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IF FI´SICA – UFAL Curso de Ca´lculo 1: Limite de Func¸o˜es Reais por Carlos Alberto Silva dos Santos Maceio´ – Agosto – 2009 Limite de Func¸o˜es Reais 1 A noc¸a˜o de limite de func¸o˜es constitui a base do Ca´lculo Diferencial. Neste capı´tulo, estudaremos este conceito, aproveitando, inicialmente, o lado intuitivo e culminando com uma definic¸a˜o de limite mais elaborada. Depois, alicerc¸ados nessa ide´ia, introduziremos a noc¸a˜o de derivada. Poderemos, enta˜o, perceber numerosas aplicac¸o˜es deste assunto que pode parecer um tanto abstrato num primeiro contato. Exemplo 1 Vamos considerar a func¸a˜o f : R → R definida em por y = f(x) = 2x − 1. Queremos saber o que ocorre com os valores de f(x) quando x assume valores pro´ximo de 2. Observe a tabela abaixo para a func¸a˜o f(x) = 2x− 1. x f(x) x f(x) 1,8 2,6 2,2 3,4 1,9 2,8 2,1 3,2 1,99 2,98 2,01 3,02 Vemos nesta tabela que quanto mais pro´ximo de 2 tomamos o ponto x, mais o valor de f(x) se aproxima de 3. Diremos que o limite de f(x) quando x tende a 2 e´ 3. Na verdade podemos obter valores de y ta˜o pro´ximos de 3 quanto quisermos, bastando para isso tomarmos valores de x suficientemente pro´ximos de 2. Assim, se quisermos 2, 9 < y < 3, 1, basta que tomemos 1, 95 < x < 2, 05. De fato, temos: 2, 9 < y < 3, 1 =⇒ 2, 9 < 2x− 1 < 3, 1 =⇒ 3, 9 < y < 4, 1 =⇒ 1, 95 < x < 2, 05. 1Material produzido por Prof. Jose´ Adonai Pereira e adaptado por Prof. Carlos Alberto. 2 Isto e´, 3− 0, 1 < y < 3 + 0, 1 quando 2− 0, 05 < x < 2 + 0, 05, ou seja, 3− 0, 1 < f(x) < 3 + 0, 1 quando 2− 0, 05 < x < 2 + 0, 05. Se pretendeˆssemos 2, 99 < y < 3, 01, bastaria que toma´ssemos 1, 995 < x < 2, 005, isto e´ , 2− 0, 005 < x < 2 + 0, 005 =⇒ 3− 0, 01 < f(x) < 3 + 0, 01. Podemos, portanto, dizer que f(x) se aproxima de 3 quando x se aproxima de 2, ou melhor, f(x) toma valores ta˜o pro´ximos de 3 quanto quisermos, para valores de x suficientemente pro´ximos de 2. Diz-se que o limite de f(x) e´ 3 quando x tende a 2, o que denota-se por: lim x→2 f(x) = 3. Mais geralmente, dado um nu´mero real ε > 0, sempre existe em correspondeˆncia algum nu´mero real δ > 0 de modo que: 2− δ < x < 2 + δ =⇒ 3− ε < f(x) < 3 + ε. De fato, 2−ε/2 < x < 2+ε/2⇒ 4−ε < 2x < 4+ε⇒ 3−ε < 2x−1 < 3+ε⇒ 3−ε < f(x) < 3+ε. Logo, para cada ε > 0 dado, existe por exemplo δ = ε 2 de modo que: 2− δ < x < 2 + δ =⇒ 3− ε < f(x) < 3 + ε. ou, usando o valor absoluto, |x− 2| < δ =⇒ |f(x)− 3| < ε. 3 Exemplo 2 E´ dada a func¸a˜o f definida em R − {2} por f(x) = (2x− 1)(x− 2) x− 2 . Observe que devemos ter lim x→0 f(x) = −1, lim x→1 f(x) = 1, e lim x→1/2 f(x) = 0. E quando x se aproxima de 2, o que ocorre com os correspondentes valores de f(x)? Quando x se aproxima de 2, ou por valores menores que 2 (pela esquerda) ou por valores maiores que 2 (pela direita), mantendo-se diferente de 2, notamos que f(x) toma valores ta˜o pro´ximos de 3 quanto quisermos. Enta˜o, lim x→2 f(x) = 3 embora na˜o exista f(2). Exemplo 3 Consideremos f : R→ R definida por f(x) = (2x− 1)(x− 2) x− 2 , se x 6= 2 5, se x = 2 Temos lim x→2 f(x) = 3, mas f(2) = 5, e, portanto, lim x→2 f(x) 6= f(2). Observando os exemplos anteriores, notamos que a frase “x tende a a”, x→ a, quer dizer: x se aproxima de a por valores maiores que a ou por valores menores que a,mantendo-se diferente de a. Portanto quando calculamos lim x→a f(x) na˜o cogi- tamos do valor que f(x) possa assumir em x = x0. 4 Limite Agora, vamos formalizar a noc¸a˜o de limite. Definic¸a˜o 1 Dada a func¸a˜o f definida num intervalo I ⊂ R, exceto possivelmente, em a, dizemos que o limite de f(x) quando x tende a a e´ L , e escreveremos lim x→a f(x) = L, se para cada nu´mero real ε > 0 dado arbitrariamente, existe um nu´mero δ > 0, que pode depender de �, tal que para x ∈ I com (a− δ < x < a+ δ e x 6= a) =⇒ L− ε < f(x) < L+ ε. Em outras palavras ∀ � > 0, ∃ δ > 0 tal que x ∈ I e 0 < |x− a| < δ =⇒ |f(x)− L| < �. Conve´m observar que a definic¸a˜o de limite permite provar que lim x→a f(x) = L, mas na˜o indica como obter L. Ale´m disso, sa˜o grandes as dificuldades que surgem ao aplica´-la para func¸o˜es um pouco mais elaboradas. Veremos agora algumas propriedades que eliminam parte dessas dificuldades. Teorema 1 [Propriedades de Limites] Consideremos duas func¸o˜es Sejam f, g : I → R tendo limite em um certo ponto a ∈ I, digamos lim x→a f(x) = L e lim x→a g(x) = S. Enta˜o, valem os seguintes resultados: 5 (i) [Limite da soma] Quando x tende a a, a func¸a˜o soma de f com g ,f(x)+ g(x), tende a L+ S, ou seja, lim x→a (f(x) + g(x)) = L+ S, isto e´, o “limite da soma e´ a soma dos limites”, desde que as parcelas tenham limite. (ii) [Limite do produto] Quando x tende a a, a func¸a˜o produto de f por g, f(x)g(x) tende a LS, ou seja, lim x→a (f(x)g(x)) = LS, isto e´, o “limite do produto e´ o produto dos limites”, desde que os fatores tenham limite. (iii) [Limite do quociente] Quando x tende a a, se S 6= 0, a func¸a˜o quociente de f por g, f(x) g(x) tende a L S , ou seja, lim x→a f(x) g(x) = L S , isto e´, o “limite do quociente e´ o quociente dos limites”, desde que o numerador e o denominador tenham limite, e este u´ltimo seja na˜o-nulo. Demonstrac¸a˜o: Vejamos a prova de (i). Seja � > 0. Temos que existem δ1 > 0 e δ2 > 0 tais que x ∈ I, 0 < |x− a| < δ1 =⇒ |f(x)− L| < � 2 , e x ∈ I, 0 < |x− a| < δ2 =⇒ |g(x)− S| < � 2 . (Note que aplicamos simplesmente a definica˜o de limite para f e g, obtendo δ1 e δ2, a partir de �/2.) Tomando δ = min{δ1, δ2} as duas implicaco˜es obtidas ocorrem simultaneamente, isto e´, x ∈ I, 0 < |x− a| < δ =⇒ |f(x)− L| < � 2 e |g(x)− S| < � 2 . 6 Logo, se x ∈ I, 0 < |x− a| < δ, enta˜o |f(x) + g(x)− (L+ S)| ≤ |f(x)− L|+ |g(x)− S| < � 2 + � 2 = �. Isto significa que lim x→a (f(x) + g(x)) = L+ S. � Exemplo 4 lim x→−2 (3x) = lim x→−2 3 · lim x→−2 x = 3 · (−2) = −6. Exemplo 5 lim x→2 x3 = lim x→2 (x · x · x) = ( lim x→2 x ) · ( lim x→2 x ) · ( lim x→2 x ) = 23 = 8. Exemplo 6 lim x→1 (2x2 − 3x+ 3) = lim x→1 2x2 + lim x→1 (−3x) + lim x→1 3 = 2 + (−3) + 3 = 2. Exemplo 7 Se m e b sa˜o constantes quaisquer, enta˜o lim x→a (mx+ b) = ma+ b. Exemplo 8 Se f e´ dada pelo polinoˆmio f(x) = anxn+an−1xn−1+ · · ·+a1x+a0, temos lim x→a f(x) = f(a). Exemplo 9 lim x→5 x+ 1 x− 1 = lim x→5 (x+ 1) lim x→5 (x− 1) = 6 4 = 3 2 . Exemplo 10 lim x→1 x2 − 1 x− 1 = limx→1 (x− 1)(x+ 1) (x− 1) = limx→1(x+ 1) = 2. Teorema 2 [Unicidade do limite] Se lim x→a f(x) = L1 e lim x→a f(x) = L2, enta˜o L1 = L2. Teorema 3 Se lim x→a f(x) = L e n ∈ Z∗+, enta˜o lim x→a n √ f(x) = n √ L , se L > 0. Exemplo 11 Dada f(x) = x 2 − 1, se x < 1 x 2 , se x ≥ 1, temos que lim x→0 f(x) = lim x→0 (x2 − 1) = −1 e lim x→2 f(x) = lim x→0 x 2 = 1 Exemplo 12 Consideremos f(x) = x 2 − 1, se x < 1 x 2 , se x ≥ 1 7 Temos que: lim x→0 f(x) = lim x→0 (x2 − 1) = −1 e lim x→2 f(x) = lim x→2 x 2 = 1. Notamos que, quando x se aproxima de 1 pela direita, f(x) se aproxima de 1/2 e quando x se aproxima de 1 pela esquerda, f(x) se aproxima de zero. Neste caso, dizemos que na˜o existe lim x→1 f(x). Entretanto, podemos falar nos limites laterais: (i) lim x→1+ f(x) = 1 2 , onde x → 1+, e diremos que o limite a` direita de f em x = 1 e´ 1/2; (ii) lim x→1− f(x) = 0, e diremos que o limite a` esquerda de f em x = 1 e´ 0. Notamos que, quando x se aproxima de 1 pela direita, f(x) se aproxima de 1/2 e quando x se aproximade 1 pela esquerda, f(x) se aproxima de zero, dizemos que na˜o existe lim x→1 f(x). Limites Laterais Nesta sec¸a˜o, abordaremos as noc¸a˜o de limite lateral com um pouco mais de rigor. Definic¸a˜o 2 Seja f definida em um intervalo aberto (a, c), para algum c > a. Di- remos que L ∈ R e´ o limite a` direita de f em x = a, o que sera´ denotado por, lim x→a+ f(x) = L, se ∀ ε > 0, ∃ δ > 0 tal que a < x < a+ δ =⇒ |f(x)− L| < ε. 8 Definic¸a˜o 3 Seja f definida em um intervalo aberto (b, a), para algum b < a. Di- remos que L ∈ R e´ o limite a` esquerda de f em x = a, o que sera´ denotado por, lim x→a− f(x) = L, se ∀ ε > 0, ∃ δ > 0 tal que a− δ < x < a =⇒ |f(x)− L| < ε. Exemplo 13 Defina f(x) = √ x− 4 que, claro, esta´ definida para x ≥ 4. Temos que limx→4+ f(x) = 0. Entretanto, na˜o faz sentido se falar no limite a` esquerda em a = 4, posto que f na˜o esta´ definida para valores de x menores do que 4. Exemplo 14 Consideremos a func¸a˜o f(x) = x2, se x < 2 1, se x = 2, 4− x, se x > 2, a = 0 Enta˜o temos lim x→2− f(x) = lim x→2− x2 = 4 e lim x→2+ f(x) = lim x→2+ (4− x) = 2. Obseve que f(2) = 1, isto e´, f(2) 6= 4 e f(2) 6= 2. Portanto os limites laterais sa˜o ambos diferentes do valor da func¸a˜o no ponto 2. Exemplo 15 Se f(x) = −1, se x > 0 0, se x = 0 1, se x < 0, enta˜o lim x→0− f(x) = −1, lim x→0+ f(x) = 1. Em particular, observe que f na˜o tem limite em a = 0. Teorema 4 lim x→a f(x) = L⇐⇒ lim x→a− f(x) = L = lim x→a+ f(x) = L. Exemplo 16 Seja f(x) = x3 + 1, se x < 1 3, se x = 1 x+ 1, se x > 1, Enta˜o temos lim x→1+ f(x) = lim x→1+ (x+ 1) = 2 9 e lim x→1− f(x) = lim x→1− (x3 + 1) = 2. Assim pelo Teorema 4 temos que lim x→1 f(x) = 2. Observe que f(1) = 3 6= 2 = lim x→1 f(x). Exemplo 17 Consideremos a func¸a˜o f(x) = x2 − 2x, se x ≤ 34− x, se x > 3 . Enta˜o, lim x→3+ f(x) = lim x→3+ (4− x) = 1 e lim x→3− f(x) = lim x→3− (x2 − 2x) = 3. Logo pelo Teorema 4, na˜o existe lim x→3 f(x). 10
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