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Medicalização: Processo de Dependência

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Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS
Discente: Vitória Almeida Matos da Silva
Docente: André Almeida Uzêda
Curso: Enfermagem
Avaliação II – Medicalização
O que seria o processo de medicalização? O que é medicalizar?
Esses são os questionamentos que vamos abordar ao longo desse texto.
Ao nascer, estamos sujeitos ao processo natural biológico da vida: o envelhecimento. E consequentemente ao envelhecimento logo também estamos sujeitos ao adoecimento. Medicalizar é tornar processos naturais, que poderiam ser resolvidos por si sós, ou até mesmo com carinho e atenção, em processos medicamente tratáveis. É retirar a autonomia da população, tornando-a dependente de processos médicos. A alienação que as mídias causam levam as pessoas a buscarem para tudo, (ex: uma simples cólica, estresse do dia a dia, ou o parto) um socorro, uma fuga, através da medicina, suas terapias e medicamentos. Aqui, vamos abordar e citar ideias de alguns pensadores e discutir as características desse processo.
Ivan Illich criticou profundamente a medicina e a caracterizou como uma ameaça à saúde, através da iatrogenia - Danos causados pela aplicação de medicamentos ou tratamentos médicos. Mas Illich ampliou os conceitos de iatrogenia: iatrogenia clínica, social e cultural: 
[...] a iatrogênese clínica, que se constitui nos danos ao indivíduo ocasionados pelo uso da tecnologia médica, diagnóstica e terapêutica. A segunda seria a iatrogênese social, referente ao efeito social danoso do impacto da medicina, que gera uma desarmonia entre o indivíduo e o seu grupo social, resultando em perda de autonomia na ação e no controle do meio, expropriação da saúde enquanto responsabilidade das pessoas e disseminação do papel de doente como comportamento apassivado e dependente da autoridade médica (Nogueira, 2003a). E, por fim, a iatrogênese cultural: a destruição do potencial cultural para lidar autonomamente com boa parte das situações de enfermidade, dor e morte.
A iatrogenia pode ser ocasionada por uma medicalização desnecessária buscada pela própria sociedade, visando facilitar a vida corrida cotidiana, como por exemplo: medicar uma dor de cabeça para que não se ausente ao trabalho ou uma aula importante. Medicar os sintomas, e não a causa em si, para que se torne fácil lidar com o problema, contornando a situação. 
Para o autor, uma medicalização pode ser prejudicial, pois pode apresentar efeitos indesejados, interações medicamentosas, causadas pela própria medicalização excessiva. 
As pessoas também estão fissuradas por cuidados modernos e tecnológicos, pela estética, academias e treinamentos profissionais, em busca de uma suposta saúde e um corpo perfeito. Illich também faz crítica a esse tipo de comportamento. Ele fala também da ausência de uma matriz cultural, que existia a anos atrás e foi sendo esquecida com o passar dos anos. Pessoas que não possuem uma matriz cultural, tendem a ser muito mais medicalizadas do que as que possuem, pois, pessoas com matriz cultural conhecem tratamentos que vieram de seus antepassados, transferidos hereditariamente. 
Michel Foucault, vê a medicalização como uma relação de poder, em que a medicina (poder superior) atua sobre a população (poder inferior).
Esses indivíduos são manipulados pela medicina, perdendo assim sua autonomia. Como por exemplo, a mensuração da dor, em que apenas o indivíduo sabe qual a intensidade, se é necessário a medicalização. Mas os profissionais de saúde logo indicam medicamentos aos pacientes, sem questionar as características da dor e sem conhece-la. A medicina moderna exerce então, um biopoder sobre os indivíduos manipulados, acompanhando-os desde o nascimento, analisando as proporções, as incidências e as prevalências, aperfeiçoando o poder sobre a vida.
Na medicalização, também há a diferenciação de estado normal e estado doente, como por exemplo, as crianças que brincam demais, falam demais e são aquietas, são muitas vezes caracterizadas como hiperativas, são tratadas e medicalizadas, porque apresentam comportamento que a sociedade considera fora dos padrões de normalidade. Crianças que possuem um modo diferente de se relacionar socialmente, como os autistas, também são caracterizados como psicologicamente debilitados. 
A intensa medicalização dos partos, também é muito presente em nossa contemporaneidade. As mulheres marcam o dia do nascimento dos próprios filhos, e optam pela opção que seja o mais confortável possível e menos dolorosa, o que seria e é uma característica normal ao decorrer de um trabalho de parto. A dor é um sinal de que algo pode estar errado, é necessária a vida humana que tenhamos sensibilidade dolorosa, pois ela está ali, para nos alertar e afastar de coisas danosas.
A busca pela humanização dos partos, está se ampliando a cada dia, através de mulheres que acham desnecessário medicalizar um processo extremamente natural. Como acredita o autor, Michel Foucault, toda relação de poder pode ser revertida. Está ao dispor da sociedade aderir ou não aos processos de medicalização. 
Para Foucault, a medicina trata o corpo humano para adestrá-lo, adaptá-lo a suas normas, modificando suas condições de vida e seus hábitos individuais e sociais. Esse controle exercido pela medicina ao corpo humano, não é apenas individual, é social. Podemos observar esse controle social nas estratégias de estudos sociais sobre as patologias que afetam a população, nas vacinações, controle de higiene e regras gerais. 
A medicalização, quando surge, abre espaço a uma forma de resistência, chamada de desmedicalização, que é a tentativa de resgatar a autonomia da sociedade, que busca enfrentar seus simples problemas sozinha, ou da forma mais natural possível. A recusa do diagnóstico e tratamento médico, é uma forma de resistência, que pode ocorrer quando o paciente possui matrizes culturais próprias estabelecidas, quando ele crê que existe outras formas de tratar aquele problema, que não seja farmacêutica, ou que até mesmo ele acredite que o processo pelo qual ele esteja passando não seja patológico, mas natural. 
Conrad retrata que a medicalização transforma em patologias, até mesmo coisas consideradas antigamente como maus comportamentos morais ou sociais, como um estupro, alcoolismo, homossexualidade, má alimentação. Tudo está medicalizado! Parson vê a medicalização como um meio de controle da normalidade que estabelece as normas sobre o que é ou não normal, onde a doença é o anormal, e a medicina busca normatizar tudo. Becker também propôs uma teoria: A teoria do rótulo que:
“considera o fenômeno do desvio de acordo com o papel da ação coletiva, cujas regras são impostas por um processo social que define coletivamente certas formas de comportamento como problemáticos. ” 
O processo de medicalização, afetava também a família como um todo, a qual tinha o papel de diagnosticar o anormal em seus filhos, mas seguindo regras detidas por educadores e principalmente os médicos. Esse poder da família, era sempre submisso ao poder do diagnóstico biomédico. A infância era o principal foco da família medicalizada, pois as crianças eram consideradas pequenos adultos. Prevenindo o adoecimento na infância, estariam prevenindo futuros adultos doentes e garantindo a sobrevivência desses indivíduos. Até o final do séc. XXIII, as crianças não tinham uma educação especializada para essa época de suas vidas, mas essa visão de crianças serem pequenos adultos foi transformada e especializada, separando e diferenciando-os e estabelecendo um método de educação para prepará-los para a vida adulta, na qual a escola era responsável por esse papel. A medicalização ainda permanece nas escolas em nossos dias atuais, a observamos quando uma criança com dificuldades de aprendizado, ou que não se relaciona bem com os colegas e professores, é considerada débil, retardada, problemática, autista, idiota ou imbecil, quando o que ela apresenta pode ser apenas um comportamento característico pessoal que não necessita ser medicalizado, mas apenas adaptado. 
Asconsiderações de Fleck a respeito da medicalização, destaca o saber centrado no biológico, e o epistemicídio que ocorre nessa centralização. As culturas de diversas sociedades são homogeneizadas no saber científico, nas tecnologias, e atuam sobre a sociedade massacrando-a devido a sua pobreza de conhecimentos culturais, religiosos e populares, pois, são alienados e pressionados pela mídia, globalização e tecnologias a buscar respostas no conhecimento médico, superlotando assim os hospitais e crescendo as filas de espera, mesmo que por causas simples. Para isso, o governo criou um tipo de desmedicalização, a ESF- Estratégia de Saúde da Família, que se caracteriza no resgate da autonomia dos indivíduos medicalizados. 
Outra característica da medicalização é a amplificação da indústria farmacêutica e o crescimento da economia do país, já que existe um grande movimento do mercado devido à variedade de medicamentos, formas e técnicas terapêuticas adaptadas as condições individuais de cada paciente. A busca intensa e necessária para estar dentro dos padrões de saúde considerados normais pela sociedade, ocasiona um grande consumismo medicalizado.
Roudinesco retrata que para todos os problemas por mais simples que sejam, existe um medicamento a ser receitado. 
Cada paciente é tratado como um ser anônimo, pertencente a uma totalidade orgânica. Imerso numa massa em que todos são criados à imagem de um clone, ele vê ser-lhe receitada à mesma gama de medicamentos, seja qual for o seu sintoma. (ROUDINESCO, 2000).
A psicanálise tenta mostrar uma visão diferente da medicalizada, onde Freud, através de pesquisas psiquiátricas e psicológicas das pacientes, ouvindo-as contar suas histórias, suas dores psicológicas, obteve respostas para causa dos problemas físico e biológicos. Ele descobriu sintomas que não lesionavam as pacientes diretamente (biologicamente), mas sim indiretamente (psiquicamente). Muitas vezes, a medicalização desnecessária, pode ser substituída por terapias desmedicalizadas como a musicoterapia, a pintura, a dança, entre outras atividades que melhoram o humor e o desempenho do organismo. 
A aceitação da medicalização pela sociedade pode trazer grandes danos a mesma, como por exemplo, utilizar um medicamento que desenvolve uma reação inesperada, e outro para controlar essa reação ocasionada pelo primeiro medicamento, podendo ocasionar interações medicamentosas, ou dependência físico e química da droga utilizada. Quanto mais medicalizados estamos, mais submissos somos aos poderes médicos, que se torna a razão e a verdade. É necessário que tenhamos a autonomia e o direito da escolha da forma como queremos ser tratados, pois somos nós quem verdadeiramente conhecemos nosso corpo e nossos sintomas, então devemos optar e escolher, ser medicalizados, sim ou não. Não devemos nos focar e deixar levar por tudo que a mídia prega, ou que o médico diz. Há problemas simples, os quais não necessitam ser tratados com fármacos, ou que precisam de um esclarecimento médico. Quando desmedicalizamos esse tipo de problema, evitamos o transtorno da superlotação do SUS, e evitamos tomar o lugar de quem realmente necessita de um tratamento médico.
Considerações finais
A medicalização interfere significativamente tanto em nossas vidas sociais, como individuais, podendo apresentar efeito reverso. Ao invés de ajudar, segundo seu objetivo, acaba atrapalhando e prejudicando a vida dos indivíduos medicalizados que perdem sua autonomia ou até mesmo perdem a saúde e se tornarem dependentes. Ela também influencia na movimentação da economia, devido à variedade de busca por medicamentos, como os fitoterápicos, alopáticos e homeopáticos. Enfim, observa-se que a medicalização está tomando seu espaço diante da sociedade, e o poder da medicina continua tendo grande influência sobre os cidadãos, que cada vez mais motivados pelas mídias, seguem nessa intensa busca de serem considerados dentro dos padrões de normalidade da saúde.

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