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O judô e o ju-jutsu no Brasil - origem e desenvolvimento O judô e o ju-jutsu tiveram as suas origens no Brasil diretamente relacionadas à presença de japoneses, que dominavam estas artes. Ambas as práticas se confundiam nas primeiras décadas do século XX. A imigração japonesa que iniciou na primeira década do século XX e se estendeu até os anos setenta foi o fator mais importante para o surgimento do judô e do ju-jutsu. A influência exercida por lutadores profissionais representantes de diversas escolas de ju-jutsu japonês que vieram dentro do processo migratório ou não, foi também fundamental, para o desenvolvimento destas duas práticas. Judô A maior parte desses precursores chegaram ao Brasil nos navios que aportavam em Santos e de lá eram distribuídos para as lavouras de café. Em um primeiro momento os japoneses radicaram-se no estado de São Paulo e norte do Paraná. A prática do judô por esses pioneiros estava mais ligada a aspectos culturais e de lazer do que ao desenvolvimento de uma modalidade esportiva. A presença de gaijins 1 era esporádica e nem sempre bem-vinda. As primeiras duas décadas dessa prática no país ocorreram sem estruturas rígidas de controle, típicas do esporte moderno. O judô ou ju- jutsu era praticado predominantemente dentro das colônias japonesas. Não encontrei muitos registros precisos dos locais e sobre os praticantes neste período. Apenas ao final da década de 20 e início dos anos 30 foi que chegaram ao Brasil os imigrantes que conseguiram organizar as práticas do judô e kendô no país. Em São Paulo destaque para Tatsuo Okoshi (1924); Katsutoshi Naito (1929); Tokuzo Terazaki (1929 em Belém e 1933 em São Paulo); Yassuishi Ono (1928), Sobei Tani (1931) e Ryuzo Ogawa (1934). Takaji Saigo e Geo Omori, ambos com vínculo na Kodokan, chegaram a abrir academias em São Paulo, na década de 20, porém essa atividade não teve continuidade. Na década de 30, Omori foi instrutor na Associação Cristã de Moços, no Rio de Janeiro. Ainda nos anos 30 ele se radicou em Minas Gerais, onde veio a falecer em 31 de março de 1938, no Instituto Raul Soares em Belo Horizonte. (CANTARINO FILHO et al, 2010; GRACIE, 2008). 1 Contração da palavra japonesa “gaigokujin” ou estrangeiro, forma como os japoneses se referem aos não-japoneses. No norte do Paraná as cidades de Assaí, Uraí e Londrina o judô dá os seus primeiros passos com Sadai Ishihara (1932); Shunzo Shimada (1935). (VIRGÍLIO, 2002; SUZUKI, 1994) É importante ressaltar que todos os nomes citados acima estão vinculados ao desenvolvimento do judô no Brasil, porém muitos deles são mestres de outras escolas de ju-jutsu e não da Kodokan de Kano. No Rio de Janeiro o judô iniciou nas colônias de Santa Cruz e Itaguaí, mas informalmente e voltado para o grupo de imigrantes. Os primeiros professores a chegar ao Rio de Janeiro, então capital do Brasil, foram: Masami Ogino (1934); Takeo Yano (1931), Yoshimasa Nagashima (1935-6 em São Paulo e 1950? no Rio de Janeiro) e Geo Omori, vindo de São Paulo (1930 aproximadamente). (WANDERLEY, P. F. T., 2010; Vinicius Ruas, 2010 – informação pessoal; CANTARINO FILHO et al, 2010). Outra versão para o início do judô foi à chegada dos primeiros professores- lutadores 2 . Não está claro se o objetivo precípuo deles era de difundir estas práticas no país ou simplesmente uma forma de ganhar a vida. Dentre os pioneiros, dois se destacaram, Mitsuyo Maeda e Soishiro (Shinjiro) 3 Satake, ambos eram representantes da Kodokan 4 , contemporâneos em sua iniciação na escola de Jigoro Kano. O mais conhecido deles, Eisei Mitsuyo Maeda, também chamado Conde Koma, chegou ao Brasil em 14 de novembro de 1914, tendo entrado no país por Porto Alegre. Junto com ele chegaram Satake, Laku, Okura e Shimisu, estes três últimos se agregaram a Maeda no Peru, no Chile e na Argentina, respectivamente. Não temos dados que identifiquem a origem dos outros lutadores que vieram com Maeda e Satake, mas tudo indica que eram praticantes de ju-jutsu, possivelmente de escolas diferentes da Kodokan. Em 18 de dezembro de 1915 a trupe de lutadores chegou a Manaus, mas antes disso rodou o Brasil em demonstrações e desafios. Após sucessivas viagens Conde Koma se radicou em Belém do Pará, em 1921, enquanto Satake ficou em Manaus (VIRGÍLIO, 2002; GRACIE, R., 2008; NUNES, 2005; VINÍCIUS RUAS, 2010 - informação pessoal 5 ; Biuce, 2010 – informação pessoal). Maeda fundou sua primeira academia judô no Brasil no Clube do Remo, bairro da cidade velha. O espaço era restrito em galpão de aproximadamente 4m x 4m. Esta escola foi transferida para a sede 2 Em 1914 chegaram ao Brasil Mitsuyo Maeda, Soishiro Satake, Laku, Shimitsu e Okura. 3 Algumas referências falam em Shinjiro (Green e Svinth, 2011), outras Soishiro (Virgílio, 2008; Ruas, 2011) enquanto outras registram o primeiro nome de Satake como, Sanshiro. Trata-se da mesma pessoa. 4 Escola criada por Jigoro Kano para desenvolver o judô, o termo significa, escola para desenvolver o caminho e se originou a partir da organização e sistematização de técnicas de algumas escolas do antigo jiu-jitsu. 5 Entrevista realizada na região oceânica em Niterói, Rio de Janeiro, 12 de novembro de 2010. do Corpo de Bombeiros, e depois para a sede da Igreja de Nossa Senhora de Aparecida. Desde 1991, a Academia situa-se no SESI e é dirigida pelo sensei Alfredo Mendes Coimbra, da terceira geração de descendentes do Conde Koma. O judô no Brasil teve então duas origens distintas: uma ocasional e outra intencional 6 . A primeira delas está relacionada à presença dos japoneses que imigraram a partir do século XX para atuar predominantemente na lavoura cafeeira e praticavam o judô, o kendô e o yakyu, como uma forma de manter viva a cultura da Terra do Sol Nascente. A segunda origem foi a chegada dos lutadores profissionais, como, Eisei Mitsuyo Maeda e Soishiro Satake. Eles dois e muitos outros imigrantes que, tendo as habilidades de lutadores, oriundos de diversas escolas de ju-jutsu, também aproveitaram seu conhecimento técnico para melhorar a sua renda. A contribuição dos imigrantes japoneses que se fixaram em muitas localidades e divulgaram o judô, primeiramente como uma forma de cultura japonesa e, que, paulatinamente aceitaram a presença de gaijins, parece ter sido mais importante do que a contribuição de Conde Koma, e seus companheiros lutadores, para a fixação e o desenvolvimento do judô nos moldes propostos por JK. Entretanto, algumas das formas mais utilizadas para a divulgação do judô de Kano, foram as demonstrações e os desafios. Desde o famoso combate de 1886, os desafios sempre estiveram presentes na divulgação do judô. Após um período em Cuba, em 1911, mais uma vez Maeda e Sakate ficaram famosos com as suas demonstrações/desafios e assim melhoraram a reputação do judô e o Japão. Seus feitos foram reconhecidos e em 8 de janeiro de 1912, a Kodokan promoveu Maeda ao quinto Dan. Houve alguma resistência a esta decisão, pois a kodokan praticava um discurso que repudiava o envolvimento em lutas profissionais. Em 1925 no Japão, a partir de um Edito Imperial, o nome judô passou a representar oficialmente todas as antigas escolas de ju-jutsu. Kano inteligentemente se aproximou de professores de diversas escolas e os convidou a ingressar na Kodokan. Escolas com orientações diversas passaram a utilizar o nome Judo Kodokan. Esta estratégia foi utilizada por Kano no Japão e fora dele. Na Europa captou Tani e Koizume, por exemplo. Reconheceu o trabalho de ambos e os convidou a ingressar na Kodokan, com seus princípiose objetivos educacionais. Durante esses anos iniciais, representantes da Kodokan, como Maeda e Satake, contribuíram para o 6 Esta é uma interpretação feita pelo autor, os dados coletados não deixam esse ponto bem claro. engrandecimento e divulgação do judô. O que eles faziam nos ringues, entretanto, era muito diferente do que pregava kano nas suas palestras e demonstrações. Talvez essa tenha sido uma estratégia de “marketing” programada por Kano e seus discípulos. No Brasil ela funcionou em parte, pois os desafios também foram o maior impulso de divulgação de uma nova escola, hoje internacionalmente conhecida por sua eficiência nos combates reais e nos espetáculos de vale-tudo, o jiu-jítsu brasileiro. Da chegada do Kasato Maru ao Brasil até a segunda guerra mundial, os nomes e as práticas: judô e ju-jutsu ou jiu-jítsu ainda se confundiam. Encontrei registros dos termos jiu-do, jiu-jitsu Kano, e ju-jitsu. Os praticantes muitas vezes eram os mesmos e lentamente as atividades foram se definindo. O judô Kodokan seguiu o caminho da “esportivização” e apareceu no programa olímpico em 1964, embora tenha ingressado definitivamente somente em Munique -1972. O Brasil é um país com influência de diversas culturas e etnias. As imigrações do final do século retrasado e início do século passado tiveram um papel importante nessa diversidade etno-cultural. Um dos exemplos marcantes é a influência da colonização japonesa na região Sudeste, principalmente no estado de São Paulo. Calleja (1979, p. 55) afirma que foram os imigrantes japoneses que introduziram o judô no Brasil, porém, sem nenhum planejamento. Ratificando essa ideia, ele relata que: [...]entre os anos de 1924 e 1935 ocorreu no Brasil o chamado período japonês, devido ao fato de que nossa terra recebera cerca de 190.000 imigrantes japoneses. Quase a maioria desses imigrantes radicou-se em São Paulo, berço do judô brasileiro. Poucos estudos que utilizaram a história oral registraram como ocorreu o desenvolvimento do judô no Brasil, especialmente se considerarmos as diferenças regionais. Até o ano de 2007 o judô aparecia como a disciplina de combate mais frequentemente oferecida nos currículos dos cursos de educação física no Brasil. (CARDOSO, C. B. e NUNES; 2001; TRUZS, R. e NUNES, 2007) Desde a chegada do primeiro navio, em 1908, os imigrantes trouxeram na bagagem a cultura do seu povo. Os japoneses mantiveram seus antigos hábitos, especialmente na colônia, entre os quais: alimentar-se utilizando o hashi, beber sake e também treinar o judô, kendô e/ou sumô. No início do século XX, ainda havia muita confusão entre as duas práticas, já que o trabalho de Kano recém estava sendo divulgado no exterior. (FRANCHINI et al., 2005; SAKURAI, 2007; TAKEUCHI, 2007; PIMENTA, 2008) Como era de se esperar neste momento inicial, os termos judô e jiu-jutsu se confundiam e os instrutores, em sua maioria ex-lutadores, não tinham a formação pedagógica adequada para ministrar aulas. (CALLEJA, 1979) O estado de São Paulo e adjacências foram privilegiados neste aspecto, pois nessa região, o judô de Kano foi introduzido por seus patrícios e, com isso, foram resguardados os aspectos culturais da forma e etiquetas tradicionais. Enquanto isso, em outros estados, como no Rio Grande do Sul, as informações foram recebidas de forma truncada, pois os japoneses que lá divulgaram essa prática não permaneceram no estado por muito tempo. O ju-jutsu no Brasil “ O jiu-jitsu chegou ao Ocidente no final do século XIX, na bagagem dos japoneses lutadores que foram se exibir em diversos países,...” (CANTARINO FILHO & MIURA, 2010,p. 179). Como já foi dito anteriormente, as palavras judô e jiu-jitsu se confundiam no início do século XX, não só no Brasil, mas em todo o mundo. Somente após a Segunda Guerra Mundial esta diferenciação ficou clara. Muitos dos japoneses que chegaram ao Brasil possuíam habilidades e conhecimentos de ju-jutsu. Oriundos de diversas escolas, alguns demonstravam os seus conhecimentos denominando-os ju-jutsu e outros aderiram ao “novo termo”7, judô. Ao final do século XIX, Belém e Manaus eram cidades prósperas. Belém ainda servia como porto de escala para os navios vindos da Europa, com destino ao Rio de Janeiro. Vivia-se a época áurea da borracha (1900), quando um neto de imigrante escocês, chamado Gastão Gracie 8 , radicou-se no norte do país. Nascido no Rio de Janeiro em 30 de julho de 1872, Gastão falava diversos idiomas e diplomou-se em Química, na cidade de Berlim. Empresário e negociante foi fabricante de dinamites e 7 O termo judô, não foi criado pro Jigoro Kano, mas sim utilizado por ele para diferenciar a sua escola de outras escolas de ju-jutsu da época. Através de um Édito Imperial de 1925, no Japão, todas as antigas escolas de ju-jutsu passaram a utilizar o termo judô. Alguns lutadores japoneses que imigraram antes disso seguiram utilizando o termo ju-jitsu ou até mesmo o nome origianl do seu estilo. 8 O bisavô de Carlos, George Gracie, nascido em Dumfries em 4 de agosto de 1801, foi o primeiro Gracie a chegar ao Brasil. proprietário de um parque de diversões. Segundo Reyla Gracie, neta de Gastão, seu avô vendia as dinamites para explodir pedreiras, mas vendia também para bandidos locais clandestinamente. Sua ida para Belém, entre outros motivos, se deveu ao pai, um bem sucedido banqueiro carioca (Pedro Gracie) que pretendia afastar o filho da Capital do país, em função de boatos sobre possíveis relações com senhoras casadas. Na sociedade da época isso poderia causar um escândalo. (GRACIE, 2008) Entre outros negócios Gastão foi sócio no “The American Circus”, que por um tempo fez sucesso na região. Após uma temporada de sucesso em Belém, a trupe circense chegou a Manaus, a bordo do vapor São Salvador, em 5 de novembro de 1916. Entre as atrações do circo, eram realizados combates, desafios e demonstrações de lutas. O “The American Circus” estacionado em Manaus apresentava, entre outros números, um boxeador italiano, chamado Alfredo Leconti, que realizava lutas (desafios). Satake e Laku, companheiros de Mitsuyo Maeda foram desafiados por Leconti. Satake não participou do primeiro desafio e Laku, que o substituiu e perdeu o combate. A seguir Satake desafiou Leconti, porém nesta data o combate não foi realizado, por uma proibição da polícia local. Satake e Laku já eram experientes em desafios e sempre ganharam um bom dinheiro com este tipo de espetáculo. (GRACIE, 2008; CANTARINO FILHO et al, 2010) Ao que parece estes espetáculos, rotulados de combates reais, ou posteriormente, de “vale-tudo”, já na sua origem, no início do século XX, tinham os resultados forjados em função dos interesses financeiros envolvidos. Pelo visto os ensinamentos que Carlos recebeu do pai, Gastão, somados as experiências de lutador e empresário de lutas, que foi Maeda, foram o “estofo” dos espetáculos que se desenvolveram na primeira metade do século XX e seguem até hoje em dia. De fato parece que Maeda e Satake não foram os primeiros praticantes de jiu-jitsu que estiveram em Manaus. Akishime e Suito Ki são dois nomes citados por Cantarino e Miura como pioneiros no jiu-jitsu local. (CANTARINO FILHO et al, 2010; GRACIE, 2008). “O primeiro contato de Carlos Gracie com o jiu-jitsu ocorreu quando foi levado por seu pai para assistir a uma exibição pública do Conde Koma em Belém, no Teatro da Paz” (GRACIE, 2008, p.38). As aulas de Carlos com Maeda duraram cerca de um ano, quando este viajou para Liverpool em 1917. Depois disso as aulas seguiram com JacintoFerro, auxiliar de Maeda. Dessas aulas também participaram Osvaldo e Gastãozinho, irmãos mais moços de Carlos, na época com 13 e 11 anos, respectivamente 9 . A família mudou-se para o Rio de Janeiro em fins de 1921, após o The American Circos falir. Segundo Reyla Gracie (2008) Carlos treinou menos de três anos com Conde Koma e, depois que partiu de Belém, nunca mais voltou a encontrá-lo. Em 1922 Conde Koma passou a ministrar aulas no Clube do Remo, antes disso, suas aulas eram em casa, em um espaço de cerca de 08 tatames. (Biuce 2010 – informação pessoal; CANTARINO FILHO et al, 2010). Em 1925, no Rio de Janeiro Carlos criou sua própria escola de luta. O nome “Jiu-jítsu Brasileiro” foi registrado como um marca que se diferencia, não só do judô de Jigoro Kano, mas também de outras antigas escolas de jiu-jitsu japonês. A origem do jiu-jítsu Gracie, entretanto, é de uma única fonte de informação, as aulas que Carlos Gracie tevê com Mitsuyo Maeda, o Conde Koma, ex-aluno de Jigoro Kano e ligado a Kodokan até o seu falecimento em 28 de novembro de 1941 (CANTARINO FILHO et al, 2010; GRACIE, 2008; GRACIE et al, 2003). Maeda iniciou a sua jornada nos Estados Unidos em 1904, juntamente com Tsunejiro Tomita, aluno e amigo pessoal de Jigoro kano. Tomita fazia parte do famoso Shiten-no ou os quatro mais importantes discípulos da Kodokan, juntamente com Shiro Saigo (Sanshiro Sugata), Yoshiaki Yamashita e Sakujiro Yokohama. Dentre eles Tomita não era considerado o lutador mais hábil, porém, além de fluente no idioma inglês, era tido como excelente professor (Green e Svinth, 2011). Maeda, que ao chegar a Kodokan era um jovem com 1,64m e 64 kg, foi designado a Tomita, em função de sua pouca estatura: era o mais baixo dos professores da Kodokan. Maeda nasceu a 18 de novembro de 1878, na Vila de Funasawa em Hirosaki e também era conhecido como Hideyo, na infância. Praticante de sumo na adolescência, Maeda ingressou na Universidade de Waseda em 1894. Em função da fama que as vitórias do jiu-do de Kano vinha obtendo na época sobre algumas escolas de jiu-jitsu, ele ingressou na Kodokan, aos 17 anos de idade. (GRACIE, 2008; GREEN, T.; SVINTH, J, 2011) Desde a sua primeira viagem ao exterior, em 1904 até o seu falecimento, Conde Koma sempre esteve vinculado a Kodokan de Kano. No dia 27 de novembro de 1941, Mitsuyo Maeda recebeu a sua última graduação da Kodokan, o 9 Segundo um dos meus entrevistados, sensei Biuce, que se considerava, o último aluno vivo do Conde Koma, apenas Carlos chegou a treinar com ele, pois os outros irmãos eram pequenos para a prática. Biuce faleceu no iníco de 2013, assim possivelmente não exista mais nenhum aluno de Maeda vivo. sétimo Dan 10 . Ele faleceu no dia 28 do mesmo mês, desconhecendo esta honraria. (GRACIE, 2008; VIRGÍLIO, 2002; KOMA, 1935; RUAS, 2010 – informação pessoal 11 ; BIUCE, 2010 – informação pessoal12; VINÍCIUS RUAS, 2010 – informação pessoal) Maeda era um exímio lutador e divulgou o “jiu-jitsu kano” predominantemente através de desafios e demonstrações. Embora tenha ministrado aulas e estabelecido um dojo em Belém do Pará, seu maior legado está vinculado a seus resultados nos desafios que promovia. Nesses eventos Conde Koma enfrentava adversários de diversos estilos de luta, sendo as regras estipuladas para cada evento e quase sempre com o envolvimento de empresários que auferiam lucros. Estes lucros eram oriundos da venda de ingressos, de apostas e do oferecimento de bolsas aos lutadores. Esta forma de divulgação teve muita repercussão na época 13 , porém se afastava totalmente dos objetivos propostos por Kano. Desde essa época os desafios e combates com público, patrocinado por empresários, onde os lutadores recebiam somas em dinheiro e onde ocorriam apostas, deixam a forte suspeita da ocorrência de fraudes e resultados arranjados (CORDEIRO, Augusto 1955; Rudolf Hermany, Informação pessoal - 2011). A maior contribuição de Mitsuyo Maeda para os esportes de combate no Brasil parece ter sido a sua influência na criação do jiu-jítsu brasileiro ou jiu-jítsu Gracie. Carlos Gracie foi aluno direto de Maeda em Belém do Pará em alguns períodos entre 1917 e 1921. Carlos, aos 15 anos de idade, conheceu Conde Koma em uma demonstração de judô, em 1917. Foi aceito como seu aluno desde esta época, até 1921. Em fins de 1921 seu pai, Gastão Gracie, mudou-se para o Rio de Janeiro com a família. Carlos esteve poucos anos em contato com Maeda, dos quinze aos dezenove anos aproximadamente, em períodos intercalados. Segundo Green e Svinth (2011) Maeda iniciou Carlos nos rudimentos do judô, entre o fim de 1919 e o início de 1920. Como os Gracie se mudaram para o Rio de Janeiro em 1921, seu contato com Maeda foi por um tempo bastante reduzido. As 10 Sistema kyu-dan de graduações proposto por Kano, onde os kyu (graus inferiores) são em ordem de impotância decrescente e os Dan (graus superiores) em ordem crescentes de primeiro até décimo, tendo sido atribuído, pós-morten ao próprio J.Kano o décimo segundo Dan. 11 Vinicius Ruas Ferreira da Silva – Entrevista realizada na Região Oceânica – Niterói –Rio de Janeiro, em 12 de dezembro de 2010. 12 Osmar “Biuce” Mouzinho – Entrevista realizada em Parnamirim – Rio Grande do Norte, em 02 de agosto de 2010. 13 A região Norte do Brasil, entre 1914 e 1941, viveu um momento de grande evidência e era local de muitas oportunidades de negócios, devido ao apogeu da indústria da borracha. informações de Green e Svinth não coincidem exatamente, com os dados de Reyla, com relação às datas. Na opinião de Stanlei Virgílio (2002), outro lutador que veio com Maeda, chamado Antônio Soishiro (Sanshiro) Satake, teria contribuído mais que o próprio Conde Koma para a divulgação do jiu-jitsu/judô, pelo menos da região Norte do país. (WATSON, 2000; VIRGÍLIO, 2002) Esta também é a opinião do professor Vinícius Ruas Ferreira da Silva, um dos alunos de Satake que entrevistei. Segundo o professor Ruas, Satake ministrava aulas de jiujitsu/judô para um grupo de jovens sobre tatame de palha de arroz, que eles mesmos confeccionavam. O dojo improvisado em uma varanda, com cerca de 30 tatames, localizava-se na Cachoeirinha, um bairro de Manaus. Conforme relembra o professor Ruas: “um dos mais graduados era o Gadelha”, um sargento do exército que também deu aulas para Ruas. Satake também utilizava o termo jiu-jitsu, quando se referia aos combates reais e desafios. Neste período o próprio professor Ruas testemunhou um dos desafios no Teatro Politheama em Manaus. A luta entre Guilherme Nery, aluno de Satake e João Issac, que era oriundo da luta livre, foi precedida por uma demonstração de judô, que contou com a participação do professor Ruas. Um grande público compareceu a aplaudiu a vitória de Nery, mas também se surpreendeu e vaiou a demonstração daquela prática estranha e com vestimenta desconhecida. Os judogui eram de juta, feitos por Satake e por seus alunos. A juta era plantada nas margens do Rio Negro e servia como fonte de renda para os imigrantes japoneses, como Satake. No período em que viveu em Manaus, Ruas não treinou judô ininterruptamente, talvez por isso não tenha alcançado a graduação de faixa preta com Satake. Na época a primeira graduação outorgada por Satake era a faixa marron clara (castanho), depois a marron escura e então a faixa preta. Muitos anos depois, em 1953, Professor Ruas se radicou no Rio de Janeiro, onde voltou a treinar judô. Na academia do Prof. Augusto de Oliveira Cordeiro teve reconhecido o seu conhecimento adquirido em Manaus e foi graduadocom a faixa roxa. No Rio esteve em contato com Takeo Yano, de quem relembra um excelente De-ashi-barai. Testemunhou a chegada de Michio Ninomiya e Guengo Katayama, que desembarcaram no Brasil no início da década de 50. Este último, foi quem lhe graduou faixa preta, em 1963. Na Escola de educação física do Rio de Janeiro, Ruas foi aluno do professor De La Torre, que ensinava esportes de combate. Além do judô, o professor Ruas praticava diversos esportes, entre eles, remo, corridas e boxe. Em 1964, no período da revolução esteve exilado na Bolívia, onde contribuiu para a organização do judô neste país. De acordo com suas palavras “[...] na Bolívia não tinha judô (antes da sua chegada), absolutamente, o primeiro campeonato foi feito por mim[...]”. (informação pessoal, 2011) Outros japoneses praticantes de jiu-jitsu também deixaram a sua contribuição e possivelmente ministraram aulas, mas não temos dados sobre estes indivíduos e, por isso, são poucos citados neste livro. Um japonês chamado Sack Miura 14 teria chegado ao Brasil antes de 1908 e também ensinado ju-jutsu, antes mesmo de Maeda e Satake. A primeira academia dos Gracie foi aberta por Carlos no Rio de Janeiro em 1925, na Rua Marques de Abrantes, 106. A partir daí o jiu-jítsu brasileiro foi divulgado por ele e por seus irmãos. Carlos ensinou aos seus quatro irmãos, Gastão, Osvaldo, George e Hélio, as técnicas que aprendera com Conde Koma. Posteriormente os discípulos de Carlos, muitos deles da própria família Gracie, foram e são os grandes divulgadores desta prática. Os Gracie são uma família numerosa que se ramificou por todo o Brasil o que contribuiu para uma grande divulgação da modalidade (GRACIE, 2008). Por motivos diversos o jiu-jítsu brasileiro passou a dar mais ênfase ao combate no solo e as estratégias para combate real. Entre as hipóteses para esta mudança de rumo estão: as condições inadequadas dos locais de treino para a prática das quedas, a menor dificuldade para o aprendizado das técnicas de solo, o interesse na finalização do combate, um bom chamativo para as apresentações nos espetáculos que eram os desafios e a grande experiência de Conde Koma neste tipo de desafio/espetáculo. (Green e Svinth, 2011) Assim o jiu-jítsu brasileiro conquistou um público cativo e numeroso entre os amantes das lutas no Brasil, especialmente entre os anos 30 e 50. Seu “mote principal” sempre foram os combates reais, sob a forma de desafios e denominado de “vale-tudo”. Paralelo a isso o judô era praticado dentro da colônia japonesa e com pequena afluência de brasileiros que não fossem descendentes de japoneses. Curiosamente alguns dos discípulos dos Gracie parecem ter dado uma especial contribuição à iniciação do judô como esporte de competição, especialmente 14 Não conseguimos documentos sobre Sack Miura. Algumas fontes informam que ele seria um náufrago, chegado ao Brasil, antes do Kasato Maru, outras fontes informam que ele teria chegado a bordo do Kasato Maru. nos estados em que a imigração japonesa não foi tão marcante ou ocorreu tardiamente. Após a institucionalização da modalidade (judô) e o ingresso no programa olímpico alguns praticantes do jiu-jitsu brasileiro migraram para o judô, sendo os introdutores da modalidade em suas regiões. Isso ocorreu em algumas capitais do nordeste, como Teresina, de onde surgiu uma das entrevistadas desta investigação, a atleta Sarah Menezes. Sarah recentemente sagrou-se a primeira medalhista de ouro do judô brasileiro. Possivelmente nem saiba que na origem de seus professores de judô, está o jiu-jitsu brasileiro. A origem do judô no Piauí vem da família Queiroz, cujo patriarca, Abdias Queiroz era praticante de jiu-jitsu brasileiro no Ceará. Abdias foi aluno de Nilo Veloso e ao mudar- se com a família para Teresina abriu no Piauí a primeira academia de jiu-jítsu brasileiro. Com a “esportivização” do judô, os Queiroz decidiram mudar o nome da modalidade para judô, ao invés de jiu-jitsu. Em Teresina eles foram os pioneiros nas atividades de combate, tanto do jiu-jítsu brasileiro, como no judô, que eles desenvolveram a partir dos seus conhecimentos de jiu-jítsu. Outras capitais nordestinas sofreram a influência do jiu-jitsu brasileiro, como Aracaju, Maceió e Recife. Os irmãos Moura foram os introdutores destas práticas nessa região. (Jairo Moura –informação pessoal- Aracaju 2012; Sílvio Holanda – informação pessoal, Aracaju -2012) O irmão mais velho iniciou a dar aulas de jiu-jítsu brasileiro em Recife e os dois irmãos mais moços aprenderam com o primogênito. Posteriormente dois deles migraram para o sul, sendo que Jairo se radicou em Aracaju no Sergipe e, o caçula, foi o introdutor do jiu-jítsu em Maceió nas Alagoas. Nestes estados o judô só apareceu como modalidade institucionalizada bem depois do trabalho dos irmãos Moura. Pelo menos nestes quatro estados do Nordeste, a saber, Sergipe, Alagoas, Pernambuco e Piauí, é inequívoca a participação do jiu-jítsu brasileiro na origem e desenvolvimento do judô na região. Encontrei indícios que isso também ocorreu no Rio Grande do Norte, no Ceará, em Minas Gerais, em Goiás e no Rio Grande do Sul. Nestes locais a presença de professores oriundos do jiu-jítsu Gracie, e a de lutadores japoneses de vale-tudo, foi anterior a dos professores de judô, no entanto muitos deles migraram para o judô. Carlos Gracie se radicou em Fortaleza na década de 40 e deixou os irmãos Hélio e Gastão responsáveis pela academia no Rio de Janeiro. George foi para Porto Alegre onde ministrou aulas no Esporte Clube Cruzeiro, depois se mudou para a Bahia. Em Porto Alegre nesta época não temos notícia de outros professores de jiu-jítsu ou judô. Takeo Yano esteve na cidade no início dos anos 50 e teria sido um dos introdutores do judô no estado do Rio Grande do Sul. Entretanto não deixou muitos alunos e o nome mais reconhecido como introdutor do judô, é Aloísio Bandeira de Melo, amigo de George Gracie e provavelmente aluno dele também. Outro dos irmãos Gracie irmão, Osvaldo foi para Belo Horizonte na mesma época e lá atuou como instrutor na Polícia Militar. Nas décadas de 30/40 até no início dos anos 50 os desafios, as demonstrações públicas, as lutas programadas com público pagante e combates com bolsas para os vencedores eram as formas mais utilizadas de divulgação das atividades de combate no Brasil. Exceto dentro da colônia japonesa, onde o judô se desenvolvia como uma forma de manutenção da cultura oriental. Entre os lutadores expoentes da época encontravam-se Geo Omori, Takeo Yano e os Yassuiti Ono, além dos Gracie, Carlos, George, Osvaldo e Hélio. Os japoneses sempre estiveram vinculados ao judô, porém participavam destes espetáculos para auferir dinheiro e se promover. Alguns viajavam todo o Brasil para participar destes combates. Os mais famosos conquistavam espaços de trabalho junto á polícia, marinha e exército. No livro de Reyla Gracie os japoneses são citados como se fossem lutadores de jiu-jitsu, devido a já explicada confusão de nomenclaturas existente na época. Geo Omori nos anos 20, ainda em São Paulo, teve seu primeiro desafio contra Carlos Gracie. Nesse combate houve empate. Após ter sofrido uma lesão no braço, em função de uma chave de articulação, Omori seguiu lutando até o final, somente com um dos braços. Depois disso Em 1934/5 Takeo Yano toma o lugar de Carlos Gracie como instrutor da Marinha no Rio de Janeiro. Esta disputa seguiu ocorrendo nos desafios, quase sempre entre os japoneses e a família Gracie (GRACIE, 2008; CANTARINO FILHO, Mario R.; MIURA, Hiromi 2010). O ponto forte dos Gracie era a luta no solo,que é onde ocorrem as situações para aplicar as técnicas que provocam a desistência. Os combates em que eles levavam grande desvantagem na luta em pé, mas que apesar das quedas ou socos não provocava a desistência ou o desfalecimento, acabavam em empate. Essa regulamentação ou estratégia mantinha a ideia de invencibilidade dos lutadores da família. Em 1935 aproximadamente George desafiou Takeo Yano, com quem já havia treinado para um combate anterior. Nesta luta Yano foi muito superior nos cinco rounds programados. De acordo com Reyla Gracie: “decorridos os cinco rounds [...]George havia levado 25 quedas e não derrubara Yano uma só vez [...]. Como a regra estipulava que só venceria quem finalizasse o adversário, a luta terminou empatada.” (Gracie, 2008, p.143). Outro combate encontrou Hélio Gracie e Yassuiti Ono, ambos com cerca de 65 kilos. Mais uma vez o lutador japonês projetou Hélio mais de 30 vezes contra uma de seu adversário, mas no solo o combate foi parelho, e mais uma vez o empate foi decretado pelo juiz. Algum tempo depois Hélio também, enfrentou Yano e novo empate foi decretado (Gracie, 2008). Os japoneses também lutavam entre si onde as regras sempre eram modificadas, conforme as combinações e os empresários envolvidos. Toda essa dependência do fator comercial deixa a forte impressão que os resultados ficavam a mercê dos interesses dos organizadores, com quebras de acordos por ambas as partes, mudanças de datas, alterações das características dos uniformes, tempos de lutas e com empates em combates desiguais. Muitos dos professores que entrevistei, alguns dos quais participaram destes desafios, afirmam que os resultados eram muitas vezes acertados antecipadamente e, outras tantas vezes, eram manipulados pelos organizadores, com ou sem a ciência e concordância dos lutadores (Rudolf Hermany, 2011- informação pessoal; Milton Moreira, 2013- informação pessoal, Miguel Suganuma 2011- informação pessoal). Um dos desafios mais famosos ocorreu no Rio de Janeiro em 1951. Hélio Gracie o representante mais importante do clã dos Gracie, desafiou o lutador da Kodokan, Massahiko Kimura para um combate. Seguindo a mesma estratégia de promoção de outros combates, os Gracie apresentaram Kimura como, campeão mundial de jiu-jitsu, o que não corresponde a verdade. Na época não eram organizados eventos que pudesse ser chamados de campeonato mundial de jiu-jitsu. Kimura foi sim, dois anos antes (1949), Campeão Japonês de Judô. Na luta final Kimura lutou 40 min. com Ishikawa e ambos foram considerados campeões. Depois disso Kimura partiu para participar de desafios, o que o trouxe ao Brasil. Em 1951 o Campeão Japonês foi Daigo. A vinda de Kimura para o Brasil teve a colaboração de Takeo Yano, que havia ao chegar ao Brasil também participava dos combates, mas a essa época atuava como empresário de lutas e professor. Este desafio foi realizado no Ginásio do Maracanãzinho no Rio de Janeiro. Como era de praxe as regras foram combinadas e a luta foi em um ringue de boxe. A torcida dos Gracie era majoritária, enquanto a colônia japonesa e os aficionados em judô apoiavam a trupe de Kimura. Um primeiro combate reuniu um acompanhante de Kimura, cujo nome era Kato. A vitória do combate ficou com o jiu-jítsu brasileiro. Kato não era um atleta destacado, pois seu nome não consta nas lista dos 32 indicados para o Zen-nippon 15 . Os Gracie aproveitaram para divulgar indevidamente a “vitória sobre o terceiro do mundo” (REVISTA DE JUDO, 1955). O combate principal apresentou de um lado, Massahiko Kimura, conhecido como “Míster Judo”, e do outro lado Hélio Gracie, o atual representante da família Gracie nos ringues. Hélio era um exímio lutador, mas Kimura com peso corporal superior, mais forte e alguns anos mais jovem 16 , demonstrou imensa superioridade. Hélio foi projetado diversas vezes no solo, porém conseguia escapar de uma finalização no solo. Alguns dos professores que assistiram ao combate relataram que Kimura dominou plenamente seu oponente e quando resolveu definir o combate aplicou uma chave de articulação 17 no cotovelo de Hélio que o levou a desistir. Desta vez a estratégia dos Gracie de considerar o combate empatado não funcionou e Hélio foi derrotado por desistência. (Bugre Lucena- informação pessoal; Rudolf Hermany – informação pessoal; REVISTA DE JUDO, 1955). A parte do desenvolvimento do jiu-jítsu Gracie, outras escolas de jujutsu cresceram no Brasil, pois muitos dos “professores” japoneses não estavam vinculados a Kodokan. As escolas mais importantes do período anterior a II Guerra foram: - a Budokan de Ryuzo Ogawa, cujo estilo de origem é o Kashima-Tenshin. A Budokan chegou a ter mais de cem (100) representantes no país. - as escolas Ono com um grande número de filiais espalhadas principalmente pela região de São Paulo. Outros mestres destacados como Yuiti Hashizume, Y. Kussabara tem origem em outras escolas de jujutsu, que não a Kodokan de Kano. A união destas escolas se deu em função das instituições organizadoras como a Ju-kendo Renmei antes da II Guerra e, a partir do final da década de 60 a fundação das federações estaduais de judô que se desvincularam da federação de pugilismo (Miguel Suganuma 2011– informação pessoal; Hatiro e Hitoshi Ogawa 2010 – informação pessoal; Tadao Nagai 2010 - informação pessoal; Luiz Tambucci 2010 – informação pessoal). A partir da década de 80, alguns descendentes dos Gracie migraram para os Estados Unidos e também para outros países, fazendo com que seu estilo de combate ficasse famoso fora do Brasil. Além de bons lutadores, os Gracie sempre se valeram dos espaços que lhe foram oferecidos pela mídia para divulgar o seu estilo de luta. Nos 15 Tradicional competição, livre de peso, que reúne os 32 melhores atletas do Japão. 16 Os Gracie referem que Hélio já estava com 38 anos, nasceu em 1913, na data do combate, mas Kimura nasceu em 1917, portanto apenas quatro anos menos. 17 O nome desta técnica no judô é Ude-garame, porém para os praticantes de jiu-jitsu brasileiro, a partir desse episódio, passou a ser conhecida como Kimura. Estados Unidos, nos anos 90, Rorion Gracie foi um dos responsáveis pela criação e divulgação do Ultimate Figthting Contest (UFC), uma forma de vale-tudo. Rorion ofereceu US$ 50.000,00 para o lutador que vencesse a competição, onde o Brazilian jiu-jítsu foi representado por Royce Gracie, seu irmão. Usando o mesmo tipo de apelo para a mídia que Carlos e Hélio Gracie se utilizaram no Brasil nas décadas de 30/40, ele contribuiu para a divulgação desse tipo de espetáculo. Diferentemente do atual UFC, a proposta de Rorion, era de um combate sem regras e sem limite de tempo, onde haveria uma comparação entre as diferentes modalidades ou estilos de arte marcial. (DEHO, M., 2011; GRACIE, 2008; GRACIE, Renzo & DANAHER, Jonh 2003; SÁNCHEZ GARCIA, R.; MALCOLM, D., 2010) De acordo com Sánchez e Malcolm (2010), o nome MMA, abreviação de Mixed Martial Arts, surgiu um substituição a No Holds Barred contests (NHB), que é derivado da tradução do termo em Português, vale-tudo. A proposta do jiu-jitsu brasileiro se afastou dos propósitos de Kano, que buscava prioritariamente um método de educar a sociedade, baseado em uma atividade de combate; enquanto os Gracie divulgaram apenas o método de combate, com ênfase nas técnicas de defesa pessoal e nas estratégias de combate. Nas palavras de Renzo e Royler Gracie, segundo Hackney (2009, p.3, tradução nossa): “As demandas sociais, morais e estéticas são um entrave para o progresso e desenvolvimento da eficiência do combate na luta de solo. 18” As experiênciasobtidas em muitos anos de competições e desafios foram o maior legado que Maeda deixou para o judô nos lugares por onde passou. O seu desempenho combatendo adversários de diversos estilos e, muitas vezes com estatura e peso bem superiores, lhe proporcionaram fama e dinheiro. Esta parece ter sido a ênfase dos ensinamentos de Conde Koma, ou pelo menos, os que mais chamaram a atenção de Carlos Gracie. Ao criar e difundir o jiu-jítsu brasileiro, provavelmente foi isto que ensinou aos seus irmãos e aos seus discípulos. Apesar da grande divulgação nos anos 40/50 o jiu-jítsu brasileiro perdeu espaço na mídia para o judô, que se tornou modalidade olímpica em 1964. Em 1973 a Federação de Jiu-jítsu da Guanabara, conseguiu seu alvará, do Conselho Nacional de Desportos, no entanto, a Confederação Brasileira de Jiu-jítsu (CBJJ) foi fundada somente em 1994. 18 Original - social, moral, and aesthetic demands were a hindrance to progress in developing the combative efficiency of grappling. (Hackney, p.3, 2009) Atualmente (2013) no Brasil temos recebido um forte apelo comercial para os “combates de vale-tudo” do século XXI, os combates do MMA (Mixt Martial Arts). As academias de jiu-jitsu estão voltando a ganhar espaço midiático com este fenômeno, ainda que os combates em si não sejam de jiu-jitsu brasileiro.
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