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RESUMO SOBRE CONTRATOS EM ESPÉCIE (parte I) DA COMPRA E VENDA 1. Conceito: É o contrato pelo qual um dos contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro. Gera apenas obrigações. A transferência do domínio depende da tradição, para os móveis (art. 1.226) e do registro para os imóveis (art. 1.227). 2. Natureza jurídica: a) É bilateral ou sinalagmático, uma vez que gera obrigações recíprocas. b) É consensual, visto que se aperfeiçoa com o acordo de vontades, independentemente da entrega da coisa. c) É oneroso, pois ambos os contratantes obtêm proveito, ao qual corresponde um sacrifício. d) É, em regra, comutativo, porque as prestações são certas, embora se transforme em aleatório quando tem por objeto coisas futuras ou sujeitas a risco. e) É, em regra, não solene, de forma livre, malgrado em certos casos seja solene, exigindo-se escritura pública (art. 108). 3. Elementos Consentimento — Deve ser livre e espontâneo, sob pena de anulabilidade do negócio jurídico. — Deve recair sobre a coisa e o preço. — Requer capacidade das partes. As incapacidades dos arts. 3º e 4º do CC são supridas pela representação, pela assistência e pela autorização do juiz. — Exige, também, capacidade específica para alienar (poder de disposição) e, em alguns casos, legitimação para contratar. Preço — Deve ser determinado ou determinável. — Pode ser fixado pela taxa do mercado ou de bolsa, em determinado dia e lugar (art. 486). — Não pode ser deixado ao arbítrio exclusivo de uma das partes (art. 489). — Pode a fixação ser deixada ao arbítrio de terceiro (art. 485). — Se não estabelecido critério para sua fixação, entende-se que as partes se sujeitaram ao preço corrente nas vendas habituais do vendedor (art. 488). — Deve ser pago em dinheiro ou redutível a dinheiro. — Deve ser sério e real e não vil ou fictício. Coisa — Deve ter existência, ainda que potencial, como a safra futura, p. ex. — Deve ser individuada ou suscetível de determinação no momento da execução. — Deve ser disponível, isto é, não estar fora do comércio. 4. Efeitos Principais a) gera obrigações recíprocas para os contratantes; b) acarreta a responsabilidade do vendedor pelos vícios redibitórios e pela evicção. Secundários a) a responsabilidade pelos riscos (art. 492); b) a repartição das despesas (art. 490); c) o direito de reter a coisa ou o preço (art. 491). 5. Limitações à compra e venda Venda de ascendente a descendente — É anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os outros descendentes e o cônjuge do alienante expressamente houverem consentido (art. 496). — A finalidade da vedação é evitar doações inoficiosas disfarçadas de compra e venda. — A forma da anuência será a mesma do ato a ser praticado (art. 220). — Cabe ao juiz nomear curador especial ao descendente menor ou nascituro (art. 1.692), bem como suprir o consentimento, se a discordância for imotivada. Pessoa que deve zelar pelos interesses do vendedor O art. 497 do CC nega legitimação a certas pessoas que têm, por dever de ofício, de zelar pelos bens alheios, com a finalidade de manter a isenção de ânimo, p. ex., do tutor, do curador, do administrador, do juiz etc. Parte indivisa em condomínio O condômino não pode alienar a sua parte indivisa a estranho, se outro consorte a quiser, tanto por tanto. Se preterido, poderá este exercer o seu direito de preferência pela ação de preempção, no prazo decadencial de cento e oitenta dias, efetuando o depósito do preço pago e havendo para si a parte vendida ao terceiro (art. 504). A regra aplica-se também ao coerdeiro (art. 1.795). Venda entre cônjuges O art. 499 do CC considera “lícita à compra e venda entre cônjuges, com relação a bens excluídos da comunhão”. No regime da comunhão universal, tal venda mostra-se inócua. Nos demais regimes o sistema não impõe proibição. É inadmissível a doação entre cônjuges casados no regime da separação legal ou obrigatória. 6. Vendas especiais Venda mediante amostra Se a venda se realizar a vista de amostras, protótipos ou modelos entender-se-á que o vendedor assegura ter a coisa as qualidades que a ela correspondem (art. 484). Prevalece à amostra, se houver diferença com a maneira pela qual se descreveu a coisa no contrato (parágrafo único). Venda ad corpus e ad mensuram a) Na venda ad corpus, o imóvel é adquirido como um todo (Chácara Palmeiras, p. ex.), sendo apenas enunciativa a referência às suas dimensões, que não têm influência na fixação do preço. b) Na venda ad mensuram, o preço é estipulado com base nas dimensões do imóvel. Se a área não corresponder às dimensões dadas, cabe a ação ex empto ou ex vendito para exigir a complementação. Se esta não for possível, cabe o ajuizamento da ação redibitória ou da quanti minoris . DAS CLÁUSULAS ESPECIAIS À COMPRA E VENDA 1. Da retrovenda: Constitui um pacto acessório, pelo qual o vendedor reserva-se o direito de reaver o imóvel que está sendo alienado, em certo prazo, restituindo o preço, mais as despesas feitas pelo comprador (art. 505). Caracteriza-se como condição resolutiva expressa. 2. Da venda a contento e da sujeita a prova: Constituem cláusulas que subordinam a eficácia do contrato à condição de ficar desfeito se o comprador não se agradar da coisa, ou se não tiver esta as qualidades asseguradas pelo vendedor e for inidônea para o fim a que se destina (arts. 509 e 510). 3. Da preempção: A preferência do condômino na aquisição de parte indivisa constitui exemplo de preferência ou prelação legal. A preferência convencional resulta de um acordo de vontades, em que o comprador se obriga a oferecer ao vendedor a coisa que aquele vai vender, para que este use o seu direito de prelação (o mesmo que preferência) na compra, tanto por tanto (arts. 513 a 520). 4. Da venda com reserva de domínio: É modalidade especial de venda de coisa móvel, em que o vendedor tem a própria coisa vendida como garantia do recebimento do preço. Só a posse é transferida ao adquirente. A propriedade permanece com o alienante e só passa àquele após o recebimento integral do preço (CC, art. 521). 5. Da venda sobre documentos: Espécie de venda na qual a tradição da coisa é substituída pelo seu título representativo e por outros documentos exigidos pelo contrato ou, no silêncio deste, pelos usos (art. 529). DA TROCA 1. Conceito: Troca ou permuta é o contrato pelo qual as partes se obrigam a dar uma coisa por outra, que não seja dinheiro. Difere da compra e venda apenas porque, nesta, a prestação de uma das partes consiste em dinheiro. Aplicam-se à troca as disposições referentes à compra e venda, com duas ressalvas (art. 533, I e II). 2. Caracteres: Como ocorre com a compra e venda, a troca é negócio jurídico bilateral, oneroso e consensual, não tendo caráter real, mas apenas obrigacional. Se os valores são desiguais, e o objeto que pertence ao ascendente é mais valioso, os demais descendentes devem consentir expressamente (art. 533, II). DO CONTRATO ESTIMATÓRIO 1. Conceito: Pelo contrato estimatório ou de consignação, o consignante entrega bens móveis a outrem, denominado consignatário, para que este os venda a terceiro, segundo estimação feita pelo consignante. Nada impede, porém, que fique com o objeto para si, pagando o preço fixado. Se preferir vendê-lo, auferirá lucro no sobrepreço que obtiver. 2. Regulamentação — O consignatário não se exonera da obrigação de pagar o preço, se a restituição da coisa, em sua integridade, se tornar impossível, ainda que por fato a ele não imputável (art. 535). — A coisa consignada não pode ser objetode penhora ou sequestro pelos credores do consignatário, enquanto não pago integralmente o preço, pois o consignante é o seu dono. — O consignante não pode dispor da coisa antes de lhe ser restituída ou de lhe ser comunicada a restituição (art. 537). DA DOAÇÃO 1. Conceito: É o contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra (art. 538). 2. Traços característicos: a) Natureza contratual: É contrato, em regra, gratuito, unilateral, consensual e solene. b) Animus donandi: intenção de fazer uma liberalidade. c) Transferência de bens para o patrimônio do donatário. d) Aceitação deste. É indispensável e pode ser expressa, tácita ou presumida. 3. Promessa de doação: Tem-se entendido ser inexigível o cumprimento de promessa de doação pura, porque esta representa uma liberalidade plena. Não cumprida, haveria uma execução coativa ou poderia o promitente doador ser responsabilizado por perdas e danos — o que se mostra incompatível com a gratuidade do ato. Tal óbice não existe na doação onerosa, porque o encargo imposto ao donatário estabelece um dever exigível do doador. 4. Espécies de doação: a) Pura e simples (ou típica). É aquela em que o doador não impõe nenhuma restrição ou encargo ao beneficiário, nem subordina a sua eficácia a qualquer condição. b) Onerosa (modal, com encargo ou gravada). Aquela em que o doador impõe ao donatário uma incumbência ou dever. O encargo pode ser imposto em benefício do doador, de terceiro ou do interesse geral (art. 553). c) Remuneratória. É a feita em retribuição a serviços prestados, cujo pagamento não pode ser exigido pelo donatário. É o caso, p. ex., do cliente que paga serviços prestados por seu médico, mas quando a ação de cobrança já estava prescrita. d) Mista. Decorre da inserção da liberalidade em alguma modalidade diversa de contrato (p. ex., venda a preço vil, que é venda na aparência e doação na realidade). e) Em contemplação do merecimento do donatário (contemplativa). Quando o doador menciona o motivo da liberalidade (determinada virtude, amizade etc.). f) Feita ao nascituro. Tal espécie, segundo o art. 542 do CC, “valerá, sendo aceita pelo seu representante legal”. g) Em forma de subvenção periódica. Trata-se de uma pensão, como favor pessoal ao donatário, cujo pagamento termina com a morte do doador, não se transmitindo a obrigação a seus herdeiros, salvo se o contrário houver, ele próprio, estipulado. Nesse caso, não poderá ultrapassar a vida do donatário (art. 545). h) Em contemplação de casamento futuro (propter nuptias). É o presente de casamento, dado em consideração às núpcias próximas do donatário com certa e determinada pessoa. Só ficará sem efeito se o casamento não se realizar (art. 546). i) Entre cônjuges. A doação de um cônjuge a outro importa adiantamento do que lhe cabe na herança (art. 544). A regra aplica-se às hipóteses em que o cônjuge participa da sucessão do outro na qualidade de herdeiro (art. 1.829). j) Conjuntiva (em comum a mais de uma pessoa). Entende-se distribuída entre os beneficiados, por igual, salvo se o doador dispuser em contrário (art. 551). k) De ascendentes a descendentes. Importa adiantamento do que lhes cabe por herança (art. 544). Estes são obrigados a conferir, por meio de colação, os bens recebidos (art. 2.004). l) Inoficiosa. É a que excede o limite de que o doador, no momento da liberalidade, poderia dispor em testamento. O art. 549 declara nula somente a parte que exceder tal limite. m) Com cláusula de retorno ou reversão. Permite o art. 547 que o doador estipule o retorno, ao seu patrimônio, dos bens doados, se sobreviver ao donatário, em vez de passarem aos herdeiros. n) Manual. É a doação verbal de bens móveis de pequeno valor. Será válida se lhe seguir, incontinenti, a tradição (art. 541, parágrafo único). o) Feita a entidade futura. Permite o art. 554 doação a entidade futura, dizendo, porém, que caducará se, em dois anos, esta não estiver constituída regularmente. 5. Restrições legais: A lei proíbe: a) Doação pelo devedor já insolvente, ou por ela reduzida à insolvência, por configurar fraude contra credores (art. 158). b) Doação da parte inoficiosa. O art. 549 proclama a nulidade da parte que exceder a de que o doador poderia dispor em testamento. c) Doação de todos os bens do doador. É nula a doação de todos os bens sem reserva de parte, ou renda suficiente para a subsistência do doador (art. 548). d) Doação do cônjuge adúltero a seu cúmplice. Pode ser anulada pelo outro cônjuge, ou por seus herdeiros necessários, até dois anos depois de dissolvida a sociedade conjugal. A doação não é nula, mas anulável (art. 550). 6. Da revogação da doação a) Casos comuns a todos os contratos. Tendo natureza contratual, a doação pode contaminar-se de todos os vícios do negócio jurídico, como erro, dolo, coação etc., sendo desfeita por ação anulatória. Pode ser declarada nula, também, como os demais contratos (arts. 104, 166, 541, parágrafo único), e ainda em razão da existência de vícios que lhe são peculiares (arts. 548, 549 e 550). b) Por descumprimento do encargo (art. 562). c) Por ingratidão do donatário (arts. 555 e 557). DA LOCAÇÃO DE COISAS 1. Conceito: Locação de coisas é contrato pelo qual “uma das partes se obriga a ceder à outra, por tempo determinado ou não, o uso e gozo de coisa não fungível, mediante certa retribuição” (art. 565). 2. Caracteres — é bilateral (envolve prestações recíprocas); — é oneroso (ambas as partes obtêm proveito); — é consensual (aperfeiçoa-se com o acordo de vontades); — é comutativo (não envolve risco); — não solene (a forma é livre); — é de trato sucessivo (prolonga-se no tempo). 3. Elementos essenciais: a) O objeto, que pode ser coisa móvel infungível (se fungível, será contrato de mútuo) ou imóvel. b) O preço, denominado aluguel ou remuneração. Se faltar, haverá comodato. É fixado pelas partes, ou mediante arbitramento, ou ainda por ato governamental (táxis, p. ex.). c) O consentimento, que pode ser expresso ou tácito. 4. Obrigações do locador: a) Entregar ao locatário a coisa alugada , em estado de servir ao uso a que se destina (art. 566, I). b) Manter a coisa no mesmo estado (art. 566, I, 2ª parte). c) Garantir o uso pacífico da coisa (arts. 566, II, e 568). 5. Obrigações do locatário: a) Servir-se da coisa alugada para os usos convencionados e tratá-la como se sua fosse (art. 569, I). b) Pagar o aluguel nos prazos ajustados (art. 569, II). c) Levar ao conhecimento do locador as turbações de terceiros, fundadas em direito (art. 569, III). d) Restituir a coisa, finda a locação, no estado em que a recebeu, salvas as deteriorações naturais (art. 569, IV). 6. Locação de prédios; O Código Civil de 2002 não dispõe a respeito da locação de prédios. A locação urbana rege-se, hoje, pela Lei n. 8.245/91 (LI, com as alterações introduzidas pela Lei n. 12.112/2009), cujo art. 1º, parágrafo único, proclama continuarem regidas pelo Código Civil as locações de imóveis de propriedade da União, dos Estados, dos Municípios; de vagas autônomas de garagem ou de espaços para estacionamento de veículos; de espaços destinados à publicidade; de apart-hotéis, hotéis-residência ou equiparados; e o arrendamento mercantil. As normas do Código Civil têm, pois, aplicação restrita aos referidos imóveis. DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO 1. Conceito: Constitui locação ou prestação de serviço toda espécie de serviço ou trabalho lícito, material ou imaterial, contratado mediante retribuição (art. 594). As regras do CC têm caráter residual, aplicando-se somente às relações não regidas pela CLT e pelo CDC,sem distinguir a espécie de prestador de serviços, que pode ser profissional liberal ou trabalhador braçal (CC, art. 593). 2. Caracteres: É contrato: a) bilateral; b) oneroso; c) consensual. 3. Duração: É limitada a, no máximo, quatro anos, para evitar prestações de serviço por tempo demasiado longo, caracterizando verdadeira escravidão, sob pena de redução pelo juiz (art. 598). Quando celebrado sem prazo determinado, pode ser objeto de resilição unilateral (art. 599). 4. Extinção do contrato: Ocorre o término do contrato (art. 607): a) com a morte de qualquer das partes; b) pelo escoamento do prazo; c) pela conclusão da obra; d) pela resilição do contrato mediante aviso prévio; e) por inadimplemento de qualquer das partes; f) pela impossibilidade de sua continuação, por força maior.