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1 Síncope Definição síncope é a perda transitória e autolimitada da consciência e do tônus postural devido a hipoperfusão cerebral. Difere de pré-síncope (desmaio), vertigem, convulsões e demais perdas de consciência associadas com hipoglicemia, hipóxia e isquemia vértebro-basilar. Antes da síncope, o paciente pode referir sintomas premonitórios, como tonteira, náuseas, visão turva, fraqueza, fadiga e sintomas visuais/auditivos. Etiologias De acordo com o quadro abaixo, a síncope pode ser classificada como: neurologicamente mediada, hipotensão ortostática e cardíaca. Tanto a síncope neurológica, quanto a hipotensão ortostática, caracterizam-se por falhas nos reflexos relacionados a homeostase pressórica. Há, contudo, uma importante diferença temporal entre elas. Na síncope neurológica, os reflexos falham apenas por curtos intervalos de tempo, enquanto na hipotensão ortostática, a falha permanece cronicamente. Fisiopatologia O cérebro apresenta mecanismos intrínsecos de regulação do fluxo sanguíneo, o que se chama de autorregulação do fluxo. Isso significa que, para um ampla faixa de variação da pressão arterial, o fluxo sanguíneo permanece constante, garantindo, dessa forma, uma adequada oferta de oxigênio ao parênquima cerebral. A faixa de pressão na qual a autorregulação é eficaz varia de 50 a 150 mmHg. A hipoperfusão cerebral, por sua vez, se estabelece quando a pressão arterial sistólica cai para menos de 50 mmHg. Desse modo, conclui-se que a síncope ocorre sempre quando há esta queda acentuada do valor pressórico. Para compreender os mecanismos fisiopatológicos da síncope, basta saber os componentes da pressão arterial. A pressão arterial média é o produto da multiplicação do débito cardíaco pela resistência vascular periférica. O DC, por sua vez, é o produto do volume sistólico (VS) pela frequência cardíaca (FC). Síncope Neurológica Hipotensão ortostática Cardíaca A PAM = DC x RVPT Logo: PAM = FC x VS x RVPT 2 Os fatores que diminuem estas variáveis, resultando em queda da PAM, serão responsáveis pelo desencadeamento da síncope. Na síncope neurológica, pode haver queda da FC ou da RVPT. A síncope vasovagal, por exemplo, cursa com dois tipos de respostas possíveis. Uma delas é chamada vasoplégica, na qual há vasodilatação difusa e queda da resistência vascular, enquanto a outra chama-se cardioinibitória, na qual há bradicardia intensa em resposta a estimulação de receptores mecânicos intracardíacos (ou fibras C). Síncope neurológica Existem dois tipos de síncope neurológica. São eles: 1. Vasovagal: é a causa mais frequente de síncope, correspondendo a 35% dos casos. Acomete indivíduos jovens e saudáveis na maior parte das vezes. Ela está associada a situações de estresse, nas quais há aumento da descarga adrenérgica sobre o miocárdio e vasos. Pode ser classificada quanto ao mecanismo gerador como (1) Central e (2) Postural, e quanto a resposta como (1) Cardioinibitória, (2) Vasoplégica e (3) Mista. O mecanismo fisiopatológico envolve a ativação do reflexo de Bezold-Jarish. 2. Situacional. 3. Hipersensibilidade do seio carotídeo. Tratamento Bezold-Jarish: este reflexo é ativado quando há aumento da contratilidade ventricular, sem que o retorno venoso aumente proporcionalmente. Neste caso, há ativação de mecanorreceptores intracavitários localizados na parede ínfero-lateral do ventrículo esquerdo, o que dispara um reflexo vagal e simpático-inibitório. A resposta é a queda da FC e vasodilatação periférica, o que resulta em queda da PAM e do fluxo sanguíneo cerebral, levando à sincope. 3 Hipotensão ortostática Ela é a queda da PAs ≥ 20 mmHg e/ou a PAd ≥ 10 mmHg, quando o indivíduo assume a posição ortostática por mais do que três minutos. O mecanismo fisiopatológico básico é uma falha na vasoconstricção arteriolar e venosa mediada pelo simpático. É relativamente comum a hipotensão logo após instituída uma terapia farmacológica anti-hipertensiva, em especial com fármacos vasodilatadores. Nem sempre a hipotensão ortostática é acompanhada de taquicardia, pois muitas vez a disautonomia já atingiu as fibras cardioaceleradoras. 1. Insuficiência autonômica primária; 2. Insuficiência autonômica secundária; 3. Iatrogênica; 4. Hipotensão pós-prandial; 5. Depleção de volume. Tratamento O uso de fármacos expansores e vasoconstrictores podem gerar hipertensão supina. Por isso, os pacientes devem ser advertidos a elevarem a cabeceira da cama ao deitarem-se. Síncope cardíaca Neste caso, o mecanismo subjacente é a queda do débito cardíaco associado a alterações funcionais temporárias ou estruturais permanentes da bomba cardíaca. 1. Arritmogênica: as bradiarritmias levam a queda do DC em vista da queda acentuada da FC. Já as taquiarritmias levam a queda do DC em vista da queda do VS. Algumas arritmias estão relacionada a mutações dos genes de canais 4 iônicos, como a Síndrome do QT longo, a Síndrome de Brugada e a taquicardia ventricular polimórfica catecolaminérgica. A S. do QT longo pode levar a grave taquicardia ventricular polimórfica conhecida como Torsades des pointes, a qual degenera em FV (ritmo de PCR). Estas doenças são causas importantes de morte súbita. 2. Estrutural. É importante que saibamos quando a internação dos pacientes é mandatória. Em geral, a síncope de origem cardíaca requer internação. Veja o quadro abaixo retirado do livro Harrison Medicina interna (18ª edição): Tratamento Engloba o uso de antiarritmicos e cardioversores implantáveis para a reversão de taquiarritmias e o uso de marcapassos para disfunções dos nodos SA e AV (bloqueio SA e AV). Os bloqueios AV de segundo grau do tipo II e o total, por exemplo, requerem o uso de marcapasso permanente. Diagnóstico diferencial O diagnóstico diferencial de síncope deve ser feito com as seguintes condições clínicas: 1. Epilepsia: 5 É importante esclarecer que, nem sempre, é fácil a distinção entre convulsão e síncope. Algumas convulsões não cursam com movimentos involuntários tônicos e clônicos, enquanto algumas síncopes, em vista da queda acentuada do fluxo sanguíneo cerebral, podem cursar com movimento involuntários. 2. Hipoglicemia: típico de pacientes com DM1 e DM2 que fazem uso de insulina exógena. Os sintomas associados com a hipoglicemia devem ser considerados, como os abaixo: 3. Cataplexia: há perda do tônus muscular abrupta, mas a consciência é mantida. Ocorre em 75% dos paciente com narcolepsia. A nascolepsia é um distúrbio do sono no qual o paciente apresenta dificuldade em manter-se acordado, Avaliação inicial Há consenso entre especialista de que a abordagem inicial do paciente com síncope requer um tripé: anamnese, exame físico e eletrocardiograma. Demais testes podem ser requisitados posteriormente, mas já é claro que nenhum deles, isoladamente, apresenta grande sensibilidade e especificidade para o diagnóstico etiológico. Abaixo, segue-se um resumo dos possíveis elementos da abordagem: 1. Anamnese detalhada: a história clínica é, sem dúvidas, o componente mais importante na avaliação do paciente sincopata. 2. Testemunhas oculares; 3. Exame físico completo; 6 4. Aferir PA e FC em dois momentos. Momento 1: posição supina. Momento 2: posição ortostática, após 3 minutos. Isto é feito para averiguar hipotensão ortostática. 5. ECG na suspeita de síncope cardíaca (principalmente os pacientes que referem palpitação). Há grande limitação, mas faz parte da tríade clínica diagnóstica. 6. ECO: há a necessidadede sua realização quando há suspeita de doença estrutural do coração. No entando, ao encontrar um cardiopatia estrutural do VE, ainda assim não é possível determinar a causa da síncope, sendo necessários outros exames para a confirmação. 7. Testes laboratoriais: sem importância, exceto no IAM, anemia, IA secundária. 8. Holter: é usado para monitorar a atividade eletrocardiográfica do paciente durante 24 a 48 horas. Seus valor diagnóstico é limitado, pois requer a ocorrência da síncope durante a sua realização. Além disso, é mais útil se o paciente tem sintomas, mas não manifesta arritmia concomitantemente, sendo usado na exclusão da disrritmia como causa. 9. Gravador de eventos externos: o paciente ativa a unidade para registro do ritmo cardíaco toda a vez que sente os sintomas. No entanto, nem sempre está consciente para o fazer, sendo isto uma limitação importante do exame. 10. Tilt test: avaliação da síncope neurológica e da hipotensão ortostática. Conclusão A síncope é, na maioria das vezes, um evento benigno. No entanto, é importante avaliar, dentre o pool de pacientes com síncope, aqueles que podem apresentar doenças potencialmente fatais. Nestes casos, a hospitalização com investigação imperiosa é mandatória. Na maioria dos casos, as síncopes preocupantes são de origem cardíaca. As síncopes neurológica e por hipotensão ortostática são benignas ou, neste último caso, apenas expressam uma doença subjacente de longa data.
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