Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UAB – UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL FUESPI – FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ NEAD – NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA LICENCIATURA PLENA EM PEDAGOGIA Política Educacional – Brasil/Piauí Elenita Maria Dias de Sousa Aguiar FUESPI 2013 Ficha catalográfica elaborada por F. J. Norberto dos Santos (Bibliotecário da Universidade Estadual do Piauí- UESPI) CRB-3 1211 Aguiar, Elenita Maria Dias de Sousa. Política educacional – Brasil/Piauí / Elenita Maria Dias de Sousa Aguiar. - Teresina : FUESPI, 2013. 144 p. ISBN 978-85-8320-008-6 Material de apoio pedagógico ao Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia do Núcleo de Educação a Distância da Universidade Estadual do Piauí – NEAD / UESPI, 2013. 1. Políticas educacionais. 2. Educação na Constituição Brasileira. 3. Educação básica – Políticas públicas no Piauí. 4. Educação – Financia- mento. I. Título. CDD 379.182 2 A282p Presidente da República Dilma Vana Rousseff Vice-presidente da República Michel Miguel Elias Temer Lulia Ministro da Educação Aloizio Mercadante Oliva Secretário de Educação a Distância Carlos Eduardo Bielschowsky Diretor de Educação a Distância CAPES/MEC Celso José da Costa Governador do Piauí Wilson Nunes Martins Secretário Estadual de Educação e Cultura do Piauí Átila de Freitas Lira Reitor da FUESPI – Fundação Universidade Estadual do Piauí Carlos Alberto Pereira da Silva Vice-reitor da FUESPI Nouga Cardoso Batista Pró-reitor de Ensino de Graduação – PREG Francisco Soares Santos Filho Coordenadora da UAB-FUESPI Márcia Percília Moura Parente Coordenador Adjunto da UAB-FUESPI Raimundo Isídio de Sousa Pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação – PROP Geraldo Eduardo da Luz Júnior Pró-reitor de Extensão, Assuntos Estudantis e Comunitários – PREX Marcelo de Sousa Neto Pró-reitor de Administração e Recursos Humanos – PRAD Benedito Ribeiro da Graça Neto Pró-reitor de Planejamento e Finanças – PROPLAN Raimundo da Paz Sobrinho Coordenadora do curso de Licenciatura Plena em Pedagogia – EAD Umbelina Saraiva Alves Edição UAB - FNDE - CAPES FUESPI/NEAD Diretora do NEAD Márcia Percília Moura Parente Diretor Adjunto Raimundo Isídio de Sousa Coordenadora do Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia Umbelina Saraiva Alves Coordenador de Tutoria José da Cruz Bispo de Miranda Coordenadora de Produção de Material Didático Cândida Helena de Alencar Andrade Autora do Livro Elenita Maria Dias de Sousa Aguiar Revisão Robson Carlos da Silva Teresinha de Jesus Ferreira Diagramação Anísia Paula Araújo Marques Capa Luiz Paulo de Araújo Freitas MATERIAL PARA FINS EDUCACIONAIS DISTRIBUIÇÃO GRATUITA AOS CURSISTAS UAB/FUESPI UAB/FUESPI/NEAD Campus Poeta Torquato Neto (Pirajá), NEAD, Rua João Cabral, 2231, bairro Pirajá, Teresina (PI). CEP: 64002-150, Telefones: (86) 3213-5471 / 3213-1182 Web: ead.uespi.br E-mail:eaduespi@hotmail.com SUMÁRIO UNIDADE 1 EDUCAÇÃO BRASILEIRA: AS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS COMO EMBASAMENTO CONTEXTUAL HISTÓRICO ORGANIZACIONAL 1.1 A Educação na Constituição de 1824.....................................................9 1.2 A Educação na Constituição de 1891...................................................14 1.3 A Educação na Constituição de 1934...................................................16 1.4 A Educação na Constituição de 1937...................................................18 1.5 A Educação na Constituição de 1946...................................................22 1.6 A Educação na Constituição de 1967...................................................25 1.7 A Educação na Emenda Constitucional de 1969..................................27 1.8 A Educação na Constituição de 1988..................................................28 UNIDADE 2 POLÍTICAS EDUCACIONAIS CONTEXTUALIZADAS NAS LEIS DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL 2.1 LDB nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961..........................................47 2.2 LDB nº 5.540, de 28 de novembro de 1968/LDB nº 5.692, de 11 de agosto de 1971.........................................................................................................48 2.3 LDB nº 7.044, de 18 de outubro de 1982..............................................50 2.4 LDB nº 9.394, de 20 de dezembro de1996...........................................50 2.4.1 A Caracterizações Gerais ...............................................................52 2.4.2 Caracterizações – Níveis e Modalidades de Ensino ........................54 2.4.3 Caracterizações do Currículo ..........................................................55 2.4.4 Caracterizações - Papel e Formação dos Professores ...................56 UNIDADE 3 FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA 3.1 Caracterização do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensi- no Fundamental e de Valorização do Magistério - FUNDEF .....................67 3.2 Instituição e Destinação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e Valorização dos Profissionais da Educação - FUN- DEB ...........................................................................................................68 3.2.1 Fontes de Receita dos Fundos.........................................................69 3.2.2 Distribuição dos Recursos ..............................................................71 3.2.3 Utilização dos Recursos. ..................................................................72 3.2.4 Fiscalização dos Recursos ...............................................................72 3.2.5 Atuação do Ministério da Educação .................................................73 UNIDADE 4 POLÍTICAS PÚBLICAS DA EDUCAÇÃO BÁSICA NO ESTADO DO PIAUÍ 4.1 Constituição Federativa de 1989 e Lei Nº 5.101/99 ..........................79 4.1.1 Educação de Jovens e Adultos .......................................................80 4.1.2 Educação Especial ...........................................................................81 4.2 Educação Profissional ........................................................................83 4.3 Programas sociais suplementares .....................................................84 4.4 Valorização dos Profissionais do Magistério ......................................84 Referências ..............................................................................................87 Anexos ......................................................................................................91 FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Pedagogia 7 UNIDADE 1 EDUCAÇÃO BRASILEIRA: AS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS COMO EMBASAMENTO CONTEXTUAL HISTÓRICO ORGANIZACIONAL OBJETIVOS • Conhecer a organização do sistema educacional brasileiro tendo por base o contexto das constituições de 1824 a 1988, com o intuito de que seja possível construir embasamento teórico/crítico quanto ao contexto histórico e social. FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Pedagogia 9 Apresentação da unidade Nesta unidade, apresentamos a organização da educação brasileira presente no texto legal das constituições do nosso país. De forma sucinta será possível perceber as contribuições e/ou as negações que se fizeram, ou se fazem presentes no sistema educacional brasileiro. 1 Educação brasileira: as constituições brasileiras como embasamento contextual histórico organizacional O contexto histórico do Brasil até o momento atual, incluiu um total de 08 (oito) cartas constitucionais. Uma carta constitucional se organizada e votada por representantes do povo, com poderes constituintes são classificadascomo promulgadas; se organizadas como instrumento de poder, ou, como diz Herkenhoff (1989) “[...] instrumentos de arbítrio dos ditadores de plantão [...] sem o mínimo de respeito pelo povo [...]”, são classificadas como outorgadas. No nosso país tivemos 04 (quatro) constituições promulgadas (1891, 1934, 1946 e 1988) e quatro constituições outorgadas (1824, 1937, 1967 e 1969). Considera o autor que, mesmo as promulgadas, tiveram pouca participação popular, com exceção da Carta Constitucional de 1988, visto que a Constituinte começou os trabalhos em fevereiro de 1987, promulgando a carta em 05 de outubro de 1988. 1.1 A educação na constituição de 1824 Vamos conhecer um pouco sobre a constituição outorgada por D. Pedro I, em 25 de março de 1824. É caracterizada como Imperial, estabeleceu SAIBA MAIS Assembleia Constituinte é um órgão colegial representativo executada na elaboração de uma Constituição para o ordenamento jurídico estatal. Fernando Rebouças in: http://www.infoescola.com/direito/ assembleia-constituinte; acesso em: 08 de dezembro de 2012. Política Educacional – Brasil/Piauí 10 a gratuidade da instrução primária para todos os cidadãos, previu a criação de colégios e universidades e instituiu o ensino da religião católica. Naquele momento, o gerenciamento do processo educacional estava centralizado no âmbito da Coroa. Haidar e Tanuri (1998) destacam o ano de 1827, quando foram criados os cursos jurídicos de São Paulo e Olinda, nesse mesmo ano, a 15 de outubro uma lei dispôs sobre o ensino às escolas de primeiras letras, a partir da qual foi fixado o currículo e instituído o ensino primário para o sexo feminino, já no ano de 1832 as academias Médico-Cirúrgicas do Rio de Janeiro e da Bahia foram convertidas em Faculdades de medicina. É preciso mencionar que a instrução pública neste período mesmo enriquecido com os cursos superiores que foram criados não apresentou significação positiva, em relação aos estudos primários e médios, cita-se: [...] algumas escolas de primeiras letras e um punhado de aulas avulsas no velho estilo das aulas régias constituíram todo o saldo positivo do período que sucedeu a independência e que precedeu a reforma constitucional de 1834. O governo central, sufocado pelos encargos decorrentes de uma centralização excessiva [...] não encontrou tempo para zelar devidamente pela instrução pública. (HAIDAR e TANURI, 1998, p. 63). O que isso significa? Significa que o ensino primário ficou sob a responsabilidade dos governos das províncias, e caracterizado pela escassez dos recursos financeiros. Utiliza-se expressão teórica para expressar que, O império relegou o ensino primário ao descaso completo, ficando as poucas tentativas de aperfeiçoamento reduzidas a leis que nunca foram cumpridas. O currículo aplicado, no sentido do prescrito para ser ensinado, nunca passou de aulas de leitura, escrita e cálculo. De fato, a elite nunca teve interesse por esse nível de ensino, e o povo... ora, para que educar o povo... (ZOTTI, 2004, p. 43) No que diz respeito ao ensino secundário, oriundo do período colonial, apresentava como prática a presença de aulas régias, tendo por FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Pedagogia 11 objetivo primeiro a preparação dos alunos para o exame de admissão ao ensino superior, cuja oferta era reduzida, visto que, maior parte estava concentrada na iniciativa privada. A Educação Superior tinha preocupação em preparar as elites. Proporcionou a abertura das Academias Militar e da Marinha, os cursos médicos cirúrgicos e de Economia Política da Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios, e em 1827, as Faculdades de Direito em São Paulo e Pernambuco. É possível compreender a intenção velada quanto ao futuro das funções a serem assumidas no contexto das políticas, bem como, administrativamente. A lei nº 16 altera a Constituição de 1824 ao aprovar o Ato Adicional em 12 de agosto de 1834. O papel precípuo do ato perpassa a definição das políticas de instrução elementar no Império. Extingue os conselhos gerais e cria as assembleias legislativas nas províncias. Cria ainda o município Neutro, desmembrado da província do Rio de Janeiro, suprimindo o Conselho do Estado. O artigo nº 10, da Lei nº 16 apresenta as competências legislativas das Assembleias (provinciais). Cabia a esta legislar - Sobre a instrução pública e estabelecimentos próprios a promovê- la, não compreendendo as faculdades de medicina, os cursos jurídicos, academias atualmente existentes e outros quaisquer estabelecimentos de instrução que, para o futuro, fossem criados por lei geral. Segundo Fernando de Azevedo (1996), a partir deste artigo , SAIBA MAIS Em 1834, o Rio de Janeiro tornou-se município neutro. Em 1891, passou a Distrito Federal. [...] Em 1960, a capital federal foi transferida para Brasília e o Rio de Janeiro, transformado em Estado da Guanabara. SAIBA MAIS AULAS RÉGIAS Corresponderam a aulas avulsas de latim, grego, filosofia e retórica. Sobre a organização pode-se dizer que “[...] Os professores, por eles mesmos, organizavam os locais de trabalho e, uma vez tendo colocado a “escola” para funcionar, requisitavam do governo o pagamento pelo trabalho do ensino”. (GHIRALDELLI JÚNIOR, 2009, p. 27). Política Educacional – Brasil/Piauí 12 cada província teve autonomia para se organizar e legislar sobre economia, justiça, educação, entre outras competências. Para Azevedo, no que tange à educação, o século XIX foi um período em que a instrução pública elementar “arrastou-se” (grifo nosso), caracterizando-se como: “[...] inorganizada, anárquica, incessantemente desagregada [...]” (1996, p. 556). Sob a competência do governo central, residia o direito de promover e regulamentar a educação na Capital do Império, bem como o ensino superior em todo o território brasileiro. Caracterizou-se uma dualidade no sistema educacional. Veja bem, é interessante notar que nesta década, e sob esta sistematização educacional é que surgem os primeiros Liceus Provinciais – no Rio Grande do Norte, na Paraíba e na Bahia. Visando preparar os alunos para o exame de admissão adotavam estrutura curricular que tinha por base a educação superior. A educação profissional, originada principalmente na sociedade civil, mantém na carta constitucional, objetivos essencialmente assistencialistas. Destaca-se que em 1809, o Príncipe Regente cria no Rio de Janeiro o “Colégio das Fábricas”, considerado como primeiro ato rumo à profissionalização dos trabalhadores brasileiros; outras sociedades civis foram criadas durante o século XIX, no intuito de dar amparo a crianças órfãs e abandonadas, permitiam às crianças instruções teórico-práticas, iniciando-as no ofício. A partir de 1861, com a instalação do Instituto Comercial do Rio de Janeiro, a educação profissional passa a assumir cunho técnico-profissional. SAIBA MAIS LICEUS PROVINCIAIS - Instituições não estatais que visavam à instrução pública brasileira “[...] voltada para a formação profissional compreendendo os conhecimentos pelas ciências morais e econômicas”. (SAVIANI, 2007, p. 125). FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Pedagogia 13 A formação de professores gera discussões políticas com a Constituição de 1824, mas somente a partir do Decreto Imperial de 1827 é que se originam as Escolas de Primeiras Letras. As primeiras Escolas Normais destinadas à preparação dos profissionais para atuação no magistério público são criadas ainda no século XIX (1831-1840). As condições à formação eram precárias – os docentes tinham péssimos salários e deviam custear as despesas da formação nos estabelecimentos das capitais. A Constituição de 1824, na percepção de Herkenhoff (1989), não teceu preocupações quanto às questõeseducacionais, visto que, os princípios que a orientavam designavam que estas eram de responsabilidade da família e da igreja. Leitura complementar 1 [...] Dualidade Educacional O fato dominante nos últimos cinquenta anos de vida brasileira, com referência à educação, é a expansão e fusão gradual dos dois sistemas escolares que serviram ao país em seu dualismo orgânico de duas sociedades: primeiro de senhores e escravos, depois de senhores e povo, e que se iriam integrar progressivamente na sociedade de classe média em processo. Reflete-se na educação êsse1 dualismo substancial, com a manutenção, desde a independência, de dois sistemas escolares. Um, destinado à formação da elite, compreendendo a escola secundário acadêmica e as escolas superiores, mantido sempre sob o contrôle do governo central e, rígida e uniformemente, imposto a toda a nação. Outro, destinado ao povo e, na realidade, à classe média emergente, compreendendo escolas primárias e escolas médias vocacionais, sob o controle, desde 1834, dos governos provinciais ou locais e mais tarde, com a federação, dos governos dos Estados. Os dois sistemas eram separados 1 Manteve-se ao longo do texto a escrita original utilizada pelo autor. Política Educacional – Brasil/Piauí 14 e independentes, para o que contribuía a sua subordinação a diferentes áreas do poder público. O sistema de elite era federal e o sistema popular ou de classe média, estadual. TEIXEIRA, Anísio. O problema de formação do magistério. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Brasília, v. 46, n.º 104, out/dez. 1966. p. 278 – 287. Disponível em: http://www.bvanisioteixeira.ufba.br/artigos/ formagist.html; data de acesso: 19 de novembro de 2012. 1.2 A educação na constituição de 1891 A Constituição de 1891 advém de uma República proclamada pelo Exército, conhecida como República dos Coronéis, e também pelas contradições. Nesse período, mas especificamente em 24.02.1891 a Assembleia Nacional Constituinte promulgou a Constituição de 1891. Esta instituiu o sistema federativo de governo objetivando aumento de autonomia às antigas províncias e apresentou algumas determinações quanto à educação. Conforme Sophia Lerche (2007), a transição do Império para a República no que se refere à educação suscita novo projeto, e, nesse contexto são aprovados os Regulamentos da Instrução Primária e Secundária do Distrito Federal, do Ginásio Nacional (Decretos nº 981/90 e nº 1.075/90, respectivamente) e do Conselho de Instrução Superior (Decreto nº 1.232-G/91), propostos pela Reforma Benjamin Constant (apresentou maior preocupação com a formação científica). Apresenta avanços em relação à carta constitucional de 1824, dentre estes se destacam o princípio da laicidade e a separação entre os poderes. À educação determinou ainda: - Função privativa ao Congresso Nacional de legislar sobre a educação SAIBA MAIS A República nada mais foi que “[...] reordenamento do Estado, que se tornava obsoleto, perante a nova realidade econômica e política, de acordo com os interesses das elites”. Fato este que já ocorrera com a abertura dos portos, em 1808, bem como com a Independência política, em 1822. (GHIRALDELLI JÚNIOR, 2009, p.). FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Pedagogia 15 superior - (art. 34, inciso 30); animar no País, “não privativamente”, o desenvolvimento das letras, artes e ciências; criar instituições de ensino secundário e superior nos Estados; prover o ensino primário e secundário do Distrito Federal. - Aos Estados coube legislar sobre o ensino primário e secundário, bem como proceder implantação, manutenção de escolas primárias, secundárias e de ensino superior. A dualidade dos sistemas manteve-se presente, configurada pelo sistema federal integrado pelo ensino secundário e superior, ao lado de sistemas estaduais, que tinham a missão de legislar escolas variadas e de graus diferenciados. Esta caracterização viabilizou desigualdades na educação entre as regiões, distinguindo-se uma educação à classe dominante e, outra, destinada às classes populares. Aspecto a ser destacado nesta constituição, conforme Sofia Lerche (2007) é a proibição do voto aos analfabetos (art. 70, § 1º), para a autora revela exclusão do direito à cidadania, esta disposição permeará as próximas cartas constitucionais, sendo superada pela Constituição de 1988. A partir de 1906 a educação profissional passou a ser responsabilidade do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. Havia nesse período uma preocupação com a preparação de mão de obra, e nessas condições foi organizada a instalação de escolas comerciais públicas, algumas Escolas de Aprendizes Artífices, bem como o ensino agrícola. SAIBA MAIS LAICIDADE - O princípio da Laicidade é garantir a liberdade de crença e de culto dentro dos limites das leis comuns e da ordem pública; Enquanto liberdade de expressão a laicidade não é apenas uma condição necessária, é a origem. No caso da educação garantiu a extinção da obrigatoriedade do ensino religioso. Disponível em www.laicidade.org.br Política Educacional – Brasil/Piauí 16 A Primeira República, como ficou caracterizada, além de ignorar os princípios educacionais debatidos nesse período, agravou as condições educacionais por não contemplar no texto constitucional a gratuidade do ensino. 1.3 A educação na constituição de 1934 O Congresso Nacional no ano de 1934 elege Getúlio Vargas como presidente da República e, nesse mesmo ano, é promulgada a Constituição de 1934, que na percepção de muitos apresentou características mais democráticas, principalmente, se comparada com a Constituição de 1937 que lhe sucede, e que apresenta texto totalmente autoritário. A carta constitucional de 1934 dedica capítulo específico à Educação e à Cultura. Este fato pode ser associado ao debate político entre os defensores da Escola Pública, representando o movimento “Escola Nova”, sob influência das doutrinas pedagógicas surgidas na década de 30, e de outro, os católicos, que naquele momento exerciam grande influência à educação. Apresenta favorecimento quanto ao ensino religioso, assim como à escola privada. No que tange ao financiamento da Educação Brasileira, o Artigo nº 156 definia que “a União e os Municípios aplicariam nunca menos de dez por cento, e os Estados e o Distrito Federal nunca menos de vinte por cento da renda resultante dos impostos na manutenção e desenvolvimento dos sistemas educativos”. Apresenta nesse sentido, a vinculação de um percentual mínimo de recursos tributários a serem aplicados na educação. Apresentou indícios que visavam á organização da educação, mediante o estabelecimento de um Plano Nacional de Educação, sendo de competência do Conselho Nacional de Educação a elaboração do mesmo. Conforme Romanelli (2007), o crescimento e desenvolvimento das ações educacionais são contemplados na constituição de 1934, o que incide em muitos aspectos com a proposta dos liberais, inscrita no Manifesto dos Pioneiros. Destacam-se como contribuições desta: criação dos sistemas educativos nos estados, prevendo os órgãos de sua composição e FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Pedagogia 17 destinação de recursos para a manutenção e desenvolvimento do ensino. A inclusão do ensino religioso como obrigatório nas escolas públicas, devendo ser ministrado respeitando os princípios da confissão religiosa do educando, e sendo atribuição facultativa a esses. Garantia de imunidade de impostos para estabelecimentos particulares, de liberdade de cátedra e de auxílio a alunos necessitados e determinação de provimento de cargos do magistério oficial mediante concurso. Pois bem, nesse momento o ensino secundário passa por reforma e divisão. Quanto à reforma tinha por objetivo a preparaçãodo indivíduo para a vida, nesse sentido visava o desenvolvimento de hábitos, atitudes e comportamentos que contribuíssem para a tomada de decisões. O ensino secundário foi dividido em – fundamental e complementar. O fundamental permitia a formação geral, enquanto o complementar ou pré-universitário permitia maior abrangência quanto aos anseios dos alunos, na medida em que atendia a três caracterizações – os estudos jurídicos, os estudos na área de saúde e os estudos na área de engenharia e arquitetura. É importante destacar que o ensino superior antes mesmo da Promulgação da Constituição de 1934, ou seja, no período do governo provisório de Vargas, sofre alterações com a promulgação do Estatuto das Universidades Brasileiras (Decreto Nº 19.851/31). No ano de 1934 a Universidade de São Paulo é a primeira a ter seu funcionamento regido por este estatuto, seguida da Universidade do Distrito Federal, sob o comando de Anísio Teixeira. Saiba mais REVOLUÇÃO DE 30 - acontecimento que consolida o modelo capitalista no Brasil. A partir deste surgem novas exigências educacionais. Destaca-se que de 1930 a 1950 houve um desenvolvimento do ensino, com aumento do número das escolas primárias e secundárias (estas chegando a quase duplicarem). Nesta década houve a criação do Ministério da Educação e Saúde Pública – MESP teve como primeiro ministro Francisco Política Educacional – Brasil/Piauí 18 Campos que orientou a reforma que proporcionou uma estrutura mais orgânica aos ensinos secundários, comercial e superior. A reforma recebeu o nome de “Reforma Francisco Campos”. (Aranha, 1989). 1.4 A educação na constituição de 1937 Não se pode afirmar sobre esta carta constitucional o disposto na carta anterior quanto ao Manifesto dos Pioneiros, vejamos por quê. Esta Constituição (outorgada) expressou as tendências autoritárias do Estado Novo ao instaurar o Golpe de 1937, fato este que favoreceu o fortalecimento do Estado e a centralização do poder. A Carta constitucional apresentava características do fascismo, sendo possível perceber o Estado como provedor da [...] disciplina moral e o adestramento físico da juventude, de maneira a prepará-la para o cumprimento de seus deveres com a economia e a defesa da nação. Foi dada ênfase ao ensino cívico, que se confundia com o culto ao regime e à pessoa do ditador. (Herkenhoff, 1989, p. 20). A Constituição de 1937 atendia ao antes declarado no texto constitucional de 1934, pois no Art. 15, Nº IX, prever “fixar as bases e determinar os quadros da educação nacional, traçando as diretrizes dessa educação”. Previa manter a gratuidade e obrigatoriedade do ensino primário no Art. 130, mas apresentava no texto a ressalva – os alunos que tivessem disponibilidade financeira deveriam contribuir com o caixa escolar, sendo esta contribuição benefícios aos mais necessitados. Na percepção de Noronha (2010), esta constituição tratou de forma SAIBA MAIS CARACTERÍSTICAS DO FASCISMO - nacionalismo, exaltação do país italiano que o coloca como país supremo em termos de desenvolvimento; cerceamento da liberdade civil, pois trata-se de um regime autoritário; unipartidarismo, o único partido permitido pelo governo era o próprio partido fascista; derrota dos movimentos de esquerda; limitação ao direito dos empresários de administrar sua força de trabalho. FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Pedagogia 19 conservadora e restritiva à educação, pois o que era dever do Estado como educador passa a ser de forma reduzida, enquanto aumenta a liberdade da iniciativa privada no contexto da educação. Saiba que houve uma preocupação com a garantia da Educação Profissional, como primeiro dever do Estado, fato esse que corrobora com a intenção velada de oferecimento de uma educação dual – um modelo de escola para os ricos, e outro modelo para as classes populares, ou seja, a uns o benefício do exercício intelectual, a outros o exercício manual, com ênfase na profissionalização. A carta de 1937 desconsiderou a questão de concurso que atendesse ao magistério, e em consequência à qualidade do ensino público. Compreenda que o papel do Estado, conforme disposto por Ghiraldelli Júnior (2009) tomando por base o art. 125 era o de subsidiar e não o de centrar esforços quanto às condições de ensino no Brasil. Sendo assim, é possível visualizar o tratamento dispensado ao ensino profissional, como diretriz à expansão das forças produtivas, bem como o papel da educação quanto à regulação das classes sociais como forma de atender ao projeto de reconstrução social pensado. No que tange a vinculação financeira como qualidade à educação a presente constituição (Estado Novo) revoga o percentual de recursos estabelecido. Evidenciou aspectos relacionados à centralização e ao autoritarismo. Nela a educação pública fora colocada em segundo plano enquanto dever do Estado e concebida como “privilégio” destinado aos que não tiverem condições de pagar os custos do ensino privado. O que tornou explícito o caráter discriminatório da educação sob esta constituição, na qual o ensino religioso também ganhou maior importância. Leitura complementar 2 Reforma do Ensino – Aprovação das Leis Orgânicas da Educação Nacional No período do Estado Novo (1937-1945) as Leis Orgânicas (Reforma Capanema) decretadas no período de 1937-1946, dispostas à Política Educacional – Brasil/Piauí 20 sociedade por meio de decretos ordenaram a organização da educação no âmbito do ensino primário, secundário, industrial, comercial, normal e agrícola. Enquanto política social é permitido mencionar que à organização da educação estava previsto: [...] organizar um sistema de ensino bifurcado, com o ensino secundário público destinado, nas palavras do texto da lei, às “elites condutoras”, e um ensino profissionalizante para outros setores da população. A Reforma Capanema queria criar “elites condutoras” a partir de um dado setor já privilegiado economicamente, sem levar em conta o processo escolar pelo qual passaria cada indivíduo e que, segundo o credo liberal, poderia elevar os mais pobres a condições melhores. A idéia de elite condutora não é antagônica à idéia da democracia liberal; mas a idéia de elite forjada a partir de uma segregação antecipada, onde determinados setores da sociedade são encaminhados para um determinado tipo de escola e outros setores para outro tipo de escola, pela lei, é incompatível com a idéia de democracia liberal ou quaisquer outras idéias de democracia mais à esquerda. [...] (GHIRALDELLI JÚNIOR, 2009, p. 82). Quadro de disposição das leis orgânicas do ensino • Decreto-Lei Nº 4.048, de 22 de janeiro de 1942 → cria o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI objetivando oferecer cursos de aprendizagem, aperfeiçoamento e programas de atualização profissional; • Decreto-Lei Nº 4.073, de 30 de janeiro de 1942 → regulamenta o ensino profissional tornando obrigatoriedade aos empregadores o ensino dos ofícios aos seus empregados; • Decreto-Lei Nº 4.244, de 09 de abril de 1942 → regulamenta o ensino secundário, a partir do qual passa a ser estruturado em dois ciclos – ginasial e científico ou clássico; • Decreto-Lei Nº 4.481, de 16 de julho de 1942 → designa a obrigatoriedade que os estabelecimentos industriais teriam de FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Pedagogia 21 empregarem um total de 8% equivalente ao número de operários, e matriculá-los nas escolas do SENAI; • Decreto-Lei Nº 6.141, de 28 de dezembro de 1943 → regulamenta o ensino comercial, organizando-o em quatro anos de nívelbásico, ramificado em cursos técnicos de três anos, tais como: comércio, administração, contabilidade, e outros; • Decreto-Lei Nº 8.529, de 02 de janeiro de 1946, regulamenta o ensino primário, estrutura-o em Fundamental, destinado a crianças de sete a doze anos e Supletivo, voltado aos jovens e adultos que não se encontrassem na faixa etária adequada; • Decreto-Lei Nº 8.530, de 02 de janeiro de 1946, estabelece a obrigatoriedade do Ensino Normal como finalidade de promoção da formação docente dos professores de ensino primário, com ênfase nos conhecimentos voltados à educação infantil, assim como em administração; • Decreto-Lei Nº 8.621, de 10 de janeiro de 1946, cria o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – SENAC, sob organização e direção da Confederação Nacional do Comércio; • Decreto-Lei Nº 9.612, de 20 de agosto de 1946, regulamenta o Ensino Agrícola, com os cursos de: agricultura, horticultura, prática veterinária, indústrias agrícolas e mecânica agrícola. SAIBA MAIS LEIS ORGÂNICAS - Os decretos instituídos no período de 1942 a 1943 se encontravam na vigência da presidência de Vargas. Com a queda do governo de Vargas a reforma continuou, sob a condução do Ministro de Educação – Raul Leitão de Cunha no governo de José Linhares. (PAMPLONA e OTRANTO, s/a). Disponível em: www.aedb.br Política Educacional – Brasil/Piauí 22 1.5 A educação na constituição de 1946 Ao nos depararmos com o texto desta Carta Magna é possível compreender que numa perspectiva de comparação com os textos constitucionais anteriores, os princípios da constituição de 1946, promulgada em 18 de setembro pela Assembleia Constituinte Nacional são dispostos como de “avanços à educação”, dentre estes, o principal - a educação volta a ser definida como direito de todos. Conforme Ghiraldelli Júnior (2009, p. 87) “Apesar de ter aspectos liberais, o novo ordenamento legislativo do país manteve determinadas características do regime ditatorial”. Exemplo: segundo Silva (s/a) a “liberdade” era relativa, na medida em que alguns partidos políticos não podiam atuar, caso do Partido Comunista; não havia o direito de greve, proibição estipulada pela Justiça Federal. Vejamos o que nos diz o disposto no texto legal a partir de legislação e teoria pertinente. Estabelecia que a legislação sobre as diretrizes e bases da educação nacional cabia à União. Zotti (2004) citando Saviani (1998) infere que, a expressão “diretrizes e bases” pela primeira vez é associada à educação nacional, esta se apresenta como dispositivo de construção de uma única lei, e a esta caberia legislar sobre a educação nacional, ou seja, sobre todos os níveis e formas da educação, não de maneira isolada, mas integral. Permeados pelas condições democráticas desta carta magna os “problemas educacionais” são dispostos e debatidos por treze anos, e, como fruto do estudo em 20 de dezembro de 1961 é promulgada a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a Lei Nº 4.024. A educação é disposta como direito de todos, sem, entretanto, estabelecer relação direta com o Estado, que seria o principal instrumento responsável pela garantia e exercício deste direito. Outros encaminhamentos da lei são dispostos a seguir: • A gratuidade do ensino primário; • O ensino religioso facultado nas escolas oficiais; • Estados e Distritos Federal tinham dentre suas responsabilidades, a organização do ensino nas áreas de sua competência; FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Pedagogia 23 • O financiamento da educação foi contemplado a partir de mecanismos privados, como, bolsas de estudo e, ou outras formas de cooperação financeira; • Estabeleceu a vinculação de recursos para a educação. Cabia a União, aplicar nunca menos de 10%, enquanto aos estados, municípios e Distrito Federal, nunca menos de 20% das receitas resultantes de impostos, na manutenção e desenvolvimento do ensino (art. nº 169); • O art. nº 171, parágrafo único, estabelecia papel colaborativo da União quanto ao desenvolvimento dos sistemas de ensino (ensino primário) através de um fundo nacional; • Retoma e amplia no artigo 168, inciso III, um aspecto inovador estabelecido pela constituição de 1934, o qual trata da obrigação das empresas que tivessem no seu quadro mais de cem pessoas empregadas, de manter o ensino primário gratuito para os mesmos e para seus filhos. Constituiu-se em determinação constitucional que não logrou êxito, pois envolvia ônus financeiro às empresas que não se dispuseram a assumir; • Definiu “concursos” de provas e títulos como requisitos para o ingresso no magistério. Conforme Carvalho e Oliveira (2004, p. 5), “O golpe militar de 1964 corta pela raiz boa parte dos “avanços relativos” obtidos com a constituição de 1946, entre estes, o da vinculação constitucional de recursos para a educação”. Sob esta perspectiva, Zotti (2004) dispõe que os investimentos em educação haviam aumentado, principalmente, nos anos de 1961 a 1964, menciona SAIBA MAIS A Lei nº 4.024/61 estimulou o crescimento da iniciativa privada (uso de recursos públicos) no que diz respeito ao ensino. Política Educacional – Brasil/Piauí 24 o lançamento do Plano Nacional de Educação (PNE) que previa 12% dos recursos dos impostos, como sendo o mínimo a ser arrecadado pelo governo federal. O plano, conforme disposto pela autora, continha metas qualitativas e quantitativas a serem atingidas no prazo de oito anos, mas foi extinto 14 dias após o golpe de março de 1964. Percebemos que estava sendo iniciada a fase da ditadura, e que o fortalecimento do poder Executivo permitiu a criação e definição de novos instrumentos legais que passaram a regular o país. Leitura complementar 3 1964: o golpe de Estado e a ditadura militar pelo prisma político- econômico/ Fábio Pestana Ramos O fim da experiência parlamentarista no Brasil, criada para impedir que João Goulart assumisse efetivamente o comando do país, conduziu a uma série de fatos que levaram a um golpe militar em 1964. O plebiscito popular que exigiu a volta do presidencialismo, colocando Goulart de fato no poder, referendou o anseio por mudanças. As mudanças começaram a acontecer com medidas nacionalistas que entraram em choque direto com os interesses dos Estados Unidos da América (EUA) e dos grandes latifundiários brasileiros. Notadamente a intenção de diminuir o limite máximo de envio de remessas das empresas estrangeiras para o exterior e de realizar uma ampla reforma agrária fizeram com que setores da direita se relevassem em uma campanha contra o governo de Jango. A UDN (União Democrática Nacional), o IBAD (Instituto Brasileiro de Ação Democrática), o IPES (Instituto de Pesquisas Sociais), apoiados e financiados pelos EUA utilizaram os meios de comunicação de massa para vender a idéia de um governo comunista no poder. Uma campanha que rapidamente ganhou a adesão da Igreja católica e das forças armadas, com a organização de grandes manifestações anti-governamentais, as marchas “da família, com Deus, pela liberdade”. FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Pedagogia 25 Fatos em cadeia que levaram o Brasil a uma ditadura de direita, com generais se alternado no poder e decidindo os destinos da nação, em um período, entre 1964 e 1985, que ficou conhecido como anos de chumbo. Disponível em: http://fabiopestanaramos.blogspot.com.br/2011/05/1964:- o-golpe-de-estado-e-ditadura.htm 1.5 A educação na constituição de 1967 Em tempos de ditadura foram definidos instrumentos legais que passaram a orientar o país, entre esses a Constituição Federal de 24 de janeiro de 1967, posteriormente modificada e substituída por uma Emenda Constitucional de 17 de outubro de 1969. Os documentos tinham como finalidade - justificar o regime que se instalara no país. Este período foi encerradocom a eleição para presidente da República em 1985, primeira por voto indireto, tendo sido eleito para presidente Tancredo Neves. No entorno desta discussão, em 21 de janeiro de 1967, sob regime ideológico de segurança nacional (primeira década do regime militar), foi promulgada a sexta constituição brasileira. Perspectivas educacionais não podem ser definidas como de caracterização desta carta constitucional, pois o período ditatorial no decorrer de duas décadas permitiu visualizar-se o descompromisso com os interesses da sociedade, na medida em que, serviu [...] de palco para o revezamento de cinco generais na Presidência da República, foi paulatinamente em termos educacionais pela repressão, privatização de ensino, exclusão de boa parcela dos setores mais pobres do ensino elementar de boa qualidade, institucionalização do ensino profissionalizante na rede pública regular sem qualquer arranjo prévio para tal, divulgação de uma pedagogia calcada mais em técnicas do que em propósitos com fins abertos e discutíveis, tentativas variadas de desmobilização do magistério através de abundante e confusa legislação educacional. (GHIRALDELLI JR., 2009, p. 112). Dentre as disposições lançadas pela carta constitucional de 1967, tem-se: Política Educacional – Brasil/Piauí 26 • Gratuidade do ensino primário, com restrição – demonstração de aproveitamento como pré-requisito a continuação deste; • Obrigatoriedade do ensino estendida à faixa etária de sete a catorze anos; • Valorização à privatização do ensino, definindo assistência técnica e financeira às escolas particulares; • Sistema de bolsas reembolsáveis; • Dispõe sobre a permissão do trabalho infantil a partir dos doze anos; • Prever a reforma do Ensino Superior – Lei nº 5.540/68; • Aos municípios cabia a aplicação de 20% da renda de seus impostos na educação (Emenda Constitucional nº 01/1969) e, posteriormente, a Emenda Constitucional de 1983, que determinou 13% à União e 25% aos Estados e Municípios, destinados ao desenvolvimento da educação; • A reforma do ensino de 1° e 2° graus, manifesta no texto atingir um duplo objetivo - conter a crescente demanda sobre o ensino superior e promover a profissionalização de nível médio. Durante o interstício desta carta magna o Ministério da Educação e a United States Agency for International Development – USAID firmaram acordo, e, a partir deste, várias reformas foram definidas pela política norte-americana. A primeira reforma aprovada estabelecia novas formas de organização e funcionamento da educação superior, fixada pela Lei Nº 5.540/68. Leitura complementar 4 Ato Institucional Nº 5 FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Pedagogia 27 A letra do aparato legal autoritário invocava a necessidade imperiosa de adoção de medidas que pudessem pôr a “Revolução de 64” em condições de “enfrentamento da subversão e da guerra revolucionária” (estaria havendo no país, segundo a ditadura, um movimento amplo de insurreição, o que era nítido exagero). Assim, a própria Constituição de 1967, fruto da Ditadura Militar, foi praticamente posta de lado pelos artigos do AI-5 que permitiram ao Executivo decretar recesso no Congresso Nacional, nas Assembleias Legislativas e nas Câmaras de Vereadores; que atribuíram ao Poder Executivo a capacidade de legislar durante o recesso do Legislativo; que permitiram com base na observação do Conselho de Segurança Nacional, a suspensão dos direitos políticos de quaisquer cidadãos pelo prazo de dez anos e a cassação de qualquer mandato eletivo. O AI-5 suspendeu as garantias constitucionais de vitaliciedade, inamovibilidade e estabilidade dos funcionários públicos beneficiados com esses direitos. Segundo o AI-5, o Presidente da República poderia, ainda, confiscar os bens daqueles que, segundo investigação governamental, tivessem enriquecido ilegalmente. O povo brasileiro tornou-se de um dia para o outro, culpado, sem saber que crime havia cometido. (GHIRALDELLI JR, 2009, p. 121) 1.7 A educação na emenda constitucional de 1969 Antes falamos sobre as disposições da Constituição de 1967, mas é preciso também conhecer sobre as modificações que ocorreram em alguns dos seus artigos a partir da Emenda Constitucional nº 1 estabelecida no ano de 1969 como texto imposto pelos militares à sociedade, quando da ausência do então Presidente da República – Costa e Silva. A emenda apresentava características notórias ao momento político, sendo o autoritarismo a manifestação precípua. A carta passou por muitas alterações, e por este motivo, alguns pesquisadores chegam a considerá-la como “A Constituição de 1969”, mas o próprio texto desta expressa que a Política Educacional – Brasil/Piauí 28 Constituição de 1967 deve ser mantida, em sua maior parte. Algumas Alterações: • Estabelecimento de eleições indiretas para o cargo de governador; • Ampliação do mandato presidencial por cinco anos e a extinção das imunidades parlamentares; • Estrutura baseada na Segurança Nacional, liberdades civis foram restritas (Lei da Segurança Nacional); • Regulamenta a censura oficial (Lei da Imprensa). 1.8 A educação na constituição de 1988 Vamos retomar dados do Regime Militar. Em 1964, a partir de um golpe militar, o Brasil teve início ao maior período de autoritarismo de sua história – o Regime Militar, caracterizado como Período Ditatorial. Com duração de 21 (vinte e um) anos, tem seu término no ano de 1985, com a aprovação da Emenda Constitucional nº 25, de 15 de maio de 1985, que punha fim aos últimos vestígios da Ditadura Militar, ao estabelecer o direito FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Pedagogia 29 à realização de eleições diretas à Presidência da República. Vitória aos homens e mulheres desta nação, pois o Regime Militar caracteriza-se como um período em que muitos brasileiros sofrem violências, senão todos, uns foram massacrados, outros torturados mediante suas convicções. Progressivamente a credibilidade foi sendo retomada, os cidadãos voltam a ter suas histórias, e o clima da democracia passa a fazer parte do contexto nacional. Nesse contexto acontecem pautas de discussões da proposta de texto constitucional, e no ano de 1988 temos a aprovação da “Constituição Cidadã”, atual constituição que nos rege. A partir desta carta magna, outros documentos legais passam a fazer parte desta história – a Lei nº 9.394/96, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional; a Lei nº 9.424/96, que dispõe sobre o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério, a Lei 10.172/2001, que aprova o Plano Nacional de Educação. Estes instrumentos provocam e propõem alterações significativas à Educação, incluindo entre estas, o modo de financiá-las. A Constituição da República Federativa do Brasil foi promulgada pela Assembleia Nacional Constituinte em 05 de Outubro de 1988, data que marca um período de redemocratização do país, caracterizado pelo espírito de cidadania do povo brasileiro, e dentre as mudanças propostas, a educação é contemplada como parte dos direitos sociais. Olha só, nossa Constituição, há vinte e cinco anos em vigor, já recebeu várias emendas nos diversos segmentos em que esta é apresentada, inclusive no segmento educacional, ao qual dispomo-nos buscar maior compreensão. Você conhece a atual Constituição Brasileira? Se já conhece, ótimo, se ainda não conhece vamos aproveitar para organizar nossos conhecimentos quanto a Carta Magna que rege o nosso país. Na sua estrutura traz títulos, capítulos, seções, nesta dispõe os artigos que estabelecem normas gerais à sociedade brasileira. A educação é disposta no Título VIII – Da Ordem Social,no Capítulo III, Seção I. As finalidades, princípios, formas de oferta, obrigações do Estado, organização dos sistemas de ensino, recursos financeiros e políticas públicas são dispostos ao longo dos artigos, alguns destes serão apresentados e discutidos no Política Educacional – Brasil/Piauí 30 sentido de estabelecer maior interação com o previsto em lei. Art. 205. “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. O disposto clama por uma finalidade pré-estabelecida (direito de todos), mas com divisão de esforços, visto fazer referência à intenção compartilhada entre Estado, família e sociedade. O artigo 206 apresenta alguns princípios que visam à organização do ensino. Apresentamos estes princípios seguidos de considerações. I – Igualdade de condições para o acesso e a permanência na escola. A partir deste princípio seria possível distanciar a escolarização das crianças da sempre presente “evasão escolar”, visa a partir de políticas públicas que as escolas estejam aptas a receber e que as famílias exerçam a responsabilização pela matrícula de seus filhos. II – Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber. O princípio número II, no que corresponde à liberdade de ensinar pressupõe dependência das condições de acesso e permanência; à liberdade de ensinar abrangeria uma amplitude, perpassando desde a elaboração da proposta pedagógica, assim como, a própria condição do professor quanto a liberdade de atuação em sala de aula, as demais disposições seriam atreladas às iniciais. III – Pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino. IV – Gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais. Restabelecimento da liberdade expressa dos professores, garantindo ainda, relações entre instituições educacionais. Re-definição da garantia do direito à educação ao determinar a gratuidade do ensino. V- Valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos na forma da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de provas e títulos, aos das redes públicas. (alterado pela EC nº 53). FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Pedagogia 31 Esta valorização embora prevista constitucionalmente somente será determinada pela LDB nº 9394.96. VI – Gestão democrática do ensino público, na forma da lei. Atende a caracterização democrática, prescrevendo a garantia da participação à comunidade escolar como exercício de co-responsabilidade na busca de alcance aos objetivos educacionais perseguidos. VII – Garantia de padrão de qualidade. VIII – Piso salarial profissional nacional para os profissionais da educação escolar pública, nos termos da lei federal. Estes princípios compreendem mecanismos essenciais ao funcionamento da escola. Se bem remunerados, os profissionais do magistério terão maiores condições de desenvolver ações destinadas à melhoria da qualidade do processo educacional. Quanto a estes princípios concorrem outros, como, gestão, acesso permanência, etc., visto que, segmentos participativos podem fazer grande diferença à efetividade educacional. No artigo 207, encontramos disposição sobre as universidades, vejamos: “as universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão”. Percebe-se que o exercício de autonomia permite aos profissionais das Instituições de Ensino Superior realizar adequações às suas estruturas curriculares, realizar e pensar projeções de produção científica. Viabiliza ainda, a gerência dos recursos financeiros e patrimoniais, e, nesse sentido, o Projeto de Desenvolvimento Institucional – PDI favorecerá a gestão organizacional. As incumbências do Estado com a educação escolar são elencadas no artigo 208, determinando ações a serem viabilizadas. Neste texto a apresentação será seguida de algumas observações acerca das ações. I – “Educação Básica obrigatória e gratuita dos quatro aos dezesseis anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria”. A partir da Emenda Constitucional nº 59/2009 passa a ser dos quatro aos dezessete anos. Política Educacional – Brasil/Piauí 32 II – “Progressiva universalização do ensino médio gratuito”. III – “Atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino”. IV – “Educação Infantil em creches e pré-escolas, às crianças até cinco anos de idade”. A obrigatoriedade equivale assegurar a educação desde a etapa de Educação Infantil que corresponde ao período de pré-escolas (a creche é assegurada, mas não como obrigatoriedade) até praticamente o término do Ensino Médio, considerando o sucesso escolar, entretanto o inciso II dispõe sobre a garantia do término do Ensino médio àqueles que apresentem as condições, nestes casos, o Poder Público deverá continuar a oferta desta etapa da educação básica. Define e determina a necessidade de política de inclusão que assegurem a igualdade de condições de acesso e permanência na escola, de preferência escola regular, como destacado. A disposição na Carta Magna não prevê as devidas condições para que o escrito possa ser vivenciado, são muitos os entraves – qualificação de profissionais, trabalho de conscientização para aprofundamento da questão, dentre outras. As escolas estão seguindo o texto? Várias poderiam ser as respostas, mas a que nos permitimo-nos nesse momento pronunciar é que esse processo de “inclusão” precisa realmente ser compreendido como de “possibilidade para”, de forma que não seja permitido o crescimento de desigualdades de outra ordem. V – “Acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e criação- artística, segundo a capacidade de cada um”. A Educação Superior prevê a articulação entre Ensino, Pesquisa e Extensão, desse modo, esses níveis já seriam contemplados, porém, outros empecilhos não favorecem o acesso à Educação Superior dentro da educação superior, e assim, uma camada significativa da sociedade não logra esse intento. VI – “Oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando”. De modo geral, esta oferta garante o direito às pessoas que já estão FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Pedagogia 33 inseridas no mercado de trabalho. A adequação referida requer condições ao ensino e à aprendizagem, desse modo necessita de professores qualificados e currículos que sejam direcionados às necessidades de formação do aluno de ensino noturno. VII – “Atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de programas suplementares de material didático escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde”. Dispõe sobre as condições que podem favorecer as etapas de desenvolvimento do aluno na Educação Básica, enquanto política pública visa permitir à igualdade, inclusão social e qualidade em contextos de diferenciações, tendo em vista a permanência do aluno na escola. O artigo 209 trata das condições de participação da iniciativa privada na atividade de ensino, estabelece: I – “cumprimento das normas gerais da educação nacional”; II – “autorização e avaliação de qualidade pelo Poder Público”. No intuito de garantir a coexistência de instituições públicas e privadas de ensino é que são traçadas as disposições deste artigo. A liberdade de atuação das escolas tanto da rede pública quanto da rede privada condiciona-se à adoção da legislação educacional brasileira. Desta forma a legislaçãoeducação deve ser observada quando da elaboração de estatutos, regimentos e projetos pedagógicos, os quais prescindem da autorização emitida pelo Poder Público competente. A qualidade das instituições quanto ao ensino a ser oferecido deve ser definida como meta, e, sob esta pretensão as instituições devem exercer a auto-avaliação, bem como serem avaliadas por seus usuários, e, ou órgãos externos, pois a avaliação suscita tomada de decisão quanto à melhoria das deficiências conhecidas. Art. 210. “Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, de maneira a assegurar a formação básica comum e respeito aos valores culturais e artísticos, nacionais e regionais”. O currículo comum nesse período correspondia aos conteúdos mínimos que deveriam ser trabalhados à formação de alunos do ensino fundamental, estes precisavam ser assegurados a nível nacional. No ano Política Educacional – Brasil/Piauí 34 de 1996, a LDB nº 9.394 definirá no art. nº 26 uma “base comum” e uma “parte diversificada” aos currículos de Ensino Fundamental e Médio da nação brasileira. Art. 211. “A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão em regime de colaboração seus sistemas de ensino”. Observe que sob esta pretensão, a União é responsável pela organização do sistema federal de ensino, mas deverá prestar assistência técnica e financeira aos Estados, Distrito Federal e Municípios de maneira que seja garantido o padrão mínimo de qualidade do ensino ofertado, sendo que aos Estados brasileiros e ao Distrito Federal caberá atuação destinada com prioridade ao ensino fundamental e médio, enquanto os municípios terão suas ações centradas na educação infantil e no ensino fundamental. Art. 212. “A União aplicará, anualmente, nunca menos de dezoito e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios vinte e cinco por cento, no mínimo, da receita resultante de impostos, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino”. Esta definição constitucional fixa o volume de recursos financeiros que os Poderes Públicos devem retirar de sua receita tributária, de forma, que a cada ano estes recursos possam ser aplicados à melhoria dos níveis e modalidades de ensino educacional. Art. 213. “Os recursos públicos serão destinados às escolas públicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias, confessionais ou filantrópicas, definidas em lei, que: I – Comprovem finalidade não lucrativa e apliquem seus excedentes financeiros em educação; II – “assegurem a destinação de seu patrimônio a outra escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Poder Público, no caso de encerramento de suas atividades”. Os recursos públicos são garantidos às escolas privadas nas situações descritas, sendo que as instituições destinam bolsas a alunos do ensino fundamental e médio que de alguma forma está condicionado aos recursos recebidos, e ao mesmo tempo supre a questão de falta de vagas, e, ou outras situações que possa ser agravante que possa dificultar as FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Pedagogia 35 condições de permanência na escola em prol da igualdade. Art. 214. “A lei estabelecerá o Plano Nacional de Educação, de duração decenal; com o objetivo de articular o sistema nacional de educação em regime de colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de implementação para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino em seus diversos níveis, etapas e modalidades por meio de ações integradas dos poderes públicos das diferentes esferas federativas que conduzam a: I – erradicação do analfabetismo; II – universalização do atendimento escolar; III – melhoria da qualidade do ensino; IV – formação para o trabalho; V – promoção humanística, científica e tecnológica do País; VI – “estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educação como proporção do produto interno bruto”. Está lembrado que o Plano Nacional de Educação já havia sido instituído pela Constituição de 1934? Então ele continua fazendo parte da organização da educação brasileira. Foi estabelecido no ano de 2001, a partir da Lei nº 10.172/2001, plano de orientações sistematizadas às políticas educacionais do Brasil, sob a responsabilidade da União. Os incisos I e II determinantes a uma educação de qualidade que se queira a um país estabelecem exigências às administrações da educação pública, no sentido de assegurar ações que sejam pertinentes e, sobretudo que visem à condução efetiva de ações pensadas à educação. A determinação da lei nº 9.394/96 à “formação para o trabalho”, presente no inciso IV, significa aos profissionais que lidam com o processo de ensino e aprendizagem, encaminhamentos necessários aos conhecimentos que demonstrem o vínculo a ser estabelecido entre educação escolar e o mundo do trabalho. Outros instrumentos legais surgiram, e contribuem com a caracterização do cenário educacional brasileiro, destaca-se: a Lei nº 9.394/96, a Lei 9.424/96 e a Lei 10.172/2001. Estes provocam e propõem mudanças nas políticas a serem desenvolvidas, no formato de condução Política Educacional – Brasil/Piauí 36 do financiamento destas, durante a década de noventa. (1990). No capítulo II a discussão é direcionada às disposições da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional no sentido de traçar uma linha situacional dos textos legais por ela gerados ao longo do percurso histórico educacional da sociedade brasileira. Glossário Cátedra → 1. s.f. Cadeira professoral; o mais alto posto da hierarquia do magistério: conquistar a cátedra de literatura. Desmembrar → 1. Fig. Dividir, partir em pedaços: desmembrar um território. Dualidade → 1. s.f. Caráter ou propriedade do que é duplo ou do que contém em si duas naturezas, duas substâncias, dois princípios. Plebiscito →1. s.m. Antig. Decreto emanado do povo romano, reunido em comício; 2. Voto expresso diretamente pelo povo, que tem por objeto deliberar sobre uma proposta, uma lei ou resolução que lhe é submetida. Referendar → 1. v.t. Assinar um documento qualquer como responsável; 2. Assinar o ministro, por baixo da assinatura do chefe do poder executivo, um documento legal, como condição para que este se publique e se execute; 3. Aceitar a responsabilidade de alguma coisa já aprovada por outrem, concorrendo assim para que ela se realize ou se cumpra. Inamovibilidade → 1. Direito do magistrado e certas categorias de funcionários públicos, que não pode ser privado de suas funções antes de ter alcançado a idade da aposentadoria. Interstício → 1. fenda, intervalo. Vitaliciedade → 1. sf Qualidade de vitalício (adj. Que dura a vida toda, ou que a isso é destinado). FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Pedagogia 37 Constituições /Brasil – resumo • A Constituição de 1824 assegurava a gratuidade do ensino primário, e previa a criação de escolas, ginásios e universidades. Segundo Ghiraldelli (2009) na prática isso não aconteceu, pois embora traçados os objetivos e houvesse as necessidades, manteve-se um descompasso. A partir da Lei de outubro de 1827 as aulas passam a ser praticadas com a adoção do “método lancasteriano de ensino” – ensino mútuo, onde os alunos mais adiantados ajudavam os menos adiantados. • Objetivando a qualificação da elite que deveria ocupar os cargos administrativos e políticos do país, o governo imperial privilegia o ensino superior em detrimento do ensino primário e profissional. Ao ensino secundário cabia à preparação dos alunos para o ingresso nos cursos superiores, nesse sentido a estrutura do currículo mantinha as disciplinas indispensáveis. • A primeira lei de instrução elementar no Brasil, única até o ano de 1946, foi estabelecida no período do Império, corresponde ao decreto imperial de 15 de outubro de 1827, conformeZotti (2004) representou avanço, pois previa a educação feminina. • O Ato Adicional de 1834 provoca o desmembramento do sistema de ensino em dois sistemas paralelos de ensino, de um lado, aquele administrado pelo governo central e de outro o de responsabilidade dos governos provinciais. • A dualidade de sistemas foi marcada por currículos inorgânicos, irregulares, não seriados e com exames parcelados, permitindo o ingresso nos cursos superiores sem a conclusão do secundário, a preocupação era o oferecimento de disciplinas exigidas nos exames que preparavam os alunos ao ingresso no ensino superior. • Primeiras escolas normais criadas no Brasil – a de Niterói (1835), a da Bahia (1836) e a do Ceará (1845), que não foram adiante, a de São Paulo (1846) e a do Rio de Janeiro (1880), Política Educacional – Brasil/Piauí 38 todas com uma organização rudimentar. (AZEVEDO, 1976, p. 94 apud ZOTTI, 2004, p. 40). Entretanto somente a partir de 1880 se inicia no Brasil o movimento das escolas normais. (CHAGAS, 1980, p. 23 apud ZOTTI, 2004, p. 40). • Colégio Pedro II, criado em 1838 para servir como modelo de instituição do ensino secundário – referência da época imperial. Conforme Ghiraldelli Jr. “[...] ele nunca se efetivou realmente como modelo para tal nível, tomado em si mesmo, e vingou como uma instituição preparatória aos cursos superiores” (2009, p. 30). • A criação do Instituto Comercial do Rio de Janeiro no ano de 1861 viabiliza o início de um determinado padrão técnico-profissional no âmbito da educação profissional, existente desde 1809. • A formação de professores na visão de Luz (2010) foi insipiente, na medida em que obrigava os docentes a se qualificarem as custas de seus baixos salários em escolas das capitais. • A Constituição da Primeira República promulgada em 1891, além de instituir o sistema federativo de governo, definiu em matéria de educação, as competências do Congresso Nacional, dos estados e do governo Federal, objetivava aumentar a autonomia das antigas províncias. • A autonomia dos Estados, trazida pelo federalismo, favoreceu desenvolvimento desigual da educação entre as regiões do país. • Adentrar a um curso superior continuava a ser o principal objetivo dos alunos que faziam o ensino secundário. • A constituição de 1934 determinou que coubesse a União a obrigação de: - fixar as diretrizes da educação nacional; elaborar o Plano Nacional de educação; exercer a função supletiva; manter o ensino no Distrito Federal e nos territórios; controlar, supervisionar e fiscalizar o cumprimento das normas federais. • Determinou aos Estados e Distrito Federal: FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Pedagogia 39 - autonomia para criar seus Conselhos de Educação e organizar seus sistemas de ensino. - gratuidade do ensino primário e auxílio a alunos carentes. - aplicação de verbas, oriundas de impostos, no desenvolvimento do ensino. - a educação como direito de todos e obrigação do estado e da família. - ensino religioso obrigatório para a escola e facultativo para o aluno. - concurso público para a admissão de professores nas escolas públicas. • Constituição de 1937 - expressa tendências autoritárias do Estado Novo; - formação cívica como elemento essencial; - previa a manutenção da gratuidade e obrigatoriedade do ensino primário, mas os alunos que tivessem maior disponibilidade financeira deveriam contribuir com caixa escolar; - educação profissional como prioridade (primeiro dever do Estado); - a normatização de diversos ramos do ensino passa a ser realizada por Leis Orgânicas; - a garantia da Educação Profissional contribuiu com a intenção velada de oferecimento de uma educação dual – um modelo de escola para os ricos, e outro modelo para as classes populares. • Constituição de 1946 - Resgate aos princípios democráticos: m Educação volta a ser definida como direito de todos; m dispõe sobre a assistência a alunos carentes, visando garantir a qualidade da educação; m gratuidade do ensino primário; m estabeleceu a vinculação de recursos para a educação; m define “concursos” de provas e títulos como requisitos para o ingresso no magistério. Política Educacional – Brasil/Piauí 40 - Estudo, elaboração e sanção da primeira Lei de Diretrizes e bases da Educação Brasileira – n.º 4.024, de 20 de dezembro de 1961; • Constituição de 1967 estabelece: - gratuidade do ensino primário; - ensino obrigatório para a faixa etária de 7 a 14 anos; - valorização à privatização do ensino (assistência técnica e financeira às escolas particulares); - permissão do trabalho infantil a partir dos doze anos; - a partir das emendas constitucionais de 1969 e 1983 passa a ser obrigação da União (13%), Estados e Municípios (25%) de aplicarem percentuais da renda de seus impostos no desenvolvimento da educação; - prever a reforma do Ensino Superior Lei. Nº 5.540/68); - reestrutura o ensino médio – em ensino de Primeiro e Segundos Graus; - sanciona a lei 7.044/82 – esta torna facultativa a habilitação profissional no ensino de Segundo Grau. • Constituição de 1988 - marca um período de redemocratização do país, dispondo a educação como direito social dos cidadãos e cidadãs do Brasil - promulgada pela Assembleia Nacional Constituinte em 05 de Outubro de 1988, estabelece: - a educação como direito de todos e dever do Estado e da família, devendo ser promovida e incentivada com a colaboração da sociedade; - a educação tem como finalidade – o desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho; - Oito princípios dispõem sobre a organização do ensino (art. 206), tratando de questões como a acesso e permanência na escola, Gratuidade do ensino público, valorização dos profissionais da educação escolar, estão democrática do ensino público, garantia de padrão de qualidade, dentre outras. FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Pedagogia 41 - autonomia às universidades, sendo que estas precisam garantir o princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão. -Alguns deveres dos Estados garantidos pela constituição: a oferta da educação básica e gratuita à população de quatro a dezessete anos; a atendimento aos portadores de deficiência; a oferta da educação infantil em creches e pré-escolas; a oferta do ensino noturno regular; - Outras disposições da Constituição de 1988: a garantia da formação básica a partir da fixação de currículo de base comum – conteúdos mínimos; a livre participação da iniciativa privada nas atividades da educação escolar; a os recursos públicos serão destinados à escola pública, como forma de bolsa, também poderão ser destinados a instituições de ensino sem fins lucrativos; a plano nacional de educação – previa a definição de metas, objetivos, diretrizes e estratégias, com previsão para uma década, no sentido de desenvolver ações que visem a aumentar o índice de alfabetização, a universalização do atendimento escolar, etc. Atividades de aprendizagem - Responda a estas questões, este exercício contribuirá com a fixação das ideias trabalhadas. 1) Na Constituição de 1824, somente um nível de ensino teve a gratuidade garantida. Cite-o. 2) O gerenciamento do processo educacional no período colonial estava centralizado. Quem o centralizava? 3) Explique com suas palavras porque o ensino superior recebeu maior atenção por parte do governo imperial. 4) A dualidade de sistemas esteve presente nas cartas constitucionais. Em que consiste? Política Educacional – Brasil/Piauí 42 5) O Colégio D. Pedro II foi criado com finalidades pré-definidas. Quais? 6) A primeira Constituição Republicana específica certa determinação quanto à competência de legislação à Educação Superior. Qual foi esta determinação? 7) A partir de 1906 a educação profissionalpassa a ser coordenada por qual Ministério? 8) A Carta Magna de 1891 apresenta avanços em relação à Carta Magna de 1824. Apresente no mínimo um dos avanços. 9) Órgão normativo da educação nacional criado pela Constituição de 1934? 10) Que competências legislativas foram definidas pela Constituição de 1891 aos Estados? 11) Qual a primeira constituição que teve preocupação com a aplicação de recursos tributários? 12) Que leis foram aprovadas na vigência da Constituição de 1937. Dentre elas, na sua concepção, qual teve maior significação à sociedade? 13) Ao desconsiderar a questão de concurso que atendesse ao magistério, consequentemente, a carta de 1937 prejudicou a educação brasileira. Por quê? 14) A primeira LDB nº 4.024/61 define dois níveis de ensino à Educação Brasileira. Quais? 15) Considerando que a LDB nº 9.394 foi aprovada na década de 90, é possível dizer que este fato aconteceu na vigência de que constituição? 16) A Constituição de 1967 especifica determinado apoio às escolas privadas. De que apoio se trata? 17) Duas reformas se fizeram presentes no período da Constituição caracterizada pelo regime militar. Quais são elas? 18) O objetivo do ensino de Primeiro e Segundo Graus foi alterado a partir de uma reforma. Qual a reforma? Apresente os dois formatos do objetivo. 19) Leia a Constituição de 1988 – localize o capítulo que trata da “Educação” e enumere caracterizações aos seguintes aspectos: • Finalidade da Educação Nacional. • Princípios Basilares do Ensino. FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Pedagogia 43 • Ensino Noturno – condições de oferecimento. • Escolas Privadas – autorização e avaliação. • Recursos Públicos – escolas comunitárias, confessionais e filantrópicas. • Plano Nacional de Educação. • Educação Infantil. • Alunos portadores1 de deficiências. (grifo da autora). Atividade complementar Acesse o site http://www.dhnet.org.br/dados/apostila/dh/br/ const88.htm Leia com atenção e conheça mais sobre a Constituição do Brasil – Lei maior que organiza o nosso país. Releia o texto, se possível. Apresente no mínimo 08 (oito) pontos /ideias do texto que lhe chamaram atenção. Para aprender mais Consulte o seguinte endereço eletrônico - www.educarparacrescer. abril.br - Conheça mais, confronte com o texto do livro, enriqueça sua trajetória de formação. Para finalizar As Constituições Brasileiras, e neste caso, o item “Educação nas Constituições”, nos permite aprofundar o desenvolvimento de aspectos educacionais ao longo da história brasileira, considerando a periodização que permeia o Império aos dias atuais. 2 Esta menção (portadores) às pessoas com algum tipo de deficiência passa por alter- ações – a Portaria nº 2.344, de novembro de 2010 especifica que: Onde se lê “Pessoas Portadoras de Deficiência”, leia-se “Pessoas com Deficiência”. Disponível em: http://www. deficienteciente.com.br/2010/11/decreto-atualiza-nomenclatura-do-conade.html; data de acesso: 19.02 de 2013. Política Educacional – Brasil/Piauí 44 O contexto de cada Carta Magna define a caracterização destas, suas manifestações quanto ao estabelecido denotam se estas tendem a pretensões autoritárias, e ou, mais democráticas. São interessantes alguns pontos que se repetem, tornando-se comuns, e na sua continuidade continuam chamando e clamando por atenção, em especial de estudiosos que se debruçam por conhecê-los e compreendê-los, destaca-se: o oferecimento da educação às camadas populares, perpassando pela questão da gratuidade, a formação de professores, dentre outros. Foi possível perceber que uma constituição define intencionalidades, mas não dispõe sobre as garantias dessa ocorrência, nela estão dispostos sonhos e anseios de uma sociedade, no caso, a brasileira, e envolve “direitos dos cidadãos”, mas preconiza também os seus “deveres”, e nesse movimento visa a busca da cidadania de filhos e filhas da nação brasileira. O estudo nos possibilita conhecer a política educacional do nosso país, a partir desse conhecimento, indagações, desafios ocorrerão, estes favorecem o desenvolvimento da reflexão dos fatos políticos e sociais que nos cercam, pois fazem parte da vida pública, conforme assinala Vieira (2007, p. 308) “[...] a presença ou ausência da educação nas constituições brasileiras evidencia seu menor ou maior grau de importância ao longo da história”. UNIDADE 2 CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA SOBRE AS LEIS DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL OBJETIVOS • Conhecer as diretrizes e bases que orientam a organização e o funciona- mento da Educação Brasileira. • Identificar políticas públicas presentes no texto e no contexto da Edu- cação Brasileira. FUESPI/NEAD Licenciatura Plena em Pedagogia 47 2 Políticas educacionais contextualizadas nas leis de diretrizes e bases da educação nacional Ao dispor resumidamente sobre a legislação pertinente às Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional pretende-se configurá-las a partir de um contexto histórico, social, político, situando o “contexto educacional” aos quais estas vislumbraram atender. Intenções às vezes veladas visto camuflarem interesses que por muitas vezes constituem desvios às reais necessidades dos momentos em que foram definidas. 2.1 Ldb nº 4.024, De 20 de dezembro de 1961 Você sabia que esta foi a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação do Brasil? Enquanto Projeto tramitou por um período de 13 anos. Gadotti (2009, p. 100) cita que Saviani (1973) ao analisá-la “[...] concluiu pela inexistência de um sistema educacional no País, apontando apenas a existência de estruturas desarticuladas.” Vamos conhecer um pouco mais sobre esta lei? O ministro da educação Clemente Mariani definiu dentre suas metas a necessidade de elaboração de projeto que objetivasse atender a reforma da educação nacional. Com este intento, no ano de 1947, segundo Saviani (2006) constituiu comissão de educadores de tendências diferenciadas, com o intuito de organização do projeto pensado, tendo como fruto do trabalho o documento que gerou a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961. Principais Definições da Lei 4.024/61 Esta unidade dispõe informações importantes sobre as normas que envolvem a Educação Básica de forma que possamos perceber a definição de políticas públicas correspondentes ao âmbito educacional. Política Educacional – Brasil/Piauí 48 - O ensino a partir desta lei passa a compor-se de: pré primário, primário, médio (ginasial e colegial) e superior; - O ingresso ao Ensino Médio apresentava como pré-requisito a aprovação em um Exame de Admissão. Obs: No momento de submissão ao exame os alunos deveriam fazer a opção por Secundário ou Profissional (industrial, comercial, agrícola e normal - formação de professores), permitindo acesso ao ensino superior. - à família cabia o direito de escolha sobre a educação dos filhos, enquanto que o ensino era obrigação do poder público, sendo livre a iniciativa privada. 2.2 Ldb nº 5.540/68, De 28 de novembro de 1968/ ldb nº 5.692, De 11 de agosto de 1971 Ghiraldelli Jr. (2009) menciona que evoluções e involuções políticas aconteceram nos vinte e um anos de ditadura, período caracterizado por três representações, a primeira corresponde aos governos Castelo Branco e Costa e Silva (1964-1969), a segunda ao governo do general Garrastazu Médici (1970-1974), e a terceira pelo governo dos generais Ernesto Geisel e João Baptista Figueiredo (1975-1985). Esta periodização envolveu a elaboração das reformas do ensino – implantadas por duas leis de diretrizes e bases da educação, a Lei Nº 5.540/68 e Lei Nº 5.692. Destaca o autor que as legislações especificadas foram elaboradas no primeiro período, com implantação da segunda no segundo período, e, reconhecidas como desastrosas pelos
Compartilhar