Buscar

Como aprender a identificar as crenças centrais

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 7 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

COMO APRENDER A IDENTIFICAR AS CRENÇAS CENTRAIS 
 
*Rita Alvarenga 
** Fernanda Pasquoto de Souza 
 
 
 
Resumo: O objetivo deste artigo é apresentar uma relação entre teoria e prática, em psicologia cognitivo-
comportamental, especificamente o processo de identificação de crenças centrais. Para a elaboração deste 
artigo, foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre o tema e usado como exemplo um caso ilustrativo de um 
paciente atendido na Clínica-Escola da ULBRA-Guaíba.Os resultados deste trabalho evidenciam a importância 
da identificação de crenças centrais, e a influência que a mesma tem sobre o tratamento, tornando-se inviável 
um planejamento adequado sem que seja realizado esse importantíssimo processo terapêutico. 
 
 
Palavras chaves: Crenças Centrais, Psicoterapia Cognitivo-Comportamental. 
 
 
 
 
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) vem crescendo constantemente, e a 
utilização desta abordagem justifica-se pelo seu caráter focal, breve, eficaz, objetivo e 
empírico. Além disso, a TCC tem-se mostrado altamente eficaz e é amplamente indicada nos 
casos de depressão, transtornos de ansiedade generalizada, transtorno do pânico, transtorno 
obsessivo-compulsivo, fobia social, entre outros. A TCC prioriza a reestruturação cognitiva 
para obter mudanças comportamentais e emocionais, tem com meta ensinar o paciente a se 
auto-monitorar e, com isso, se tornar o seu próprio terapeuta estando preparado para lidar com 
as situações que poderão surgir. 
 A terapia Cognitivo-Comportamental teve como precursora a Terapia racional-
emotiva de Albert Ellis, em 1955, mas foi Aaron Beck que lhe deu os atuais contornos. Na 
década de 60, o então psicanalista, estava insatisfeito com o modelo psicodinâmico para os 
seus pacientes deprimidos. A partir desses atendimentos, Beck observou semelhanças no 
processamento cognitivo dos depressivos o que denominou de tríade cognitiva: a visão de si 
próprio, dos outros (mundo) e do futuro. Desenvolveu um modelo teórico correspondente a 
prática, sempre os submetendo a verificações experimentais (RANGÉ, 2001). 
 
__________________________________________________________________________________ 
∗ Acadêmico do Curso de Psicologia da Universidade Luterana do Brasil. 
∗∗ Docente do Curso de Psicologia da Universidade Luterana do Brasil e orientadora deste trabalho. 
 O modelo cognitivo supõe que a maioria dos transtornos psicológicos, originam-se no 
modo distorcido como cada um percebe os acontecimentos, e isso influencia o afeto e o 
comportamento. O que não significa que são os pensamentos que causam os problemas e sim, 
eles modulam e mantêm emoções disfuncionais que independem de sua origem. (RANGÉ, 
2001). 
O fato em si não é tão importante como a interpretação que cada indivíduo faz dele. 
Essas interpretações se baseiam na história de vida de cada um, nas suas experiências e 
vivências, assim como as crenças que temos a respeito de nós mesmos, sobre o mundo e os 
outros e que determinam o nosso modo de pensar e agir (BECK, 1997). 
 A terapia cognitiva identifica e trabalha com três níveis de pensamento: o 
pensamento automático, as crenças intermediárias ou subjacentes e as crenças centrais. 
Os pensamentos automáticos são espontâneos e fluem em nossa mente a partir dos 
acontecimentos do dia-a-dia, independente de deliberação ou raciocínio. Podem ser ativados 
por eventos externos e internos, aparecem na forma verbal ou imagem mental. É o nível mais 
superficial da nossa cognição. 
 As crenças intermediárias correspondem ao segundo nível de pensamento e não são 
diretamente relacionadas às situações, ocorrendo sob a forma de suposições ou regras. 
Derivam e reforçam as crenças centrais. 
 *As crenças centrais constituem o nível mais profundo da estrutura cognitiva e são 
compostas por idéias absolutistas, rígidas e globais que um indivíduo tem sobre si mesmo. 
São idéias e conceitos a respeito de nós mesmos, das pessoas e do mundo. São aceitas 
passivamente, sem grandes questionamentos, são mantidas e reforçadas sistematicamente 
(RANGÉ, 2001). 
*As crenças nucleares são nossas idéias e conceitos mais enraizados e cristalizados 
acerca de nós mesmo, dos outros e do mundo, são constituídas desde as nossas experiências 
ainda na infância e se solidificam e se fortalecem ao longo da vida, moldando desta maneira o 
jeito de ser e agir do ser humano. O que não é modificado ou corrigido em fase desadaptativa, 
tratando-se de crenças disfuncionais, pode chegar à fase adulta como verdades absolutas 
(KNAPP. 2004) 
Judith Beck (1997) propõe que, as crenças centrais disfuncionais podem ser divididas 
em três grupos: 
1. Crenças nucleares de desamparo (Helpless-ness): Crenças sobre 
ser impotente, frágil, vulnerável, carente, desamparado, necessitado. 
2. Crenças nucleares de desamor (Unlovability): Crenças sobre ser 
indesejável, incapaz de ser gostado, incapaz de ser amado, sem atrativos, 
rejeitado, abandonado, sozinho. 
3. Crenças nucleares de desvalor (Unworthness): Crenças sobre ser 
incapaz, incompetente, inadequado, ineficiente, falho, defeituoso, enganador, 
fracassado, sem valor. 
 
O modelo básico da TCC se baseia na premissa da inter-relação entre cognição, 
emoção e comportamento. Para cada situação diferente há um pensamento relacionado à 
mesma, para cada pensamento há uma emoção e subseqüente um comportamento, o que 
justifica diferentes maneiras de sentir e agir em diferentes pessoas (WRIGHT, 2008). 
Dessa forma, os eventos ativam os pensamentos, que geram como conseqüência, 
emoções e comportamentos, como mostra a figura abaixo: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 A terapia Cognitivo-Comportamental visa identificar e corrigir os pensamentos 
disfuncionais (distorções cognitivas), prevalentes nos mais variados transtornos. Desta forma, 
procura-se a melhor maneira de auxiliar o individuo a observar a maneira errônea na qual se 
processa as informações e as interpretações dos fatos. O paciente poderá então questionar a 
veracidade destes pensamentos e interpretações permitindo novas possibilidades de pensar e 
agir (KNAPP, 2004). 
Entretanto, para obter resultados positivos e duradouros, é necessário que seja 
modificado além dos pensamentos disfuncionais, as crenças que predispõem os problemas, e 
como precaução de uma recaída, seja realizado um planejamento de estratégias eficazes que 
Figura 1 - Modelo Cognitivo-Comportamental Básico 
Fonte: (WRIGHT; BASCO; THASE, 2008, p.17) 
serão capazes de auxiliar o paciente em situações semelhantes. Por fim o objetivo da terapia 
cognitivo-comportamental é fazer com que o paciente se torne o seu próprio terapeuta 
(KNAPP, 2004). 
 Toda via a terapia cognitiva comportamental tradicional, parte de diversos pressupostos 
sobre os pacientes que buscam a TCC, entretanto nem sempre esses pressupostos se mostram 
verdadeiros, como em casos de pacientes caracterológicos, como o exemplo que usaremos 
para ilustrar esse artigo: Jack (nome fictício), sexo masculino, 19 anos, solteiro, ensino médio 
completo, desempregado. Buscou atendimento na Clínica-Escola no mês de março do 
corrente ano. Jack chegou para o tratamento com queixas de dificuldades nos 
relacionamentos, tanto familiares, como afetivos, relatou também dificuldades em arrumar 
emprego, alegando que sua timidez o prejudicava nas entrevistas. Apesar dos relatos de 
constantes sentimentos de tristeza e desânimo de Jack, bem como sua alta pontuação no 
Inventário de Depressão de Beck (BDI), o paciente não apresentava os critérios para casos 
explícitos de Eixo I. 
 Segundo YOUNG 2008, há pacientes que procuram tratamento cognitivo-
comportamental, mas carecemde sintomas específicos que possam servir como alvo na 
terapia. Seus problemas se apresentam de forma obscura, vagos e difusos, sem eventos 
ativadores claros. Eles sentem algo de errado com suas vidas, como um vazio, chegam 
buscando ajuda por dificuldades nos relacionamentos com pessoas próximas ou no trabalho. 
 Jack mostrou-se muito motivado a submeter-se a uma psicoterapia, de maneira que se 
evidenciou uma melhora significativa ainda nas sessões inicias, onde é realizado uma 
avaliação. Segundo Beck, (1997) a avaliação cognitivo-comportamental, proporciona ao 
terapeuta um nível de entendimento cognitivo e comportamental do paciente, este processo 
dura em torno de três a cinco sessões, durante esse processo de avaliação, os dados trazidos 
pelo paciente foram de extrema importância para levantar hipóteses, elaborar o diagrama de 
conceitualização cognitiva e principalmente planejar o tratamento adequado. 
 No decorrer do tratamento, Jack começou a ser treinado a acessar suas cognições e 
emoções, sob forma de registro de seus pensamentos e sentimentos, como o Registro de 
Pensamentos Disfuncionais (RPD), o paciente começou a acessar níveis mais profundos de 
seus pensamentos, o processamento dessas informações tanto conscientes, como 
inconscientes, referem-se a transformação, governada por regras ou representações mentais. 
Fundamentado no modelo Beckiano, o processo de informação propõe que nos problemas 
psicológicos, os pensamentos do paciente, tornam-se não somente distorcidos, como também 
mais rígidos, os julgamentos tornam-se absolutos e generalizados e suas crenças centrais 
fundamentais, mais inflexíveis. (KNAPP, 2004). 
 O registro de pensamentos normalmente é realizado e apresentado ao paciente, fase 
inicial do tratamento, de uma maneira simplificada, sem sobrecarregá-los de detalhes e 
minúcias e que ajude o paciente a apreender sobre os pensamentos automáticos, geralmente é 
solicitado que o paciente faça o preenchimento do RPD em sessão, posterior a isto, é usado 
como tarefa de casa. (WRIGTH, 2008) 
 O primeiro RDP que Jack teve acesso foi durante a terceira sessão, em formato de 
balões, o paciente descreveu a seguinte situação, o que aconteceu? Não passei no vestibular, 
O que você pensou? Não sou inteligente o bastante, para passar. Como você se sentiu? Triste 
e desanimado. 
 Foi então aplicado a esse paciente a técnica de Seta Descendente, onde se é 
questionado a respeito dos seus pensamentos quentes, automáticos. Essa técnica busca saber o 
significado que os pensamentos quentes e mais manifestos, têm para o paciente. Segundo 
Judith Beck, 1997, ele evoca também as crenças centrais do individuo. 
 
O dialogo discorreu da seguinte maneira: 
O que isso significa para você? 
-Significa que sou burro, estudei, mas não consegui passar. 
O que significa ser burro? 
Ser incapaz de conseguir alguma coisa. 
O que isso quer dizer sobre você? 
-Que dizer que sou um fracasso. (Crença Central - Eu sou um Fracassado) 
E se isso for verdade, o que irá acontecer? 
-Se eu não conseguir estudar, é mais difícil de conseguir trabalho. (Crença 
Intermediária – Se eu não conseguir estudar, então sou um fracasso) 
E o que aconteceria se isso fosse verdade? 
Apenas confirmaria a minha hipótese de que sou incapaz de conseguir alguma 
coisa, um fracasso total. (Crença Central – Sou Incapaz) 
 De acordo com (Beck, 1997), o terapeuta deve parar a técnica de flecha descendente, 
quando encontrar a crença central, quando uma mudança negativa no humor do paciente ou 
quando ele começar a declarar nas mesmas palavras ou em palavras semelhantes, como o caso 
acima. 
 Em suma, as crenças centrais requerem um trabalho sistemático 
consistente. Algumas técnicas, aplicáveis à reestruturação de pensamentos 
automáticos e crenças intermediárias, podem ser usadas em combinação 
com técnicas mais especializadas orientadas especificamente em direção a 
crenças centrais (Beck, 1997, pg. 199). 
 
 
 Os indivíduos também possuem crenças nucleares disfuncionais a respeito dos outros 
e do mundo. As crenças nucleares são absolutistas, generalistas e cristalizadas, podendo 
permanecer latente o tempo todo, e ativadas nos transtornos emocionais, com isso, o processo 
da informação torna-se tendencioso no sentido de extrair da realidade apenas informações que 
confirmam a crença disfuncional. (KNAPP, 2004) 
 Por fim, Segundo (CAMINHA, 2003), o sucesso da terapia começa quando o paciente 
torna-se capaz de anotar, perceber e responder aos pensamentos automáticos, realizando 
assim, exercícios de metacognição, pensar sobre o que se está pensando. Desta maneira se 
quebra a seqüência do esquema, e em última instância, altera o sentido estrutural, fazendo 
com que haja diminuição de valência da crença central. O paciente aprende a questionar os 
pensamentos e chegar junto com o problema, se automonitorando, para intervir antes de o 
problema se manifestar, tornando-se assim seu próprio terapeuta. 
 
Considerações Finais 
 Na prática Clínica, percebe-se que a terapia cognitivo-comportamental é um 
procedimento que exige muito conhecimento teórico e prático, também certa flexibilidade e 
criatividade da parte do terapeuta, pois este precisa ajustar o plano de tratamento as 
características de cada paciente. 
 Em cada sessão busca-se seguir as estruturas propostas pelos autores precursores em 
TCC. Conclui-se também que o diagrama de Conceitualização Cognitiva é uma ferramenta 
fundamental para os profissionais que atuam nesta área, pois visa à elaboração de um plano 
terapêutico eficaz para o individuo em tratamento. 
 A identificação de crenças centrais não é um processo opcional para o terapeuta 
cognitivo-comportamental. Ao contrário disso, considera-se de fundamental importância para 
o progresso e sucesso terapêutico. 
 Mesmo levando em conta a escassez de material referente a este assunto, mostram-se de 
futuro promissor as pesquisas e estudos envolvendo este tema. 
 Durante a realização deste trabalho, foi possível ampliar o conhecimento acerca da 
TCC e seus pressupostos, contribuindo para a aquisição de conhecimentos relevantes no 
processo de formação profissional, além de uma capacitação à reflexão crítica relacionada à 
realidade clínica vivenciada no momento, numa perspectiva cognitiva e comportamental. 
 
 
Referências Bibliográficas 
 
BECK, Judith S. Terapia cognitiva: Teoria e Prática. Porto Alegre: Artmed, 1997. (trad. S. 
Costa). 
 
CAMIHA, Renato M; HABIGZANG, Luísa F. Psicoterapias cognitivo-comportamentais: 
teoria e prática. São Paulo: Casa do Psicólogo. 2003. 
 
KNAPP, Paulo. E. cols. Terapia cognitivo-comportamental na prática psiquiátrica. Porto 
Alegre: Artmed, 2004. 
 
WRIGHT, Jesse H; BASCO, Monica R; THASE, Michael E. Aprendendo a terapia 
cognitivo-comportamental: um guia ilustrado. Porto Alegre: Artmed, 2008. 
 
RANGÉ, B. Psicoterapias Cognitivo-Comportamentais: um diálogo com a Psiquiatria. 
Porto Alegre: Artmed, 2001. 
 
YOUNG, J. Terapia do Esquema: Guia de Técnicas cognitivo-comportamentais 
inovadoras. Porto Alegre: Artmed, 2008.

Outros materiais