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O caso de vínculos holonômicos Quando duas partículas de massas m1 e m2 estão livres no espaço, o número de coordenadas para descrever o sistema definido por essas duas partículas é igual a seis, pois precisamos das posições de cada uma delas, r1 e r2, respecti- vamente, para descrever o estado do sistema. Como as partículas estão livres, suas posições são independentes uma da outra e, portanto, precisamos de todas as seis coordenadas para não haver dúvidas sobre o estado do sistema. Considere agora o caso em que as partículas estejam coladas nas respectivas extremidades de uma haste rígida, de massa desprezível e comprimento `. Nesse caso, as posições das duas partículas não são mais independentes, pois devem satisfazer o vínculo: |r1 − r2| = `. (1) Não podemos mais considerar quaisquer valores paras as seis coordenadas das partículas, pois seria fácil violar a Eq. (1) dessa forma. No entanto, podemos usar as três coordenadas da partícula de massa m1, por exemplo, e especificar apenas os dois ângulos que definem o versor dado por rˆ21 = r2 − r1 |r2 − r1| = r2 − r1 ` , (2) onde já utilizei a Eq. (1). Então, o sistema de duas partículas presas por uma haste rígida pode ser descrito por cinco coordenadas apenas. A Eq. (1) é chamada de vínculo holonômico e, para cada um desses vínculos expressos por uma igualdade, um grau de liberdade é diminuído do total de coordenadas do sistema no caso de ausência de vínculos. Além disso, se impusermos ainda que a partícula de massa m1 só poderá mover-se no plano xy, então a coordenada z dessa partícula satisfaz mais um vínculo: z1 = 0 (3) e, portanto, o sistema agora só terá quatro graus de liberdade. Note que como o vínculo representado pela Eq. (3) é expresso como uma igualdade, segue que também é holonômico. Considere agora o caso em que, ao invés de uma haste rígida, as partículas estejam presas por um fio flexível de comprimento ` e massa desprezível. Nesse caso, o vínculo não é mais como a Eq. (1), mas é assim: |r1 − r2| 6 `. Como nesse caso não temos uma igualdade, mas uma desigualdade, segue, por definição, que o vínculo não é holonômico. Sempre consideram-se vínculos não holonômicos aqueles que não podem ser expressos como igualdades como no caso da Eq. (1). Um vínculo não holonômico não necessariamente precisa ser uma desigualdade, basta que não seja expressável como uma igualdade. Nós vamos apenas considerar vínculos holonômicos no que segue. 1 Consideremos um númeroNV de vínculos holonômicos independentes impos- tos sobre um sistema de N partículas. Então, esses vínculos são expressos por igualdades envolvendo as coordenadas das N partículas que formam o sistema: h1 (r1, r2, . . . , rN ; t) = a1, h2 (r1, r2, . . . , rN ; t) = a2, ... hNV (r1, r2, . . . , rN ; t) = aNV , onde a1, a2, . . . , aNV são constantes e h1, h2, . . . , hNV são funções dadas. Mas essas NV equações, como estão escritas, podem ser usadas para definirem NV novas coordenadas generalizadas, a1, a2, . . . , aNV . Agora podemos definir mais 3N −NV coordenadas generalizadas: q1 = q1 (r1, r2, . . . , rN ; t) , q2 = q2 (r1, r2, . . . , rN ; t) , ... q3N−NV = q3N−NV (r1, r2, . . . , rN ; t) . Assim, o número total de coordenadas generalizadas que obtemos é 3N, como deveria ser, sendo dadas por q1, q2, . . . q3N−NV , a1, a2, . . . , aNV . As equações de Lagrange para essas coordenadas generalizadas escrevem-se d dt ( ∂T ∂q˙j ) − ∂T ∂qj = Qj , (4) para j = 1, 2, . . . , 3N −NV e d dt ( ∂T ∂a˙k ) − ∂T ∂ak = Qk, (5) para k = 1, 2, . . . , NV . Tipicamente, as constantes a1, a2, . . . , aNV são especificadas e, portanto, só precisamos resolver as 3N −NV equações para q1, q2, . . . , q3N−NV , isto é, temos que resolver a Eq. (4). A Eq. (5) é útil para determinarmos as forças gen- eralizadas de vínculo, Qk, para k = 1, 2, . . . , NV , após resolvermos a Eq. (4) para j = 1, 2, . . . , 3N −NV . No caso de forças conservativas, deriváveis de uma energia potencial, podemos definir uma função lagrangeana, L = T −V, e a Eq. (4) fica d dt ( ∂L ∂q˙j ) − ∂L ∂qj = 0, (6) para j = 1, 2, . . . , 3N −NV . 2 Bibliografia [1] Keith R. Symon, Mechanics, terceira edição (Addison Wesley, 1971). 3