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PESSOA E PERSONALIDADE

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PESSOA E PERSONALIDADE
Pessoa na Antiguidade Clássica e na Teologia Cristã
Origem: termo grego prosôpon (rosto)  máscara que carregavam os atores
Filologia alexandrina  triplex natura personarum
Jurisprudência romana da época imperial  escravos, mulheres e crianças eram considerados personae alieno juri subjectae, não detinham o senhorio da sua vida, frente às personae sui juris (o patriarca, senhor)
Filosofia antiga  visão monista da realidade
Teologia cristã  conteúdo metafísico ao conceito de pessoa (realidade substantiva) *Trindade, *Encarnação do Verbo, *Imago Dei
Agostinho de Hipona  identificou na alma humana oito analogias da imagem de Deus
Pessoa na Idade Média
Boécio (Sec. V): Persona est naturae rationabilis individua substantia (natureza racional existe como identidade)
Tomás de Aquino (Sec. XIII): Pessoa é subsistens in rationalis natura; substantia prima
Individual – para a filosofia antiga-medieval, individual é indivisível, aquilo que não pode ser dividido sem perda da substancia. 
Racional – diferença específica. Medida. Capacidade de aprender a realidade e se perceber a partir disso. Não é a pratica efetiva de atos de pensamento, mas se colocar no mundo como algo diverso. 
Pessoa no Pensamento Moderno
René Descartes: Res cogitans (eu pensante) x Res extensa (corpo, sentidos) = Homem=racionalidade que tem um corpo
(...) por isso, compreendi que era uma substancia, cuja essência ou natureza é unicamente pensar e que, para existir, não precisa de nenhum lugar nem depende de coisa alguma material. De maneira que esse eu, isto é, a alma pela qual sou o que sou, é inteiramente distinta do corpo, e até mais fácil de conhecer do que ele, e ainda que este não existisse, ela não deixaria de ser tudo o que é (DESCARTES, 1989, p.75). 
Pessoa no Pensamento Moderno
John Locke:
(...) um ser inteligente pensante, que possui raciocínio e reflexão, e que pode pensar a si própria como o mesmo ser pensante em diferentes tempos e espaços; é-lhe possível fazer isso devido apenas a essa consciência que é inseparável do pensamento e, pelo que me parece, é essencial para este, sendo impossível para qualquer um compreender sem apreender que consegue compreender. Porque, uma vez que a consciência acompanha sempre o pensamento e é o que faz com que cada um seja ele próprio e, desse modo, se distinga de todas as outras coisas pensantes, é somente nisto que consiste a identidade pessoal, ou seja, a singularidade de um ser racional (LOCKE, 1999, p.443, grifo no original).
Pessoa no Pensamento Contemporâneo:personistas x substancialistas
Peter Singer (1994):
Se o ser sofre, não pode haver nenhuma justificativa de ordem moral para nos recusarmos a levar esse sofrimento em consideração. Seja qual for a natureza do ser, o princípio da igualdade exige que o sofrimento seja levado em conta em termos de igualdade com o sofrimento semelhante (...) (SINGER, 1994, p.67)
Portanto, devemos rejeitar a doutrina que coloca as vidas de membros de nossa espécie acima das vidas de outras espécies. Alguns membros de outras espécies são pessoas; alguns membros da nossa espécie não o são... O ato de tirar a vida de pessoas é mais sério do que o de tirar a vida de não-pessoas. Assim, parece que o fato de, digamos, matarmos um chimpanzé é pior do que o de matarmos um ser humano que, devido a uma deficiência mental congênita, não é e jamais será uma pessoa (SINGER, 1994, p.126-127, grifo próprio).
Pessoa no Pensamento Contemporâneo:personistas x substancialistas
John Harris (1999) Pessoa é a criatura que possui a aptidão de valorar a própria existência, o que inclui, animais, máquinas, extra-terrestres, deuses, anjos, demônios, se verificada essa condição. Por outro lado, uma vez ausente essa capacidade valorativa em embriões humanos e adultos com lesões cerebrais irreversíveis, ausente também a personalidade, o que faz com que esses seres sejam humanos, mas não pessoas e, portanto, estão em uma categoria moral inferior, não existindo interesses merecedores de ponderação.
Pessoa no Pensamento Contemporâneo:personistas x substancialistas
Engelhardt (2008): Essas quatro características, a autoconsciência, a racionalidade, o sentido moral e a liberdade, identificam as entidades capazes de discurso moral, capazes de dar permissão. O princípio do consentimento, e sua elaboração na moralidade secular do respeito mútuo, aplica-se apenas a essas criaturas. Só diz respeito a pessoas, cuja noção (isto é, de ser pessoa) é definida em termos de capacidade de entrar nesta prática de resolver controvérsias morais por meio de acordo (ENGELHARDT, 2008, p.174). 
 Embora deixar de tratar um feto ou um bebê como uma pessoa no sentido estrito não seja uma demonstração de desrespeito, em termos seculares gerais, por ela, deixar de tratar um pacífico agente moral extraterrestre sem esse respeito seria um ato de imoralidade. Significaria que agimos contra a própria possibilidade da comunidade pacífica. O que é importante, em termos seculares gerais, não é nossa pertinência à espécie homo sapiens como tal e sim o fato de que somos pessoas (ENGELHARDT, 2008, p.175).
 (...) o nível de obrigação que temos com o feto – ceteris paribus em moralidade secular geral – é o mesmo que teríamos em relação a um animal com um nível semelhante de integração e percepção motora sensorial (ENGELHARDT, 2008, p.181).
Pessoa no Pensamento Contemporâneo:personistas x substancialistas
Robert Spaemann (2010): A função cognitiva não define a pessoa, não há uma vinculação necessária entre ambas. A pessoa não se confunde com suas propriedades; do contrário, deixaria de ser pessoa quando não mais as possuísse. É porque os homens são tratados como pessoas que o desenvolvimento dessas habilidades torna-se possível
Laura Palazzani (1997, p.140): A presença da função sensitiva ou da condição para o seu exercício pressupõe a existência de um sujeito; é a existência do sujeito que possibilita o exercício de certas funções e não o exercício de certas funções que constitui o ser do sujeito.
Roberto Andorno (2012, p.118): Se o ser da pessoa repousa inteiramente na autoconsciência, isso implica que a pessoa vem a ser gradualmente. Entretanto, o ser pessoal, dotado de unicidade, não pode, por princípio, vir à existência gradualmente, pois apenas as coisas constituídas por uma multiplicidade de elementos podem começar a existir em diversos graus.
O que é ser pessoa para o Direito? OU Quais implicações traz para o Direito o fato de se ser pessoa?
Uma questão metodológica anterior 
Concepção Realista, Personalismo Ontológico: Situa o Direito NA realidade e NA natureza das coisas  a personalidade jurídica singular tem seu fundamento na personalidade ontológica do ser humano.
Implicações Jurídicas: a) centralidade da dignidade humana na ordem jurídica; b) Reconhecimento da personalidade jurídica a todos os seres humanos; c) aplicação a todos os humanos da capacidade genérica de direitos; d) garantia da efetividade de direitos
Concepção Idealista: Transfere para a lei ou para o sistema positivo a causa efficiens da personalidade jurídica. Ex. Kelsen = o conceito jurídico de pessoa não tem fundamento real no próprio homem, mas é um conjunto de normas, uma unidade personificada de normas. Pessoa é apenas construção jurídica.
Diogo Costa Gonçalves (2008): O dever ser acerca do homem será a expressão deôntica da sua realidade ontológica, por isso, a ponderação acerca da realidade ontológica da pessoa humana apresenta-se como exercício indispensável para garantir que a concretização normativa respeite essa realidade. 
Conceito jurídico de pessoa está contido no conceito ontológico, sendo todo ser humano sujeito de relação jurídica.
“aquele ente que, em virtude da especial intensidade do seu ato de ser, autopossui a sua própria realidade ontológica, em abertura relacional constitutiva e dimensão realizacional unitiva”.
Pessoa: um conceito nuclear para o Direito
A palavra pessoa apresenta um conceito multifacetado
que foi construído culturalmente e, por isso, para o Direito, essa palavra não carrega toda a sua semântica. O termo foi redefinido a fim de facilitar a sua operacionalização e, assim, pessoa passou a ser um conceito técnico-jurídico da Ciência do Direito. 
Para o direito, ser pessoa é possuir uma aptidão genérica para figurar no plano ativo ou passivo de uma relação jurídica
Pessoa Natural e Pessoa Física
art. 2º , CC/2002: aquele que nasce com vida torna-se uma pessoa, adquire personalidade. 
A personalidade é pressuposto para a inserção e atuação da pessoa na ordem jurídica. 
Pessoa: um conceito nuclear para o Direito
Conceito meramente formal de pessoa  conceito substancia personificada. 
A realidade ôntica da pessoa humana tem primazia sobre qualquer construção técnico-formal, precedência assegurada pela ordem constitucional pátria. A proteção constitucional é dirigida à dignidade da pessoa, considerada em todas as suas emanações. Nessa nova ordem constitucional, a pessoa humana passa a centralizar os institutos jurídicos, na medida em que o ser é valorizado, justificando a própria existência de um ordenamento jurídico (função promocional) 
Referências
Andorno, Roberto. Bioética y dignidade de la persona. Madri: Tecnos, 2012.
Engelhardt, H. Tristam. Fundamentos da Bioética. São Paulo: Edições Loyola, 2008.
Gonçalves, Diogo Costa. Pessoa e Ontologia: uma questão prévia da ordem jurídica. In: ASCENSÃO, José de Oliveira (Org.). Estudos de Direito da Bioética II. Lisboa: Edições Almedina, 2008, p. 125-182.
Harris, John. The concepto f the person and the value of life. In: Kennedy Institute of Ethics Journal, v.9, n.4, dez/1999, p.293-308.
Locke, John. Ensaio sobre o entendimento humano. Coordenação de tradução de Eduardo Abranches de Soveral. Volume I. Lisboa: Fundação CalousteGulbenkian, 1999, cap.XXVII, p.433-461.
Palazzani, Laura. Persona e essere umano in bioetica e nel biodiritto. In: Idee, vol 34/35, 1997, p.133-147.
Spaemann, Robert. Personas: acerca de la distinción entre “algo” y “alguien”. Navarra: EUNSA, 2010.
Singer, Peter. Ética prática. São Paulo: Martins Fontes, 1994.

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