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o povo judeu e o epaço1

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o POVO JUDEU E O ESPAÇO
PEDRO PINCHAS GEIGER'
Space and lhe Jewísh People
Due to their turbulent historical tra-
iectory, the jewish people have es-
tablished a rich and peculiar relation-
shíp with geographical space. A par-
ticular sense of place; a constant
tension between the global and the
local; the exposure to territorial/y-
based conflicts, aI! this has been part
of jewish life in the last mifennia. The
jewish diaspora permitted a sense
of jewishness to be diffused to the
whole world and allowed the integra-
tíon of such jewishness in lhe net-
work af global econamic relation-
ships. On the other hand, the
diaspora has also permitted the re-
affirmatian, on a global leveI, af an
ethics af difference.
Introdução
Relações entre processos históricos e meio geográfico mantêm-se como
tema de debate da ciência social. O chamado "determinismo geográfico", sur-
gido no fim do século passado, que identificava nas condições naturais, como
o clima, fatores de causalidade para as formas do desenvolvimento das po-
pulações, causou desprestígio para a disciplina Geografia. Foi fácil demons-
trar a falta de consistência em argumentações, como, quanto à "determina-
ção" da existência de carvão-de-pedra na Inglaterra para a localização do
início da Revolução Industrial naquele país, ou. quanto às vantagens do clima
temperado para o desenvolvimento. O carvão sempre existiu na Inglaterra,
mas, somente numa dada condição socioeconômica, passou a ser utilizado
na indústria. E quando no Egito se construíam pirâmides, a Esfinge e outros
monumentos, no que hoje é a Inglaterra não se exibia uma civilização superior.
Fora da Geografia têm ressurgido posicionamentos, não propriamente
de determinismo, mas que se referem a contingenciamentos impostos pelo
quadro natural ao processo histórico. Por exemplo, o livro de DIAMOND (1997)
. Pesquisador Associado ao Laboratório de Gestão do Território (LAGET) da UFRJ.
Ex-geógrafo da Fundação IBGE.
86 Revista TERRITÓRIO, ano 111,n2 5, jul./dez. 1998
aponta para a importância do fato de que, de 56 sementes de plantas cultiva-
das, 32 se encontravam na forma selvagem, durante a pré-história, na bacia
do Mediterrâneo, e que isto influiu para o maior desenvolvimento da região,
inclusive, por permitir o maior adensamento da população. E um conhecido
economista, Jeffrey Sachs, indo mais longe, não hesitou em escrever para
The Economist (14/06/97) que clima e recursos minerais comandam o futuro
econômico dos países.
Não se tratará aqui da crítica a tais posicionamentos. A questão a ser
considerada, e que tem a ver com o título deste estudo, é quanto ao fato de o
espaço geográfico não conter apenas componentes da natureza, nem ape-
nas componentes materiais. É de se reconhecer o papel de não-geógrafos,
como Henri LEFÉBVRE (1974) e Michel FOUCAULT (1982), na formulação
do espaço como prática e produto social e no seu estudo como instrumento
de jogos de poder.
O conceito de espaço como produto social compreende suas estrutu-
ras, formas e formatos historicamente construídos. Estruturas, formas e for-
matos podem resultar de construções materiais, como os de uma cidade, ou
de construções abstratas, como as das instituições, por exemplo, a forma e
dimensão de uma nação.
O conceito de espaço social permite visualizar uma causação circular:
estruturas, formatos e formas resultantes de processos históricos e, por sua
vez, influenciando o processo histórico. Temporalidade/espacialidade é uma
relação que vem ocupando o pensamento teórico da Geografia contemporâ-
nea - por exemplo, SOJA (1989) e SANTOS (1977). o último elaborando o
conceito de formação econômico-social-espacial.
Chris PHI LO (1996) estabelece a diferença entre uma Geografia Histó-
rica e a História Geográfica, a primeira reconstruindo antigas paisagens, a
segunda tratando das contingências espaciais para o desenvolvimento histó-
rico. Contingências que derivam das marcas sociais impressas nos territóri-
os, das práticas sociais e dos espaços de representação ou espaços vividos
das populações (LEFEBVRE, 1974:42-43,48 e segs.). O quadro natural par-
ticipa destas contingências, enquanto objeto das práticas sociais e dos espa-
ços de representação. Por outro lado, também, a representação do espaço se
presta a servir de instrumento a instâncias polfticas (a Alemanha nazista,
após o Anschluss [anexação] da Áustria, representava a Checoslováquia como
um punhal cravado em seu território).
1. Espaço de representação e totalidade na tradição judaica
A vivência histórica do espaço pela judeidade 1 apresenta aspectos re-
levantes para o estudo da relação sociedade/espaço e homem/espaço. Tem
1 O termo judeidade é utilizado, aqui, como significando a população de fé judaica
ou, mais amplamente, o povo judeu, e não a "qualidade do que é judeu". A existência
o povo judeu e o espaço 87
sido, no entanto, relativamente negligenciada pela Geografia. Não se trata
apenas do fato que a judeidade, singularmente, oscilou entre longos períodos
vividos apenas em diáspora e outros, durante os quais dispunha também de
uma soberania territorial. Como mostra PIVETEAU (1993:33), através da Bí-
blia, há cerca de 2.500 anos a judeidade registra uma visão da relação ho-
mem/espaço, a qual expressa também a tensão mundo/lugar, quando conce-
be o Único, "incomensurável, propondo uma relação privativa, íntima a cada
homem". Através da relação Deus, Homem (Abram, Abraam), Terra (a "Terra
Prometida") a judeidade procurou a identidade própria, diferenciada, proje-
tando-se ao mesmo tempo na incomensurabilidade e incomparabilidade, cri-
adoras de suas idiossincrasias. Diante da tensão percebida, continua o autor,
difícil de ser resolvida ou abandonada, a judeidade passou a reviver repetida-
mente esta tensão, através de territorializações e desterritorializações, e que
faz dos judeus, mais do qualquer outro povo, um povo de memória. E, finaliza
o autor, pela primeira vez, é a Bíblia que
"nos dá um esquema geral de uma estrutura de inteligibilidade
do processo circular do imaginário e da ação, no que nos faz dar
sentido ao espaço que habitamos. Efeito paradoxal na circuns-
tância do idiográfico; por ele ascendemos a uma reflexão nomo-
lógica." (PIVETEAU, 1993:33)
Nesta dialética da tensão espacial, Deus está por toda a parte, "viaja"
com a Arca, mas também passa a ter morada fixa em Zion, Jerusalém, ex-
pressando nesta contradição um movimento de dispersão/concentração (como
na teoria astrofísica do big-bang?). A judeidade internalizou, deste modo, na
antigüidade, um modelo centro/periferia que passou a vivenciar. Diversas fon-
tes, como o Novo Testamento, Flavius JOSEPHUS (1981) e outras, narram
as "subidas" periódicas dos judeus da diáspora a Jerusalém, durante festejos
religiosos, contribuindo com doações. À medida que o mundo da antigüidade
se urbanizava, e crescia a presença judaica na sua economia, a central idade
de Jerusalém se virtuallzava, diz Piveteau.
Impressiona certo paralelismo do pensamento tradicional judaico e a
teoria do big-bang. No século XIII, depois da expulsão da Espanha, estabele-
cido em Zefat (Israel), Isaac Louria inicia o movimento cabalístico. A citação a
seguir é uma interpretação de seu pensamento.
"A Shekhina (a Presença Divina) se encontra no exílio dispersa.
A Criação foi um enorme sofrimento. Para que houvesse um Ein
de duas acepções encontra paralelo em "cristandade", que pode significar tanto o
conjunto de todos os fiéis do cristianismo (individualmente ou enquanto povos e
países cristãos) quanto a "qualidade do que é cristão".
88 Revista TERRITÓRIO, ano 111, nº 5, jul./dez. 1998
Sof (sem fim), no Infinito, lugar para outra coisa que não Ele,
para que o Universo pudesse ser, foi necessário que o Único se
retraísse em Si. Esta retração criadora foi um cataclismo. Com o
refluimento, os receptáculos que mantinham a luz divina se que-
bram. A Presençaruindo. se torna dispersa nos extremos da Cri-
ação, de modo que o Criador se aprofunda na sua Obra. Frag-
mentada e rachada a Shekhina se descobre captada: prisioneira
das conchas. das coisas tangíveis e das realidades terrestres ....e
não há uma ação justa de um Judeu -logo de um homem - de
pensamento autêntico, que não possa, em algum lugar do Mun-
do, onde o homem se sustenta, liberar a Shekhina de uma de
suas armadilhas ...
Se é necessário aos judeus se encontrar deportados e reduzi-
dos ao exílio, é para que encontrem a Shekhina em seus exílios
E retirá-Ia de lá. Pertence aos homens apaziguar os sofrimentos
do Criador e tirá-lo do insano, pois que a Aliança só tem sentido
quando se vai a qualquer lugar. Eis porque não se pode abater,
nem parar. Mesmo na Espanha. a Idade de Ouro só poderia ser
ilusória, pois que esta parada, onde os Judeus creram ter chega-
do a seu lar, a seus fins, não era mais que uma repetição. Deve-
se repartir sobre as rotas, sobre os mares, para reencontrar
Canaan, depois Zefat, e lá não repousar seu sopro. a não ser
para ir mais longe, no questionamento, e assim liberar mais adi-
anta a Shekhina. Se dispersar por toda parte para alcançar e
recentrar cada vez o Único, este o projeto do mundo judeu: seu
móvel e seu objetivo". (MEDAM, 1993:15).
Portanto, a propósito da judeidade expandindo-se pelo mundo, antes
das fases de secularização, Piveteau a vê marcada pelo inlocalizável, pas-
sando a habitar o inlocalizável.
" ...graças a esta dispersão interior, graças a esta vacuidade,
inclusive no espaço do pensamento. conquistam a liberdade
exterior. Lançam-se no mundo da liberdade de movimentos e
ganham a liberdade interna. Pelo mundo afora passam a criar,
inovar, descobrir, ensinar, sonham, agradam, brincam, entram
em aparelhos de Estado, em qualquer espaço. Uma eferves-
cência, que os faz não se localizar. Isto é o que o nazismo quer
quebrar e reconcentrar ...O campo de concentração." (MEDAM,
1993:22.)
Tem-se, portanto, na experiência judaica da diáspora. uma história. na
qual a judeidade, de modo único, aprofundou, ao longo do tempo, uma cons-
ciência da pluralidade universal.
o povo judeu e o espaço 89
"colocando-se questões concernentes aos outros, uma humani-
dade diferente, a seu redor, como se a experiência judaica não
pudesse que esclarecer premonitoriamente o que seria uma ex-
periência mais universal, traçada nas travessas da modernida-
de. Que povo, hoje, pode estar premunido do exílio atual? Qual a
sociedade que não se encontra confrontada com tentações de
transmigrações?" (MEDAM, 1993:26-27).
2. A formação da diáspora judaica
Foi uma "ideologia judaica" a razão do estabelecimento da formação
em diáspora, ou foram contingências impostas para viver em diáspora que
conduziram a uma "ideologia judaica"? As duas afirmações devem provavel-
mente se complementar.
a que não se deve é imaginar um atavismo de base genética. A bem da
verdade, a judeidade nem sequer é uma raça; na sua formação entraram
casamentos mistos e conversões de povos inteiros, como no caso dos kahzars,
na Idade Média. Se existe uma herança, essa é de base cultural, fortalecida
por especial valorização da memória, e que tem atrás de si milhares de anos
vividos em diáspora.
É verdade que a dispersão cigana também é muito antiga, mas suas
práticas não alcançaram maior grau de complexidade, quando comparada
com a judaica. Foi mencionado que a judeidade alternou períodos de diáspo-
ra com períodos de concomitância de diáspora e soberania sobre a terra de
Israel. Recentemente, além de continuar mantendo a diáspora, a judeidade
estabeleceu o Estado-Nação Israel.
A população cabo-verdiana possui um Estado-Nação no arquipélago,
onde as ilhas reúnem cerca de 30% da mesma, a mesma proporção da popu-
lação judaica de Israel, em relação à mundial. Contudo, a diáspora cabo-
verdiana é de apenas cerca de 400.000 pessoas, concentrada na Nova Ingla-
terra, EUA, e de formação contemporânea.
A chinesa é uma grande diáspora, reunindo de 30 a 40 milhões de
pessoas, espalhadas pelo Mundo. No entanto, não possui a antigüidade da
judaica, e é relativamente pequena, frente à enorme massa concentrada num
país de dimensões continentais, que sempre esteve sob dominação chinesa.
Diversas diásporas se têm formado na contemporaneidade, inclusive
uma brasileira (GEIGER, 1997). "Colônias" brasileiras são encontradas no
Paraguai, Miami, Nova York e outras cidades americanas, em Portugal, na
França, Japão e outros países. Estas diásporas resultam de migrações parti-
das de Estados/Nações, que continuam exercendo a força gravitacional so-
bre os emigrantes. Não é o caso da judaica, formada antes do aparecimento
do Estado/Nação e por processos que incluíram expulsões. O que é mais
recente na história geográfica dos judeus é o estabelecimento de um Estado/
90 Revista TERRITÓRIO, ano 111,nº 5, jul./dez. 1998
Nação. Em 1930, havia apenas cerca de 70.000 judeus na antiga Palestina,
habitada por maioria árabe, e hoje são quase 5.000.000 (DELLA PERGOLA,
1992). Resulta que, mesmo antes da destruição de Jerusalém por Tito, ano
70 da Era comum, e particularmente depois, com a falta de um centro, esta-
beleceram-se formas de relacionamentos inter e intracomunidades espalha-
das pelo mundo inteiro, não observadas nas outras diásporas. Por exemplo,
as consultas entre rabinos de diversas cidades e diversos países, na elabora-
ção de preceitos comportamentais e produção da Responsae. Na
contemporaneidade, são articulações de cunho político, seja para apoio a
Israel, seja para lutas contra o fascismo e o anti-semitismo, tendo sido criado
na escala internacional o Congresso Mundial Judaico.
Há uns 4.000 anos, certos clãs de criadores sem inômades , junto ao
Crescente Fértil, constituíam os hebreus. Um deles acabou cativo no Egito.
Seus descendentes, junto com outras populações, formam os israelitas que
realizam o Êxodo e se estruturam em tribos. Constituído um reino, na Canaan
conquistada, este se divide em dois, a população de um deles passando a
constituir os judeus. (EBAN, 1984)
Já há uns 1.000 anos a.C. judeus se movimentam entre as cidades da
época, na prática do comércio. A monarquia encorajou o desenvolvimento de
um estamento de mercadores, envolvido em comércio local e "internacional".
O Velho Testamento fala da remessa de fundos para o rei Ahab, 860 a.C., de
um setor comercial judaico de Damasco (Reis I, 24:34). É de se supor que
comerciantes se fixaram, temporariamente, ou, permanentemente, fora de
Israel. (DE LANGE, 1992)
A internalização conceitual de exílio e diáspora ocorre, naturalmente,
após a destruição de um primeiro estado judaico, 586 a.C. A diáspora expan-
dida se localiza não só na Babilônia, mas, também em diversas outras áreas,
particularmente no Egito. Neste se destaca o centro de Elefantina, onde uma
réplica do Templo chegou a ser construído. Por outro lado, considera-se que
a instituição da sinagoga surgiu durante o exílio da Babilônia.
O Talmud se refere às sinagogas na Babilônia (SAFRAI, 1947), e as
evidências arqueológicas mais antigas vêm do Egito, datadas como 350 a.C.
(KRAUSS, 1922) Embora, nesta fase, a sinagoga seja um local para estudos
da Lei e suas interpretações, é sugerida a contingência espaço-temporal, a
destruição do primeiro Templo e o exílio, para a mudança social.
O Velho Testamento foi compilado por escribas na Babilônia (Ezra,
Nehemia). O retorno a Jerusalém, promovido por Ciro I da Pérsia, só foi
realizado por uma minoria. O desenvolvimento da comunidade na Babilônia
ao longo do tempo pode ser avaliado no fato do Talmud babilônico, escrito
séculos depois, ser bem mais importante que o Talmud jerusalamaico. A
história de Esther é a de personagens da comunidade judaica na Pérsia.
Assim, é possível que o famoso Sal mo 137, "às margens do Eufrates sen-
tamos e choramos, se eu te esquecer Jerusalém, que seque minha des-
tra", talvez fosseum catarse, uma representação, quando a preferência
o povo judeu e o espaço 91
para morar já era Babilônia e Jerusalém relegada para a memória e o
virtual.
Sob o domínio helênico no Oriente Médio, os judeus eram encorajados
para se estabelecer nas novas cidades fundadas. Suas comunidades eram
organizadas em corporações, politeamata, oficialmente reconhecidas e go-
vernadas por conselhos e lideres, tendo cortes jurídicas próprias, segundo a
lei tradicional judaica (DE LANGE, 1922:22). Alexandria vê o estabelecimen-
to de importante comunidade judaica que terá importante papel para o seu
desenvolvimento comercial e cultural. No início da "Civilização Centrai", que
começa a se estruturar a partir do Império Romano, Alexandria aparece como
a segunda mais importante cidade, depois de Roma (WILKINSON, 1992).
Quando o segundo Templo foi destruído, em 70 d.C., a população
judaica fora de Israel superava a que lá ficara. Estima-se 2.500.000 pesso-
as na Judéia, 4.000.000 nas outras áreas do Império Romano e 1.000.000
nos territórios externos ao Império (DE LANGE, 1992:27). Já no ano 44,
Estrabão, citado por Josephus, afirmava que os judeus povoam todas as
cidades e que é difícil encontrar um lugar no mundo habitado que não os
tenha recebido.
No ano 130 d.C., 10% da população do Império Romano seriam ju-
deus, sendo que as estimativas são de que em certas cidades alcançavam
25%. Já existiam povoamentos judaicos em terras que hoje formam a Alema-
nha. Compreende-se assim, primeiro. como se deu a rápida difusão do Cris-
tianismo. inicialmente, uma seita judaica (CROTIY, 1997) e, segundo, a im-
portância dada aos assuntos judaicos e cristãos pela política do Império (DE
LANGE,1992).
A formação de ampla diáspora na época romana parece estar associa-
da ao crescimento urbano e incremento do comércio. Já pelos anos 200 a.C.,
o "Velho Ecúmeno" apresentava 44 cidades de 30.000 habitantes ou mais.
Figuravam Roma, Alexandria, Babilônia, Cira. Corinto, Damasco, Efeso, Je-
rusalém, Siracusa, Viena (Gália), entre outras. Na chamada "Civilização
Centrai", o espaço dominado por Roma, se localizavam 27 (WILKINSON,
1992:73). Todas elas dispunham de comunidades judaicas. Pelos 100 anos
da Era Cristã, segundo o mesmo autor, o número desta categoria de cidades
é de 55, 34 das quais sob o domínio romano, agora incluindo Lyon, Milão,
Nimes e outras (idem, pág.75).
A Europa iria se tornar o espaço da expansão da "Civilização Central"
com sua base greco-judaica-cristã, e que foi se estendendo aos outros conti-
nentes. Junto com ela, a extensão da diáspora judaica, atingindo as Améri-
cas, a África Negra e a Oceania. Outro núcleo de expansão judaica, que se
localizou inicialmente a leste do Império Romano, ocupando a Mesopotâmia,
Península Arábica, Pérsia, se exp.andiu pela Ásia Central, Norte da África,
Espanha Islâmica. Não se trata de núcleos estanques e suas ramificações se
estenderam para a índia e China. Um núcleo, os judeus de cor da Abissínia
(falachas), permaneceu isolado até recentemente.
92 Revista TERRITÓRIO, ano lt}, nº S, jul./dez. 1998
3. Manutenção da identidade
o credo monoteísta instalou uma ideologia totalizante que abrangeu
todas as instâncias, inclusive a nacional. No mundo judaico-cristão, o avan-
ço para a modernidade e a secularização compreendeu, justamente, a
autonomização das diversas instâncias, não sem conflitos e sofrimentos.
Apesar do surgimento do Estado/Nação e do Iluminismo, religião e san-
gue ainda aparecem como focos de identidade nacional, particularmente no
Velho Continente. (por exemplo, no Ulster, ser católico é o mesmo que ser
irlandês, e ser protestante é ser britânico.)
Na verdade, o Cristianismo marcou uma etapa na separação da instân-
cia nacional da instância política, ao retirar o caráter do credo monoteísta
pertencer apenas a uma só nação. Contudo não impediu a associação reli-
gião/estado e a identidade de "nações cristãs", e as exclusões impostas aos
judeus vivendo em seus meios. A propósito, é comum se ouvir queixa popular
de que os judeus só casam entre si. Poucos sabem, contudo, que eram fre-
qüentes os casamentos mistos, até que uma lei de 388 d.C., incluída no Có-
digo Teodesiano de 438, proibiu o casamento de judeus com cristãos.
A manutenção da identidade judaica vinha se fazendo, portanto, pela
conjugação de duas forças, que se reforçavam mutuamente. A força interna
era originariamente de cunho religioso. A externa proveio originariamente de
um esforço de retirar do cristianismo o caráter de uma seita judaica. A Histó-
ria relata conflitos entre setores étnicos, como entre judeus e gregos, também
espalhados pelo Império, o que certamente deve ter influenciado o processo
da separação acentuada.
Quando se deu a secularização, a tensão judaico-cristã já se encontra-
va fortemente arraigada. Por outro lado, o Estado/Nação da modernidade não
podia deixar de passar pela fase na qual igualdade e liberdade não fosse
confundido com homogeneização. Somente na atualidade, ou com o pensa-
mento pós modernista, a "diversidade" está sendo valorizada. Ora, ajudeidade
vinha expondo, há muito, à questão do "diferente", mesmo do não-crente,
mas que valorizou a memória. Esta é certamente uma razão para que, em
amplos setores da humanidade, a judeidade passe a ser vista de outro modo,
com o anti-semitismo se enfraquecendo e reduzindo."
A mobilidade histórica judaica, embora, regra geral, forçada em grande
parte, foi outro fator de discriminação, caracterizando o judeu como corpo
estranho. Chegando a novos lugares, a judeidade imprime suas marcas nos
territórios, a sinagoga de Toledo, a Judenstrasse em Viena, ou a rua dos
---------
2 A propósito, mudança semelhante foi observada no Brasil, em relação aos indíge-
nas. A ideologia pela sua completa aculturação e amálgama, vigente por exemplo
durante o Estado Novo, concedendo-se incorporar "Tupã" e "Anhangá", foi substitu-
ída pela aceitação da manutenção das "nações" indígenas, subordinadas à nação
brasileira. Neste avanço, se fala até de uma "nação mangueirense" ....
o povo judeu e o espaço 93
Judeus no Recife, a Sinagoga Portuguesa de Amsterdam, e outras mais.
Multiplicando-se, fazem germinar outras marcas, as que expressam sua in-
tegração na cultura do território, em termos culturais e materiais, como a
Casa de Freud, 19 Bergenstrasse, em Viena, o hospital Albert Einstein, em
São Paulo, ou o Zelig, do cineasta Woody Allen, no cinema americano. Pren-
sando o território, intrigam e podem mobilizar sentimentos primitivos hostis,
que aproveitados politicamente acabam por se manifestar em políticas anti-
semitas. É assim que a Bíblia narra, "E subiu novo rei no Egito, que não
conheceu José, e disse a seu povo: eis que o povo dos filhos de Israel se
multiplica e reforça. Vamos tratá-los com sabedoria ..." (VELHO TESTAMEN-
TO: Êxodo, 8:10).
A contemporaneidade, que adota nova postura diante da diversidade,
também o faz em relação à mobilidade populacional, quando é vertiginoso o
progresso tecnológico que faz a Terra encolher. Naturalmente, não sem as
contracorrentes, como as manifestações dos seguidores de Jean-Marie Le
Pen na França, ou os skinheads na Alemanha. Cada vez, mais gente vive a
metáfora de "viajar", de que trata Derek GREGORY (1997), distinguindo uma
gente particular, cosmopolita, de viajantes, de outra que permanece simples-
mente local, nativa. Citando James Cliford, diz que, no Mundo atual, observa-
dor e observado se encontram num movimento iterativo e fluido sem fim [Ein-
Sof?] , num mundo onde formas de vida humana crescentemente influenci-
am, dominam, parodiam, traduzem e subvertem umas as outras.
Antes do Iluminismo, a judeidade não se preocupava em definir sua
identidade. Pairava acima das instituições territoriais, do mesmo modo que a
identidade lanomâni se encontra no Brasil e na Venezuela. Porém, com a
abertura de direitos de cidadania, a partir dos finsdo século XVIII, estabele-
ceu-se uma crise de identidade. Esta foi, ou está, se resolvendo segundo
diversas linhas, contingenciadas temporal e espacialmente.
1. No meio religioso:
a) Reforma. No espaço alemão, de cultura racionalista e relativamente
homogênea, tornou-se difícil manter uma identidade nacional judaica junto às
elites (LOWY, 1988). A urbanização trazia judeus, das cidadezinhas rurais
para as grandes cidades, desintegrando os padrões de vida tradicionais
(KLUGMAN, 1996:53). Associada à urbanização, destacando-se a liderança
de Abram Geiger, de Frankfurt, desenvolve-se o movimento da Reforma.
Esta linha preconizava a plena aceitação da cidadania alemã, partici-
pação em todas as suas práticas, limitando a identidade judaica à religião.
"Alemães de fé mosaica", a própria palavra judaica é substituída. Literatura
religiosa, rituais e mesmo o formato da sinagoga são modificados para
assemelhá-los às igrejas. Retiram-se as referências a um futuro Messias e ao
retorno a Israel; os rabinos fazem sermões no estilo da Igreja, o que, aliás, se
parece com a forma praticada nas sinagogas da antigüidade (DE LANGE,
1992); introduz-se o órgão; e o estrado, habimah (literalmente, o palco -
94 Revista TERRITÓRIO, ano 111, nº 5, juL/dez. '998
sincretismo com o teatro grego?), de onde se discursa e se lê a Lei, é movido
do centro do salão (simbolo da influência grega de assembléia e democra-
cia?), para junto da parede frontal, como nas igrejas protestantes.
A Reforma se difundiu pelo mundo judáico. Não teve crescimento maior
porque, dos lares dos reformistas, saía maior número de assimilações, caso
do pai de Karl Marx. Levada para a América, é majoritária nos Estados Uni-
dos. Depois da Segunda Grande Guerra, diante da destruição nazista que
não distinguia reformistas de ortodoxos, estes passaram a aceitar melhor os
primeiros.
b) Ortodoxos. Na mesma Alemanha, os ortodoxos também aceitaram
modernizações e a plena cidadania, porém mantendo o formato tradicional
da religião. O grande líder do século XIX, o rabino Samson Raphael Hirsch,
introduziu o lema Torah Im Oerech Eretz literalmente, o Saber, ou Lei (judai-
ca), com os Caminhos da Terra (educação e cultura alemã). Aceitava-se a
educação secular e o exercício de todas as profissões. A identidade nacional
terrena é alemã e a identidade nacional judaica é desterritorializada. A Torah,
a Lei, é o espaço nacional judaico. Ela foi dada antes de Canaan, este, um
prêmio dado por Deus. Território e Estado foram dados, apenas, para que
Israel se tornasse uma Nação através, e para traduzir, a Torah numa realida-
de viva (KLUGMAN, 1996: 132). Conclu ía que os judeus não deviam se envol-
ver em práticas políticas visando o retorno a Israel. Esta só voltaria às mãos
dos judeus através da chegada do Messias (valeria dizer, nunca ?).
Nos países do leste, onde sequer se desenvolvia uma "ideologia ale-
mã" (MARX e ENGELS, 1973), e tampouco os setores judaicos tinham maior
acesso aos direitos, a ortodoxia não viveu tanta especulação. Ela tomou fei-
ções variadas, ao longo da modernidade e nos diversos países. A des-
territorialização da identidade nacional judaica, porém, foi geral, até que, no
século XX, setores religiosos passaram a aderir ao Sionismo. No entanto, até
hoje permanecem setores ultra-ortodoxos que não aceitam a existência de
um Estado de Israel, criado por mãos seculares. O que não deve ser confun-
dido com movimentos fundamentalistas religiosos que querem a transforma-
ção de Israel num Estado teocrático.
2. No meio secular:
O desenvolvimento do nacionalismo europeu, no conceito de
HOBSBAWM (1991), se deu num ambiente de modernizações e seculariza-
ção. Também entre as massas judaicas, particularmente entre as que se
moviam para as grandes cidades, se abandonava a religião, se passava a
participar de todas as instâncias dos países e muitos se assimilavam.
a) O Sionismo. Estados e Impérios multinacionais se mantiveram no
centro e leste europeu até recentemente (conflitos persistem na Rússia e
Sérvia). Desde o século passado, enfrentavam a chamada "questão das mi-
norias". Em seguida, surgiram os "movimentos de libertação nacional". É nes-
te contexto que se desenvolve o Sionismo.
o povo judeu e o espaço 95
Já nos meados do século passado, o romantismo alemão levara famí-
lias do Império Austro-Húngaro, num movimento pré-sionista, a se mover para
Israel, entre elas os antepassados do autor do presente trabalho. Processos
políticos, como o grande "pogrom" de 1881, na Rússia, ou o caso Dreytuss,
coberto por um jornalista judeu-austríaco, Theodor Herzl, que propôs formal-
mente a criação de um Estado judeu, serviram para cimentar uma idéia em
formação no meio secular, um movimento nacional no sentido moderno do
termo. O Sionismo germinou particularmente entre a judeidade do centro e do
Leste da Europa e que adotavam os ideais do trabalhismo e do socialismo. O
Holocausto provocou a difusão da adesão ao Sionismo ou ao suporte do Es-
tado de Israel.
O imaginário da judeidade secular do centro e leste europeu, no con-
texto dos processos políticos da região, era sensível aos apelos revolucioná-
rios. E o sionismo era encarado como tal, ao abandonar a espera de um
Messias. A maior parte do movimento sionista na primeira metade do século
atual estava impregnada de socialismo. Este também mobilizou setores não
sionistas em movimentos do comunismo internacional e em outros, como o
Bund (pregava uma identidade cultural judaica própria no socialismo).
"Foi graças à liderança dos movimentos trabalhistas que o sio-
nismo conseguiu atingir o seu alvo estatal...O movimento sionis-
ta sintetizou conceitos nacionais e de classe no processo mate-
rial de reviver uma comunidade judaica na Palestina, nos anos
20/30. Isto constituiu a fundação material para a hegemonia es-
piritual do trabalhismo" (COHEN, 1987:39).
Deste modo, este sionismo também encarava Israel como um prêmio,
pelas práticas socialistas que criaram o kibutz, e que dominaram o Estado até
recentemente. Surgiu mesmo um pequeno partido trabalhista/religioso, Hapoal
Mizrachi (O Operário voltado para o Oriente). Quando o Estado foi criado,
depois do voto da ONU presidida por Oswaldo Aranha, o Brasil sob a presi-
dência de Dutra, demorou a reconhecê-lo, por vê-lo destinado à satélite da
antiga URSS.
b) Na América. Depois da Segunda Grande Guerra, a judeidade apre-
sentou três grandes pólos, cada um tecendo sua visão de missão: Estados
Unidos (5.000.000 de pessoas), União Soviética (2.500.000) e Israel
(5.000.000). O segundo entrou em crise, devido ao "socialismo real". 700.000
judeus russos migraram para Israel, desde Gorbachov, além dos que parti-
ram para outros destinos.
Na América, o Estado precede a Nação. A cidadania é vivida por popu-
lações de mais variadas origens nacionais. Ligações e instituições comunitá-
rias foram mantidas pelos membros de cada corrente migratória e, entre es-
tas e o país de origem, reforçando as "afinidades eletivas". Escola America-
na, Beneficência Portuguesa, Clube Monte Ubano, Hebraica, Hospital Sírio
96 Revista TERRITÓRIO, ano 111,nº 5, jul./dez. 1998
Libanês, etc. Além das sinagogas, a vida laica das comunidades judaicas
passou a se realizar através de diversas instituições sociais.
O continente americano, os Estados Unidos particularmente, se tornou
o espaço geográfico da grande mobilidade populacional, dos multiculturalis-
mos, dos pluralismos. das transmigrações, dos transnacionalismos. Nele,
comunidades judaicas que viveram separadas, ashkenazim (alemães, que
fala(va)m o idisch) e sepharadim (espanhóis, não falam o idisch) são localiza-
das nas mesmas cidades (como em Israel).
O ambiente americano se apresentou, portanto, como o melhor para a
liberdade das diversas formas históricas de ajuste do modo de vida diaspórico
da judeidade. Junto com o da antiga União Soviética se tornou também o
mais propíciopara casamentos mistos e assimilações. No condado de Broward,
na Flórida, por exemplo, onde vivem cerca de 270.000 judeus, na faixa de
idade de 35 a 49 anos, 36% pertencem a casamentos mistos, taxa que sobe
para 57%, na faixa menores de 35 anos (SHESKIN, 1998).
c) Israel. Os que assumiram a nacionalidade do novo Estado ou que lá
nasceram, são israelenses. A visão original sionista tinha a diáspora como o
anel externo de uma nação judaica. Interpretação ideológica, recusada pela
maioria dos scholars americanos. apontando a variedade de representações
que setores da judeidade fazem de si. O comum são as "afinidades eletivas"
entre todos os setores. baseadas em passados comuns e nas imposições
históricas, externas, de destinos comuns. A "Lei do Retorno", estabelecida
por Israel em 1950, que dá direito a qualquer judeu morar em Israel e reque-
rer sua nacionalidade, é considerada hoje, pela própria administração israe-
lense, como a garantia de um local de refúgio, dadas as experiências históri-
cas amargas, recentes. Por sua vez, estas ocorrências explicam a defesa
que a diaspora promove em favor de Israel contra as ameaças de sua destrui-
ção, dando novo sentido ao Sionismo atual.
As novas gerações em Israel vivem a identidade geográfica, territorial,
fonte de seus direitos de cidadania, não propriamente a histórica, que envol-
ve a diáspora. O que permite que amplos setores, seus, tenham aceito a
entrega de sítios bíblicos, como Hebron, onde se encontrariam sepultados
patriarcas e matriarcas (à exceção de Rachei), à sua população árabe majo-
ritária. Contra o desejo de fundamentalistas, em grande parte imigrantes.
Para Medam, Israel representa o refúgio, a contração e retirada do
Mundo, enquanto a diáspora expressa a tentação pelo Universo e pela Uto-
pia: compare-se com os profetas Zacarias e Amos, o primeiro propugnando a
restauração da Casa de Davi, o segundo, o julgamento em pé de igualdade
de todas as Nações, tirando os privilégios de povo eleito, para vê-lo mais
como um protótipo.
d) Transnacionalismo. Ajudeidade, de certo modo, foi um protótipo do
transnacionalismo contemporâneo, que atinge outras populações, e que é
sustentado pelas velocidades do transporte e da comunicação. Que permite
a simultaneidade do "ir" e "voltar" de que trata Medam. Seria impensável,
o povo judeu e o espaço 97
antes da Segunda Guerra, que brasileiros pudessem ser portadores de pas-
saportes de dois países. A Embaixada brasileira em Tel Aviv oferece passa-
porte brasileiro a nacionais israelenses de origem brasileira que lá vivem quan-
do procuram o visto para visitar o Brasil. Do mesmo modo, o governo israe-
lense permite, aos imigrantes que assumem cidadania israelense, que man-
tenham a nacionalidade anterior.
Muitos judeus que se assentaram nos chamados "territórios ocupados",
mantêm passaportes americanos. Judeus franceses ricos, portadores de pas-
saportes franceses e israelenses, constroem casas secundárias em Israel,
onde passam períodos, como os de Nova York fazem em relação a Miami, no
inverno. Por outro lado, israelenses estão constituindo novas diásporas em
Nova York, Los Angeles e outras cidades.
4. A contribuição da diáspora
Não se trata de fazer o rol da produção judaica ao longo dos 2.500
anos. Deseja-se focalizar o papel da espacial idade diaspórica para o proces-
so mundial.
1. A civilização judaico-cristã:
A expansão de uma "Civilização Central" se fez baseada na ideologia
cristã-judaica que incorporou as produções do classicismo greco-romano, do
Egito, da Pérsia (Zaratustra) e de outras fontes. O formato diaspórico da
judeidade teve papel fundamental para mover este complexo. Serviu inclu-
sive como meio de difusão do cristianismo, o que de certo modo pode ser
observado no Atos dos Apóstolos, ou nas Epístolas de Paulo (Novo Testa-
mento).
O Cristianismo surge no contexto de profundas mudanças sócio-políti-
cas da judeidade, em Israel e na Diáspora.
Moisés expressou o começo da Lei, imposta de forma autoritária. Na
fase do "modo asiático" dos Reis, surgem os profetas e suas críticas a Israel
e ao Mundo.
Na fase romana, sob a face de seitas religiosas, surgem movimen-
tos sociais, expressando correntes de opinião, uma semente de socieda-
de civil. Com efeito, a estrutura social sacerdotal vai ruir durante o Império
Romano. A dinastia dos Hashomeneus, instituída pela classe sacerdotal
na época helênica, passa para figuras seculares, como Herodes, apoiado
por Roma, segundo a fina observação de Josephus. Trata-se de uma fase
de modernizações, mas que também impõe custos e insatisfações. Como
as devidas à alta do imposto sobre o trigo produzido, ou ao absenteísmo
crescente nas vinhas e o baixo salário dos trabalhadores. É por isso que o
Novo Testamento, escrito uns 80 anos depois, fala de vinhedos, de operá-
rios?
98 Revista TERRITÓRIO, ano 111,nº 5, jul./dez. 1998
No processo religioso, tem-se, de um lado, uma comunidade, e do ou-
tro, o foco último religioso. Um sistema de intermediação se estabelece entre
os dois pólos, compreendendo sacerdotes, profetas. rabinos, padres e
congêneres, além dos símbolos diversos. Os símbolos são manipuláveis e a
função da seita é justamente manipulá-los, criar novos, estes se referindo ao
movimento social que se encontra por detrás (COTIV. 1997).
Sob a capa de interpretações da fé, multiplicam-se as seitas, mas que
contêm objetivos sócio-políticos. A dos fariseus, saduqueus, zelotes. O cristi-
anismo é dado como saído de uma delas, a dos essênios. Segundo os ma-
nuscritos de Kumran, estes se chamavam de ebhyon ou âni, que significa,
literalmente, paupérrimo, pobre (WORTH, 1988).
A agitação social continha a influência da difusão da cultura grega, do
aumento do nível da urbanização no mundo então conhecido e da expansão
da diáspora judaica, em comunidades localmente organizadas, o que signifi-
cava descentralização. Com a mesma, crescia a influência das sinagogas e
dos rabinos, enquanto se esvaziava o poder sacerdotal. Os primitivos sacrifí-
cios sangrentos. resquícios de um passado longínquo, vão sendo substituí-
dos pelas orações nas sinagogas, vale dizer, estabelece-se uma ligação dire-
ta entre o indivíduo com Deus, sem intermediação. Prática que se torna defi-
nitiva após a destruição do Segundo Templo. Sinagoga quer dizer assem-
bléia, em grego, o mesmo que Ecclesia, em latim, origem de Igreja.
Espaço público e sagrado, administradas pelas comunidades, as sina-
gogas deixam de ser apenas locais de estudo e leitura da Lei e dos Profetas
(prática mantida, como intervalo, no ritual das orações) e passam a ser ponto
público de assembléias, germens da descentralização e de novas formas de
organização civil e vida comunitária. "Assim como o Templo foi centro de vida
nacional, as sinagogas foram o ponto de articulação da vida de comunidade
nas cidades e vilarejos de Israel e da Diáspora" (SAFRAI, 1987:909).
Na época da passagem para a Era Comum, a sinagoga é um estabele-
cimento de "propósitos comunitários múltiplos, um centro para estudos indivi-
duais, ou para leituras públicas da Lei, sede do tribunal local, espaço para
anúncios, coleção de donativos para os pobres, etc." (GAFNI, 1992:58). Na
microescala, é uma produção de espaço original da judeidade. As antigas
construções, como as atuais, apresentavam vários cômodos, além do salão
da assembléia, com seu estrado, democraticamente, no centro. Os "rolos"
(ao contrário do que ocorre hoje) ficavam num cômodo ao lado, de onde eram
trazidos para a leitura. Os outros cômodos serviam para funções antes men-
cionadas e, inclusive, para hospedar viajantes. Nas catedrais antigas, pode
se observar a existência de estrados no meio da nave, como nas sinagogas.
Como local de fé e de prática de diversas atividades sociais comunitá-
rias, à diferença do Templo, a sinagoga se torna um elemento para a eleva-
ção do nível cultural das populações e um fator de mudança.A insistência
dos Evangelistas em se referir aos profetas indica a importância dada à aten-
ção do público às leituras na sinagoga.
o povo judeu e o espaço 99
Nestas condições, Israel e a Diáspora se apresentaram como um solo
fértil para o debate social e para o aparecimento de seitas, o Cristianismo
sendo, em seus começos, uma seita judaica. Judeus cristãos e não-cristãos
freqüentavam as mesmas sinagogas e, é interessante observar, também não
judeus, "tementes a Deus".
O Novo Testamento descreve a judeidade na bacia do Mediterrâneo
falando diversas línguas. Também na terra de Israel (chamada, primeiro, pe-
los romanos, de Judéia, e depois das revoltas do primeiro século, de Palesti-
na), viviam comunidades de diversas origens geográficas (como nos dias
atuais, indicando mobilidade populacional entre Israel e os países da diáspo-
ra), com suas particularidades, sendo citada, inclusive, uma "Sinagoga dos
Libertinos" (Atos dos Apóstolos, 6/9).
Vivendo no meio de outras populações, adquirindo novos elementos
culturais, influenciados pela visões utópicas dos profetas, é fácil compreen-
der que amplos setores da judeidade aceitassem a idéia da religião monoteísta
universal. O aparecimento do Cristianismo representou um momento de valo-
rização do indivíduo - uma religião para indivíduos, em vez de para um povo
(ROSEZWEIG,1985).
A interpretação da mensagem profética pela fé judaica é que quando o
Messias chegasse, os outros povos, espontaneamente, adeririam a sua reli-
gião. A Cristã, com Paulo, que o Messias já tinha chegado (como a discussão
do "fim da história"?), e que Nova Aliança foi criada, com o fim de transmitir
Deus para os outros (pIVETEAU, 1993, pág.31).
O término da prática da circuncisão entre os cristãos pode ser visto
como estratégia para a conversão de adultos, como pode também ser vista
como a supressão de uma antiga iniciação tribal. Mudanças que incluíram
abolir a escravldão" e proibir o divórcio. Se a manutenção desta proibição
pelo Catolicismo é considerada atitude atrasada, contudo, na época, seria
uma proteção à parte mais fraca, à mulher, que podia ser simplesmente rejei-
tada pelo marido.
Os romanos eram tolerantes com as religiões do Império e traziam to-
dos os deuses para o Panteon, em Roma. No entanto, o caráter social da fé/
ideologia Judaico/Cristã, capaz de opor massas a classes superiores e a oli-
garquias sacerdotais, era instrumento de tensões e revoltas. Por exemplo,
algumas agitações se originaram da insatisfação de artesãos, produtores de
ídolos politeístas, pelo declínio de sua produção, devido à difusão do
Monoteísmo. Daí, a repressão.
Em conclusão, uma hipótese geral pode ser levantada. Que no começo
da Era Comum, com as seitas judaicas, o desenvolvimento do cristianismo, o
estabelecimento de uma vida comunitária em torno, e com o crescimento da
urbanização, esboçam-se movimentos sociais e uma sociedade civil. As si-
---------
3 O que não impediu as senzalas, 1.500 anos depois ...
100 Revista TERRITÓRIO, ano 111,nº S, jul./dez. 1998
nagogas tiveram o papel fundamental. Não é de se estranhar que sejam tão
caras aos judeus e o alvo preferido de barbáries fascistas.
O processo inicial deste nascimento abortou, porém. Após as invasões
"bárbaras", a urbanização recuou e a Europa tendeu para a hegemonia de
uma sociedade rural feudal, com seus príncipes, nobres e o clero (MARX e
ENGELS, 1973). Em 1100, o número das grandes cidades na "Civilização
Central" caíra para 33. Uma Igreja oficial, hierarquizada, fora estabelecida,
combatendo a liberdade de seitas autônomas, qualificadas de "hereges", e o
sacerdócio foi restabelecido. Somente depois da Reforma Cristã, recomeçou
o processo de se construir uma sociedade civil.
2. Mercadores, Banqueiros, Colonizadores e a Informação
Para sair da sociedade rural feudal medieval, a diáspora teve impor-
tante papel no renascimento da vida urbana e no desenvolvimento do
mercantilismo.
Durante a Idade Média e o Renascimento, o mundo mediterrâneo se
encontra dividido, entre reinos cristãos e muçulmanos. Neste quadro, acentu-
am-se as diferenças entre as comunidades judaicas, vivendo sob o domínio
de uns e outros. Por outro lado, por não possuir um poder político-territorial
próprio, e por dominar línguas, qualificações e saberes diferentes, os judeus
aparecem como um elemento conveniente para intermediações entre pode-
res cristãos e islâmicos, inclusive para missões diplomáticas.
O desenvolvimento de rotas de comércio entre a Europa e a índia e
Extremo Oriente, passando por Bagdá, na Mesopotâmia, ou Bukhara, na Ásia
Central, foi para os judeus, uma oportunidade para reassumir importante pa-
pei como mercadores. No fim do século VIII, predominava a presença dos
judeus rhadanitas em todas as caravanas ligando o Oeste ao Leste (BEN
SASSON, 1992). Os mercadores judeus encontravam hospitalidade e supor-
te das comunidades judaicas locais, por onde passavam, e neste quadro de
relações comunitárias nasceu a prática de atividades bancárias.
Praticar comércio de longa distância adquiriu também o significado de
transportar informações e novos conhecimentos junto com os produtos. Por
exemplo, a introdução, na Europa, da seda, ou de novos modos de manufatu-
ra, da China. E quando os descobrimentos dos caminhos do mar, para a índia
e o Extremo Oriente, abalaram o comércio por terra, outros judeus estavam
introduzindo, no Ocidente, conhecimentos de Astronomia e de Navegação,
desenvolvidos no mundo árabe, participando inclusive como pilotos de
caravelas.
A concentração dos judeus em atividades comerciais está relacionada
à sua permanência em cidades, proibidos que eram de se ligar a senhores
feudais, ou trabalhar a terra. O direito de cidadania, que desfrutavam na anti-
ga Roma, lhes foi, no entanto, retirado durante a Idade Média, e eles se viram
confinados em setores das cidades, que se chamavam "guetos". Os movi-
mentos de longa distância da judeidade, como refugiados, quando persegui-
o povo judeu e o espaço 101
dos, como migrantes, espontaneamente, ou como comerciantes, contrasta
com o espaço estreito vivido nos guetos. Fragmentar o urbano se inicia pela
diáspora judaica.
Esta forma de viver o espaço geográfico certamente influiu para as
representações de desterritorialidades e o mergulho profundo no mundo es-
piritual, virtual, da religião. Desterritorialidade, e certa sensação de liberdade,
sustentada por atividades "abstratas e não produtivas", como as bancárias e
comerciais. A abstração de estar/não estar em gueto seria também uma he-
rança da "espiritualidade nômade vivida no deserto e no fechamento do 'sen-
do' no 'tendo', ou seja, no fechamento da história em espaço" (MEDAM,
1993:13).
Este papel nas trocas de relações entre regiões influiu na inclinação
dos judeus para o conhecimento e a cultura.
Trabalhos recentes mostram que os "judeus foram bem mais presen-
tes nas primeiras explorações, colonizações e desenvolvimentos na América
do Sul e Caribe do que se sabia" (BROOKS, 1997). Conversos ibéricos, co-
merciantes internacionais experientes eram atraídos pelo potencial do novo
continente. Alonso de Ávila, primeiro alcaide de Vera Cruz, criada durante a
conquista de Cortez, foi um judeu converso. Nos anos 1600, Lima foi mergu-
lhada em caos econômico após a prisão e execução das lideranças comerci-
ais da cidade, todos, cristãos novos. Os primeiros 23 judeus a chegar à baía
de New York, em setembro de 1654, eram brasileiros descendentes de cris-
tãos novos, que tinham retornado ao judaísmo.
Estas informações de Brooks se referem a um seminário realizado em
1997 na Brown University sobre "Os judeus e a expansão do Ocidente para o
Oeste". Nele foi focalizado que o sucesso obtido por empreendimentos judai-
cos resultou, principalmente, de estreitas redes familiares, que criavam como
corporações internacionais. Estas corporações emergiam, quando membros
da família,perseguidos por espiões da Inquisição, procuravam refúgio em
sociedades mais tolerantes, em Amsterdam, França ocidental e Londres. A
Dr.ª Sylvia Marzagalli, da Universidade de Bordeaux, mostrou como mem-
bros jovens da famílias eram enviados a Amsterdam para educação comerci-
ai, para depois serem enviados ao Caribe para servir de agentes das Compa-
nhias. Casamentos eram arranjados, com vistas à expansão das redes. O
processo unia judeus praticantes com cristãos novos nos territórios de domí-
nio espanhol, português, francês, holandês e inglês.
Conclusão
Do estudo exposto extraem-se duas reflexões,
O formato diaspórico influiu para uma contribuição da judeidade ao
mundo, no contexto da condução da Antigüidade clássica para uma socieda-
de estabelecida com base em organizações comunitárias. Ela o fez através
102 Revista TERRITÓRIO, ano 111. nº 5, jul./dez. 1998
da difusão da cultura judaico-cristã. O formato diaspórico também concorreu
para a participação da judeidade nos processos de estabelecimento de teias
de ligações econômicas em escala global. E, além do mais, ajudou a expor
ao mundo uma ética da diferença. Cabe, agora, a pergunta: que novos papéis
poderá a judeidade desempenhar?
A segunda reflexão se refere à tensão mundo/lugar, intensamente vivi-
da pela judeidade. Os conflitos mencionados neste trabalho foram conflitos
entre setores ou lugares, que depois foram superados, pacificados ao longo
do tempo, pela sua integração no processo Universal, único.
Creswell afirma que o atual processo de ciclos de transformação é
construído em torno dos conceitos de ideologia e transgressão. O que está
fora do lugar mostra como se encontra o lugar. As transgressões questionam
os limites do público e do privado e a ordem pública (CRESWELL, 1996). A
experiência do espaço pela judeidade tradicional não representava a trans-
gressão, o "ir", o "descer" para a diáspora, e a ordem o "vir", o "subir" para
Israel? É possível ficar só na ordem, só no lugar, ou só na transgressão, só
no mundo?
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	o POVO JUDEU E O ESPAÇO 
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	1. Espaço de representação e totalidade na tradição judaica 
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