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Síntaxe da Línguagem Visual Donis A. Dondis

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Este livrotemcomoobjetivoensinaraoestudanteasartes
correlacionadasnacomunicaçãovisual.O temaé
apresentadonãocomoumalínguaestrangeira,mascomo
umalínguanativaqueo estudante"sabe",masnaqual
aindanãoconsegue"ler".Estaanalogiaproporcionaum
métododeensinoútil,empartepor nãoserelaboradaem
demasiaou aplicadacomexcessivorigor.Estemétodode
ensinara vere a lerdadosvisuaisjá foi postoa provacom
sucessoemvárioscontextossocioeconômicos.
Nadamaisadequado,portanto,quealgunsdosobjetivos
maisimportantesdo livrotenhamsidocomunicadospor
meiosvisuais.Váriosexemplosilustradossãousadospara
esclareceros elementosbásicosdo design(a aprendizagem
do alfabeto),paramostrarcomoelessãousadosem
combinaçõessintáticassimples(a aprendizagemde
"sentenças"simples)e, finalmente,paraapresentara
síntesesignificativada informaçãovisualcomoobrade
arteacabada(a compreensãodapoesia).
DonisA. Dondisé atualmenteprofessoradecomunicação
naBostonUniversitySchoolof Communicatione diretora
do SummerTermPublicCommunicationInstitute,dessa
mesmainstituição.
ISBN 85-336-0583-8
11/1
9"788533605831
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Estacoleçãopretende
reunirosestudosmais
significativosno campoda
comunicaçãovisuale das
artesplásticasem
particular,reservandoum
espaçoprivilegiadoparao
modernismo.Seuobjetivo
é garantira umpúblicode
artistas,críticos,estudiosos
e amantesdaarteacesso
nãoapenasaosclássicos
quesinalizarama história
daarte,paraa compreensão
desuaevoluçãoe desuas
tendências,mastambém
aosmanuaise estudos
recentesqueproporcionam
os elementosessenciais
paraa compreensãoda
gramáticadacomunicação
visual.
SINTAXE DA
LINGUAGEM VISUAL
CAPA
Projeto gráfico KatiaHarumiTerasaka
Imagem SergioRomagnolo,(detalhe)
SemTitulo(DobraAzul), 1991,plástico
modelado,74cmx 107cmx 2&m.
Coleçãoparticular.
Rivas & Lunas
Nota
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Título original: A PRIMER OF VISUAL UTERACY.
Copyrighl @ by TheMassachusettslnstitutt ofTechnology. 1973.
Copyright @Livraria Martins Fontes Editora LIda.,
São Paulo. 1991,para apresenteedição.
21edição
fevereirode/997
21tiragem
janeirode1999
SUMÁRIO
Tradução
JEFFERSONLUlZ CAMARGO
Revisãodatradução
MariaEsteIoHeiderCamlheiro
Revisãográfica
ÁureaReginaSarror;
Maurício'Ba/thazarLeal
Produçãogrãlica
GeraldoA/ves
Capa
KatiaHarumiTerasaka
Imagemdacapa
SergioRomagn%(detalhe),
"SemTitulo"(DobraAzul),1991,
plásticomodelado,74emx /07emx28em.
Coleçãoparticular.
Prefácio
DadosInternacionaisdeCatalogaçãona Publicação(CIP)
(Cãmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Dondis. Donis A.
Sintaxe da linguagem visual I Donis A. Dondis ; [tradução
Jefferson Luiz Camargo]. - 2' ed. - São Paulo: Martins Fontes.
1997.- (Coleção 3)
1.Carátere conteúdodo alfabetismovisual 5
2. Composição:fundamentossintáticosdo alfabetismovisual 29
3.Elementosbásicosda comunicaçãovisual 51
4. Anatomiada mensagemvisual 85
5.A dinâmicado.contraste 107
6. Técnicasvisuais:estratégiasdecomunicação 131
7. A síntesedo estilovisual 16I
8. As artesvisuais:funçãoe mensagem183
9. Alfabetismovisual:comoe por quê 227
Título original: A primer of visualliteracy.
Bibliografia.
ISBN 85-336-0583-8
Bibliografia 233
FontesdasIlustrações 235
I. Alfabetismovisual2.Arte- Técnica3. Composição(Arte)
4. ComunicaçãovisualI. Título.11.Série.
97-0543 CDD-700.14
Índicesparacatálogosistemático:
I. Comunicaçãovisual:Artes 700.14
Todosos direitospara o Brasil reservadosà
Livraria Martins Fontes Editora LIda.
Rua ConselheiroRamalho,330/340
01325-000 São Paulo SP Brasil
Tel, (011)239-3677 Fax (011)3105-6867
e-mail: info@martinsfontes.com
http://www.martinsfontes.com
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PREFÁCIO
Sea invençãodotipomóvelcriouo imperativodeumalfabetismo*>
verbaluniversal,semdúvidaa invençãodacâmeraedetodasassuas
formasparalelas,quenãocessamdesedesenvolver,criou,porsuavez,
o imperativodoalfabetismovisualuniversal,umanecessidadequehá
muitotemposefaz sentir.O cinema,a televisãoe os computadores
visuaissãoextensõesmodernasdeumdesenharedeum fazerquetêm
sido,historicamente,umacapacidadenaturaldetodoserhumano,e
queagorapareceter-seapartadodaexperiênciado homem.
A arteeo significadodaarte,a formaea funçãodocomponente
visualdaexpressãoe da comunicação,passarampor umaprofunda
transformaçãonaeratecnológica,semquesetenhaverificadoumamo-
dificaçãocorrespondentenaestéticadaarte.Enquantoo caráterdas
artesvisuaisedesuasrelaçõescomasociedadeeaeducaçãosofreram
transformaçõesradicais,aestéticadaartepermaneceuinalterada,ana-
cronicamentepresaà idéiadequea influênciafundamentalparaoen-
tendimentoeaconformaçãodequalquerníveldamensagemvisualdeve
basear-sena inspiraçãonão-cerebral.Emborasejaverdadequetoda
informação,tantodeinputquantodeoutput,devapassaremambos
osextremosporumarededeinterpretaçãosubjetiva,essaconsidera-
. · Literacyquerdizer"capacidadedelereescrever".Por extensão,significatam-
be)11"educado","conhecimento","instrução",etc.,termos,porém,quenãotradu-
zemo verdadeirosentidodovocábulocomoeleéaquiempregado.Paraevitaraintrodução
deumneologismodesentidoobscuro,como,por exemplo,"alfabetidade",optou-se
aquipor"alfabetismo",definidonodicionárioAuréliocomo"estadoouqualidadede
alfabetizado".(N. T.)
I . ,... ". . .-. .
~
2 SINTAXE DA LINGUAGEM VISUAL
çãoisoladatransformariaa inteligênciavisualemalgosemelhantea
umaárvoretombandosilenciosamentenumaflorestavazia.A expres-
sãovisualsignificamuitascoisas,emmuitascircunstânciaseparamuitas
pessoas.É produtodeumainteligênciahumanadeenormecomplexi-
dade,daqualtemos,infelizmente,umacompreensãomuitorudimen-
tar. Para tornaracessívelum conhecimentomaisamplodealgumas
dascaracterísticasessenciaisdessainteligência,opresentelivropropõe-
seaexaminaroselementosvisuaisbásicos,asestratégiaseopçõesdas
técnicasvisuais,asimplicaçõespsicológicasefisiológicasdacomposi-
çãocriativae agamademeiose formatosquepodemseradequada-
menteclassificadossob a designaçãoartese ofícios visuais.Esse
processoé o começodeumainvestigaçãoracionale deumaanálise
quesedestinamaampliaracompreensãoeo usodaexpressãovisual.
Emboraestelivronãopretendaafirmara existênciadesoluções
simplesouabsolutasparaocontroledeumalinguagemvisual,ficaclaro
quearazãoprincipaldesuaexploraçãoésugerirumavariedadedemé-
todosdecomposiçãoedesignquelevememcontaadiversidadedaes-
truturadomodovisual.Teoriaeprocesso,definiçãoeexercício,esta-
rãoladoa ladoaolongodetodoo livro.Desvinculadosumdooutro,
essesaspec:tosnãopodemlevarao desenvolvimentodemetodologias
quepossibilitemumnovocanaldecomunicação,emúltimainstância
suscetíveldeexpandir,comofazaescrita,osmeiosfavoráveisà inte-
raçãohumana.
A linguagemésimplesmenteumrecursodecomunicaçãopróprio
do homem,queevoluiudesdesuaformaauditiva,purae primitiva,
atéacapacidadedelereescrever.A mesmaevoluçãodeveocorrercom
todasascapacidadeshumanasenvolvidasnapré-visualização,nopla-
nejamento,nodesenhoenacriaçãodeobjetosvisuais,dasimplesfa-
bricaçãode ferramentase dosofíciosatéa criaçãode símbolos,e,
finalmente,àcriaçãodeimagens,nopassadoumaprerrogativaexclu-
sivadoartistatalentoso einstruído,mashoje,graçasàsincríveispos-
sibilidadesdacâmera,umaopçãoparaqualquerpessoainteressadaem
aprenderumreduzidonúmeroderegrasmecânicas.Mas o quedizer
doalfabetismovisual?Por sisó,a reproduçãomecânicadomeioam-
bientenãoconstituiumaboaexpressãovisual.Paracontrolaro as-
sombrosopotencialdafotografia,sefaznecessáriaumasintaxevisual.
O adventodacâmeraéumacontecimentocomparávelaodolivro,que
PREFÁCIO 3
originalmentebeneficiouo alfabetismo."EntreosséculosXIII eXVI,
aordenaçãodaspalavrassubstituiua inflexãodaspalavrascomoprin-
cípiodasintaxegramatical.A mesmatendênciasedeucoma forma-
çãodaspalavras.Como surgimentodaimprensa,ambasastendências
passarampor um processodeaceleração,e houveumdeslocamento
dosmeiosauditivosparaosmeiosvisuaisdasintâxe."* Paraquenos
consideremverbalmentealfabetizadosé precisoqueaprendamosos
componentesbásicosdalinguagemescrita:asletras,aspalavras,aor-
tografia,a gramáticae a sintaxe.Dominandoa leiturae a escrita,o
quesepodeexpressarcomessespoucoselementoseprincípiosé real-
menteinfinito.Umavezsenhordatécnica,qualquerindivíduoécapaz
deproduzirnãoapenasumainfinitavariedadedesoluçõescriativas
paraosproblemasdacomunicaçãoverbal,mastambémumestilopes~
soal.A disciplinaestruturalestánaestruturaverbalbásica.O alfabe-
tismosignificaqueumgrupocompartilhao significadoatribuídoaum
corpocomumdeinformações.O alfabetismovisualdeveoperar,de
algumamaneira,dentrodesseslimites.Não sepodecontrolá-Iomais
rigidamentequea comunicaçãoverbal;nemmaisnemmenos.(Seja
comofor, quemdesejariacontrolá-lo rigidamente?)Seusobjetivossão
os mesmosquemotivaramo desenvolvimentoda linguagemescrita:
construirumsistemabásicoparaa aprendizagem,a identificação,a
criaçãoea compreensãodemensagensvisuaisquesejamacessíveisa
todasaspessoas,enãoapenasàquelasqueforamespecialmentetrei-
nadas,comooprojetista,oartista,o artesãoeoesteta.Tendoemvis-
taesseobjetivo,estaobrapretendeserummanual.básicodetodasas
comunicaçõeseexpressõesvisuais,umestudodetodososcomponen-
tesvisuaiseumcorpocomumderecursosvisuais,coma consciência
e o desejodeidentificaras áreasdesignificadocompartilhado.
O modovisualconstituitodoumcorpodedadosque,comoa lin-
guagem,podemserusadosparacomporecompreendermensagensem
diversosníveisdeutilidade,desdeo puramentefuncionalatéos mais
elevadosdomíniosdaexpressãoartística.É umcorpodedadosconsti-
tuídodepartes,umgrupodeunidadesdeterminadasporoutrasunida-
* MarshallMcLuhan,"The Effectof thePrintedBookou Languagein the16th
Century", in Exploratonsin Communications,EdmundCarpentere MarshallMcLu-
han,editores(Boston,Massachusetts,BeaconPress,1960).
,
4 SINTAXE DA LINGUAGEMVISUAL
des,cujo significado,emconjunto,éumafunçãodo significadodas
partes.Comopodemosdefinirasunidadeseo conjunto?Atravésde
provas,definições,exercícios,observaçõese, finalmente,linhasmes-
tras,quepossamestabelecerrelaçõesentretodososníveisdaexpres-
são visual e todas as característicasdas artesvisuaise de seu
"significado".Detantobuscaro significadode"arte", asinvestiga-
çõesacabampor centralizar-senadelimitaçãodo papeldo conteúdo
naforma.Nestelivro,todaaesferadoconteúdonaformaseráinves-
tigadaemseunívelmaissimples:a importânciadoselementosindivi-
duais,comoa cor, o tom,a linha,a texturae a proporção;o poder
expressivodastécnicasindividuais,comoaousadia,asimetria,a rei-
teraçãoeaênfase;eo contextodosmeios,queatuacomocenáriovi-
sualparaasdecisõesrelativasaodesign,comoapintura,a fotografia,
aarquitetura,atelevisãoeasartesgráficas.É inevitávelqueapreocu-
paçãoúltimado alfabetismovisualsejaa formainteira,o efeitocu-
mulativodacombinaçãodeelementosselecionados,amanipulaçãodas
unidadesbásicasatravésdetécnicasesuarelaçãoformalecompositi-
va como significadopretendido.
A forçaculturaleuniversaldocinema,da fotografiaedatelevi-
são,naconfiguraçãodaauto-imagemdohomem,dáamedidadaur-
gênciado ensinodealfabetismovisual,tantoparaoscomunicadores
quantopara aquelesaosquaisa comunicaçãose dirige.Em 1935,
Moholy-Nagy,o brilhanteprofessordaBauhaus,disse:"Os iletrados
do futurovão ignorartantoo usodacanetaquantoo dacâmera."
O futuroé agora.O fantásticopotencialdacomunicaçãouniversal,
implícitonoalfabetismovisual,estáàesperadeumamploearticula-
do desenvolvimento.Com o presentelivro, damosummodestopri-
meiropasso.
1
CARÁTER E CONTEÚDO
DO ALFABETISMO VISUAL
Quantosde nósvêem?
Queamploespectrodeprocessos,atividades,funções,atitudes,essa
simplesperguntaabrange!A listaélonga:perceber,compreender,con-
templar,observar,descobrir,reconhecer,visualizar,examinar,ler,
olhar.As conotaçõessãomultilaterais:daidentificaçãodeobjetossim-
plesaousodesímbolosedalinguagemparaconceituar,dopensamen-
toindutivoaodedutivo.O númerodequestõeslevantadasporestaúnica
pergunta:"Quantosdenósvêem?",nosdáachavedacomplexidade
do caráteredoconteúdodainteligênciavisual.Essacomplexidadese
refletenasinúmerasmaneirasatravésdasquaisestelivrovaipesquisar
anaturezadaexperiênciavisualmedianteexplorações,análisesedefi-
nições,quelhepermitamdesenvolverumametodologiacapazdeins-
truir todasaspessoas,aperfeiçoandoaomáximosuacapacidade,não
sódecriadores,mastambémdereceptoresdemensagensvisuais;em
outraspalavras,capazdetransformá-Iasemindivíduosvisualmenteal-
fabetizados.
A primeiraexperiênciaporquepassaumacriançaemseuproces-
sodeaprendizagemocorreatravésdaconsciênciatátil.Alémdesseco-
nhecimento"manual", o reconhecimentoincluio olfato,a audição
eo paladar,numintensoefecundocontatocomo meioambiente.Es-
sessentidossãorapidamenteintensificadosesuperadospeloplanoicô-
nico - a capacidadedever, reconhecere compreender,emtermos
visuais,asforçasambientaiseemocionais.Praticamentedesdenossa
rr-
6 SINTAXE DA LINGUAGEMVISUAL CARÁTER E CONTEÚDO DO ALFABETISMO VISUAL 7
primeiraexperiêncianomundo,passamosa organizarnossasnecessi-
dadesenossosprazeres,nossaspreferênciasenossostemores,combase
naquiloquevemos.Ounaquiloquequeremosver.Essadescrição,po-
rém,éapenasapontado iceberg,enãodádeformaalgumaaexata
medidado podereda importânciaqueo sentidovisualexercesobre
nossavida.Nós o aceitamossemnosdarmoscontadequeelepode
seraperfeiçoadono processobásicodeobservação,ou ampliadoaté
converter-senumincomparávelinstrumentodecomunicaçãohumana.
Aceitamosa capacidadedeverdamesmamaneiracomoa vivencia-
mos- semesforço.
Paraosquevêem,o processorequerpoucaenergia;osmecanis-
mosfisiológicossãoautomáticosnosistemanervosodohomem.Não
causaassombroo fatodequeapartirdesseoutputmínimorecebamos
umaenormequantidadedeinformações,detodasasmaneirase em
muitosníveis.Tudoparecemuitonaturalesimples,sugerindoquenão
hánecessidadededesenvolvernossacapacidadedeveredevisualizar,
equebastaaceitá-Iacomoumafunçãonatural.Emseulivro Towards
a VisualCulture,CalebGattegnocomenta,referindo-seànaturezado
sentidovisual:"Emborausadapornóscomtantanaturalidade,avi-
sãoaindanãoproduziusuacivilização.A visãoéveloz,degrandeal-
cance,simultaneamenteanalíticaesintética.Requertãopoucaenergia
parafuncionar,comofunciona,àvelocidadedaluz, quenospermite
recebereconservarumnúmeroinfinitodeunidadesdeinformaçãonu-
mafraçãodesegundos."A observaçãodeGattegnoéumtestemunho
dariquezaassombrosadenossacapacidadevisual,oquenostornapro-
pensosa concordarentusiasticamentecomsuasconclusões:"Com a
visão,o infinitonosédadodeumasóvez;a riquezaésuadescrição."
Nãoédifícildedetectaratendênciaàinformaçãovisualnocom-
portamentohumano.Buscamosumreforçovisualdenossoconheci-
mentopor muitasrazões;a maisimportantedelaséo caráterdireto
dainformação,aproximidadedaexperiênciareal.Quandoanavees-
pacialnorte-americanaApoio XI alunissou,equandoos primeirose
vacilantespassosdosastronautastocarama superfícieda lua, quan-
tos,dentreos telespectadoresdo mundointeiroqueacompanhavam
atransmissãodoacontecimentoaovivo,momentoamomento,teriam
preferidoacompanhá-Io atravésdeumareportagemescritaou falada,
pormaisdetalhadaoueloqüentequeelafosse?Essaocasiãohistórica
é apenasumexemplodapreferênciado homempelainformaçãovi-
sual.Há muitosoutros:o instantâneoqueacompanhaa cartadeum
amigoqueridoqueseachadistante,o modelotridimensionaldeum
novoedifício.Por queprocuramosessereforçovisual?Veréumaex-
periênciadireta,eautilizaçãodedadosvisuaisparatransmitirinfor-
maçõesrepresentaa máximaaproximaçãoquepodemosobtercom
relaçãoàverdadeiranaturezadarealidade.As redesdetelevisãode-
monstraramsuaescolha.Quandoficouimpossívelocontatovisualdi-
reto com os astronautasda Apoio XI, elascolocaramno ar uma
simulaçãovisualdo queestavasendosimultaneamentedescritoatra-
vésdepalavras.Havendoopções,a escolhaémuitoclara.Nãosóos
astronautas,mastambémoturista,osparticipantesdeumpiquenique
ou o cientista,voltam-se,todos,parao modoicônico,sejaparapre-.
servarumalembrançavisualsejaparateremmãosumaprovatécnica.
Nesseaspecto,parecemostodosser do Missouri; dizemostodos:
"Mostre-me."
A falsa dicotomia:belas-artese artesaplicadas
A experiênciavisualhumanaé fundamentalnoaprendizadopara
quepossamoscompreenderomeioambienteereagiraele;a informa-
çãovisualéomaisantigoregistrodahistóriahumana.As pinturasdas
cavernasrepresentamo relatomaisantigoquesepreservousobreo
mundotalcomoelepodiaservistohácercadetrintamil anos.Ambos
osfatosdemonstramanecessidadedeumnovoenfoquedafunçãonão
somentedoprocesso,comotambémdaquelequevisualizaa socieda-
de.O maiordosobstáculoscomquesedeparaesseesforçoéaclassifi-
caçãodasartesvisuaisnaspolaridadesbelas-artese artesaplicadas.
Em qualquermomentodahistória,adefiniçãosedeslocaemodifica,
emboraosmaisconstantesfatoresdediferenciaçãocostumemserauti-
lidadee a estética.
A utilidadedesignao designea fabricaçãodeobjetos,materiais
edemonstraçõesquerespondama necessidadesbásicas.Dasculturas
primitivasà tecnologiadefabricaçãoextremamenteavançadadenos-
sosdias,passandopelasculturasantigasecontemporâneas,asneces-
sidadesbásic,\sdo homemsofrerampoucasmodificações.O homem
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8 SINTAXE DA LINGUAGEMVISUAL CARÁTER E CONTEÚDO DO ALFABETISMO VISUAL 9
precisacomer;parafazê-Io,precisadeinstrumentosparacaçarema-
tar,lavrarecortar;precisaderecipientesparacozinharedeutensílios
nosquaispossacomer.Precisaprotegerseucorpovulneráveldasmu-
dançasclimáticasedomeioambientetraiçoeiro,eparaissonecessita
deferramentasparacosturar,cortaretecer.Precisamanter-sequente
esecoeproteger-sedospredadores,eparatantoéprecisoquecons-
truaalgumtipodehábitat.As sutilezasdapreferênciaculturalou da
localizaçãogeográficaexercempoucainfluênciasobreessasnecessida-
des;somenteainterpretaçãoeavariaçãodistinguemoprodutoemter-
mosdaexpressãocriadora,comorepresentantedeumtempooulugar
específicos.Na áreadodesignedafabricaçãodasnecessidadesvitais
básicas,supõe-sequetodomembrodacomunidadesejacapaznãoape-
nasdeaprenderaproduzir,mastambémdedarumaexpressãoindivi-
duale únicaa seutrabalhoatravésdo designedadecoração.Mas a
expressãodasprópriasidéiaséregida,primeiro,peloprocessodeapren-
dizagemdoofícioe,emsegundolugar,pelasexigênciasdefuncionali-
dade.O importanteé queo aprendizadosejaessenciale aceito.A
perspectivadequeummembrodacomunidadecontribuaemdiversos
níveisdaexpressãovisualrevelaumtipodeenvolvimentoeparticipa-
çãoquegradualmentedeixoudeexistirnomundomoderno,numpro-
cessoquesetemaceleradoporinúmerasrazões,entreasquaissobressai
o conceitocontemporâneode "belas-artes".
A diferençamaiscitadaentreo utilitárioeo puramenteartístico
éo graudemotivaçãoquelevaà produçãodobelo.Esseéo domínio
daestética,da indagaçãosobrea naturezadapercepçãosensorial,da
experiênciadobeloe,talvez,damerabelezaartística.Massãomuitas
asfinalidadesdasartesvisuais.Sócrateslevantaa questãode"as ex-
periênciasestéticasteremvalorintrínseco,oudesernecessáriovalorizá-
Iasoucondená-Iaspor seuestímuloaoqueéproveitosoebom". "A
experiênciadobelonãocomportanenhumtipodeconhecimento,seja
elehistórico,científicoou filosófico", diz ImmanuelKant. "Delase
podedizerqueéverdadeirapor tornar-nosmaisconscientesdenossa
atividademental."Sejaqualfor suaabordagemdoproblema,osfiló-
sofosconcordamemquea arteincluiumtema,emoções,paixõese
sentimentos.No vastoâmbitodasdiversasartesvisuais,religiosas,so-
ciaisoudomésticas,o temasemodificacoma intenção,tendoemco-
mumapenasa capacidadede comunicaralgo de específicoou de
abstrato.ComodizHenriBergson:"A arteéapenasumavisãomais
diretadarealidade."Em outraspalavras,mesmonessenívelelevado
deavaliação,asartesvisuaistêmalgumafunçãoou utilidade.É fácil
traçarumdiagramaquesituediversosformatosvisuaisemalgumare-
laçãocomessaspolaridades.A figura1.1apresentaumamaneirade
expressarastendênciasatuaisemtermosdeavaÍiação:
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BELAS-ARTES ARTES APLICADAS
FIGURA 1.1
Essediagramaficariamuitodiferenteserepresentasseoutracul-
tura,como,por exemplo,a pré-renascentista(fig. 1.2),
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BELAS-ARTES
FIGURA 1.2
ARTES APLICADAS
ouo pontodevistadaBauhaus,queagrupariatodasasartes,aplica-
dasou belas,numpontocentraldo continuum(fig. 1.3).
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BELAS-ARTES
FIGURA 1.3
ARTES APLICADAS
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10 SINTAXE DA LINGUAGEMVISUAL CARÁTER E CONTEÚDO DO ALFABETISMO VISUAL 11
Muito antesdaBauhaus,WilliamMorriseospré-rafaelitasjá se
inclinavamnamesmadireção."A arte", diziaRuskin,porta-vozdo
grupo,"é una,equalquerseparaçãoentrebelas-arteseartesaplicadas
é destrutivaeartificial." Os pré-rafaelitasacrescentavama essatese
umadistinçãoqueosafastavatotalmentedafilosofiaposteriordaBau-
haus- rejeitavamtodotrabalhomecanizado.O queéfeitopelamão
ébelo,acreditavam,eaindaqueabraçassema causadecompartilhar
aartecomtudo,o fatodevoltaremascostasàspossibilidadesdapro-
duçãoemmassaconstituíaumanegaçãoóbviadosobjetivosqueafir-
mavamseguir.
Em suavoltaaopassadopararenovaro interesseporumartesa-
natoorgulhosoeesmerado,oqueogrupodomovimentolideradopor
Morris, "ArteseOfícios", naverdadeafirmavaeraaimpossibilidade
deproduzirartedesvinculadadoartesanato- umfatofacilmentees-
quecidonaesnobedicotomiaentreasbelas-arteseasartesaplicadas.
Duranteo Renascimento,o artistaaprendiaseuofícioapartirdetare-
fassimples,e,apesardesuaelevadaposiçãosocial,compartilhavasua
guildaou suaagremiaçãocomo verdadeiroartesão.Issogeravaum
sistemadeaprendizagemmaissólido,e, o queeramaisimportante,
menorespecialização.Havialivreinteraçãoentreartistae artesão,e
osdoispodiamparticipardetodasasetapasdotrabalho;aúnicabar-
reiraa separá-Ioserao respectivograudehabilidade.Com o passar
dotempo,porém,modificam-seosprocedimentos.O queseclassifica
como"arte" podemudarcomtantarapidezquantoaspessoasque
criamesserótulo."Um corodealeluias",dizCarl Sandburgemseu
poema"The People,Yes", "eternamentetrocandodesolista."
A concepçãocontemporâneadasartesvisuaisavançouparaalém
damerapolaridadeentreasartes"belas"eas"aplicadas",epassou
aabordarquestõesrelativasàexpressãosubjetivaeà funçãoobjetiva,
tendendo,maisumavez,àassociaçãodainterpretaçãoindividualcom
a expressãocriadoracomopertencenteàs"belas-artes",eà resposta
à finalidadeeaousocomopertencenteaoâmbitodas"artesaplica-
das".Um pintordecavaletequetrabalheparasimesmo,sema preo-
cupaçãodevender,estábasicamenteexercendoumaatividadequelhe
dáprazerenãoo levaa preocupar-secomo mercado,sendo,assim,
quasequeinteiramentesubjetiva.Umartesãoquemodelaumrecipiente
decerâmicapodeparecer-nostambémsubjetivo,poisdáa suaobra
a formaeo tamanhoquecorrespondema seugostopessoal.Em seu
caso,porém,háumapreocupaçãodeordemprática:essaformaque
lheagradapoderásertambémumbomrecipienteparaa água?Essa
modificaçãodautilidadeimpõeaodesignerumcertograudeobjetivi-
dadequenãoétãoimediatamentenecessária,nemtãoaparentenaobra
dopintordecavalete.O aforismodoarquitetonórte-americanoSulli-
van,"A formaacompanhaa função",encontrasuailustraçãomáxi-
ma no designerdeaviões,quetemsuaspreferênciaslimitadaspela
indagaçãodequaisformasaseremmontadas,quaisproporçõese,ma-
teriaissãorealmentecapazesdevoar.A formado produtofinalde-
pendedaquiloparaqueeleserve.Masnoquedizrespeitoaosproblemasmaissutisdodesignhámuitosprodutosquepodemrefletirasprefe-
rênciassubjetivasdodesignere,aindaassim,funcionarperfeitamente-
bem.O designernãoé o únicoa enfrentara questãodesechegara
ummeio-termoquandoo queestáempautaéo gostopessoal.É co-
mumqueumartistaouumescultortenhademodificarumaobrapelo
fatodeterrecebidoaencomendadeumclientequesabeexatamente
o quedeseja.As intermináveisbrigasdeMichelangelo,porcausadas
encomendasquelheforamfeitaspordoispapas,constituemosexem-
plosmaisvivoseilustrativosdoproblemacomquesedeparaumartis-
ta ao terdemantersuasidéiaspessoaissobcontroleparaagradara
seusclientes.Mesmoassim,ninguémseatreveriaadizerque"O juízo
final" ou o "Davi" sãoobrascomerciais.
OsafrescosdeMichelangeloparao tetodaCapelaSistinademons-
tramclaramentea fragilidadedessafalsadicotomi...Comorepresen-
tantedas necessidadesda Igreja, o papa influenciouas idéiasde
Michelangelo,asquaistambémforam,porsuavez,modificadaspelas
finalidadesespecíficasdomural.Trata-sedeumaexplicaçãovisualda
"Criação" paraumpúblicoemsuamaiorparteanalfabetoe,portan-
to, incapazdelerahistóriabíblica.Mesmoquesoubesseler,essepú-
blico não conseguiriaapreenderde modo tão palpáveltoda a
dramaticidadedo relato.O muraléumequilíbrioentrea abordagem
subjetivaeaabordagemobjetivadoartista,eumequilíbriocompará-
velentrea puraexpressãoartísticaeo caráterutilitáriodesuasfinali-
dades.Essedelicadoequilíbrioé extraordinariamenteraro nasartes
visuais,mas,semprequeéalcançado,temaprecisãodeumtirocertei-
ro. Ninguémquestionariaessemuralcomoumprodutoautênticodas
12 SINTAXE DA LINGUAGEM VISUAL CARÁTER E CONTEÚDO DO ALFARETlSMO VISUAL 13
"belas-artes"e,noentanto,eletemumpropósitoeumautilidadeque
contradizemadefiniçãodasupostadiferençaentrebelas-arteseartes
aplicadas:as"aplicadas"devemserfuncionais,eas "belas" devem
prescindirdeutilidade.Essaatitudeesnobeinfluenciamuitosartistas
deambasasesferas,criandoumclimadealienaçãoeconfusão.Por
maisestranhoquepareça,trata-sedeumfenômenobastanterecente.
A noçãode"obradearte"émoderna,sendoreforçadapeloconceito
demuseucomorepositóriodefinitivodobelo.Um certopúblico,en-
tusiasticamenteinteressadoemprostrar-seematitudedereverênciadian-
tedoaltardabeleza,delaseaproximasemsedarcontadeumambiente
inacreditavelmentefeio.Tal atitudeafastaaartedoessencial,confere-
lheumaauradealgoespecialeinconseqüentea serreservadoapenas
aumaeliteenegao fatoinquestionáveldequãoelaéinfluenciadapor
nossavidaenossomundo.Seaceitarmosessepontodevista,estare-
mosrenunciandoaumapartevaliosadenossopotencialhumano.Não
sónostransformamosemconsumidoresdesprovidosdecritériosbem
definidos,comotambémnegamosa importânciafundamentaldaco-
municaçãovisual,tantohistoricamentequantoemtermosdenossapró-
pria vida.
o impactoda fotografia
certezanãomorrerájamais;nãoobstante,nossaculturadominadapela
linguagemjá sedeslocousensivelmenteparao nívelicônico.Quasetudo
emqueacreditamos,ea maiorpartedascoisasquesabemos,aprende-
mosecompramos,reconhecemosedesejamos,vemdeterminadopelo
domínioqueafotografiaexercesobrenossapsique.çessefenômenotende
a intensificar-se.
O graudeinfluênciada fotografiaemtodasassuasinúmerasva-
riantesepermutaçõesconstituiumretornoà importânciadosolhosem
nossavida.Em seulivroTheAct of Creation,ArthurKoestlerobserva:
"O pensamentoatravésdeimagensdominaasmanifestaçõesdo incons-
ciente,o sonho,o semi-sonhohipnagógico,asalucinaçõespsicóticase
avisãodoartista.(O profetavisionárioparecetersidoumvisualizador,
enãoumverbalizador;o maiordoselogiosquepodemosfazeraosquê
sesobressaememfluênciaverbaléchamá-Iosde'pensadoresvisioná-
rios'.)" Ao ver,fazemosumgrandenúmerodecoisas:vivenciamoso
queestáacontecendodemaneiradireta,descobrimosalgoquenuncaha-
víamospercebido,talveznemmesmovisto,conscientizamo-nos,através
deumasériedeexperiênciasvisuais,dealgoqueacabàmosporreconhe-
ceresaber,epercebemoso desenvolvimentodetransformaçõesatravés
daobservaçãopaciente.Tantoapalavraquantooprocessodavisãopas-
saramaterimplicaçõesmuitomaisamplas.Verpassouasignificarcom-
preender.O homemdeMissouri,a quemsemostraalgumacoisa,terá,
provavelmente,umacompreensãomuitomaisprofundadessamesmacoisa
do queseapenastivesseouvidofalardela.
Existem,aqui,implicaçõesdamáximaimportânciaparao alfabetis-
movisual.Expandirnossacapacidadedeversignificaexpandirnossaca-
pacidadede entenderumamensagemvisual,e, o queé aindamais
importante,decriarumamensagemvisual.A visãoenvolvealgomais
do queo merofatodeverou dequealgonossejamostrado.É parte
integrantedoprocessodecomunicação,queabrangetodasasconsidera-
çõesrelativasàsbelas-artes,àsartesaplicadas,à expressãosubjetivae
à respostaa um objetivofuncional.
O últimobaluartedaexclusividadedo"artista"éaqueletalentoes-
pecialqueo caracteriza:a capacidadededesenhare reproduziro am-
bientetal comoestelheaparece.Em todasassuasformas,a câmera
acaboucomisso.Elaconstituio últimoelodeligaçãoentreacapacidade
inatadeverea capacidadeextrínsecaderelatar,interpretareexpressar
o quevemos,prescindindodeumtalentoespecialoudeumlongoapren-
dizadoquenospredisponhaaefetuaro processo.Há poucasdúvidasde
queoestilodevidacontemporâneotenhasidocrucialmenteinfluenciado
pelastransformaçõesqueneleforaminstauradaspeloadventoda foto-
grafia.Emtextosimpressos,apalavraéoelementofundamental,enquan-
toosfatoresvisuais,comoocenáriofísico,o formatoea ilustração,são
secundáriosounecessáriosapenascomoapoio.Nosmodernosmeiosde
comunicaçãoaconteceexatamenteocontrário.O visualpredomina,over-
baltema funçãodeacréscimo.A impressãoaindanãomorreu,ecom
14 SINTAXE DA LINGUAGEM VISUAL CARÁTER E C01\TEÚDO DO ALFAHETISMO VISlJAL 15
Conhecimentovisuale linguagemverbal sasersubmetidaaalgunsquestionamentose indagações.Paracomeçar,
linguagemealfabetismoverbalnãosãoamesmacoisa.Sercapazdefa-
larumalínguaémuitíssimodiferentedealcançaro alfabetismoatravés
daleituraedaescrita,aindaquepossamosaprenderaentenderea usar
a linguagememambososníveisoperativos.Massóa linguagemfalada
evoluinaturalmente.OstrabalhoslingüísticosdeNoamChomskyindi-
camqueaestruturaprofundadacapacidadelingüísticaébiologicamente
inata.O aIfabetismoverbal,o lereo escrever,deveporémseraprendido
aolongodeumprocessodivididoemetapas.Primeiroaprendemosum
sistemadesímbolos,formasabstratasquerepresentamdeterminadossons.
Essessímbolossãoo nossoá-bê-cê,o alfaeo betadalínguagregaque
deramnomeatodoo grupodesímbolossonorosou letras,o alfabeto.
Aprendemosnossoalfabetoletraporletra,paradepoisaprendermosas
combinaçõesdasletrasedeseussons,quechamamosdepalavrasecons-
tituemosrepresentantesousubstitutosdascoisas,idéiaseações.Conhe-
cero significadodaspalavrasequivaleaconhecerasdefiniçõescomuns
quecompartilham.O últimopassoparaaaquisiçãodoalfabetismover-
balenvolveaaprendizagemdasintaxecomum,o quenospossibilitaes-
tabeleceroslimitesconstrutivosemconsonânciacomosusosaceitos.São
essesosrudimentos,oselementosirredutivelmentebásicosdalinguagem
verbal.Quandosãodominados,tornamo-noscapazesdelereescrever,
expressarecompreendera informaçãoescrita.Estaéumadescriçãoex-
tremamentesuperficial.Ficaclaro,porém,quemesmoemsuaformamais
simplificadaoaIfabetismoverbalrepresentaumaestruturadotadadepla-
nostécnicosedefiniçõesconsensuaisque,comparativamente,caracteri-
zama comunicaçãovisualcomoquaseque inteiramentecarentede
organização.Não é bemissoo queacontece.
Visualizarésercapazdeformarimagensmentais.Lembramo-nosdeum
caminhoque,nasruasdeumacidade,noslevaaumdeterminadodesti-
no,eseguimosmentalmenteumarotaquevaideumlugaraoutro,veri-
ficandoaspistasvisuais,recusandooquenãonosparececerto,voltando
atrás,efazemostudoissoantesmesmodeiniciarocaminho.Tudomen-
talmente.Porém,deummodoaindamaismisteriosoemágico,criamos
a visãode umacoisaque nuncavimosantes.Essa visão,ou pré-
visualização,encontra-seestreitamentevinculadaaosaltocriativoeàsín-
dromedeheureca,enquantomeiosfundamentaisparaasoluçãodepro-
blemas.E é exatamenteesseprocessodedarvoltasatravésdeimagens
mentaisemnossaimaginaçãoquemuitasvezesnoslevaasoluçõesedes-
cobertasinesperadas.Em TheActof Creation,Koestlerformulaassim
o processo:"O pensamentoporconceitossurgiudopensamentoporima-
gensatravésdolentodesenvolvimentodospoderesdeabstraçãoedesim-
bolização,assimcomoaescriturafonéticasurgiu,porprocessossimilares,
dossímbolospictóricosedoshieróglifos."Nessaprogressãoestácontido
umgrandeensinamentodecomunicação.A evoluçãodalinguagemco-
meçou,comimagens,avançourumoaos pictogramas,cartunsauto-
explicativoseunidadesfonéticas,echegoufinalmenteaoalfabeto,aoqual,
emThelntelligentEye,R. L. Gregorysereferetãoacertadamentecomo
"a matemáticadosignificado".Cadanovopassorepresentou,semdúvi-
da,umavançorumoaumacomunicaçãomaiseficiente.Masháinúme-
rosindíciosdequeestáemcursoumareversãodesseprocesso,quese
voltamaisumavezparaaimagem,denovoinspiradopelabuscademaior
eficiência.A questãomaisimportanteéo alfabetismoeo queelerepre-
sentanocontextodalinguagem,bemcomoquaisanalogiasdelapodem
serextraídase aplicadasà informaçãovisual.
A linguagemocupouumaposiçãoúnicano aprendizadohumano.
Temfuncionadocomomeiodearmazenaretransmitirinformações,veí-
culoparao intercâmbiodeidéiasemeioparaquea mentehumanaseja
capazdeconceituar.Logos,a palavragregaquedesignalinguagem,in-
cluitambémossignificadosparalelosde"pensamento"e"razão"napa-
lavrainglesaquedeladeriva,logic.As implicaçõessãobastanteóbvias;
a linguagemverbalévistacomoummeiodechegaraumaformadepen-
samentosuperioraomodovisualeaotátil.Essahipótese,porém,preci-
Alfabetismovisual
O maiorperigoquepodeameaçaro desenvolvimentodeumaabor-
dagemdo alfabetismovisualé tentarenvolvê-Ionumexcessodedefini-
ções.A existênciada linguagem,ummododecomunicaçãoqueconta
comumaestruturarelativamentebemorganizada,semdúvidaexerceuma
fortepressãosobretodososqueseocupamdaidéiamesmadoalfabetis-
movisual.Seummeiodecomunicaçãoétãofácildedecomporempar-
16 SI:-.iT..\XEDA LI~GUAGEM VISUAL CARÁTER E CONTEÚDO DO ALFABETISMO VISUAL 17
1
. I
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tescomponenteseestrutura,porquenãoo outro?Qualquersistemade
símboloséumainvençãodohomem.Os sistemasdesímbolosquecha-
mamosdelinguagemsãoinvençõesou refinamentosdo queforam,em
outrostempos,percepçõesdoobjetodentrodeumamentalidadedespo-
jadadeimagens.Daíaexistênciadetantossistemasdesímbolosetantas
línguas,algumasligadasentresiporderivaçãodeumamesmaraiz,eou-
trasdesprovidasdequaisquerrelaçõesdessetipo.Osnúmeros,porexem-
plo,sãosubstitutosdeumsistemaúnicoderecuperaçãodeinformações,
o mesmoacontecendocomasnotasmusicais.Nosdoiscasos,a facilida-
dedeaprendera informaçãocodificadabaseia-senasínteseoriginaldo
sistema.Ossignificadossãoatribuídos,esedotacadasistemaderegras
sintáticasbásicas.Existemmaisdetrêsmil línguasemusocorrenteno
mundo,todaselasindependentese únicas.Em termoscomparativos,a
linguagemvisualétãomaisuniversalquesuacomplexidadenãodeveser
consideradaimpossíveldesuperar.As linguagenssãoconjuntoslógicos,
masnenhumasimplicidadedessetipopodeseratribuídaàinteligênciavi-
sual,etodosaqueles,dentrenós,'quetêmtentadoestabelecerumaana-
logiacoma linguagemestãoempenhadosnumexercícioinútil.
Existe,porém,umaenormeimportâncianousodapalavra"alfabe-
tismo"emconjunçãocoma palavra"visual".A visãoé natural;criar
ecompreendermensagensvisuaisénaturalatécertoponto,masaeficá-
cia,emambosos níveis,só podeseralcançadaatravésdo estudo.Na
buscadoalfabetismovisual,umproblemadeveserclaramenteidentifi-
cadoeevitado.No alfabetismoverbalseespera,daspessoaseducadas,
quesejamcapazesdelereescrevermuitoantesquepalavrascomo"cria-
tivo" possamseraplicadascomojuízo devalor.A escritanãoprecisa
sernecessariamentebrilhante;ésuficientequeseproduzaumaprosacla-
raecompreensível,degrafiacorretaesintaxebemarticulada.O alfabe-
tismoverbalpodeseralcançadonumnívelmuitosimplesderealização
ecompreensãodemensagenses~ritas.Podemoscaracterizá-Iacomoum
instrumento.Saberlereescrever,pelapróprianaturezadesuafunção,
nãoimplicaanecessidadedeexpressar-seemlinguagemmaiselevada,ou
seja,aproduçãoderomancesepoemas.Aceitamosa idéiadequeo alfa-
betismoverbalé operativoemmuitosníveis,desdeasmensagensmais
simplesatéasformasartísticascadavezmaiscomplexas.
Em partedevidoà separação,naesferadovisual,entrearteeofí-
cio,e empartedevidoàslimitaçõesdetalentoparao desenho,grande
partedacomunicaçãovisualfoideixadaaosabordaintuiçãoedoacaso.
Comonãosefeznenhumatentativadeanalisá-Iaoudefini-Iaemtermos
daestruturadomodovisual,nenhummétododeaplicaçãopodeserob-
tido.Naverdade,essaéumaesferaemqueo sistemaeducacionalsemo-
vecomlentidãomonolítica,persistindoaindaumaênfasenomodoverbal,
queexcluio restantedasensibilidadehumana,epo~coounadaSépreo-
cupandocomocaráteresmagadoramentevisualdaexperiênciadeapren-
dizagemdacriança.Até mesmoa utilizaçãodeumaabordagemvisual
do ensinocarecederigoreobjetivosbemdefinidos.Em muitoscasos,
osalunossãobombardeadoscomrecursosvisuais- diapositivos,filmes,
slides,projeçõesaudiovisuais-, mastrata-sedeapresentaçõesquerefor-
çamsuaexperiênciapassivadeconsumidoresdetelevisão.Os recursos
decomunicaçãoquevêmsendoproduzidoseusadoscomfinspedagógi-.
cossãoapresentadoscomcritériosmuitodeficientesparaa avaliaçãoe
acompreensãodosefeitosqueproduzem.O consumidordamaiorparte
daproduçãodosmeiosdecomunicaçãoeducacionaisnãoseriacapazde
identificar(pararecorrermosa umaanalogiacomo alfabetismoverbal)
umerrodegrafia,umafraseincorretamenteestruturadaouumtemamal
formulado.O mesmosepodequasesempreafirmarnoquedizrespeito
àexperiênciadosmeios"manipuláveis".As únicasinstruçõesparao uso
decâmeras,naelaboraçãodemensagensinteligentes,procedemdastra-
diçõesliterárias,enãodaestruturaedaintegridadedomodovisualem
si.Umadastragédiasdoavassaladorpotencialdoalfabetismovisualem
todososníveisdaeducaçãoéa funçãoirracional,dedepositáriodare-
creação,queasartesvisuaisdesempenhamnoscurrículosescolares,ea
situaçãoparecidaqueseverificanousodosmeiosdecomunicação,câ-
meras,cinema,televisão.Por queherdamos,nasartesvisuais,umade-
voçãotácitaaonão-intelectualismo?O examedossistemasdeeducação
revelaqueo desenvolvimentodemétodosconstrutivosdeaprendizagem
visualsãoignorados,a nãosernocasodealu~osespecialmenteinteres-
sadose talentosos.Osjuízosrelativosaoqueé factível,adequadoeefi-
caznacomunicaçãovisualforamdeixadosao sabordasfantasiasede
amorfasdefiniçõesdegosto,quandonãodaavaliaçãosubjetivaeauto-
reflexivadoemissoroudoreceptor,semquesetenteaomenoscompreen-
deralgunsdosníveisrecomendadosqueesperamosencontrarnaquiloque
chamamosdealfabetismonomodoverbal.Issotalveznãosedevatanto
a umpreconceitocomoà firmeconvicçãodequeé impossívelchegara
18 SINTAXE DA LINGUAGEM VISUAL CARÁTER E CONTEÚDO DO ALFABETlSMO VISUAL 19
qualquermetodologiae a quaisquermeiosque.nospermitamalcançar
o alfabetismovisual.Contudo,a exigênciadeestudodosmeiosdeco-
municaçãojá ultrapassoua capacidadedenossasescolase faculdades.
Diantedodesafiodoal(abetismovisual,nãopoderemoscontinuarman-
tendopor muitomaistempoumaposturadeignorânciado assunto.
Comofoiquechegamosaessebecosemsaída?Dentretodososmeios
decomunicaçãohumana,o visualéo únicoquenãodispõedeumcon-
juntodenormasepreceitos,demetodologiaedenemumúnicosistema
comcritériosdefinidos,tantoparaa expressãoquantoparao entendi-
mentodosmétodosvisuais.Por que,exatamentequandoo desejamos
edeletantoprecisamos,o alfabetismovisualsetornatãoesquivo?Não
restadúvidadequesetornaimperativaumanovaabordagemquepossa
solucionaressedilema.
Temosumgrandeconhecimentodossentidoshumanos,especialmente
davisão.Nãosabemostudo,masconhecemosbastante.Tambémdispo-
mosdemuitossistemasdetrabalhoparaoestudoeaanálisedoscompo-
nentesdasmensagensvisuais.Infelizmente,tudoissoaindanãoseintegrou
emumaformaviável.A classificaçãoeaanálisepodemserdefatoreve-
ladorasdo quesempreali esteve,asorigensdeumaabordagemviável
do alfabetismovisualuniversal.
Devemosbuscaro alfabetismovisualemmuitoslugaresedemuitas
maneiras,nosmétodosdetreinamentodeartistas,naformaçãotécnica
deartesãos,nateoriapsicológica,nanaturezaeno funcionamentofisio-
lógicodo próprioorganismohumano.
A sintaxevisualexiste.Há linhasgeraisparaacriaçãodecomposi-ções.Há elementosbásicosquepodemseraprendidosecompreendidos
portodososestudiososdosmeiosdecomunicaçãovisual,sejamelesar-
tistasounão,equepodemserusados,emconjuntocomtécnicasmani-
pulativas,paraa criaçãodemensagensvisuaisclaras.O conhecimento
detodosessesfatorespodelevaraumamelhorcompreensãodasmensa-
gensvisuaís.
Apreendemosa informaçãovisualdemuitasmaneiras.A percep-
çãoeasforçascinestésicas,denaturezapsicológica,sãodeimportân-
cia fundamentalparao processovisual.O modocomonosmantemos
empé,nosmovimentamos,mantemoso equilíbrioenosprotegemos,
reagimosà luz ou ao escuro,ou aindaa ummovimentosúbito,são
fatoresquetêmumarelaçãoimportantecomnossamaneiradereceber
e interpretarasmensagensvisuais.Todasessasreaçõessãonaturais
e atuamsemesforço;nãoprecisamosestudá-Iasnemaprendercomo
efetuá-Ias.Mas elassãoinfluenciadas,e possivelmentemodificadas,
porestadospsicológicosecondicionamentosculturais,e, porúltimo,
pelasexpectativasambientais.O modocomoencaramosomundoquase
sempreafetaaquiloquevemos.O processoé,afinal,muitoindh:idual
paracadaumdenós.O controledapsiqueé freqüentementeprogra-
madopeloscostumessociais.Assimcomoalgunsgruposculturaisco-.
memcoisasquedeixariamoutrosenojados,temospreferênciasvisuais
arraigadas.O indivíduoque cresceno modernomundoocidental
condiciona-seàstécnicasdeperspectivaqueapresentamummundosin-
téticoe tridimensionalatravésdapinturaeda fotografia,meiosque,
naverdade,sãoplanosebidimensionais.Um aborígineprecisaapren-
deradecodificara representaçãosintéticadadimensãoque,numafo-
tografia,sedáatravésdaperspectiva.Temdeaprendera convenção;
é incapazdevê-Ianaturalmente.O ambientetambémexerceumpro-
fundocontrolesobrenossamaneiradever.O habitantedasmonta-
nhas,por exemplo,temdedarumanovaorientaçãoa seumodode
verquandoseencontranumagrandeplanície.Emnenhumoutroexem-
plo issosetornamaisevidentedo quenaartedos"esquimós.Tendo
umaexperiênciatãointensadobrancoindiferenciadodaneveedocéu
luminosoemseumeioambiente,queresultanumobscurecimentodo
horizonteenquantoreferência,a artedosesquimóstomaliberdades
comoselementosverticaisascendentese descendentes.
Apesardessasmodificações,háumsistemavisual,perceptivoe
básico,queécomumatodosossereshumanos;o sistema,porém,está
sujeitoavariaçõesnostemasestruturaisbásicos.A sintaxevisualexis-
te,esuacaracterísticadominanteéacomplexidade.A complexidade,
porém,nãoseopõeà definição.
Umacoisaécerta.O alfabetismovisualjamaispoderáserumsis-
tematãológicoeprecisoquantoa linguagem.As linguagenssãosiste-
masinventadospelohomemparacodificar,armazenaredecodificar
Uma abordagemdo alfabetismovisual
rr
20 SINTAXE DA LINGUAGEM VISUAL CARATER E CONTEÚDO DO ALFABETlSMO VISUAL 21
informações.Suaestrutura,portanto,temumalógicaqueo alfabetis-
mo visualé incapazdealcançar.
Em ThelntelligentEye,R. L. Gregoryrefere-seaelescomo"cartoons
of cartoons".
Porém,mesmoquandoexistemcomocomponenteprincipaldo
modovisual,os símbolosatuamdiferentementeda linguagem,e, de
fato,pormaiscompreensíveletentadoraquepossaser,a tentativade
encontrarcritériosparao alfabetismovisualna estruturada lingua-
gemsimplesmentenãofuncionará.Mas ossímbolos,enquantoforça
no âmbitodo alfabetismovisual,sãode importânciae viabilidade
enormes.
A mesmautilidadeparacompormateriaise mensagensvisuais
encontra-senosoutrosdoisníveisda inteligênciavisual.Sabercomo
funcionamnoprocessodavisão,edequemodosãoentendidos,pode
contribuirenormementeparaacompreensãodecomopodemserapli...
cadosà comunicação.
O nívelrepresentacionaldainteligênciavisualéfortementegover-
nadopelaexperiênciadiretaqueultrapassaapercepção.Aprendemos
sobrecoisasdasquaisnãopodemosterexperiênciadiretaatravésdos
meiosvisuais,dedemonstraçõesedeexemplosemformademodelo.
Aindaqueumadescriçãoverbalpossaserumaexplicaçãoextremamente
eficaz,o caráterdosmeiosvisuaisémuitodiferentedodalinguagem,
sobretudonoquediz respeitoasuanaturezadireta.Nãosefazneces-
sáriaa intervençãodenenhumsistemadecódigosparafacilitaracom-
preensão,edenenhumadecodificaçãoqueretardeo entendimento.Às
vezesbastaverumprocessoparacompreendercomoelefunciona.Em
outrassituações,verumobjetojá nosproporciona.umconhecimento
suficienteparaquepossamosavaliá-Ioecompreendê-Io.Essaexperiên-
ciadaobservaçãoservenãoapenascomoumrecursoquenospermite
aprender,mastambématuacomonossamaisestreitaligaçãocoma
realidadedenossomeioambiente.Confiamosemnossosolhos,ede-
lesdependemos.
O últimoníveldeinteligênciavisualétalvezo maisdifícildedes-
crever,epodeviratornar-seo maisimportanteparaodesenvolvimen-
to do alfabetismovisual.Trata-seda subestrutura,da composição
elementarabstrata,e,portanto,damensagemvisualpura.AntonEh-
renzweigdesenvolveuumateoriadaartecombasenumprocessopri-
máriodedesenvolvimentoevisão,ouseja,o nívelconsciente,e,num
nívelsecundário,o pré-consciente.Elaboraessaclassificaçãodosní-
Algumascaracterísticasdasmensagensvisuais
I
I
.1
A tendênciaaassociaraestruturaverbaleavisualéperfeitamen-
tecompreensível.Umadasrazõesénatural.Osdadosvisuaistêmtrês
níveisdistintose individuais:o inputvisual,queconsistedemiríades
desistemasdesímbolos;o materialvisualrepresentacional,queiden-
tificamosnomeioambienteepodemosreproduziratravésdodesenho,
dapintura,daesculturaedo cinema;ea estruturaabstrata,a forma
detudoaquiloquevemos,sejanaturalouresultadodeumacomposi-
çãoparaefeitosintencionais.
Existeum vastouniversodesímbolosqueidentificamaçõesou
organizações,estadosdeespírito,direções- símbolosquevãodesde
osmaispródigosemdetalhesrepresentacionaisatéoscompletamente
abstratos,etãodesvinculadosdainformaçãoidentificávelqueépreci-
soaprendê-Iosdamaneiracomoseaprendeumalíngua.Ao longode
seudesenvolvimento,o homemdeuospassoslentosepenososquelhe
permitemcolocarnumaformapreservávelosacontecimentoseosges-
tosfamiliaresdesuaexperiência,eapartirdesseprocessodesenvolveu-
sea linguagemescrita.No início, aspalavrassãorepresentadaspor
imagens,e quandoissonãoé possívelinventa-seumsímbolo.Final-
mente,numalinguagemescritaaltamentedesenvolvida,asimagenssão
abandonadaseossonspassama serrepresentadospor símbolos.Ao
contráriodasimagens,a reproduçãodossímbolosexigemuitopouco
emtermosdeumahabilidadeespecial.O alfabetismoéinfinitamente
maisacessívelàmaioriaquedisponhadeumalinguagemdesímbolos
sonoros,por sermuitomaissimples.A línguainglesautilizaapenas
vinteeseissímbolosemseualfabeto.Contudo,aslínguasquenunca
foramalémdafasepictográfica,comoo chinês,ondeossímbolosda
palavra-imagem,ouideogramas,contam-seaosmilhares,apresentam
grandesproblemasparaaalfabetizaçãoemmassa.Emchinês,aescri-
taeodesenhodeimagenssãodesignadospelamesmapalavra,caligra-
fia. Issoimplicaaexigênciadealgumashabilidadesvisuaisespecíficas
paraseescreveremchinês.Os ideogramas,porém,nãosãoimagens.
-
22 SINTAXE DA LINGUAGEM VISUAL CARATER E CONTEÚDO DO ALFABETISMO VISUAL 23
II
veisestruturaisdomodovisualassociandoo termodePiaget,"sincré-
tico", paraavisãoinfantildomundoatravésdaarte,como conceito
denão-diferenciação.Ehrenzweigdescrevea criançacomosendoca-
pazdevertodooconjuntonumavisão"global". Essetalento,acredi-
taele,nuncavemaserdestruídonoadulto,epodeserutilizadocomo
"um poderosoinstrumento".Outramaneiradeanalisaressesistema
dúplicedevisãoéreconhecerquetudooquevemosecriamoscompõe-se
doselementosvisuaisbásicosquerepresentama forçavisualestrutu-
ral, deenormeimportânciaparao significadoepoderosano quediz
respeitoà resposta.É umaparteinextricáveldetudoaquiloqueve-
mos,sejaqualfor suanatureza,realistaou abstrata.É energiavisual
pura,despojada.
Váriasdisciplinastêmabordadoaquestãodaprocedênciadosig-
nificadonasartesvisuais.Artistas,historiadoresda arte,filósofose
especialistasdevárioscamposdasciênciashumanase sociaisjá vêm
hámuitotempoexplorandocomoe o queasartesvisuais"comuni-
cam".Creioquealgunsdostrabalhosmaissignificativosnessecampo
foramrealizadospelospsicólogosdaGestalt,cujoprincipalinteresse
têmsidoosprincípiosdaorganizaçãoperceptiva,oprocessodaconfi-
gurl\çãodeumtodoa pártirdaspartes.O pontodevistasubjacentedaGesta/t,conformedefiniçãodeEhrenfels,afirmaque"secadaum
dedozeobservadoresouvisseumdosdozetonsdeumamelodia,aso-
madesuasexperiênciasnãocorresponderiaaoqueseriapercebidopor
alguémqueouvissea melodiatoda" .RudolfArnheiméo autordeuma
obrabrilhantenaqualaplicougrandepartedateoriadaGesta/tdesen-
volvidaporWertheimer,KõhlereKoffka à interpretaçãodasartesvi-
suais.Arnheimexploranãoapenaso funcionamentodapercepção,mas
tambéma qualidadedasunidadesvisuaisindividuaise asestratégias
desuaunificaçãoemumtodo finalecompleto.Em todososestímu-
losvisuaiseemtodososníveisdainteligênciavisual,o significadopo-
deencontrar-senãoapenasnosdadosrepresentacionais,nainformação
ambientalenossímbolos,inclusivea linguagem,mastambémnasfor-
çascompositivasqueexistemou coexistemcoma expressãofactuale
visual.Qualqueracontecimentovisualéumaformacomconteúdo,mas
o conteúdoéextremamenteinfluenciadopelaimportânciadaspartes
constitutivas,comoacor,o tom,a textura,a dimensão,a proporção
esuasrelaçõescompositivascomosignificado.EmSymbolsandCivi-
lization,RalphRosssófalade"arte" quandoobservaqueesta"pro-
duzumaexperiênciadotipoquechamamosdeestética,umaexperiência
pelaqualquasetodospassamosquandonosencontramosdiantedo
beloe queresultanumaprofundasatisfação.O queháséculosvem
deixandoos filósofosintrigadoséexatamentepor quesentimosessa
satisfação,masparececlaroqueeladepende,dealgumaforma,das
qualidadesedaorganizaçãodeumaobradeartecomseussignifica-
dosincluídos,enãoapenasdossignificadosconsideradosisoladamen-
te". Palavrascomosignificado,experiência,estéticaebelezacolocam-se
todasemcontigüidadenomesmopontodeinteresse,istoé,aquiloque
extraímosdaexperiênciavisual,ecomoo fazemos.Issoabrangetoda
aexperiênciavisual,emqualquerníveledequalquermaneiraemque
elasedê.
Para começara respondera essasperguntasé precisoexaminar
oscomponentesindividuaisdoprocessovisualemsuaformamaissim-
ples.A caixadeferramentasdetodasascomunicaçõesvisuaissãoos
elementosbásicos,afontecompositivadetodotipodemateriaisemen-
sagensvisuais,alémdeobjetoseexperiências:oponto,a unidadevi-
sualmínima,o indicadoremarcador deespaço;a linha,o articulador
fluidoeincansávelda forma,sejanasolturavacilantedoesboçoseja
narigidezdeumprojetotécnico;aforma, asformasbásicas,o círcu-
lo, o quadrado,o triânguloetodasassuasinfinitasvariações,combi-
nações,permutaçõesdeplanosedimensões;a direção,o impulsode
movimentoqueincorporaerefleteo caráterdasformasbásicas,circu-
lares,diagonais,perpendiculares;o tom,a presençaou a ausênciade
luz,atravésdaqualenxergamos;a cor, a contrapartedo tomcomo
acréscimodocomponentecromático,oelementovisualmaisexpressi-
voeemocional;a textura,ópticaoutátil,o caráterdesuperfíciedos
materiaisvisuais;aescalaouproporção,amedidaeo tamanhorelati-
vos;adimensãoeo movimento,ambosimplícitoseexpressoscoma
mesmafreqüência.Sãoessesoselementosvisuais;apartirdelesobte-
mosmatéria-primaparatodososníveisdeinteligênciavisual,eéapartir
delesqueseplanejameexpressamtodasasvariedadesdemanifesta-
Çõesvisuais,objetos,ambientese experiências.
Oselementosvisuaissãomanipuladoscomênfasecambiávelpe-
lastécnicasdeco . ~ . I "mUnIcaçaoVlsua, numarespostadIretaaocaraterdo
queestásendoconcebidoeaoobjetivodamensagem.A maisdinâmi-
--
24 SINTAXE DA LINGUAGEM VISUAL CARÁTER E CONTEÚDO DO ALFABETISMO VISUAL 25
!!
Contraste
Instabilidade
Assimetria
Irregularidade
Complexidade
Fragmentação
Profusão
Exagero
Espontaneidade
Atividade
Ousadia
Ênfase
Transparência
Variação
Distorção
Profundidade
Justaposição
Acaso
Agudeza
Episodicidade
Harmonia
Equilíbrio
Simetria
Regularidade
Simplicidade
Unidade
Economia
Minimização
Previsibilidade
Estase
Sutileza
Neutralidade
Opacidade
Estabilidade
Exatidão
Planura
Singularidade
Seqüencialidade
Difusão
Repetição
quantoelementosdeconexãoentrea intençãoeo resultado.Inversa-
mente,oconhecimentodanaturezadastécnicascriaráumpúblicomais
perspicazparaqualquermanifestaçãovisual.
Emnossabuscadealfabetismovisual,devemosnospreocuparcom
cadaumadasáreasdeanáliseedefiniçãoacimamencionadas;asfor-
çasestruturaisqueexistemfuncionalmentenarelaçãointerativaentre
osestímulosvisuaiseoorganismohumano,tantoaonívelfísicoquan-
to ao nívelpsicológico;o caráterdoselementosvisuais;eo poderde
configuraçãodastécnicas.Alémdisso,assoluçõesvisuaisdevemser
regidaspelaposturae pelosignificadopretendidos,atravésdo estilo
pessoalecultural.Devemos,finalmente,consideraromeioemsi,cujo
caráterecujaslimitaçõesirãoregerosmétodosdesolução.A cadapasso
denossosestudosserãosugeridosexercíciosparaampliaro entendi-'
mentoda naturezadaexpressãovisual.
Emtodososseusinúmerosaspectos,oprocessoécomplexo.Não
obstante,nãoháporquetransformaracomplexidadenumobstáculo
àcompreensãodomodovisual.Certamenteémaisfácildispordeum
conjuntodedefiniçõese limitescomunsparaaconstruçãoouacom-
posição,masasimplicidadetemaspectosnegativos.Quantomaissim-
plesa fórmula,maisrestritoseráo potencialdevariaçãoeexpressão
criativas.Longedesernegativa,a funcionalidadeda inteligênciavi-
sualemtrêsníveis- realista,abstratoesimbólico- temanosofere-
cerumainteraçãoharmoniosa,por maissincréticaquepossaser.
Quandovemos,fazemosmuitascoisasaomesmotempo.Vemos,
perifericamente,umvastocampo.Vemosatravésdeum movimento
decimaparabaixoedaesquerdaparaadireita.Com relaçãoaoque
isolamosemnossocampovisual,impomosnãoapenaseixosimplíci-
tosqueajustemo equilíbrio,mastambémummapaestruturalquere-
gistreemeçaaaçãodasforçascompositivas,tãovitaisparao conteúdo
e,conseqüentemente,parao inputeooutputdamensagem.Tudoisso
aconteceaomesmotempoemquedecodificamostodasascategorias
desímbolos.
Trata-sedeumprocessomultidimensional,cujacaracterísticamais
extraordináriaéasimultaneidade.Cadafunçãoestáligadaaoproces-
s~eàcircunstância,poisavisãonãosónosofereceopçõesmetodoló-
glCasparao resgatedeinformações,mastambémopçõesquecoexistem
esãodisponíveiseinterativasnomesmomomento.Os resultadossão
ca dastécnicasvisuaisé o contraste,quesemanifestanumarelação
depolaridadecoma técnicaoposta,a harmonia.Nãosedevepensar
queo usodetécnicassó sejaoperativonosextremos;seuusodeve
expandir-se,numritmosutil,porumcontinuumcompreendidoentre
umapolaridadeeoutra,comotodososgrausdecinzaexistentesentre
o brancoe o negro.Sãomuitasastécnicasquepodemseraplicadas
na buscadesoluçõesvisuais.Aqui estãoalgumas.dasmaisusadase
demaisfácilidentificação,dispostasdemodoademonstrarsuasfon-
tesantagônicas:
111
As técnicassãoosagentesno processodecomunicaçãovisual;é
atravésdesuaenergiaqueocaráterdeumasoluçãovisualadquirefor-
ma.As opçõessãovastas,esãomuitososformatoseosmeios;ostrês
níveisdaestruturavisualinteragem.Por maisavassaladorquesejao
númerodeopçõesabertasa quempretendasolucionarumproblema
visual,sãoastécnicasqueapresentarãosempreumamaioreficáciaen-
26 SINTAXE DA LINGUAGEM VISUAL
CARÁTER E CONTEÚDO DO ALFABETISMO VISUAL 27
-I
extraordinários,nãoimportandoquãocondicionadosestejamosatomá-
loscomoverdadeiros.À velocidadedaluz,a inteligênciavisualtrans-
miteumamultiplicidadedeunidadesbásicasdeinformação,ou bits
atuandosimultaneamentecomoumdinâmicocanaldecomunicação
eumrecursopedagógicoaoqualaindanãosedeuo devidoreconheci-
mento.Seráesseo motivopeloqualaquelequeé visualmenteativo
pareceaprendermelhor?Gattegnoformuloumagistralmenteessaques-
tão,emTowardsa VisualCulture:"Há milênioso homemvemfun-
cionandocomoumacriaturaquevêe,assim,abarcandovastidões.Só
recentemente,porém,atravésda televisão(edosmeiosmodernos,o
cinemaea fotografia),elefoi capazdepassardarudezadafala(por
maismilagrosaeabrangentequeestaseja)enquantomeiodeexpres-
são,eportantodecomunicação,paraospoderesinfinitosdaexpres-
sãovisual,capacitando-seassima compartilhar,comtodosos seus
semelhantese comenormerapidez,imensosconjuntosdinâmicos."
Não existenenhumamaneirafácildedesenvolvero alfabetismo
visual,masesteé tãovitalparao ensinodosmodernosmeiosdeco-
municaçãoquantoa escritaea leituraforamparao textoimpresso.
Na verdade,elepodetornar-seo componentecrucialdetodososca-naisdecomunicaçãodopresenteedo futuro.Enquantoa informação
foi basicamentearmazenadae distribuídaatravésda linguagem,e o
artistafoi vistopelasociedadecomoumsersolitárioemsuacapacida-
deexclusivadecomunicar-sevisualmente,o alfabetismoverbaluni-
versal foi consideradoessencial,mas a inteligênciavisual foi
amplamenteignorada.A invençãodacâmeraprovocouo surgimento
espetaculardeumanovamaneiradevera comunicaçãoe, porexten-
são,a educação.A câmera,o cinema,a televisão,o videocasseteeo
videoteipe,alémdosmeiosvisuaisqueaindanãoestãoemuso,modi-
ficarãonãoapenasnossadefiniçãodeeducação,masdaprópriainte-
ligência. Em primeiro lugar, impõe-seuma revisãode nossas
capacidadesvisuaisbásicas.A seguirvema necessidadeurgentedese
buscare desenvolverum sistemaestruturale umametodologiapara
o ensinoe o aprendizadodecomointerpretarvisualmenteasidéias.
Um campoquefoi outroraconsideradodomínioexclusivodoartista
edodesignerhojetemdeservistocomoobjetodapreocupaçãotanto
dosqueatuamemquaisquerdosmeiosvisuaisdecomunicaçãoquan-
to deseupúblico.
Seaarteé,comoBergsonadefine,uma"visãodiretadarealida-
de", entãonãorestadúvidadequeosmodernosmeiosdecomunica-
çãodevemsermuitoseriamentevistoscomomeiosnaturaisdeexpressão
artística,umavezqueapresentame reproduzema vidaquasecomo
umespelho."Oh, quealgumpodernosdesseo dom", imploraRo-
bertBurns,"de vermosa nóspróprioscomoos outrosnosvêem!"
E osmeiosdecomunicaçãorespondemcomseusvastospoderes.Não
sócolocaramsuamagiaà disposiçãodopúblico,comotambémade-
puseramfirmementenasmãosdequemquerquedesejeutilizá-Iospa-
ra expressarsuasidéias.Numa infinita evoluçãode seusrecursos
técnicos,a fotografiae o cinemapassampor umconstanteprocesso
desimplificaçãoparaquepossamserviramuitosobjetivos.Masaha-
bilidadetécnicanomanuseiodoequipamentonãoésuficiente.A na-
turezadosmeiosdecomunicaçãoenfatizaanecessidadedecompreensão
deseuscomponentesvisuais.A capacidadeintelectualdecorrentede
umtreinamentoparacriare compreenderas mensagensvisuaisestá
setornandoumanecessidadevitalparaquempretendaengajar-senas
atividadesligadasàcomunicação.É bastanteprovávelqueo alfabetis-
movisualvenhaa tornar-se,noúltimoterçodenossoséculo,umdos
paradigmasfundamentaisda educação.
A arteeo significadodaartemudaramprofundamentenaeratec-
nológica,masaestéticadaartenãodeurespostaàsmodificações.Acon-
teceuo contrário:enquantoo caráterdasartesvisuaise suarelação
Coma sociedademodificaram-sedramaticamente,a estéticada arte
tornou-seaindamaisestacionária.O resultadoéa idéiadifusadeque
asartesvisuaisconstituemo domínioexclusivodaintuiçãosubjetiva,
umjuízotãosuperficialquantoo seriaaênfaseexcessivanosignifica-
do literal.Na verdade,a expressãovisualéo produtodeumainteli-
gênciaextremamentecomplexa,da qual temos,infelizmente,um
conhecimentomuitoreduzido.O quevemoséumapartefundamental
doquesabemos,e o alfabetismovisualpodenosajudara vero que
vemosea sabero quesabemos.
lill
28 SINTAXE DA LINGUAGEM VISUAL
Exercícios
1.Escolha,entreseuspertencesouentreasfotosdeumarevista,
umexemplodeobjetoquetenhavalortantoemtermosdebelas-artes
quantodeartesaplicadas.Façaumalista,avaliandosuafuncionalida-
de,suabelezaestética,seuvalorcomunicativo(o queelefazparaex-
pandiro conhecimentodo leitorsobresi mesmo,seumeioambiente,
o mundo,opassadoeo presente)eseuvalordecorativooudeentrete-
nimento.
2. Recorteumafotodeumarevistaoujornale façaumarelação
derespostascurtasoudeumasópalavraquevocêlheaplicariaemter-
mosdamensagemliteraldafotoedeseusignificadocompositivosub-
jacente,eincluaa reaçãoaquaisquersímbolos(lingüísticosoudeoutro
gênero)quenelaestejaminclusos.Depoisdeanalisara foto, escreva
umparágrafoquedescrevacompletamenteoefeitodafotoeoquepo-
deriaserusadoemsubstituiçãoà mesma.
3. Escolhauminstantâneoquevocêtenhafeito,ouqualquerou-
tra coisaquetenhadesenhadooucriado(umdesenho,umbordado,
umjardim,umarranjodesala,roupas),eanalisequalfoi o efeitoou
a mensagemqueteveemmenteaocriá-Io.Compareasintençõescom
os resultados.
2
COMPOSIÇÃO: FUNDAMENTOS
SINTÁTICOS DO ALFABETISMO VISUAL
oprocessodecomposiçãoéo passomaiscrucialnasoluçãodos
problemasvisuais.Os resultadosdasdecisõescompositivasdetermi-
namoobjetivoeosignificadodamanifestaçãovisualetêmfortesim-
plicaçõescomrelaçãoaoqueérecebidopeloespectador.É nessaetapa
vitaldoprocessocriativoqueo comunicadorvisualexerceo maisfor-
tecontrolesobreseutrabalhoe tema maioroportunidadedeexpres-
sar,emsuaplenitude,o estadode espíritoquea obra sedestinaa
transmitir.O modovisual,porém,nãooferecesistemasestruturaisde-
finitivoseabsolutos.Comoadquiriro controledenossoscomplexos
meiosvisuaiscomalgumacertezadeque,no resultadofinal, haverá
umsignificadocompartilhado?Em termoslingüísticos,sintaxesigni-
ficadisposiçãoordenadadaspalavrassegundoumaformaeumaor-
denaçãoadequadas.As regrassãodefinidas:tudoo quesetemdefazer
éaprendê-Iaseusá-Iasinteligentemente.Mas,nocontextodo alfabe-
tismovisual,asintaxesópodesignificaradisposiçãoordenadadepar-
tes,deixando-noscomo problemadecomoabordaro processode
composiçãocominteligênciaeconhecimentodecomoasdecisõescom-
Positivasirãoafetaro resultadofinal.Nãoháregrasabsolutas:o que
existeéumaltograudecompreensãodoquevaiaconteceremtermos
designificado,sefizermosdeterminadasordenaçõesdaspartesquenos
permitamorganizareorquestrarosmeiosvisuais.Muitosdoscritérios
~araoentendimentodosignificadonaformavisual,o potencialsintá-
tiCOdaestruturano alfabetismovisual,decorremda investigaçãodo
processodapercepçãohumana.
111
Na criaçãodemensagensvisuais,o significadonãoseencontra
apenasnosefeitoscumulativosdadisposiçãodoselementosbásicos,
mastambémnomecanismoperceptivouniversalmentecompartilhadO
peloorganismohumano.Colocandoemtermosmaissimples:criamos
umdesigna partirdeinúmerascorese formas,texturas,tonse pro-
porçõesrelativas;relacionamosinterativamenteesseselementos;temos
emvistaumsignificado.O resultadoé a composição,a intençãodo
artista,do fotógrafoou do designer.É seuinput.Ver éoutropasso
distintodacomunicaçãovisual.É o processodeabsorverinformação
no interiordosistemanervosoatravésdosolhos,dosentidodavisão.
Esseprocessoeessa.capacidadesãocompartilhadosportodasaspes-
soas,emmaioroumenorgrau,tendosuaimportânciamedidaemter-
mosdosignificadocompartilhado.Osdoispassosdistintos,verecriar
e/ou fazersãointerdependentes,tantoparao significadoemsentido
geralquantoparaamensagem,nocasodesetentarrespondera uma
comunicaçãoespecifica.Entreo significadogeral,estadodeespírito
ou ambientedainformaçãovisualeamensagemespecificaedefinida
existeaindaumoutrocampodesignificadovisual,a funcionalidade,
nocasodosobjetosquesãocriados,confeccionadosemanufaturados
paraserviraumpropósito.Conquantopossaparecerqueamensagem
detaisobrasésecundáriaemtermosdesuaviabilidade,osfatospro-
vamo contrário.Roupas,casas,edifíciospúblicoseatémesmoosen-
talheseosobjetosdecorativosfeitosporartesãosamadoresnosrevelam
muitíssimosobreaspessoasqueoscriarameescolheram.E nossacom-
preensãodeumaculturadependedenossoestudodomundoqueseus
membrosconstruíramedasferramentas,dosartefatosedasobrasde
artequecriaram.
Basicamente,o atodeverenvolveumarespostaà luz.Emoutras
palavras,o elementomaisimportanteenecessáriodaexperiênciavi-
sualé denaturezatonal.Todosos outroselementosvisuaisnossão
reveladosatravésdaluz,massãosecundáriosemrelaçãoaoelemento
tonal,queé, defato,a luzou aausênciadela.O quea luznosrevela
eofereceéasubstânciaatravésdaqualo homemconfiguraeimagina
aquiloquereconhecee identificano meioambiente,istoé, todosOS
outroselementosvisuais:linha,cor,forma, direção, textura,escala,
FUNDAMENTOSSINTÁTICOSDOALFABETlSMO VISUAL 31
dimensão,movimento.Queelementosdominamquaismanifestações
visuaiséalgodeterminadopelanaturezadaquiloqueestásendocon-
cebido,ou,nocasodanatureza,daquiloqueexíste.Masquandodefi-
nimosa pinturabasicamentecomotonal,comotendoreferênciade
formae,conseqüentemente,direção,comotendotexturaematiz,pos-
sivelmentereferênciadeescala,enenhumadimensãoou movimento,
anãoserindiretamente,nãoestamosnemcomeçandoadefiniro po-
tencialvisualdapintura.As possíveisvariaçõesdeumamanifestação
visualqueseajusteperfeitamenteaessadescriçãosãoliteralmentein-
finitas.Essasvariaçõesdependemdaexpressãosubjetivado artista,
atravésda ênfaseemdeterminadoselementosemdetrimentodeou-
tros,edamanipulaçãodesseselementosatravésdaopçãoestratégica
dastécnicas.É nessasopçõesqueo artistaencontraseusignificado~
O resultadofinaléaverdadeiramanifestaçãodoartista.O signi-
ficado,porém,dependedarespostadoespectador,quetambémamo-
dificae interpretaatravésdarededeseuscritériossubjetivos.Um só
fatorémoedacorrenteentreo artistaeopúblico,e,naverdade,entre
todasaspessoas- o sistemafísicodaspercepçõesvisuais,oscompo-
nentespsicofisiológicosdosistemanervoso,o funcionamentomecâni-
co,o aparatosensorialatravésdo qualvemos.
A psicologiada Gestalttemcontribuídocomvaliososestudose
experimentosnocampodapercepção,recolhendodados,buscandoco-
nhecera importânciadospadrõesvisuaisedescobrindocomoo orga-
nismohumanovêeorganizao inputvisualearticulao outputvisual.
Emconjunto,ocomponentefísicoeopsicológicosãorelativos,nunca
absolutos.Todopadrãovisualtemumaqualidadedinâmicaquenão
podeserdefinidaintelectual,emocionaloumecanicamente,atravésde
tamanho,direção,formaou distância.Essesestímulossãoapenasas
mediçõesestáticas,masas forçaspsicofísicasquedesencadeiam,co-.
moasdequaisqueroutrosestímulos,modificamo espaçoeordenam
o~perturbamoequilíbrio.Emconjunto,criamapercepçãodeumde-
slgn,deumambienteoudeumacoisa.As coisasvisuaisnãosãosim-
plesmentealgoqueestáali por acaso.Sãoacontecimentosvisuais,
ocorrências t t . -. -o aIS,açoesqueIDcorporama reaçaoao todo.
d .Pormaisabstratosquepossamseroselementospsicofisiológicos
taSlDtaxevisual,pode-sedefinirseucarátergeral.Na expressãoabs-rata o si .f. ., gOlIcadolDerenteéintenso;elecolocao intelectoemcurto-
30 SINTAXE DA LINGUAGEM VISUAL
Percepçãoe comunicaçãovisual
, ,..,
32 SJNTAX": 1M LJ'liGL\(;EIII VISLAI. f'l "1J.\\IEyrOs SIYr\lIlOS lJo ..\LF\lInIS\1O \ IS\'\I :{;{
circuito,estabelecendoo contatodiretamentecomasemoçõeseossen-
timentos,encapsulandoo significadoessencialeatravessandoo cons-
cienteparachegarao inconsciente.
A informaçãovisualtambémpodeterumaformadefinivel,seja
atravésdesignificadosincorporados.emformadesímbolos,oudeex-
periênciascompartilhadasno ambienteenavida.Acima,abaixo,céu
azul,árvoresvertiatis,areiaásperaefogovermelho-alaranjado-amardo
sãoapenasalgumasdasqualidadesdenOlativas,possíveisdeseremin-
dicadas,quetodoscompartilhamosvisualmente.Assim,conscientemen-
le ou não,respondemoscomalgumaconformidadea seusignifkado.
11
FIGURA 2.1 IIGI 1<.\2 ~ I.I(,II<A 2..1
Equilíbrio I
\i~~i~r1]-- -I~- - -:!..- -.:.
1
I
I
I
I
I
I
I
I
I
l____
A maISimporÚmteinfluênciatantopsicológicacomofísicasobre
a percepçãohumana{:a necessidadequeo homemtemdeequilíbrio,
deterospésfirmememeplantadosnosoloesaberquevaipermanecer
eretoemqualquercircunstância.emqualqueratitude,comumcerto
graudecerteza.O l'quilibrioé, então,a referênciavisualmaisforte
e firmedo homem,suabaseconscientee inconscienteparafazerava-
liaçõesvisuais.O extraordinárioéque,enquantotodosospadrõesvi-
maistêmumcentrodegravidadequepodesertecnicamentecalculável.
nenhummétododecalcularé tãorápido,exatoeautomáticoquanto
o sensointuitivode equilíbrioinerenteàs percepçõesdo homem.
Assim,o COOSlructohorizontal-verticalconstituia relaçãobásica
do homemcomseumeioambiente.Mas alémdo equilíbriosimples
c estáticoilustradona figura2.1existeo processode ajustamentoa
cadavariaçãodepeso,quesedáatravésdeumareaçãodecontrapeso
(fig. 2.2 e 2,3). Essaconsciênciaimeriorizadada firmeverticalídade
emrelaçãoa umabaseestáveléexternamenteexpressapelaconfigura-
çãovisualda figura2.4, por umarelaçãohorizontal-verticaldo que
estásendovisto(fig. 2.5)eporseupesorelativoemrelaçãoa umesta-
dodeequilíbrio(fig. 2.6).O equilíbrioétào fundamentalnanatUreza
quantono homem.É o estadoopostoao colapso.É possívelavaliar
o efeitodo desequilíbrioobservando-se° aspectodealarmeestampa-
do no rostodeumavít.imaque,subitamentee semavisoprévio,leva
umempurrão.
FIGURA 2.4 I.IGU RA 2 ~ I.I(;URA 2.6
Naexpressãoou interpretaçãovisual,esseprocessodecstabíliZ<l-
çãoimpõca todasascoisasvistaseplanejadasum"eixo" vertical,com
umreferentehorizontalsecundário.osquaísdeterm,ini'lrnemconjun-
to, osfatoresestrutUraisquemcdemo equilíbrio.Esseeixovisualtam.
béméchamadodeeixosentido,quemelhorexpressaapresençainvisível
maspreponderantedo cixono atodever.Trata-sedeumaconstante
inconsciente.
Tensão
I .
Muitascoisasnom"ínambienteparecemnãoterestabilidade.O cír-
culoé umbomexemplo.Panxeo ~ ~~ D.OlhemCS
r
34 SINTAXE DA LINGUAGEM VISUAL FUNDAMENTOS SINTÁTICOS DO ALFABETISMO VISUAL 35
(fig.2.7),mas,noatodever,lheconferimosestabilidadeimpondo-lhe
oeixoverticalqueanalisaedeterminaseuequiUbrioenquantoforma(fig.
2.8),eacrescentandoemseguida(fig.2.9)a basehorizontalcomorefe-
rênciaquecompletaasensaçãodeestabilidade.Projetarosfatoresestru-
turaisocultos(oumanifestos)sobreformasregulares,comoo círculo,
o quadradoou umtriânguloeqüilátero,é relativamentesimplese fácil
decompreender,mas,quandoumaformaéirregular,aanáliseeadeter-
minaçãodoequilíbriosãomaisdifíceisecomplexas(verfigura2.10).Es-
seprocessodeestabilizaçãopodeserdemonstradocommaiorclareza
atravésdeumaseqüênciademodificaçõesligeirasnosexemplosedosefei-
tosdaposiçãodoeixosentidoaoestadovariáveldeequilíbriodafigura
2.11.
FIGURA 2.7
FIGURA 2.10
I
I
I
I
I
I
I
FIGURA 2.11
FIGURA 2.8
Es!>epr~cessodeordenação,dereconhecimentointuitivodaregula-
ridadeou d~ suaausência,éinconscienteenãorequerexplicaçãoouver-
balização-Tanto parao emissorquantoparao receptordainformação
visual,a Cal.a deequilíbrioe regularidadeéumfatordedesorientação.
Emoutras~alavras,éo meiovisualmaiseficazparacriarumefeitoem
respostaao <>bjetivodamensagem,efeitoquetemum potencialdireto
eeconômic~detransmitirainformaçãovisual.Asopçõesvisuaissãopo-
laridades,.taIlto deregularidadequantodesimplicidade(fig.2.12)deum
lado,ou de "ariaçãocomplexaeinesperada(fig.2.13)deoutro.A esco-
lhaentrees~ opçõesdeterminaa respostarelativadoespectador,tanto
emtermosde repousoe relaxamentoquantodetensão.
FIGURA 2.9
FIGURA 2.12(REPOUSO) FIGURA 2.13(TENSÃO)
A relaçãoentretensãorelativaeequilíbriorelativopodeserdemons-
tradaemqualquer formaregular.Por exemplo,umraioempontano
interiordeum círculo(fig.2.14)provocauniamaiortensãovisualpor-
queo raiomãoseajustaao"eixovisual"invisível,perturbando,portan-
to,o equilíbrio.O elementovisível,o raio,émodificadopeloelemento
invisível,o eixo sentido(fig.2.15),etambémporsuarelaçãocomabase
horizontale estabilizadora(fig.2.16).Emtermosdedesign,deplanoou
FIGURA 2.14 FIGURA 2.15 FIGURA 2.16
J-
36 SINTAXE DA LINGUAGEM VISUAL FUNDAMENTOS SIl'óTÁTICOS DO ALFABETlSMO VISlJAL 37
propósito,podemosdizerque,setivermosdoiscírculosladoa lado,o
quemaisatrairáaatençãodoespectadorseráo círculocomraioempon-
ta, ou não-concordante(fig.2.18maisquea 2.17).
FIGURA 2.19
FIGURA 2.17 'FIGURA 2.18
I
I II
Não hápor queatribuirjuízo devalora essefenômeno.Ele não
é nembomnemmau.Na teoriadapercepção,seuvalorestánomodo
comoéusadonacomunicaçãovisual,istoé, dequemaneirareforçao
significado,o propósitoeaintenção,e,alémdisso,comopodeserusado
comobaseparaa interpretaçãoea compreensão.A tensão,ousuaau-
sência,éo primeirofatorcompositivoquepodeserusadosintaticamente
na buscado aIfabetismovisual.
Há muitosaspectosdatensãoquedeveriamserdesenvolvidos,mas,
primeiro,éprecisolevaremcontaquea tensão(o inesperado,o mais
irregular,complexoeinstável)nãodomina,porsisó,oolho.Naseqüên-
ciadavisão,háoutrosfatoresresponsáveispelaatençãoepelopredomí-
nio compositivo.O processode estabelecero eixoverticale a base
horizontalatraio olhocommuitomaiorintensidadeparaambososcam-
posvisuais,dando-Ihesautomaticamenteumamaiorimportânciaemter-
moscompositivos.Comojá foidemonstrado,éfácillocalizaressescampos
quandosetratadeformasregulares,aexemplodasqueforammostra-
dasnafigura2.19.Em formasmaiscomplexas,naturalmenteémaisdi-
fícilestabelecero eixosentido,maso processoaindaconservaamáxima
importânciacompositiva.Assim,umelementovisualcolocadono local
ondeseencontrao eixosentido,nosexemplosdafigura2.20,vê-seauto-
maticamenteenfatizado.Trata-sedeexemplossimplesdeumfenômeno
quecontinuasendoverdadeiro,nãosónasformascomplexas,mastam-
bémnascomposiçõescomplicadas.Contudo,pormaisqueoselementos
sefaçamsentir,o olhobuscaoeixosentidoemqualquerfatovisual,num
FIGURA 2.20
~
7;
processointermináveldeestabelecimentodoequilíbriorelativo.Numtríp-
tico,a informaçãovisualcontidanopainelcentralpredomina,emter-
moscompositivos,emrelaçãoaospainéislaterais.A áreaaxialdequalquer
campoésempreaquiloparao queolhamosemprimeirolugar;é onde
esperamosveralgumacoisa.O mesmoseaplicaà infQrmaçãovisualda
metadeinferiordequalquercampo;o olhosevol~paraesselugarno
passosecundáriodeestabelecimentodo equilíbrioatravésdareferência
horizontal.,
Nivelamentoe aguçamento
O poderdoprevisível,porém,empalidecediantedo poderdasur-
presa.A estabilidadeea harmoniasãopolaridadesdaquiloqueévisual-
menteinesperadoedaquiloquecriatensõesnacomposição.Empsicologia,
essesopostossãochamadosdenivelamentoeaguçamento.Numcampo
visualretangular,umademonstraçãosimplesdenivelamentoseriacolo-
I,I
38 SINTAXE DA LlN(;UAGEM VISUAl.
FUNDAMENTOS SINTÁTICOS DO ALFABETlSMO VISUAl. 39
.-
.
I
---...---
I
confundiroespectadorque,inconscientemente,pretendesseestabilizarsua
posiçãoemtermosdeequilíbriorelativo.Comoa ambigüidadeverbal,
aambigüidadevisualobscurecenãoapenasa intençãocompositiva,mas
tambémo significado.O processodeequilíbrionaturalseriarefreado,
tornar-se-iaconfusoe,o queémaisimportante,nãoresolvidopelafra-
seologiaespacialsemsignificadodafigura2.26.A leidaGestaltquerege
asimplicidadeperceptivavê-seextremamentetransgredidaporesseesta-
dotãopoucoclaroemtodaacomposiçãovisual.Emtermosdeumaper-
feitasintaxevisual,aambigüidadeétotalmenteindesejável.Detodosos
nossOSsentidos,avisãoéo queconsomemenosenergia.Elaexperimen-
taeidentificao equilíbrio,óbvioousutil,easrelaçõesqueatuamentre
diversosdadosvisuais.Seriacontraproducentefrustrareconfundiressa
funçãoúnica.Emtermosideais,asformasvisuaisnãodevemserpropo-
sitalmenteobscuras;devemharmonizaroucontrastar,atrairou repelir,
estabelecerrelaçãoou entraremconflito.
FIGURA 2.21 FIGURA 2.22
II1111
carumpontonocentrogeométricodeumtraçadoestrutural(fig.2.21).
A posiçãodo ponto,comoé mostradona figura2.22,nãooferecene-
nhumasurpresavisual;étotalmenteharmoniosa.A colocaçãodoponto
nocantodireitoprovocaumaguçamento(fig.2.23).O pontoestáfora
do centronãoapenasnaestruturavertical,mastambémnahorizontal,
comoémostradona figura2.24.Elenemmesmoseajustaaoscompo-
nentesdiagonaisdo traçadoestrutural(fig.2.25).Em ambososcasos,
nivelamentoeaguçamentocompositivos,háclarezadeintenção.Através
denossapercepçãoautomática,podemosestabelecero equilíbrioouuma
ausênciamarcantedomesmo,etambémreconhecerfacilmenteascondi-
çõesvisuaisabstratas.Masháumterceiroestadodacomposiçãovisual
quenãoé nemo niveladonemo aguçado,e no qualo olho precisa
esforçar-seporanalisaroscomponentesnoquedizrespeitoaseuequilí-
brio.A esseestadodá-seo nomedeambigüidade,eemboraaconotação
sejaamesmaqueadalinguagem,a formapodeservisualmentedescrita
emtermosligeiramentediferentes.Na figura2.26,o pontonãoestácla-
ramentenocentro,nemestámuitodistanciadodomesmo,comosemos-
tranafigura2.27.Em termosvisuais,suaposiçãonãoéclara,epoderia
Preferênciapelo ânguloinferior esquerdo
III
I
II
. I
---+---
I
. I' ......................
--->1<---
1
........
........
. ........
Alémdeserinfluenciadapelasrelaçõeselementarescomo traça-
doestrutural,a tensãovisualémaximizadadeduasoutrasmaneiras:
o olhofavorecea zonainferioresquerdadequalquercampovisual.
Traduzidoemformaderepresentaçãodiagramática,issosignificaque
existeumpadrãoprimáriodevarreduradocampoquereageaosrefe-
rentesverticais-horizontais(fig.2.28),eumpadrãos,cundáriodevar-
reduraquereageaoimpulsoperceptivoinferior-esquerdo(fig. 2.29).
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FIGURA 2.23 FIGURA 2.24 FIGURA 2.25
.
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I ...............
I ........
FIGURA 2.28
FIGURA 2.29
FIGURA 2.26 FIGURA 2.27
. . Háinúmerasexplicaçõesparaessaspreferênciasperceptivassecun-
danas,e,aoCOntráriodoqueacontececomaspreferênciasprimárias,
nãoé fácildar-Ihesumaexplicaçãoconclusiva.O favorecimentoda
...........-
Itl 40 SINTAXE DA LINGUAGEM VISUAL FUNDAMENTOS SINTÁTICOS DO ALFABETlSMO VISUAL 41
parteesquerdadocampovisualtalvezsejainfluenciadopelomodooci-
dentaldeimprimir,epelofortecondicionamentodecorrentedo fato
deaprendermosa ler daesquerdaparaa direita.Há poucosestudos
eaindamuitoaaprendersobreo porquêdesermosorganismospredo-
minantementedestrosedetermosconcentradonohemisfériocerebral
esquerdonossafaculdadedelereescreverdaesquerdaparaadireita.
Curiosamente,adestrezaestende-seàsculturasqueescreviamdecima
parabaixo,e que,no presente,escrevemdadireitaparaa esquerda.
Tambémfavorecemoso campoesquerdodevisão.Sedesconhecemos
asrazõesquenoslevama fazê-Io,já ésuficientesabermosqueo fato
secomprovanaprática.Bastaobservarmosparaqueângulodeum
palcosevoltamosolhosdopúblicoquandoaindanãoháaçãoeacor-
tina sobe.
povisualsobreasuperior,estamosdiantedeumacomposiçãonivela-
da, queapresentaum mínimode tensão.Quandopredominamas
condiçõesopostas,temosumacomposiçãovisualdetensãomáxima.
Em termosmaissimples,oselementosvisuaisquesesituamemáreas
detensãotêmmaispeso(fig. 2.33,2.34,2.35)do queos elementos
nivelados.O peso,quenessecontextosignificacapacidadedeatrair
oolho,temaquiumaenormeimportânciaemtermosdoequilíbriocom-
positivo.
xxx XXX
ó.
FIGURA 2.33 FIGURA 2.34 FIGURA 2.35
'I Alguns exemplos
1'1
I
Por maisconjeturalquepossaser,a existênciadediferençasde
pesoalto-baixoeesquerda-direitatemgrandevalornasdecisõescom-
positivas.Issopodenosproporcionarumrequintadoconhecimentode
nossacompreensãodatensão,talcomoseilustrana figura2.30,que
mostraumadivisãolineardeumretângulonumacomposiçãonivela-
da;a figura2.31representaumaguçamento,masnelaatensãoémini-
mizada,aopassoquea figura2.32mostraummáximodetensão.Esses
fatospodemsercertamentemodificadosparaaspessoascanhotas,ou
llaraaquelasque,emsuasrespectivaslínguas,nãolêemdaesquerda
paraa direita.
J'.>-.A.J ~
r=lt~(j
j
~
III
FIGURA 2.36
FIGURA 2.30 FIGURA 2.31 FIGURA 2.32
Quandoo materialvisualseajustaàsnossasexpectativasemter-
mosdoeixosentido,dabaseestabilizadorahorizontal,dopredomínio
daáreaesquerdadocamposobreadireitaedametéldeinferiordocam- FIGURA 2.37
42 SINTAXE DA LINGUAGEM VISUAL
.............--
~T"'[)AMENTOS SINTÁTICOS DO ALFABETISMO VISUAL 43
Umademonstraçãopráticadateoriademonstradanafigura2.36
revelaque,numanatureza-morta,umamaçãà direitaequilibraduas
maçãsàesquerda.O predomíniocompositivoéintensificadoaodeslo-
carmosa maçãdadireitaparaumaposiçãomaisaltaquea dasduas
maçãsda esquerda,comosevêna figura2.37.
Há umarelaçãodiretaentreo pesoeo predomíniovisualdasfor-
masesuaregularidaderelativa.A complexidade,a instabilidadee a
irregularidadeaumentama tensãovisual,e, emdecorrênciadisso,
atraemo olho,comosemostranasformasregulares(fig.2.38,2.39,
2.40)enasirregulares(fig.2.41,2.42,2.43).Osdoisgruposrepresen-
tamaopçãoentreduascategoriasfundamentaisemcomposição:acom-
posiçãoequilibrada,racionale harmoniosa,em contraposiçãoà
exagerada,distorcidae emocional.
simplesemenoscomplicada,qualidadesessasquedescrevemo estado
a quesechegouvisualmenteatravésdasimetriabilateral.Os designs
deequilíbrioaxialnãosãoapenasfáceisdecompreender;sãotambém
fáceisdefazer,usando-sea formulaçãomenoscomplicadadocontra-
peso.Seumpontofor firmementecolocadoàesquerdadoeixoverti-
calou eixosentido,provoca-seumestadodedesequilíbrio,mostrado

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