Buscar

Psicodrama com Jogos no Tratamento de Transtorno de Ansiedade

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 54 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 54 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 54 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1 
 
SOCIEDADE GOIANA DE PSICODRAMA – SOGEP/UCG 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
PSICODRAMA COM JOGOS NO TRATAMENTO DE UM 
TRANSTORNO DE ANSIEDADE EM UMA JOVEM MULHER 
 
 
 
 
 
Ruth Helena Maia Linhares Curado Pucci 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Goiânia 
2008 
2 
 
Sinopse: Este trabalho apresenta um estudo de caso de uma jovem mulher com 
transtorno de ansiedade (fobia social), que no processo terapêutico tomou consciência 
sobre seu estado emocional por meio da utilização das técnicas e jogos 
psicodramáticos. 
 
Palavras chaves: Espontaneidade, Matriz de Identidade, Papel de Gênero, 
Transtorno de Ansiedade, Catarse de Integração e Técnicas Dramáticas. 
 
 
 
RESUMO 
 
 
 
 
 Este trabalho, parte dos requisitos da Especialização em Psicodrama 
Terapêutico pela Sociedade Goiana de Psicodrama – SOGEP, apresenta um estudo 
sobre a aplicação da metodologia psicodramática no tratamento psicoterápico de uma 
paciente jovem com diagnóstico de transtorno de ansiedade ligado a queixas de medo 
e dificuldade no relacionamento interpessoal. Além destes focos trabalhamos também 
com as categorias juventude e gênero por considerá-las de fundamental importância 
para entender o caso estudado. O trabalho utilizou-se da abordagem qualitativa 
baseada na pesquisa e análise da história de vida desta jovem mulher. O alicerce para 
o desenvolvimento deste estudo foi a Metodologia Psicodramática que possibilitou um 
intenso estudo por meio da aplicação técnica dos recursos psicodramáticos a partir do 
resgate da espontaneidade e criatividade com utilização das técnicas e jogos 
psicodramáticos, permitindo à paciente (sujeito desta pesquisa) ampliar a consciência 
sobre o seu estado emocional, assim como a remissão dos sintomas. Além dos 
estudos de Jacob Levy Moreno, criador do Psicodrama, da Socionomia, do Sociodrama 
e da Sociometria, utilizamos outros referenciais teóricos que buscam a natureza e o 
desenvolvimento da vida psicossocial humana, e que contribuíram para a investigação 
proposta neste trabalho. 
 
3 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
No percurso deste trabalho adentramos o universo teórico sobre a prática da 
clínica psicodramática. Refizemos então um estudo de todo contexto social, histórico e 
psicológico da construção de um sujeito protagonista do drama de um transtorno de 
ansiedade. 
Nesta direção buscamos compreender e analisar os contextos da faixa 
etária, do papel de gênero, das relações familiares e dos estudos psicopatológicos 
ligados ao sintoma da paciente sob a ótica da teoria e metodologia proposta pelo 
médico Jacob Levy Moreno, criador do Psicodrama. 
 
Ser Jovem- Mulher 
Na sociedade moderna, conforme Carrano (2003), ser jovem não é apenas 
uma condição biológica, mas um modo essencial de definição cultural. 
Portanto, para questionar a universalidade da categoria juventude, segundo 
estudo de Carrano (2003) e Novaes (2000) é preciso reconhecer sua historicidade. 
Para estes autores variam as idades cronológicas e as expectativas que as sociedades 
constroem sobre ser jovem. De fato, definições sobre infância, juventude e maturidade 
foram ganhando conteúdos, contornos sociais e jurídicos ao longo da história, no bojo 
de disputas econômicas e políticas. São arbitrários culturais e regras socialmente 
construídas que determinam quando, como, e por meio de quais rituais as sociedades 
reconhecem as passagens entre as fases da vida. 
A juventude é compreendida como um tempo de construção de identidades. 
É definida também como um processo sociocultural demarcado pela preparação do 
indivíduo para assumir o papel adulto na sociedade tanto no plano familiar quanto no 
profissional, e não propriamente como uma faixa etária de vida. A identificação dos 
jovens reflete momentos distintos em que definem e constroem os papéis que vão 
assumir num futuro que se inicia brevemente a vida adulta. 
Os múltiplos papéis desempenhados pela mulher, nos dias de hoje, 
representam as história das lutas pela emancipação – igualdade social, política, 
4 
 
econômica, educacional. Mas esse empreendimento, diversificado e incessante, 
encontra barreiras culturais, fortemente internalizadas, barreiras capazes de não 
depositar na participação feminina – tanto no mercado de trabalho, quanto no ambiente 
doméstico – o devido valor e reconhecimento. 
A inserção da mulher em um espaço majoritariamente masculino, decorrente 
do patriarcalismo que permeia a sociedade brasileira, acabou por fazer com que ela 
anexasse às funções domésticas, o trabalho fora de casa, sobrecarregando-a com 
múltiplas jornadas. Essa inserção da mulher sem dúvida, tem trazido novas 
experiências, para ela, acostumada a ter seus horizontes restritos aos cuidados com a 
família. 
A mulher é considerada como elo da família e, como tal se espera que ela 
desenvolva esse papel, mas que também produza, isto é, tenha o seu trabalho 
profissional, não abandonando a sua missão de protetora e mantenedora social do lar 
(FARIA, 2000). Como diz Laville (1999), a cultura não abandonou as noções que são 
exclusivas do gênero feminino: as funções domésticas. Assim, se naturaliza a dupla 
jornada de trabalho. O que acontece, continua a autora, é que as próprias mulheres 
acabam aceitando como natural esse excesso de atividades, pois elas são socializadas 
para serem suas piores opressoras. 
Para a mulher atender a tantas demandas – as do âmbito familiar, do âmbito 
sócio cultural e as do mercado de trabalho, existem duas alternativas colocadas pelo 
senso comum: ou a mulher se torna “mulher maravilha”, a “super heroína dos filmes 
norte americanos” quando isto é colocado como condição para realização e 
crescimento pessoal ou ela se estressa e adoece, enfim se vitimiza. 
 
A família, o ambiente e o surgimento das psicopatologias 
 
A família é a unidade básica do crescimento do ser humano. É dela a tarefa 
crucial de socializar a criança e desenvolver a sua personalidade, configurando o seu 
percurso intelectual, emocional e social. Portanto, é dentro da família que a criança terá 
suas trocas de experiências, conhecerá seus primeiros sucessos e fracassos, medos e 
5 
 
frustrações. 
Moreno denominou este contexto familiar, na qual a criança é inserida desde 
o nascimento e estabelece diferentes relacionamentos, de Matriz de Identidade. 
Segundo Moreno (2006,p.114) a Matriz de Identidade é “a placenta social da 
criança, o lócus em que ela mergulha suas raízes”. Na evolução da criança, a Matriz 
está ligada aos processos fisiológicos, psicológicos e sociais, refletindo a herança 
cultural na qual está inserida, que a prepara para a sociedade. Ou seja, a Matriz de 
Identidade lança os alicerces do primeiro processo de aprendizagem emocional da 
criança. Essa “placenta social” será a base que apara os seus futuros relacionamentos 
e, uma vez estabelecida começa-se a formação de papéis e concomitamente a 
personalidade, o eu do indivíduo, ou seja, sua identidade. 
Winnicott (1980), pediatra e psicanalista infantil, considera a família como 
componente indispensável a boa estruturação psicológica da criança, e que a 
existência da família por si só, não assegura o desenvolvimento saudável da criança, 
uma vez que ela é também influenciada por fatores intrínsecos, que determinarão em 
grande parte a maneira como se apropriará dos recursos disponíveis. 
Inicialmente, no processo de socialização, a família modela o 
comportamento e a identidade da criança. 
De acordo com Moreno (1994) a família é a instituição social responsável 
pela sociabilidade e por moldar a expansividade emocional do homem. Essa 
expansividade emocional é moldada pelo grupo familiar tanto em qualidadequanto em 
quantidade. 
Ao nascer, o bebê encontra um mundo estranho e hostil e é nos braços da 
mãe que ele perceberá um ambiente aconchegante, confiável e protetor. Na falta desse 
aconchego ele sentirá sensação de abandono e insegurança. 
Winnicott (1980) afirma que o desenvolvimento emocional do primeiro ano 
de vida determinará a base da saúde mental do individuo. Segundo o autor, a criança 
tem uma tendência inata para crescer, mas esse crescimento depende do atendimento 
de suas necessidades básicas, tarefa que será melhor desempenhada pela mãe, pois 
esta é a pessoa que mais provavelmente se dedicará à causa naturalmente e com 
6 
 
prazer. 
Além do fornecimento de abrigo, alimento e proteção à criança, garantindo 
assim a sua sobrevivência, a família favorecerá o desenvolvimento dos papéis sociais e 
a aceitação da responsabilidade social. É nessa família, sob condições de unidade e 
cooperação, que a criança desenvolverá o conceito da aprendizagem, a iniciativa e a 
criatividade. O senso de identidade pessoal da criança está relacionado à sua 
identidade familiar. 
Dentro da família são inúmeras as correntes de sentimentos de todos os 
graus de intensidade e são essas correntes que definirão a atmosfera familiar, em que 
a personalidade e as reações sociais da criança se desenvolverão. 
Winnicott (1983) destaca que a base da saúde mental do indivíduo forma-se 
nos estágios iniciais do desenvolvimento, envolvendo processos de maturação e das 
condições ambientais. Um ambiente facilitador proporciona adequação e 
desenvolvimento saudável. Falhas nesta situação conduzem à privação, prejudicando a 
maturação e impedindo o crescimento emocional. Crianças que passam por ambientes 
pouco favoráveis podem apresentar permanente sentimento de aniquilação e pânico, 
prejudicando seu desenvolvimento emocional e social. 
Winnicott ainda ressalta a importância das relações vinculares formadas na 
primeira infância para o desenvolvimento saudável da criança e posteriormente do 
adulto. Este autor levanta a possibilidade de que eventuais falhas neste processo 
sejam indicativos de dificuldades futuras como, por exemplo, as do transtorno 
depressivo, de ansiedade e outros mais. 
Segundo o médico e psiquiatra Ballone (2008), a causa da Fobia Social 
parece ser devida à combinação de alterações genéticas e ambientais, portanto, a 
etiologia parece ter padrão genético familiar associado a um papel familiar como 
modelo de resposta às situações sociais – a angústia social dos pais pode ser 
aprendida e exarcebada pelos filhos, tornando-se patológica. 
Para ele os sintomas físicos, também chamados de sintomas autossômicos 
(do sistema nervoso autônomo) podem incluir taquicardia, tremores, perda de fôlego, 
sudorese e dores abdominais. Os sintomas cognitivos dizem respeito a pensamentos 
7 
 
de desadaptação e crenças inadequadas sobre situações sociais. Os sintomas 
comportamentais incluem uma sensação de congelamento e paralisia, na qual o 
paciente não consegue reagir, e evitação fóbica da situação ou objeto da fobia. 
O mesmo autor explica que a fobia social está centrada em torno de um 
medo de expor-se a outras pessoas e tem, como conseqüência o afastamento e 
evitamento sociais. Podem ser especificas às situações de comer ou falar em público 
mas podem ser mais difusas, envolvendo quase todas as circunstâncias sociais fora do 
ambiente familiar. Neste caso, entre as situações fóbicas que invariavelmente resultam 
na evitação do objeto, atividade ou situação socialmente temidos, destaca-se o medo 
de humilhação e embaraço em lugares públicos. Esta exposição à situação social ou 
de desempenho provoca, quase que invariavelmente, uma resposta imediata de 
ansiedade, a qual pode assumir a forma de um Ataque de Pânico ligado à situação ou 
predisposto pela situação. 
 
O Psicodrama e os Jogos Dramáticos 
O Psicodrama foi criado pelo médico romeno Jacob Levy Moreno que, desde 
criança, incorporou o teatro em sua vida: brincava com os amigos de ser Deus. 
Formado em medicina em 1917 pela Universidade de Viena, para onde se mudara aos 
5 anos de idade, acreditava que a espontaneidade era a verdadeira centelha divina 
presente em cada um de nós. 
O Psicodrama é uma metodologia que originou-se, historicamente, na 
brincadeira, já que existe desde os primórdios da humanidade. Quando fala-se em 
desenvolvimento humano, lembra-se da manifestação da espontaneidade e criatividade 
do homem através das brincadeiras, ou seja, daquilo que acompanhou a vida da 
pessoa e de seu corpo em seu crescimento. O jogo é visto como um fator positivo 
ligado à espontaneidade e criatividade. 
Esta metodologia foi introduzida no final da década de 20, como terapia de 
grupo, com o objetivo de favorecer as relações vivas e diretas com as emoções, 
sentimentos e fantasias do sujeito, graças às possibilidades expressivas que permeiam 
a representação teatral. 
8 
 
Percebe-se no decorrer do processo psicoterapêutico que a educação 
familiar e os valores culturais impingidos pelos progenitores em relação aos papéis de 
gênero (corpo, sexualidade, êxito, status social, etc.) podem ser assimilados de forma 
contraditória, causando distúrbios de desenvolvimento psico-afetivo. 
A psicoterapia psicodramática, então, utiliza-se de mecanismos de ação e 
jogos para que o paciente desenvolva uma nova e verdadeira percepção sobre si 
mesmo, sobre o outro e sobre o mundo. Assim, torna-se mais consciente de sua 
história pessoal e de como lida com suas questões sociais, passando a ser e agir de 
forma mais saudável no mundo. 
No primeiro capítulo deste trabalho abordaremos o Desenvolvimento do 
Papel de Gênero e Imagem de Mulher. No segundo, segue-se um estudo sobre o 
Transtorno de Ansiedade (Fobia Social). No terceiro, aprofundamos nas teses 
Morenianas sobre desenvolvimento psicológico e desenvolvemos uma descrição sobre 
os Mecanismos de Ação e Jogos Psicodramáticos. No quarto, apresenta-se um estudo 
de caso clínico com as devidas interpretações e considerações teóricas. 
O projeto central deste trabalho foi destacar a importância do Psicodrama 
como estratégia psicoterápica onde o sujeito assume seus verdadeiros papéis e 
constrói alternativas de liberação da espontaneidade; o que abre possibilidades de 
tornar-se consciente de suas defesas, do seu estado emocional, levando-o a 
experimentar e vivenciar a saúde e o bem estar psíquico e ser autor de sua própria 
história. 
9 
 
 
CAPÍTULO I 
 
DESENVOLVIMENTO DO PAPEL DE GÊNERO E IMAGEM DE 
MULHER. 
 
As mulheres, ao longo da história da humanidade tiveram que lutar muito 
para ocupar o espaço que lhes é legítimo. No Brasil, foram muitos anos para terem 
direito a voto e voz. A partir das décadas de 60 e 70, desenvolveu-se mais fortemente 
um processo de liberação, especialmente através de movimentos feministas, liderados 
por guerreiras mulheres. 
Quando olhado o passado, pode-se identificar que foram grandes as 
conquistas, mas ainda hoje acontece uma luta contínua por parte das mulheres para 
serem respeitadas e reconhecidas no seu direito de existir. Não tem sido fácil para 
todas as mulheres assumirem-se autoras de seus pensamentos, de seu corpo, de seus 
afetos, de sua sexualidade, de suas escolhas, porque a maioria das mulheres não 
apropriou de si mesma. 
A emancipação da mulher nos aspectos afetivos, sociais, culturais e 
econômicos, iniciou-se na era moderna, enunciando uma nova conjuntura, e nesse 
contexto, as identidades do homem e da mulher têm sofrido um longo percurso, desde 
o total domínio do homem sobre a mulher até a mesma alcançar a vida pública e 
assumir novas formas de se relacionar, fruto das novasexigências da sociedade. 
A cultura tem criado expectativas diferenciadas para ambos os sexos. O 
sexo feminino está associado à idéia de submissão, docilidade, contemplação, 
sensibilidade, e a sociedade delega outras características, atribuições e exigências à 
mulher. Trata-se de delegar, pois, essas características da identidade feminina, são 
originadas de uma construção social. As mulheres aprendem desde o início das suas 
vidas, que ser mulher é exercer funções associadas à maternagem, a cuidar da casa, 
do marido, das crianças. 
Esta posição social que a mulher ocupa, traz sentimentos e dificuldades de 
se reconhecer socialmente e profissionalmente, vivendo uma eterna dialética: ao ser 
excelente profissional no trabalho, sente-se fracassada como esposa e como mãe, 
10 
 
caso contrário, quanto à dedicação, é exclusiva para a maternagem e para a vida 
matrimonial, sente-se fracassada como mulher emancipada. 
Desta forma, a mulher muitas vezes nega a si mesma, para se constituir 
sujeito socialmente aceito. Este processo de negação, de falta e de algo que é perdido 
pode ser canalizado para o corpo, gerando as psicopatologias ditas femininas (anorexia 
nervosa, fobias, histeria). A conquista do corpo magro, saudável e belo, passa a ser um 
ponto de camuflagem ou um mecanismo que a mulher encontra para ser aceita pela 
sociedade, já que o padrão de beleza passa a ser um fator de inclusão social. 
 
1.1. Conceito de Gênero. 
Segundo Louro(1998) o conceito de gênero surgiu após muitos anos de luta 
feminista buscando explicações teóricas para a opressão das mulheres. Uma vez que 
as mulheres e homens são sexualmente diferentes a sociedade impôs, arbitrariamente, 
papéis diferenciados. Gênero desta maneira, não é um fato biológico, vindo da 
natureza, porém um conceito formulado pela sociedade em um determinado momento 
histórico. Este conceito procura explicar as relações que se estabelecem entre homens 
e mulheres e compreender o papel do homem e da mulher na sociedade em que 
ambos fazem parte. 
Nos últimos 30 anos, o estereótipo imposto pela sociedade a respeito do 
papel da mulher de que o casamento é seu objetivo maior, submeteu-a para uma 
condição inferior. Este argumento vem perdendo força e muitas de nossas certezas 
sobre os papéis do mesmo deixaram de existir e esta imagem, cada vez mais, vai 
ficando para trás, porque ultimamente a mulher é presença garantida num cenário que 
antigamente pertencia só ao individuo do sexo masculino. A mulher então mostrou sua 
força e garantiu igualdades, direitos perante a lei. 
 A educação que era imposta às meninas, incentivava a desenvolver 
sentimentos ternos, gentis, que as preparariam para a assunção futura da maternidade 
vai ficando bem distante da realidade da nova mulher, pois o espaço antes a ela 
negado, já faz parte do seu dia a dia, porém, hoje as mulheres buscam assumir outros 
papéis que não os tradicionalmente a elas reservados, até porque a mulher atualmente 
11 
 
pode ser conceituada como um ser plural. 
Com a existência das pressões sociais, anseia-se que as mulheres de hoje, 
consigam participar de uma nova história ligada a pressupostos de independência e 
sucesso profissional além de permanecerem os antigos papéis. 
Fleury (2006, p.123) acredita que: 
As pressões sociais podem levar a menina a acreditar que sua identidade 
caracteriza-se pela ausência de raiva e de necessidades próprias, tornando o 
sentimento de raiva ameaçador para sua identidade como mulher e para sua 
feminilidade. Exceto nos cuidados com os filhos, caracterizados como interesse 
por outra pessoa, a mulher tende a suprimir sistematicamente a raiva, 
aumentando a sensação de fragilidade e comprometendo sua auto-estima. Este 
mecanismo pode expressar-se através de sintomas psicológicos ou somáticos, 
mais freqüentemente através da depressão, além de influenciar sua maneira de 
lidar com conflitos. 
Tal autora ainda complementa que, no desenvolvimento da identidade de 
gênero, pode produzir uma compreensão de si mesma como uma divisão apoiada nas 
características concedidas aos dois gêneros, verificando como masculinos suas 
aparências voltadas para a busca de autonomia e, como femininas, aquelas mais 
afetivas e dependentes. Esta situação pode ser definida pela desvalorização e 
conseqüente dificuldade em reconhecer muitas de suas características femininas, 
gerando no desenvolvimento da mulher uma profunda sensação de que falta algo, de 
não estar completa. 
 
1.2. Construção da Sexualidade Feminina e da Feminilidade na visão 
psicanalítica. 
É importante em estudos sobre o desenvolvimento psicológico e 
particularmente sobre a condição psicopatológica de diagnóstico de Transtorno de 
Ansiedade que reportemos aos estudos freudianos, que tem um forte suporte para 
discussão sobre casos psicopatológicos e identidade de gênero. 
Falar do feminino para a psicanálise é abranger o máximo de questões 
pertinentes às diversidades de enfoques que surgirão no processo de “tornar-se 
mulher”. 
12 
 
Freud em “A feminilidade” (1996), reconhece que o caminho pelo qual a 
menina precisa percorrer é longo e pode vir a coincidir com a percepção da sua 
anatomia. A abordagem Freudiana da sexualidade se ancora no efeito dos registros 
inconscientes produzidos no psiquismo pela diferença anatômica entre os sexos; essa 
diferença se traduziria psiquicamente pela posição castrado/não castrado, ressaltando 
o caráter enigmático da posição feminina. 
Este autor chegou à conclusão de que a sexualidade feminina assim como a 
masculina, se dá através do processo edípico, porém de formas diferentes. No caso do 
menino, o primeiro objeto de amor, a mãe, leva-o, conseqüentemente, a uma rivalidade 
com o pai. Já a menina precisará mudar o objeto do seu amor, da mãe para o pai. A 
menina encontra maiores obstáculos e dificuldades que o menino em seu percurso em 
direção à sexualidade. Também é necessário que através da travessia produzida pela 
criança haja uma identificação de gênero, mas, também é irredutível que se dê 
diferenças em cada sujeito. Essas se expressam na singularidade de nosso desejo, 
marcada pela posição na ordem familiar, que é única de cada sujeito. 
As identificações que compõem o masculino e o feminino são estruturadas 
pelo eu segundo o modo como cada gênero organiza seu ideal na cultura em que vive 
e também como organiza sua relação no trimônio falo/falta/desejo. Lacan, em “Mais 
Ainda”, citado por Barbiere (1996), diz que na busca pelo gozo fálico a mulher retoma 
as mães, desta vez pela via da Outra mulher, na esperança de nela encontrar os 
significantes que a ensinem como ser mulher, pela identificação. Para o autor, a 
feminilidade aparece como máscara, pois não tem nenhum significante específico, 
surge de uma montagem construída através de traços identificatórios, colhidos de cada 
Outra mulher e do que se consegue pescar da fala dos homens, pois é preciso que um 
homem a nomeie mulher para que ela ocupe este lugar. A posição feminina, definida 
pelos Freudianos e revista pelos Lacanianos, implica o abandono da posição de sujeito 
para colocar-se no lugar de causar o desejo de um homem. 
Freud (1996) discute o impasse da mulher em sua condição de gênero e 
sexo. Para ele a mulher em diferentes caminhos: o lugar de objeto, onde abre mão de 
sua atividade e vive destruída e submetida. O segundo destino, que seria ser fálica, a 
13 
 
histérica resolve o impasse da submissão se recusando a ficar no lugar de objeto da 
fantasia do homem e através de uma identificação imaginária civil deseja como homem 
e se mascara de mulher. O terceiro, que Freud coloca como solução para a mulher, 
seria de ser mãe.Ao invés de ser objeto da fantasia do homem, a mulher tomaria o 
filho como objeto de sua fantasia, objeto fálico que lhe traria a possibilidade de manter 
sua atividade nos cuidados com o filho e ao mesmo tempo a livraria do horror de se ver 
um objeto desvalorizado e descartável. 
Neste estudo de caso aqui realizado o foco sobre a identidade de gênero e 
suas conotações relacionadas as exigências dos papéis sociais nos faz indagar sobre a 
difícil trajetória de Letícia (nosso estudo de caso) em sua busca de identidade 
psicossocial. 
14 
 
 
CAPÍTULO II 
TRANSTORNO DE ANSIEDADE (FOBIA SOCIAL) E SUAS ORIGENS 
NA FAMÍLIA 
 
 
A fobia social é a intensa ansiedade gerada quando o paciente é submetido 
à avaliação de outras pessoas, causando sofrimento significativo em sua vida, 
demonstrando timidez, dificuldades no trabalho, no lar e nos relacionamentos sociais. 
Ramadam (1987) relata que o paciente fóbico apresenta uma preocupação 
com a exposição crítica ou desaprovação alheia que levaria ao embaraço ou 
humilhação e procura se defender de impulsos ansiogênicos mediante o uso da 
repressão, deslocamento, projeção e evitação, predominante. 
O autor acrescenta que o deslocamento fóbico não impede que o indivíduo 
entre em contato com a ansiedade, portanto a projeção é criada para construir uma 
distância maior entre o individuo e a ansiedade. Assim, a ansiedade é retirada da 
representação interna e projetada em algum objeto do mundo externo. 
Do ponto de vista da teoria das relações de objeto, o fóbico evita a angústia 
provocada por uma relação que implica o retorno de aspectos seus projetados. O 
fóbico, frente a qualquer ameaça vivenciada internamente, defende-se pela 
fragmentação e projeção do objeto fobígeneo. Por isso, pode controlá-lo melhor. Suas 
fantasias são projetadas e ligadas a situações externas definidas que podem ser 
evitadas. 
Ramadam (1987) afirma que uma pessoa com fobia social pode ser como 
alguém que percebe aspectos seus temidos e projetados nas pessoas a sua volta, e 
que podem ser controlados pela evitação, buscando relações que lhe permite evitar 
contato com a angústia. Dessa forma, ao mesmo tempo em que deseja, tem e evita a 
posição depressiva, na qual seus impulsos bons e maus são integrados, e se dirigem a 
um mesmo objeto. 
Tal autor complementa que os pais têm uma grande importância, pois eles 
podem passar durante a infância do paciente fóbico, uma crença de que o mundo é 
imprevisível e assustador. Desta maneira, as ansiedades passam a ser evitadas com 
15 
 
uso de defesas fóbicas, desenvolvendo pouca confiança em si mesmo, baixa tolerância 
à ansiedade, modo dependente de adaptação, tendência ao pensamento mágico, 
exposição precoce a modelos que utilizam defesas fóbicas, além do uso de sintomas e 
sofrimento como forma de lidar com a autoridade. 
O caráter psicológico do ser humano nasce aos poucos, pois este depende 
de como os pais administram as necessidades básicas dos filhos tanto físicas, quanto 
emocionais. 
Além dos transtornos de ansiedade descritos em diferentes pesquisas e 
autores os sintomas de introversão e timidez podem manifestar-se nos 
comportamentos de um paciente fóbico. 
Para Ballone (2004), muito embora a introversão ou timidez seja um traço de 
personalidade, devido a valorização cultural que se atribui a ela, poderá proporcionar 
sério prejuízo à qualidade de vida da pessoa, levando a algum grau de sofrimento, 
portanto, uma certa morbidez. É por isso, que a depressão, apesar de muito comum, é 
patológica. 
Há consenso, entre diversos autores, acerca de que os fatores ambientais 
têm muita importância na superação destas atitudes ou em sua instalação com 
sintomatologia. Um ponto essencial a respeito é o grau da sociabilidade dos genitores: 
se estes freqüentam, habitualmente, um amplo núcleo familiar e social, geralmente a 
timidez passará a partir dos 5 anos, e no máximo aos 7 anos. Em compensação, se a 
sociabilidade familiar for escassa, tanto com parentes, como com amigos e outras 
relações, o retraimento será mais intenso e se manterá vigente, constituindo, em 
muitos casos, um sintoma a mais do quadro fóbico que aflige o sujeito (SOIFER, 1992). 
Pode-se dizer que depende das possibilidades que a criança tem de realizar 
seu aprendizado de convivência social, poder elaborar e atenuar seu medo a estranhos 
e sua vergonha. 
A criança em alguns momentos pode perceber que o adulto está sendo 
injusto ou abusivo, sente raiva, mas nada pode fazer a não ser se submeter. Dessa 
forma, tal submissão forçada gera, por sua vez, sentimentos de vergonha, humilhação 
e inferioridade, que jamais serão esquecidos, apesar de todos os esforços que fizer 
16 
 
para negá-los, disfarçá-los e/ou modificá-los, podendo dessa forma, gerar ou agravar a 
timidez na mesma. 
 
2.1. Família e a Matriz de Identidade – Base das Futuras Relações 
 
Moreno (1994) nos apresenta a importância da família na Matriz de 
Identidade, já que é a partir dessa que se lança o alicerce do primeiro processo de 
aprendizagem da criança, é lá que se desenvolve a tele e a expansividade emocional e 
social. À medida que a criança vai ganhando autonomia e se desenvolve o sentido da 
proximidade e distância, vai ganhando sentido, podendo assim, ser retraída ou 
afastada das pessoas e objetos, originando o primeiro reflexo social. O mesmo autor 
demonstra que o homem necessita de várias outras pessoas para alcançar suas 
metas, assim como essas pessoas também necessitam dele na execução de seus 
projetos. Com isso, percebeu que assim como as pessoas se atraem, elas também se 
rejeitam, estabelecendo um átomo social. 
Um átomo social é composto por várias estruturas télicas, onde tele é 
empatia recíproca. Ela se desenvolve através das relações de sentimentos de um para 
com outra pessoa ou objeto. No entanto, pode-se observar que há vários graus, 
positivos, negativos e neutros, dentro dessas sensibilidades interpessoais. A tele entre 
dois indivíduos quaisquer pode ser potencial. A tele pode ser definida como um 
processo emotivo projetado no espaço e no tempo, em que podem participar quantas 
pessoas for necessário. É uma experiência de algum fator real na outra pessoa e não é 
uma ficção subjetiva. É uma experiência interpessoal e não o sentimento ou emoção de 
uma só pessoa. Sendo assim, considerado o principal fator para determinar a posição 
de um indivíduo no grupo, inclusive o familiar. 
Moreno explica que desde o seu nascimento, o homem se relaciona com 
várias pessoas como: o pai, a mãe, os avós e outras pessoas que compõe seu 
ambiente primitivo, compondo seu átomo social. A partir daí, o indivíduo começa a viver 
relações de atração e repulsa, passando a desenvolver inúmeros papéis relacionados 
aos papéis de outros indivíduos. Desse modo, qualquer que seja o momento da sua 
17 
 
vida ou qualquer que sejam suas relações haverá uma gama de papéis e contra-
papéis, contribuindo para o desenvolvimento da organização grupal. Podendo assim, 
pensar isso dentro da família, ao ver os papéis e contra-papéis: filho e pai, pai e 
esposa, e esposa e filho. A habilidade em desempenhar papéis é essencial pára a 
comunicação adequada e para o desenvolvimento do eu social. 
Na matriz de identidade, o desenvolvimento do individuo se dá 
primeiramente através da fase de indiferenciação. A criança havendo necessidade do 
outro não diferencia objeto e pessoas, esta fase se nomeia como duplo, pois a criança 
precisa sempre de alguém para fazer as coisas por ela. Com seu desenvolvimento, a 
criança passa a diferenciar pessoas e objetos próximos a ela, esta fase recebe o nome 
de espelho, na qual a criança vê suas ações nosoutros, mas com o passar do tempo a 
criança aprende a se colocar no lugar do outro conseguindo então, fazer a inversão de 
papéis. Com isso, a matriz de identidade é o lugar onde a criança se insere desde seu 
nascimento, onde se relaciona com pessoas e objetos ocorrendo então, seu 
desenvolvimento. Fonseca Filho (1980) mostra que a capacidade de inverter papéis 
possibilita ao homem compreender melhor a realidade de vida do outro, bem como a 
sua própria. Representa, pois, a possibilidade de estabelecimento de uma relação 
télica entre duas pessoas. 
Segundo Fonseca (1980, p.22), “a forma como uma criança percorre sua 
matriz de identidade é um parâmetro de como será sua vida adulta”. Com relação a 
isso, Cukier (1998, p. 26) ainda complementa que, “o amor, o respeito e a confiança 
(auto-estima) que um indivíduo sente por si mesmo espelham, por seu turno, como 
foram suas primeiras relações estruturadoras e prognosticam, em última instância, 
como serão suas relações com o mundo.’’ Deve-se, portanto, considerar não somente 
o vínculo diádico mãe-filho, mais a resultante emocional de todas as interações 
envolvidas nesse núcleo primário, a matriz de identidade. 
Quanto mais saudável for o ambiente externo, formado pela matriz de 
identidade, mais a criança internaliza, vive e responde coerentemente às situações que 
se apresentam em suas relações. Maior será sua capacidade em se relacionar e se 
envolver emocionalmente nos seus futuros vínculos. E, conseqüentemente, mais 
18 
 
completa será a formação da sua identidade. 
Para Fonseca (2000), durante o processo de construção da identidade pode 
haver falhas gerando os chamados distúrbios de identidade que são originados na fase 
do reconhecimento do “eu” ou fase do espelho na matriz de identidade, de acordo com 
o diagnóstico psicodramático. 
A travessia nessas fases, pode se dar de forma prejudicada, liberando um 
número de defesas que são insuficientes para o funcionamento harmônico da 
personalidade e que causam prejuízos no desempenho de papéis sociais. 
Como conseqüência, pode emergir um ser inseguro quanto à sua identidade 
e quanto à consciência do valor de si mesmo, tendo como conseqüência a auto-estima 
diminuída. Devido a essa má formação, pode apresentar ainda, dificuldades relacionais 
que geram sofrimentos, tanto a si mesmo, como aos que se liga a esse ser, bem como, 
dificuldades de inserção social e profissional. 
Segundo Cukier (1998), uma criança não tem noção alguma do seu valor 
pessoal, nem nasce com auto-estima. Ela irá absorver esse valor de fora para dentro 
de acordo com a dedicação e estima que seus pais tenham por ela. 
Alguns pais não toleram os impulsos e as emoções das crianças, e muitas 
vezes, temem perder o controle da situação diante das mesmas e tratam de limitá-las, 
chegando, em alguns casos, a puní-las de forma exagerada ou com ameaça de 
retirada de amor. Tais atitudes podem gerar na criança uma inibição e/ou retraimento 
dos seus sentimentos. 
Cukier (1998) ressalta ainda que a independência dos pais e o fato deles 
próprios terem limites bem estabelecidos, auxiliam a criança a se separar dos mesmos 
e ter uma representação interna adequada de si e do outro. Quando isso não ocorre, 
provavelmente a criança tornar-se-á um adulto que não consegue se conter para não 
ofender os outros, ou mesmo não saiba se adequar em seus relacionamentos, 
podendo ainda, apresentar-se de forma oscilante, que ora se apresenta extremamente 
invulnerável, ora mostra uma vulnerabilidade extrema. 
Ela também afirma que uma criança que não tem suas necessidades de 
dependência respeitadas e satisfeitas sofre um grave dano em sua identidade básica, 
19 
 
passa a desacreditar das próprias necessidades, julgando-as ilegítimas, e o próprio 
desejo passa a ser considerado como vergonhoso. Seu egocentrismo infantil somado 
ao fato de precisar manter a idealização dos adultos de quem depende para sobreviver, 
fazem com que ela, freqüentemente, se atribua alguma culpa pela atitude dos pais. E 
tal atribuição acaba, com o tempo, virando um traço de identidade da pessoa. 
Segundo Carvalho e Rabinovich (2001), o meio afetivo-emocional que 
circunda a criança e o mundo pode agir positivamente ou negativamente, podendo 
interferir em seu desenvolvimento, chegando a afetar a espontaneidade, sensibilidade 
e criatividade. Sendo assim, são nas relações que as pessoas se curam, porém são 
elas que também adoecem, pois desde os cuidados maternais a criança pode receber 
afetos negativos, forçados, e ainda mais, pode crescer com um sentimento de que ela 
não merece ser valorizada e amada e, a partir de então, forma-se a auto-imagem, o 
auto-conceito e a auto-estima, refletindo nos relacionamentos futuros consigo mesmo e 
com os demais. 
20 
 
CAPÍTULO III 
PSICODRAMA: FILOSOFIA, TEORIA E TÉCNICA 
 
 
 
 
Se pudermos compreender sua filosofia, poderemos avançar em direção à 
teoria, chegando à técnica, sem trair sua essência. (BUSTOS, 1999, p. 27) 
 
O Psicodrama se baseia no teatro, na psicologia e na sociologia. Podendo 
ser definido como “um método de psicoterapia no qual os pacientes dramatizam os 
acontecimentos marcantes de suas vidas em vez de apenas falar a respeito deles” 
(BLATNER & BLATNER, 1996, p.17). 
Isso implica numa investigação participativa das dimensões dos 
acontecimentos psicológicos pouco abordados no processo psicoterápico 
convencional: pensamentos não ditos, encontros com aqueles que não estão 
presentes, retratos de fantasias sobre o que as outras pessoas sentem ou pensam, 
antever futuras possibilidades e diversos outros aspectos da experiência humana. 
Grupos de teatro tiveram grande contribuição no trabalho de Moreno. 
Diferentemente do cotidiano, os atores do teatro de Moreno não tinham roteiros 
obrigatórios, e sim a liberdade de improvisar, sendo essa a parte mais valorizada, 
recebendo o nome de Teatro da Espontaneidade que logo depois passou a ser 
chamado de teatro Terapêutico, que por sua vez se transformou no Psicodrama 
(BERMUDEZ, 1980). 
Historicamente, o Psicodrama representa o ponto culminante na passagem 
do tratamento do individuo isolado para o tratamento em grupos; do tratamento do 
individuo por métodos verbais para o tratamento por métodos de ação. Pode-se 
entender, então, que o Psicodrama é um método de psicoterapia que visa tratar o 
psíquico por meio da ação, tanto individual como em grupo, conforme Moreno (2006). 
A teoria básica do Psicodrama baseia-se no fenômeno de que cada 
individuo pode criar o que se passa em sua mente por meio da sua experiência 
cotidiana. Com isso os psicodramatistas se comprometem em ajudar as pessoas a 
21 
 
colocar em ação seu progresso do mundo real’. O Psicodrama trabalha intrinsecamente 
com a prática filosófica e psicológica (BLATNER & BLATNER, 1996). 
Para Almeida é: 
Através do discurso moreniano nos é dado entender e ver ampliados conceitos 
fundamentais do método fenomenológico – existencial, tais como: existência, 
ser, temporalidade, espaço, encontro, liberdade, projeto, percepção, corpo, 
imaginário, linguagem, sonhos, vivencias, cura (Sorge), Biografia (1988. p. 40). 
 
De acordo com Kierkegaard, citado por Almeida (1988), existir é escolher e 
apaixonar pela escolha, mantendo a tensão entre finito e a transcendência. Essa 
existência é caracterizada por situações concretas de opção e a ação de escolha é o 
que qualifica o individuo. 
No Psicodrama o ser humano pode vivenciar no contexto dramático do 
“como se”, todas as formas de comportamento e toda existência subjetiva. O tempo se 
define na situação de momento, no “aqui e agora”, pois essa teoria estimula a vivencia 
num determinado lugar,momento de cada individuo. 
Essa categoria de momento só tem significado em um mundo aberto, isto é, 
em um universo em que se tem o lugar, a mudança e o novo. Isso é que se dá a 
possibilidade de crescimento, espontaneidade e criatividade. 
Então se pode perceber que o espaço fenomenológico é o espaço da 
imaginação. 
O espaço concreto do local onde se realiza uma sessão psicodramática poderá, 
no momento da dramatização, tomar tamanhos e significações diversas, em 
função do espaço interno de cada um e dos eventos afetivos (ALMEIDA, 1988, 
p. 50). 
 
3.1. Espontaneidade e Criatividade 
 
Dentro do plano psicoterápico, o encontro propõe o rompimento da conserva 
cultural, pelo estímulo da espontaneidade/criatividade. Permite a afetividade do 
tratamento, permeabilizando a relação dual e/ou grupal, de modo que se deixa 
disponível o acontecimento, uma série de elementos deverão ser trabalhados em níveis 
22 
 
empáticos, transferenciais, amorosos e télicos. 
Com isso pode-se concluir que a filosofia moreniana e o entendimento do 
ser em sua crença filosófica é o homem na relação, ou seja, um ser social, relacional. 
O tema central no trabalho de Moreno é a reintegração da espontaneidade e 
da criatividade. A espontaneidade de acordo com Moreno (2006, p. 36), “é 
freqüentemente citada da seguinte maneira: o protagonista é desafiado a responder 
com certo grau de adequação, a uma nova situação ou, uma certa medida de novidade 
a uma antiga situação”. A espontaneidade-criatividade está relacionada com o quadro 
de um individuo que possui uma maturidade e saúde mental. 
Segundo Fox (2002), a natureza humana se caracterizava em certo modo, 
de uma ação espontânea da sua criatividade, podendo ser interrompida durante o 
decorrer da vida por processos de inconstância emocional, sendo uma das principais 
causas a quebra da espontaneidade, ou melhor, a substituição da mesma. 
A partir da espontaneidade, Moreno (2006), criou o conceito de tele, sendo o 
conjunto de processos perceptivos, que permitem ao individuo uma valorização 
concreta de seu mundo circundante. Na sensibilidade télica há igualdade, reciprocidade 
e mutualidade. 
A tele é uma relação elementar que pode existir entre um individuo como, 
também, entre indivíduos e objetos, e que no homem se desenvolve a partir das 
relações interpessoais, um processo emotivo projetado entre duas ou mais pessoas. O 
fator tele, é a comunicação, pois o ser humano só se comunica a partir do que é capaz 
de perceber em outras pessoas. O fenômeno tele não é algo pronto, mas que deve ser 
construído, a partir do momento em que o recém-nascido passa a ter contato com os 
objetos exteriores. 
 
 
3.2. Papéis Sociais e a Origem das Disfunções dos Papéis Psicossomáticos. 
 
As relações interpessoais são responsáveis pelo desempenho de papéis de 
cada ser humano, proporcionando assim o contato, e favorecendo a troca, pois “à 
23 
 
medida que este desenvolvimento ocorre, os papéis vão-se matizando 
perceptualmente. Ou seja, não apenas se desenvolve o papel, como também a 
percepção do papel”. (SUGAI & PEREIRA, 1983, p. 97-98). 
Para Moreno (2006, p. 27), “papel é uma forma de funcionamento que o 
individuo assume no momento especifico em que reage a uma situação específica, na 
qual outras pessoas ou objetos estão envolvidos”. Os papéis se iniciam desde o 
nascimento antes mesmo da linguagem e continuam por toda sua existência. Todos os 
papéis são complementares um do outro, dando origem ao vínculo. Em seqüência o 
que é apreendido nas relações familiares se reproduz nas relações sociais. 
Com isso percebe-se que o papel estrutura-se de acordo com a cultura de 
cada individuo, por possuírem características e particularidades próprias. Existem três 
tipos de papéis fundamentais dentro da teoria moreniana: psicossomáticos (corpo), 
sociais (sociedade) e os psicodramáticos (psique), que é junção do psicossomático 
com o social. 
Os papéis psicossomáticos ou fisiológicos (como os de comer, dormir, 
urinar, etc.) surgem no início do desenvolvimento do bebê numa fase de não 
diferenciação. Moreno (2006) nomeou esse universo indiferenciado da criança de 
Matriz de Identidade Total. O autor denominou o principal cuidador que responde às 
necessidades básicas do bebê, de ego - auxiliar. Pessoa (2008) explica que o bebê 
“apenas age a partir de seus reflexos e tudo gira ao seu redor; é o período em que ela 
apresenta um psiquismo incipiente, caracterizado como caótico e indiferenciado”. 
O primeiro relacionamento entre o ego - auxiliar e a criança, que 
normalmente é a mãe, é concedido pelo estado total de dependência do bebê para 
com o adulto em satisfazer suas necessidades de cuidado e amparo, ocorrendo o 
registro no psiquismo (até então indiferenciado) da experiência de satisfação fisiológica 
com o clima afetivo que permeia tal experiência. 
Segundo Dias (1987), estes registros correspondem às marcas mnêmicas e 
contribuem para que ocorra durante o desenvolvimento infantil, a organização e 
diferenciação de parte do psiquismo humano. 
Os dois novos conjuntos de papéis: psicodramáticos e sociais, surgem no 
24 
 
segundo universo da criança o qual é marcado pelo estabelecimento da “brecha entre a 
fantasia e a realidade”. Moreno (2006, p.124) afirma que: “enquanto a brecha não 
existia, todos os componentes reais e fantásticos estavam fundidos num só conjunto de 
papéis, os papéis psicossomáticos”. 
Na seqüência do desenvolvimento infantil, conforme Moreno (2006), os 
próximos papéis que surgem são os papéis psicodramáticos, os quais expressam a 
dimensão psicológica do “Eu”. Como exemplo de formas psicodramáticas de 
desempenho de papéis, Moreno (2006,p.28)relata: “inversão de papéis, a identificação 
de papel, o duplo desempenho e o desempenho do espelho”, estas ações 
psicodramáticas, de acordo com o autor, propiciam o crescimento mental do indivíduo. 
No ambiente psicoterapêutico, com relação ao desempenho de papéis 
psicodramáticos, Gonçalves (1988) mostra que é por meio da dramatização que o 
cliente reproduz as suas mais diversas questões internas. Tal ação favorece a 
ocorrência de catarse e insights profundos em si. 
De acordo com Moreno (2006, p. 28), numa fase subseqüente do 
desenvolvimento infantil, surgem os papéis sociais, os quais “apóiam-se nos papéis 
psicossomáticos e psicodramáticos, como formas anteriores da experiência”. Estes 
papéis, conforme o mesmo autor, correspondem à dimensão social. Diferentemente 
dos papéis psicodramáticos – em que há predomínio da fantasia – nos papéis sociais 
opera, de forma predominante, a função da realidade (MORENO, 2006; e 
GONÇALVES, 1988). Temos exemplos de desempenho de papéis sociais como: mãe, 
pai, professor, médico, etc. 
A função do papel na vida do indivíduo, Moreno (2006) ressalta a existência 
de uma relação significativa entre desempenho de papel e desenvolvimento de “Ego”. 
Ele afirma que existe uma expectativa que o indivíduo, no meio social, desempenhe 
papéis que assume na vida. Além disso, o autor pontua também o desejo por parte do 
próprio individuo de assumir muitas vezes, outros papéis além dos que já possui; ou de 
exercer uma ou mais variedades do mesmo. 
Pessoa (2008, p. 31) explica que: 
O homem, na dinâmica das relações sociais, percebe-se assumindo uma 
variedade de papéis de um lado, e vê, por outro lado, as pessoas do seu meio 
25 
 
assumindo os diferentes contrapapéis. Como exemplos desse jogo de papéis 
que ocorrem nas relações sociais, citam-se: a execução de um determinado 
papel por uma pessoa (por exemplo, de pai) e atuação necessária de seu contra 
papel, que é o de filho. 
 
Moreno (2006, p. 29)considera “os papéis e as relações entre eles o 
desenvolvimento de maior significado em qualquer cultura especifica. O papel é a 
unidade da cultura; ego e papel estão em contínua interação”. 
Por fim, Moreno (2006), demonstra que o “Ego” inteiro do indivíduo, é, pois o 
resultado da integração dos aspectos: corpo, psique e sociedade. Aspectos estes 
estimulados e desenvolvidos a partir dos respectivos papéis anteriormente discutidos: 
psicossomáticos e sociais. O autor ainda nos mostra que possíveis desequilíbrios no 
agrupamento de papéis geram um atraso no desenvolvimento de um “Eu” total, por 
outro lado intensificam os transtornos do próprio “Eu”. 
Por meio dessa evolução, desse contato, do “poder” de comunicação que o 
bebê tem com o mundo externo, é que ele vai desenvolvendo sua própria identidade, o 
que Moreno denomina de Matriz de Identidade. 
A matriz de identidade proposta por Moreno é uma teoria criada por ele, cujo 
objetivo é descrever como ocorre o desenvolvimento de papéis do homem, ou seja, 
como ele evolui na sua relação consigo mesmo, com as pessoas e com o mundo. 
 
3.3. Intervenção Técnica Psicodramática no Contexto Psicoterápico. 
 
A concepção Moreniana propicia técnicas, as quais têm seu embasamento 
na fase do desenvolvimento na Matriz de identidade, berço social onde a criança se 
insere ao nascer. 
Monteiro (1998, p.25), baseando-se na teoria moreniana, 
relacionou as três técnicas básicas do Psicodrama com três grandes estágios da 
matriz de identidade. São várias etapas de um estado de indiferenciação até o 
reconhecimento do outro, das quais a teoria moreniana destaca três grandes 
fases. 
 
26 
 
1ª fase - Dependência total do bebê em relação aos egos-auxiliares, fase 
de indiferenciação, a vivência de identidade. A mãe, o primeiro ego - auxiliar é nessa 
etapa, a mediadora entre a criança e o mundo, a provedora de suas necessidades. 
Baseando-se nesta fase, Moreno (1999) criou a técnica do Duplo. Tudo o 
que a mãe faz é para a criança, uma porção inconsciente do seu eu; a mãe é um ego – 
auxiliar da criança; ela é um caso particular de sua vida inconsciente. Pode-se dizer 
que no relacionamento entre mãe e filho, a natureza repete a experiência do duplo. 
Aconteça o que acontecer mais tarde, durante o crescimento da criança esta 
experiência precoce de identidade modela seu destino. 
Gonçalves Wolff e Almeida (1988, p. 87) relatam que “a técnica que está 
embasada nesse estágio é a técnica do duplo, que é feita pelo ego - auxiliar ou, 
algumas vezes, pelo diretor que expressa, num determinado momento, aquilo que o 
protagonista não está conseguindo expressar”. 
Sobre a técnica do duplo (MONTEIRO, 1998, p. 25) “pressupõe que o 
individuo não esteja em condições de agir ou de se comunicar por si e que necessite 
de um mediador, um ego - auxiliar cuja atuação lembra a da mãe no inicio da vida de 
relação”. O objetivo do duplo é entrar em contato com a emoção não verbalizada do 
paciente, e às vezes, até não conscientizada, a fim de auxiliá-lo a expressá-la. O duplo 
possibilita ao paciente a liberdade de expressão, espontaneidade, visto que, ao utilizá-
lo, o terapeuta mostra ao paciente que o está compreendendo e aceitando. 
Compreensão e aceitação são dois fatores fundamentais que favorecem a livre 
expressão (ação) do paciente, além de fortalecer o vinculo psicoterapêutico. 
2ª fase - É a Identidade Total Diferenciada ou do Reconhecimento do Eu é 
o momento em que a criança começa a se perceber enquanto indivíduo, separada dos 
outros (eu - tu). Nessa fase o ego – auxiliar (mãe ou quem cuida da criança) atua como 
um espelho para a criança. 
Moreno (1999) fez um paralelo entre esta fase vivencial infantil e a técnica 
psicodramática do Espelho. Não é um espelho real, mas é sugerido que o paciente 
veja-se como num espelho. O terapeuta ou o ego – auxiliar coloca-se na postura física 
na qual o paciente assume em determinado momento. O terapeuta passa a espelhar o 
27 
 
cliente, transformando-o em um espectador de si mesmo. Esta técnica propicia ao 
cliente condições para melhorar a autopercepção. O objetivo é que o paciente olhando 
para si de fora da cena perceba todos os aspectos presentes nela e sua reação frente 
a estes aspectos, sendo que o distanciamento da cena favorece uma tomada de 
consciência que a proximidade dificulta. 
A fase do espelho corresponde a um marco fundamental no 
desenvolvimento individual onde a descoberta da própria imagem propicia à criança, ao 
mesmo tempo, um estranhamento e um primeiro passo na direção do auto-
reconhecimento. A técnica do espelho do Psicodrama pretende despertar uma vivência 
semelhante à primitiva vivência infantil, fazendo com que o protagonista comece a 
reconhecer a si mesmo (MONTEIRO, 1998, p. 25). 
O terapeuta, portanto vai se colocar no papel do paciente, ou pode colocar 
uma almofada em seu lugar e descrever verbalmente o que percebe, sugerindo que o 
paciente assim o veja também. 
Na última fase da matriz de identidade, que é Reconhecimento do Tu, de 
onde origina-se a brecha entre fantasia e realidade, a criança já tem capacidade de se 
colocar no papel de sua mãe. Isso é possível porque ela já tem o reconhecimento do 
eu, o que possibilita o reconhecimento do tu. Brincar de ser o papai ou a mamãe e falar 
como eles, fazem parte desta etapa do desenvolvimento de papéis. 
Aqui a criança está atenta a si mesma, ela já consegue fazer a tomada de 
papel (role taking) e posteriormente, se houver um desenvolvimento 
saudável/adequado ela desenvolve a inversão de papéis (role-playing). “Suas 
condições de estabelecer e de compreender a troca indicam que está na etapa de 
inversão de papéis ou de reconhecimento do tu” (MONTEIRO, 1998, p. 25). 
Anzieu (1981, p.29) afirmou que a pessoa, “ao sair de si mesma torna-se 
capaz de perceber objetivamente sua própria atitude em relação aos outros, disto pode 
advir o ajustamento de suas relações interpessoais”. 
Esse fator nos faz pensar também, na questão da evolução, que só 
evoluímos quando vamos desenvolvendo nossos papéis e adquirindo a capacidade de 
inverter papéis com o outro; de se colocar no lugar do outro, nos relacionar; 
28 
 
experienciar; ir ao encontro do outro. Este é inclusive o critério de diagnóstico utilizado 
por Fonseca (1980), se a pessoa tem ou não possibilidade de inverter papéis para 
medir o grau de “saúde” ou o grau de “doença” no qual se encontra o sujeito. 
A inversão de papéis é a técnica de absoluto envolvimento da capacidade de 
ver o drama de outro ponto de vista, qualquer que seja ele. Assim, o protagonista 
precisa realmente sair fora do self e tornar-se outra pessoa (ZERKA, 2001). 
Segundo Cukier (1992), é uma das técnicas mais utilizadas na clínica e 
propicia, além da vivência do papel do outro, o emergir de dados sobre o próprio papel 
que, sem este distanciamento, não seria possível. Basicamente pede-se ao cliente que 
tome o lugar do outro, ou seja, represente o papel de alguém, sobre quem esteja 
falando, em vez de apenas falar sobre essa pessoa. O terapeuta auxilia, através da 
técnica da entrevista, a ir compondo este personagem e empatizando, pouco a pouco, 
com suas percepções, emoções e opiniões. 
Para a realização das técnicas e de um bom desenvolvimento psicoterápico, 
o psicoterapeuta deve saber escutar e responder de forma que não interfira nas idéias 
do paciente. Moreno (2006) mostra que o objetivo das técnicas do Psicodrama é atingir 
a catarse de integração, no qual o próprio eu tem a oportunidade de reencontrar-se e 
reordenar-se, juntando os elementos que podem ter ficado separados por forças 
circunstanciais. 
Há momentos onde paciente precisa concretizar suasemoções, os seus 
conflitos, e suas doenças. Utiliza-se então objetos para demonstrar o que está sentindo 
e os personagens daquele conflito. 
Cukier frisa a importância do diretor na montagem da cena a qual foi 
escolhida pelo paciente que o deixará tranqüilo ou receoso em dramatizar, podendo ser 
um fato que já aconteceu, ou algo que é muito difícil e doloroso, e até mesmo um 
sonho que teve. Esta técnica é conhecida como Dramatização em cena aberta, 
envolvendo o local que acontece a cena, o horário, a posição das personagens e as 
suas interações que aparecem no duplo, no espelho, no solilóquio, na inversão de 
papéis e interpolação de resistência. 
Quando o paciente traz para a sessão uma queixa e não consegue explicar 
29 
 
o motivo, o Psicodrama interno pode ser bastante útil. O solilóquio é uma técnica que 
leva o paciente se expressar em voz alta o que ocorre com ele nesse momento. O 
terapeuta pode pedir para que fale sobre si mesmo ou sobre o que está acontecendo 
ao seu redor. 
Os autores Barberá e Knappe (1999, p. 123), definem o solilóquio como: 
Uma expressão de sentimentos e pensamentos por parte de um individuo sobre 
a percepção que ele tem nesse momento sobre si mesmo e/ou sobre o sistema 
do qual faz parte. Implica esclarecimento de conteúdo ocultos e costuma levar a 
uma definição do sistema a partir de um ponto de vista pessoal. 
 
A auto-apresentação é uma técnica que pode aquecer o protagonista e, 
simultaneamente, contribuir com uma grande riqueza de dados nas entrevistas 
exploratórias. 
O modo de explicação dessa técnica deve ser adequado aos interesses 
específicos do momento. Costuma-se sugerir que o paciente expresse seu nome, idade 
e outros dados gerais e que represente cenas rápidas com pessoas de sua família. 
Seria interessante que o próprio indivíduo representasse dois (ou mais) papéis, para 
expressar sua visão subjetiva dos modos vinculares. 
 
3.4. Jogos Psicodramáticos. 
 
Historicamente o Psicodrama originou-se dos princípios do jogo. De acordo 
com Moreno (1993) a brincadeira é mais velha que a própria humanidade e foi a 
percussora de seu crescimento e desenvolvimento. 
Yozo (1996) relata que Moreno aprofundou a temática sobre a 
espontaneidade como ato de brincar, por ter vivido uma experiência, ao brincar de “ser 
Deus”, em seus quatro anos de idade, de uma base lúdica, de um jogo dramático, 
representando o papel central com tal desempenho que, ao ser questionado pelos 
colegas que eram os anjos, por que não voava, tentou e se estalou no chão. 
A partir desta vivência em “ser Deus”, Moreno notou que nas crianças a 
espontaneidade era natural, sem censura e sem referências sociais, que comprometem 
30 
 
o adulto. Percebeu que a grande parte das pessoas eram despojadas de 
espontaneidade e criatividade, por estarem arcadas de valores e regras sociais 
(conservas culturais). Portanto, assinalou que a espontaneidade é o fator primordial 
para uma existência saudável e o individuo espontâneo consegue ampliar a sua 
capacidade criadora. 
Afirma Yozo que o lúdico e a espontaneidade são importantes para o 
resgate da chama acesa da criatividade. 
O jogo psicodramático permite que se defronte com novas possibilidades e 
espera-se que o individuo dê respostas novas a uma antiga situação e assuma 
responsabilidade com suas novas escolhas. Monteiro (1994) diz que “o jogo é uma 
atividade que propicia ao individuo expressar livremente as criações de seu mundo 
interno, realizando-as na forma de representação de um papel, pela produção mental 
de uma fantasia ou por uma determinada atividade corporal”. 
O jogo cria uma atmosfera permissiva que dá condições ao aparecimento de 
uma situação espontânea e criativa no individuo, proporcionando-lhe a possibilidade de 
substituir respostas prontas, estereotipadas por respostas novas, diferentes e livres de 
uma conserva cultural trazida no decorrer do tempo. Através do jogo é possível uma 
aproximação sutil do material conflitivo, resgatando conteúdos inconscientes que, de 
outra forma, dificilmente seriam percebidos. Pode permitir que o indivíduo descubra 
novas formas de tratar situações que poderão ser semelhantes a outras de sua vida 
cotidiana, favorecer também, a quebra de resistência, bloqueio e ansiedades, formando 
um “campo relaxado” que permitirá novas possibilidades de relações que possam levá-
lo a atingir uma meta. 
Cukier (1992) confirma falando que o clima de tensão habitual aos dramas 
pode ser substituído, através do jogo psicodramático por uma sensação de 
relaxamento e prazer, que por sua vez atenua as defesas intrapsíquicas. 
De acordo com Monteiro (1994), o estabelecimento de um campo de 
conduta relaxado, cria um ambiente de baixa tensão para o individuo, eliminando a 
possibilidade de ser uma situação angustiante ou ansiógena. 
 
31 
 
3.5. Etapas do jogo. 
 
Todo jogo psicodramático é iniciado por um aquecimento, pois o 
“aquecimento é importante para estimular a espontaneidade” (BLATNER & BLATNER, 
1996, p. 74). 
Cukier (1992) mostra que o aquecimento é indispensável enquanto requisito 
técnico inicial de uma sessão psicodramática, levando o paciente a se preparar para a 
ação. Para ela no Psicodrama, é possível perceber que o paciente: 
Chega na sessão carregado de tensões que vive lá fora, tensões essas não só 
relacionadas aos conflitos intrapsíquicos pelos quais pede ajuda, mas também, 
relacionados a fatores mais ou menos, aleatórios tais como o trânsito, o humor 
negro do seu superior no trabalho, seu dente que dói, etc. (CUKIER, 1992, p. 
30). 
No decorrer do aquecimento, o paciente irá se desligar desses fatores do dia 
a dia para melhor se entregar e se envolver no jogo. O terapeuta também precisa 
utilizar o aquecimento para se desligar de outros papéis de sua vida e se sentir 
integrado ao paciente. 
O aquecimento é o momento em que ocorre tanto a escolha como a 
preparação do paciente para a ação dramática. Esta fase tem duas etapas: o 
aquecimento inespecífico, no qual visa situar o paciente na sessão, centralizando sua 
atenção em si mesmo, diminuindo a tensão e facilitando a interação em toda a sessão; 
no aquecimento específico acontece a decisão do terapeuta do recurso técnico que vai 
utilizar. 
Após o aquecimento é proposto pelo terapeuta o jogo que levará o cliente a 
presentificar o seu conflito na sessão através das figuras do seu mundo interno. O 
conflito aparece quando o jogo acontece, portanto é um dos mecanismos terapêuticos 
mais potentes. Castanho (1995), afirma que qualquer fato pode criar jogo, basta 
considerar a determinação do cliente, o clima e o aquecimento do terapeuta (como me 
sinto). 
Para facilitar o trabalho do terapeuta, Castanho divide os jogos dramáticos 
podendo existir todos ou um desses três momentos: eu comigo – o paciente se volta 
32 
 
para si mesmo como uma forma de auto-percepção para se centrar e se respeitar; eu 
com outro – o paciente se volta para o outro, para fora de si; eu com todos – quando o 
paciente se interage com o grupo. 
O jogo tem como objetivo terapêutico desenvolver o potencial vital de ação, 
possibilitando uma experiência transformadora para si, desenvolvendo a 
espontaneidade e a capacidade de criação. Nesta forma de intervenção terapêutica 
Pode ser produzido algo novo, sendo que se propõe entrar numa zona desconhecida, 
tanto para o paciente quanto para o terapeuta. 
Após o jogo acontece o momento de compartilhar a vivência experenciada. 
É sugerido ao paciente que expresse o que o emocionou e o sensibilizou no jogo, 
assim como os sentimentos nele despertados e o terapeuta deve estar a serviço do 
paciente, mas com muita cautela para nãocolocar suas experiências pessoais. 
 
33 
 
CAPÍTULO IV 
TRÊS TEMPOS DO PROCESSO TERAPÊUTICO DE LETÍCIA 
 
 
História da Jovem Letícia. 
 
Através de recortes de sessões terapêuticas será demonstrado como a 
paciente Letícia (nome fictício) conseguiu se conscientizar e despertar o desejo de 
“cura” através das técnicas psicodramáticas e da utilização do recurso técnico dos 
jogos psicodramáticos. 
Letícia é uma jovem de 19 anos, solteira. Há dois meses está cursando 
Direito, mora com os pais que são comerciantes e com uma irmã de 18 anos que 
pretende cursar medicina. Foi a mãe quem marcou a consulta, em busca de ajuda por 
perceber Letícia deprimida e solitária. No início da sua adolescência, sentia vergonha 
de sua aparência, por ter usado óculos e aparelho dentário. Com isso começou 
apresentar dificuldades no relacionamento interpessoal. Hoje, Letícia tirou o aparelho e 
passou a usar lentes de contato, mas ainda continua sem amigos e nunca se envolveu 
afetivamente com alguma pessoa. A família de Letícia tem como religião o catolicismo, 
e pertence à classe social média. Todos os seus tios moram no estado do Tocantins e 
tem contato com eles somente nas férias de julho e janeiro. Os pais são comerciantes 
com uma renda que os permitem realizar viagens, oferecer às filhas estudos em 
faculdades e colégios conceituados e viverem dentro dos padrões de normalidade 
social. 
O estudo de caso será dividido em três tempos por razões didáticas/práticas 
com relação à apresentação do caso em estudo monográfico: 
1º tempo – Rigidez e Resistência à Terapia; 
2º tempo – Revelação de Si Mesma Por Meio de Técnicas e Jogos Psicodramáticos; 
3º tempo – Consciência e Desejo de “Cura
34 
 
 
1º Tempo – Rigidez e Resistência à Terapia. 
 
A cliente entrou no consultório na primeira sessão e foi logo se sentando na 
poltrona. Permaneceu a maior parte do tempo com os braços cruzados, ombros altos e 
a cabeça baixa. 
A terapeuta percebeu a tensão da cliente e iniciou um diálogo, explicando o 
que é a psicoterapia e depois perguntou a ela se concordava com a mãe por achá-la 
sozinha e deprimida. Inicia-se assim um aquecimento verbal. 
Letícia (L)1 – Concordo sim, mas eu acho que não preciso fazer terapia por gostar de 
estar sozinha. Para mim é normal. 
Terapeuta (T)1 – Como é viver sozinha, sem amigos...? (neste momento, a cliente se 
emociona, treme o queixo e os olhos ficam vermelhos) 
L - Um vazio! Eu acho. 
A terapeuta sugere a técnica da Concretização para a cliente expressar a 
emoção que sentia. 
Através da técnica de Concretização é possível materializar nos objetos 
inanimados, emoções, conflitos, partes corporais, doenças, utilizando as imagens, 
movimentos e falas psicodramáticos. Cukier (1992) enfatiza que se for bem conduzido 
este recurso técnico, acelera uma catarse de integração, pedindo para o paciente que 
mostre concretamente o que estas coisas fazem com ele e como o fazem. 
T - Este vazio está aonde no seu corpo? Pegue a almofada e represente com ela o 
vazio que você disse. 
L - Está na minha cabeça. 
T - O que este vazio faz com você? 
L - Não gosto de pensar e nem de me lembrar que eu não tenho amigos. 
T – O vazio faz com que você não pense e nem se lembre que não tem amigos, é isso? 
“Estou sofrendo. É muito triste viver assim e me sinto tão sozinha e frágil” (Técnica do 
Duplo). 
___________________________ 
1 
T e L - indicam a Terapeuta e Letícia (cliente) 
35 
 
 
Letícia não consegue explicar o que acontece quando está próxima de 
pessoas, faltam palavras e vem o vazio. Só sabe que isso começou depois dos seus 10 
anos quando precisou usar óculos e aparelho dentário. 
No momento do compartilhamento Letícia foi estimulada a expressar os 
pensamentos e sentimentos que emergiram com a realização da técnica da 
Concretização. A terapeuta participa do compartilhar, encorajando-a para que juntas 
possam encontrar uma compreensão melhor deste vazio. 
Na segunda sessão, Letícia demonstra no início mais retraimento. Estava 
com a cabeça baixa. Apresentou a queixa de não conseguir olhar para as pessoas. 
A sua verbalização se expressava por frases curtas e interrompidas. Os 
intervalos de tempo para falar eram longos e tensos. 
L – Será que é por isso que ninguém conversa comigo, nem se aproxima?... 
A terapeuta propõe que Letícia veja sua postura através da técnica do 
Espelho. E se posiciona com todas as semelhanças da postura de Letícia. 
L – Nossa, eu estou assim? 
T - Você se mostra assim... O que mais te chama atenção nesta tua postura? 
L - A cabeça você está... eu estou olhando para o chão. 
T - Isso! É como você está. 
L - Eu acho que fico assim na sala de aula. 
A terapeuta sai da posição de espelho e volta à postura inicial. Percebe-se 
que a cliente estava com a cabeça erguida e olhando nos olhos da terapeuta. 
T - Olá, Letícia, como vai? 
L - Vou bem (dá um leve sorriso com rosto avermelhado). 
No encerramento da sessão, ao compartilharmos Letícia expõe que ficou 
surpresa e assustada ao ver sua real postura, que até então não se percebia dessa 
forma. O objetivo desta técnica, a qual Moreno (1999) fez um paralelo entre a vivência 
infantil, é levar o paciente em direção ao seu auto-reconhecimento. 
Na terceira sessão, a cliente cumprimenta a terapeuta olhando firmemente 
nos olhos. Foi proposto a técnica de Auto-Apresentação, sugerida por Jacob Levy 
Moreno. Letícia apresenta o seu átomo familiar. 
36 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LEGENDA: 
1. Letícia 2. Mãe 
3. Pai 4. Irmã 
5. Tia 6. Faculdade e o Lar 
7. Tristeza 
 
 
Antes de iniciar a técnica proposta, foi feito o aquecimento. A terapeuta 
pediu à cliente para caminhar e entrar em contato com seu corpo, observando como 
estava sua respiração, a batida do coração e todas as partes do seu corpo. Logo em 
seguida pediu para pensar nas pessoas significativas de sua vida, lugares e algo 
material também significativos e por último um sentimento. 
Na montagem da Auto-Apresentação, observou-se em Letícia sinais de 
bloqueio da espontaneidade e criatividade por meio da demora na montagem do seu 
mundo2. Letícia demonstrou o mesmo sintoma ao criar a escultura3 de si mesma com a 
qual mostra como está se sentindo. Suas dimensões humanas estão doentias, 
atingindo todas as suas relações. 
2 A terapeuta utiliza a expressão “mundo” para designar o ambiente social, afetivo e cultural da cliente. 
3 
Escultura – posição corporal que mostra o modo de relação (ou a rede relação) que existe entre as pessoas cujo 
corpo 
 
vai manejar. 
 1 
3 
2 
4 
5 
6 
7 
37 
 
 
O processo patológico inicia-se com o isolamento social e a redução das relações 
afetivas. Nesse caso de ansiedade, sua espontaneidade fica bloqueada permanecendo 
na mesmice dos comportamentos, fato este que revela a cristalização dos papéis, o 
que significa o adoecimento (Conserva Cultural). 
No final desta técnica Letícia enche os olhos de água quando entra em 
contato com seu sentimento de tristeza, fazendo com que ela percebesse a 
insatisfação de viver isolada de tudo e de todos, deixando de ser normal. Ela pode 
perceber seus vínculos familiares e a relação de seus problemas com os problemas 
vinculares da família. 
No compartilhamento Letícia confessa que sentiu muita dificuldade no jogo 
da Auto-Apresentação, mas fez com que ela pensasse na melancolia existente em sua 
vida. 
Após isso, Letícia queixou-se do pai por ser uma pessoanervosa e que tudo 
para ele é perigoso (andar de ônibus, ir ao shopping, sair à noite). Segundo ela, a irmã 
tem muitos amigos e consegue tudo dos pais, mesmo contrariando-os. Letícia acha 
que isso é falta de respeito por eles. A mãe é submissa ao marido, e vive com a 
preocupação de não estressá-lo, para não deixá-lo nervoso. 
Letícia lembra-se nesta sessão de uma tia que mora no estado de Tocantins 
e sente muita falta dela por ser uma pessoa que a compreende e consegue reparar a 
diferença do tratamento dado pelos pais a ela e à irmã. Segundo esta crença os pais 
cedem muito mais para sua irmã por ser insistente e determinada, e já Letícia 
apresenta outro comportamento de expor para os pais os seus desejos para não 
contrariá-los. Letícia desabafa que tem dificuldade em tomar decisões e ter atitudes, 
porque seus pais muitas vezes decidiram quais eram as melhores escolhas para ela. 
 Por ser a primeira filha, os pais a protegeram mais, principalmente na sua 
infância, colocando mais limites e regras para não se machucar e ser uma filha 
educada e exemplar. 
 
 Leitura Teórica do Caso 
Fazendo a leitura do caso apresentado no primeiro tempo, Letícia 
38 
 
 
demonstrou diferentes aspectos de resistência (mecanismo de defesa psíquica). 
Podemos percebê-los por meio da sua fala e da sua postura corporal. Letícia tem como 
crença que é possível viver sozinha admitindo que não precisa de ajuda. 
A técnica da Concretização utilizada na primeira sessão fez com que Letícia 
entrasse em contato com a sua emoção e com seu sofrimento. Após a técnica da 
Concretização a terapeuta encerrou essa sessão com a técnica do Duplo, para mostrar 
à paciente como ela está frágil e por ser muito difícil em pensar e lembrar que não tem 
amigos. Com a técnica do Duplo, a paciente se sentiu confirmada, compreendida e 
aceita por ter dificuldades em se relacionar. Gonçalves Wolff e Almeida (1988) relatam 
que a “técnica que está embasada neste estágio é a técnica do Duplo, que é feita pelo 
ego auxiliar ou, algumas vezes pelo diretor que expressa, num determinado momento, 
aquilo que o protagonista não está conseguindo se expressar”. 
Na segunda sessão onde realizou-se a técnica do Espelho, percebemos que 
o momento de vida da paciente pode ser comparado à fase da Identidade Total 
Diferenciada ou do Reconhecimento do Eu, que é o momento que a criança começa a 
se perceber enquanto indivíduo, separada dos outros (eu-tu). Nessa fase o ego – 
auxiliar (mãe ou quem cuida da criança) atua como espelho para a criança. Na teoria 
psicanalítica segundo Freud (1996) a mulher adoecida é vitima de profundos 
complexos relacionados aos seus papéis sexuais, ou seja, sua relação com o outro, 
com o corpo do outro e com sua auto-imagem. 
Na terceira sessão, no primeiro tempo, a cliente mostra dados importantes 
na exploração da realidade, com a técnica de Auto-Apresentação contendo a gênese 
do átomo social. 
Na sua infância, foi relatado por Letícia, como os seus pais a educaram, com 
excesso de limites e superproteção. Ramadam (1987) dá muita importância à maneira 
como os pais administram as necessidades básicas dos filhos tanto físicas quanto 
emocionais. Cukier(1998) acrescenta que o indivíduo necessita de um outro para se 
espelhar, ou seja, para saber se identificar, portanto, o cuidador é quem faz essa ponte 
relacional entre o mundo e a criança, na qual irá refletir em suas futuras relações. 
 
39 
 
 
2º Tempo – Revelação de Si Mesma Por Meio de Técnicas e Jogos 
Psicodramáticos4. 
 
A partir da constatação de dificuldade com a auto expressão denunciada na 
sessão anterior, a terapeuta faz uma nova intervenção por meio de jogos dramáticos. 
A terapeuta iniciou a sessão expondo no tapete a mesma montagem da auto 
apresentação feita pela cliente na sessão anterior. Para iniciar o aquecimento pediu a 
ela que caminhasse e observasse novamente o seu “mundo”. Logo em seguida, propôs 
nesse tempo o jogo Baralho de Figuras composto por reprodução de gravuras, fotos 
com diferentes motivos do mundo cotidiano e da natureza para a cliente, com o objetivo 
de dar continuidade a sessão anterior. 
Numa caixa grande, cheia de gravuras, foi entregue para a cliente escolher 
uma que representasse a sua vida. 
A escolha foi a gravura de uma jovem com olhar triste e no fundo várias 
imagens coloridas e alegres. 
 
L - Esta gravura está mostrando como estou vivendo a minha vida ( a voz foi ficando 
rouca). Eu... aqui... parada... e a vida passando! 
Neste momento a terapeuta usa a técnica do Psicodrama Interno, pedindo 
para a cliente se levantar, olhar por um tempo a gravura escolhida e fechar depois os 
olhos, com esta imagem na sua mente. 
T – Feche os olhos, Letícia. (A terapeuta observa que sua respiração foi ficando rápida 
e curta). Pense em voz alta ... 
L – Eu quero sair daqui! Não dá! 
T – Estou aqui com você... junto de você... que sensações são essas? 
L - De agonia, de vergonha! 
T - (terapeuta faz o Duplo) Agonia, estou rodeada de pessoas e lugares alegres. Estou 
com vergonha. 
 
_________________________ 
4 – 
As técnicas e os jogos utilizados estão apresentados em Apêndice. 
40 
 
 
 
L – (Letícia abre os olhos e pede para se sentar). Por que isso acontece? 
T - Isso acontece lá fora, né? 
L - Isso. É um mal-estar. 
T - Percebi que a sua respiração ficou curta. 
L - E rápida, meu coração acelerou, minhas mãos ficaram suadas e frias. Me faltam 
palavras e acontece aquele vazio. 
No final da sessão a terapeuta compartilha, explicando que quando a 
ansiedade aumenta pode provocar taquicardia, mãos suadas, tremores e perda de 
fôlego. 
Na próxima sessão, a terapeuta pede para a cliente fazer um desenho por 
percebê-la muito calada. Antes da realização do desenho, foi colocada uma música 
para a cliente relaxar com olhos fechados, numa posição confortável para entrar em 
contato com seu corpo. Numa folha branca a terapeuta fez um traço informal, semi 
curvo e pediu para que a cliente fizesse um desenho. Através dessa técnica (desenho 
projetivo), foi possível observar a forma como a cliente está se relacionando com as 
pessoas e com a vida. Depois do desenho pronto a terapeuta pediu para que ela 
contasse uma história. 
Letícia cria a história do desenho. 
L - Era um dia cheio de sol, todos estavam aproveitando o feriado. Na rua tinha uma 
multidão e cada um se divertia muito. O pai brincava com o filho de soltar pipa. Depois 
este menino, se cansou e foi pular corda com seus amigos. 
T - E este menino o que faz aqui em cima? 
L - Este menino estava só olhando. 
T - E por que ele não desce? 
L – Se ele descer vai se machucar porque é muito alto e perigoso. Ele está triste! 
T - Ele está triste, sem coragem e por isso não consegue descer! Este menino parece 
com alguém que você conhece? 
L - (Se emociona) Eu tenho medo, não tenho coragem! 
T – Letícia, o nosso tempo já está esgotando, desenhe aqui um final feliz para essa 
41 
 
 
história. 
No término do desenho, a cliente comenta. 
L – Consegui descer... Estou agora com duas amigas. 
Letícia relata que está sempre imaginando situações catastróficas e 
freqüentemente se considera incapaz de lidar com elas caso realmente venham a 
acontecer. 
No compartilhar, Letícia conta que ficou novamente assustada quando se viu 
no desenho, o qual confirmou a realidade da sua maneira de viver. 
 
 Leitura Teórica do Caso 
No segundo tempo, foram utilizados jogos de aquecimento, de relaxamento, 
interiorização e sensibilização que estão correlacionados à primeira fase da Matriz de 
Identidade (Eu-Eu) nesta fase, estes jogos tem por características o desenvolvimento

Outros materiais