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Direito Civil

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DAS PESSOAS NATURAIS
1 – Conceito de personalidade jurídica
Personalidade jurídica é a aptidão genérica para se titularizar direitos e contrair obrigações na órbita do direito. Ou seja, é a qualidade para ser sujeito de direito:
Art. 1º Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.
A primeira parte do Código Civil é estática. Esse conceito é um conceito estático fundamental, técnico-jurídico. Pode haver outros, em outros âmbitos do conhecimento.
2 – Pessoa Física ou Natural
Teixeira de Freitas chamava pessoa física ou natural de “ente de existência visível”.
Um dos problemas mais difíceis do Direito Civil brasileiro é determinar em que momento a pessoa física ou natural adquire personalidade jurídica. Aparentemente, a resposta encontra-se na primeira parte do art. 2º do Código Civil: “a personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida”.
Art. 2º A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro.
Todavia, a própria concepção de “nascimento com vida” já inspira cuidados, devendo ser entendida como o funcionamento do aparelho cardiorespiratório do recém-nascido, independentemente da sua aparência física, em respeito ao princípio da dignidade da pessoa humana.[2: Em sentido contrário, o art. 30 do Código Civil da Espanha, antes da Lei nº 20, de 21 de julho de 2011, exigia forma humana e tempo mínimo de sobrevivência de 24 horas.]
3 – Natureza jurídica do nascituro e teorias explicativas
A segunda parte do art. 2º determina que a personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida, “mas a lei põe a salvo os direitos do nascituro”. Trata-se de uma das mais instigantes contradições em uma lei, na medida em que só é sujeito de direito quem possui personalidade (Caio Mário), mas mesmo assim a lei fala em direito. O nascituro teria ou não personalidade jurídica?
Segundo Limongi França, o nascituro é aquele ente já concebido, com vida intrauterina, mas ainda não nascido. Ou seja, é um embrião, mas com vida intrauterina. Os embriões de laboratório não são nascituros.
Não devem ser confundidos os conceitos de nascituro, natimorto e concepturo. O natimorto é aquele nascido morto e que, nos termos do Enunciado 1 da I Jornada de Direito Civil, gozaria de proteção quanto ao nome, imagem e sepultura.
Enunciado 1 - Art. 2º: A proteção que o Código defere ao nascituro alcança o natimorto no que concerne aos direitos da personalidade, tais como nome, imagem e sepultura.
O concepturo é também chamado de prole eventual. Trata-se daquele que ainda nem foi concebido (art. 1.799, I, do Código Civil):
Art. 1.799. Na sucessão testamentária podem ainda ser chamados a suceder:
I - os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão; (...)
A questão atinente à personalidade jurídica do nascituro é altamente controvertida na doutrina, havendo três teorias explicativas fundamentais: teoria natalista, teoria da personalidade condicional e teoria concepcionista.
3.1 – Teoria Natalista
Sustentada por grande parte da doutrina brasileira (Eduardo Espínola, Silvio Rodrigues, Vicente Ráo), a teoria natalista aponta no sentido de que a personalidade jurídica somente é adquirida a partir do nascimento com vida, de maneira que o nascituro não deve tecnicamente ser considerado pessoa, gozando de mera expectativa de direito.
Há, é claro, natalistas mais ou menos radicais. Esse conceito é o mais extremo da teoria (“o nascituro é coisa”).
A leitura da ementa da ADI 3510, referente ao julgamento da Lei de Biossegurança, reforça a teoria natalista, sustentada pelo Ministro Relator. Na verdade, a teoria é a mais interessante para justificar a possibilidade de realização de experimentos em embriões de laboratório. Todavia, esta matéria ainda não está pacificada. Há vários julgados que defendem a teoria concepcionista.
3.2 – Teoria da Personalidade Condicional (Serpa Lopes)
Para a teoria da personalidade condicional, o nascituro gozaria de direitos personalíssimos desde a concepção, mas somente consolidaria a sua personalidade para efeitos patrimoniais sob a condição de nascer com vida. Alguns se referem a ela como Teoria da Personalidade Formal.
Não é uma teoria muito original, na medida em que englobada pela terceira. É “pouco corajosa”, na medida em que considera a personalidade somente para determinados casos (cinge a personalidade somente para direitos personalíssimos).
2.3 – Teoria Concepcionista
A teoria concepcionista é defendida desde Teixeira de Freitas, passando por Clóvis Beviláqua e chegando a modernos autores como Silmara Chinelato. Sustenta que o nascituro teria personalidade jurídica desde a concepção, inclusive para efeitos patrimoniais. A jurisprudência ainda não reconhece todos esses efeitos, como o de a mãe herdar, no caso de o nascituro não nascer com vida.
Para efeito de concurso público, não existe uma resposta única. Deve-se checar a posição do examinador. Essa questão é aberta e não deve cair em prova objetiva. Com o julgamento da Lei de Biossegurança, a teoria natalista ganhou força, mas não há consenso na doutrina.
Em conclusão, observa-se que a temática pertinente à natureza jurídica do nascituro é altamente controvertida, parecendo ser ainda muito atual o pensamento de Clóvis Beviláqua, segundo o qual: “aparentemente o codificador adota a teoria natalista por ser mais prática, mas em diversos pontos experimenta a influência concepcionista, reconhecendo ao nascituro direitos, como se fosse uma pessoa”.[3: “Comentários ao Código Civil dos Estados Unidos do Brasil”, Ed. Rio, 1975, p. 178.][4: Ver no material de apoio quadro esquemático de direitos do nascituro.]
O nascituro, segundo alguns julgados no Brasil, que reforçaram a Lei 11.804/2008, teria direito aos alimentos (alimentos gravídicos). Pablo Stolze discorda da posição que sustenta a legitimidade da mãe para o ajuizamento da ação, que seria titular do direito aos alimentos, na medida em que o que justifica os alimentos é justamente a presença do nascituro.
Vale observar, ainda, que o STJ admitiu indenização por dano moral sofrido pelo nascituro (REsp 399.028/SP), em caso de homicídio praticado contra o pai, em ato ilícito ocorrido quando nascituro.
4 – Capacidade de direito e de fato
Quando se fala em capacidade, dois conceitos devem ser devidamente enfrentados: a capacidade de direito e a capacidade de fato.
A capacidade de direito é uma capacidade genérica, que qualquer pessoa tem (o nascituro, na linha concepcionista, teria também capacidade de direito), ao passo que a capacidade de fato traduz a aptidão para, pessoalmente, praticar atos da vida civil, o que nem toda pessoa tem, diante das situações de incapacidade absoluta ou relativa (artigos 3o e 4o do Código Civil).
Na linha de pensamento de Orlando Gomes, hoje a noção de capacidade de direito se confunde com a de personalidade. Quando uma pessoa reúne as duas formas de capacidade (normalmente quando atinge a maioridade civil), diz-se que ela possui capacidade civil plena.
Da mesma forma, não se deve confundir a noção de capacidade com o conceito de legitimidade. No dizer de Calmon de Passos, a legitimidade traduziria a pertinência subjetiva para a prática de determinado ato. Ou seja, uma pessoa pode ser plenamente capaz, mas faltar-lhe legitimidade para a prática de um ato específico (ex.: dois irmãos, maiores e capazes, não têm legitimidade para casar entre si, nos termos do art. 1521, IV, do Código Civil).[5: Art. 1.521. Não podem casar: (...) IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau inclusive;]
5 – Incapacidade absoluta
A incapacidade comporta uma variação: absoluta e relativa.
A incapacidade absoluta está prevista no art. 3o do Código Civil (que deve ser memorizado):
Art. 3º São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil:
I - os menores de dezesseis anos;
II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiveremo necessário discernimento para a prática desses atos;
III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.
Os absolutamente incapazes previstos no inciso I do art. 3º são também chamados de menores impúberes. O absolutamente incapaz no caso de enfermidade ou doença mental grave não é mais chamado de “louco de todo o gênero”, expressão usada pelo Código de 1916.
Em processo civil, estuda-se o procedimento de interdição (arts. 1177 a 1186 do CPC), por meio do qual é aferida a incapacidade, nomeando-se ao incapaz um curador. É uma ação de estado, de competência da Justiça Comum Estadual, ainda que gere efeitos em matéria afeta à Justiça Federal (Direito Previdenciário, por exemplo). Uma vez interditado o incapaz, qualquer ato que venha a praticar sem o seu representante, mesmo que em momento de lucidez, é inválido.
O que ocorre com o ato praticado por incapaz ainda não interditado? A despeito da omissão legislativa do direito brasileiro (o que não havia na redação original do art. 503 do Código da França), a doutrina pátria, por inspiração italiana (Orlando Gomes) afirma que o ato praticado pelo incapaz, ainda que não interditado, poderá ser impugnado, em havendo a concorrência de três elementos:
i) a incapacidade;
ii) o prejuízo ao incapaz; e
iii) a má-fé da outra parte (que pode ser circunstancialmente detectada, como pela análise do preço pago, por exemplo).
O inciso III do art. 3º não estava previsto no Código de 1916. Ele não está incluído no inciso II, pois não se trata de doença mental. Admite não somente a ausência de expressão da vontade por causa permanente como por causa transitória (ex.: a celebração de contrato por pessoa entorpecida com intoxicação fortuita, ou em coma no hospital).
O Código de 1916 trazia ainda duas outras situações de incapacidade absoluta: os surdos-mudos incapazes de manifestar vontade e os ausentes. Hoje, o surdo-mudo incapaz de manifestar vontade, posto não tenha tratamento explícito no art. 3º, implicitamente poderá ser considerado absolutamente incapaz, conforme o inciso III do art. 3º . Já a ausência, conforme será estudado em tópico próprio, é considerada causa de morte presumida.
6 – Incapacidade relativa
A incapacidade relativa está prevista no art. 4º do Código Civil:
Art. 4º São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer:
I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos;
II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido;
III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo;
IV - os pródigos.
Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial.
Os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos são os chamados menores púberes.
A toxicomania, a ebriedade e a deficiência que apenas reduzem a capacidade geram a incapacidade relativa. Há, portanto, graduação no discernimento. Se aquelas causas aniquilarem completamente o discernimento (perda completa de noção da realidade), a incapacidade será absoluta. Essa graduação dependerá do laudo médico produzido no procedimento da interdição.
Os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo, são também considerados relativamente incapazes. É um cuidado da lei com essas pessoas.
Prodigalidade não se confunde com o “gastador”. Traduz uma forma grave de transtorno psicológico (uma compulsão). O pródigo padece de grave desvio comportamental, por gastar imoderadamente o seu patrimônio (sua fazenda), podendo reduzir-se à miséria. O vício de jogo pode levar à prodigalidade.
O problema não seria do próprio cidadão? Se o cidadão reduz-se à penúria, terá de ser amparado por parentes ou pelo Estado, de modo que há um interesse social em zelar pelos interesses do pródigo.
O pródigo é considerado relativamente incapaz, devendo ser assistido por seu curador em atos de conteúdo patrimonial (art. 1782 do CC):
Art. 1.782. A interdição do pródigo só o privará de, sem curador, emprestar, transigir, dar quitação, alienar, hipotecar, demandar ou ser demandado, e praticar, em geral, os atos que não sejam de mera administração.
A proteção jurídica do pródigo busca inspiração na “teoria da proteção jurídica do patrimônio mínimo” (ou estatuto jurídico do patrimônio mínimo) desenvolvida por Luiz Edson Fachim. Segundo tal doutrina, na perspectiva da dignidade da pessoa humana, as normas civis devem sempre resguardar um mínimo de patrimônio para que cada indivíduo tenha vida digna. Essa é a razão, por exemplo, das normas do bem de família ou das que evitam a execução completa do patrimônio de uma pessoa.
O curador do pródigo não pode autorizar ou não a celebração do casamento, mas deverá manifestar-se previamente, na habilitação para casamento, quanto ao regime de bens adotado.
O Código Civil “lavou as mãos” quanto à capacidade do índio, remetendo a matéria à lei especial (o art. 8º do Estatuto do Índio, Lei 6.001/1976, trata do tema). São pouquíssimos os índios sem contato com a sociedade. Mas os que existem são considerados absolutamente incapazes:
Art. 8º São nulos os atos praticados entre o índio não integrado e qualquer pessoa estranha à comunidade indígena quando não tenha havido assistência do órgão tutelar competente. 
Parágrafo único. Não se aplica a regra deste artigo no caso em que o índio revele consciência e conhecimento do ato praticado, desde que não lhe seja prejudicial, e da extensão dos seus efeitos. 
7 – Questões de concurso relacionadas à capacidade e à incapacidade
7.1 – Benefício de restituição (ou restitutio in integrum)
Cuidado com a expressão restitutio in integrum: não é incomum encontrar julgados dando a ela o sentido de “reparação integral” de danos. No que se refere à capacidade, a expressão tem definição específica.[6: Nesse sentido: “O estado de necessidade, embora não exclua o dever de indenizar, fundamenta a fixação das indenizações segundo o critério da proporcionalidade. A adoção da restitutio in integrum no âmbito da responsabilidade civil por danos, sejam materiais ou extrapatrimoniais, nos conduz à inafastabilidade do direito da vítima à reparação ou compensação do prejuízo, ainda que o agente se encontre amparado por excludentes de ilicitude, nos termos dos arts. 1.519 e 1.520 do CC/1916 (arts. 929 e 930 do CC/2002), situação que afetará apenas o valor da indenização fixado pelo critério da proporcionalidade.” REsp 1.292.141-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 4/12/2012.]
O que se entende por benefício de restituição (ou restitutio in integrum)? O chamado benefício de restituição, segundo Clóvis Bevilaqua, consistia em um verdadeiro privilégio conferido ao incapaz para permitir que pudesse invalidar um negócio formalmente perfeito simplesmente alegando prejuízo. Tal instituto, dada a insegurança que gera, foi banido do Código velho explicitamente, entendendo-se que esta vedação ainda persiste.
O incapaz pode ter patrimônio e celebrar um contrato, desde que devidamente representado ou assistido. Se um incapaz celebra um negócio, devidamente representado, sem vício de vontade, esse negócio gera efeitos jurídicos.
O instituto conferia um direito tirânico ao incapaz de, a posteriori, alegar prejuízo para invalidar o negócio corretamente celebrado. Isso afronta a segurança jurídica, de modo que ele também não tem espaço no sistema atual.
7.2 – Impactos da redução da maioridade civil no direito de família e no direito previdenciário
Houve impacto da redução da maioridade civil dos 21 para os 18 anos nos direitos de família e previdenciário?[7: Art. 5º A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil. (...)]
Quando o Código Civil entrou em vigor, houve uma “chuva” de ações de exoneração de alimentos, em virtude da redução da maioridade. O STJ firmou entendimento no sentido de que o alcance da maioridade civil não implica cancelamento automático da pensão alimentícia (RESP 442.502/SP), que deverá ser paga, em regra, até a conclusão dos estudos(em torno de 24 anos).
Segundo o Tribunal, para que haja o cancelamento da pensão, exige-se a observância do contraditório em favor do alimentando (Súmula 358 do STJ). O pai tem de formular o pedido e o juiz abrir prazo para defesa. O cancelamento não pode se operar de forma automática. Curso preparatório também pode ser considerado, para a mesma finalidade. Tudo dependerá do caso concreto.
Súmula 358 - O cancelamento de pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade está sujeito à decisão judicial, mediante contraditório, ainda que nos próprios autos.
No campo previdenciário, é forte o entendimento segundo o qual a redução da maioridade civil não implica a negação do direito assegurado por lei previdenciária, por ser a lei previdenciária norma especial. Nesse sentido o Enunciado nº 3 da I Jornada de Direito Civil:.
Enunciado nº 3 – Art. 5º: a redução do limite etário para a definição da capacidade civil aos 18 anos não altera o disposto no art. 16, I, da Lei nº 8.213/91, que regula específica situação de dependência econômica para fins previdenciários e outras situações similares de proteção, previstas em legislação especial.
Assim, a redução da maioridade operada pelo Código Civil não prejudica a autoridade previdenciária, que determina, ao menos em regra, a idade de 21 anos para a cessação de determinados benefícios. A Nota SAJ 42/2003 foi orientação emanada da própria Administração Federal (Casa Civil da Presidência da República).
Cumpre, todavia, indagar: é possível tomar por base, no campo previdenciário, a mesma alegação da necessidade de conclusão dos estudos (permanência da necessidade), para a manutenção do benefício? Julgando o RESP 1.074.181/PB, o STJ afirmou que não se mostra viável prorrogação de benefício previdenciário sob a alegação de necessidade de conclusão dos estudos (“uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”).
7.3 – Idade avançada e incapacidade civil
A idade avançada (senilidade) é causa de incapacidade civil? O simples fato da idade avançada não é causa de incapacidade civil. Juntamente, deve haver algum tipo de deficiência mental.
A Lei 12.344, de 9 de dezembro de 2010, aumentou para 70 anos a idade a partir da qual se torna obrigatório o regime de separação de bens. A restrição de escolha do regime de bens não reflete uma incapacidade, mas uma limitação, de constitucionalidade duvidosa.[8: Ver o Editorial 16, na página de Pablo, com artigo que trata do tema.]
8 – Emancipação
O Código Civil entrou em vigor em 11 de janeiro de 2003 (segundo a maioria da doutrina), reduzindo a maioridade civil, equiparando-a à penal.
Surge a dúvida: a aquisição da maioridade ocorre no primeiro instante do dia em que o natalício é completado ou quando tal dia se completa? Segundo Washington de Barros Monteiro, a maioridade é atingida no primeiro instante do dia em que se completam 18 anos.
Sucede que, por meio da emancipação, instituto internacionalmente conhecido (ex.: art. 133 do Código de Portugal), é possível a antecipação da capacidade plena, em três hipóteses (ou espécies): emancipação voluntária, judicial ou legal.
8.1 – Emancipação voluntária
A emancipação voluntária está prevista no art. 5o, parágrafo único, I, primeira parte, do Código Civil:
Art. 5º A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil.
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos; (...)
Trata-se daquela concedida por ato dos pais (ou por um deles na falta do outro), mediante instrumento público, independentemente da homologação do juiz, em caráter irrevogável, e desde que o adolescente tenha pelo menos dezesseis anos completos.
Trata-se da forma mais comum de emancipação. É um ato de ambos os pais (a menos que um deles seja falecido ou destituído do poder familiar). A mãe que detém apenas a guarda não pode sozinha emancipar o filho, na medida em que o pai que não detém a guarda mantém o poder familiar. A emancipação é um ato conjunto, pelo princípio da isonomia, pois acaba com o poder familiar da ambos.
Ela somente poderá ser realizada por instrumento público, ainda que independa de homologação do juiz e tenha caráter irrevogável, desde que o adolescente tenha pelo menos 16 anos.
A emancipação voluntária não isenta os pais da responsabilidade dos pais pelo ato ilícito praticado pelo filho, ainda que, na literalidade da lei (ortodoxamente falando) eles estariam sim isentos de responsabilidade (a doutrina já atinou nesse sentido, no passado). Essa observação é feita por Silvio Venosa, com base na jurisprudência do próprio STF (RTJ 62/108, RT 494/92): a responsabilidade civil dos pais, na emancipação voluntária, persiste até que o menor complete 18 anos de idade.
O adolescente a ser emancipado deve autorizar a emancipação? Não há nenhum sentido lógico nesse entendimento. Trata-se de um direito potestativo dos pais. É recomendável, contudo, que o adolescente participe do ato, tomando ciência do ato emancipatório, sob pena de ineficácia da própria emancipação. A participação dele, contudo, não é obrigatória, mas concede eficácia social ao ato, perante o próprio emancipado.
8.2 - Emancipação judicial
A emancipação judicial está prevista no art. 5º, parágrafo único, I, segunda parte, do Código Civil:
Art. 5º A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil.
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade:
I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos;
Trata-se daquela concedida por ato do juiz em face de adolescentes sob tutela, ouvido o tutor, desde que o adolescente tenha pelo menos dezesseis anos completos.
Quem emancipa o adolescente tutelado não é o tutor, mas o juiz. Quem faz o pedido é o adolescente, representado pelo tutor ou por um curador (nomeado pelo juiz), mas sempre ouvido o tutor.
8.3 – Emancipação legal
As hipóteses de emancipação legal estão previstas no art. 5o, parágrafo único, II a V, do Código Civil:
Art. 5º A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil.
Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade: (...)
II - pelo casamento;
III - pelo exercício de emprego público efetivo;
IV - pela colação de grau em curso de ensino superior;
V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria.
As hipóteses de emancipação legal são fatos a que a lei atribui força de emancipar.
8.3.1 – casamento
A idade mínima para a capacidade núbil no Brasil, com o Código Civil de 2002, passou a ser adquirida tanto pelo homem quanto pela mulher aos 16 anos de idade. O Código Civil de 1916 previa tal aquisição para o homem aos 18 anos e à mulher, aos 16. O legislador pressupunha que a mulher amadurecia antes.
Na atual disciplina legal da matéria, entre os 16 e os 18 anos é necessária autorização dos representantes legais ou do juiz para participar do ato matrimonial. O que emancipa nesta hipótese não é a autorização, mas o próprio casamento.
Oportunamente, em direito de família, serão estudadas as hipóteses especiais que há do Código para casamento abaixo da idade núbil (art. 1.520). A reforma penal as esvaziou muito. Também serão estudadas as implicações da emancipação no estudo do casamento.[9: Art. 1.520. Excepcionalmente, será permitido o casamento de quem ainda não alcançou a idade núbil (art. 1517), para evitar imposição ou cumprimento de pena criminal ou em caso de gravidez.]
Ainda que o casal venha a se divorciarposteriormente, a emancipação decorrente do casamento permanece, pois o ato do divórcio tem efeitos para o futuro.
Em caso de invalidade do casamento, todavia, considerando-se que segundo respeitável doutrina a eficácia da sentença de invalidação é retroativa, cancelando o próprio registro de casamento, é razoável concluir-se que, salvo putatividade, o efeito emancipatório desaparecerá.[10: Zeno Veloso, José Fernando Simão, Flávio Tartuce, Pablo Stolze.]
Como também será estudado em direito de família, em algumas situações, invalidado o casamento, determinados efeitos podem ser mantidos, em havendo boa-fé. O estado civil daquele que tem o casamento anulado é o de solteiro, e não divorciado.
8.3.2 – exercício de emprego público efetivo
Em prova objetiva, deve-se marcar a alternativa que reflita o disposto no Código Civil. Em prova dissertativa, no entanto, deve-se chamar a atenção para o fato de que, se o emprego público emancipa, o cargo público também emanciparia.
O dispositivo, segundo Pablo Stolze, é vazio, na medida em que hoje tanto os editais como a legislação acerca do tema exigem ao menos 18 anos de idade para o ingresso em emprego público. Há, no entanto, um exemplo factível: a legislação militar permite o ingresso, como aspirante (efetivo), aos 17 anos de idade.
8.3.3 – colação de grau em curso de ensino superior
A hipótese de colação de grau em curso de ensino superior é ainda mais vazia, mas pode ocorrer (ex.: caso do menino da Universidade Federal de São Carlos, que ingressou no mestrado aos 17 anos).
Não é a aprovação no vestibular que emancipa, mas a conclusão do curso superior (a colação de grau).
8.3.4 – estabelecimento civil ou comercial, ou existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o adolescente com dezesseis anos completos tenha economia própria
8.3.4.1 – hipóteses
Trata-se de hipótese tríplice: estabelecimento civil, estabelecimento comercial e existência de relação de emprego.
A diferença entre estabelecimento civil e o empresarial é a seguinte: estabelecimento civil seria a prestação de um serviço pela própria pessoa, como aula de música, de matemática. Já a atividade empresarial seria aquela “barraquinha” na feira, de compra e venda de materiais.
Veja que o adolescente empregado (com ou sem registro), de pelo menos 16 anos completos, que tenha economia própria, é emancipado por força de lei (embora muitas vezes nem saiba disso).
O adolescente que perde o emprego perde a emancipação? A lei não dá a solução. A doutrina majoritária entende que não, para evitar insegurança jurídica. 
Esta emancipação prevista no art. 5º, V, do Código Civil não depende de sentença judicial. Deriva da lei, podendo ser incidentalmente alegada em qualquer procedimento (ex.: numa ação de indenização contra o adolescente).
8.3.4.2 – interdição de menor
Existe interesse jurídico-civil em interditar um menor de pais vivos e detentores do poder familiar? O adolescente, portador de grave doença mental que o prive da capacidade de discernimento, com mais de 16 anos, tem de ser interditado, para que os pais tenham sobre ele plena representação.
Observação acerca de internação compulsória: historicamente se entendia que o instituto da internação compulsória somente seria possível no âmbito do direito penal, nos casos de medida de segurança. No HC 135.271/SP, o STJ se baseou na Lei 10.216/01, art. 4º para reconhecer a internação compulsória no âmbito do direito civil, notadamente em razão da proteção do próprio interditando ou de terceiros. É possível, portanto, que o juiz determine internação compulsória, em uma ação de interdição, para o adolescente que tenha acabado de cumprir medida socioeducativa de internação, desde que comprovado o preenchimento dos requisitos para a aplicação da medida mediante laudo médico circunstanciado, diante da efetiva demonstração da insuficiência dos recursos extra-hospitalares. 
8.3.4.3 – economia própria
O que se entende por economia própria? O salário mínimo traduziria economia própria?
Pode-se afirmar que o moderno direito civil adotou um sistema aberto de normas, permeado por conceitos indeterminados e cláusulas gerais, os quais, à luz do princípio da operabilidade, deverão ser preenchidos pelo juiz à luz do caso concreto.[11: Acerca do tema, ver referência a texto de Miguel Reale no material de apoio.]
Quando o Código Civil Francês foi editado, viveu-se certa embriaguez intelectual, pois os juristas franceses imaginaram que todas as hipóteses da vida estariam previstas na lei, de modo que o juiz seria a boca da lei. Com a evolução da sociedade, sobretudo após meados do século XX, os sistemas passaram a ser abertos, prevendo cláusulas gerais. O Código Civil torna-se operacional, na medida em que os conceitos jurídicos abertos passaram a poder ser preenchidos pelo juiz, de modo fundamentado. Isso viabiliza a perenidade das normas.
Segundo os elaboradores do Código Civil, os princípios que informaram sua elaboração foram: a operabilidade, a eticidade (preocupação com o aspecto ético da norma) e a socialidade (preocupação com a função social dos institutos).
Economia própria é, portanto, um conceito aberto, vago, que deverá ser preenchido pelo juiz à luz do caso concreto (exemplos de conceitos dessa natureza: justa causa, família). Desse modo, dependendo da análise das circunstâncias do caso concreto, o salário mínimo pode ou não ser considerado economia própria, conforme se trate, por exemplo, de uma família pobre ou de classe média.
8.3.4.4 – diferença entre conceito aberto indeterminado e cláusula geral
A existência de diferença entre conceito aberto indeterminado e cláusula geral depende da escola teórica a que se filie.
Na linha de pensamento de Judith Martins-Costa, a cláusula geral compreenderia um conceito indeterminado, mas teria uma força normativa ainda maior, na medida em que vincularia a própria atividade do juiz (José de Oliveira Ascensão). Segundo essa concepção, a cláusula geral imporia ao juiz um mandato, ao ponto de chegar a ter, em determinados casos, força de princípio (matiz principiológica), interferindo na atividade do Juiz (exemplos: boa-fé objetiva, função social).
8.4 - Questões especiais relacionadas à emancipação
8.4.1 – emancipação e imputabilidade penal
O adolescente emancipado não pode ser criminalmente processado e preso, uma vez que a emancipação não antecipa a imputabilidade penal, que só advém a partir dos 18 anos.
Paulo Godoy afirma, no campo empresarial, que o emancipado por conta de estabelecimento comercial pode falir, mas não comete crime falimentar (adolescentes cometem atos infracionais, segundo o ECA). Luiz Flávio Gomes afirma que o adolescente emancipado, todavia, pode ser civilmente preso. A prisão civil não é prisão-pena.
8.4.2 – emancipação e condução de veículos automotores
Por que o emancipado não pode dirigir? Para dirigir, é necessário que o condutor seja penalmente imputável (art. 140, I, CTB). Por essa mesma razão, o emancipado não pode ter CNH:
Art. 140. A habilitação para conduzir veículo automotor e elétrico será apurada por meio de exames que deverão ser realizados junto ao órgão ou entidade executivos do Estado ou do Distrito Federal, do domicílio ou residência do candidato, ou na sede estadual ou distrital do próprio órgão, devendo o condutor preencher os seguintes requisitos:
I - ser penalmente imputável; (...)
9 – Extinção da pessoa natural (ou física)
O art. 6º do CC traz a regra segundo a qual a morte marca o fim da existência da pessoa natural:
Art. 6º A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva.
9.1 – morte encefálica
A morte é dos temas mais difíceis do direito.
A tanatologia, ramo da medicina legal, estuda o processo da morte. A comunidade científica mundial, hodiernamente, considera a morte encefálica, dada a sua irreversibilidade, o critério mais seguro e adequado, inclusive para fins de transplante, para a identificação do óbito(Resoluções 1480/1997 e 1826/2007, do Conselho Federal de Medicina).
Fazendo uma leitura cardiorrespiratória, o médico poderá chegar à morte encefálica. Todavia, o critério é a morte encefálica. Maria Helena Diniz narra que, no passado, a parada cardiorrespiratória (situação de quase-morte) era considerada morte.[12: A esse respeito, ver “O estado atual do biodireito”.]
A morte deve ser aferida, à vista do corpo morto, por médico, salvo, na sua falta, duas pessoas declararem o óbito (arts. 77 e seguintes da LRP). A declaração é levada em cartório e o óbito é registrado no Livro de Óbitos:
Art. 77 - Nenhum sepultamento será feito sem certidão, do oficial de registro do lugar do falecimento, extraída após a lavratura do assento de óbito, em vista do atestado de médico, se houver no lugar, ou em caso contrário, de duas pessoas qualificadas que tiverem presenciado ou verificado a morte. (...) 
9.2 – Morte presumida
Além da morte natural (encefálica), existem na lei hipóteses de morte presumida: i) por ausência, quando aberta a sucessão definitiva (arts. 22 e seguintes); ou ii) sem decretação de ausência, nas situações do art. 7o do CC.
9.2.1 – ausência[13: Na apostila nº 1, de Pablo Stolze, há um texto detalhado tratando da ausência.]
Ausência, na verdade, é mais Direito Processual que Civil. É um processo com a finalidade de transmitir para os herdeiros o patrimônio daquele que desapareceu. Nos concursos, o que cai é normalmente a letra de lei.
A ausência caracteriza-se quando o sujeito desaparece de seu domicílio, sem deixar notícia ou representante, de maneira que, para que o seu patrimônio não fique sem titular, estabeleceu a lei um procedimento de transmissibilidade dos bens, regulado a partir do art. 22 do CC e detalhadamente descrito no texto complementar do material de apoio. No momento em que é transmitido o patrimônio, o sujeito é considerado morto.
9.2.2 – casos em que a lei autoriza a abertura da sucessão definitiva
Os casos em que a lei autoriza a abertura da sucessão definitiva estão previstos no art. 7º do Código Civil e são mais importantes, para fins de concurso:
Art. 7º Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência:
I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida;
II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra.
Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento.
Nessas situações, existem elementos convincentes de que a pessoa morreu. O procedimento para declarar este óbito é o comum de justificação.
O exemplo mais famoso de utilização do inciso I é o do falecimento de Ulysses Guimarães. Há outros, todavia, como o do sujeito que vai fazer alpinismo e não é mais encontrado desde então.
9.3 – Comoriência
A comoriência, regulada no art. 8º do Código Civil, traduz a situação em que duas ou mais pessoas falecem na mesma ocasião, sem que se possa indicar a ordem cronológica dos óbitos, razão pela qual, segundo o nosso sistema, abrem-se cadeias sucessórias autônomas e distintas.
Art. 8º Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos.
O conceito de comoriência não se confunde com o de premoriência, que consiste na situação de pré-morte, com importantes efeitos sucessórios (ex.: “A”, autor da herança, tem 3 filhos, “B”, “C” e “D”. Se “B” é pré-morto, “E” e “F”, filhos de “B”, sucederão).
O Código Civil Francês, inspirado no direito romanista, possuía previsões psicodélicas, como a que determinava que a mulher morreria antes do homem. A solução brasileira é muito melhor: presunção de mortes simultâneas. Isso não significa morte no mesmo lugar, ainda que, em 99% das vezes as pessoas estejam no mesmo lugar.
A comoriência tem como consequência o fato de que um comoriente nada transmite para o outro (TJRS, AI n. 598569952). Abrem-se cadeias sucessórias independentes.
DOS DIREITOS DA PERSONALIDADE
1 – Teoria geral dos direitos da personalidade
1.1 – Personalidade Jurídica, capacidade jurídica e direitos da personalidade
Historicamente, a personalidade jurídica foi conceituada como a aptidão para ser sujeito de direitos (aptidão para titularizar relações jurídicas). Haveria, portanto, uma relação verdadeiramente implicacional: toda pessoa tem personalidade jurídica e quem possui personalidade jurídica possui aptidão para ser sujeito de direito (titularizar relações jurídicas).[14: Ver a esse respeito a obra de Maria Helena Diniz.]
Há algum tempo, alguns autores como Pontes de Miranda começaram a atacar esse conceito, lembrando a situação dos entes despersonalizados, como o condomínio, massa falida, herança jacente, herança vacante etc. O condomínio edilício, por exemplo, pode ser consumidor, empregador, contratante, contribuinte, parte no processo (art. 12, CPC), podendo-se concluir que ele é sim sujeito de direitos, pois titulariza diversas relações jurídicas. Não só ele, mas todos os entes despersonalizados.[15: Art. 12. Serão representados em juízo, ativa e passivamente: (...) IX - o condomínio, pelo administrador ou pelo síndico.]
Pontes de Miranda demonstrou a fragilidade daquele histórico conceito de personalidade jurídica. Se personalidade jurídica significa ter aptidão para ser sujeito de direitos, como justificar que aqueles sujeitos de direito não têm personalidade jurídica? Pontes foi o primeiro a criticar essa correlação.
À luz do CC/2002, passou-se a reconhecer o conceito por outro prisma: toda pessoa tem personalidade jurídica, que significa titularizar uma proteção básica fundamental, essencial (essa proteção tem a ver com a essência da personalidade): os direitos da personalidade.
Portanto, os direitos da personalidade constituem a proteção básica elementar reconhecida a todos os detentores de personalidade. Os direitos da personalidade constituem a categoria jurídica fundamental do sistema, uma vez que sistema do Direito Civil é constituído para a proteção da pessoa.
O reconhecimento dos direitos da personalidade implicou na valorização do conceito de personalidade jurídica. Isso porque antes do reconhecimento dos direitos da personalidade, a personalidade jurídica significava a titularidade de direitos e obrigações (a rigor, pessoa não se diferenciava de ente despersonalizado). Os direitos da personalidade, de construção recente (a partir da 2a Guerra Mundial) tendem a proteger a pessoa.
Ente despersonalizado não sofre, portanto, dano moral, pois somente as pessoas podem sofrê-lo.
Ao lado do conceito de personalidade, vem o conceito de capacidade jurídica: a aptidão para ser sujeito de direito. Pode ser plena, quando o sujeito de direito pode praticar os atos pessoalmente, ou limitada, quando o sujeito de direito não pode praticar os atos pessoalmente.
Uma criança com dez anos de idade é pessoa, com personalidade, direitos da personalidade e capacidade, mas não pode praticar pessoalmente os atos da vida civil. Um condomínio não é pessoa, não tem direitos da personalidade, mas tem capacidade.
Quem dispõe de personalidade dispõe também de capacidade. Mas a recíproca não é verdadeira, de modo que toda pessoa tem capacidade, mas nem todo aquele que tem capacidade é uma pessoa. Todos esses conceitos brotam, portanto, dos direitos da personalidade.
Assim, personalidade serve para titularizar relações existenciais; capacidade serve para titularizar relações patrimoniais. O art. 1o do Código Civil determina isso:
Art. 1o Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil.
Pode-se completar o texto do dispositivo com a seguinte frase “mas nem todo aquele que é capaz é uma pessoa”. E mais: a pessoa se distingue dos demais entes que têm capacidade por conta dos direitos da personalidade.
1.2 – Cláusula geral de proteção da personalidade: dignidade da pessoahumana
Direitos da personalidade são direitos subjetivos (aqueles que conferem ao titular a prerrogativa de exigir de alguém comportamentos positivos ou negativos), de construção recente, reconhecendo uma proteção mínima à essência da personalidade (ex.: nome, honra, privacidade, integridade física e psíquica etc.)
A partir desse conceito, nota-se que os direitos da personalidade trazem consigo a indagação: estão estabelecidos de forma taxativa ou exemplificativa na lei? Certamente o rol é exemplificativo, na medida em que se trata de direitos essenciais da pessoa.
Seguindo as pegadas dos direitos italiano, português e espanhol, o direito brasileiro estabeleceu a cláusula geral de proteção da personalidade (ou direito geral da personalidade): o reconhecimento de que o rol é exemplificativo.
Não é necessário que todos os direitos da personalidade estejam explicitados, justamente por conta dessa cláusula geral: a dignidade da pessoa humana, prevista no art. 1o da CR:
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: (...)
III - a dignidade da pessoa humana;
É possível resumir tudo o quando dito neste tópico em uma frase: os direitos da personalidade reconhecem um direito à vida digna nas relações privadas. Fala-se aqui na relação jurídica privada porque no campo do direito público a dignidade alcança outros fins (saúde, educação, segurança etc.)
A dignidade da pessoa humana não comporta um conceito hermético e fechado. No livro “O conteúdo jurídico do princípio da igualdade”, de Celso Antonio Bandeira de Melo, o autor coloca que princípios fundamentais não comportam conceitos rígidos. Entretanto, segundo o autor, se não é possível conceituar um princípio fundamental, é possível apresentar um conteúdo mínimo desse princípio, um núcleo duro.
Os constitucionalistas são unânimes ao estabelecerem o conteúdo jurídico mínimo do princípio da dignidade da pessoa humana (veja que os direitos da personalidade passam necessariamente por esse conteúdo mínimo):
i) integridade física e psíquica:
A Lei 11.346/2006, por exemplo, reconhece o direito à alimentação adequada.
ii) liberdade e igualdade:
O Supremo Tribunal Federal, nos acórdãos prolatados em julgamento da ADPF 132/RJ e da ADI 4277/DF, reconheceu a inconstitucionalidade de distinção de tratamento legal às uniões estáveis constituídas por pessoas de mesmo sexo. O Superior Tribunal de Justiça, em julgamento do RESP 1.183.378/RS, decidiu inexistir óbices legais à celebração de casamento entre pessoas de mesmo sexo.
Essas foram as considerações feitas pelo CNJ quando editou a Resolução nº 175, de 14 de maio de 2013, que dispõe sobre a habilitação, celebração de casamento civil, ou de conversão de união estável em casamento, entre pessoas de mesmo sexo.
iii) direito ao mínimo existencial (direito ao patrimônio mínimo).
A Lei 11.372/2006, por exemplo, modificou o art. 649 do CPC, implantando o conceito de bem de família móvel, com base no padrão médio de vida digna. A partir dessa lei, tornou-se possível a penhora de bens móveis de elevado valor. Ex.: penhora de televisão altamente valiosa, e o valor arrecadado devolvido ao devedor, para que ele adquira uma TV de padrão médio, entregando o restante ao credor.
O Presidente da República vetou o dispositivo da lei que aplicava o conceito de padrão médio aos bens imóveis. Se o devedor possuir um imóvel único que valha R$ 8.000.000,00 e o credor está morrendo de fome (trabalhista), pela letra fria da lei não seria possível a realização da penhora.
Marinoni (tese dele), Didier e o Cristiano Chaves sustentam a aplicação direta do princípio da dignidade a admitem a penhora de imóvel de elevado valor. Recentemente (2011), o STJ afastou a tese de Marinoni, não aplicando a norma-princípio e aplicando diretamente a norma-regra. Assim, para o STJ, imóvel único de elevado valor continua impenhorável, nas mesmas pegadas da Lei 11.382/2006.
Chaves recomenda não se empolgar com a ideia a ponto de imaginar que os direitos da personalidade se confundiriam com direitos fundamentais e direitos humanos. São três perspectivas distintas.
Direitos da personalidade dizem respeito às relações numa perspectiva privada, enquanto os direitos humanos relacionam-se às relações de direito internacional. Estes são cosmopolitas, enquanto que aqueles são provincianos. Os direitos fundamentais, por sua vez servem tanto às relações direito público quando de direito privado. Sua perspectiva é estatal. A dos direitos da personalidade é privada. Trata-se, portanto, de categorias jurídicas distintas.
O STF, no julgamento do RE 201.819/RJ (da Associação de Compositores) mandou aplicar os direitos fundamentais em sua perspectiva horizontal (eficácia horizontal dos direitos fundamentais). Trata-se da aplicação dos direitos fundamentais nas relações privadas.
1.3 – Momento aquisitivo dos direitos da personalidade
Como visto, há três teorias explicativas da natureza jurídica do nascituro: natalista, concepcionista e condicionalista (ou teoria da personalidade condicional, de Serpa Lopes). A partir desse estudo, pode-se estabelecer que o momento aquisitivo dos direitos da personalidade é a concepção (teoria concepcionista).
Historicamente, o conceito de concepção, inclusive harmonizando direito civil e direito penal (notadamente o tratamento jurídico do crime de aborto dado por aquela disciplina), sempre foi o da nidação (o prendimento do embrião nas paredes do útero).
Assim, segundo Cristiano Chaves, é a nidação o momento da aquisição dos direitos da personalidade.
1.4 – Questões polêmicas relacionadas à aquisição dos direitos da personalidade
1.4.1 – natimorto
O natimorto é aquele que foi concebido, mas não nasceu com vida. Ele tem direitos da personalidade, na medida em que o momento aquisitivo dos direitos da personalidade é a concepção (que é reconhecida ao natimorto). O motivo é simples: tem direitos da personalidade (ex.: imagem, nome, sepultura) porque foi concebido.
Nesse sentido, confira-se o enunciado nº 1 da Jornada de Direto Civil:
Enunciado nº 1 – Art. 2º: A proteção que o Código defere ao nascituro alcança o natimorto no que concerne aos direitos da personalidade, tais como: nome, imagem e sepultura.
No Rio de Janeiro, uma gestante foi gravando os exames de ultrassom. O médico resolveu usar as imagens da criança para realizar propaganda da clínica. Ela ajuizou ação contra a clínica por uso indevido de imagem: a legitimidade é do nascituro, representado por sua mãe. O pedido foi de proibição do uso da sua imagem, que restou julgado procedente.
Se nessa ação houvesse sido pleiteada também indenização por danos e o processo houvesse andado tão rápido que a sentença de procedência tivesse transitado em julgado antes do nascimento, a mãe não poderia levantar o dinheiro, pois até o nascimento com vida o nascituro não adquire direitos patrimoniais (não foram transmitidos direitos).
1.4.2 – embrião laboratorial (criogenizado/congelado)
O embrião laboratorial tem direitos da personalidade?
O enunciado nº 2 da I Jornada de Direito Civil estabeleceu que o Código Civil não seria o locus privilegiado para discutir essa matéria, mas uma lei especial: a Lei 11.105/2005 (Lei de Biossegurança), que trata do assunto em seu art. 5º, objeto da ADI 3510/DF, que restou julgada improcedente pelo STF.[16: Enunciado nº 2 – Art. 2º: Sem prejuízo dos direitos da personalidade nele assegurados, o art. 2º do Código Civil não é sede adequada para questões emergentes da reprogenética humana, que deve ser objeto de um estatuto próprio.]
Este art. 5º estabelece que, no direito brasileiro, somente é possível preparar embriões congelados para fins de reprodução humana:
Art. 5o É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e não utilizados no respectivo procedimento, atendidas as seguintes condições:I – sejam embriões inviáveis; ou
II – sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou mais, na data da publicação desta Lei, ou que, já congelados na data da publicação desta Lei, depois de completarem 3 (três) anos, contados a partir da data de congelamento. (...)
Veja que o direito brasileiro não admite o preparo de embriões para fins científicos, mas admite a utilização do embrião excedentário.
O dispositivo não ignora que, ao preparar embriões para fins reprodutivos, podem sobrar alguns. Esses embriões congelados excedentários devem ser guardados pelo prazo de 3 anos, findo o qual a clínica notificará o casal para manifestar interesse em nova fertilização. Caso não haja tal interesse, ela os descarta, encaminhando-os para pesquisas com células-tronco. 
Assim, de acordo com a decisão do STF, está afastada aplicação dos direitos da personalidade aos embriões congelados, uma vez que é possível o descarte.
1.4.3 – direito sucessório do embrião congelado cujo pai faleceu antes da sua implantação no útero (art. 1.798, CC)
O art. 1.798 do Código Civil fixa a capacidade sucessória, dizendo que “legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão”:
Art. 1.798. Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão.
Nascidas são as pessoas separadas do cordão umbilical. Há dois tipos de concepção: a uterina (nidação) e a laboratorial (fertilização assistida). 
Alguns autores, como Caio Mário da Silva Pereira, negam o direito sucessório ao embrião laboratorial (congelado) sob o argumento de que o conceito de concepção é uterino. De outro lado, autores como Maria Berenice Dias e Giselda Hironaka defendem o direito sucessório do embrião congelado com base no princípio constitucional da igualdade entre os filhos (tese majoritária).
Chaves concorda com a segunda corrente: embrião laboratorial tem direito sucessório, ainda que não tenha direitos da personalidade. Isso porque o direito sucessório é de natureza patrimonial (lembrar que há entes despersonalizados que possuem direitos patrimoniais). Por isso, o reconhecimento de direito patrimonial ao embrião não colide com a negação dos direitos da personalidade.
1.5 – Momento extintivo dos direitos da personalidade
Os direitos da personalidade extinguem-se com a morte. Se a morte extingue a personalidade, naturalmente ela extingue também os direitos da personalidade. Até porque não pode ter direitos da personalidade quem não dispõe de personalidade.
Sabendo que a morte é o termo extintivo dos direitos da personalidade, pode-se afirmar que eles são intransmissíveis e vitalícios. Não são perpétuos. Ninguém transmite os direitos da personalidade. Porém, há situações polêmicas relativas à extinção dos direitos da personalidade, que serão tratadas a seguir.
1.6 – Questões polêmicas relacionadas à extinção dos direitos da personalidade
1.6.1 – sucessão processual (art. 43 do CPC)
Art. 43. Ocorrendo a morte de qualquer das partes, dar-se-á a substituição pelo seu espólio ou pelos seus sucessores, observado o disposto no art. 265.
Na sucessão processual, o titular de um direito da personalidade sofre uma lesão ainda vivo, promove a ação e falece no curso do procedimento. Nesse caso, seus sucessores se habilitam no processo e dão continuidade a ele.
Note que a questão é meramente processual, sequer cogitando de direito material. Não se pode dizer, por essa razão, que esse instituto implicaria em transmissão dos direitos da personalidade. Há uma mera sucessão dentro do processo. Os herdeiros apenas dão continuidade a uma relação processual que já havia se iniciado.
1.6.2 – transmissão do direito à reparação de danos (art. 943 do CC)
Art. 943. O direito de exigir reparação e a obrigação de prestá-la transmitem-se com a herança.
Se o titular de um direito da personalidade sofreu a lesão ainda vivo e faleceu sem promover a ação, transmite-se ao seu espólio o direito de requerer a indenização em seu lugar.
Detalhe: o que o morto transmite ao seu espólio é o direito patrimonial de exigir a reparação do dano (o direito de requerer a indenização), e não o direito da personalidade. Não se confunde direito da personalidade com direito patrimonial de requerer uma indenização por violação do direito da personalidade (“uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa”). 
A redação do art. 943 é bastante clara nesse sentido: o espólio recebe o direito de requerer a reparação. O juiz fixará uma só indenização, e não tantas quantas forem os herdeiros. A indenização irá ao falecido, como se vivo fosse, e se transmitirá ao espólio. 
O direito de exigir a reparação, que é transmitido ao espólio, pressupõe a não ocorrência de prescrição, na medida em que ninguém pode transmitir mais do que possui. Ex.: “A” sofre dano a sua personalidade em janeiro de 2009 e morre em janeiro de 2011. Lembrando que o prazo de prescrição da pretensão reparatória é de três anos, o espólio de “A” dispõe de apenas um ano para promover a ação. O direito do espólio de requerer a reparação do dano tem de ser exercido no prazo prescricional que já se iniciou.
1.6.3 – lesados indiretos (art. 12, parágrafo único do CC)
Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei.
Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau.
No caso dos lesados indiretos, o dano ao direito da personalidade ocorre depois do óbito do titular. Atingirá diretamente o morto, e, nessa condição, não produzirá efeito jurídico nenhum. Contudo, além de atingir diretamente o morto, esse dano atinge também, indiretamente, os seus parentes vivos. Disso decorrem efeitos, os quais são titularizados pelos chamados lesados indiretos (os familiares do morto atingidos indiretamente pelo dano diretamente dirigido ao morto).
Problema: a indenização será buscada em nome próprio defendendo interesse próprio (legitimado ordinário) ou em nome próprio defendendo direito alheio (substituto processual)? Trata-se de legitimação autônoma (ordinária). O sujeito atua em nome próprio, defendendo interesse próprio. Ele não é substituto processual.
Os lesados indiretos, quando ajuízam uma ação, estão defendendo um direito da personalidade próprio, consistente em defender a personalidade de seus parentes mortos. São eles: 
i) cônjuge:
O Código não diz, mas numa interpretação civil-constitucional, pode-se acrescentar o companheiro e o parceiro homoafetivo.
ii) descendentes;
iii) ascendentes;
iv) colaterais até o quarto grau:
Aqui não se aplica a ordem de vocação sucessória. Cada um dos lesados indiretos é legitimado concorrentemente. Isso significa que tanto um filho quanto um sobrinho na Austrália podem demandar. Todavia, os valores indenizatórios não serão necessariamente os mesmos, variando de acordo com o dano sofrido (o mais afastado sofre menos). Trata-se de litisconsórcio facultativo ativo. Serão tantas indenizações quantas forem as ações.
Questões transcendentais relacionadas aos lesados indiretos:
i) o rol dos lesados indiretos é taxativo ou exemplificativo? Exemplificativo. E, como tal, admite-se a inclusão de outras pessoas ligadas afetivamente ao morto. Ex.: a namorada, a noiva, o enteado etc.
ii) o rol dos lesados indiretos sofrerá a exclusão dos colaterais até o quarto grau quando se tratar de violação do direito à imagem. Isso porque o CC entende que o direito à imagem é mais fluido e, como os colaterais não são tão próximos, não seriam merecedores dessa proteção.
Art. 20. Salvo se autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública, a divulgação de escritos, a transmissão da palavra, ou a publicação, a exposição ou a utilização da imagem de uma pessoa poderão ser proibidas, a seu requerimento e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem ahonra, a boa fama ou a respeitabilidade, ou se se destinarem a fins comerciais.
Parágrafo único. Em se tratando de morto ou de ausente, são partes legítimas para requerer essa proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes.
Há dois julgados famosos, nos quais o STJ reconheceu os lesados indiretos: REsp 86.109 e REsp 521.697/RJ.
O REsp 86.109 trata do caso de Lampião e Maria Bonita. A filha do casal descobriu que a imagem de seus pais vinha sendo indevidamente utilizada. Os irmãos de Lampião não poderiam ter ajuizado a ação (art. 20, parágrafo único, do CC e Enunciado 5 da Jornada):
Enunciado nº 5 - Arts. 12 e 20: 1) As disposições do art. 12 têm caráter geral e aplicam-se, inclusive, às situações previstas no art. 20, excepcionados os casos expressos de legitimidade para requerer as medidas nele estabelecidas; 2) as disposições do art. 20 do novo Código Civil têm a finalidade específica de regrar a projeção dos bens personalíssimos nas situações nele enumeradas. Com exceção dos casos expressos de legitimação que se conformem com a tipificação preconizada nessa norma, a ela podem ser aplicadas subsidiariamente as regras instituídas no art. 12.
No REsp 521.697/RJ, foi discutida a seguinte questão: o jornalista Rui Castro escreveu uma biografia dizendo que Garrincha tinha um órgão genital avantajado. Os filhos de Garrincha, considerando que o pai nunca revelara tal característica, ajuizaram ação. Os irmãos, filhos e viúva de Garrincha poderiam ajuizar a ação, por não se tratar de violação ao direito à imagem, mas à intimidade.
É possível a tutela judicial dos direitos da personalidade de pessoa morta. Os lesados indiretos são titulares de tal tutela, malgrado não haja direitos da personalidade do morto. O direito penal há muito trata do crime de vilipêndio a cadáver. O CPP legitima a revisão criminal em favor do morto, pelos familiares.
1.7 – Fontes dos direitos da personalidade
Neste tópico serão analisados a origem, o nascedouro dos direitos da personalidade (de onde eles brotam).
Há uma corrente majoritária, encabeçada por Maria Helena Diniz, que sustenta que os direitos da personalidade nascem do jusnaturalismo. O jusnaturalismo possui origens cristãs, de modo que os defensores dessa corrente sustentam que os direitos da personalidade emanam de uma ordem pré-concebida. Ou seja, eles não teriam natureza jurídica, na medida em que não emanariam do direito positivo. 
O grande exemplo propagado por esses autores é o Tribunal de Nuremberg (julgamento dos oficiais nazistas, que diziam estar cumprindo a lei Alemã), em que os oficiais foram condenados por violarem normas pré-concebidas. Daí a doutrina sustentar o caráter inato dos direitos da personalidade.
Minoritariemente, Pontes de Miranda e Gustavo Tepedino sustentam o caráter normativo dos direitos da personalidade, e não naturalista. Argumentam que se os direitos da personalidade fossem naturais, eles teriam de ser universais.
Não se pode esquecer que vários países do mundo não respeitam os direitos de personalidade (alguns preveem pena de morte etc.), de modo que os direitos da personalidade corresponderiam às opções normativas de cada ordenamento jurídico. O direito brasileiro tratava o negro como coisa e não pessoa. Se os direitos da personalidade fossem inatos, como explicar o tratamento anterior desigual? O direito brasileiro atual admite a pena de morte, em tempos de guerra. Seria um desrespeito a direitos inatos. 
Não seria uma temeridade conferir aos direitos da personalidade caráter normativo, por conta da possibilidade de eventual reforma legal? Não, em virtude do princípio da proibição do retrocesso: o sistema só pode melhorar no sentido da proteção da pessoa humana. Chaves endossa a teoria minoritária, mas não é a posição a ser adotada em prova objetiva.
1.8 – Direitos da personalidade e liberdades públicas
Os direitos da personalidade são vistos sob uma ótica visivelmente privada. Portanto, asseguram o direito à vida digna, nas relações privadas. Entretanto, não é difícil perceber que, eventualmente, o exercício de um direito da personalidade exigirá a imposição de obrigações positivas ou negativas ao Poder Público.
Toda a vez que se impuser ao Poder Público uma obrigação positiva ou negativa para assegurar o exercício de um direito da personalidade, tal imposição receberá o nome de “liberdades públicas”. As liberdades públicas são as obrigações impostas ao Estado para garantir ao titular o exercício de um direito da personalidade.
Ex.: direito de locomoção e habeas corpus. O direito de locomoção é visto segundo uma ótica privada, mas eventualmente pode ser necessária a imposição ao Estado da concessão do HC: uma liberdade pública disponibilizada para garantir o exercício do direito de locomoção.
Tanto os direitos da personalidade quanto as liberdades públicas, eventualmente, podem figurar no rol dos direitos e garantias fundamentais do art. 5º da CR. O constituinte pode entender que algumas liberdades públicas mereçam status de direitos e garantias fundamentais. Isso não significa que todos os direitos da personalidade e liberdades públicas correspondam a direitos fundamentais.
1.9 – Direitos da personalidade da pessoa jurídica
Vem se discutindo se a pessoa jurídica titulariza ou não direitos da personalidade. Doutrinariamente, há posicionamentos a favor e contra o reconhecimento dos direitos da personalidade da pessoa jurídica. A posição prevalecente, para fins de concurso, é a de que os direitos da personalidade estão sustentados pela cláusula geral de dignidade da pessoa humana (art. 1º, da CR). Sendo assim, eles não podem ser reconhecidos às pessoas jurídicas porque não existe uma cláusula de dignidade da pessoa jurídica.
O Enunciado 286 da Jornada adota esse posicionamento:
Enunciado 286- Art. 52. Os direitos da personalidade são direitos inerentes e essenciais à pessoa humana, decorrentes de sua dignidade, não sendo as pessoas jurídicas titulares de tais direitos.
De qualquer maneira, a pessoa jurídica tem personalidade e esta é uma realidade irrefutável. E, como visto, os direitos da personalidade foram construídos a partir da ideia essencial de que toda pessoa tem personalidade e quem tem personalidade tem direitos da personalidade. Isso porque ter personalidade jurídica significa ter proteção essencial. Ora, sendo a pessoa jurídica dotada de personalidade, não é possível negar-lhe essa proteção essencial.
Atenção para a filigrana jurídica: os direitos da personalidade estão baseados na dignidade humana e, como tais, não podem ser reconhecidos às pessoas jurídicas, mas à sua proteção a pessoa jurídica faz jus. O art. 52 do Código Civil acaba com qualquer dúvida:
Art. 52. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade.
O art. 52 não está dizendo que a pessoa jurídica tem direitos da personalidade, mas que ela faz jus à proteção dos direitos da personalidade. Observe que são coisas diferentes: a pessoa jurídica não dispõe de direitos de personalidade (porque estes decorrem da dignidade da pessoa humana), mas, por ser ente dotado de personalidade, dispõe da proteção daqueles direitos.
Deve-se atentar à expressão “no que couber”, contida no dispositivo. Isso porque o artigo está deixando claro que os direitos da personalidade foram construídos pelo homem e para o homem. Ou seja, os direitos de personalidade constituem uma categoria de direitos essencial à pessoa humana. Mas a proteção decorrente desses direitos alcança a pessoa jurídica. Isso se dá por conta de um atributo de elasticidade.
Atributo de elasticidade é uma qualidade dos direitos da personalidade, a qual permite que tais direitos, embora não alcancem ordinariamente as pessoas jurídicas, sejam a elas aplicáveis, no que couber.
Qual o significado da expressão “no que couber”? Significa que a proteção dos direitos da personalidade alcançará as pessoas jurídicas “naquilo que a sua falta de estrutura biopsicológica permita exercer”. Ex.: direito ao nome, direito à garantia de privacidade (segredoempresarial), direito à imagem (imagem-atributo), direito autoral etc. Estes são alguns exemplos de proteção aos direitos da personalidade reconhecidos às pessoas jurídicas.
Por outro lado, há direitos da personalidade cuja proteção não pode ser reconhecida à pessoa jurídica. Ex.: direito à integridade física e direito à intimidade não podem ser reconhecidos à pessoa jurídica, justamente por conta de sua falta de estrutura biopsicológica.
Se a pessoa jurídica não tem direitos de personalidade, mas faz jus à proteção decorrente desses direitos no que couber, resta perguntar: A pessoa jurídica pode ou não sofrer dano moral? A resposta está na súmula 227, do STJ:
Súmula 227- A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.
De fato, cabe dano moral à pessoa jurídica, porque o dano moral nada mais é que uma proteção aos direitos da personalidade. Para que esta súmula fique irretocável, deve-se acrescentar a expressão “no que couber”. Isso porque a proteção dos direitos da personalidade é aplicada à pessoa jurídica “no que couber”.
O STJ tem um exemplo recente de dano moral causado à pessoa jurídica por protesto indevido de duplicata (REsp 433.954).
1.10 – Conflito entre direitos da personalidade e direitos de comunicação social
Em primeiro lugar, vale lembrar que o direito de comunicação social abrange liberdade de imprensa e liberdade de expressão.
Note que é possível que os direitos da personalidade e o direito de comunicação social estejam em rota de colisão. Ex.: intimidade e imagem podem estar em colisão com a liberdade de imprensa. Há diversos exemplos disso na mídia. 
Explicitada essa possibilidade de colisão entre tais direitos, surge a questão sobre como resolver esse conflito. A solução passa pela técnica da ponderação de interesses. 
Atenção! É um erro usar a técnica de ponderação de interesses como sinônimo de proporcionalidade. A proporcionalidade se apresenta com duas feições: i) princípio interpretativo das normas; ou ii) técnica de solução de conflitos normativos. Quando a proporcionalidade se apresenta como princípio interpretativo das normas, ela é denominada de razoabilidade. Mas se ela se apresenta como técnica de solução de conflitos, ela recebe o nome de ponderação de interesses. 
Portanto, ponderação de interesses é uso da proporcionalidade como técnica de solução de conflitos normativos. Mas é preciso deixar claro que nem todo uso da proporcionalidade ocorrerá como técnica de ponderação de interesses. Ou seja, embora toda a ponderação de interesses corresponda à aplicação da proporcionalidade, o contrário não é verdadeiro: nem toda proporcionalidade é ponderação de interesses.
Ex.: O STJ vem afirmando que as convenções condominiais não podem proibir de forma absoluta a entrada de animais, pois regra nesse sentido ofenderia a proporcionalidade. Ora, se houvesse proibição absoluta, o condômino não poderia manter sequer um aquário com peixes. Nesse caso, a proporcionalidade foi usada como princípio interpretativo de uma norma convencional. Ou seja, o STJ usou proporcionalidade como razoabilidade.
Ex.: O próprio STJ vem admitindo o uso de prova ilícita em processo penal em favor do réu para garantir sua liberdade. Apesar de a constituição proibir a prova ilícita, o STJ entende que o valor liberdade (também previsto na constituição) é proporcionalmente mais denso. Nesse caso, há a solução de um conflito normativo entre a vedação da prova ilícita e o direito à liberdade do réu por meio da técnica de ponderação de interesses.
Pois bem, o eventual conflito entre direitos da personalidade e direitos de comunicação social se resolve por ponderação de interesses. Isso significa que a solução dependerá do caso concreto (não há uma solução apriorística). Em outras palavras, devem-se colocar em uma balança hipotética os dois valores em colisão para descobrir, no caso concreto, qual deles tem maior densidade valorativa (merece proteção).
Esse raciocínio comprova que, no sistema jurídico brasileiro, não existem direitos absolutos. Assim, os direitos da personalidade podem sofrer mitigação, da mesma forma que os direitos da comunicação social.
Veja, dizer que a liberdade de expressão pode ser mitigada não significa conferir repristinação à censura! Pelo contrário, a regra é que a liberdade seja respeitada. Ocorre que ela encontrará certos limites, a depender do caso concreto.
Dizer que a liberdade de expressão não é absoluta significa que o modelo brasileiro se afasta do direito americano no que se refere ao chamado “hate speech”. Juridicamente, essa expressão pode ser traduzida como “discurso do ódio” (ou “da intolerância”). “Hate speech” são as manifestações de desprezo por outras pessoas ou grupos sociais. E, no Brasil, não se admite o “hate speech”.
A prova disso é a decisão proferida pelo Supremo no HC 82.424-2/RS. Nela, o STF admitiu o processamento de uma ação penal contra um autor gaúcho que publicou obra antissemita. Essa obra tinha linguagem muito dura e odiosa contra os judeus, razão pela qual o autor foi processado por crime de racismo. A defesa impetrou HC alegando que não haveria crime em razão da liberdade de expressão. Porém, o Supremo admitiu a ação penal em face do autor, por entender que a liberdade de expressão não é absoluta.
Luis Roberto Barroso se vale, nesse ponto, do exemplo de duas notícias publicadas no jornal “O Globo”, em uma mesma edição. Uma delas veiculava a informação de que um ministro da república teria uma amante, a qual ocupava cargo de confiança no ministério. Outra notícia informava que a senhora Nezinha, sexagenária que era presidente de uma associação de bairros no Rio de Janeiro, tinha um amante de 20 anos. Segundo Barroso, a ponderação de interesses justifica a edição da primeira notícia, porque, naquele caso, a liberdade de imprensa teria maior densidade valorativa. No entanto, no caso da senhora, o direito à intimidade teria densidade valorativa maior, devendo prevalecer. Portanto, o mesmo exemplo pode servir para uma ou outra solução, à luz da técnica de ponderação de interesses.
As súmulas 221 e 281, do STJ falam de responsabilidade civil por dano causado pela imprensa.
Súmula 221- São civilmente responsáveis pelo ressarcimento de dano, decorrente de publicação pela imprensa, tanto o autor do escrito quanto o proprietário do veículo de divulgação.
A responsabilidade solidária, segundo o art. 265 do CC, não se presume, sendo estabelecida por lei ou pela vontade das partes. Essa súmula foi muito polêmica, pois foi hipótese em que o STJ criou uma hipótese de solidariedade.
Súmula 281- A indenização por dano moral não está sujeita à tarifação da lei de imprensa.
A Lei de Imprensa dizia que o montante de indenização por dano moral tinha de ser fixado entre 5 e 200 salários mínimos. O conteúdo dessa súmula está prejudicado, à luz da decisão do Supremo que reconheceu a não recepção da norma.
1.11 – Características dos direitos da personalidade
Art. 11. Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária.
A redação do art. 11 do CC é muito ruim. O dispositivo parte de uma técnica pouco recomendável: ao invés de apresentar a regra geral e depois a exceção, ele faz o contrário, começando pela exceção para depois apresentar a regra.
Melhor seria: “Os direitos da personalidade são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer restrição voluntária, com exceção dos casos previstos em lei”.
As características eleitas pelo art. 11 para os direitos de personalidade são: intransmissibilidade e irrenunciabilidade. Intransmissíveis e irrenunciáveis são espécies do gênero indisponíveis. Assim, seria possível substituir a redação do art. 11 pela seguinte afirmação: “os direitos da personalidade são relativamente indisponíveis”.
Além disso, vale notar que os direitos de personalidade podem sofrer restrição voluntária, nos casos previstos em lei (a forma como foi redigido o dispositivo pode não deixar isso muito claro).São exemplos de restrição voluntária dos direitos da personalidade: doação de sangue, doação de órgãos, cessão de imagem.
Para Chaves, o legislador se equivocou quanto à exigência de autorização expressa de lei para a restrição voluntária dos direitos da personalidade. O Enunciado 139 da Jornada de Direito Civil deixa claro que a restrição a direitos da personalidade não precisa estar expressamente prevista em lei:
Enunciado 139- Art. 11: Os direitos da personalidade podem sofrer limitações, ainda que não especificamente previstas em lei, não podendo ser exercidos com abuso de direito de seu titular, contrariamente à boa-fé objetiva e aos bons costumes.
Portanto, embora o art. 11 se refira a atos de restrição voluntária apenas “nos casos previstos em lei”, a doutrina brasileira conclui que os atos de restrição voluntária não decorrem apenas da autorização da lei, na medida em que há outros, decorrentes da autonomia privada. Isso não significa que o titular do direito da personalidade possa realizar ato de restrição voluntária ilimitadamente, como será visto adiante.
1.11.1 – limites ao ato de restrição voluntária aos direitos da personalidade
1.11.1.1 – o ato de restrição não pode ser permanente (tem de ser temporário)
Há boatos de que o ex-jogador Ronaldo teria um contrato de cessão de imagem vitalício com a Nike. Supondo que esse contrato existisse e tivesse sido celebrado no Brasil, Ronaldo poderia denunciar do contrato a qualquer tempo, porque ninguém pode ceder sua imagem por toda a vida.
A imagem da moça na embalagem do palito de dente Gina está sendo usada há mais de 40 anos. A modelo disse nunca ter recebido nada por isso e reclamado dessa situação. É claro que essa pessoa poderia ingressar com ação para que sua foto fosse retirada das embalagens, porque a cessão da sua imagem não pode se dar de forma vitalícia.
A título de curiosidade, vale lembrar que a Lei de Direitos Autorais estabelece o prazo de cinco anos como limite de cessão de imagem, renovável.
1.11.1.2 – o ato de restrição não pode ser genérico (tem de ser específico)
Ex.: as pessoas confinadas no Big Brother estão cedendo para a Rede Globo sua imagem e sua privacidade, mas isso não significa que elas tenham cedido os demais direitos da personalidade. Assim, se uma dessas pessoas sofrer uma violação à honra, ela poderá pleitear indenização.
1.11.1.3 – o ato de restrição não pode violar a dignidade do titular, mesmo com o seu consentimento
Sobre esse tema, sempre é lembrada a questão do arremesso de anões, nos municípios do interior da França. A brincadeira era, através de um canhão de ar comprimido, arremessá-los contra um alvo. O prefeito de determinada cidade cassou o alvará de funcionamento dos estabelecimentos, os quais ingressaram em juízo contra a decisão, porque diziam que a restrição tinha sido feita de forma voluntária. Inclusive, os anões ingressaram como litisconsortes, afirmando que aceitavam a restrição. A suprema corte não concordou com as alegações, por entender que não seria possível conceder restrição que violasse sua própria dignidade.
No Brasil, um programa foi retirado do ar por conta disso. Apesar de a Rede TV comprovar que as pessoas que participavam do “Teste de Fidelidade” anuíam com o quadro, a justiça entendeu que ele não era admissível por violar a dignidade. Atualmente, o programa voltou ao ar, com alterações.
O Enunciado 4 da Jornada de Direito Civil confirma esses limites ao ato de restrição voluntária:
Enunciado 4 - Art. 11: o exercício dos direitos da personalidade pode sofrer limitação voluntaria, desde que não seja permanente nem geral.
Portanto, os direitos da personalidade são relativamente indisponíveis, mas o seu exercício admite restrição voluntária, nos casos especificados em lei ou não.
1.11.2 – características dos direitos da personalidade não mencionadas no art. 11 do CC
Como visto, o Código Civil elegeu a irrenunciabilidade e a intransmissibilidade como características dos direitos da personalidade. Porém, além dessas características mencionadas no art. 11, há outras reconhecidas aos direitos da personalidade:
1.11.2.1 – absolutos
Os direitos da personalidade são absolutos, no sentido de oponíveis erga omnes. Como estudado, os direitos da personalidade podem ser relativizados quando em colisão com outros direitos. Portanto, observe que a palavra “absoluto” é aqui empregada com outro sentido, diverso de “não relativo”.
1.11.2.2 – inatos
Como mencionado, a maioria da doutrina entende que os direitos da personalidade decorrem de uma ordem pré-concebida (Direito Natural).
1.11.2.3 – extrapatrimoniais
Dizer que os direitos da personalidade são extrapatrimoniais significa dizer que seu conteúdo (a sua estrutura) não tem valor econômico (preço, expressão patrimonial). Isso não impede que sua eventual violação enseje uma reparação econômica (indenização).
1.11.2.4 – vitalícios e intransmissíveis
Os direitos da personalidade se extinguem com o seu titular. Isso foi discutido anteriormente, quando visto que o art. 943 estabelece a transmissão do direito de reparação (não dos direitos de personalidade). Aliás, esse dispositivo também confirma o caráter extrapatrimonial dos direitos da personalidade.[17: Art. 943. O direito de exigir reparação e a obrigação de prestá-la transmitem-se com a herança.]
1.11.2.5 – imprescritíveis
Não há prazo extintivo para o exercício dos direitos da personalidade. Ou seja, não há prazo para que o titular exerça o seu direito de personalidade. Mas, atenção, há prazo extintivo para que o titular reclame indenização (3 anos). 
Ex.: a Caloi descobriu que um distribuidor da marca estava fazendo bicicletas falsificadas. Diante disso, ela ingressou com uma ação pedindo para que o distribuidor parasse de usar a marca e indenizasse o prejuízo. O primeiro pedido não tinha prazo prescricional, porque se refere ao direito de personalidade. Já o pedido indenizatório tinha prazo de 3 anos.
Vale observar, contudo, que no REsp 816.209/RJ o STJ reconheceu a imprescritibilidade da pretensão reparatória decorrente de tortura. De acordo com o tribunal, se a tortura é um crime imprescritível, a reparação dela decorrente também será. Essa decisão teve um aspecto importante, porque visava a garantir que as vítimas de tortura da ditadura pudessem ajuizar ação contra o Estado. No entanto, adotando essa tese, poder-se-ia ir mais longe e admitir que os descendentes dos escravos também poderiam pleitear indenização. É preciso repensar bem esse posicionamento.
1.12 – Proteção jurídica dos direitos da personalidade
1.12.1 – evolução do tema: a superação do binômio lesão/sanção
Historicamente, a proteção jurídica dos direitos pelo ordenamento brasileiro sempre esteve baseada no binômio lesão/sanção. Ou seja, a tutela jurídica esteve ancorada na imposição de sanção a toda e qualquer lesão. E essa sanção imposta sempre foi a de perdas e danos.
Todavia, desde o advento do CDC, de 1990, e da reforma processual de 1994, o sistema jurídico começou a discutir a idoneidade desse binômio. Passou-se a questionar amplamente se ele seria suficiente para garantir a efetiva proteção de direitos. Chegou-se à conclusão de que a vítima de uma violação de direitos não estava interessada apenas na sanção ao agente. Muito mais do que isso, a vítima tinha também interesse na efetiva proteção do seu direito.
Ex.: pessoa teve seu nome incluído indevidamente no SPC e no SERASA. Em uma hipótese como essas, a vítima não quer apenas o pagamento de indenização. O que ela busca, antes de tudo, é a retirada do seu nome desses cadastros.
Veja que em primeiro lugar é o CDC e, depois, o CPC que sofre a influência dessa ideia. Só mais tarde (2002) é que o CC rompe com o binômio lesão/sanção, em razão de sua insuficiência. O codificador entendeu que a vítima da violação do direito da personalidade não quer apenas perdas e danos. Note que não se afastou a possibilidade de perdas e danos, apenas ampliou-se o sistema protetivo dos direitos da personalidade.
1.12.2 – proteção jurídica dos direitos

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