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Guia elementar sobre como fazer uma monografia jurídica

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Guia elementar sobre como fazer 
uma monografia jurídica 
Por Rafael Tomaz de Oliveira 
Para muitos acadêmicos, a confecção e a apresentação do tal trabalho de 
curso (TC), representa o momento de maior angústia e sofrimento 
vivenciado durante a faculdade de Direito. Algumas das vítimas desse 
“abalo psíquico” acabam optando por contornar a responsabilidade oriunda 
da realização de tal trabalho e tomam o caminho, sempre arriscado, das 
pequenas fraudes (toleradas por muitos, apontadas por poucos) 
consubstanciadas nos atos de compra de trabalhos prontos, colagens de 
textos encontrados na internet e um sem número de plágios, desde parciais 
até totais. 
Esta coluna tem a finalidade de alertar os incautos para que não permitam 
que a situação chegue a este nível de drama pessoal. Claro que existe 
aquele contingente de pessoas que recorrem aos subterfúgios aludidos no 
parágrafo acima simplesmente por preguiça. Para estes casos, é de bom 
alvitre já avisar, o que será dito aqui não será nenhum pouco útil ou 
alentador. A redação da monografia jurídica é sempre algo difícil, 
trabalhoso e, nalguns casos, doloroso (existe um clichê para mencionar a 
“dor” que sentimos quando precisamos redigir um trabalho científico: 
“parto de ideias”). Quanto a isso, desconheço qualquer receita que possa 
encurtar caminhos ou facilitar as coisas. 
Porém, existem algumas premissas básicas de organização do trabalho de 
pesquisa que, se devidamente aplicadas, podem remediar o aumento 
exponencial da ansiedade, diminuindo os níveis de angustia e sofrimento 
no momento de enfrentar o seu TC. Este meu texto, então, tem um 
destinatário com endereço certo: você, acadêmico de graduação em direito, 
que não tem a mínima ideia de como organizar seu tempo e o seu material 
de pesquisa para redigir uma boa e honesta monografia. Não estou 
preocupado com aqueles que estão adiantados em seus estudos e que 
precisam enfrentar outros dilemas (dissertação, tese, livros, etc..). Estes, 
provavelmente, não vão encontrar aqui nenhum elemento novo. Todavia, 
você, professor, percebendo neste pequeno opúsculo alguma utilidade para 
os seus orientandos de graduação, será portador de minha gratidão, no caso 
de recomendá-lo aos seus alunos. 
Cabe registrar, ainda, que programei essa análise para ocupar o espaço de 
duas colunas. Na de hoje, cuidarei de apresentar algumas ideias básicas 
relativas a gestão da pesquisa, estando mais diretamente ligada a aspectos 
organizacionais que envolvem tempo, escolha do tema e sua delimitação e, 
por fim, método e materiais. 
Em minha próxima participação neste Diário de Classe, abordarei questões 
que me parecem significativas no que diz respeito ao fichamento do 
material selecionado, à estrutura do trabalho e à sua redação. Alguns textos 
são importantes de serem lidos em conjunto com este. No caso, a coluna de 
Lenio Streck sobre o protótipo do estudante de direito ideal (clique aqui 
para ler) e outros dois textos meus sobre a responsabilidade do estudante de 
direito diante de sua própria formação (clique aqui e aqui para ler). 
Organização do tempo 
Não se deixe enganar pelos elementos curriculares e seus estreitamentos 
institucionais. No caso do TC, a maioria dos currículos escolares, relegam 
o cumprimento dos créditos relativos à sua realização e apresentação para o 
final do curso. O fato de sua faculdade possuir um currículo assim não 
significa que você deverá aguardar até o último ano para dar início à sua 
monografia. 
Ao contrário, é salutar começar a pensar nela antes. No nosso contexto 
atual, o último ano do curso de direito apresenta-se como uma verdadeira 
fábrica de neuroses: a antecipação do exame de ordem; a necessidade de 
comprovação dos créditos relativos às atividades complementares; o 
estágio; nalguns casos, o trabalho... colocar a realização de uma pesquisa e 
a redação de uma monografia para disputar tempo com esse conjunto de 
atividades é um convite aos distúrbios gerados pela ansiedade 
descontrolada. 
Para evitar essa situação, sugiro que a preparação do TC tenha início entre 
as sexta e sétima etapas do curso. Nessa altura, já existem condições de se 
perceber, dentre as diversas questões jurídicas passiveis de figurarem como 
temas de monografias, quais seriam aquelas com as quais se possui maior 
afinidade e que parecem mais instigantes. 
Todavia, aquele que não teve a possibilidade de iniciar o seu planejamento 
de pesquisa durante a metade do curso e encontra-se diante da tarefa de ter 
que fazê-lo em apenas um ano, não está completamente perdido. Apenas 
creio que, neste caso, suas possibilidades estarão reduzidas. Vale dizer, 
quem espera o último ano para começar a pensar na monografia terá que se 
contentar em fazer um trabalho mais modesto. Por exemplo: pesquisa 
empírica, a essa altura (sem nenhum contato prévio com seus métodos 
peculiares) tende a ser um fracasso. Comentarei esse pormenor com mais 
detalhes um pouco adiante. Por enquanto, é importante dizer que, por 
motivos de organização do tempo, a realização de pesquisa empírica sem 
uma adequada atividade preparatória, não será uma boa escolha. Nesse 
caso, sugiro restringir sua pesquisa à velha e boa revisão bibliográfica 
mesmo. 
Por outro lado, o trabalho iniciado no último ano, mesmo que restrito à 
revisão bibliográfica, ficará provavelmente mais limitado do que aquele 
que começou a se preocupar com a monografia (ou com uma iniciação 
científica, o que dá no mesmo) ali pela metade do curso. O pesquisador de 
última hora, muito provavelmente, alienará uma parcela significativa de sua 
autonomia intelectual para o orientador que, nalguns casos limites, pode 
sugerir o tema e a bibliografia que deve ser consultada. Absolutamente sem 
nenhuma contribuição do discente. Essa situação é extremamente 
perniciosa porque, por um lado, o acadêmico perde uma ótima 
oportunidade para desenvolver uma postura mais assertiva, firme e segura. 
Por outro, o orientador também se prejudica, uma vez que essa lógica de 
dominação e castradora da autonomia discente, em nada contribuiu para 
ampliação de sua experiência de pesquisa. 
Escolha e delimitação do tema 
Além de não deixar a elaboração da monografia para o último ano do curso 
(quando terá muito menos tempo para se dedicar a ela), é importante que, 
ao iniciar o seu planejamento, você já tenha se decidido por um tema que 
será objeto de sua pesquisa. 
Neste caso, penso ser extremamente desaconselhável escolher o tema por 
uma questão de afinidade com o possível orientador. Por mais cativante 
que seja o professor e a sua aula, não existe garantia de que, no momento 
de execução da pesquisa, haverá efetivo interesse de sua parte pela temática 
explorada pelo docente. A pesquisa é um ótimo espaço para desenvolver e 
afirmar sua autonomia intelectual. Assuma isto já no instante de definição 
do tema. Nessa medida, o mais adequado é escolher um tema que 
efetivamente produza em você um genuíno interesse. Nós estamos abertos 
para o processo de conhecimento a partir de diversos “sentimentos de 
situação”: tédio, revolta, comoção, paixão etc. Um bom indício para 
perceber qual tema pode lhe interessar, é se auto-observar com relação ao 
tipo de sentimento de situação que a matéria lhe provoca. Pode-se, por 
exemplo, ter o desencadeamento de uma pesquisa sobre a necessidade de 
um conceito mais coerentista de jurisdição, pela revolta que se revela 
diante do caos existente na jurisprudência brasileira; ou da perplexidade 
que é a descoberta da chamada “jurisprudência lotérica”, no interior da qual 
a questão é decida mais pelo sorteio realizado por ocasião da distribuição 
do recurso no tribunal do que, propriamente, pelajustificação dos 
argumentos jurídicos lançados no pedido e na defesa. 
Enfim, tais elementos de nossa realidade jurídica produzem reações 
impactantes em nós. É importante que o tema escolhido para a pesquisa 
possa canalizar a energia que existe no “sentimento de situação” que ele 
nos provoca. 
Por tudo isso, a escolha do orientador deve ser efetuada depois da definição 
do tema, sendo altamente aconselhável que não seja trilhado o caminho 
contrário. 
Dessa constatação decorre outro corolário: tenha sempre presente que quem 
é o responsável imediato pelo trabalho é o seu autor. Portanto, você, 
acadêmico. O orientador não vai (e nem deve) fazer o trabalho por você. A 
função do orientador é servir como um interlocutor privilegiado de seu 
trabalho, discutindo os resultados de sua pesquisa e apontando, conforme o 
caso, os possíveis erros. Ele pode sugerir leituras que venham a descortinar 
novos horizontes para a sua pesquisa. Pode auxiliá-lo na delimitação do seu 
tema e no julgamento da redação de seu texto. Mas há determinadas coisas 
que dependem de um desenvolvimento bastante personalista. 
Este é o caso da delimitação do tema escolhido. O orientador pode discutir 
com você a plausibilidade dos cortes teóricos que a sua pesquisa pretende 
efetuar. Mas o esforço de objetividade na análise do tema deve partir do 
próprio acadêmico. 
Na perspectiva de oferecer algum auxílio, aqui vão algumas sugestões: 
Evite abordagens altamente genéricas. Elas podem ser reveladas pelo título. 
É muito pouco aconselhável (para não dizer errado) que uma monografia 
tenha como título algo como “Da Jurisdição”. Tal título pode levar sua 
monografia em direção ao “paradoxo do cheese-tudo”, assim enunciado: “o 
cheese-tudo é um sanduíche que tem de tudo um pouco (gado, porco, 
frango, embutidos etc.), mas que, ao final, não possui sabor definido de 
nenhuma dessas coisas”. Uma monografia assim, “Da Jurisdição”, pode ter 
tudo sobre o tema e, ao mesmo tempo, chegar à conclusão de nada. O 
resultado final será, apenas, uma amontoado de colagens conceituais que 
produzem, no máximo, um opaco patchwork. 
Para delimitar o tema é importante elaborar um problema a respeito da 
matéria e, ao mesmo tempo, projetar alguma hipótese de solução, a partir 
da compreensão prévia que se tem da esfera temática. Tal hipótese será 
posteriormente testada diante da literatura consultada. 
Neste caso, poderíamos formular o seguinte exemplo: “Jurisdição, 
segurança jurídica e coerência da jurisprudência: uma análise à luz do novo 
CPC”. 
Assim, teríamos como problema a seguinte pergunta: A alta divergência 
jurisprudencial, observada entre órgãos fracionários de um mesmo tribunal, 
prejudica a segurança jurídica? 
A hipótese seria: sim. Por isso o novo CPC estabeleceu mecanismos 
capazes e corrigir tal distorção, quando prescreve a exigência de 
estabilidade, coerência e integridade da jurisprudência. 
Tal hipótese deveria ser testada, à toda evidência, na literatura disponível 
sobre o tema, mas, independentemente disso, teríamos aqui uma proposta 
delimitada de uma tema para uma eventual monografia. 
Métodos e materiais 
Outro ponto importante a ser definido para um bom planejamento de seu 
TC, diz respeito à decisão sobre o tipo de pesquisa que se pretende efetuar. 
Já foi dito no início deste texto que a pesquisa em direito pode ser de 
revisão bibliográfica ou empírica. A grande maioria dos trabalhos da área 
optam pela revisão bibliográfica que consiste, basicamente, em reunir o 
maior número possível de literatura a respeito do tema escolhido 
produzindo, ao final, um relatório que apresente de forma sistemática os 
resultados obtidos pela leitura e fichamento dos textos, apresentando as 
controvérsias, as diferentes soluções para o mesmo tema e, ao final, 
concluindo com alguma das vias disponíveis (é bem conhecido, mas é 
sempre bom lembrar, nenhuma monografia precisa criar algo novo ou 
pesquisar um tema que nunca ninguém abordou. Tudo isso é mitológico. 
Na verdade uma monografia que investigue um tema com abundante 
material produzido terá melhores condições de ser bem sucedida do que 
outra que esteja “tateando no escuro”, lutando para encontrar migalhas de 
referências). 
Essa verdadeira hegemonia da revisão bibliográfica na pesquisa jurídica já 
rendeu todo tipo de crítica. Não é meu objetivo aqui retratá-las. Sem 
embargo, devo dizer que não tenho nenhuma restrição com relação à 
revisão bibliográfica no Direito, mesmo que seja puramente bibliográfica. 
Pelo contrário, acredito que, quando bem conduzida e executada, tal 
pesquisa produz excelentes resultados. Afinal, estamos falando de uma 
ciência milenar, anterior até às modernas ciências da natureza. Essa 
tradição tem, para mim, uma forte autoridade. 
Por outro lado, também não tenho nenhum tipo de objeção com relação à 
pesquisa empírica. Apenas penso que, quem optar por esse caminho, deve 
levá-lo a sério. É inadmissível o que se lê por aí, inclusive em teses e 
dissertações, a respeito da pesquisa empírica no Direito. 
Já tive contato com trabalhos que pretendiam realizar “pesquisa empírica” 
(sic) de jurisprudência; ou ainda, “pesquisa empírica” (sic) de estudo de 
caso... ! 
Note: se o seu trabalho pretende pesquisar o entendimento sedimentado na 
jurisprudência do STF sobre a hierarquia normativa dos tratados e 
convenções internacionais de direitos humanos, isso não faz dele uma 
pesquisa empírica. Do mesmo modo, um trabalho que pretende analisar o 
problema do depositário infiel diante do direito brasileiro, a partir de 
algumas situações fáticas definidas, mesmo que denomine isso de “estudo 
de caso” (sic), também não está realizando pesquisa empírica nenhuma. 
Pesquisa empírica implica o emprego de técnicas e métodos específicos 
que, em geral, pretendem investigar comportamentos e/ou opiniões. Para 
isso, faz-se necessário uma preparação específica – quase nunca disponível 
nos cursos de direito – que problematiza as ferramentas de “prospecção” 
(como será realizada a pesquisa? Uma observação in loco? Aplicação de 
questionários? Como os dados serão coletados?) e, depois de reunidos os 
dados, qual a forma correta de analisá-los. 
Foi por esse motivo que, no início, alertei aos interessados em proceder à 
pesquisa empírica no direito, que iniciassem necessariamente o seu 
trabalho antes do último ano. Do contrário, haveria muito pouco tempo 
para se informar adequadamente sobre as técnicas e os métodos de 
pesquisa, uma vez que será necessário recorrer a livros de outras áreas do 
conhecimento bem como a professores que possuem este tipo de formação 
(geralmente, alguém que passou por um curso de sociologia, psicologia, 
ciência política, etc.). 
Uma palavra sobre materiais: a revisão bibliográfica que será realizada, 
como já afirmado, precisará cobrir, o máximo possível, a produção 
publicada sobre o tema. Essa reunião de materiais bibliográficos deverá 
incorporar: livros, capítulos de livros, artigos publicados em periódicos, 
textos de sites da internet, jornais, etc. É fundamental, para se fazer um 
bom TC, que suas referencias não estejam concentradas em um único meio 
de publicação. É muito comum encontrar monografias que fazem 
referencia apenas a manuais didáticos. Esse é, sem dúvida nenhuma, o pior 
dos mundos. É impossível levar a sério uma pesquisa que tenha se baseado 
única e exclusivamente nos livros didáticos disponíveis. 
Existem bons livros didáticos, é verdade. Mas uma pesquisa que se 
pretenda razoável precisa investigar o seu âmbito temático com um mínimo 
de profundidade que dificilmente será encontrada nesse tipo de literatura. 
É preciso recorrer, portanto, aos periódicos, que reúnem artigoscientíficos 
sobre temas jurídicos. Hoje em dia, esses periódicos estão indexados pela 
Capes e se submetem a um “controle de qualidade” conhecido como 
Qualis. Assim, uma vez definido o tema, procure o que foi produzido sobre 
ele e publicado nessas revistas ou periódicos. E, para saber qual o grau de 
confiabilidade do material, verifique o status que a revista consultada 
ocupa no sistema Qualis. Em minha próxima coluna, voltarei a falar da 
prospecção do material e de possíveis formas de organizá-lo a partir de 
fichamentos. 
Como palavra final, quero registrar que pressuponho nesta interlocução 
acadêmicos de direito espalhados por este país continental que levam a 
sério a sua formação e possuem o desejo de fazer uma monografia, no 
mínimo, de boa qualidade. Quem vê o TC apenas um indigesto rito de 
passagem, não está incluído em meu “público alvo”. Estes últimos 
funcionam na lógica do fingimento: o aluno finge que fez uma monografia, 
o professor finge que corrigiu e, ao final, tudo não passou de uma enorme 
perda de tempo. Meus sinceros votos para que você, querido leitor, não 
esteja incluído nesta triste estatística. 
Em minha mais recente contribuição para este Diário de Classe, tratei da 
monografia jurídica na perspectiva de estabelecer um guia prático e 
elementar para aqueles que, cursando a graduação em direito, estejam 
envolvidos com a sua realização.[1] Naquela oportunidade, destaquei 
alguns elementos abrangentes que estão pressupostos no desenvolvimento 
de uma boa monografia: a adequada gestão do tempo; a escolha certa do 
tema e sua delimitação e alguma compreensão sobre o método e os 
materiais que servirão de alimento para a pesquisa. 
Na coluna de hoje pretendo ser mais específico. Adianto, ademais, que 
dada a boa repercussão que meu texto anterior encontrou entre os leitores, 
resolvi dedicar mais espaço à exploração deste tema e aumentar o meu 
projeto inicial para redigir, em vez de duas, três colunas sobre esse guia da 
monografia jurídica. Quero falar sobre aspectos mais detalhados ligados à 
execução da pesquisa. O texto de hoje abordará questões pertinentes à 
reunião preliminar do material e à sua catalogação e fichamento. Para a 
próxima oportunidade, ficarão o tratamento de algumas questões ligadas à 
formulação do índice como hipótese de trabalho e a redação do texto final. 
Retomo a discussão no ponto em que a interrompi na coluna anterior, 
enquanto tratava do método e dos materiais da pesquisa jurídica. 
Já disse que, na perspectiva do método, há um escolha decisiva que 
determinará os caminhos que serão percorridos pela pesquisa. Trata-se de 
saber se esta será realizada de forma empírica ou por meio de estrita 
revisão bibliográfica. Sobre a primeira, pouco posso falar, já que, como 
jurista tradicional que sou, minha experiência de pesquisa cinge-se à 
revisão bibliográfica mesmo. Portanto, a partir de agora, restringirei minha 
abordagem a este tipo de pesquisa jurídica. Anoto, todavia, que mesmo 
aqueles que optarem por desenvolver pesquisa empírica, deverão recorrer à 
literatura especializada para avaliar o modo como a pesquisa será realizada 
e, de igual maneira, discutir com esta mesma literatura os resultados 
obtidos. Note-se: no frigir dos ovos, há um material que é o companheiro 
de jornada de todo e qualquer pesquisador: o livro. Considerações sobre 
revisão bibliográfica, portanto, interessam a todos. 
A menção a livro, aqui, pressupõe uma acepção bastante ampla do termo, 
comportando todo tipo de produção bibliográfica. Todavia, já sabemos, 
esta última comporta uma série de espécies, a saber: livros; capítulos de 
livros; teses de doutorado; dissertações de mestrado; artigos de periódicos; 
anais de congressos; textos de jornais e revistas, etc. 
Além deste material, digamos, acadêmico, a pesquisa bibliográfica se 
ocupa também de analisar a produção técnica da área, veiculada em um 
conjunto de materiais que podemos nomear como documentos. Dele fazem 
parte os textos de lei; os acórdãos dos tribunais; as sentenças; os pareceres; 
peças processuais, etc. 
Uma pesquisa adequada que sustentará uma boa monografia deve estar 
bem distribuída em toda essa base de dados. Assim, é altamente não 
recomendável o desenvolvimento de uma pesquisa (?) que fique restrita a 
apenas uma dessas fontes. E isso acontece muito. E, no caso, a pior de 
todas as hipóteses é aquela que aborda, exclusivamente, livros didáticos, 
conhecidos como manuais. Vejam bem: não estou dizendo que os manuais 
estão, a priori, excluídos das fontes de uma boa pesquisa. Disse que a 
pesquisa que se restringe a eles não é boa. Na verdade, não seria sequer 
verdadeira pesquisa, uma vez que, na maioria dos casos, esse tipo de texto 
reproduz sempre a mesma informação, com leves divergências de um autor 
para outro. Assim, o estudante acaba saindo do trabalho do mesmo jeito 
que entrou, ou seja, sem atentar para o alto grau de controvérsia e 
divergência que caracterizam os temas jurídicos. É certo que, às vezes, em 
face da especificidade do tema pesquisado, não será possível encontrar 
materiais disponíveis em todas as fontes citadas acima. Mas isso não exime 
o pesquisador de realizar uma prospecção em algum banco de dados 
disponível até que encontre algo útil. Afinal, o trabalho do pesquisador é... 
pesquisar! E, sim, quem redige uma monografia o faz como resultado de 
um trabalho de pesquisa. Logo, quem desenvolve uma monografia é, 
naquele momento, um pesquisador. 
Enfim, digressões à parte, vai aqui uma primeira assertiva elementar para 
quem precisa fazer uma monografia jurídica: 
Aprenda a usar a biblioteca 
Mesmo com o alto grau de conectividade que vivenciamos atualmente com 
a internet, as bibliotecas continuam sendo uma ferramenta indispensável 
para o pesquisador. Creio que em qualquer área. Sem embargo, para o 
jurista, essa é uma realidade inexorável. Mas, o que fazer com elas – as 
bibliotecas? Bem, a resposta exige considerações que envolvem, 
primeiramente, disponibilidade de tempo para frequentá-las e, de igual 
maneira, uma organização temática que dê objetividade à sua pesquisa. 
Quanto ao primeiro elemento, serei realista. Vamos então pressupor que o 
pesquisador de ocasião tenha uma vida atribulada, dividindo a faculdade 
com outras atividades (trabalho, estágio, etc.). Do mesmo modo, vamos dar 
de barato e assumir que ele deixou o TC para as últimas etapas do curso, 
sendo que terá que fazer um trabalho de tiro-curto, dispondo de 10 meses 
ou menos para realizar a tarefa. Assim, digamos que ele consiga dispor de 
uma hora por dia para frequentar a biblioteca. Penso que um prazo razoável 
para prospectar o material ocupe um período de nove horas. Assim, nosso 
pesquisador hipotético teria reservado uma hora do seu dia durante nove 
dias para realizar uma primeira seleção do material de seu trabalho. 
Mas isso não é tudo: com esse tempo apertado, ele não pode se dar ao luxo 
de ir à biblioteca como que “a passeio”. É necessário otimizar o tempo 
sabendo, de antemão, o que se quer procurar. Vale dizer, é preciso ter claro 
o tema de sua pesquisa. Digamos que este nosso pesquisador tenha 
escolhido o seguinte tema: A modulação de efeitos nas decisões de 
inconstitucionalidade. Neste caso, ele deverá procurar na biblioteca títulos 
relacionados a: teoria do Estado e da constituição; controle de 
constitucionalidade; jurisdição constitucional e processo constitucional. 
Esse é um ponto importante: a pesquisa não atinge apenas aquilo que é o 
seu objeto específico. Ele deve abarcar também temas laterais que, de 
alguma maneira, possam contribuir para elucidar o problema que ela 
pretende enfrentar. De todo modo, essa busca, no maisdas vezes, será feita 
no banco de dados disponível na respectiva biblioteca. Todavia, é bom 
advertir: biblioteconomia não é uma “ciência” exata. Um erro de 
catalogação pode esconder um texto precioso para sua pesquisa. Por isso, 
aconselho fortemente que, além da pesquisa no banco de dados, o 
pesquisador vasculhe as prateleiras correspondentes aos grandes temas 
objeto de consulta. Tenha em mente – e para isso serve o orientador – que 
alguns temas possuem autores de consulta obrigatória. Assim, tendo em 
conta o tema que dei de exemplo acima, são obrigatórias consultas à obra 
de Rui Barbosa, Lúcio Bitencourt, Gomes Canotilho, Jorge Miranda, Paulo 
Bonavides, Gilmar Mendes, Nelson Nery Jr. e Lenio Streck (este último 
referência obrigatória também quando o assunto é hermenêutica, tema 
correlato em se tratando de decisão de inconstitucionalidade), entre tantos 
outros. 
É preciso saber também que, nalguns casos, principalmente em bibliotecas 
maiores, a sessão de periódicos fica separada daquela dedicada aos livros. 
Assim, procure estar informado a esse respeito para poder frequentá-la 
também. Há hipóteses em que a mudança no fator de busca – de livros para 
periódicos – acarreta também a utilização de outro tipo de ferramenta no 
banco de dados. Importante certificar-se disso também. No mais, considero 
absolutamente fundamental que se realize uma prospecção de material de 
pesquisa na sessão de periódicos. No caso de nossa pesquisa simulada, 
poderiam ser encontrados artigos relevantes em periódicos (também 
chamados de revistas) ligados ao direito, em sentido amplo, bem como 
aqueles especificamente dedicados ao direito constitucional e processual, à 
ciência política, entre outros. 
Em casos de universidades que possuem Programas de Pós-Graduação 
stricto senso (Mestrado e Doutorado) em Direito, é comum dedicar-se uma 
sessão específica da biblioteca como repositório dos trabalhos produzidos 
no âmbito desses programas. Nesse caso, pode ser interessante buscar, 
nesses trabalhos, algum elemento para a sua pesquisa. 
Faça uso adequado da internet 
Por certo, não desconheço a realidade de muitas bibliotecas de pequenas 
faculdades espalhadas pelos afastados rincões deste Brasil. Sei que, em 
muitos desses casos, os únicos livros disponíveis são aqueles que os planos 
de ensino das disciplinas curriculares indicam como bibliografia básica. 
Mesmo nesses casos, nem tudo está perdido! Em primeiro lugar, sempre há 
a possibilidade de se dirigir a uma outra universidade que possua um 
acervo bibliográfico melhor. Neste caso, as universidades públicas 
costumam possuir melhores bibliotecas (sem embargo das inúmeras 
excelentes bibliotecas mantidas por universidades privadas). Os gastos com 
a viagem ou o tempo de deslocamento seriam um problema? Bem, sempre 
é possível comprar os livros (neste caso, tudo aquilo que foi dito sobre as 
bibliotecas seria aplicado às livrarias, com a ressalva de que o fator 
periódicos, bem como teses e dissertações, estariam prejudicados). Claro, 
para alguns, essa pode ser uma solução muito dispendiosa. Ainda assim, há 
solução. A internet, evidentemente, não pode ser desconsiderada como 
relevante instrumento de pesquisa. Nesse aspecto, destaco de plano que 
excelentes revistas/periódicos estão hoje atendendo ao formato digital, 
totalmente on line. Atualmente, a Capes disponibiliza um portal 
(webQualis) que registra, por área, os periódicos bem como sua 
correspondente classificação. Sugiro, então, que aqueles que possuem 
dificuldades para realizar pesquisas em bibliotecas façam suas buscas nos 
sites desses respectivos periódicos, dentre os quais posso citar: Novos 
Estudos Jurídicos (Univali); RECHTD (Unisinos); Revista Brasileira de 
Direito (IMED); Revista Paradigma (Unaerp), entre outras. É possível, 
também, ter acesso a alguns conteúdos de outras revistas qualificadas por 
meio do sistema Scielo. Neste último caso, em face de algumas revistas 
estarem disponíveis exclusivamente na forma virtual, recomenda-se que 
todos os pesquisadores procedam a uma busca de material em seus 
respectivos bancos de dados. 
Por fim, no caso do exemplo que aqui estamos trabalhando (modulação de 
efeitos nas decisões de inconstitucionalidade), é fundamental que seja feita 
pesquisa de acórdãos do Supremo Tribunal Federal que realizaram a 
modulação de efeitos. Essa pesquisa, evidentemente, deverá ser feita na 
base de dados de jurisprudência disponível no site do próprio tribunal. Os 
exemplos citados acima fornecem fontes fiáveis de pesquisa. Os demais 
casos de fontes provenientes da internet devem ser utilizados com 
parcimônia. 
Organize o material por meio de fichas bibliográficas 
Depois de reunir todo o material pertinente ao tema com a utilização das 
ferramentas citadas acima, passa-se para uma outra fase da pesquisa que é a 
catalogação e o fichamento dos textos. 
O modo old fashioned de proceder a isso é por meio de manuscritos. Mas 
esse recurso está cada vez mais em desuso. No contexto atual, o 
pesquisador dispõe de ferramentas muito úteis e poderosas fornecidas pela 
informática. Para ficar apenas no conhecido pacote Office, da Microsoft, é 
possível fazer as tais fichas no aplicativo OneNote e, quando necessário, 
importá-las para o Word. Há também um aplicativo para dispositivos 
móveis chamado Evernote que pode ser utilizado para redigir e organizar as 
fichas bibliográficas. Enfim, certamente existem muitos outros sistemas 
disponíveis em nosso agitado mercado cibernético. 
Em todo caso, seja pelo modo old fashioned, seja por meio de ferramentas 
hi-tech, a estrutura das fichas, ao final, será a mesma. A variação atenderá, 
na verdade, a fatores ligados à personalidade de cada pesquisador. De um 
modo geral, tais fichas precisam conter: 
a) os dados catalográficos da referência fichada – Particularmente, 
procuro seguir a seguinte ordem de informações: I – tipo de Referência 
(Livro, Capítulo de livro, Artigo, etc.); II – nome do autor; III – título do 
livro; IV – número de edição da obra; V – local da edição; VI – editora 
responsável pela publicação; VII – ano da edição. 
Se a referência for relativa a capítulo de livro, deve apenas ser acrescido o 
título do capítulo, entre a indicação do nome do autor e do título do livro; e 
o(s) nome(s) do(s) organizador(es), entre o título do livro e o número de 
edição da obra. 
No caso da referência dizer respeito a artigo publicado em periódico, a 
ordem seria a seguinte: II – nome do autor; III – título do artigo; IV – nome 
do periódico; V – dados de identificação da edição (volume, número, 
fascículo, etc.); V – local da publicação; VI – ano da publicação; VII – 
intervalo de páginas correspondentes ao artigo. 
b) conteúdo da ficha bibliográfica – a ficha deve conter os pontos mais 
importantes do texto para os interesses da pesquisa. Desse modo, tudo 
aquilo que provocar algum tipo de ruído no ambiente coberto pela pesquisa 
deve ser reduzido a termo. Isso pode acontecer de diversos modos, v.g., por 
meio da descrição literal de trechos da obra fichada; por meio de paráfrases 
que, no fundo, carregam a ideia trabalhada pelo autor do texto, mas que são 
reproduzidas a partir de enunciados formulados pelo pesquisador; trechos 
de autoria do próprio pesquisador mas que foram resultado de algum 
insight produzido pela leitura da obra. Em todos os casos, deve ser anotado 
o número da página (ou páginas) correspondentes ao evento para que, no 
caso de utilização na redação final do trabalho, possam ser devidamente 
referidas. 
c) existe uma ordem correta para leitura e fichamento dos textos? – não. 
Sugiro, porém, que se inicie o trabalho por textos que forneçam uma visão 
o maisampla possível do campo temático abordado pela pesquisa, para 
depois enfrentar os textos mais específicos e verticais sobre o objeto 
pesquisado. Isso porque uma antecipação provisória do “todo” melhora a 
compreensão que temos das “partes”. 
Mas nada impede que a ordem seja invertida. Ou mesmo que se trabalhe 
em mais de uma ficha ao mesmo tempo. Como afirma Umberto Eco, 
existem pessoas monocrônicas e policrônicas. As primeiras caracterizam-
se por só conseguirem trabalhar bem quando começam e acabam uma coisa 
por vez; as segundas, pelo contrário, trabalham melhor quando conduzem 
várias atividades concomitantemente. O caso, portanto, é uma questão de 
autoconhecimento. Cabe ao próprio pesquisador perceber qual a melhor 
forma de proceder (cabe registrar, com o mesmo Eco, que monocrônicos 
não são piores do que policrônicos e vice-versa. Há entre eles apenas uma 
diferença). 
Um fato fora de dúvida, todavia, diz respeito à utilidade da ficha para a 
organização da pesquisa. Em conclusão: quem quiser diminuir os 
problemas para a redação definitiva da monografia deve, obrigatoriamente, 
proceder ao fichamento da bibliografia. 
d) é possível incluir alguma referencia posterior à reunião do material? – 
sim. Na verdade, é até mesmo salutar que, durante a leitura dos textos 
selecionados, o pesquisador encontre novas referências que podem servir 
de fonte para a sua pesquisa. Assim, a qualquer momento, antes da entrega 
definitiva do trabalho, pode ser a ele acoplado algum novo texto ou 
informação. Nesse caso, porém, faz-se necessário um alerta: para aqueles 
que dispõem de pouco tempo para fazer o trabalho, a melhor alternativa 
talvez seja se concentrar na leitura daquilo que conseguiu reunir e, apenas 
em casos excepcionais (como a descoberta posterior de um texto 
absolutamente fundamental para validação de alguma hipótese), deve-se 
incluir novas leituras em seu cronograma de atividades. Melhor conhecer 
bem a literatura previamente selecionada do que ficar saltando de texto em 
texto em busca do santo graal e, no final, ficar inseguro para escrever e se 
posicionar na redação final do trabalho. 
Esse é um daqueles momentos em que aqueles que se programaram 
melhor, antecipando as atividades de pesquisa para a realização da 
monografia, levam alguma vantagem: o leque de referencias será, no mais 
das vezes, muito maior. 
No caso do nosso pesquisador de ocasião que dispunha de menos de dez 
meses para realizar o seu trabalho, tudo o que foi dito aqui – da prospecção 
do material em bibliotecas e na internet ao fichamento das referências 
selecionadas – deve consumir entre quatro ou cinco meses de seu 
cronograma. Os cinco restantes ficam por conta da elaboração do índice 
como hipótese de trabalho e das redações provisória e definitiva. Mas esse 
é um tema para a próxima coluna. 
Uma última anotação 
Tudo o que aqui foi dito pretende esclarecer uma coisa: o conceito “chave” 
para a realização de uma boa monografia é organização. Claro que estou 
pressupondo aqui dedicação e vontade de descobrir cada vez mais coisas 
sobre o tema pesquisado. Mas, de nada adianta cultivar uma “sede por 
conhecimento” se não houver organização. As expectativas sempre serão 
altas mas os resultados, no mais das vezes, frustrantes. Por certo, 
fichamentos organizados não são a garantia de um trabalho brilhante. Mas 
ajudam bastante na consecução deste desiderato. Porém, não descarto a 
possibilidade de excelentes TC serem produzidos sem que tais assertivas 
sejam necessariamente seguidas. Maquiavel dizia que o sucesso e o 
fracasso poderiam ser explicados por meio dos conceitos de fortuna e virtú. 
Fortuna diz respeito ao acaso; à oportunidade; às coisas, enfim, produto da 
sorte ou do azar; virtú refere-se à concentração das energias para atingir um 
objetivo. Diz respeito, portanto, ao trabalho árduo de preparação. O pai da 
moderna ciência política advertia o seu Príncipe de que não é só de virtú 
que se faz um grande governante. Há que se ter também fortuna e saber 
aproveitá-la quando ela aparece. Mas, o que seria da fortuna pura, sem 
virtú? Alguém aí estaria disposto a arriscar? 
 
[1] Registre-se que minha inspiração, por assim dizer, para esta série de 
textos referentes à monografia jurídica vem de Umberto Eco e do seu 
Como se faz uma tese (24a. ed. São Paulo: Perspectiva, 2012). Todavia, 
embora seja possível encontrar reminiscências do texto de Eco nestes meus 
artigos, procurei adaptar uma série de elementos às especificidades do 
Direito, especialmente em face do modo como a produção do 
conhecimento jurídico vem sendo agenciada na dura realidade das mais de 
1.200 faculdades brasileiras. De todo modo, remeto desde logo o leitor ao 
livro citado, inclusive para um maior aprofundamento com relação às 
matérias aqui tratadas. 
 
Depois de apontar alguns elementos a respeito da organização da pesquisa 
e gestão do tempo (aqui) e de explorar, em linhas gerais, questões ligadas à 
execução da pesquisa (aqui), encerro, com a coluna de hoje, a série sobre o 
guia prático e elementar da monografia jurídica. 
Minha intenção agora é tecer algumas considerações sobre o plano de 
trabalho e a redação da pesquisa. 
Contudo, antes de seguir adiante, é importante destacar pelo menos cinco 
aspectos essenciais que abordamos anteriormente com mais detalhes: 1) a 
realização de uma monografia exige planejamento prévio. Por isso, é 
desejável que essa atividade seja iniciada antes do período curricular que a 
faculdade reserva para a execução obrigatória do trabalho; 2) é necessário 
que o pesquisador familiarize-se com a biblioteca e dela faça uso constante. 
Caso o acervo da biblioteca de sua faculdade seja insuficiente para as 
pretensões de sua pesquisa, procure outras em localidades próximas; 3) 
aprenda a usar corretamente a internet realizando pesquisas em periódicos 
qualificados (webQualis) bem como nos portais de divulgação do 
conhecimento científico ( SciELO e o portal de periódicos da CAPES), 
entre outras referências que já indiquei na parte II desta série; 4) faça uso 
parcimonioso de livros didáticos (manuais), utilizando-se, 
preferencialmente, daqueles livros que tratam de forma mais aprofundada 
sobre o tema objeto de sua pesquisa; 5) catalogue e efetue fichamentos do 
material selecionado para otimizar sua atividade de leitura e facilitar sua 
posterior utilização na redação da monografia. 
Ademais, pressuponho aqui que o trabalho que aguarda para ser redigido 
cuidou de fazer uma revisão bibliográfica e não pesquisa empírica. 
Todavia, mesmo neste último caso, aquilo que aqui será desenvolvido pode 
ser de alguma utilidade. 
Plano de trabalho 
Sobre o plano de trabalho, penso serem valiosas as contribuições de 
Umberto Eco.[1] Diz ele que a primeira coisa a se fazer quando se começa 
a trabalhar em uma tese (para o nosso caso, monografia) é escrever o título, 
a introdução e o índice. Não vou reprisar a discussão por ele entabulada. 
Apenas quero invocar aquilo que aparece como um comando prático para a 
elaboração do referido plano. 
O título, neste caso, não é aquele que você formulou para registrar na 
burocracia acadêmica da secretaria do curso ou do projeto de iniciação 
científica. Trata-se do título definitivo que servirá de pórtico para o seu 
trabalho. Neste ponto, é importante esclarecer um mal entendido. Muitos 
alunos pensam que o título registrado é definitivo e não pode ser alterado. 
Geralmente, existe uma confusão entre título e tema. Este último, 
realmente, convém não ser alterado com a pesquisa já em curso. O 
primeiro, todavia, deve poder ser alterado a qualquer momento antes do 
depósito definitivo do trabalho. O título de registro, esboçadono início da 
pesquisa, costuma ser bastante aberto e genérico. No caso do exemplo que 
apresentei na segunda parte desta série, tínhamos a simulação de um 
trabalho com o seguinte título: A Modulação de Efeitos nas Decisões de 
Inconstitucionalidade. Para o título definitivo, todavia, é conveniente que 
haja uma maior especificação sobre aquilo que a pesquisa pretendeu 
atingir. 
Na maioria dos casos, isso é alcançado com a formulação de um subtítulo. 
Como afirma Umberto Eco, “um bom título já é um projeto”.[2] Por isso, 
não tenha medo de títulos extensos. No caso do nosso exemplo, poderíamos 
formular isso da seguinte maneira: A Modulação de Efeitos nas Decisões 
de Inconstitucionalidade: entre a segurança jurídica e os riscos de 
relativização da força normativa da Constituição. Nota-se, de plano, que 
neste último caso, além de já se projetar alguma ideia a respeito daquilo 
que o leitor encontrará no texto, apresenta-se igualmente a delimitação 
realizada em torno do tema. Importante perceber, também, que a 
formulação de subtítulo acaba por conter, implicitamente, um 
questionamento. Questionamento este que pode ser considerado o problema 
enfrentado pela pesquisa. Neste caso, ele seria o seguinte: o exercício da 
modulação de efeitos nas decisões de inconstitucionalidade, ao mesmo 
tempo que possibilita em alguns casos garantir maior segurança jurídica, 
não acaba por gerar um déficit de força normativa da Constituição? A esta 
pergunta o texto deverá dar resposta. 
A partir daí podemos esboçar um índice com os capítulos necessários para 
responder adequadamente a esta questão. Para facilitar ainda mais a 
elaboração de tal índice, podemos imaginar uma hipótese sintética de 
resposta que será uma espécie de guia da redação a ser realizada. Neste 
caso, já consultamos uma série de obras e artigos sobre o tema. Temos 
diante de nós os trabalhos de Konrad Hesse, Lenio Streck, Rui Medeiros, 
Canotilho, Jorge Miranda, Gilmar Mendes, Nelson Nery Jr., Georges 
Abboud, entre outros, e sabemos que o direito constitucional 
contemporâneo, inspirado nas tradições austríaca e alemã, convive com 
uma solução que compatibiliza o exercício desse tipo de técnica decisória 
com a ideia de força normativa da Constituição. Sabemos que, embora não 
fulmine de nulidade o ato inconstitucional desde a sua origem, os casos de 
limitação de efeitos são específicos, dependem de decisão fundamentada do 
tribunal e, além de tudo isso, possuem uma eficácia simbólica uma vez que 
se materializa em uma decisão do guardião da Constituição que atesta a 
inépcia do legislativo ou do governo no cumprimento das determinações 
constitucionais. Assim, neste esboço elementar de resposta, afirmaríamos 
que não há déficit de força normativa da Constituição na utilização da 
modulação de efeitos nas estritas hipóteses nas quais ela pode ser realizada. 
Como poderíamos desdobrar essa resposta em termos de estruturação dos 
capítulos? Neste caso, teríamos duas possibilidades: a primeira, mais 
simples, poderia ser desdobrada em três; a segunda, mais complexa e ideal, 
comportaria quatro capítulos. 
A mais simples: no primeiro capítulo descreveríamos o estado da arte do 
problema posto. Assim, haveria que se delimitar o significado da ideia de 
força normativa da Constituição e os elementos que a impulsionaram a 
partir do segundo pós-guerra. Ao mesmo tempo, neste primeiro capítulo, 
poderia ser abordada a origem da modulação de efeitos e as peculiaridades 
de seu desenvolvimento no direito austríaco e alemão, até chegar à 
descrição de como tais modelos inspiraram o direito brasileiro a ponto de 
culminar na redação do artigo 27 da Lei 9.868/99. Um segundo capítulo 
aglutinaria as posições refratárias à modulação e as razões pelas quais se 
defende/defendia, no limite, a inconstitucionalidade do referido artigo 27. 
Por fim, em um terceiro capítulo, cuidaríamos de afirmar as razões pelas 
quais a hipótese formulada acima deve ser considerada verdadeira e a 
melhor para solucionar o problema posto, buscando respaldo para tanto na 
bibliografia consultada durante a pesquisa. 
A hipótese mais complexa e ideal: a estrutura de capítulos seria 
basicamente a mesma, introduzindo-se, apenas, um capítulo intermediário 
entre o segundo e o terceiro (que, nesta versão, passaria a ser quarto) para 
dar conta do referencial teórico que serviu de base para a análise realizada. 
Referencial teórico, teoria base, quadro referencial, etc. são todas 
expressões que mencionam o ambiente conceitual e metodológico que 
ofereceu escólio para a sua pesquisa. Pode haver alguma controvérsia 
metodológica para se saber se ele deveria vir antes do segundo capítulo ou 
antes do terceiro, tal qual propus aqui. Penso que ambas seriam boas 
opções. Prefiro, contudo, a segunda, simplesmente pelo fato de que, na 
minha configuração, haveria uma relação umbilical entre o referencial 
teórico e o capítulo que expõe e defende a verdadeira hipótese de trabalho 
da pesquisa. Funcionaria, então, como uma espécie de preparação para 
aquilo que seria construído no capítulo seguinte (algo como “as razões das 
razões”). 
É de bom alvitre advertir que essa estrutura passa bem longe daquela 
observada naquilo que podemos nomear como monografia jurídica 
Standard. Nesse caso, toda a problematicidade que fica evidente na 
estrutura sugerida acima, desapareceria a partir de uma tentativa de 
mimetizar os índices de manuais e doutrinas sobre o tema. Assim, de forma 
geral, teríamos a seguinte estrutura de capítulos: 1) Evolução histórica (sic) 
da modulação de efeitos; 2) Conceito de modulação de efeitos no direito 
brasileiro; 3) Posições contrárias à modulação de efeitos; 4) posições 
favoráveis; 5) a modulação e o STF... e por aí vai. Há trabalhos que 
chegam a ter sete ou oito capítulos com caráter meramente descritivo e que 
acabam sendo, no máximo, compêndios da bibliografia consultada, de 
parco caráter científico. Muitas coisas poderiam ser ditas contra este 
modelo. Seria provavelmente necessário uma coluna específica só para 
tratar disso. Como minha intenção atual é mais construtiva do que 
propriamente desconstrutiva, vou chamar atenção para apenas um único 
aspecto: o desastre que é o tal capítulo sobre “evolução histórica” (sic). 
Meu amigo Henderson Fürst já tratou disso com muito bom humor (aqui), 
mencionando sarcasticamente a total falta de consciência que os autores de 
tais trabalhos demonstram para com o tipo de historiografia que se está a 
(tentar) realizar. Ademais, associar “evolução” e “história”, por si só, já 
representa um problema teórico gigantesco. A despeito disso, a grande 
maioria das monografias que já tive a oportunidade de examinar, diria que 
em torno de 90%, continham o famigerado capítulo. E todas faziam a 
mesma coisa: elencavam um amontoado duvidoso de eventos, descritos 
numa perspectiva linear, e quase sempre associados à edição de diplomas 
legislativos relativos à matéria objeto de análise. Isto como se a história 
pudesse ser resumida e encalacrada em simples documentos. Explorar a 
sociedade, a política e as condições culturais associadas ao problema? Nem 
pensar! 
Em suma, optar por iniciar um trabalho com um capítulo com essa 
formatação não é apenas um erro como também uma inutilidade: caso fosse 
retirado do texto, não faria nenhuma diferença para o resultado final, ou 
seja, para responder à pergunta implícita no título. Aliás, esse é um bom 
teste para saber se o capitulo ou item que você pretende escrever em sua 
monografia é pertinente. Faça o seguinte: escreva toda a estrutura em um 
papel e depois efetue uma leitura realizando um autoquestionamento 
capítulo por capítulo, itempor item: no caso deste capítulo ou item não 
existir, meu problema continuaria bem solucionado? Se a resposta for sim, 
risque-o de seus planos! 
Por fim, depois de escrever a estrutura de capítulos ou índice, faça uma 
introdução provisória. Sei que existem dicas metodológicas por aí que 
aconselham escrever a introdução por último. E, por certo, esta introdução 
inicial não será aquela que guarnecerá definitivamente o trabalho. Por isso 
estou deixando claro que ela é uma introdução provisória. Ao final ela terá 
que passar por uma revisão e, fatalmente, será reescrita. Todavia, penso que 
sua antecipação constitui-se em uma ferramenta metodológica poderosa. 
Nela você deve escrever aquilo quer fazer. O exercício consiste em 
escrever para justificar para si mesmo que a abordagem escolhida é a 
melhor para conformar o tema e oferecer uma resposta ao problema. Nesse 
ponto, é desejável que você ofereça um resumo para cada capítulo, 
contendo aquilo que você pretende desenvolver em cada um deles. É 
preciso, também, justificar a importância de sua escolha por cada um deles 
e da forma de abordagem proposta para o desenvolvimento de sua hipótese. 
Esse método é ótimo não apenas para tornar o trabalho mais claro para 
você mesmo, como também para que o orientador possa perceber de forma 
mais objetiva o caminho que será tomado para o seu texto. E essa é a hora 
de você acionar o orientador e conseguir um melhor retorno. Apresentar 
simplesmente o texto final não propicia uma interlocução a respeito do 
desenvolvimento do trabalho. Afinal, o texto já está semipronto. Por outro 
lado, ficar discutindo sem que haja uma base escrita para reflexão parece-
me algo muito improfícuo. Por isso, estes textos preparatórios tendem a 
render ótimos frutos, potencializando uma “exploração positiva” do 
orientador. 
Alguns apontamentos sobre a redação propriamente dita 
Quanto à redação propriamente dita, vou dizer pouco. Creio que, neste 
quesito, estamos diante da esfera mais íntima de alguém que se coloca 
como escritor: o seu texto. A escrita é uma das marcas indeléveis da 
individualidade. Portanto, não vou aqui discutir regras para a conformação 
de seu estilo. Vou simplesmente exarar a minha fundamentada posição 
sobre o assunto e você, meu querido leitor, poderá dela fazer uso como 
considerar mais conveniente. Inclusive desconsiderando-a. Afinal, como 
dizia Riobaldo, o filósofo do Sertão: “pão ou pães é questão de opiniães”. 
De todo modo, tenho preferência pela seguinte configuração: 
Escreve-se uma monografia não para o orientador nem tampouco para o 
examinador. Escreve-se para o Leitor, este Outro desconhecido. Dessa 
maneira seu texto deve conter elementos elucidativos que sejam capazes de 
convencer qualquer leitor minimamente iniciado na área envolvida pelo seu 
tema. Já ouvi gente de muito prestígio acadêmico e de notável proficiência 
afirmar que o “Leitor ideal” (que deve ser imaginado como interlocutor no 
momento da escrita) seria aquele tipo tábula rasa, que não possui nenhuma 
informação prévia sobre o tema tratado e, ainda assim, o seu texto deve ser 
de tal modo que possa ser por ele compreendido. Não gosto desta hipótese. 
Não por me sentir um aristocrata do conhecimento. Longe disso. Apenas 
me parece que, em se tratando de um texto científico, a ideia do leitor 
tábula rasa é impossível. Uma iniciação mínima faz-se necessária para a 
aproximação com o texto. Portanto, penso que a regra é: seja claro o 
suficiente para que qualquer leitor com mínima iniciação na sua área 
temática possa compreender o seu texto. 
A postura adotada no texto deve ser, preferencialmente, impessoal. 
Escrever em primeira pessoa está fora de cogitação. Não fica bem para um 
texto científico que é sempre fruto de uma produção coletiva, que o 
ultrapassa. Você pode até se achar o “dono da ideia” mas, no fundo, ela é 
projetada a partir do escólio de muitos, resultado das muitas leituras e 
interlocuções que realizou. Existe a opção pelo plural de modéstia (nós 
entendemos que... nossa pesquisa procurou afirmar... etc.). Nada contra. Já 
usei. Não gosto mais. Atualmente, prefiro a impessoalização (esta pesquisa 
analisou... buscou-se demonstrar que... etc.), por parecer-me o mais 
adequado e elegante quando se trata de textos científicos. 
A utilização das citações também é algo que atende certos critérios 
pessoais, de autor para autor. Regra geral, é necessário citar sempre que se 
está a interpretar um autor, indicando a obra interpretada, para que o leitor 
possa confrontar sua interpretação com o texto original e julgar se ela está 
ou não adequada em termos acadêmicos. Também é importante realizar 
citação nos casos em que a posição de um outro autor oferece algum tipo 
de fundamento para aquilo que você está querendo demonstrar. Ouço muito 
por aí aquela regra que diz: “em uma monografia não se pode ‘inovar’”. 
Vou dizer algo sem medo de errar: isso é um mito! Em primeiro lugar, 
porque está baseada em um duvidoso ideal científico de neutralidade, 
altamente questionável (afinal, o que está no trabalho é resultado de uma 
interpretação desenvolvida pelo seu autor. Essa interpretação, por si só, já 
não é algo novo?). Em segundo lugar, porque o caráter inovador do texto 
depende mais da maturidade do autor do que, propriamente, de algum 
estreitamento institucional besta. Se sua pesquisa reuniu condições para 
que você diga algo “novo”, não perca a chance de fazê-lo. Mas, se o fizer, 
assuma as responsabilidades daí decorrentes: o argumento “inovador” 
precisa de um grau de justificação mais profundo e elaborado. É preciso 
oferecer solidamente as razões que sustentam o dito, o que demanda uma 
construção mais penosa do que aquela decorrente da simples reprise ou 
rememoração do que já está assentado. 
Como uma palavra final, encerrando essa série de colunas, gostaria de fazer 
uma profissão de fé nas monografias jurídicas e nos tão maltratados 
Trabalhos de Curso. Há quem diga que eles são figuras que tendem à 
extinção, caso seja derrubada em alguma instância política a sua 
obrigatoriedade. Torço muito para que eles estejam errados. Acredito que a 
experiência do TC é fundamental para a formação do jurista. Não apenas 
pelo fruto direto que ela lhe rende, em termos de conteúdo, mas, também, 
pelos frutos indiretos. A realização adequada de um TC representa uma 
intensa experiência vital. A necessidade de lidar com o orientador, às vezes 
até para chamar sua atenção, a angústia da escrita, o enfrentamento radical 
da tragédia faústica do conhecimento (presente naquela incomoda sensação 
que persegue todo o estudioso: quanto mais se estuda, parece que menos se 
sabe), a dificuldade com a escrita, a dificuldade da defesa, etc.. Ao final, é 
bom saber que demos conta de tudo isso e, nesse momento, somos 
diferentes do que éramos antes. Há varias ocasiões em que a universidade 
propicia uma experiência com esse tipo de tonalidade afetiva. Mas em 
nenhuma delas a marca é tão radical quanto aquela vivenciada na 
realização de uma Iniciação Científica ou de um TC. É importante 
descobrir, por meio da experiência, que pesquisar é jogo que se faz com a 
própria ignorância: na medida em que a atividade avança, tornamo-nos 
menos ignorantes e, ao mesmo tempo, percebemos que aquilo que sabemos 
é ainda muito pouco, perto do que há para se conhecer. 
[1] Umberto Eco. Como se faz uma tese. 24a. ed. São Paulo: Perspectiva, 
2012, passim. 
[2] Umberto Eco. Como se faz uma tese. 24a. ed. São Paulo: Perspectiva, 
2012, p. 82.

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