticamente determinado não é sinônimo de comportamento inato, estereotipado, imune a efeitos de experiência ou de aprendizagem. É verdade que os estudos etológicos clássicos focalizaram principalmente comportamentos não-aprendidos ou pouco dependentes de efeitos de experiência; no entanto, o próprio progresso na compreensão do comportamento animal esvaziou a oposição inato-adquirido, conduzindo a um enfoque interacionista sobre a relação organismo-ambiente, por diversas razões. Em primeiro lugar, os genes - tanto quanto o ambiente - podem afetar o comportamento de muitas maneiras diferentes, das quais a determinação de padrões motores prontos é apenas uma: sensibilidade diferencial a estímulos, tendências motivacionais, suscetibilidade a certos tipos de experiência, pré-organização dos processos de aprendizagem e muitos outros aspectos da organização comportamental de um animal podem ser geneticamente determinados. O fato de um comportamento ser aprendido não significa, portanto, que não seja geneticamente determinado - como ilustra, por exemplo, o processo de estampagem ou a aquisição do canto em muitos pássaros (Hinde, 1974). 
Em segundo lugar é metodologicamente impossível separar os efeitos dos genes e da experiência em qualquer instância particular de comportamentos: mesmo num experimento de isolamento, não se pode privar o animal de todos os tipos de experiência, e, portanto não se pode afirmar que o ambiente não tenha nenhum papel na determinação do comportamento; o mesmo ocorre em relação à carga genética. No máximo, é possível situar um comportamento num gradiente de imunidade-labilidade em relação a efeitos ambientais. A questão relevante em relação à forma de desenvolvimento do comportamento não é, portanto, se ele é inato ou adquirido, mas sim como os fatores genéticos e ambientais interagem e exercem seus efeitos. Pode-se dizer que qualquer comportamento é determinado tanto pelos genes como pelo ambiente (Hinde, 1974). 
O que o conceito de determinação genética implica é que o ambiente não molda o comportamento arbitrariamente: seus efeitos são guiados e filtrados pela pré-organização do organismo. Num certo sentido, pode-se dizer mesmo que o ambiente não é arbitrário: o ambiente que é relevante para a determinação do comportamento não é o ambiente físico, mas sim o psicológico, ou seja, aquele que é especificado pelas características do organismo - um "ambiente específico da espécie" (Carvalho, 1987). 
Pode-se, assim, compreender a razão da ênfase da Etologia na especificidade das espécies: o estudo de cada espécie animal justifica-se em si mesmo, e nenhuma espécie pode ser tomada como representante das outras; evidentemente, o estudo comparativo é útil para a formulação de princípios gerais do comportamento, mas essa utilidade decorre tanto das semelhanças como das diferenças que ele permite evidenciar. 
Da mesma forma que a ênfase no estudo em ambiente natural, e na especificidade das espécies, outras características metodológicas da Etologia também decorrem diretamente da perspectiva que a define. Dessas características, a mais relevante para fins deste curso é a distinção entre quatro tipos de perguntas que se pode fazer sobre o comportamento: além de perguntar o que determina a ocorrência de uma instância particular de comportamento (que estímulos externos e/ou estados internos causam essa ocorrência - "causas imediatas"), e que fatores e processos estão envolvidos em seu surgimento na história individual do organismo ("causas ontogenéticas") - duas perguntas que são usuais também nos estudos de Psicologia -, pode-se perguntar que fatores e processos estão envolvidos no surgimento desse comportamento na história da espécie ("causas filogenéticas), e que função(ões) adaptativa(s) ele cumpre ("causas funcionais"). 
Ou seja, na perspectiva da Etologia, a compreensão do comportamento não se esgota na compreensão de sua ocorrência no indivíduo, mas envolve o conhecimento de seu significado funcionale de sua história evolutiva; ao mesmo tempo esse conhecimento guia a escolha dos comportamentos cuja causação e ontogênese é importante estudar para compreender o animal - os comportamentos "ecologicamente relevantes" (Ades, 1987), significativos para a vida e a adaptação do animal. 
Instinto e Aprendizagem
Instinto - conduta sem variações
Chamamos de instintos as formas de comportamento animal que ocorrem a partir do nascimento e que são repetidas em todos os seres de uma mesma espécie. As abelhas, por exemplo, agem instintivamente; a conduta delas é invariável. A abelha-operária colocará mel e fechará uma cela do favo, mesmo que esteja perfurado ou sem fundo. Passa de limpadora para campeira, de acordo com a sua idade. As tarefas que as abelhas realizam são sempre as mesmas, em todas as gerações.
Encontramos exemplo de conduta instintiva em outros animais. Os filhotes de tartarugas marinhas, quando saem dos ovos, vão sempre em direção ao mar e nunca em direção à terra. Os pintinhos, quando ouvem sons de gavião, correm para baixo do corpo da mãe; e se ela não estiver por perto correm para uma moita. O filhote de ser humano recém-nascido começa a mamar tão logo encontre o seio da mãe. Quando a mariposa sai do casulo, imediatamente começa a voar sem nunca tê-lo feito anteriormente. Aranhas jovens constroem teias tão bem feitas quanto aranhas mais idosas. Pintassilgos criados desde o nascimento sem nenhum contato com outros pintassilgos cantam de modo muito semelhante aos que estão livres na natureza.
O brilho da água faz os mosquitos porem ovos na superfície de rios e lagoas. Se substituirmos a água por um espelho, o mosquito põe seus ovos da mesma maneira.
No comportamento instintivo, também chamado comportamento inato ou hereditário, os novos seres que nascem repetem, sem variações, o comportamento da espécie. É como se os seres de uma espécie estivessem planejados de maneira inalterável pela natureza.
O comportamento instintivo é hereditário e deve, portanto, ter relação com o conteúdo genético dos animais. Segundo hipótese que procura explicar essa relação, ocorreria o seguinte: durante o desenvolvimento do embrião, devem se formar determinadas sinapses entre os neurônios, graças a informações genéticas. É como se, durante a fase embrionária, fossem constituídos circuitos entre neurônios, determinados pela especificidade genética de cada espécie animal.
Condutas individualmente variáveis
Existem espécies de animais em que, diante de um mesmo estímulo, os indivíduos apresentam comportamentos diferentes. Dizemos que esses animais têm condutas individualmente variáveis. Se jogamos pedrinhas em formigueiros, todas as formigas-soldado sempre saem deles. Nesse caso, o estímulo provocou a mesma reação em todos os indivíduos de uma espécie. Por outro lado, se cair uma bomba perto de uma casa, nem todos os seres humanos terão o mesmo comportamento. Uns sairão às ruas, outros correrão e outros ficarão paralisados. Nesse caso, cada pessoa tem uma conduta diferente. Os seres humanos são exemplos de animais que apresentam comportamentos individualmente variáveis.
De maneira geral, todos os vertebrados apresentam, além de comportamentos instintivos, algum nível de comportamento individualmente variável. Podemos notar isso em cães e gatos da mesma raça: cada qual tem características próprias, individuais, de conduta. Ou nos cavalos: alguns se deixam montar, outros não; alguns pulam a cerca do pasto, outros não. Ou nos lobos: alguns permanecem na própria alcatéia, outros ultrapassam o território de outras alcatéias. Ou em canários: o mesmo macho é rejeitado por uma fêmea e aceito por outra.
A possibilidade de variar os comportamentos diante dos estímulos do ambiente é dada pela existência de encéfalo no sistema nervoso. E os seres vivos que possuem um sistema nervoso altamente específico para responder a estímulos do ambiente reagem ativamente a cada mudança ambiental.
Aprendizado: variações na conduta
Chamamos de aprendizado as modificações no comportamento animal, baseados na experiência com seres do mundo. Por exemplo: um besouro posto em cima de uma mesa cai quando chega à borda. Não importa quantas vezes isso se repita, todas as vezes cairá. Dizemos que nesse caso o besouro não aprendeu. Sua experiência de cair não o leva a mudar o comportamento. Por outro lado, temos o exemplo de uma baleia jovem capturada e colocada num tanque. Quando tentou mergulhar, bateu com o focinho no fundo e daí em diante só nadou na superfície. Houve, portanto, um aprendizado frente a uma só experiência.
Existem muitas indicações sobre a capacidade de aprender demonstrada pelos animais. Ratos são capazes de aprender os contornos de um labirinto, de modo que não vão por caminho sem saída.
Macacos aprendem a conectar duas varas para alcançar bananas distantes. Peixes, tartarugas, pombas, ratos e macacos aprendem a obter alimento apertando alavancas certas. Cachorros aprendem a atravessar ruas com tráfego de automóveis e a desviar-se, considerando a velocidade de cada um.
Para que o aprendizado ocorra no animal, é necessário que ele tenha memória e conduta individualmente variável. Em relação à memória, observou-se que os ratos têm capacidade de conservar em seus órgãos visuais imagens nítidas durante um período de até 20 segundos. O cão, até 10 minutos, e o macaco, até 48 horas. Existe memória de longa duração e de curta duração, e o período no qual alguma coisa aprendida é memorizada varia enormemente de animal para animal. Estudos realizados sobre a capacidade de memorizar sugerem que a memória está relacionada com a ação do RNA, que produz as proteínas formadoras das sinapses. A relação entre RNA e memória é indicada por experimentos realizados com animais: em animais que receberam treinamento para memorizar determinados fatos, foram injetadas substâncias que destroem o RNA e eles perderam a memória desses fatos.
Somente comportamentos aprendidos podem ser esquecidos. Não há possibilidade de esquecer comportamentos instintivos. Por exemplo, você já viu algum cachorro deixar de marcar o seu território com pequenas quantidades de urina por que esqueceu de fazê-lo?
Vimos como se distinguem as condutas instintiva e aprendida, porém devemos lembrar que um mesmo animal pode exibir comportamentos instintivos para determinados estímulos e aprendidos para outros. Por exemplo: um cachorro pode aprender a comer em determinado local, inclusive numa mesa de refeição, mas nunca aprenderá a excretar urina como os homens.
Existem situações em que o comportamento instintivo é acrescido por condutas aprendidas. É o caso do canto dos pintassilgos: todos cantam seguindo o mesmo padrão básico da espécie. Em qualquer local podemos reconhecer um canto como sendo de pintassilgo.
Só o pintassilgo canta do jeito do pintassilgo. Porém, dependendo da região geográfica, há pequenas variações, uma espécie de dialeto no canto desses pássaros. Essas variações devem-se ao comportamento individualmente variável: modificação de canto de alguns pintassilgos pode ser aprendida pelos outros, que vivem na mesma região.
O que podemos perceber é que o aprendizado traz novas e renovadas formas de comportamento, compondo uma diversidade enorme de conduta animal.

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