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Historiografia Brasileira XIX.

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1 
 
A HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA DO SÉCULO XIX E A QUESTÃO RACIAL 
 
Leandro Carvalho Damacena Neto1 
 
 
A “miscigenação étnica”, outrora chamada de “miscigenação racial” entre índios, 
negros e brancos nos quadros da historiografia brasileira do século XIX e, início do século 
XX, será a pauta de análise do presente texto. Veremos que os intelectuais brasileiros ou não, 
pautavam suas abordagens sobre a questão racial nas teorias raciológicas do século XIX: 
dentre as quais se destacavam o Positivismo, o Darwinismo Social e o Evolucionismo. 
 A análise desses autores é imprescindível tanto para a compreensão do processo de 
formação da Identidade Nacional Brasileira quanto para a consolidação do Estado Nacional 
Brasileiro. Serão analisados autores como Karl Friedrich Philipp Von Martius, precursor da 
historiografia nacional e, ganhador do prêmio sobre a melhor história do Brasil, então 
concedido pelo recém fundado IHGB no ano de 1838. Outros autores que serão analisados são 
Francisco Adolfo de Varnhagen, Raimundo Nina Rodrigues, Manoel Bonfim e Capistrano de 
Abreu, este último influenciado pelo historicismo alemão sendo considerado o marco 
paradigmático na historiografia brasileira. Capistrano antecede Gilberto Freyre na utilização 
do conceito de “cultura” em substituição ao conceito de “raça” (REIS: 2001, p. 95). 
Os autores brasileiros do século XIX e início do século XX, citados acima, serão pauta 
da reflexão do presente trabalho. A escolha dos mesmos não foram arbitrárias, pois, são esses 
os autores considerados como os precursores da historiografia nacional, e todo trabalho 
precursor é desbravador, tendo as características do novo, da inovação e do inesperado, ou 
seja, passa por toda uma “tensão psicológica e social” da aceitação ou da não aceitação dos 
seus pares e da sociedade. Mas, as características atribuídas a esses autores, não os livram das 
críticas que lhes são pertinentes. Será dada ênfase na questão racial e na formação de uma 
identidade nacional brasileira, forjada pelo racismo, preconceito e discriminação racial 
sofridos pelos grupos étnico-raciais: negros e índios, no decorrer do processo histórico 
brasileiro da consolidação da Nação. 
O contexto histórico brasileiro, do século XIX, passou por diversas mudanças 
estruturais, de Colônia Portuguesa o Brasil passa a ser um país independente, mas continuava 
 
1
 Monitor do Laboratório de História “Dalísia Doles” da Faculdade de Ciências Humanas e Filosofia – 
Universidade Federal de Goiás – Goiânia. 
Sérgio Ricardo da Mata, Helena Miranda Mollo & Flávia Florentino Varella (org.). Caderno de resumos & Anais 
do 2º. Seminário Nacional de História da Historiografia. A dinâmica do historicismo: tradições historiográficas 
modernas. Ouro Preto: EdUFOP, 2008. (ISBN: 978-85-288-0057-9) 
 
 2 
nas malhas da Monarquia e da família Real de descendência Portuguesa, as principais 
atividades econômicas era a cana de açúcar, a posteriori o café, tanto uma como a outra, 
tinham no escravo africano a sua mão de obra. Ainda no século XIX, ocorrem à abolição da 
escravidão em 1888, e a Proclamação da República no ano de 1889. 
A partir dessa breve análise da conjectura do contexto histórico brasileiro, do século 
XIX, iremos perceber as influências da cultura européia no seio da sociedade brasileira, tanto 
os intelectuais, como os integrantes da elite política e econômica. Irei me deter na análise dos 
intelectuais brasileiros, como esses forjaram uma identidade nacional, constituída pela 
miscigenação racial entre brancos, negros e índios, que a partir desta miscigenação surge o 
mestiço, o “autêntico cidadão brasileiro”: indolente, de raça inferior, pois fora constituído este 
da miscigenação entre o branco, considerado como raça superior, e dos índios e negros, 
considerados como raças inferiores. 
A chamada intelligentsia brasileira, do século XIX, para explicar o Brasil utilizava-se 
de teorias de contorno claramente racista, questionamos “como foi possível a existências de 
tais interpretações, e, mais ainda, que elas tenham alçado ao status de Ciências”. (ORTIZ: 
1994, p. 13). Segundo o autor Ortiz, essas interpretações tinham como principal característica 
sua implausibilidade. As três principais teorias utilizadas, pelos intelectuais brasileiros, era o 
positivismo de Comte, o darwinismo social e o evolucionismo de Spencer, “elaboradas na 
Europa em meados do século XIX, essas teorias, distintas entre si, podem ser consideradas 
sob um aspecto único: o da evolução histórica dos povos”. (ORTIZ: 1994, p. 14) 
O darwinismo social e o evolucionismo foram teorias que “legitimaram” o domínio da 
Europa sobre outros povos, essa legitimação da dominação era pautada nos estágios sociais, 
em que todas as diferentes sociedades tinham um nexo, sendo algumas primitivas (inferiores) 
e outras civilizadas (superiores). Dessa forma, uma sociedade civilizada exercia o predomínio 
em outra sociedade simples (primitiva). O mesmo era aplicado para a questão racial, as teorias 
biologicistas do século XIX consideravam à raça2 branca como superior e à raça indígena, 
quanto à raça negra, como inferior, e o produto da miscigenação destas três raças, o brasileiro 
mestiço seria um indivíduo inferior. 
Mas, os intelectuais brasileiros, mesmo sabendo que a miscigenação não iria sanar a 
problemática da identidade brasileira em curto prazo, pois formaria o brasileiro mestiço, com 
 
2
 O termo “raça”, presente no trabalho, é tanto para ressaltar a utilização do mesmo no contexto histórico aqui 
analisado, em que raça era utilizada no sentido biologicista/ raciológico, no qual, a raça branca era superior e as 
raças indígenas e negras eram inferiores. (Hoje sabemos que tanto a biologia e a genética não consideram a 
existência de diferentes raças humanas). Também utilizo o termo “raça”, de acordo com o Movimento Negro e 
alguns intelectuais militantes, que dizem, que raça é o termo que ainda consegue dar dimensão mais próxima à 
verdadeira discriminação contra negros e índios. 
 3 
toda sua carga de negatividade. Entretanto, adotaram a teoria raciológica do branqueamento 
racial, que iria resolver no pensamento de tais intelectuais o problema da identidade brasileira 
em longo prazo. O branqueamento racial tinha como meta, o clareamento da população 
brasileira, por meio da miscigenação racial, quanto mais os indivíduos brancos se 
miscigenavam com índios e negros, mais brancos seriam os indivíduos provenientes deste 
processo, foram utilizados pelo Estado brasileiro outros mecanismos de branqueamento racial, 
como a política imigratória, 
É interessante observar que a política imigratória, além de seu significado econômico, possui uma dimensão 
ideológica que é o branqueamento da população brasileira. O fato de este branqueamento se dar em um futuro, 
próximo ou remoto, está em perfeita adequação com a concepção de um Estado brasileiro enquanto meta. 
(ORTIZ: 1994, p. 31). 
 
 A questão racial brasileira se torna nesse contexto, como imprescindível para 
formação de uma identidade nacional e a afirmação do Brasil como um Estado consolidado, 
que naquele momento não o era. Posteriormente, na análise de cada autor, iremos perceber a 
adoção ou não dessas teorias raciológicas em seus pensamentos, é interessante ressaltar que 
nem todos os autores da historiografia brasileira do século XIX e início do século XX 
aderiram as teorias racistas, o autor Ortiz, nos explica, o motivo das escolhas destas teorias 
por alguns autores e por outros não, já que todos os autores que propus analisar são 
contemporâneos de tais teorias, 
A elite intelectual brasileira, ao se orientar para a escolha de escritores como Gobineau, Agassiz, Broca, 
Quatrefages, na verdade não está passivamente consumidoteorias estrangeiras. Essas teorias são demandadas 
a partir das necessidades internas brasileiras, a escolha se faz assim “naturalmente”. (ORTIZ: 1994, p. 30) 
 
 A escolha de teóricos europeus, pelos intelectuais brasileiros, foi feita de forma natural 
por cada intelectual, esses escolhiam a teoria que melhor explicaria, de uma forma ideológica, 
as peculiaridades brasileiras e a formação de uma identidade nacional. 
 Comecemos por analisar o autor Von Martius3, um naturalista e botânico alemão, que 
viajou para o Brasil, para registrar a natureza e as pessoas, com a criação do IHGB no ano de 
1838, o mesmo vence o concurso desta Instituição, no ano de 1840, com a monografia 
intitulada “Como se deve escrever a história do Brasil”, segundo o autor Vainfas, 
Martius apareceu sob o rótulo da “miscigenação racial, afirmando que a chave para se compreender a história 
brasileira residia no estudo do cruzamento das três raças formadoras de nossa nacionalidade – a branca, a 
indígena, a negra -, esboçando a questão da mescla cultural sem contudo desenvolvê-la. (VAINFAS: 1999) 
 
3
 Para o presente trabalho, e pelas limitações de espaço do artigo, irei fazer uma análise bastante sucinta dos 
autores utilizados no presente estudo. 
 4 
 
 Segundo parte dos historiadores, que se ocupam do tema da historiografia brasileira do 
século XIX, o naturalista alemão deu ênfase na contribuição portuguesa e na formação da 
identidade nacional brasileira. Fala em raça – branca, índia e etiópica, insiste em “raças 
inferiores”, não chega a condenar nenhuma, vê no cruzamento um sinal positivo, a criar forças 
e novas virtualidades. (IGLÉSIAS: 2000, p. 68) O autor Vainfas, em sua interpretação da 
historiografia de Von Martius, discorda do autor Iglesias, no ponto referente à miscigenação, 
o naturalista praticamente silenciou sobre o papel da “raça” negra, reservando ao índio, um 
tanto idealizado, um papel secundário. (VAINFAS: 1999) O autor Martius não desenvolve em 
nada o tema racial, mas com ele, o tema da miscigenação étnica foi posta como proposta para 
quem se interessar em escrever sobre o Brasil. 
 Francisco Adolfo de Varnhagen, historiador de extrema importância metodológica 
para a jovem historiografia brasileira, foi um exímio historiador no que se refere ao rigor 
documental. Influenciado pela historiografia alemã, sobretudo à Rankeana, Varnhagen busca 
em sua historiografia restaurar os Braganças, a dinastia do Imperador brasileiro. História 
branca, elitista e imperial, deu contribuição ao informar sobre os costumes e crenças os tupis, 
mas, chamou-os de bárbaros e selvagens e silenciou sobre os negros, com Varnhagen, a 
miscigenação permaneceu oculta, seja racial, étnica ou cultural. (VAINFAS: 1999). 
 Segundo Iglésias, Varnhagen exaltava a monarquia, tinha o culto da ordem, 
abominava todos os movimentos de liberdade e sua historiografia tinha predominância do 
fator político. Dava ênfase no colonizador português, o índio não era valorizado pelo autor, 
“esses não aceitavam a subjugação”. Varnhagen não era “a favor do negro que foge, une-se 
aos seus e faz Quilombos”, ao índio refere-se como “ferozes assassinos” e aos negros como 
“bárbaros aquilombados”. (IGLÉSIAS: 2000, p. 82-3). Varnhagen contribui para a 
historiografia brasileira, com a vasta documentação organizada, mas no que diz respeito, tanto 
ao branco, ao índio, e ao negro na formação da identidade brasileira, o mesmo olha para o 
Brasil do navio para a costa, ou seja, na visão dos portugueses, que aqui chegaram segundo o 
autor José Carlos Reis. 
Outro autor que contribuiu sob certos aspectos para historiografia brasileira, foi 
Raimundo Nina Rodrigues, em sua obra intitulada “Os Africanos no Brasil”, o autor analisa 
as matrizes culturais, negras africanas presentes no Brasil. Para se conhecer a cultura negra 
africana, no século XIX e inicio do século XX no Brasil, é imprescindível a leitura do estudo 
deste autor. Mas os motivos e as utilizações que levou, Nina Rodrigues, a estudar os negros, é 
o que quase desqualifica seu trabalho, o autor estuda os negros para legitimação de práticas 
 5 
racistas, ou seja, a utilização de teorias raciológicas contra a população negra é o que nos 
esclarece o autor Ortiz, 
Os escritos de Nina Rodrigues, refletem todos a ideologia da supremacia racial do mundo branco. “Estamos 
condenados à civilização”. O que pode ser traduzido pela análise do autor: 1) as raças superiores se 
diferenciam das inferiores; 2) no contato inter-racial e na concorrência social vence a raça superior; 3) a 
história se caracteriza por um aperfeiçoamento lento e gradual da atividade psíquica, moral e intelectual. 
Dentro desta perspectiva, o negro e o índio se apresentam como entraves ao processo civilizatório. (ORTIZ: 
1994, p. 20). 
 
Podemos dizer que, Nina Rodrigues, contribuiu para a historiografia brasileira, por seu 
pioneirismo no estudo das culturas africanas, agora no que tange aos motivos e utilizações de 
suas pesquisas, o referido autor foi extremamente propagador do racismo científico: da 
antropologia, especializada na craniologia, que tinha com meta, medir os crânios dos negros 
para comprovar a sua propensão para o crime e da ideologia do branqueamento racial. 
Manoel Bonfim será outro autor analisado no presente texto. O seu livro intitulado 
“América Latina: Males de Origem”, se insere nos grandes teóricos europeus, Comte, Darwin 
e Spencer, mas, sua interpretação, se opõe ao pensamento racista presente em praticamente 
todos os autores da época. Bonfim recorre às teorias de Comte, em particular faz uma 
comparação entre a sociedade e os organismos biológicos: as sociedades existem como 
organismos similares aos biológicos; existem leis orgânicas que determinam a evolução. 
(ORTIZ: 1994, p. 22-23). 
Desta filiação teórica, Bonfim faz uma analogia entre biologia e sociedade, chegando à 
noção de doente, que se torna conceito chave para entender o atraso da América Latina, e 
desta mesma matriz teórica, o autor constrói um teoria do imperialismo, baseada no 
parasitismo social, sendo assim, Bonfim é um dos precursores brasileiros na luta contra a 
opressão das nações colonizadoras européias. (ORTIZ: 1994, p. 23-24). O que se percebe no 
autor Bonfim é uma historiografia ligada a teorias biologicistas, em que a sociedade é vista 
como um organismo vivo. Mas, temos que ressaltar que o autor, foi um dos pioneiros em sua 
época, a não utilizar teorias racistas contra grupos étnico-raciais, tanto índios como negros. 
Iremos nesse momento, refletir um pouco sobre a historiografia de um dos principais 
autores brasileiros, do século XIX e início do século XX, Capistrano de Abreu, em seu livro 
intitulado “Capítulos de história colonial”, valoriza as diversidades territoriais, e as 
diversidades regionais, sendo assim, reside sua inovação, ao contrário de Varnhagen que 
valoriza a colonização portuguesa. Capistrano acentuou a fragmentação, as 
incomunicabilidades e valorizou o sertão. (VAINFAS: 1999). 
 6 
Segundo o autor Vainfas, Capistrano no que tange ao tema da miscigenação, avançou 
pouco, somente reiterou estereótipos sobre negros e mestiços, relacionando os negros às 
“danças lacivas” que alegravam o cotidiano da colônia, os portugueses taciturnos e o índio 
sorumbático e os mulatos como indóceis e rixentos. Capistrano na interpretação de Vainfas 
revelou-se afinado com certa raciologia cientificista, que via na mestiçagem um perigo para a 
sobrevivência das civilizações. (VAINFAS: 1999) 
Já o autor Iglésias diz que, no contexto histórico que viveu Capistrano, o país era 
dominado pela cultura francesa, mas Capistrano descobre o pensamento alemão e é 
influenciado por essa historiografia, sendo o primeiro historiador brasileiro com o sentido de 
interdisciplinaridade da ciência social. Tevegrandes interesses pela antropologia e etnografia, 
e no estudo dos indígenas, foi o precursor da historiografia do cotidiano. Capistrano deu 
ênfase no estudo do interior do Brasil, o chamado sertão, em sua obra percebe a valorização 
do homem do sertão e do índio. (IGLÉSIAS: 2000, p. 117 - 121). 
O autor José Carlos Reis refere-se à questão da miscigenação racial analisada por 
Capistrano, em que o europeu e o negro africano eram considerados como alienígenas, o índio 
tem um papel de destaque na obra do autor e o português é o primeiro elemento exótico, o 
primeiro imigrante, o invasor conquistador e colonizador, o segundo elemento exótico é o 
negro. O negro na obra de Capistrano não tinha qualquer peso histórico, ele tinha mais 
interesse na mestiçagem entre brancos e índios que surgiria o mestiço, ou, chamado 
mameluco, o sertanejo, o verdadeiro brasileiro. Segundo o autor Reis, Capistrano antecipa-se 
à Gilberto Freyre na substituição do termo raça por Cultura. (REIS: 2001, p. 86-114). 
A análise da historiografia brasileira, do século XIX, é de extrema importância para 
nossa compreensão de como foi forjada uma identidade nacional brasileira, a partir de teorias 
racistas européias. A miscigenação racial, étnica e cultural era vista na maioria das vezes 
como empecilho para o progresso do Brasil. É neste contexto histórico do século XIX, que se 
iniciam as formulações teóricas raciais que desencadeiam nas desigualdades raciais, sociais, 
culturais, política e econômica contra os índios e principalmente os negros. A idéia de 
mestiçagem, do branqueamento racial, proposto por autores do século XIX e inicio do século 
XX, foram determinantes para a construção ideológica da democracia racial, na década de 
1930, pelo autor Gilberto Freyre, ideologia esta que “oculta” e naturaliza o racismo brasileiro, 
gerando tantas desigualdades e preconceitos contra negros e índios. 
Bibliografia: 
 
 7 
BOMFIM, Manoel. A América Latina: males de origens. Rio de Janeiro: Topbooks, 1993. 
GONTIJO, Rebeca. Manoel Bonfim, “pensador da História na Primeira República”. Revista 
Brasileira de História. São Paulo, v. 23, n. 45, pp. 129-154, 2003. 
IGLÉSIAS, Francisco. Os historiadores do Brasil: capítulos de historiografia brasileira. Rio 
de Janeiro/ Belo Horizonte: Nova Fronteira; UFMG, 2000. 
MARTIUS, Carl Friedrich Phillip von. O estado do direito entre os autóctones do Brasil. 
Trad., Alberto Löfgren. Revista A. C. Miranda Azevedo. Belo Horizonte/ São Paulo: Ed. 
Itatiaia; Ed. da Universidade de São Paulo, 1982. 
REIS, José Carlos. As identidades do Brasil: de Varnhagen a FHC. Rio de Janeiro: Fundação 
Getúlio Vargas, 2001. 
RODRIGUES, Nina. Os africanos no Brasil. Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 2004. 
ODÁLIA, Nilo. “Varnhagen – história”. In: Coleção Grandes Cientistas Sociais. São Paulo: 
Ática, 1979, p. 35 a 117. 
ORTIZ, Renato. Cultura brasileira e Identidade Nacional. São Paulo: Brasiliense, 1994. 
VAINFAS, Ronaldo. “Colonização, miscigenação e questão racial: notas sobre equívocos e 
tabus da historiografia brasileira”. Revista Tempo. Agosto de 1999.

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