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* * * DOS DEFEITOS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS GENERALIDADES A declaração de vontade é elemento essencial de todos os negó- cios jurídicos. Assim, precisa ser enunciada corretamente, sem quaisquer defeitos. Caso haja um defeito grave, o negócio jurídico será anulável, nos termos do art. 171, II, do Código Civil. Tais defeitos estão enumerados no art. 178, I e II, do CC. que trata do prazo de quatro anos para a propositura da ação de anulação. São eles: erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão e fraude contra credores. Além desses pode ser incluída a simulação, pre vista no art. 167 do CC., que torna o negócio jurídico nulo. Tais defeitos podem ser classificados em vícios do consentimen - to quando a vontade declarada não coincide com o real querer do agen –te ( são o erro, o dolo, a coação, o estado de perigo e a lesão ) e vícios sociais, em que o agente declara o que realmente quer, mas com a intenção de prejudicar terceiras pessoas ou violar a lei ( são a fraude contra credores e a simulação. ). * * * DO ERRO O erro é uma falsa representação da realidade. O agente engana-se e declara uma coisa quando, na verdade, deseja outra. Ele pensa em fa zer um negócio jurídico mas faz outro, de características diferentes. Observe-se que ele engana-se sozinho: se for induzido ao erro por outra pessoa, haverá dolo, que é outro tipo de defeito. O Código equiparou o erro à ignorância. Nesta a mente está em branco; no erro, há um falso registro da realidade. Há duas espécies de erro: a) Substancial ou essencial que recai sobre circunstâncias e aspectos relevantes para o negócio. É a causa de- terminante do negócio, ou seja, se a verdade tivesse sido conhecida, o ne gócio não teria sido celebrado. O agente só fez o negócio porque errou. b) Acidental é o erro que se refere a circunstâncias secundárias, que não acarretam prejuízo. Cuidam de qualidades secundárias do objeto ou da pessoa. O erro de cálculo, mencionado no art. 143 do CC., é desse tipo, pois só autoriza a retificação da declaração e não acarreta a anulação do negócio. Quando ocorrer, qualquer da partes pode requerer a retificação do negócio. * * * Apesar de ter o Código, no art. 138, dito que só o erro substancial torna o negócio anulável, o legislador entendeu de especificar os casos de erro substancial, para evitar interpretações diversas. Diz o art. 139 : Art. 139. O erro é substancial quando: I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, ou a alguma das qualidades a ele essenciais; II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante; III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio jurídico. Tais casos tratam do erro de fato ( inciso I ), do erro de pessoa ( in ciso II ) e do erro de direito ( Inciso III ). O inciso I trata de três situações: a) Erro sobre a natureza do negó cio. Ocorre quando o agente quer realizar um tipo de negócio e declara outro ( Ex.- quer alugar e escreve vender; entrega um bem a título de ven da e o adquirente o recebe a título de doação; entrega o bem em aluguel e a outra parte entende que está recebendo como compra a prazo ) * * * b) Erro sobre o objeto principal do negócio. Aqui a manifestação da vontade recai sobre objeto diverso daquele que o agente tinha em men te ( Ex. – o comprador pensa estar comprando um terreno valorizado e na verdade compra outro, de menor valor; compra um quadro de um apren - diz supondo tratar-se da tela de um pintor famoso; aluga casa na cidade pensando estar locando uma casa no campo ). c ) Erro sobre as qualidades essenciais do objeto principal da de- claração. O agente adquire um objeto errando sobre suas qualidades e características. Ele quer adquirir exatamente aquele objeto mas acredita ter ele certas qualidades que não possui. ( Ex.- compra candelabros prate ados supondo serem de prata; compra um quadro pensando ser o origi –nal mas é uma simples cópia; compra um relógio dourado pensando ser de ouro maciço ) O inciso II do art. 139 trata do d) Erro sobre a identidade ou as qua lidades essenciais da pessoa com quem o agente faz o negócio jurídico. Ocorre naqueles negócios em que tais qualidades do outro contratante são muito relevantes, tais como contrato de sociedade, casamento, etc. Ex. – doação a pessoa que o doador crê, erroneamente, que lhe salvou a vida; casamento com pessoa pensando ser de boa formação e depois se descobre ser um desclassificado. * * * No caso de erro de pessoa, no entanto, deve ser considerado o disposto no art. 142 do CC. Art. 142. O erro de indicação da pessoa ou da coisa, a que se referir a declaração de vontade, não viciará o negócio quando, por seu contexto e pelas circunstâncias, se puder identificar a coisa ou pessoa cogitada. Por fim, o erro substancial previsto no art. 139, inciso III, do CC. trata do e) Erro de direito. Tal erro ocorre quando o agente ignora ou inter preta erroneamente a norma jurídica aplicável ao negócio praticado. Ocor re quando o agente emite declaração de vontade no pressuposto falso de que procede segundo o preceito legal. Ex.- uma pessoa contrata a impor- tação de uma certa mercadoria ignorando que a lei proíbe tal importação. O problema nesses casos é não confundir o erro de direito previs to no art. 139, inciso III, do CC. com a regra do art. 3° da Lei de Introdução ao Código Civil. No caso do erro de direito admitido, o agente não preten- de descumprir a lei para livrar-se das consequências de sua inobservân -cia. Apenas faz o negócio acreditando que a lei não o proibia. Esses são pois os casos em que a lei considera que o erro é subs tancial. Mas, para tornar o negócio anulável, o erro precisa ser ainda escu sável e real. O primeiro desses dois requisitos exige que o erro não seja gros- * * * seiro. O erro há de ser desculpável, justificável. O art. 138 do CC. Exige que o erro “poderia ser percebido por pessoa de diligência normal”. Ou seja, o erro só pode anular o negócio jurídico quando, além de ser subs- tancial, for escusável do tipo que qualquer pessoa normal poderia come- ter. Se o agente errou porque foi negligente, não examinou bem os fatos, não foi cuidadoso, não poderá se beneficiar de seu engano. Finalmente, o erro há de ser ainda real, isto é, deve causar um pre juízo efetivo para o interessado. Se recair sobre circunstâncias acidentais não acarretará a nulidade do negócio. Assim é, por exemplo, o erro sobre a cor do veículo comprado. Já se recair sobre o ano do veículo, poderá anular o negócio. Devem ainda ser estudados os arts. 140, 141 e 144 do CC.: Art. 140. O falso motivo só vicia a declaração de vontade quando expres- so como razão determinante. Art. 141. A transmissão errônea da vontade por meios interpostos é anu- lável nos mesmos casos em que o é a declaração direta. Art. 144. O erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa, a quem a manifestação de vontade se dirige, se oferecer para executá-la na conformidade da vontade real do manifestante. * * * DO INTERESSE NEGATIVO Um último assunto deve ser estudado no capítulo do erro. Trata-se do chamado interesse negativo. Tal situação refere-se à outra parte do negócio que está sendo anulado por erro. No caso do erro, o declarante erra sozinho. A outra parte do negó-cio em nada contribui para tal erro. Entretanto, com a anulação do negó –cio, esse outro contratante vê seu negócio desfeito, podendo sofrer mui-tos prejuízos. Não é justo que aquele que errou sozinho e anula o negócio cause tais prejuízos à parte que agiu corretamente. Entende-se então que o agente que errou deve indenizar os pre -juízos do outro contratante. A responsabilidadeé somente daquele que pede a anulação do negócio por seu erro, já que é o único responsável por essa situação. Nossa lei nada fala sobre tal assunto, mas os juízes, ao anularem os negócios, devem atentar para tal problema, e determinar que o agente que errou indenize os prejuízos do outro contratante. É o que entendem os juristas. * * * PRAZO PARA A ANULAÇÃO Finalmente, deve ser destacado o disposto nos arts. 171, inciso II, e 178, incisos I e II, do Código Civil, que dispõe sobre o prazo para a pro -positura da ação anulatória dos negócios jurídicos realizados com erro: Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores. Art. 178. É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anula- ção do negócio jurídico, contado: I - no caso de coação, do dia em que ela cessar; II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que se realizou o negócio jurídico;
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