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PRINCIPIOS DE TUTELA COLETIVA

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1.1 Dos princípios do processo coletivo
Base teórica – processo civil convencional, ou seja, o individual (solução individual), mas com peculiaridades, pois o processo coletivo busca a solução da demanda em face da coletividade. 
1.1.1 Princípio do devido processo legal coletivo
Processo individual – a grande premissa é o princípio do devido processo legal – fundamento de um processo organizado, através do encadeamento de atos que visam a solução da lide - base de todos os demais princípios no processo individual.
No processo coletivo - aplicabilidade do princípio devido processo legal, nominado devido processo legal coletivo – considerado como um devido processo social - desburocratização do processo para lhe dar efetividade – abandono da velha sistemática estritamente dogmática.
Reflexão: necessidade codificação própria.
Princípios decorrentes (novos ou tradicionais) : o princípio da adequada representação, princípio da adequada certificação da ação coletiva, princípio da coisa julgada diferenciada e a “extensão subjetiva” da coisa julgada secundum eventum litis à esfera individual, princípio da informação e publicidade adequadas, princípio da competência adequada, dentre outros.
1.1.2 Princípio do acesso à justiça
Viabilizar a todos a possibilidade de levar seus reclames ao Poder Judiciário e de receber uma resposta e que esta seja a mais adequada ao caso concreto - prestação da tutela jurisdicional efetiva.
Aspectos: a) possibilitar que todos reclamem junto ao Judiciário os seus direitos; b) instrumentalizar o acesso e a habilitação dos cidadãos ao processo (assistência judiciária, tutela dos interesses difusos e a utilização da técnica processual - mecanismo que leve à pacificação do conflito com justiça.
Consequencias: discussão jurídica em relação à tutela de interesses transindividuais, possibilitando a solução de milhares de conflitos e não somente de um caso em particular, superação da realidade individualista, para a busca é por soluções que atinjam a coletividade e que possam refletir em milhares ou até milhões de cidadãos que sofrem desrespeitos e desmandos em relação a seus direitos.
1.1.3 Princípio da universalidade da jurisdição
Oferta da jurisdição ao maior número de pessoas – viabilizar a todos os legitimados o acesso ao Judiciário e a conseqüente jurisdição - promoção do natural crescimento do número de demandas e demandantes, visando a solução dos litígios existentes.
Aplicação restrita ao processo individual, enquanto no processo coletivo adquire magnitude, vez que oportuniza a grande massa de cidadãos a ter acesso ao Judiciário – democratização do acesso à justiça e ao Poder Judiciário antes elitizado
1.1.4 Princípio de participação
Garantia aos cidadãos a possibilidade e garantia de manifestação no processo, - realização da democracia participativa e não meramente representativa.
Equipara-se ao contraditório no processo coletivo, mas nas ações coletivas essa participação será exercida pelos legitimados representando os sujeitos de direitos, ficando a cargo desses representantes adequados o exercício do direito ao contraditório.
Resultados positivos extensíveis a vários cidadãos – garantida a participação popular, através de audiências públicas.
1.1.5 Princípio da ação
Parte responsável pelo início da lide e por sua condução que se dará, após a propositura da ação, em conjunto com o Poder Judiciário. Sabe-se que tradicionalmente a demanda será iniciada somente pela parte, não podendo ter nenhuma participação o Judiciário no início da demanda, por ser essa uma deliberalidade da própria parte demandante.
Judiciário poderá incentivar as partes a efetivar algo - não poderá ultrapassar o mero incentivo, prerrogativa de fazer ou não algo, no sentido processual, é da parte e de seus representantes legalmente habilitados no processo coletivo.
Possibilita a existência da ação e o posterior desenvolvimento do processo, visando a solução das situações que tenham violado de forma direta ou indireta os direitos difusos e coletivos.
1.1.6 Princípio do impulso oficial
Processo inicia através do princípio da ação, mas o com o ingresso da demanda o comando do processo passa das mãos do autor, para as do Juiz que assume o compromisso com a efetivação da jurisdição.
O Judiciário assume a responsabilidade pela condução do processo, devendo o Juiz produzir provas, requerer prática de atos ou diligência ou outras manifestações 
Pelo projeto de Código de Processo Coletivo caberá ao juiz as mais diversas possibilidades de agir: desmembrar um processo coletivo em dois quando um esteja voltado à proteção de direitos difusos ou coletivos e o outro esteja voltado à proteção dos direitos individuais homogêneos; certificar a ação como coletiva; dirigir como gestor do processo a audiência preliminar, entre outras possibilidades de agir.
1.1.7 Princípio da economia
Máximo resultado possível com o mínimo de investimentos e prática de atos processuais - útil e relevante no processo coletivo, dada a possibilidade de economizar atos processuais e a maior obtenção de resultados.
Exemplos: reunião de processos quando houver conexão ou continência,, ou ainda quando for possível encerrar o segundo processo em caso de litispendência e coisa julgada.
Objetivos: evitar o desgaste de tempo e recursos de todos para o deslinde de um processo que não necessitaria da referida prática de atos, já que nesses casos anteriormente referidos o processo não deveria restar “alimentado” pelas partes através de atos já que, por exemplo, existe coisa julgada sobre a questão, ou ainda, estamos em caso de clara e evidente litispendência.
1.1.8 Princípio da instrumentalidade das formas
Utilização e aproveitamento dos atos que foram praticados de forma distinta, mas que podem ser aproveitados por não causarem nenhum prejuízo a ninguém.
A grande pontuação nesse princípio é a superação do formalismo para que possa ser possível a melhor solvência dos conflitos, já que esse é o objetivo do processo, resolver a lide que se colocou à frente do Poder Judiciário aguardando sempre uma solução.
Assim, esse princípio busca que as formas do processo não sejam excessivas ao ponto de sufocar seus fins jurídicos, sociais e políticos, combatendo o formalismo exagerado e desmotivado que venha a afetar direitos, sendo essa uma ocorrência que não pode ser aceita de forma alguma
Por tudo isso, as normas que regem o processo coletivo devem, sempre que possível, ser interpretadas de forma aberta, permitindo-se ao Juiz ter uma atuação mais flexível e assim, por natural, menos formalista, podendo aplicar plenamente esse princípio.
1.1.8.1 Princípio da primazia do conhecimento do mérito do processo coletivo
Diretamente ligado ao da instrumentalidade das formas, sendo considerado uma decorrência deste, por haver também aqui a busca da superação do formalismo exacerbado que venha a afetar de forma direta a busca e reconhecimento de um direito difuso ou coletivo.
Com esse princípio o que se pretende é de plano o conhecimento da questão de fundo, ou seja, da matéria que se está a discutir, analisando-se o mérito do debate por mais que haja a ausência de um dos requisitos necessários à admissibilidade da demanda, sendo essa uma das formas de superar o formalismo que veda todo e qualquer acesso ao Judiciário  quando os referidos requisitos não estejam totalmente implementados.
Superação do formalismo tradicional pelo formalismo valorativo, ou seja, embora o ordenamento jurídico dependa de formas para deixar as coisas organizadas, esse formalismo não pode acabar com direitos e muito menos ser uma arma letal contra eles, revelando-se apenas um meio necessário para buscar e garantir os direitos através de um processo com formas que seja justo e dotado de uma razoável duração.
Assim o que se pretende, dada a importância das demandas coletivas, é dar-lhes seguimento, visando conhecer seu mérito e não, simplesmente, acabar com a demanda por ausência de algum dos requisitos necessários àsua admissibilidade, quando evidentemente isso seja possível e não cause nenhum prejuízo.
Isso decorre da própria natureza das demandas coletivas, que podem satisfazer os interesses de milhares de consumidores e cidadãos que se deparam com incorretas cobranças, infrações ambientais de alta gravidade, não se admitindo a imposição de obstáculos a tais ações por mero formalismo passível de superação, vez que o mérito da questão discutida é muito mais relevante e atinge um grande grupo determinado de pessoas ou até a um grupo indeterminado. 
1.1.9 Princípio da indisponibilidade da demanda coletiva
Contrariamente ao princípio da disponibilidade da demanda na via do processo civil individual, o processo coletivo perpassa naturalmente pelo princípio da indisponibilidade, já que a demanda coletiva não depende da vontade das partes, mas, sim, da necessidade social de sua propositura, dada a prevalência do interesse público, observados os critérios de conveniência e oportunidade.
Não há no processo coletivo a facultas agendi que existe no processo civil tradicional individualista, pois há, sim, uma natural indisponibilidade do interesse público o que obriga aos órgãos públicos de tomarem as devidas medidas. Nesse caso o Ministério Público é que deve agir.
Cabe referir que essa indisponibilidade não é, contudo, total, visto que essa obrigação é temperada em relação ao agir do Ministério Público para o ajuizamento da ação coletiva, podendo esse agente em caso de avaliação da conveniência e possibilidade não propor a demanda, sendo o inquérito civil devidamente arquivado e podendo sofrer a devida fiscalização do Conselho Superior do Ministério Público.
1.1.10 Princípio do microssistema: aplicação integrada das leis para a tutela coletiva
Realmente ao falar de processos coletivos, ou no singular processo coletivo, se torna perceptível que esses referidos processos possuem regramentos próprios e firmes, cada um em legislação especifica sobre a temática e que nesse sentido merece o devido conhecimento e respeito.
O grande viés dessas disposições é a busca de um processo justo e que estirpe as demandas repetitivas de cunho meramente formal e que se prestam a repetir de forma desgastante os mesmos debates, assoberbando de forma abrupta o Poder Judiciário que sofre de forma direta com essa ocorrência, por ser obrigado a julgar de forma seriada o que sabidamente desqualifica e muito a prestação da tutela jurisdicional e diga-se mais pontuadamente a qualidade das sentenças.
Nesse ponto, é de conhecimento do interprete que antes de recorrer ao Código de Processo Civil deve recorrer de forma profunda a legislação e todo o microssistema que se formou em relação às demandas coletivas, aplicando-se, tão somente, de forma residual o Código de Processo Civil.
Aqui, com toda essa realidade, se torna aplicável de foram latente o princípio do dialogo das fontes que foi pensado por Erick Jaime, onde literalmente as fontes legislativas estão em constante diálogo, ou seja, em constante contato e utilização de dispositivos de forma conjunta, sendo aqui citada a relação intima da Constituição Federal e das mais diversas legislações.
Por isso falar em diálogo entre as fontes, o que é evidentemente natural e ocorrente em relação as mais diversas legislações, não é novidade, sendo diferente em relação às normas que fazem parte do microssistema de processos coletivos.
Diga-se que o Código de Defesa do Consumidor teve grande papel na alteração do art. 21 da lei da ação civil pública, criando, desta forma, um mricossistema autoreferencial para a tutela coletiva em nosso país].
Desta feita sabendo que esse micrcossistema de processos coletivos resta postado e que as formas de proceder são distintas em cada um dos casos, vele sempre recordar que o Código de Processo Civil terá a sua utilidade caso necessário, mas tão somente de forma residual, sendo esse aplicável somente quando a norma especifica para o caso concreto for omissa e, por consectário, verificar-se que não há dispositivo nos demais diplomas que compõem o microsistema coletivo capaz de preencher o vácuo, sendo então passível de utilização o Código de Processo Civil].
1.1.11 Princípio da reparação integral do dano
Nesse ponto a questão é a reparação do dano efetivamente causado a toda uma coletividade, seja determinada ou não determinada, sendo uma ocorrência constante em uma sociedade pós-moderna que clama por soluções efetivas aos diversos problemas que diariamente nascem.
Deve ser realizada uma reparação, sim, mas uma reparação integral ao dano causado, que deverá ser auferido e devidamente liquidado, para que não reste impune o sujeito que pratica atos lesivos que devem, desde já, ser afastados ou quanto mais evitados. Não havendo a possibilidade de evitar vale a prática repressiva de indenização em decorrência da referida violação.
Esse pode ser o caso da ação popular que venha a ser proposta e que procedente obriga o condenado a integralmente reparar os danos causados à coletividade, sabendo que esse valor integralmente pago pode ser buscado de forma regressiva do servidor que praticou o ato lesivo de forma culposa e que este elemento reste comprovado.
1.1.12 Princípio da não-taxatividade
Também conhecido como princípio da atipicidade da ação e do processo coletivo, esse princípio preza pela observação e conhecimento do conteúdo e não somente da forma, já que essa não deve aniquilar aquela. Nesse sentido qualquer tipo de direito coletivo pode ser protegido e deve ser protegido.
A idéia é não manter uma forma dura de nomenclatura de ações coletivas, não importando o seu nome, mas, sim, e claramente, a causa de pedir e os pedidos, visto que vale, mas a substância do que a forma.
Essa base pode ser observada a partir do art. 83 do Código de Defesa do Consumidor, já que nessa norma se percebe, de forma clara, que o objetivo é possibilitar, por todas as espécies de ações, a defesa dos direitos dos consumidores, visando, em verdade, a adequada e efetiva tutela, seja com o nome da ação coletiva, de ação civil pública, ação popular ou até mandando de segurança coletivo, pois o que importa é o conteúdo e não meramente forma.
1.1.13 Princípio do ativismo judicial
Pelo principio do ativismo judicial, previsto de forma expressa no anteprojeto do Código de Processo Coletivo, impõe-se a necessidade de efetiva colocação em prática das decisões judiciais, ou seja, uma maior participação estatal e diga-se, nesse caso, do Poder Judiciário, que deverá assumir a posição de protagonista e condutor firme da lide coletiva.
A grande observação que deve ser feita vem no sentido de que o juiz não poderá impulsionar de forma inicial a lide coletiva, mas tão somente incentivar aos legitimados para que tomem as medidas cabíveis e então efetivem a ação.
O ativismo encontra-se vinculado ao impulso oficial, onde o Judiciário poderá agir de forma ativista, tão somente após a devida provocação, fazendo com que o esse poder não subtraia atribuição alheia. 
O que se busca é que o juiz tome a sua função e faça aquilo que for necessário, sem qualquer receio, buscando conduzir o processo de forma firme e com intuito claro de chegar ao seu objetivo final, qual seja o cumprimento da decisão judicial tomada, gerando ao final paz social.
Nesse peculiar o ponto crucial é fazer com que o juiz ganhe mais poder, mas juntamente com esse poder mais responsabilidades, visando dar ao magistrado mais liberdade de agir, buscando, naturalmente, o afastamento da arbitrariedade, pois essa, sim, deve ser reprimida e reprovada de toda sorte.
A construção desse princípio é necessária para que possa o Judiciário assumir seu papel e possa também corrigir as omissões do Legislativo, possibilitando aos cidadãos não somente o respeito como também o exercício dos direitos coletivos, sendo essa uma das mais importantes vias de efetivação desses direitos, através da corrente ação judicial com pulso firme, mas com a devida cautela e respeitando sempre a legalidade.

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