Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CÁLCULO I - Parte I Limites e Continuidade Lı́via Moreira Couto Viçosa - MG Fevereiro/2021 1 Limites e Continuidade 1.1 Definições de Limites Definição Informal de Limite: Seja f uma função real definida perto de a ∈ R, mas não necessari- amente definida em a. Dizemos que o limite de f(x) quando x tende a a é igual a L ∈ R, denotado por lim x→a f (x) = L, se f (x) fica tão próximo de L quanto quisermos para todo x suficientemente próximo de a, com x 6= a. Escreve-se também que f (x)→ L quando x→ a. De maneira intuitiva, o limite estabelece o comportamento da função na vizinhança de um ponto, sendo que este pode ou não pertencer ao seu domı́nio. A partir dessa definição de limite, podemos definir também os limites laterais à esquerda e à direita, restringindo a aproximação por apenas um dos lados. Dizemos que o limite de f (x) quando x tende a a pela direita ou pela esquerda é igual a L, denotado por lim x→a+ f (x) = L ou lim x→a− f (x) = L, se f (x) fica tão próximo de L ∈R quanto quisermos para todo x suficientemente próximo de a ∈R, com x > a ou x < a, respectivamente. Quando lim x→a+ f (x) = lim x→a− f (x) = L, dizemos que existe lim x→a f (x) e o mesmo vale L. Já se os limites laterais assumirem valores distintos, dizemos que @ lim x→a f (x). Definição Formal de Limite*: Seja f uma função definida para todo um intervalo aberto contendo a, exceto possivelmente no próprio número a. O limite de f (x) quando x tende a a será L, escrevemos lim x→a f (x) = L, se a seguinte afirmação for verdadeira: Dado qualquer número ε > 0, existe um δ > 0 tal que se x ∈ (a−δ , a+δ), com x 6= a, então f (x) ∈ (L−ε , L+ε), ou simbolicamente ∀ε > 0, ∃δ > 0, tal que 0 < |x−a|< δ⇒ | f (x)−L|< ε. Figura 1: Representação gráfica da definição de limite * As demonstrações a partir da definição formal de limite serão omitidas, já que este não é o foco do estudo de cálculo I. A partir da definição de limite, podemos definir de imediato os seguintes limites: Limite de uma função constante: Dado k ∈ R e f a função definida por f (x) = k , ∀x ∈ R, temos que lim x→a f (x) = lim x→a k = k. Limite da função identidade: Seja f a função definida por f (x) = x , ∀x ∈ R, então lim x→a f (x) = lim x→a x = a. Teorema (Unicidade do Limite): Se lim x→a f (x) = L e lim x→a f (x) = M, então L = M. Em palavras, se o limite existe, então ele é único. 2 1.2 Propriedades de Limites Considere f e g duas funções e a ∈ R. Se os limites lim x→a f (x) e lim x→a g(x) existem, então também existem os limites: 1. lim x→a ( f (x)+g(x)) = lim x→a f (x)+ lim x→a g(x) 2. lim x→a ( f (x)−g(x)) = lim x→a f (x)− lim x→a g(x) 3. lim x→a ( f (x) ·g(x)) = lim x→a f (x) · lim x→a g(x) 4. lim x→a ( f (x) g(x) ) = lim x→a f (x) lim x→a g(x) , desde que lim x→a g(x) 6= 0 5. lim x→a ( f (x))n = ( lim x→a f (x) )n , ∀n ∈ N 6. lim x→a n √ f (x) = n √ lim x→a f (x), desde que lim x→a f (x) ≥ 0 e n ∈ N ou lim x→a f (x) < 0 e n é qualquer número inteiro positivo ı́mpar. Utilizando as propriedades de limites listadas, podemos concluir que: Se p é um polinômio de grau n, com n ∈ N, então lim x→a p(x) = p(a). Vejamos um exemplo que ilustra o cálculo de limite utilizando algumas dessas propriedades. Exemplo: lim x→4 4 √ x+12− x 32 3− 8 x [P4] = lim x→4 ( 4 √ x+12− x 3 2 ) lim x→4 ( 3− 8 x ) [P2]= limx→4 4 √ x+12− lim x→4 x 3 2 lim x→4 3− lim x→4 8 x [P4, P5, P6] = 4 √ lim x→4 (x+12)− (lim x→4 x) 3 2 lim x→4 3− limx→4 8 lim x→4 x [Função Polinomial] = 4 √ 16−4 32 3− 8 4 = −6. Teorema do Confronto ou Teorema do ”Sanduı́che”: Sejam f , g e h funções definidas em um intervalo aberto I contendo a, exceto possivelmente em x= a. Se f (x)≤ g(x)≤ h(x) , ∀x∈ I e lim x→a f (x)= lim x→a h(x) = L, então lim x→a g(x) = L. A ideia é determinar o limite da função g apenas conhecendo os limites das funções f e h. Exemplo: Seja a função g definida por g(x) = xsen 1 x . Suponhamos que queremos calcular o limite de g(x) quando x se aproxima de 0, ou seja, lim x→0 ( xsen 1 x ) , sem o conhecimento do gráfico de g. Uma alternativa, seria utilizar o Teorema do Confronto da seguinte forma: Sabemos que −1≤ sen 1 x ≤ 1 , ∀x 6= 0. Assim: • para x > 0: −x≤ xsen 1 x ≤ x. Como lim x→0+ (−x) = 0 e lim x→0+ x = 0, então lim x→0+ ( xsen 1 x ) = 0. • para x < 0: −x≥ xsen 1 x ≥ x. Como lim x→0− (−x) = 0 e lim x→0− x = 0, então lim x→0− ( xsen 1 x ) = 0. Portanto, como lim x→0+ ( xsen 1 x ) = 0 e lim x→0− ( xsen 1 x ) = 0, temos que lim x→0 ( xsen 1 x ) = 0. 3 1.3 Limites no Infinito e Limites Infinitos Em alguns casos, tratamos de limites onde, quando x tende a a ∈ R pela esquerda ou pela direita, f (x) tende a um número positivo indefinidamente grande ou a um número negativo indefinidamente pequeno. Quando isto ocorre, dizemos que, quando x tende a a pela esquerda ou pela direita, f (x) tende ao infinito positivo (+∞ ou somente ∞) ou ao infinito negativo (−∞). Simbolicamente, escrevemos: lim x→a− f (x) = ∞ , lim x→a+ f (x) = ∞ , lim x→a− f (x) =−∞ ou lim x→a+ f (x) =−∞. Se pelo menos um desses limites ocorre, dizemos que a reta x = a é uma assı́ntota vertical do gráfico da função f . Observação: Vale ressaltar que ∞ não é um número real, portanto os limites citados não existem, são apenas formas particulares da não existência do limite e uma informação adicional. Em outros casos, precisamos analisar o comportamento de f (x) quando x se torna indefinidamente grande ou indefinidamente pequeno. Dessa forma, podem ocorrer os seguintes limites: lim x→+∞ f (x) = L , lim x→−∞ f (x) = L , lim x→+∞ f (x) =+∞ , lim x→−∞ f (x) =+∞ , lim x→+∞ f (x) =−∞ , lim x→−∞ f (x) =−∞. Quando lim x→+∞ f (x) = L ou lim x→−∞ f (x) = L, com L ∈ R, dizemos que a reta y = L é uma assı́ntota horizontal do gráfico da função f . Exemplo: Considere a função f definida por f (x) = x x−2 . Figura 2: Gráfico da função f (x) = x x−2 Podemos notar que à medida que x se aproxima de 2 por valores maiores que 2 (x→ 2+), os valores de f (x) ficam arbitrariamente grandes. Daı́: lim x→2+ x x−2 =+∞. Dessa forma, podemos afirmar que a reta x = 2 é uma assı́ntota vertical do gráfico da função f . Também é possı́vel perceber que à medida que x cresce indefinidamente (x→+∞), os valores de f (x) tornam-se cada vez mais próximos de 1. Daı́: lim x→+∞ x x−2 = 1. Dessa forma, podemos afirmar que a reta y = 1 é uma assı́ntota horizontal do gráfico da função f . De maneira análoga, é possı́vel perceber ainda que: lim x→−∞ x x−2 = 1 e lim x→2− x x−2 =−∞. 1.4 Indeterminações As seguintes formas são consideradas indeterminadas: 0 0 , ∞ ∞ , ∞−∞ , 0×∞ , 00 , ∞0 , 1∞. Na resolução de limites que envolvam essas indeterminações, é comum o uso de simplificações, fatorações e demais técnicas de manipulação de expressões algébricas para eliminar as indeterminações e calcular o limite corretamente. 4 1.5 Limites Fundamentais Os seguintes limites são denominados limites fundamentais e são utilizados no cálculo de outros limites: 1. lim x→0 senx x = 1 [ indeterminação do tipo 0 0 ] 2. lim x→∞ ( 1+ 1 x )x = e [1∞] , onde e' 2,718281828459045 . . . 3. lim x→−∞ ( 1+ 1 x )x = e [1∞] 4. lim x→0 ax−1 x = lna , com a > 0 e a 6= 1 [ 0 0 ] Vejamos um exemplo de limite onde ocorre uma indeterminação e utilizamos um dos limites funda- mentais para eliminar essa indeterminação e calcular o limite corretamente: Exemplo: lim x→0 1− cosx x [ 00 ] = lim x→0 1− cosx x · 1+ cosx 1+ cosx = lim x→0 1− cos2 x x(1+ cosx) = lim x→0 1− (1− sen2 x) x(1+ cosx) = lim x→0 sen2 x x(1+ cosx) = lim x→0 senx x · senx 1+ cosx [LF1] = lim x→0 senx 1+ cosx = 0 2 = 0 Logo, lim x→0 1− cosx x = 0. 1.6 Funções Contı́nuas Dizemos que uma função f é contı́nua em um número a se lim x→a f (x) = f (a). A partirdisso, dizemos que: • f é contı́nua à direita em a ⇐⇒ lim x→a+ f (x) = f (a) ; • f é contı́nua à esquerda em b ⇐⇒ lim x→b− f (x) = f (b) ; • f é contı́nua se for contı́nua em cada ponto do seu domı́nio; • f é contı́nua em um intervalo fechado [a , b] se for contı́nua em (a , b), contı́nua à direita em a e à esquerda em b. Exemplo: A função f (x) = 1 x é contı́nua em x ∈R∗, pois lim x→a 1 x = 1 a = f (a), ∀x ∈R , com x 6= 0. E é descontı́nua em x = 0, já que 0 não pertence ao domı́nio de f e, além disso, não existe lim x→0 1 x . 1.7 Propriedades das Funções Contı́nuas 1. Em relação aos tipos de funções, podemos afirmar que: • Toda função polinomial é contı́nua para todo número real; • Toda função racional, trigonométrica, exponencial e logarı́tmica é contı́nua em todo o seu domı́nio. 5 2. Se as funções f e g são contı́nuas em a∈R, então f +g , f −g , f ·g e f g (desde que g(a) 6= 0) são contı́nuas em a. 3. A composição de funções contı́nuas é uma função contı́nua. Ou seja, se g é contı́nua em a ∈R e f é contı́nua em g(a), então h(x) = ( f ◦g)(x) = f (g(x)) é contı́nua em a. 4. Seja f uma função contı́nua num intervalo I e M = Im( f ). Se f admite uma função inversa g = f−1 : M→ I, então g é contı́nua em todos os pontos de M. Teorema do Valor Intermediário - TVI: Se f é contı́nua em um intervalo fechado [a , b] e se w é um número entre f (a) e f (b), então existe ao menos um número c em [a , b] tal que f (c) = w. A partir desse teorema concluimos que podemos traçar o gráfico de uma função contı́nua sem retirar o lápis do papel, pois não há interrupções no gráfico. Além disso, uma consequência do Teorema do Valor Intermediário é a seguinte: Teorema de Bolzano: Se f é uma função contı́nua num intervalo fechado [a , b] e f (a) · f (b) < 0 (isto é, f (a) e f (b) são diferentes de zero e tem sinais opostos) então existe ao menos um número c entre a e b tal que f (c) = 0, isto é, f tem um zero em [a , b]. De forma equivalente, se uma função f é contı́nua num intervalo fechado e não tem zeros neste in- tervalo, então ou f (x)> 0 ou f (x)< 0 em todo intervalo. Exemplo: Para mostrar que f (x) = x3 +2x2−5x tem um zero entre 1 e 2, observamos inicialmente que f é uma função polinomial e portanto contı́nua para todo número real, logo é contı́nua no intervalo fechado [1 , 2]. Uma vez que f (1) = −2 < 0 e f (2) = 6 > 0, ou seja, f (1) · f (2) < 0, o Teorema de Bolzano garante a existência de um número c entre 1 e 2 tal que f (c) = c3 +2c2−5c = 0. Porém, o Teorema de Bolzano não informa o valor deste número c e nem garante sua unicidade. No caso deste exemplo, podemos mostrar que também existem raı́zes entre -4 e -3 e entre -1 e 1, já que f é contı́nua nos intervalos [−4 ,−3] e [−1 , 1] e f (−4) · f (−3)< 0 e f (−1) · f (1)< 0. O gráfico abaixo mostra a localização das raı́zes da função f . Figura 3: Gráfico da função f (x) = x3 +2x2−5x 6 2 Referências Bibliográficas 1. VIANA, Rosane; CARVALHO, Laerte e LOPES, Jaques - Cálculo Diferencial e Integral I - Viçosa, 2012. 2. CABRAL, Marco A. P. - Curso de Cálculo de Uma Variável - Rio de Janeiro: Instituto de Matemática, 2010. 7
Compartilhar