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MICROBIOLOGIA DO PESCADOS PROF MSC LUANA MOTA MARTINS Pescados e frutos do mar O pescado é um dos alimentos mais perecíveis vida comercial é muito curta. Abrange uma grande variedade de espécies, sendo enorme o número de espécies comerciais com diferentes padrões de comportamento desde a captura até que o mesmo seja consumido. O histórico do tempo e da temperatura é o fator-chave que determina a qualidade do produto final. (FRANCO; LANDGRAF, 2008) Pescados e frutos do mar (FRANCO; LANDGRAF, 2008) O frescor é o atributo de qualidade mais importante dos produtos pesqueiros. O estado de frescor se pode descrever por uma série de propriedades definidas, as quais podem ser medidas por vários indicadores. Fatores tanto biológicos como de processamento influem sobre as alterações físicas, químicas, bioquímicas e microbiológicas que se sucedem na etapa post-mortem do pescado. Os principais métodos de avaliação do frescor do pescado: FRESCOR Métodos físicos Métodos microbiológicos Métodos químicos Métodos sensoriais MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DO FRESCOR Métodos sensoriais Determinam o grau de desenvolvimento alcançado pelas alterações post-mortem no pescado, utilizando os sentidos do olfato, da visão, do gosto e do tato. As características do pescado somente podem ser medidas pelo homem, e as diferenças entre individuos podem ocasionar variações nas respostas ao mesmo nível de estímulo. Aspectos avaliados no método sensorial Pele: brilhante com coloração característica. Região Ventral: firme com elasticidade. Olhos: córnea translúcida e convexa. 3 dias 10 dias 18 dias Aspectos avaliados no método sensorial Guelras: coloração vermelho brilhante, sem odor desagradável. 3 dias 10 dias 18 dias Aspectos avaliados no método sensorial Vísceras e abdômen: órgãos definidos, íntegro 3 dias 18 dias Aspectos avaliados no método sensorial Carne: translúcida, aderida à espinha, quando filetado - os vasos capilares são distintos. Odor: analisado por partes – pele, vísceras, guelras e carne. Aspectos avaliados no método sensorial Pescado inteiro Boa qualidade Qualidade baixa Olhos Transparente, claro, brilhante, pupilas negras, convexo Opaco, cöncavo, pupila cinzenta Branquias Vermelho brilhante, sem limo Cor marrom, com limo, odor ácido Pele Brilhante, sem roturas nem raspaduras Opaca, descolorida, raspaduras, lesões profundas Corpo Duro, em rigor, firme e resistente ao tato Suave ou brando, retendo o afundamento ao ser tocado Odor Odor a mar, algas, agua de río (se for de agua doce) Amoniacal, de decomposição Escamas Aderidas firmemente a pele, cor brilhante Opacas, se desprendendo fácilmente Cavidade abdominal (se não eviscerado) Visceras completas, firmemente aderidas, brilhante Rotas, incompletas, espinhas se desprendendo fácilmente da carne; manchadas, cor verde-amarelada Porções, filés de pescado fresco Cor Variando segundo a espécie, porém brilhante, consistente Com manchas vermelhas, amareladas ou marrom nas bordas Odor A mar, levemente a algas marinhas ou água de ríol Amoniacal, de decomposição Carne Firme, inteira, úmida, corte limpo Branda, superficie de corte irregular, rasgada Características sensoriais para julgar comercialmente o frescor do pescado Métodos Físicos pH: pouco seguro, uso restrito. Propriedades elétricas: “Torry meter” > leitura aparelho = melhor estado de qualidade Tensão das fibras musculares Dureza do músculo Viscosidade do suco extraído da carne Pouco utilizados pH - No pescado, se acumula o ácido láctico como resultado da glicólise anaeróbica e seu conteúdo varía em função do tempo post-mortem e das condições de armazenamento. pH 500 7,5 7,0 6,5 6,0 pH Glucógeno 2 12108640 Días a 0º C 100 200 300 400 m g / 1 0 0 g Mudanças glicolíticas no bacalhau (Fraser et al., 1967) Métodos Físicos Propriedades elétricas Consiste em medir as mudanças na condutividade elétrica da pele e do tecido do pescado à medida que transcorre o tempo depois da morte. Durante o armazenamento as proteínas tendem a diminuir sua capacidade de retenção de agua (CRA), portanto existe maior quantidade de água livre no espaço tissular, que atua como meio transmissor de eletricidade. MÉTODOS QUÍMICOS Consistem em monitorar a acumulação ou desaparecimento de compostos resultantes da atividade autolítica ou microbiana. Os resultados são reprodutíveis, porém geralmente se necessita de laboratórios, equipamentos, reagentes e especialistas. Determinações frequentemente utilizadas: ATP e seus catabólitos: - Hipoxantina (Hx) Trimetilamina (TMA) Amoniaco Bases voláteis totais (BVT) Histamina Ribosa Ribosa-1-P Acido úrico Degradação post-mortem do ATP. Inclui enzimas: 1) ATPase; 2) Mioquinase; 3) AMP deaminase; 4) 5’ nucleotidase; 5) Fosforilase; 6) Inosina nucleosidase; 7) y 8) Xantina oxidase Fonte: Gill (2000) Catabólitos de ATP A adenosina trifosfato (ATP) se degrada de maneira autolítica em compostos sucessivos por uma série de reações enzimáticas. O grau de degradação do ATP e seus catabólitos é indicador do avanço da perda do frescor do pescado em suas primeiras etapas de armazenamento. Determinação de hipoxantina (Hx) Hx é o composto final da hidrólise do ATP que se acumula gradualmente no músculo à medida que o pescado perde seu frescor e a sua concentração pode ser tomada como medida da duração do pescado em gelo. No entanto, a taxa de acumulação de Hx não é a mesma para todas as espécies de peixes. Determinação de compostos produzidos por ação microbiana Trimetilamina (TMA) Composto responsável pelo odor característico de pescado deteriorado. Muitos peixes marinhos possuem Óxido de Trimetilamina (O-TMA). O O-TMA é desdobrado a TMA por ação de microorganismos presentes naturalmente na pele e nas brânquias do pescado marinho. A quantidade de TMA produzida é uma medida da atividade microbiana, portanto é um indicador da decomposição. Algumas bactérias capazes de reduzir O-TMA a TMA: Alteromonas, Photobacterium, Vibrio, E. coli Quantificação de TMA Tempo em gelo (días) Hipoxantina e Inosina (µmoles/g) IMP (µmoles/g) TMA (mgN/100g) 0 0,17 ± 0,09 4,70 ± 0,79 0,05 ± 0,04 4 0,26 ± 0,76 5,00 ± 0,76 0,04 ± 0,34 9 0,66 ± 0,16 2,58 ± 0,53 1,23 ± 1,11 11 0,76 ± 0,11 2,31 ± 0,50 1,36 ± 0,21 14 1,04 ± 0,17 1,40 ± 0,1 1,79 ± 0,1 Conteúdo de nucleotídeos e TMA em salmão rosado armazenado em gelo Barnet et al., 1991 Amoníaco O amoníaco é gerado por ação bacteriana sobre os aminoácidos, proteínas e peptídeos. A quantidade de amoníaco pode ser um indicativo do grau de decomposição do pescado, especialmente em mariscos. Os elasmobrânquios produzem uma grande quantidade de amoníaco por seu alto conteúdo de uréia. Existem diversas técnicas químicas e enzimáticas para a quantificação do amoníaco. Bases volátiles totales (BVT) As bases voláteis totais (BVT) englobam as bases totais, combinadas de amoníaco, dimetilamina (DMA) e trimetilamina (TMA). A determinação de BVT é um dos métodos químicos mais amplamente utilizados para avaliar a qualidade do pescado. Ao aumentar a quantidade de BVT, paralelamente aumenta a quantidade de TMA e amoníaco. Efeito do tempo de armazenamento sobre a produção de amoníaco, BVT e TMA em calamar Fuente: Huss, 1991 N it ro gê n io v o lá ti l (m g % ) Armazenamento a 2,5º C (Días) TMA Amoniaco BVT Aminas biogênicas As aminas biogênicas englobam uma série de compostos formados pela descarboxilação de aminoácidos presentes nos alimentos por enzimas bacterianas As principais aminas associadas com pescado são: tiramina, histamina, putrescina, indol (camarão). A histamina é uma das aminas biogênicas que tem recebido uma maior atenção em pescado de carne vermelha (atuns, cavalas, sardinhas, bonitos) por conterem consideráveis quantidades de histidina, o aminoácido precursor de histamina. A toxina de histamina produz sintomas alérgicos como dor de cabeça, enjôos e vermelhidão da pele e do rosto. Níveis tóxicos permitidos = 50 mg%. As bactérias produtoras da enzima não crescem a temperaturas menores de 8º C, assim o sistema HACCP estabelece como ponto crítico de controle, a temperatura de armazenamento menor que 5º C. Determinação de histamina É complexa devido à: baixa quantidade produzida, semelhança com aminoácidos, por poder formar derivados. Além disso, requer técnicas elaboradas e equipamentos sofisticados. Pescados e frutos do mar Mais suscetíveis a deterioração: Aa elevada, composição química, teor de gorduras insaturadas, pH neutro. A composição do pescado varia em função: espécie, época do ano e condições de alimentação. Deterioração: autólise, oxidação e atividade bacteriana. A deterioração ocorre pela utilização de substâncias nitrogenadas, que resulta na elevação de pH TMAO (óxido trimetilamina) (FRANCO; LANDGRAF, 2008) AUTÓLISE Sucos digestivos Enzimas proteolíticas q/ atravessam a parede intestinal Atuando sobre os tecidos musculares e vísceras (Decomposição) Ação das enzimas dos tecidos Suco digestivo, tecidos e pele = amolecimento e desintegração da carne MO’s natural do pescado: Pseudomonas, Moxarella, Shewanella, Flavobacterium, Vibrio e Micrococcus. Pescados salgados, deterioração por: Micrococcus (halotolerantes), Halococcus e Halobacterium (halofílicas). Bactérias responsáveis pela deterioração do pescado As deteriorações a baixas temperaturas são causadas principalmente por bactérias psicrófilas. Enzimas proteolíticas do músculo do pescado e as de origem bacteriana têm um papel mais importante na deterioração do pescado tropical do que nas espécies de águas frias. Tilápias tornam-se inaceitáveis 15 a 20 h após sua morte com números bacterianos baixos: 103 a 10 5 UFC/g Crustáceos mais consumidos: camarões, lagostas e caranguejos. A decomposição depende da qualidade da água que estavam, da água de lavagem e das condições higiênicas de manipulação. Moluscos: ostras, marisco e lulas. Maior quantidade de carboidratos. A decomposição depende da qualidade da água que estavam, da água de lavagem e das condições higiênicas de manipulação. (Proteus, Pseudomonas, E.coli, Enterobacter...). Alimentos envasados ou enlatados Não deveriam sofrer deterioração pois são submetidos a processamento térmico. As PRINCIPAIS CAUSAS: Deterioração pré-processamento Contaminação através de falhas na costura (vazamento) Resfriamento (armazenamento) inadequado Subprocessamento. (FRANCO; LANDGRAF, 2008) Os alimentos envasados, classificam-se:Classificação pH MOO Alterações Alimentos de baixa acidez > 4,5 Bactérias termófilas, Bacillus spp., anaeróbias, Clostridium spp. Causam aroma alterado, líquido turvo, estufamento da lata, escurecimento e odor de OVO PODRE, mas a aparência é a mesma Alimentos ácidos 4,0 a 4,5 Bactérias termófilas, Bacillus coagulans, Clostridium spp. Deterioração de tomates e sucos, abacaxi, figos, alterações no pH e aroma, dilatação da lata Alimentos muito ácidos < 4,0 Lactobacillus e Leuconostoc, bolores e leveduras Deterioração de chucrute, picles e outros produtos fermentados, estufamento da lata.
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