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Burocracia e inovação (2)

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1 
 
O Diálogo entre Burocracia e Inovação 
 
Autoria: Rony Klay Viana de Freitas, Florence Heber 
 
Resumo 
O panorama da maioria dos estudos organizacionais traduz a abordagem da burocracia como 
um sistema social puramente racional. O presente artigo propõe uma discussão teórica acerca 
dos conceitos da teoria da burocracia relacionando-os aos conceitos de inovação. 
Inicialmente, são apresentados os conceitos centrais da burocracia e sua associação à 
racionalidade, com base na perspectiva de Max Weber. Em seguida são abordados conceitos 
de inovação e suas aplicações nas organizações. Por fim, é proposta uma perspectiva de 
aplicação dos conceitos de inovação dentro da abordagem da Teoria da Burocracia. 
 
 
2 
 
1. INTRODUÇÃO 
A teoria da burocracia, conforme apresentada por Weber (1999), sempre é vista em 
associação com o conceito de racionalidade. Assim, numa primeira análise, não se permite 
falar em inovação nas estruturas racionais. Entretanto, até hoje, muitas divergências têm sido 
apresentadas em relação às ideias de Weber. Isso ocorre porque vários acadêmicos e 
intelectuais municiados dos seus pressupostos teóricos, não compreenderam o contexto 
histórico em que a teoria da burocracia foi escrita (FARIA E MENEGHETTI, 2010). 
Na linha de pensamento de uma leitura inovadora da burocracia, Faria e Meneguetti 
(2010) analisam que esta apresenta as contradições do sistema no seu interior. 
 Inicialmente, pode-se afirmar que o conceito de racionalidade é multifacetado, o que 
traz implicações teóricas e práticas não permissivas da adoção de uma abordagem conclusiva 
(SILVEIRA, 2008). O autor relata ainda que o conceito da racionalidade e consequentemente 
de burocracia, são de significativa relevância na teoria das organizações. Ao mesmo tempo, 
esclarece que há como fazer uma delimitação precisa dos fenômenos envolvidos e 
relacionados a ele. Em razão dessa visão ampliada, percebe-se que é possível visualizar a 
teoria da burocracia para além da racionalidade “pura”. 
Nesse contexto, Paes de Paula (2008), afirma que a burocracia transcende o tipo ideal 
weberiano, pois não se esgota como fenômeno técnico e organização formal; é acima de tudo 
um fenômeno de dominação e um sistema de condutas significativas. Para a autora não é 
simples caracterizar a burocracia. A teoria em questão não pode ser resumida a apenas uma 
enumeração de critérios: é preciso um estudo de sua dinâmica interna e da forma como ela se 
enraíza na sociedade e aumenta seu poder. 
Assim, esse artigo tem o objetivo de investigar possibilidades de diálogo entre a teoria 
da burocracia e a inovação. Para isso, na primeira seção, foi feita uma recuperação de 
conceitos propostos por Weber, teórico clássico tido como “pai” da teoria da burocracia, 
através de diversos autores. Na segunda seção são apresentados os conceitos ligados à 
inovação. Por fim, propõe-se algumas possibilidades da interligação entre os dois temas. 
 
2. TEORIA DA BUROCRACIA 
Weber (1999) situou e definiu a burocracia como um tipo ideal. Entretanto, esse tipo 
ideal é visto como uma abstração; é a apresentação da burocracia em sua forma pura. Isso é 
posto visto que não é possível visualizar uma organização que apresente o modelo puro de 
burocracia. Weber também definiu a burocracia por meio dos seus tipos fundamentais: o 
carismático, o tradicional e o racional-legal. A legitimidade da dominação é o fato que a torna 
efetiva, é o motivo que explica por que algumas pessoas obedecem às ordens de outrem. 
Passemos à análise desses aspectos componentes da teoria ora estudada. O primeiro 
tipo de dominação apresentado por Weber (1999), o carismático, é baseado na crença e na 
devoção. É um poder sem base racional. O poder do líder carismático é mantido pelos 
seguidores devido ao reconhecimento de forças extraordinárias. Outra característica desse tipo 
de dominação é a sua intrasferibilidade. O poder do líder carismático é estritamente pessoal. 
Portanto, torna-se também arbitrário. 
A dominação tradicional por sua vez, baseia-se nos costumes. Os hábitos dos 
antepassados são a única forma de poder. Servem como um tratado de conduta. É o que 
podemos chamar da dominação conservadora. O líder é aquele que tradicionalmente exerce a 
dominação. Geralmente por questões de sucessão familiar (hereditariedade) ou patrimonial 
(através do favoritismo). 
O último tipo de dominação apresentado por Weber é o racional-legal. Nele, a 
legitimidade da dominação é adquirida por meio de normas e regulamentos. Essas normas 
definem precisamente os limites do poder do líder. Todas as ações do líder, sejam elas 
benéficas ou não, devem estar previstas em documentos escritos, pois assim como propõe 
 
3 
 
Weber, seria improvável definir as ações de autoridade, de forma racional, sem escrevê-las. A 
subordinação se dá de forma impessoal. Seria uma subordinação “abstrata”; um cargo 
subordinado a outro e não uma pessoa subordinada à outra. 
A burocracia possui a sua fonte de legitimidade no poder racional legal. Weber define 
a burocracia como a estrutura administrativa de que se serve o tipo mais puro de dominação 
racional-legal (BORBA, 1999). As burocracias são baseadas no poder hierárquico, 
apresentando uma elevada distribuição de cargos, onde todos os limites de atuação do agente 
são descritos em normas e regulamentos. Assim, a autoridade pertence simplesmente ao cargo 
e não a pessoa que ocupa. Não é considerada para qualquer fim, a ação de pessoas, senão as 
previstas em tais normas. 
 Continuando a linha de pensamento de Max Weber, ele não nega nem afirma que a 
história tenha um sentido. Segundo ele, nós podemos interpretar o acontecer mediante tipos 
ideais, mas não podemos garantir que nenhuma interpretação de sentido seja a interpretação 
causal válida (RAMOS, 1946). 
 Nesse mesmo sentido, Lefort (1979) defende que o conceito de burocracia permanece 
tão impreciso em seu uso que se continua, com justiça, a perguntar sobre a identidade do 
fenômeno que ele pretende designar. A burocracia se nos apresenta, então, como este 
fenômeno do qual todos falam e todos pensam ter alguma experiência, mas que, 
estranhamento, resiste a conceituação. 
 Weber defendia que uma organização fundamentada na autoridade racional seria mais 
eficiente e adaptável a mudanças. Isto porque o prosseguimento é relacionado com a estrutura 
e posições, e não de uma pessoa em particular, que pode retirar-se ou morrer. (ARAUJO et al, 
2006). 
 Dentro desse marco teórico racionalista, Silveira (2008) analisa que somente através 
da previsibilidade da ação humana é que se podem estabelecer metas e planejar a ação 
organizacional. Logo, o ideal nas burocracias é proceder sine ira et studio, ou seja, sem a 
menor influência de motivos pessoais e sem influências sentimentais de espécie alguma 
(VASCONCELOS, 2004), pois essas influências se apresentam como disfuncionais à 
racionalidade, dada a sua imprevisibilidade e irracionalidade (SILVEIRA, 2008) . 
 Weber enumera certas características que ele julga como específicas da burocracia 
moderna: 
 
Quadro 01 – Características da Burocracia 
As atribuições dos funcionários são oficialmente fixadas por 
força de leis, de normas ou de disposições administrativas; 
As funções são hierarquizadas, integradas num sistema de 
mando de modo que em todos os níveis as autoridades 
inferiores são controladas pelas superiores, sendo possível 
ape1ar para uma instância superior a propósito das decisões de 
uma instância inferior; 
A atividade administrativa é registrada em documentos 
escritos; 
As funções supõem um aprendizado profissional; 
O trabalho do funcionário exige uma dedicação completa ao 
cargo ocupado; 
O acesso à profissão é, ao mesmo tempo, um acesso a uma 
tecnologia particular (jurisprudência, ciência comercial, 
ciência administrativa, etc.). 
 Fonte:Lefort (1979) 
 
4 
 
 Nota-se que nas organizações burocráticas as ações dos funcionários são estritamente 
subordinadas a normas e regulamentos legais. As funções são definidas hierarquicamente e os 
atos e fatos são registrados por escrito. Por fim, Weber (1999) também preconiza que os 
cargos são ocupados administradores profissionais especialistas. O conhecimento 
especializado é fundamental para o funcionamento eficiente da organização. Assim, a 
burocracia é apresentada como um modelo superior tecnicamente a qualquer outro. 
 Mas essa afirmação de superioridade técnica não significa que Weber compreendesse 
o avanço da burocracia como um fenômeno inexorável. Nada é mais distante da sociologia 
weberiana do que análises que não consideram fatores históricos e sociais complexos e de 
longa duração (OLIVIEIRI, 2011). 
 
3. CONCEITOS DE INOVAÇÃO 
O conceito de inovação usualmente é utilizado é usado para definir o novo, algo ainda 
desconhecido em determinado contexto. No meio organizacional, a inovação envolve a 
geração de novas ideias para produtos e processos. Contudo, Tidd, Besant e Pavitt (2008) 
assumem que inovação é, basicamente, um processo de transformar oportunidades em novas 
ideias, colocando-as amplamente em prática. 
Já Schumpeter (1961) aduz que a inovação está relacionada à produção de novas 
coisas, ou produzir as mesmas coisas de outras formas, ou ainda combinar diferentemente 
materiais e forças, realizando novas combinações que tragam retorno positivo para a 
organização. Na visão de Rogers o conceito de inovação passa pela percepção. Inovar, para o 
Schumpeter, é perceber o novo, não importando se a ideia apresentada é ou não objetivamente 
nova. 
Tether (2003), por sua vez, define a inovação como qualquer coisa que permite a uma 
empresa melhorar os produtos e serviços que pode oferecer. O autor ainda distingue 
inicialmente dois grandes grupos de inovações: a inovação radical e a inovação incremental. A 
primeira está relacionada com a inovação que transcende as limitações técnicas (das 
tecnologias existentes), a segunda por sua vez são alterações quantitativas em parâmetros 
conhecidos ou na introdução em um dado produto de características técnicas já usadas em 
algum produto similar. 
Tidd, Bessant e Pavitt (2008), classificam a inovação em quatro categorias, o que os 
autores definem como os quatro P’s da inovação: 
 
 Quadro 02: Os quatros P´s da inovação 
Inovação de produto mudanças nos produtos/serviços 
que são oferecidos por uma 
organização. 
Inovação de processo mudanças nos meios pelos quais 
as organizações criam, produzem 
ou entregam seus 
produtos/serviços. 
Inovação de posição mudanças no contexto no qual 
produtos ou serviços são 
introduzidos no mercado. 
Inovações de paradigma mudança dos modelos mentais 
subjacentes que limitam as ações 
das corporações. 
Fonte: Tidd, Bessant e Pavitt (2008) 
 
 
5 
 
Uma outra importante dimensão da inovação é o grau de novidade envolvido. Tidd, 
Bessant e Pavitt (2008) sugerem que o grau de novidade das inovações podem se encontrar 
(1) no nível básico: inovações “menores” (incrementos) em que as estruturas e componentes 
tendem a ser incorporadas a práticas diárias e (2) no nível radical: inovações “maiores”, em 
que a organização precisa rever o conjunto de rotinas para gerenciar a inovação. Os graus de 
novidade podem estar posicionados entre os considerados “menores” (inovações 
incrementais), até os que são considerados “maiores”, (mudanças radicais). 
No nível básico, as estruturas e os comportamentos necessários para viabilizar as 
melhorias incrementais tendem a ser incorporadas a práticas diárias que constituem 
procedimentos operacionais padrão de uma empresa ou organização. Entretanto, conforme 
aduz TETHER (2003), o conceito de inovação e de sua identificação passa pela relatividade, 
ou seja, envolve uma discricionariedade e julgamento por parte dos pesquisadores. 
Damonpour (1991) classifica as inovações em técnicas e administrativas. As técnicas 
são aquelas relacionados as melhorias nos produtos ou serviços da empresa. Já as inovações 
administrativas estão relacionadas com a gestão das mudanças organizacionais, referem-se às 
inovações na estrutura organizacional ou nas atividades administrativas em si. 
Tether (2003) sugere ainda que a inovação tem que ser nova para a empresa, não tem 
necessariamente que ser nova para o mercado. Não importa se a inovação foi desenvolvida 
por uma empresa ou por outra. Assim, não existe um conceito absoluto para definir a 
inovação. Este fenômeno deve ser analisado contextualmente. E, ainda, muitas vezes, precede 
de julgamentos. 
 Utterback (1996) lembra ainda que as inovações usam diferentes tecnologias. Elas 
exigem das organizações e da sociedade a cada dia um novo conjunto de aptidões para lidar 
esses novos padrões tecnológicos. Depreende-se que as inovações mudam o rumo não só das 
indústrias e organizações, mas afetam toda uma sociedade. 
 
 
4. O DIALOGO DA BUROCRACIA COM A INOVAÇÃO 
A análise de Weber (1994) sobre a modernidade aponta para a difusão do poder 
racional legal para todos os fins. Weber (1994) define que a Burocracia funciona como um 
tentáculo em todas as estruturas sociais, em todas as organizações. 
Na burocracia, os indivíduos são aprisionados no exercício da racionalidade e com 
isso fazem desaparecer todo "encantamento do mundo". Isso não quer dizer que a burocracia 
não possa exercer um papel modernizante. Na verdade ela pode. A história tem dado prova 
disso. Mas o seu papel modernizante se apresenta sempre como uma chance, um ‘acidente 
estatístico’ da história, da conjuntura de poder (RAMOS, 1966). 
Surge assim um primeiro diálogo entre estruturas burocráticas e a inovação. Pois, ao 
mesmo tempo em que as organizações seriam a forma superior de administração, que 
garantiria a racionalidade contra a arbitrariedade (BORBA, 1999) para os indivíduos situados 
na base hierárquica, os burocratas estão procurando novas formas para tornar o serviço mais 
eficiente, há que se falar aqui em formas inovadoras de tornar o serviço melhor. 
 As características da burocracia weberiana atenderam primeiramente aquelas 
organizações que se enquadravam no contexto da época, organizações que necessitavam de 
controle, centralização, severidade e autoridade; os ajustes foram surgindo, se adaptando à 
nova realidade das organizações, ou seja, descentralizadas e mais enxutas. (ARAUJO et al, 
2006). 
Assim, as burocracias descentralizadas, abrem espaço para os processos inovadores, 
na medida em que as organizações inovadoras são particularmente eficazes quando a estrutura 
de gestão é descentralizada (BARAÑANO, 2005). 
 
6 
 
 Da mesma forma que a burocracia da era fordista refletia as características rígidas do 
capitalismo monopolista e das teorias administrativas então vigentes, nada mais natural que a 
atual burocracia incorporar a tônica da flexibilidade (PAES DE PAULA, 2002). Assim, 
percebe-se que estruturas burocráticas também podem ser flexíveis: 
 Alguns autores restringem o conceito de burocracia a um tipo de sistema social 
rígido, centralizado, que se amolda quase perfeitamente ao tipo ideal de burocracia 
descrito por Max Weber. Para esses autores bastaria que o sistema social se afastasse 
um pouco desse modelo, que se descentralizasse, que se flexibilizasse para deixar de 
ser uma organização burocrática. [...] Todo sistema social administrado segundo 
critérios racionais e hierárquicos é uma organização burocrática. Haverá 
organizações burocráticas mais flexíveis ou mais rígidas, mais formalizadas ou 
menos, mais ou menos autoritárias. (BRESSER PEREIRA & PRESTES MOTA, 
1980 apud MARTINS, 1997, grifo nosso) 
 
Nesse contexto entre a burocracia e flexibilidade, vê-se uma convergênciacom a 
inovação, pois a flexibilidade empresarial nada mais é do que a habilidade que as 
organizações têm de mudarem, de inovar, de fazer algo diferente ou de se adaptarem às novas 
exigências. 
 Martins (1997) aduz ainda que o problema da burocracia, enquanto fenômeno ligado 
ao poder, diz respeito a uma organização burocrática típica. Entretanto, não há organização 
burocrática típica (pura), senão aquela que é baseada, de uma forma bastante flexível no que 
se refere à sua morfologia, num sistema formal-impessoal. 
Apesar dessa flexibilidade que opera dentro da racionalidade humana e dentro dos 
limites de um meio ambiente psicológico, este ambiente impõe ao indivíduo, a partir de 
pressupostos dados, uma seleção dos fatores sobre os quais deve basear suas decisões, como 
pode ser visto na organização burocrática (SILVEIRA, 2008). 
 No contexto das organizações burocráticas a racionalidade exige que o indivíduo 
ajuste seu comportamento a um sistema integrado para a sua tomada de decisão, através de 
uma visão panorâmica das alternativas comportamentais disponíveis, da consideração do 
conjunto de consequências relacionadas às alternativas e, da escolha de uma alternativa entre 
as disponíveis (SILVEIRA, 2008). Logo, se verificam possibilidades de ação inodora dos 
agentes burocratas dentre as alternativas apresentadas no processo decisório. 
 Paes de Paula (2002) completa essa reflexão ao analisar que a capacidade de inovação 
é exigência no mundo atual. Porém, como previu Weber, nas organizações burocráticas não se 
espera que a ação criadora seja uma conduta espontânea, mas uma regra de comportamento. 
Segundo a autora se antes o ethos burocrático parecia incompatível com a inventividade 
humana, atualmente a criação é apenas mais um comportamento desejável e uma atividade 
estereotipada. 
No início do século, Weber verificou que o sucesso da organização burocrática como 
modelo organizativo se devia principalmente à sua superioridade técnica: ela possibilitava a 
maior aceleração possível do tempo de reação da administração diante das situações dadas em 
cada momento. (PAES DE PAULA, 2002). Entretanto, para atender às demandas do mundo 
atual, percebe-se a existência de uma burocracia flexível capaz de dialogar com a inovação. 
Os primeiros passos dessa burocracia foram os programas de reengenharia, o 
downsizing, a terceirização, a flexibilização das contratações; todos realizados sob a 
argumentação de que era necessário “desburocratizar” a empresa, tornando-a mais ágil e 
competitiva, mais flexível às demandas do mercado (PAES DE PAULA, 2002). Todavia não 
existe essa “desburocratização” e sim, o reconhecimento de uma burocracia capaz de 
“conviver” com uma estrutura mais flexível e inovadora: 
 
 No contexto do capitalismo monopolista, Weber reconhecia que, instituir 
competências, poderes de mando, meios coativos e hierarquias rígidas, bem como 
 
7 
 
estabelecer ou pactuar regras gerais mais ou menos fixas e abrangentes, era a melhor 
maneira de organizar a empresa, torná-la mais reativa às demandas ambientais e de 
controlar o comportamento dos funcionários. No entanto, com o advento do 
capitalismo flexível, a velocidade e variabilidade dos acontecimentos aumentou de 
tal modo que estas características já não são capazes de garantir a mesma 
superioridade técnica. Desse modo, a organização burocrática vem sofrendo uma 
grande transmutação, onde toda a rigidez está sendo substituída pela flexibilidade 
(PAES DE PAULA, 2002). 
 
Fala-se aqui em uma mudança de uma burocracia rígida, para uma burocracia mais 
flexível. Todavia não se deixa de falar em um sistema racional-burocrático. Prestes Mota 
(2001) reforça essa ideia ao afirmar que a burocracia adapta-se às condições da época, 
tornando-se mais flexível para atender às demandas mais recentes da tecnologia e do 
mercado. Segundo o autor, a burocracia adaptou-se aos novos tempos, tornando-se mais 
flexível para fazer face às mudanças na tecnologia e no mercado, aperfeiçoando e criando 
instrumentos de controle e tornando-se um aparelho ideológico de dominação na sociedade 
extremamente sofisticado e originando a “burocracia flexível”. 
Nas burocracias, até mesmo as competências estão sendo flexibilizadas e variam de 
acordo com as necessidades da empresa (PAES DE PAULA, 2002). Assim, como a burocracia 
não desfruta de estatuto político que a capacite à universalidade de empreendimento como 
portadora de um projeto, entretanto, em determinadas conjunturas, poderia adquirir certa 
‘autonomia política’ e motivação que, nessas condições, seriam direcionadas num dado 
sentido. (BARIANI, 2010) 
 E, ainda que considerássemos a burocracia apenas associada à rigidez, Tidd, Bessant e 
Pavitt (2008) analisam que a inovação é um processo comum a todas as empresas, mesmo 
aquelas que têm estruturas mais rígidas. Ademais, a padronização de procedimentos e 
processos é uma das características das organizações inovadoras. Quanto maior a 
padronização das regras e tarefas necessárias para o desenvolvimento da inovação, maior a 
eficiência percebida com a inovação (BARBIERI et al, 2003). 
Conforme Bariani (2010), a burocracia estaria circunscrita tanto no âmbito da 
racionalidade e dos negócios rotineiros das organizações, quanto alijada da esfera da criação. 
Nesse contexto Paes de Paula (2002) relata ainda que segundo Weber a internalização das 
normas é a tendência natural de toda burocracia, pois, nas organizações burocráticas, a 
disciplina e a disposição humana em observar regras e regulamentos habituais são muito mais 
importantes que do qualquer regulamentação escrita. 
Lefort (1979) observa ainda, que nas burocracias, nos domínios das organizações, as 
instancias inferiores reportam-se a seus superiores no cuidado de tomar as iniciativas e 
resolver as dificuldades, enquanto que estes últimos esperam que seus subordinados deem, no 
nível dos casos particulares, respostas que se ocultam no nive1 de generalidade onde e1es as 
concebem. Vê-se que os agentes da burocracia agem com certo nível de discricionariedade, 
dentro dos limites estabelecidos pelas normas e regulamentos, porém com a liberdade de ação. 
Nesse contexto, Oliveira (2012) traz a reflexão no campo da burocracia pública que os 
agentes administrativos desfrutam de ampla autonomia na decisão sobre quem serão os 
beneficiados e os punidos pelo governo, ou seja, eles não apenas executam as políticas 
públicas determinadas pelas normas, eles fazem também a política. 
Weber (1999) ao definir as características da burocracia, de certa forma, também 
previu essa pequena liberdade de atuação aos funcionários, ao afirmar que os empregados são 
escolhidos por seus títulos e seus méritos, entretanto seus conhecimentos não devem limitar-
se às suas especialidades. Verifica-se aqui a exigência de uma visão mais ampla dos 
funcionários que permita a visualização de outras características e conhecimentos além dos 
exigidos para o cargo. 
 
8 
 
Desse modo, todos os membros de uma organização são portadores das regras 
implícitas de comportamento (PAES DE PAULA, 2002) e ainda criam alternativas com base 
na ação diária e frente a regras estabelecidas dos superiores. É nesse raio de ação que se pode 
claramente se desenvolver os processos de inovação. 
Contudo, para Weber, um dos ideais da burocracia é transformar a atividade criativa do 
funcionário em uma norma de comportamento, de modo que ela seja utilizada e dedicada 
exclusivamente para fins objetivos (PAES DE PAULA, 2002). Logo, é possível que nas 
estruturas burocráticas seja possível a legitimação, normatização e regulamentação das 
atitudes inovadoras. 
 
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 
A proposta essencial contida nesse artigo é a possibilidade e efetiva existência do 
convívio entre burocracia e inovação, sendo que a inovaçãoé, em verdade, um instrumento 
que pode ser utilizado dentro de estruturas. As estruturas burocráticas, numa releitura de 
Weber, podem sim, evoluir em direção a um modelo organizacional estável, diante da 
existência de regras estruturais, mas também inovador, uma vez que não existe, em nosso 
tempo, a possibilidade de burocracia pura. Sequer nas estruturas organizacionais gigantes e/ou 
rígidas. 
Esse artigo traz consigo ao final, um questionamento de grande importância. No 
início, mostramos como a autoridade racional-legal fornece o fundamento de legitimidade da 
burocracia no modelo tradicional Weberiano. No caso de um modelo burocrático inovador, 
qual seria o fundamento de legitimidade? A resposta que encontramos, ainda que sem maior 
aprofundamento por meio da pesquisa, nos indica que a possibilidade de inovação nos 
modelos burocráticos se baseia na releitura da legitimação do processo, que seja mais limitada 
dentro das estruturas, mais horizontais que verticalizadas, com vistas a dinamizar os processos 
produtivos. É o que podemos reconhecer, por exemplo, em organizações burocráticas 
modernas. 
Mas há de se ressaltar que, assim como não é possível uma organização burocrática 
pura, também não é possível promover o diálogo entre estrutura burocrática e inovação com 
bases na dinamização de processos por meio, exclusivamente, da autoridade carismática e 
delegadora. Há ainda, a necessidade da normatização, a qual se baseia na autoridade racional-
legal. 
Conclui-se, preliminarmente, que é possível visualizar a ideia de uma organização 
burocrática, capaz de dialogar com as inovações exigidas no mundo real atual e que seja 
capaz de combinar os requisitos de normatividade e autonomia, aprendizagem e flexibilidade, 
racionalidade e confiança. A princípio essa dicotomia não parece ser viável, porém é uma 
exigência latente que não pode ser ignorada. 
Para isso há que buscar os novos padrões de legitimidade para a burocracia, 
compreendendo como se dão os processos de institucionalização atual das mudanças, das 
inovações, quais são as dinâmicas de liderança, motivação, comprometimento e trabalho em 
grupo. Elementos que antes eram periféricos no modelo burocrático tradicional, nessa 
releitura, que engloba a burocracia e a inovação, se tornam aspectos centrais para a evolução 
dos estudos organizacionais. 
 
6. REFERÊNCIAS 
 
ARAÚJO, G. C.; BUENO, M. P.; SOUSA, A. A.; MENDONÇA, P.S.M. Burocracia light: 
eficiência e flexibilidade. IX SEMEAD Administração no Contexto Internacional. FEA/USP, 
2006. 
 
 
9 
 
BORBA, J. Os dilemas da teoria política contemporânea no conflito entre burocracia e 
democracia. Revista de Ciências Humanas, Florianópolis, Edição Especial Temática. p.61-
82, 1999 
 
BARAÑANO, A.M., Gestão da inovação tecnológica: estudo de cinco PMEs portuguesas. 
Revista Brasileira de Inovação, v.4, n.1,jan/jun, 2005 
 
BARIANI, E.. O longo caminho: Guerreiro Ramos e a sociologia da administração antes de 
a nova ciência das organizações. Revista O&S - Salvador, v.17 - n.52, p. 17-28 - Jan/Mar, 
2010 
 
DAMANPOUR, F. Organizational Innovation: A meta-analysis of effects of determinants and 
moderators. Academy of Management Journal, n. 34, v. 3, 1991. 
 
FARIA, J. H.; MENEGHETTI, F. K. (Sem) saber e (com) poder nos estudos organizacionais. 
Cadernos EBAPE, v. 8, n. 1, p. 38-52, mar., 2010. 
 
LEFORT, C. "O que é Burocracia". In: Fernando Henrique Cardoso e Carlos Estevam 
Martins: Política e Sociedade V.1 pp.148:159. São Paulo: Cia Ed. Nacional, 1979. 
 
MARTINS, H. F. Burocracia e a revolução gerencial - a persistência da dicotomia entre 
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