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Apostila COMPLETA de Ginecologia e obstetrícia

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FESO
Medicina Veterinária
Ginecologia e Obstetrícia Veterinária
Giselle Keller El Kareh de Souza
(2005)
Índice
Anatomia do sistema genital feminino						pág. 03
Fisiologia do aparelho reprodutor feminino					pág. 07
Ciclo estral										pág. 14
Semiologia do aparelho genital feminino					pág. 17
Patologias do sistema reprodutor feminino					pág. 19
Gestação										pág. 28
Patologias da gestação								pág. 35
Parto											pág. 39
Puerpério										pág. 44
Neonatologia eqüina								pág. 50
Fisiologia da lactação								pág. 55
Patologias da glândula mamária							pág. 59
Anatomia do sistema genital feminino
Os órgãos femininos da reprodução são compostos por: ovários, ovidutos ou tubas uterinas, útero, cérvix uterina, vagina e genitália externa (vulva).
Os órgãos genitais internos são sustentados pelo ligamento largo do útero (mesovário – sustenta os ovários; mesométrio – sustenta o útero; e mesosalpinge – sustenta as tubas uterinas) e pelo ligamento intercornual (a égua não o tem e só a vaca o possui muito desenvolvido - se localiza entre os cornos uterinos). A dobra entre o mesovário e o mesosalpinge forma a bolsa ovariana. Nas vacas, porcas e éguas, a abertura é maior que o ovário, podendo ser aberta para removê-lo. Nos carnívoros essa abertura é menor que o ovário, não podendo ser aberta para remoção dos ovários.
Além dos ligamentos citados, há também o ligamento próprio do ovário – entre o ovário e o corno uterino, e o ligamento suspensório do ovário – prende o ovário ao teto da cavidade. Em gatas e cadelas fica caudal ao rim.
A irrigação sangüínea destes órgãos é feita pelas artérias ovariana, uterina média e pudenda interna. A vascularização segue através dos ligamentos até os órgãos. Em vacas pode-se perceber a pulsação da artéria uterina média durante a gestação, a partir do 4º mês.
Ovário
O ovário é um órgão duplo de forma variável, encontrado dorsalmente na cavidade abdominal, próximo ao bordo pélvico, apresentando função celular (liberação de gametas) e endócrina (secreção de hormônios).
Histologia:
O ovário apresenta epitélio superficial (germinativo), túnica albugínea (tecido conjuntivo fibroso que cobre todo o ovário), cortical externa e medular interna (com vasos e nervos). Na cortical ficam os folículos primários, que se desenvolvem até a ovulação.
Forma: sua forma varia com a espécie, podendo ser:
Multíparas: forma de cacho de uvas (lobulados). Encontrado em porcas.
Uníparas: forma ovóide. Encontrado em cadelas, gatas, vacas, ovelhas e éguas.
Os ovários de vacas, porcas, gatas, cadelas, são muito parecidos. Mas durante o cio, os ovários de porcas, gatas e cadelas ficam com formato de cachos de uva, pois possuem múltiplas ovulações. A vaca normalmente só produz um óvulo de um ovário, então seu ovário não fica com forma de cacho de uva. O ovário de égua é em forma de feijão, de rim (riniforme). O de porcas, gatas e cadelas é um pouco mais achatado que o das vacas, que é elíptico.
Os ovários das éguas possuem uma pequena depressão central chamada de fossa de ovulação, que é por onde o folículo rompe e é eliminado do óvulo. Diferentemente das demais espécies, na égua a cortical é interna e a medular externa. Por esse motivo a égua só elimina o óvulo através da fossa de ovulação, pois é nesta depressão que a cortical se une a medular.
Nas aves apenas o ovário esquerdo é funcional.
Funções:
Possui função celular, que é a produção de gametas femininos (oócitos – óvulos), e função endócrina, que consiste na secreção de hormônios:
Estrogênio: responsável principalmente pelas características sexuais secundárias, sinais de cio e desenvolvimento da glândula mamária.
Progesterona: responsável pela manutenção da gestação, lactação e comportamento materno.
Inibina: importante para a regulação endócrina por feedback negativo.
Ocitocina ovariana: influi no processo de involução do corpo lúteo.
Relaxina: facilita a passagem do feto no canal do parto.
Tuba Uterina (oviduto)
Possui formato sinuoso, difícil de ser palpada. Se divide em três porções:
Infundíbulo – é a porção mais próxima ao ovário. O infundíbulo afunila (alarga na extremidade) formando um tubo. Em sua abertura se encontram fímbrias (lembram franjas), que na época da ovulação se prolongam e envolvem o ovário para que o óvulo seja atraído para tuba.
Ampola – é uma porção mais dilatada dorsalmente, correspondendo aproximadamente à metade do comprimento da tuba.
Istmo – estreita porção proximal, ligando as tubas ao útero; na égua forma uma projeção no corno uterino (papila intramural).
É composta por:
Membrana mucosa, altamente pregueada, coberta por epitélio ciliado simples, fundamental para o encaminhamento do óvulo até o útero;
Tecido conjuntivo submucoso;
Camada muscular lisa circular interna;
Camada muscular lisa longitudinal externa;
Tecido conjuntivo coberto por peritônio.
Suas funções são: captar o óvulo e encaminhá-lo até o útero, secreção de muco e transporte dos espermatozóides.
Útero
Possui cérvix (colo), corpo e dois cornos uterinos. Pode estar localizado na cavidade pélvica ou abdominal, dependendo da espécie.
É composto por:
Camada serosa (perimétrio);
Camada muscular (miométrio) – músculo liso, tecido conjuntivo e vasos;
Camada mucosa (endométrio) – rico em glândulas.
Obs: fêmeas com problemas de vascularização terão problemas de fertilidade.
Tipos de úteros:
Simples – mulher, primatas.
Duplex – (duas cérvix) coelha, rata, camundonga.
Bicornual – porca.
Bipartido – vaca, ovelha, égua, cadela, gata.
Na cadela e na gata, o útero tem forma de Y (os cornos são muito alongados). Na porca os cornos além de longos são ondulados. A vaca possui um septo interno que divide o corpo do útero, que fica muito pequeno. A égua tem um corpo do útero grande. A gata, a porca e a cadela têm o corpo do útero pequeno, mas não tão pequeno quanto o da vaca.
As funções do útero são:
Transporte espermático – feito pelo endométrio, do ponto de ejaculação até o local de fertilização, no oviduto.
Receber o embrião (concepto) e permitir sua nidação (fixação).
Gestação.
Expulsão do feto (parto).
Secreção de prostaglandina, relaxina e ocitocina.
Regulação da função do corpo lúteo.
Cérvix:
Composta por três camadas: serosa, muscular e mucosa. Nas fêmeas ruminantes seu formato é tubular, firme, com 4 a 5 anéis. Na égua são pregas longitudinais. A cérvix se localiza entre o útero e a vagina.
A porca e a vaca possuem anéis de tecido conjuntivo denso na cérvix, auxiliando seu fechamento. A cadela, a égua e a gata não possuem esses anéis, sua cérvix é só muscular. As cérvix da cadela, da vaca, da égua e da gata se projetam dentro da vagina, a da porca não. Essa projeção (processo vaginal da cérvix) forma um espaço entre a parede da vagina e a projeção, que é chamada de fórnix. Na porca os anéis são em forma de saca-rolhas, para adaptar-se ao formato do pênis do macho.
Suas funções são:
Secreção de muco cervical para facilitar o transporte dos espermatozóides até o útero;
Atua como reservatório de espermatozóides, que ficam alojados nas criptas cervicais, abastecendo o trato reprodutivo com subseqüentes liberações de material seminal, ou impedindo que um número excessivo atinja o local da fertilização.
Promove a retenção de espermatozóides defeituosos e inviáveis.
Passagem do feto.
A cérvix é semelhante a um esfíncter, permanecendo fechada, exceto durante o cio, quando relaxa para permitir a passagem de espermatozóides para o útero, e durante o parto, permitindo a passagem do feto.
Durante a gestação, o muco produzido pela cérvix e que oclui o canal cervical se torna altamente viscoso, espesso, turvo e não se cristaliza, formando uma barreira contra o trânsito de espermatozóides e bactérias, prevenindo infecções uterinas. No momento do partoeste tampão se liquefaz e a cérvix se dilata para passagem do feto e de suas membranas fetais. A secreção do muco cervical é estimulada pelos estrógenos ovarianos e inibida pela progesterona.
Vagina
Possui formato cilíndrico, é músculo membranosa (para dilatar na saída do feto) e produz muco. Se localiza na cavidade pélvica, posterior a cérvix e anterior a vulva. Composta por:
Camada serosa: peritônio, apenas na porção cranial.
Camada muscular: músculo liso, tecido conjuntivo, vasos e nervos.
Camada mucosa: epitélio escamoso estratificado, aglandular (exceto na vaca, que possui algumas células mucosas).
Suas funções são:
Secreção de muco – para umidificar a vagina.
Acolhimento de pênis durante a cópula.
Passagem do feto.
Depósito de sêmen.
Vulva (genitália externa)
	É a porção externa da genitália feminina, se estendendo da vagina para o exterior. Possui dois lábios (maior e menor), uma comissura dorsal e outra ventral. Na ventral fica o clitóris. O clitóris possui uma fossa, uma glande e um prepúcio.
A bexiga fica ventral a vagina e a uretra desemboca na vagina através do meato uretral externo, ou meato urinário. Entre o meato urinário e a vulva fica o vestíbulo vaginal (junção da vagina e lábios da vulva). Dentro do vestíbulo, próximo ao meato urinário, fica o hímen. Na vaca encontramos o divertículo suburetral, que não possui função conhecida, abaixo da uretra. Deve-se tomar cuidado ao enviar a sonda para colher urina, pois pode-se inseri-la por engano neste divertículo.
As vacas possuem as glândulas de Bartholin, que secretam um líquido viscoso, principalmente durante o cio. Na égua e na porca encontramos as glândulas de Cowpen.
As funções da vulva são:
Proteção da entrada do trato genital.
Cópula.
Passagem da urina.
Passagem do feto.
Fisiologia do aparelho reprodutor feminino
Puberdade
É a época em que machos e fêmeas começam a liberar gametas, atingindo a capacidade reprodutiva e manifestando comportamento sexual. É influenciada por fatores nutricionais, genéticos, hormonais e ambientais.
A melhor hipótese é que o início da puberdade esteja relacionado a uma diminuição na sensibilidade do hipotálamo aos esteróides (que promovem feedback negativo), permitindo a liberação das gonadotrofinas, que passam a estimular as gônadas.
Características:
Nas fêmeas o início da puberdade é marcado pelo aparecimento do cio (e ovulação). O cio se caracteriza principalmente por a fêmea se deixar montar pelo macho. Além disso, durante o cio ocorrem uma série de transformações na fêmea: edemaciação e hiperemia de vulva e útero, produção de muco, maturação de folículo, alteração de comportamento.
Os machos adquirem a capacidade de copular e produzir espermatozóides. Além das características sexuais secundárias que a testosterona provoca, como: engrossamento de voz, aumento de massa muscular, descolamento do pênis do prepúcio (em algumas espécies, como o bovino), crescimento de chifres, de pêlos, relinchar (eqüinos), aumento na agressividade.
Fatores que interferem:
Alguns fatores podem interferir no aparecimento da puberdade:
Nutrição: Um elevado nível nutricional leva a diminuição na idade da puberdade (precocidade). Já uma desnutrição (deficiência de proteínas, vitaminas e minerais) interferem nos eventos reprodutivos, aumentando a idade da puberdade.
Um estudo feito com vacas em uma propriedade demonstrou que um elevado nível nutricional diminui a idade da puberdade.
	Nível Nutricional
	Peso Médio ao 1º Cio
	Idade Média ao 1º Cio
	Alto
	240,72 kg
	440 dias (± 35,1 dias)
	Baixo
	262,82kg
	710 dias (± 62,1 dias)
Pode-se observar que em média com 440 dias de vida, pesando 240 kg, as vacas que foram alimentadas com alto nível nutricional chegaram a puberdade, enquanto as vacas alimentadas com baixo nível nutricional só atingiram a puberdade com 710 dias, pesando quase o mesmo.
Peso corporal: é necessário um desenvolvimento corporal compatível para assegurar uma gestação e parto normais. Esse peso corporal varia entre as raças. Por exemplo, peso médio em:
Raças zebuínas = 320 à 350kg
Holandesas = 340kg
Jersey = 225kg
Grau de sangue: a consangüinidade retarda o início da puberdade, enquanto cruzamentos entre famílias distantes (mistura genética – “choque de sangue”) antecipam a idade da puberdade.
Raças: as raças européias são mais precoces que as zebuínas.
Porte: fêmeas de maior porte sofrem retardo a puberdade, enquanto as de menor porte antecipam.
Efeitos ambientais: temperatura e umidade extremas levam a estresse, retardando a puberdade. Radiação influencia negativamente. O fotoperíodo pode influenciar positiva ou negativamente, dependendo da espécie.
Éguas e gatas são influenciadas positivamente pelo fotoperíodo. Quanto mais luz, mais produzem hormônios. São fotoperíodo positivas.
Ovinos e caprinos são influenciados negativamente pelo fotoperíodo. São fotoperíodo negativas.
Vacas não sofrem influência de fotoperíodo. Para elas o importante é a nutrição.
Manejo: a presença do macho influencia a fêmea. Muitas não entram no cio pela falta de visualização do macho. O cheiro da urina e saliva também influencia. Os animais precisam ver outros animais cobrindo para aprenderem, pois senão podem não saber o que fazer no momento da cobrição. Apenas o instinto pode não ser suficiente.
Stress: leva a alteração nos níveis hormonais, o que retarda o aparecimento da puberdade.
A nutrição correta também é muito importante para a produção de hormônios. Os hormônios FSH (folículo estimulante) e LH (luteinizante) são hormônios protéicos, que precisam de aminoácidos para serem produzidos. Uma alimentação pobre em proteínas leva a baixa produção destes hormônios. Dá mesma forma, uma alimentação balanceada, rica em proteínas, pode levar a precocidade a puberdade, levando a fêmea a prenhar mais cedo, uma característica muito desejável em animais de produção.
Mas apenas o fato de uma fêmea entrar no cio não é significativo de que já possa (ou deva) ser coberta, pois deve-se avaliar seu peso corporal, altura e conformação (como já dito, a conformação e o peso são muito importante para que a fêmea tenha uma gestação e parto normais). A fêmea diminui seu crescimento à partir da primeira gestação, em favorecimento ao acúmulo de gordura, ou seja, pára de usar os nutrientes para formação de proteína e passa a acumular gordura.
Obs: As fêmeas não possuem uma fase característica que possa ser chamada de menopausa, como na mulher, com alteração comportamental e hormonal evidentes, apesar de também pararem de liberar óvulos.
Correlação neuro-endócrina entre hipotálamo, hipófise e gônada:
A hipófise se localiza no infundíbulo do diencéfalo, presa por um pedículo. Possui Neuro-hipófise (originária do sistema nervoso) e Adeno-hipófise (originária da faringe). Entre as duas porções temos a porção intermediária. Produz hormônios que controlam (regulam a produção) outros hormônios, entre eles os gonadais.
O hipotálamo se localiza no diencéfalo e possui núcleos (acúmulos) de neurônios. O núcleo paraventricular e o núcleo supraótico (que produzem hormônios que são armazenados pela hipófise), núcleo arcuado e núcleo ventro-medial (que produzem os hormônios precursores, que estimulam a produção de hormônios específicos pela hipófise).
Os fatores de liberação (hormônios precursores) são liberados pelos núcleos hipotalâmicos arcuado e ventro-medial em filetes nervosos, que se ligam a artérias e veias (circulação sangüínea) e chegam a adeno-hipófise (lobo anterior). O caminho percorrido é: artéria hipotalâmica, capilares, veia-porta-hipofisária, artéria hipofisária anterior. Chegando a adeno-hipófise, os fatores de liberação estimulam as células basófilas e acidófilas a produzirem os hormônios LH (luteinizante), FSH (folículo estimulante) e PRL (prolactina), que são liberados na corrente sangüínea e vão agir nas gônadas.
Os núcleos para-ventricular e supra-ótico produzem os neuro-hormônios ocitocina(promove contração da musculatura lisa) e vasopressina (dilatação dos vasos periféricos). Estes núcleos (NPV e NSO) se ligam a neuro-hipófise por filetes nervosos, enviando os neuro-hormônios até ela por impulsos nervosos. Chegando ao lobo posterior da hipófise (neuro-hipófise), a ocitocina e vasopressina são armazenadas nos pituócitos. Estes hormônios são importantes na reprodução, pois atuam no momento do parto.
NA e NVM possuem liberação lenta de RHs (Realise hormon - fatores de liberação), pois são liberados na corrente circulatória. Já a ocitocina e a vasopressina são liberadas por impulso nervoso, tendo uma liberação muito rápida.
O lobo intermediário produz melanina, não tendo importância na reprodução.
Ovulação e fecundação
Folículos:
As fêmeas já nascem com todos os seus gametas prontos, que maturam à partir da puberdade, aos poucos, durante o período fértil da fêmea. Os machos nascem sem nenhum gameta pronto, apenas com as células que os irão produzir a partir da puberdade. É por esse motivo que machos podem ser usados por mais tempo que as fêmeas na reprodução, pois após certa idade os óvulos das fêmeas já estão velhos, aumentando a probabilidade de fetos defeituosos.
Folículos Primordiais: são os que se formam na fase embrionária. As células germinativas primordiais migram para a crista gonadal e são envolvidas por células foliculares, originando os folículos primordiais.
Folículos Primários: a partir do nascimento os folículos primordiais passam a ser primários. Constam de um ovócito envolto por uma camada de células epiteliais achatadas, chamadas de células da granulosa. As bezerras, por exemplo, já nascem com 150 mil folículos primários.
Folículos Secundários: na puberdade, por influência do FSH (e em menos intensidade do LH) – que age no folículo primário – ocorre a proliferação e crescimento das células da granulosa (originando várias camadas). Surge a zona pelúcida, que consiste em uma fina membrana entre o óvulo e a camada interna de células da granulosa. Ainda no folículo secundário ocorre o aparecimento das células da Teca, que formam uma camada que irá se duplicar no folículo terciário. A partir do folículo secundário já se consegue palpar. Nesta fase, a influência hormonal passa a ser dominada por LH (principalmente) e menor escala por PRL e FSH, que promovem a maturação do folículo.
Obs: o estímulo para desenvolvimento folicular (gerado pelo FSH) ocorre em vários folículos primários, mas em vacas, éguas e outras espécies apenas um chega a maturação e os demais sofrem atresia. Esse fenômeno é chamado de Dominância Folicular e seu mecanismo ainda não está totalmente esclarecido. Sabe-se que está ligado a presença de FSH e a quantidade de receptores para FSH e LH na parede celular dos folículos. Nesta fase, quando se deseja superovular uma vaca, aplica-se FSH exógeno, promovendo a maturação de vários folículos.
Folículos terciários: são os folículos maduros, também chamados de folículos de Graaf. A camada de células da Teca se divide em duas: Teca interna e Teca externa. A camada de células da granulosa começa a migrar para a periferia originando um espaço vazio chamado Antro folicular. O óvulo vai sendo recoberto por uma camada de células da granulosa, formando uma coroa que é chamada de Corona Radiata. O Antro é preenchido por um líquido chamado Líquido Folicular, que é produzido pelas células da granulosa. O óvulo é pressionado para a parede do folículo, sendo circundado por um acúmulo de células da granulosa que formam o cummulus oophorus (eminência germinal).
Ovulação e fecundação:
O LH age sobre o folículo, que passa a sintetizar enzimas hidrolíticas capazes de romper a matriz de tecido conjuntivo, fragilizando a parede do folículo (permitindo seu rompimento). A pressão do líquido folicular aumenta e o folículo cresce, pressionando a parede do ovário até o rompimento da mesma. Essa pressão cria uma projeção que pode ser palpada. Ao romper, o líquido do folículo é expulso levando junto o óvulo com a corona radiata e a zona pelúcida.
Ocorre um pequeno sangramento no local do rompimento do folículo, que é chamado de corpo hemorrágico (dura em média 48h). É uma estrutura de consistência friável, semelhante a um coagulo. Ovinos e aves não apresentam corpo hemorrágico. Em seguida, neste local, surge o corpo lúteo (também chamado de corpo amarelo, por sua coloração). As células da teca e da granulosa sofrem hipertrofia e luteinização (se tornam mais densas). As células da granulosa seguem produzindo progesterona (na égua são as células da teca), tendo a função de manter a gestação, promovendo um ambiente uterino adequado à gestação e viabilidade do embrião. As aves não apresentam corpo lúteo. À exceção da égua, o corpo lúteo pode ser palpado.
Obs: as células da granulosa produzem progesterona e as da teca interna estrogênio (na égua é o contrário). O estrogênio passa a ser produzido a partir do folículo terciário (fase do cio) e sua produção diminui com a formação do corpo lúteo, pois a progesterona é antagonista do estrogênio.
O corpo lúteo tem duração variável, dependendo se ocorrer ou não gestação. Se não ocorrer fecundação (ocorrendo durante o ciclo estral), é chamado de corpo lúteo cíclico, tendo vida curta de mais ou menos 12 a 14 dias. Com a formação do embrião, em vacas, dura por toda a gestação e é chamado de corpo lúteo gestacional. Na cadela dura em média 30 a 60 dias (se ultrapassar esse período e ainda ocorrer aumento de prolactina, a cadela apresenta pseudociese). Na égua o corpo lúteo dura em média 100 a 150 dias.
O corpo lúteo que se forma no local da ovulação é chamado de corpo lúteo primário. Em vacas ele se mantém por toda a gestação. Na égua ele não é suficiente para produzir a quantidade necessária de progesterona e surgem corpos lúteos secundários, que mantêm a gestação entre 100 à 150 dias. Após esses 100 dias, a placenta passa a produzir progesterona e o ovário da égua não tem mais influência sobre a gestação.
Se não houver fecundação e gestação, o corpo lúteo regride e forma o corpo albicans, que é a cicatrização por tecido fibroso do local onde houve o rompimento do folículo.
Com a ovulação, o óvulo cai na cavidade abdominal e é “atraído” para a tuba uterina pelas fímbrias (que se contraem, estimuladas pela ocitocina, para capturar o óvulo). Ao chegar a tuba uterina, o óvulo estaciona na região da tuba chamada Ampola e fica no aguardo dos espermatozóides.
Obs: O óvulo possui 10h de vida, enquanto os espermatozóides em média 48h.
Quando um espermatozóide penetra no óvulo, ocorre um espessamento da parede para impedir a penetração de mais espermatozóides (poliespermia – levaria a um aumento da carga genética com a formação de monstruosidades). Ocorre a formação do zigoto, que migra pela tuba e chega ao útero.
O embrião possui (em sua parede) prostaglandinas que fazem o reconhecimento do ambiente uterino. Ao se ligar a parede uterina, “avisa” a mãe que está presente. Com isso, a mãe não produz prostaglandinas (que seriam liberadas pelo útero para lisar o corpo lúteo). Não havendo lise do corpo lúteo, a progesterona continua sendo secretada e a gestação se mantém.
Não havendo formação do embrião (ou ocorrendo alguma falha na informação de sua presença), o útero libera prostaglandinas, levando a lise do corpo lúteo (formando o corpo albicans) e conseqüente queda na produção de progesterona. Essa lise ocorre por hipóxia das células, pois as prostaglandinas levam ao estrangulamento dos vasos sangüíneos que irrigam o corpo lúteo. A queda da progesterona gera aumento do FSH, dando início a um novo ciclo.
Obs: o colesterol origina a progesterona, que origina a testosterona, que por sua vez origina o estrogênio. Estes processos são mediados por enzimas. As fêmeas produzem mais enzimas que transformam testosterona em estrogênio (aromatase). O processo ocorre a partir da produção de progesterona, que é produzida nas células da granulosa (em éguas é o contrário), segue para as células da Teca onde ocorre o armazenamentoe a transformação em estrogênio.
Ciclo Estral
É o período compreendido entre dois estros (entre uma ovulação e outra), variando de duração de acordo com a espécie animal. Apresenta fases bem evidentes, caracterizadas por modificações da genitália interna e externa, assim como no comportamento da fêmea.
Duração
Vaca: 21 a 22 dias.
Porca: 19 a 21 dias.	Média de	
Égua: 19 a 25 dias.	21 dias
Cabra: 20 a 21 dias.
Ovelha: 16 a 17 dias.
Cadela: 4 a 10 meses (média 6 meses).
Quanto ao desenvolvimento do ciclo estral, as fêmeas são classificadas em:
Poliéstricas estacionais: égua, cabra, ovelha. Ciclam em determinadas estações do ano (de acordo com o fotoperíodo).
Poliéstricas não estacionais: vacas. Ciclam o ano todo.
Monoéstricas: cadelas. Ciclam duas vezes ao ano, tendo períodos de anestro.
Fases do ciclo estral
Possui duas grandes fases: proliferativa (ou estrogênica) e secretora (ou progesterônica).
Proliferativa ou estrogênica: fase sob ação do estrogênio. É a fase em que ocorre produção de células descamativas e secreção de hormônios. A fêmea manifesta o cio. É uma fase de resistência e proteção do aparelho genital, ocorrendo aumento da vascularização do útero, para nutrir o embrião e encaminhar células de defesa (promover fagocitose de microrganismos no útero) – pois com a cópula acaba-se por introduzir sujidades na vagina, através do pênis. Essa fase corresponde ao pró-estro e ao estro:
Pró-estro: fase em que ocorre liberação de FSH e LH pela hipófise, para que haja desenvolvimento do folículo e produção de estrógeno. A parede vaginal fica espessa e aumenta a vascularização uterina. Se iniciam as modificações da genitália e as alterações comportamentais. Ocorre edemaciação da vulva, nas vacas há presença de um muco cristalino e o útero fica túrgido (firme).
Estro (cio): fase em que ocorre um pique de LH, determinando um aumento na liberação de estrógeno. A fêmea passa a apresentar todas as características de cio (cérvix relaxada, vulva edemaciada, levanta a cauda, aceita o macho, etc.). Culmina com a ruptura do folículo (com exceção da vaca, onde a ovulação ocorre no metaestro).
Obs: a égua só possui duas fases: estro e diestro. A fase de estro é a fase estrogênica (folículo) e a do diestro é a fase progesterônica (corpo lúteo). Na fase de estro, o útero da égua fica flácido (difere da vaca, que fica túrgido).
Secretora ou progesterônica: Quiescência do trato genital. Fase de baixa resistência, portanto mais susceptível à infecções no aparelho genital. Corresponde as fases de metaestro e diestro (a égua só apresenta diestro):
Metaestro: fase pós-ovulatória, que se segue à formação do corpo lúteo funcional. Ocorre redução do estrogênio e aumento da progesterona. O aparelho genital entra em estado de quiescência. O útero fica fácido (em vacas e pequenos ruminantes) e a cérvix começa a fechar. Vulva e vagina ficam mais pálidas e menos umidificadas. A vaca ovula nesta fase.
Diestro: há plena atividade do corpo lúteo, com produção de progesterona e o órgão quiescente. É a fase secretora. Vulva e vagina se apresentam com coloração normal, cérvix fechada, umidificação.
Anestro: Longo período de quiescência (inatividade) do trato genital, ocorrendo entre os períodos de reprodução. Também existe o anestro gestacional (durante a gestação) e o anestro de lactação (ovelhas só apresentam novo cio após o desmame – podem até ovular neste período, mas não demonstram cio). Excesso de gordura e stress podem provocar anestro.
Duração das fases
	Fêmeas
	Proestro
	Estro
	Metaestro
	Diestro
	Vaca
	3 a 4 dias
	12 a 18 horas
	3 a 5 dias
	10 a 12 dias
	Égua
	-
	4 a 7 dias
	-
	15 a 16 dias
	Porca
	± 3 horas
	± 46 horas
	± 18 dias
	-
	Cadela
	5 a 9 dias
	6 a 12 dias
	30 a 100 dias
	Anestro
Duração do estro e momento da ovulação
Vaca: Duração do estro: ± 18 horas. Ovulação: 8 a 12 horas após o término do estro.
Égua: estro: 4 a 7 dias. Ovulação: 24 a 48 horas antes do final do estro.
Porca: estro: 40 a 46 horas. Ovulação: 10 a 25 óvulos na parte final do estro.
Cabra e ovelha: ± 36 horas. Ovulação: na parte final do estro.
Características do estro
Ovários com um ou mais folículos.
Cérvix relaxada (saída de muco).
Útero túrgido na vaca e flácido na égua.
Produção de muco (cristalino e límpido) para lubrificação – mais evidente na vaca.
Vulva e vagina edemaciadas.
Vagina hiperêmica – avermelhada e brilhante.
Urina com freqüência.
Aceita a monta.
Levanta a cauda.
Vocaliza com freqüência.
Não prioriza a comida (deixa de comer).
Diminui a produção de leite.
Se aproxima do macho.
A gata, ao manifestar cio, apresenta uma conduta sexual caracterizada por rolamento sobre si mesma, rastejamento, apresenta a cauda elevada em um tipo de cortejo ao macho.
Obs: Inseminação ou monta: deve ocorrer no estro, mesmo em vacas (que ovulam no metaestro), pois o sêmen fica viável por pelo menos 24h. Em vacas, se for por inseminação, pode-se inseminá-las quando pararem de aceitar a monta.
Em éguas, se não controlar a ovulação, monta-se em dias intercalados, iniciando a partir do 3º dia do cio (pois nos dois primeiros não ocorre ovulação). Se controlar a ovulação faz-se apenas um salto, no dia da mesma.
A égua (com exceção das primatas) é a fêmea que possui recuperação mais rápida do trato genital pós-parto.
Referencial de égua no cio: Kit Target (importado) para mesuração de progesterona. Concentração sérica de progesterona = ≤ 1ng/ml. É mais utilizado em locais de clima frio, ou em propriedades apenas de fêmeas, onde é mais difícil identificar a presença de cio. Em algumas raças, como o PSI, também é útil, pois estas fêmeas não exprimem de forma definida o cio.
Sangramentos relacionados com os ciclos reprodutivos
Hemorragia de metaestro: mais comum em novilhas. Apresentam estrias de sangue no meio do muco final. Este sangue está relacionado com alteração hormonal brusca (queda do estrogênio e aumento da progesterona), levando à sensibilidade vascular.
Hemorragia de pró-estro: comum em cadelas. Ocorre pelo rápido aumento do estrogênio (vinha com progesterona por muitos meses, derrepente ocorre um aumento do estrogênio).
Hemorragia menstrual: ocorre em primatas e mulheres. A baixa de progesterona leva a vasoconstrição das arteríolas do endométrio, acarretando em necrose do tecido (descamação uterina).
Papel da prostaglandina (PGF 2α)
A prostaglandina é produzida pela parede do útero, tendo capacidade de aumentar a espessura da célula endotelial dos vasos que nutrem o corpo lúteo, diminuindo a capacidade de perfusão sangüínea, comprometendo sua nutrição. Com isso, provoca a luteólise (lise do corpo lúteo).
Quando não ocorre a fecundação e o corpo da mãe não reconhece a presença de um embrião, há liberação de prostaglandinas pelo útero, para lisar o corpo lúteo e iniciar um novo ciclo. Caso a fecundação ocorra, não há liberação das prostaglandinas e o corpo lúteo permanece, produzindo progesterona para viabilizar a gestação.
Semiologia do Aparelho Genital Feminino
Exame ginecológico
Indicações:
Avaliação e seleção de reprodutoras – para compra, doadoras, venda, melhoramento genético, etc.
Diagnóstico de sub ou infertilidade – ocorrência de repetição ou ausência de cio, abortamento, etc.
Seleção e trabalho em biotecnologia da reprodução – transferência de embrião, inseminação, coleta de óvulos.
Puberdade.
Início do ciclo estral – fêmeas estacionais.
Exame clínico: fazer um exame completo, principalmente se for a primeira vez.
Histórico – manter uma ficha de anotações individuais completa.
Anamnese – pesagem.
Auscultação – cardíaca, respiratória, digestiva.
Inspeção completa – mucosas, aprumos, locomoção, pêlos, características morfológicas dentro do padrão da raça (pois faz parte da avaliação de uma boa reprodutora).
Exame ginecológico:
Inspecionar genitália externa – animal em estação, devidamente contido. Examinar: períneo,vulva, lábios vulvares, se há boa coaptação e conformação. Inspecionar glândulas mamárias.
Inspecionar vagina com espéculo – verificar umidade, espessura e cérvix (se fechada – diestro; aberta – proestro; prenha – bem fechada com muco viscoso; anestro – fechada, sem muco, pálida).
Palpação retal (grandes fêmeas) – palpar cérvix (só na vaca, na égua não se consegue), útero, cornos uterinos e ovários.
Ultra-sonografia – grande avanço, principalmente para pequenas fêmeas.
Obs: Períneo com má conformação (frouxidão ou ruptura) pode levar a entrada de ar na vagina com o andar do animal (pneumovagina), o que leva a contaminação por partículas do ar. Também pode levar a entrada de fezes na vagina.
Diagnósticos:
Exame uterino com swab – usa-se swab específico para coleta de material uterino para investigar infecções e identificar o agente.
Biópsia uterina – pinça de biópsia: coleta fragmento uterino e faz histopatologia.
Obs: Fotoperíodo: pode-se estimular o estro em éguas através do fotoperíodo, com luz artificial, para fazê-las ciclarem fora do período normal. As éguas precisam de 16h de luz por dia para ciclarem. Éguas PSI precisam parir em julho, pois essa raça trabalha com ano hípico (onde se registram todos os potros em julho). Normalmente só iriam começar a ciclar em outubro, mas então seus potros iriam nascer depois da época de registro. Para que ciclem em agosto, começa-se a induzir o fotoperíodo artificial em maio. Dessa forma, quando chegar agosto já estarão ciclando normalmente.
Patologias do Sistema Reprodutor Feminino
Patologias de vulva e vagina
Vulva: traumas (parto, cercas, coices, monta), lacerações, miíases, tumores (melanoma), defeitos de conformação (má coaptação de lábios) – pneumovagina.
Técnica de Caslick (vulvoplastia): Esta técnica é utilizada para corrigir períneo com má conformação, frouxidão ou ruptura (traumatismo), levando ao mau fechamento dos lábios da vulva, causando entrada de ar (pneumovagina) e/ou fezes na vagina. Este problema leva à contaminação do interior da mesma, sendo muitas vezes causado por traumatismos no parto. Também é comum em éguas idosas e magras, que ficam com o ânus aprofundado, o que leva à má conformação.
A cirurgia é bem simples, sendo realizada com anestesia local através de infiltração do anestésico (10ml) ao redor da vulva. A égua deve estar devidamente contida e, se necessário, sedada. Deve-se remover as fezes do reto, enfaixar a cauda e prendê-la (removendo-a do campo cirúrgico), evitando algum tipo de inconveniente durante a cirurgia.
Outra precaução importante a ser tomada quanto a anti-sepsia é uma limpeza da região perineal, seguida de secagem e aplicação de anti-séptico, para evitar contaminação da ferida cirúrgica.
Quando a região já estiver anestesiada, proceder a incisão do tecido, seguida de remoção, com tesoura, de uma parte de mucosa. Em seguida suturar as bordas da ferida cirúrgica, aproximando os lábios vulvares, corrigindo o mau fechamento destes. A sutura deve ser feita preferencialmente com fio inabsorvível e os pontos retirados após 10 dias.
Vagina (vaginite): traumas, varizes, lacerações, urovagina, pneumovagina.
Vulvovaginite – inflamação de ambas. Pode ou não estar com contaminação uterina. Deve-se fazer exames complementares (ultra-sonografia).
Vaginite – é a patologia mais comum. Pode ser por causas iatrogênicas (causadas pelo técnico – espéculo contaminado, erro de medicação).
Varizes – sangue vivo. Aumentam no período de estro (cio).
Urovagina – presença de urina na vagina. A fêmea não consegue expelir toda urina pelo orifício e acumula parte na vagina, levando a inflamação.
Pneumovagina – além dos microrganismos, a própria ação mecânica do ar causa atrito e irritação à mucosa da vagina.
Melanoma – nódulo arredondado, escuro, com crescimento rápido e uma cápsula lisa e transparente. Para confirmar, só com biópsia.
Sintomas: Sintomas inflamatórios – edema, hiperemia, secreção de muco, hipersensibilidade, pode levar a febre (dependendo do grau de infecção). O tecido lesionado sofre cicatrização por tecido fibroso.
Diagnóstico: pela inspeção com espéculo.
Tratamento: antiinflamatório local (pomada) ou parenteral (dependendo do grau de inflamação).
Tumor – dependendo do tumor deve ser extirpado. Geralmente o melanoma quando removido promove desenvolvimento de metástases e leva o animal a morte em 1 ou 2 meses.
Lacerações – dependendo da laceração deve-se suturar, mas apenas se ainda não tiver passado de 6h do trauma, pois caso contrário estará contaminada. Neste caso, deve-se lavar e deixar cicatrizar sem suturar.
Varizes – cauterizar.
Urovagina – cirurgia plástica (inviável em veterinária): descarta-se a fêmea para reprodução.
Pneumovagina – vulvoplastia.
Herpes vírus – exantema coital. Não tem tratamento, desaparece em 15 dias. Doença venérea. Tratar com anti-séptico. Fêmeas devem ficar paradas para reprodução por um mês e o macho por três meses. Após esse período não há mais contaminação (não ficam portadores).
Patologia de cérvix
Cervicite:
Irritação – ar, urina, anti-sépticos, antibióticos (gentamicina, penicilina, kuemicetina).
Laceração de cérvix – parto, coito.
Infecção – microrganismos.
Sintomas – dor, hiperemia, febre. Pode levar a comprometimento sistêmico, com sintomas gerais.
Diagnóstico – espéculo e observação da lesão.
Tratamento – AINEs. Em caso de lacerações, cirurgia (difícil).
Patologias de útero
Endometrite: é a patologia mais comum entre todas as do sistema reprodutor feminino.
Metrite aguda.
Piometra: pode se cronificar.
Mucometra.
Hidrometra: acúmulo de líquido.
Endometrite:
Patogenia: fatores físicos e imunológicos.
Mecanismos de defesa: fagocitose neutrofílica; ação mecânica.
A infecção ocorre com penetração do patógeno (coito, sêmen, luva contaminada, pós-parto, entrada de ar, retenção de placenta, parto distócico, espéculo contaminado, etc.). A bactéria pode morrer ou se instalar, dependendo da imunidade da fêmea e fatores físicos (ou mecânicos): contrações do útero – expulsa as bactérias para fora da cérvix (promove evacuação, limpeza do útero).
Fagocitose neutrofílica: neutrófilos e proteínas séricas migram para dentro do lúmem uterino. As opsoninas (imunoglobulinas e complemento) são muito importantes no processo fagocítico, pois neutralizam as bactérias (se ligando a elas), facilitando a fagocitose pelos neutrófilos.
Faz-se uma citologia ou lavado uterino e identifica-se o aumento de neutrófilos.
Fêmeas mais propensas: carência nutricional, idosas, muitos partos, estresse.
Endometrite aguda:
Alterações físicas da cérvix, vagina (hiperemia), descarga (por acúmulo de fluido intrauterino – que pode variar do transparente ao cor de coca-cola).
Presença de neutrófilos intra-luminais (citologia). Coleta-se amostra de secreção uterina com swab próprio (mais comum em grandes). Faz-se a contagem de neutrófilos (variação entre espécies).
Tratamento clássico: lavagem (soro fisiológico morno ou ringer lactato – introduz e retira), antibioticoterapia local e sistêmica. Faz-se infusão: dilui o antibiótico (pó – 2 vidros em 100ml) no soro, introduz no útero e deixa.
Atualmente há tratamentos mais modernos: plasma, colostro, fitoterápicos, ocitocina. O tratamento clássico leva ao desenvolvimento de cepas resistentes a antibióticos.
Não se aguarda resposta do laboratório para entrar com tratamento: penicilina na égua, tetraciclina na vaca.
Em pequenas fêmeas (cadelas, gatas e pequenos ruminantes): parenteral. Não se faz infusão nem lavado.
Endometrite crônica:
A intensidade da inflamação é mínima e o agente causal não é óbvio (subclínica). Geralmente só se diagnostica porque a fêmea é coberta mais de uma vez e não prenha.
Todos os casos de endometrite crônica ocorrem devido a falhas no sistema de defesa uterino: redução da imunidade, aumento da inflamação, contaminação uterina (cobertura).
A endometrite crônica leva a fibrose damucosa uterina, o que dificulta o tratamento. É necessário agredi-la, escarificando a mucosa (com solução cáustica), produzindo processo inflamatório e possibilitando o tratamento.
Obs: Endometrite ≠ Piometra:
Endometrite é inflamação do endométrio. A inflamação das 3 camadas é metrite (endométrio, miométrio e perimétrio). Piometra é o acúmulo de pus no lúmem uterino. Pode ser causada pela endometrite ou pela metrite.
Piometra:
Acúmulo de pus no útero. Pode ser causada por endometrite ou metrite, infecção por microrganismos. Os patógenos mais comuns são as bactérias, mas pode ocorrer por fungos, vírus e protozoários.
Sintomas: apatia, febre, prostração. O acúmulo de pus pressiona o endométrio, lesando-o, fazendo com que perca sua funcionalidade, não libera prostaglandinas, não lisa o corpo lúteo (corpo lúteo persistente), diestro constante até que entra em anestro (infertilidade).
Diagnóstico: palpação e ultra-sonografia. Hemograma com aumento de leucócitos, associado à clínica, pode ser indicativo.
Tratamento: A piometra pode ser aberta (saída de pus pela cérvix aberta) ou fechada (a cérvix fechada leva ao acúmulo de pus no útero). É mais fácil tratar a piometra aberta (lavagem, plasma, fitoterápicos, etc.). A fechada é indicativa de retirada de útero. Mesmo a aberta tratada pode ter recidiva.
Prognóstico: desfavorável.
Geralmente a piometra surge após o cio, pois há abertura da cérvix, possibilitando entrada de patógenos. Se a imunidade da fêmea estiver baixa, leva a instalação do patógeno (endometrite). No início se traduz em uma fase assintomática, subclínica. Com o fim do período de cio, a cérvix se fecha e a proliferação de patógenos leva a formação de pus (piometra) e ao aparecimento da sintomatologia.
É mais comum em cadelas, por seu sistema hormonal (só cicla de 6 em 6 meses, ficando a cérvix fechada por todo esse tempo, favorecendo a proliferação de bactérias – ambiente propício).
Mais raro em éguas, vacas e pequenas ruminantes, pois estas ciclam em intervalos menores, possibilitando a expulsão de secreção uterina. Além disso, o proprietário vendo o muco (que escorre pela cérvix aberta) identifica o problema precocemente, possibilitando o tratamento rápido, não permitindo que se agrave.
Obs: a mamada do filhote é fundamental, pois estimula a ocitocina, que leva a contrações uterinas e involução do útero.
Metrite aguda:
Entidade pós-parto (geralmente). Inflamação das três camadas da parede uterina.
Passagem de toxinas para a circulação.
Tratamento: remoção do conteúdo uterino com lavagem várias vezes ao dia, fluidoterapia e antibióticos.
Exame físico-clínico: BPM, FR, temperatura, mucosas, etc. Promove sintomatologia sistêmica: febre alta, hiperemia das mucosas, pode levar a septicemia e morte. Pode causar pneumonia, endocardite (pela migração de bactérias).
No ultra-som observa-se a parede muito espessada.
Como geralmente ocorre pós-parto, a cérvix está aberta, então pode-se aplicar ocitocina.
É importante examinar a mãe pós-parto, verificar se houve retenção de placenta (após 2h já é problemático, mas se liberar após 2h deixá-la em observação), se o útero está involuíndo normalmente. Aplicar placentina (ocitocina) para expelir a placenta retida. Mesmo se expelir a placenta em tempo hábil, observar se a mesma está íntegra, pois parte dela pode ter ficado retida, levando a infecção.
A placenta retida pode levar a infecção uterina e em éguas pode causar laminite. Caso a égua apresente retenção de placenta, fazer também tratamento preventivo para laminite.
Mucometra:
Acúmulo de muco no útero. Muco límpido, sem infecção. Associada a problemas ovarianos (cistos).
Anormalidades uterinas de origem não infecciosa
Hiperplasia endometrial cística – aumento do volume e número de células do endométrio.
Atrofia – diminuição do volume e número de células do endométrio.
Fibrose – pode ser secundária a uma infecção.
Pneumoútero – secundária a pneumovagina.
Cistos – origem glandular ou linfática. Podem ser únicos (grandes) ou múltiplos (pequenos). Acomete fêmeas mais idosas (várias gestações). Difícil de identificar, pois confunde-se com gestação em fase inicial (no ultra-som). O histórico ajuda (data da cobrição). O cisto cresce mais devagar que o embrião. O acompanhamento ajuda a identificar qual é o cisto e qual é o embrião. Fêmeas com cisto uterino são subférteis. O tratamento consiste em perfurar o cisto.
Aderências – provenientes de lesões durante o parto, coleta de biópsia. Tecido fibroso que cresce, faz aderência e diminui o lúmem.
Abscesso – pus encapsulado. Pode ocorrer pós biópsia.
Patologia de tuba uterina
Salpingite: aumento de tuba uterina. Normalmente não é palpável, só quando há patologia. Sua ocorrência tem aumentado através da biotecnologia da reprodução, através da coleta de folículos e transferência de embrião.
Etiologia: secundária à infecções no útero:
Salpingite granulomatosa: Actinomyces pyogenes, Brucella abortus, Mycobacterium tuberculosis.
Infecção uterina: Campylobacter fetus ssp veneralis, Tricomonas fetus.
Seqüelas: manipulação de ovários e tubas, pela palpação retal.
Espécies acometidas: todas as espécies domésticas, sendo mais rara em cadelas e gatas.
Sinais clínicos: infertilidade (bilateral) ou subfertilidade (unilateral). Associada a infecção uterina. Mais comum em vacas, rara em éguas e mais rara ainda em pequenas fêmeas. Verificar presença de lesões macroscópicas (apesar de serem raras): hiperemia, espessamento de mucosa e exsudato no lúmem.
Histórico: terapia traumatizante (biotecnologia da reprodução), administração de estrogênio exógeno e prostaglandinas (podem aumentar a propenção).
Diagnóstico: em ovelhas e cabras é muito difícil detectar alguma alteração ao exame físico. Pode-se usar de laparotomia exploratória. Em vacas e éguas fazer palpação retal (rolagem das tubas entre os dedos – associar ao histórico).
Diagnóstico diferencial: neoplasia ovariana, cistos para-ovarianos, moléstia ovariana cística, hematomas ovarianos, neoplasia da tuba uterina. Confundem-se com salpingite na palpação.
Prognóstico: se houver obstrução bilateral das tubas é desfavorável.
Tratamento: tratar a causa. Lavagem da região com solução salina e antibióticos (em grandes fêmeas). Em animais valiosos fazer repouso sexual. Se a salpingite for bilateral é indicativa de fertilização in vitro (em animais de alto valor zootécnico).
Profilaxia: evitar manipulação traumática e irrigação com agentes irritantes. Cuidado à palpação retal e também com administração de estrogênios exógenos.
Obs: Hidrossalpingite: acúmulo de líquido nas tubas. Salpingite: infecção.
Patologias dos ovários
Patologias de ovário levam a distúrbio hormonal: ninfomania (cio prolongado), comportamento de macho.
O exame envolve: inspeção, exame físico, exame ginecológico (palpação retal, ultra-sonografia, vaginoscopia, ensaio hormonal).
Anomalias de crescimento:
Agenesia: ausência dos ovários e de tuba uterina ou rudimentos de tuba. Bilateral, não relatada.
Supranumerários: raro, presença de mais de duas gônadas. Funcionais ou não, são independentes da gônada normal. Presença de tuba.
Acessório: ligado a gônada normal, funcional ou não. Também é raro.
Hipoplasia: as gônadas não alcançam desenvolvimento normal. É sempre bilateral, podendo se apresentar parcial ou total. Os ovários se apresentam rugosos. Mesmo que um se apresente hipoplásico e o outro normal, não se deve usar essa fêmea na reprodução, pois a transmissão é genética (gene autossômico recessivo). Com o tempo o outro também ficará hipoplásico. O ovário apresenta cortical reduzida, com poucos ou nenhum folículo. A fêmea é subfértil ou infértil, com deficiência hormonal.
Ovarites - ooforites: raramente a causa é primária. Geralmente é secundária a tuberculose, brucelose e piometra. Pode ocorrer por manipulação que leve a lesão vascular, causando aderências.
Neoplasias: são mais comuns em éguas, segundo em cadelas e raroem vacas.
Tumores de células da granulosa: proliferação de células da granulosa. Comum em éguas. A fêmea permanece em estro por muito tempo, produzindo estrogênio. Com o tempo o organismo promove feedback negativo, a fêmea entra em diestro e posteriormente anestro. É benigno, mas tem crescimento rápido. Geralmente é unilateral. O ideal é remover o ovário afetado. A fêmea fica subfértil, mas capaz de prenhar.
Teratoma: é o segundo em ocorrência, sendo mais comum em vacas e cadelas. Se apresenta com vários tipos de tecidos: tecido epitelial, glândulas sudoríparas e sebáceas, tecido muscular, ósseo, folículos pilosos e até mesmo dentes. Tem origem embrionária e exacerba na puberdade. É benigno. A fêmea cicla normalmente pelo outro ovário.
Disgerminoma: maligno. Tumor de células germinativas. Promove dilatação abdominal e incômodo na fêmea. Raro.
Cistoadenoma: cavidades císticas com líquido claro e amarelado. Benigno.
Tecoma: tumor de células tecais. Raro.
Luteoma: é raro. Na cadela aparece com 3 tipos de células: granulosa, tecal e luteínica.
Adenoma e adenocarcinoma: mais comum em cadelas acima de 10 anos e em vacas. Em cadelas provoca hiperplasia endometrial cística.
Ovários afuncionais ou inativos:
Etiologia: pode ocorrer por deficiência nutricional, alta produção de leite ou doenças debilitantes.
Sintomas: anestro. Geralmente o problema acomete toda a população de fêmeas da propriedade.
Diagnóstico: histórico, sintomas, exame ginecológico (ovários com superfície lisa, tamanho reduzido, consistência firme ou normal).
Tratamento: nutricional, hormonal (GnRH, ECG, progesterona e/ou estrógenos).
Atresia folicular:
Deficiência hormonal de FSH ou LH. Na puberdade pode ocorrer de forma fisiológica, por desequilíbrio hormonal e depois se normalizar. Na forma patológica pode ocorrer por problemas na hipófise ou hipotálamo (tumores).
Cisto folicular:
Origem: Folículo não ovulado.
Etiologia: deficiência de LH; caráter hereditário ou fisiológico; maior produção de leite; vacas velhas.
Sintomas: ninfomania, com o tempo anestro (fase final).
Diagnóstico: histórico, sintomas, exame ginecológico:
Útero túrgido: ninfomaníaca (folículo grande).
Útero flácido: anestro.
Tratamento: GnRH, HCG, compressão manual – punção.
Cisto luteinizado:
Origem: folículo não ovulado.
Etiologia: excesso de LH, deficiência de LH.
Sintomas: anestro.
Diagnóstico: histórico, sintomas. No exame laboratorial: aumento de progesterona. Parede espessa, flacidez uterina.
Tratamento: PGF2 Alfa (25mg) ou cloprostenol (500mg).
Hematoma ovariano:
Ocorre por traumas. Tem tratamento.
Folículo hemorrágico:
É um folículo que não ovulou, mas que rompe os vasos. O sangue fica preso dentro da cápsula do folículo. Ocorre regressão expontânea.
Preparação da fêmea para exame
Promover limpeza da genitália externa e redondezas e secagem. Introduzir o espéculo, observa-se a vagina e coleta-se material para citologia.
Palpação retal e ultra-som.
Métodos de tratamento não convencionais
Clorexidine ou iodopovidona – diluir (em solução fisiológica) e usar dentro do útero para assepsia. Só usar em casos de muito acúmulo de pus, onde só lavagem não é capaz de promover assepsia adequada. Pode promover necrose e aderências (para evitar, diluir muito).
Plasma e colostro – 60ml. Mesma função: usar dentro do útero.
Sangue total – 60ml. Usar do próprio animal ou de outro mais saudável. Também é usado dentro do útero.
Cultura de acidófilos – acidificar o meio e matar as bactérias. É difícil de conseguir.
Luteólise – lise do corpo lúteo. A fêmea entra em estro e abre a cérvix, facilitando a expulsão dos microrganismos. Além disso, o estrogênio estimula o sistema imune.
Agentes quimioterápicos – local ou sistêmico. Diminui os microrganismos.
Lavagens – aumenta o clearance e o mecanismo de defesa natural.
Antibiótico local – aumenta níveis da droga no sítio de ação.
Antibióticos sistêmicos.
Ocitocina (por 3 dias de 12 em 12h) – dependendo do quadro, lavagem uterina (sonda), plasma e por último soluções anti-sépticas ou antibióticos.
Se tem metrite, entrar com antibiótico e antiinflamatório sistêmicos.
Lavagem uterina – 500ml (máximo 1l), introduz e retira seguidas vezes, até que o líquido saia límpido.
Gestação
É o período que vai desde a fecundação do óvulo pelo espermatozóide até o nascimento da prole. Seu início é marcado pelo prolongamento da vida útil do corpo lúteo, dependendo de dois fatores:
Luteolítico: produção de prostaglandinas pelo útero, levando a lise do corpo lúteo. Ocorre quando não há reconhecimento da presença do embrião pela mãe (quando não houve fecundação ou algum problema com a identificação do embrião).
Luteotrópico: liberação da proteína fetal, levando ao reconhecimento materno do embrião. Com isso ela não libera prostaglandinas.
O embrião secreta proteínas (interferons), ainda na fase de blastocisto, que competem com a prostaglandina, evitando sua produção pelo útero. Após a nidação, com o reconhecimento materno, a mãe não produz mais prostaglandinas.
A manutenção da gestação depende de níveis elevados de progesterona, que são mantidos com a produção do hormônio pelo corpo lúteo. Na égua, após 100 a 150 dias da gestação, a placenta passa a produzir essa progesterona, pois a produção pelo corpo lúteo deixa de ser suficiente para manter os níveis necessários do hormônio.
A fêmea gestante tem um aumento de seu peso corporal em torno de 15 a 20% – ganho de massa corpórea como um todo. 60% do peso do feto (seu desenvolvimento) ocorre no último terço da gestação (é quando a fêmea ganha mais peso). Leva a um aumento do metabolismo energético entre 30 a 40% (acentuado no terço final), necessitando deste aporte na dieta. A fêmea passa a aproveitar mais os minerais e os nutrientes (20% à mais).
No início, vulva e vagina ficam pálidas e ressequidas, com a cérvix bem fechada e manutenção do corpo lúteo gestacional. Com o adiantamento da gestação, a pelve fica mais relaxada (os ligamentos) e no período final vulva e vagina se mostram edemaciadas.
Fertilização
Envolve a fusão (singamia) do material genético do macho com o da fêmea e promove o estímulo para a divisão (clivagem) do óvulo fertilizado.
A fertilização depende de alguns fatores que envolvem a fertilidade:
Viabilidade do ovócito (pós-ovulação – duração e captação).
Transporte espermático.
Período de capacitação dos espermatozóides (ocorre no istmo - oviduto).
Capacidade de fertilização dos espermatozóides.
Duração da gestação nas espécies
Vaca: 282 dias (± 9 meses).
Porca: 114 dias (3 meses, 3 semanas, 3 dias).
Égua: 336 dias (± 11 meses).
Ovelha e cabra: 150 dias (± 5 meses).
Cadela: 63 dias (± 2 meses).
Gata: 58 dias (± 2 meses).
Períodos da gestação
Zigoto: do 1º dia após a fecundação até a fixação (quando chega ao útero). Dura em torno de 3 a 5 dias. Chegando ao útero se inicia a nidação (fixação) e o reconhecimento materno.
Embrionário: início do desenvolvimento. Compreende o período entre o reconhecimento materno até a placentação completa. É o período onde forma-se a maioria dos sistemas do embrião. Sua duração varia de acordo com a espécie: cães em torno de 17 dias; bovinos de 15 a 30; eqüinos de 24 a 30. Termina quando a fixação está completa. Até então o embrião ainda tem certa mobilidade e pode ocorrer absorção pela mãe.
Fetal: após a fixação completa (± 30 a 40 dias) até o parto. Sua duração também varia com a espécie.
Anexos fetais
Os anexos se prolongam a te o corno não gravídico. Promovem a proteção do feto, nutrição, equilíbrio do útero, dilatação do canal do parto, lubrificação da vagina e vulva, previne aderência do feto, etc.
Membrana amniótica: envolve o feto, formando a bolsa amniótica, que contém o líquido amniótico (urina fetal, secreções do feto, células). Protege contra traumatismos, contrações, promove nutrição e hidratação do feto.
Membrana alantóide: também formauma bolsa, a bolsa alantóide, contendo líquido alantóide (alantoidiano – bastante resíduo fetal, conduzido pelo úraco). Possui dois folhetos: alantoamnio (mais interno, em contato com a membrana amniótica) e alantocórion (mais externo – em contato com a membrana coriônica).
Membrana coriônica: envolve a bolsa alantóide. Possui os cotilédones fetais que se unem às carúnculas maternas (no endométrio), formando os placentomas.
Placenta: ponto de comunicação entre o feto e a mãe, permitindo o desenvolvimento fetal. Possui funções de respiração, nutrição e endócrina (ECG, HLP, PTGs, Pts B, estrogênio, progesterona)*. Há passagem de metabólitos do feto para serem metabolizados pela mãe. Em algumas espécies promove passagem (mesmo mínima) de Igs (imunoglobulinas – imunização) – dependendo do tipo de placenta (em éguas essa passagem é mínima, pouca em bovinos e pequenos ruminantes, alguma em cadelas e gatas, muita em primatas).
*:	ECG – equine corionic gonadotropin.
HLP – hormônio lactogênico placentário.
PTGs – prostaglandinas.
Pts B – proteínas B – reconhecimento fetal.
Obs: O cordão umbilical é formado por: úraco, duas veias, duas artérias, porção alantóide e coriônica.
Úraco persistente: o filhote pode nascer com o úraco persistente: verifica-se que urina também pelo umbigo. Para resolver o problema, “queima-se” o umbigo com iodo 40% para que feche essa passagem.
Classificação das placentas (Leiser, 1997)
	Barreira Materno-fetal
	Vilosidades do córion
	Espécies
	Epitélio-corial
	Difusa incompleta
Microcotiledonária
	Porca
	Epitélio-corial
	Difusa completa
Microcotiledonária
	Égua
	Sinepitélio-corial
	Cotiledonária
(Migração de células trofoblásticas)
	Ruminantes
	Endotélio-corial
	Zonária circular
(por zonas)
	Cadela e gata
	Hemo-corial
	Discoidal
	Mulher, macaca e rata
A placenta sinepitélio-corial permite migração contínua de células trofoblásticas para o epitélio uterino, ajudando a manter a fusão do córion ao útero e a nutrição do feto. Essa migração tende a diminuir com a chegada do parto, favorecendo a retenção de placenta.
Na mulher, há um descolamento de parte do endométrio junto com a placenta, levando a sangramento. Em cadelas também ocorre, mas menos intenso. Em vacas, pelo fusionamento, também sangra, mas nem tanto.
Os cotilédones na vaca são em torno de 80 à 100/120, fixando toda a placenta no útero. Estes cotilédones são palpáveis. Na égua os microcotilédones se encontram por toda a extensão da placenta.
Diagnóstico de gestação
Métodos biológicos: não se usam mais. Antigamente não se fazia palpação, pois ainda não dispunham deste conhecimento – não havia preocupação com reprodução.
Cole-Hart: usando-se camundongas ou ratas impúberes (que ainda não atingiram a puberdade), injeta-se nelas soro de égua entre o 50º e o 120º dia de prenhez. Caso a amostra tenha ECG (PMSG), as ratas apresentarão (após 48h) desenvolvimento folicular e útero edemaciado.
Fridman-Schneider: semelhante, porém em coelhas.
Galli-Mainini: injeta-se soro de égua em sapos machos. Após 4h observa-se a ocorrência de ejaculação (presença de espermatozóides no líquido cloacal).
Método imunológico: eficiente entre o 50º e o 120º dia de gestação – ECG quando presente na amostra sangüínea, impede a aglutinação de hemoglobinas de carneiro sensibilizadas por anti-ECG.
Método químico: CUBONI – determinação química dos estrógenos eliminados na urina da égua, após 120/150 dias de prenhez.
Método de radio-imuno-ensaio: detecção dos níveis de progesterona no leite de vacas. Se estiver vazia: < 2ng/ml; acima deste valor poderia estar ou não cheia. É um método seguro apenas para diagnosticar se está vazia.
Método histológico: biópsia vaginal em ovelhas e porcas. Verifica pelo número de camadas: Ovelhas – 12 (5 no diestro), porcas – 16 (5 no diestro). Se apresentar células cubóides significa que está havendo descamação, ou seja, não está prenha.
Métodos clínicos: baseado na observação das modificações fisiológicas e morfológicas no sistema genital feminino, através da palpação abdominal, palpação retal e técnicas de imagem.
Procedimentos: histórico e anamnese (quando foi o último estro – cio, como foram as parições anteriores, se tem dificuldade para prenhar); Contenção do animal (segurança do animal e do médico veterinário); Inspeção geral (conformação, glândula mamária com mojo no final da gestação, pêlos, cobertura de carne); Inspeção vaginal (vaginoscópio – espéculo: para examinar a cérvix e o tampão mucoso – em vacas à partir de 60/90 dias); Palpação retal (limpeza do reto, lubrificação e palpação das estruturas).
Modificações fisiológicas e morfológicas:
Vagina – apresenta-se pálida, ressequida e se apresentar secreções são normalmente viscosas.
Cérvix – fechada e com presença do tampão mucoso. Na vaca usa-se a cérvix como referência na palpação (na égua não é possível palpar a cérvix) – à partir do 70º dia a cérvix sofre deslocamento para a cavidade abdominal (segue o útero). Quando grávida, o útero pesa e tende para a cavidade abdominal. Se na palpação não perceber o deslocamento da cérvix (assimetria – com 30/40 dias de prenhez), ou a vaca está vazia ou com prenhez muito recente (associar ao histórico).
Útero – assimetria, beliscamento, tônus, deslocamento, balotamento, placentomas, fluxo sangüíneo (frêmito) da artéria uterina média. O beliscamento é um exame sutil que consiste em “beliscar” (com a ponta dos dedos) o corno uterino gravídico (mais dilatado) e sentir as camadas do epitélio. Se sentir só uma, a gravidez ainda está no início. Com 40 a 45 dias de prenhez já se sente as camadas. É o período ideal para fazer o beliscamento. Balotamento é feito pressionando o útero ventralmente (como “bola de basquete”) com a mão, delicadamente.
Ovidutos – sem alteração.
Ovários – presença de corpo lúteo (na égua não é palpável).
Ligamentos pélvicos – relaxados no final da gestação (principalmente em vacas).
Glândula mamária – mojo no final da gestação. Em éguas é comum apresentarem um 1º mojo no 7º ou 8º mês de gestação e depois voltar a mojar no último mês. Em cadelas ocorre próximo à parição.
Técnicas de imagem:
Radiologia – menos usada atualmente.
Ultra-sonografia – é a mais usada hoje em dia, podendo ser transretal (grande animais) ou transabdominal (pequenos). Muito importante no início da estação de monta, pois os primeiros cios podem ser anovulatórios (já que o FSH e o LH ainda não estão com concentração suficiente para levar à ovulação completa). Na palpação se sente o folículo, mas na ultra-sonografia se identifica que este folículo está luteinizando.
Se identificar gestação gemelar em éguas (com o ultra-som), deve-se esmagar (crushing) uma das vesículas embrionárias, pois em éguas a gestação gemelar geralmente não segue a frente, leva a abortamento de ambos os fetos. Se estiverem sobrepostas deve-se tentar separá-las para esmagar só uma (escolher esmagar a menor ou a mais disforme). Mesmo assim pode-se perder o outro feto, tendo absorção. O ideal é promover o crushing até 21 dias do início da gestação, pois ainda tem boa motilidade para afastar uma vesícula da outra.
Pode-se confundir cisto endometrial com vesícula embrionária. Para diferenciar, faz-se novo ultra-som dias após: o cisto não terá crescido, mas a vesícula embrionária sim.
Diagnóstico de gestação na vaca
Em torno de 50 dias já temos beliscamento positivo e tônus evidente. Antes dos 50 dias o útero ainda se encontra flácido, apesar de com 40 dias já ser possível sentir as camadas com o beliscamento.
O tampão na cérvix é completamente visível entre 70 a 90 dias, sendo que 60 a 70% dele já é evidente com 50 a 60 dias.
A assimetria se torna muito evidente após 70 dias.
A partir de 100 dias é desnecessário palpar o corpo lúteo.
Em torno de 120 dias já se sente o frêmito da artéria uterina média. Cuidado para não confundir com artéria femoral (que pulsa) – a artéria uterina possui um fluxo contínuo,sem pulsação.
	Idade em dias
	Ovário
	Útero
	Cérvix
	Feto
	
	
	A
	Be
	T
	Ba
	P
	F
	
	
	30
	CL
	-
	-
	-
	-
	-
	-
	Pélvica
	-
	30 – 40
	CL
	+
	+
	-
	-
	-
	-
	Pélvica
	-
	40 – 50
	CL
	+
	+
	+
	-
	-
	-
	Pélvica
	-
	50 – 60
	CL
	+
	+
	+
	-
	-
	-
	Pélvica
	+
	60 – 70
	CL
	+
	+
	+
	-
	-
	-
	Pélvica
	+
	70 – 80
	CL
	+
	+
	+
	-
	-
	-
	Abdom
	+
	80 – 90
	CL
	+
	+
	+
	+
	-
	-
	Abdom
	+
	90 – 100
	CL
	+
	+
	+
	+
	+
	-
	Abdom
	+
	100 – 120
	CL
	+
	-
	+
	+
	+
	-
	Abdom
	+
	120 – 150
	CL
	+
	-
	-
	-
	+
	+
	Abdom
	Descida
	150 – 180
	CL
	+
	-
	-
	-
	+
	+
	Abdom
	-
	180 – 210
	CL
	+
	-
	-
	-
	+
	+
	Abdom
	-
	210 – 240
	CL
	+
	-
	-
	-
	+
	+
	Abdom
	+
	240 – 270
	CL
	+
	-
	-
	-
	+
	+
	Abdom
	+
CL – corpo lúteo; A – assimetria; Be – beliscamento; T – tônus; Ba – balotamento; P – placentomas; F – frêmito.
Patologias da Gestação
Mortalidade embrionária ou reabsorção
Caracteriza a morte do concepto ainda no período embrionário. Este período varia entre as espécies:
Bovinos: 16 a 34 dias.
Eqüinos: 20 a 45 dias.
Suínos: 10 a 20 dias.
Ovinos: 10 a 15 dias.
Cães: em torno de 17 dias.
Importância: Queda na fertilidade. A perda do embrião pode ocorrer com manutenção do corpo lúteo, o que compromete a fertilidade durante toda a estação de monta (a fêmea não apresenta mais cio, pois a progesterona continua sendo produzida pelo corpo lúteo).
Principais eventos do início da gestação em éguas
Características da vesícula embrionária (bem contornada e hipoecóica na ultra-sonografia) e útero (bem colabado, túrgido e sem fluido).
Manutenção da funcionalidade do corpo lúteo (imagem hiperecogênica no ultra-som).
Crescimento folicular e formação de corpo lúteo acessório.
Ação da progesterona durante a gestação.
Sinais ultra-sonográficos da morte embrionária
Presença de fluido no lúmen uterino: a limpeza do ambiente uterino é feita (pelo próprio organismo) antes da gestação. Presença de fluido indica que esta limpeza não foi feita adequadamente e o ambiente não está propício para levar a gestação adiante.
Formato irregular da vesícula embrionária: pregueamento, presença de pontos ecogênicos.
Mobilidade prolongada: até 28 dias é normal. Acima disso significa que a nidação não está adequada.
Tamanho inadequado da vesícula em relação à idade gestacional: provavelmente o embrião morreu, mas não houve reabsorção.
Perda ou lentidão dos batimentos cardíacos: o normal é 150 BPM.
Deslocamento da vesícula fixada com perda de fluido.
Edema das pregas endometriais: pode ser processo inflamatório.
Principais etiologias
O conhecimento das prováveis etiologias é importante para chegar-se ao diagnóstico da causa de morte embrionária.
Fatores maternos: são mais fáceis de resolver e tratar.
Aspectos endócrinos: insuficiência luteal primária, falha no reconhecimento materno, luteólise induzida por irritação endometrial (leva a secreção de prostaglandinas).
Condições da tuba uterina: transporte dos espermatozóides e do embrião.
Condições do útero e idade: algumas éguas são mais susceptíveis (cisto endometrial, má constituição da cérvix, limpeza uterina ineficiente pré-ovulação).
Características do serviço de monta: mal manejo.
Fatores externos: são mais complicados d resolver.
Stress: manejo (trabalho em excesso) e transporte, nutrição, dor aguda (cólica, gabarro – freqüente em bovinos; laminite), doença infecciosa, distúrbios emocionais (ex: perda de cria anterior).
Iatrogênicos: choque endotoxêmico (laminite, cólicas), palpação retal e ultra-som (feitas de forma errônea), anabolizantes.
Fatores embrionários: má-formação.
Fatores paternos: pode ocorrer de algumas fêmeas terem problemas com o sêmen de um macho e não de outros, mas é raro.
Prevenção e tratamento
O ultra-som é muito importante para identificar problemas e morte embrionária, possibilitando tratamento precoce.
Progesterona
Repositol progesterona: 100mg a cada 4 dias.
Altrenogest: 22 a 40mg/dia/VO.
Progesterona oleosa: 200 a 300mg/dia/IM.
Flunixin meglumine
1,1mg/kg/dia/IM.
Em éguas, se o problema for uterino (suspeita de má limpeza no cio anterior), fazer uma lavagem uterina. Usa-se soro morno, pois ativa a circulação uterina, além de promover a limpeza.
Em fêmeas (éguas) susceptíveis, que não promovem limpeza adequada do útero, é indicado fazer a lavagem uterina com soro morno dois dias após a cópula (pois o embrião ainda está na tuba, protegido), providenciando um ambiente uterino adequado para receber o embrião. Muito usado em éguas PSI (puro sangue inglês).
Em vacas, induz-se o cio, pois normalmente resolve por si o problema. Pode-se fazer antibiótico parenteral. Em casos mais graves faz-se infusão, pois é complicado proceder lavagem em vacas, já que é difícil remover o líquido colocado nestas fêmeas. Só se faz lavagem em último caso, quando há muita secreção.
Morte fetal
Pode determinar um abortamento (expulsão do material fetal e envoltórios), mumificação (mais comum em vacas) ou maceração.
Mumificação: Processo asséptico (não infeccioso), determinando um conjunto de modificações no feto morto durante o segundo ou terceiro trimestre de gestação, sem que seja expulso. Presença de corpo lúteo funcional. A morte do feto não foi causada por processo infeccioso.
A fêmea não apresenta alterações clínicas imediatas. A vaca acha que ainda está prenha e o proprietário também. Mas com o passar dos meses percebe-se que ela não está mais ganhando peso.
Etiologia:
Torção uterina: os envoltórios se estendem até o corno não gravídico para evitar que isso ocorra (dando equilíbrio ao órgão), mas ainda assim pode acontecer. A torção uterina pode ocorrer em conseqüência de deslocamento de abomaso, torção intestinal, gestação gemelar ou falha na compensação pelos envoltórios.
Traumatismos: coices, quedas. É a causa mais freqüente.
Hereditária: não é comum.
Sintomas: não apresenta sintomatologia clínica. A suspeita ocorre quando se observa:
Gestação prolongada.
Movimentos expulsivos infrutíferos: não sai o feto e a cérvix está fechada.
Partes endurecidas, sem flutuação: o útero se mostra túrgido, com absorção de líquido.
Ausência de líquidos fetais.
Parede uterina colada no feto.
Corrimento vaginal esporádico de cor marrom.
Anestro: não há retorno do cio, pois o corpo lúteo se mantém funcional.
Maceração: mais comum que a mumificação. É um processo séptico de destruição do feto retido no útero após sua morte. Ocorre amolecimento e liquefação dos tecidos moles do feto, permanecendo íntegro apenas o esqueleto.
Etiologia:
Abertura do canal cervical (porta de entrada), proporcionando infecção ascendente.
Infecção uterina após monta natural ou sêmen não tratado. A infecção pode ser concomitante com a fecundação (e não ocorrer depois). Mesmo com a infecção, o embrião pode conseguir promover sua fixação. A gestação pode seguir adiante, não havendo morte embrionária precoce e nem abortamento. Se houver progresso da infecção, o feto não conseguirá se manter.
Sintomas: Apresenta sinais clínicos.
Gestação prolongada ou anestro.
Movimentos expulsivos intermitentes.
Partes gelatinosas.
Anorexia, emagrecimento, pêlos arrepiados.
Redução da produção leiteira.
Parede uterina com perfurações: as estruturas ósseas do bezerro levam a lesões na parede.
Corrimento vaginal de cor castanha e odor fétido, eventualmente com partes moles e ossos do feto.
Comprometimento da mãe: endometrite crônica, septicemia, toxemia.
Tratamento (ambos os casos)
Prostaglandina: corpo lúteo persistente. Promove o retorno do ciclo estral e abertura da cérvix (para melhorar essa abertura, se necessário, fazer estrógeno parenteral, IM – estradiol). Com a mão enluvada, faz-se a retirada do feto.
Lavagem uterina com solução salina: remoção do conteúdo manualmente.Infusão uterina com antibiótico.
Suporte: principalmente em caso de maceração. Antibiótico sistêmico, antiinflamatório, fluidoterapia, analgésico, banamine (endotoxêmico).
Parto
Conceito: caracteriza o final da gestação fisiológica, sendo o processo normal pelo qual o útero gestante liberta o feto e a placenta do organismo materno. Envolve mecanismos hormonais, nervosos, mecânicos e físicos.
Classificação do parto
Normal, fisiológico ou eutócico.
Anormal, distócico ou laborioso.
Teorias do parto
Antigas: se supunha que era por envelhecimento dos anexos fetais; feto passava a ser reconhecido como corpo estranho; ou maturação das estruturas fetais.
Atual: relaciona uma dependência do feto e da mãe, envolvendo fatores hormonais, nervosos e mecânicos. Estes mecanismos variam de acordo com a espécie.
Eventos pré-parto
Dias antes do parto: ocorre atividade do eixo hipófise-adrenal do feto (talvez pelo stress – está em um ambiente muito apertado, sem poder se movimentar), aumentando a concentração plasmática de cortisol, ocasionando uma queda no nível de progesterona e aumento dos níveis de estrógeno e prostaglandina materna e de prolactina. A concentração de cortisol também leva a amadurecimento e ativação do tecido pulmonar do feto. Daí a importância do parto normal em mulheres, pois o esforço do feto leva a melhoria deste mecanismo de ativação.
A prostaglandina atua no ovário, lisando o corpo lúteo, e no útero, favorecendo a contratilidade do miométrio, facilitando a ação da ocitocina.
A distensão da cérvix (pela pressão que o próprio feto provoca – deslocamento e posicionamento do feto) e da vagina (formam um canal único) desencadeia um reflexo que produz as contrações abdominais e a liberação de ocitocina (reflexo nervoso), o que intensifica as contrações miometrais.
Os efeitos somados provocam relaxamento e abertura do canal cervical, saída do tampão mucoso, rompimento da bolsa alantóide e expulsão do feto.
Via fetal: conduto formado por parte do aparelho genital e regiões circunvizinhas, constituído de duas partes: óssea e mole.
Via fetal óssea: formada pelos ossos que constituem a pelve. Em algumas espécies facilita ou dificulta o trabalho de parto. Em conseqüência deste formato da pelve, partos distócicos são mais comuns em vacas do que em éguas (o esquema abaixo mostra esse formato, grosso modo):
Na vaca, o bezerro deve sair primeiro para cima e depois para fora. Se for necessário auxiliar a saída do bezerro, primeiro deve-se puxá-lo para cima e depois para fora, pois ele sofre impacto (“bate”) com o esterno na pelve da mãe.
Alguns cruzamentos mestiços podem agravar este problema do formato da pelve.
Via fetal mole: constituída pela cérvix, vagina, vestíbulo vaginal, vulva e ligamentos sacro-ilíacos.
Em caso de vestíbulo vaginal estreito faz-se uma abertura no períneo com posterior vulvoplastia. Cérvix lesionada por partos anteriores não se abre em dilata normalmente.
Em casos mais graves de distocia promove-se cesariana ou fetotomia.
- Fetotomia: mata-se o feto e corta-o em pedaços (usa-se fetótomo e/ou fórceps), fazendo a remoção destes pedaços por via normal (canal vaginal).
- Cesariana: caso queira salvar o bezerro ou potro. É de difícil recuperação pós-cirúrgica em éguas. Dificilmente resistem a cirurgia à campo. Em vacas é mais fácil. Mas mesmo em vacas, a cesária não é a primeira opção. É comum problemas de fertilidade pós-cesária.
Opta-se por uma técnica ou outra de acordo com o valor zootécnico da fêmea ou do filhote (pode ser uma transferência de embrião, onde o valor maior é do filhote e não da receptora).
Pré-parto:
Inquietação da fêmea: se deita.
Início da atividade mamária: mojo.
Vulva edemaciada.
Alteração no canal do parto: tampão mucoso começa a se soltar e pode ser visto nos pêlos do períneo.
Relaxamento das articulações e ligamentos pélvicos.
Relaxamento da parede abdominal: o feto começa a se posicionar (se esticar, distender).
1º Estágio:
Início das contrações miométricas e dilatação da cérvix, até que esteja completamente distendida e em continuidade com a vagina (canal único). A fêmea apresenta-se intranqüila e com freqüência respiratória e pulsação alteradas. O feto se posiciona corretamente (distendido).
2º Estágio:
Fortes contrações abdominais e uterinas. A fêmea se deita e faz esforço. Há o aparecimento da bolsa alantóide na vagina e o rompimento das bolsas fetais, seguida de expulsão do feto.
Duração aproximada: em vacas de 70 a 90 minutos (o que propicia uma intervenção em caso de distocia); em éguas de 15 a 20’; em cadelas de 4 a 6 horas.
3º Estágio:
Ainda persistem as contrações uterinas. Se inicia com a saída do feto e dura até a expulsão da placenta.
Na vaca pode durar até 6 horas (em novilhas costuma ser mais rápido), enquanto na égua o normal é uma hora (sendo que geralmente ocorre em 15 minutos). Após este prazo é considerado retenção de placenta.
Na porca e cadela o 2º e 3º estágios ocorrem juntos (multíparas).
Pode haver retenção de apenas parte da placenta. Verificar a fêmea pós-parto para identificar alterações de comportamento (incômodo, inquietação, febre). Se estiver presente na expulsão da placenta, verificar sua integridade.
Deve-se examinar não só a integridade da placenta, mas também se há presença de foco infeccioso (placentite). Se o filhote vier de um ambiente nocivo, deve-se tomar muito cuidado com a cria no pós-parto (antibioticoterapia).
A placenta deve estar vermelha (principalmente de éguas, onde apresentam coloração vermelho-vinho). Se estiver com focos infecciosos o local estará esbranquiçado.
Obs: Placenta prévia: quando sai antes do feto. Deve ser rompida para não causar pressão e asfixia ao filhote.
Obs: Cordão umbilical: em éguas, aproximadamente 8 a 10 minutos após o término do parto, a fêmea se levanta e o cordão umbilical se rompe. Se após 10 minutos o cordão não se romper, pode-se arrebentá-lo com a mão: dê um espaço de dois dedos do abdome do filhote e rompa o cordão (puxando, mas mantendo segura a porção próxima ao abdome). Com o rompimento, proceder a “cura do umbigo” (cauterização) com iodo 5%.
Estatística fetal – posicionamento do feto
É a maneira como o feto se posiciona dentro do útero. Existem dois tipos de estática: de gestação (fletido) e de parto (distendido). Se no momento do parto estiver fletido, está anormal. Terá que auxiliar o parto.
Envolve três parâmetros que descrevem as relações entre as várias partes do feto e deste com a mãe: apresentação, posição e atitude.
Apresentação: relaciona a coluna do feto com a da mãe.
Longitudinal anterior (de frente para a saída) ou posterior (de costas para a saída): paralelo com a coluna da mãe.
Transversal dorso-lombar (dorso e lombo do feto encostados na coluna da mãe), esterno-abdominal (de barriga para cima) e costo-abdominal (de lado): o feto em posição transversal (atravessado) pode apresentar vários graus de gravidade.
Precisam de manobras obstétricas (feitas manualmente) para serem colocados em posição eutócica de saída: longitudinal anterior ou posterior.
Posição: relação dos segmentos do feto com os da mãe.
Segmentos do feto: dorso (longitudinal anterior), lombo (longitudinal posterior), cabeça (transversal). Localizar os segmentos para verificar a posição do feto em relação à mãe.
Segmentos da mãe: na pelve:
Atitude: refere-se às condições de flexão ou extensão das extremidades fetais.
Flexão: característica da gestação: no parto é distócica.
Extensão: característica do parto.
Obs: Em vacas, 40% dos partos tem algum grau de distocia. Em éguas apenas 5% e a maioria leves.
Distocias leves: flexão de pata, pequeno grau de inclinação transversal.
Puerpério
Puerpério é o período que transcorre entre a expulsão da placenta até o retorno do organismo materno a seu estado normal, antes da gestação. Compreende modificações importantes, como a regeneração do endométrio, involução

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