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DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO AULA 3. Temas da aula: 1. Liquidação de Sentença 2. Formas e Espécies de Execução. 3. Suspensão e Extinção da Execução. 1. Liquidação de Sentença 1.1 Conceito: A liquidação tem lugar quando a sentença ou acórdão não fixam o valor da condenação ou não individualizam o objeto da execução. A decisão contem a certeza da obrigação e as partes que são credora e devedora desta obrigação, mas não fixa o montante devido. Segundo Schiavi: A liquidação constitui, assim, uma fase preparatória, de natureza cognitiva, em que a sentença ilíquida passará a ter um valor determinado ou individualizado a prestação ou objeto a ser executado, por um procedimento previsto em lei, conforme a natureza da obrigação prevista no título executivo. Com a liquidação, o título executivo judicial está apto para ser executado, pois se o título não for líquido, certo e exigível o procedimento de execução é nulo. Como destaca Pedro Manus: Entende-se por liquidação de sentença o conjunto de atos processuais necessários para aparelhar o título executivo, que possui certeza, mas não liquidez, à execução se seguirá. Com efeito, tratando-se de condenação do reconhecimento de obrigação de dar quantia certa, quase sempre a decisão que se executa, embora certa quanto ao seu objeto, não traz os valores devidos de forma líquida. Desta forma a liquidação de sentença pode ser conceituada como um conjunto de atos a fim de estabelecer, especificar ou individualizar o valor de uma condenação ou o objeto de uma obrigação. É a fase inicial da execução e sua natureza (sua sentença) é essencialmente declaratória definindo o “quantum debeatur”. *Para Ives Gandra da Silva Martins Filho – Ministro do TST: “ É um processo incidente dentro do processo de execução (natureza declaratória de fase cognitiva e integrativa da execução) funcionando como uma ponte entre o processo de conhecimento e o processo de execução, como um procedimento a ser adotado quando a sentença não determina o valor ou ao individualiza o objeto da execução” 1.2 Natureza Jurídica. A doutrina ainda não chegou a um consenso da natureza jurídica da liquidação. Para alguns, como Liebman, a mesma é declaratória, uma vez que traz aquilo que se encontra implicitamente na sentença anterior. Para outros, como defende Pontes de Miranda, a natureza jurídica é construtiva integrativa, tendo em vista que não apenas declara como também dá uma certeza àquilo que até então era incerto. A CLT disciplina a referida matéria em seu art. 879. Reze o art que: “Sendo ilíquida a sentença exeqüenda, ordenar-se-á, previamente, a sua liquidação, que poderá ser feita por cálculo, por arbitramento ou por artigos.” 1.3 Modalidades de Liquidação No processo do trabalho, a liquidação da sentença pode ser realizada de três modos, são eles: por cálculo, por arbitramento e por artigos. Existiram casos, porém, onde a liquidação se dará de maneira mista, ou se já, por mais de uma das modalidades previstas em lei, simultaneamente. È comum a liquidação de parte da sentença por cálculo e outra por arbitramento (como no caso de fixação de determinada parcela in natura), processando-se de maneira mista. De outra forma, também é possível que a sentença exeqüenda possua parte líquida e ilíquida. Neste caso, a parte ilíquida será objeto de prévia liquidação, enquanto a parte líquida, a critério do credor, poderá ser imediatamente executada, mediante a extração da carta de sentença . 1.3.1 Liquidação por cálculos Prevista no art. 879 da CLT, é a mais utilizada na Justiça do Trabalho, sendo realizada nos casos quando a determinação do valor depender apenas de caçulos aritméticos, casos em que todos os elementos para se chegar ao valor já se encontram nos autos. Contudo, é importante ressaltar, que nenhum fato pode ser apurado nesta forma de liquidação, incluindo, principalmente, questões processuais ou ponto controvertido, sob pena de a liquidação ter que ser por artigos. Nesse sentido é o exemplo de Edilton Meireles e Leonardo Dias Borges : ...é pressuposto de liquidação por cálculos que todas as questões tenham sido decididas e definidas no processo de conhecimento. Por exemplo: será por simples cálculos a liquidação da sentença que define a quantidade de horas extras devidas (duas por dia), aponta o valor de sua base de cálculos (salário de R$ 440,00), o divisor das horas extras (220 horas), o adicional devido (50%) e o período trabalhado (dois meses, de segunda a sexta). Logo, nesta hipótese, bastará dividir o salário pelo divisor permanente, acrescentar o adicional de horas extras e multiplicar seu produto pela quantidade de horas extras devidas (por dia, por semana ou por mês) para se obter o quantum debeatur. Ao resultado, acrescentam-se correção monetária e juros. Várias verbas podem ser liquidadas por simples cálculos, desde que dependam apenas de operações aritméticas, como as parcelas rescisórias, as férias, a gratificação natalina, horas extras, saldo de salário . ***OBS: Os juros de mora e a correção monetária incluem-se na liquidação, ainda que omisso o pedido inicial ou a condenação, segundo a Súmula 211 do TST, sendo os juros de mora calculados à razão de 12% ao ano e a correção monetária, de acordo com as tabelas periodicamente emitidas pelo Poder TST com base no INPC . 1.3.2 Liquidação por arbitramento Tendo em vista a omissão da CLT, os arts. 475-C e 475-D do CPC tratam da espécie de liquidação por arbitramento. A liquidação se dará por arbitramento quando as partes o convencionarem expressamente ou for determinado pela sentença, ou ainda quando a natureza do objeto da liquidação assim exigir. Muitas vezes, por dificuldade de apuração do quantum debeatur por simples cálculos, o arbitramento revela-se bastante eficaz para tornar a sentença líquida . Mesmo que a sentença tenha determinado a liquidação por arbitramento, poderá o magistrado estabelecer, posteriormente, a liquidação se processe por cálculos, prestigiando o princípio da celeridade e economia processual, não que falar em ofensa à coisa julgada, pois não se está alterando o conteúdo substancial da sentença. Após decisão homologatória do cálculo apresentado pelo perito, o juiz autorizará o prosseguimento da execução nos moldes das sentenças líquidas, iniciando-a com a intimação do devedor para que cumpra a sentença no prazo ou, tratando-se de execução de pagar, que a cumpra em 48 horas ou garanta a execução sob pena de penhora . 1.3.3 Liquidação por artigos A CLT, mais uma vez foi omissa, e também não tratou da liquidação por artigos. Assim, da mesma forma, será usado subsidiariamente o CPC, mais especificamente o art. 475-E. Na lição de Renato Saraiva , “ a liquidação por artigos será feita quando houver necessidade de provar fatos novos que devam servir de base para fixar o quantum da condenação”. Como exemplo, podemos citar a sentença que reconhece a realização de horas extras, mas não a quantifica, tornando-se necessária a produção de provas pelas partes. A liquidação por artigos deve ser requerida pelas partes, nunca de ofício pelo juiz. Determina o art. 475-F do CPC que a liquidação por artigos observará o rito do processo de conhecimento. Quanto ao procedimento, nos ensina Bruno Freire e Silva que: O requerimento do autor deve indicar os valores que entende devido, os quais são quantificados a partir de suas alegações. A parte ré é citada para contestar os artigos de liquidação no prazo de quinze dias, sob pena de revelia, além de os fatos não impugnados especificamente (art. 302 do CPC) poderem se tornar incontroversos. Após a réplica,se for o caso, prossegue-se com instrução e julgamento. Quanto ao ônus da prova, são adotadas as mesmas regras de distribuição do processo de conhecimento. Vale lembrar que na Justiça do Trabalho os artigos de liquidação são raros, pois a maioria das sentenças de mérito, quando ilíquidas, apresenta de logo elementos para apuração do quantum debeatur, ensejando liquidação por simples cálculos. 1.4 Impugnação de liquidação de sentença A liquidação tem como objetivo agregar liquidez à divida, sendo que a sentença respectiva tem natureza predominantemente constitutiva, vista que torna líquido aquilo que antes não era. A sentença de liquidação possui natureza interlocutória, irrecorrível de forma imediata. Caso ocorra inconformismo, este só pode ser apresentado pelo executado através de embargos à execução, sendo que para o exeqüente e para a União a irresignação pode ser apresentada por meio de impugnação à sentença de liquidação. A impugnação era regida exclusivamente pelo artigo 884, § 3 , CLT: Art. 884. Garantida a execução ou penhora os bens, terá o executado 5 dias para apresentar embargos, cabendo igual prazo ao exeqüente para impugnação. § 3º Somente nos embargos à penhora poderá o executado impugnar a sentença de liquidação, cabendo ao exeqüente igual direito e no mesmo prazo. No entanto, a Lei 8432/1992 alterou a redação do §2 do artigo 879, dando ao juiz a faculdade de abrir prazo para as partes impugnarem a sentença de liquidação assim que forem elaborados os cálculos: Artigo. 879 § 2º Elaborada a conta e tornada líquida, o Juiz poderá abrir às partes prazo sucessivo de 10 (dez) dias para impugnação fundamentada com a indicação dos itens e valores objeto da discordância, sob pena de preclusão. Assim, a concessão de vistas para as partes e para a União constitui faculdade do juiz, uma vez que ele pode optar em homologar, por sentença, os cálculos apresentados, remetendo a discussão para a fase dos embargos à execução. Os mesmos poderão ser elaborados pelos órgãos auxiliares da Justiça do Trabalho (contador judicial) ou pelas próprias partes, a critério do juiz. Caso o juiz tenha determinado a apresentação dos cálculos pelas próprias partes, em geral pelo credor exeqüente, nos termos do artigo 879, §1-B, CLT, e não pelo servidor encarregado, não haverá prazo sucessivo para impugnação, mas sim a concessão de prazo simples de 10 dias para manifestação da outra parte. O magistrado pode, após a elaboração dos cálculos: homologar os cálculos sem a oitiva das partes e determinar a expedição imediata do mandado de citação, penhora e avaliação, somente permitindo a impugnação dos cálculos, seja pelo executado ou exeqüente, no prazo dos embargos à execução; conceder prazo sucessivo de 10 dias para ambas as partes para impugnação, tão logo sejam elaborados os cálculos. Em outras palavras, permitiu-se ao juiz da execução a possibilidade de optar pela liquidação da sentença pelo rito antigo da CLT (artigo 884, §3) ou pelo rito introduzido pela Lei 8432/1992 (artigo 879 §2). Neste sentido, explica José Cairo Jr. : Na primeira hipótese, qual seja quando o juiz homologa os cálculos por sentença sem oitiva das partes, será expedido mandado executivo (mandado de citação, penhora e avaliação) em face do devedor, iniciando-se, após a garantia do juízo, o prazo para o executado apresentar os embargos à execução e a impugnação à sentença de liquidação. Tendo o exeqüente o prazo de 5 dias para responder aos embargos à execução propostos e/ou impugnar a sentença de liquidação. Esclarece ainda que serão julgados na mesma sentença os embargos e as impugnações à liquidação apresentados pelos credores trabalhistas e previdenciário. Mesmo deixando o executado de apresentar embargos à execução, deverá o magistrado conceder prazo para o exeqüente impugnar a sentença de liquidação, evitando-se, assim, no futuro, que seja argüida pelo credor a nulidade do processo, a partir do momento em que a providência judicial não foi adotada. Na segunda hipótese, aquela em que o juiz, após a elaboração dos cálculos, utilizar faculdade prevista no § 2 do artigo 879 consolidado, abrirá prazo de 10 dias sucessivos para as partes impugnarem a sentença de liquidação, sob pena de preclusão. Por outro lado, se apesar da impugnação o juiz mantiver a sentença de liquidação, não caberá recurso imediato, assistindo o direito às partes de renovar a impugnação nos embargos à execução e em eventual agravo de petição posterior. Cabe destacar que as impugnações aos cálculos não podem ser genéricas, mas sim especificados todos os pontos de divergência. Por fim, após elaborada a conta, ou pela parte ou pelos órgãos auxiliares da Justiça do Trabalho, o juiz deverá proceder à intimação da União, via postal, para manifestação no prazo de 10 dias, sob pena de preclusão. A abertura de prazo pelo juiz para impugnação é facultativa em relação às partes e obrigatória em relação ao INSS. 2. Formas e Espécies de Execução. A existência de título executivo judicial (sentença) e o inadimplemento do devedor. Sendo ilíquida a sentença o Juiz ordenará previamente a sua liquidação que poderá ser feita, como já exposto, por cálculos, por arbitramento ou por artigos. Homologada a conta, por sentença, o Juiz mandará citar o devedor, expedindo mandado. 2.1. Formas de Execução. Quanto à extensão dos efeitos, a execução pode ser definitiva ou provisória. 2.1.1 Execução Definitiva Regulamentada pelo art. 876 e seguintes da CLT, fundamenta-se na sentença irrecorrível, transitada em julgado, tendo como objetivo fazer com que a obrigação decorrente da sentença judicial seja satisfeita pelo devedor, integralmente, utilizando-se as medidas coercitivas previstas em lei. O pressuposto legal para que a execução do título judicial seja definitiva é o trânsito em julgado da sentença. O princípio da imutabilidade da coisa julgada é que autoriza a execução definitiva do julgado. Esta será efetuada sempre nos autos principais, isto é, aqueles em que foi prolatada a sentença exequenda. (CPC, art. 589, 1ª parte). 2.1.2 Execução Provisória Fundamenta-se no artigo 899 da CLT e 587 do CPC. A execução provisória, inclusive a liquidação, se faz mediante a extração de carta de Sentença, cujos requisitos básicos são os do Art. 590 do CPC. A extração da Carta de Sentença para execução provisória cabe a qualquer momento em face do efeito devolutivo do recurso ordinário e a execução vai até a penhora. Permite, também, a apresentação e julgamento dos embargos à execução e “realizar todos os atos que têm função preparatória”. Os autos principais sobem à Instância Superior com o recurso admitido no efeito devolutivo. Após a penhora ou o julgamento dos embargos, os autos deverão ser sobrestados até retorno da execução definitiva. 2.2. Espécies de Execução 2.2.1. Execução por Quantia Certa Fixado o valor devido, seguem-se os atos executórios. Na hipótese de ter sido depositada a importância, e, sendo definitiva a execução, o juiz ordenará o levantamento imediato do depósito, em favor da parte vencedora. Caso não haja depósito será emitido o Mandado de Citação e Penhora. 2.2.2. Execução para entrega de coisa Tipo de execução rara na JT. Quem for condenado a entregar coisa certa será citado para em 10 dias satisfazer o julgado, ou, depositada a coisa, opor embargos (CPC 621 e 622). 2.2.3. Execução das obrigações de fazer ou não fazer A condenação do empregador no sentido de anotar a carteira de trabalho do empregado, de reintegrar servidorestável, de entregar guias para levantamento de importâncias depositadas no FGTS são algumas entre as hipóteses em que, descumprida a sentença condenatória, executa-se obrigação de fazer no processo trabalhista. Neste caso poderá ser aplicada multa diária pelo juiz, considerada por muitos doutrinadores, inconstitucional. 3. Suspensão e Extinção da Execução. 3.1. Suspensão da Execução. O curso da execução trabalhista pode ser suspenso por disposição de lei ou por iniciativa das partes. Dá-se, por disposição de lei, nas seguintes hipóteses: a) exceção de incompetência ou suspeição do juiz (CLT, art. 799 e inciso III do artigo 265 do CPC; b) falta de localização do devedor ou de bens que a garantam (Lei 6830/80, art. 40 e parágrafos) c) inexistência de bens que a garantam (CPC, art. 791, III) d) pela morte ou perda da capacidade processual de qualquer das partes, de seu representante legal ou de seu procurador (CPC, art. 265, I) e) interposição de embargos de terceiro, versando sobre a totalidade dos bens penhorados (CPC, art. 1052) f) os embargos do devedor forem recebidos com efeito suspensivo. Se forem rejeitados liminarmente, não haverá suspensão.* Neste caso, dar-se-á a suspensão parcial, relativamente apenas aos bens envolvidos pelos embargos. A suspensão da execução não inibe o encaminhamento de medidas cautelares destinadas a prevenir ou proteger o executado, o exeqüente ou a viabilidade da execução pelas vias legais (art. 793 do CPC). 3.2.Extinção da Execução A extinção do processo executório deve ser declarada pelo Juiz. Pode dar-se por quitação ou renúncia do credor, pela transação, pelo esgotamento da obrigação através dos atos de alienação, pela remição e pela prescrição. 3.2.1. Extinção pela quitação ou renúncia Se dá pelo pagamento da dívida. A renúncia (art.794, III do CPC) pelo exequente, excepcionalmente poderá ser admitida no Direito do Trabalho, sendo sempre vista com desconfiança pelos juízes. 3.2.2. Extinção pela Transação As partes também poderão terminar litígios mediante concessões mútuas. Na transação o pressuposto é a incerteza do direito disputado pelas partes. 3.2.3. Extinção pelo esgotamento da obrigação através de atos de alienação A adjudicação do bem penhorado, pelo credor, que é forma de transmissão da propriedade decorrente da execução. 3.2.4. Extinção pela arrematação Consiste na transferência coativa dos bens do devedor para quem der o maior lanço no praceamento de bens. Faz-se no dinheiro à vista ou no prazo de 3 dias, mediante caução idônea (art. 690 CPC) Na Justiça do Trabalho a arrematação é feita pelo maior lanço, que o arrematante deve garantir com sinal de 20%. 3.2.5. Extinção pela remição Remir significa adquirir de novo. Antes de arrematados ou adjudicados os bens, pode o devedor, a todo o tempo, remir a execução, pagando ou consignando a importância da dívida, mais juros, custas e honorários advocatícios. A remição da execução só se caracteriza com o integral pagamento da dívida.
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