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Tecnologias Reprodutivas, Ética e Gênero

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TECNOLOGIAS REPRODUTIVAS, ÉTICA E GÊNERO: 
O DEBATE LEGISLATIVO BRASILEIRO 
Debora Diniz1 
 
 
A MEDICINA REPRODUTIVA NO BRASIL 
 
Em 1984, nasceu o primeiro bebê fruto de inseminação artificial no Brasil, um 
episódio que suscitou uma intensa polêmica, tanto sobre a veracidade do fato como 
também sobre a atribuição da autoria2. Desde então, a medicina reprodutiva brasileira 
vem acompanhando o que é feito nos principais centros de pesquisa e ensino do 
mundo, com um intercâmbio contínuo de experiências entre profissionais estrangeiros 
e nacionais. Mas, diferentemente de outras áreas do conhecimento médico, a medicina 
reprodutiva é basicamente um campo de atuação do setor privado, um dado que 
subverte a lógica tradicional da pesquisa e do ensino médico no país. De um modo 
geral, as inovações tecnológicas na área biomédica têm como porta de entrada no país 
os grandes hospitais públicos e universitários. A comunicação entre os setores público e 
privado depende, em larga medida, dos profissionais que trabalham nos dois campos e 
são responsáveis pela transferência da tecnologia. No caso da medicina reprodutiva, 
como o espaço preferencial de atuação tem sido até agora as clínicas e serviços 
privados, a relação com as universidades, por exemplo, ocorre mais tardiamente, 
 
1 Doutora em Antropologia; Fellow Researcher do Interdisciplinary Gender Studies, Universidade de 
Leeds/Reino Unido; Pesquisadora Associada do Departamento de Saúde Coletiva da Universidade de 
Brasília/Brasil; Diretora da Organização Não-Governamental Anis: Instituto de Bioética, Direitos 
Humanos e Gênero; Member of the Board of Directors da Feminist Approaches to Bioethics Network. 
debdiniz@zaz.com.br. Agradeço a gentileza de Daniel Simeão, à equipe do Centro Feminista de 
Estudos e Assessoria (CFEMEA), especialmente a Almira Rodrigues, a Patrícia Álvares, do Conselho 
Federal de Medicina (CFM), e a Teresa Citeli, da Comissão de Cidadania e Reprodução (CCR) pela 
cessão do material de pesquisa. Em especial a Marilena Corrêa pela discussão de questões fundamentais 
aqui presentes. Este artigo é resultado das pesquisas que desenvolvi no Centro de Estudos de Gênero, 
Leeds/UK, entre os meses de junho e setembro de 2000. Agradeço à Fundação Ford (Brasil) e ao 
British Council pelos financiamentos recebidos. A Sasha Roseneil, coordenadora do Centro de Estudos 
de Gênero, pela hospitalidade e amizade durante o período que estive em Leeds, e, em especial, a John 
Taylor pela amizade e sugestões. 
2 Algumas das idéias discutidas nesta primeira seção foram originalmente desenvolvidas por Marilena 
Corrêa e Debora Diniz em Novas Tecnologias Reprodutivas no Brasil: um debate à espera de regulamentação, em 
artigo apresentado na “I Conferência Internacional de Ética e Gênero”, ocorrida em Leeds, Reino 
Unido, em junho de 2000. 
 2 
sobretudo comparando-se às outras especialidades. Essa subversão da lógica tradicional 
do conhecimento biomédico vem imprimindo características particulares à prática da 
medicina reprodutiva no Brasil e, principalmente, de forma mais direta, ao debate 
bioético a respeito do uso dessas tecnologias. 
Ao mesmo tempo em que a entrada da medicina reprodutiva no Brasil se deu de 
forma precoce, especialmente se comparada a outros países também de medicina 
periférica, a difusão da técnica não foi acompanhada de debates sociais ou políticos 
sobre o tema. No campo dos estudos sócio-antropológicos, por exemplo, poucas foram 
as pesquisadoras de inspiração feminista que se debruçaram sobre o tema, muito 
embora o país tenha uma sólida tradição de estudos e pesquisas em saúde e direitos 
reprodutivos 3 . Grande parte das publicações relacionadas às novas tecnologias 
reprodutivas, quando não se restringem à discussão clínica propriamente dita, são de 
cunho jurídico e/ou religioso. Seria necessário uma análise das razões que possam ter 
contribuído para esse vazio nos estudos feministas, especialmente se considerarmos o 
fato de que as novas tecnologias reprodutivas compõem a pauta preferencial do 
jornalismo científico nacional. Histórias de mulheres gestando seis embriões ou mesmo 
especulações sobre o futuro da reprodução humana são temas recorrentes da mídia 
impressa brasileira, desde a popularização do tema em inícios dos anos 90, com a 
exibição de uma telenovela, na principal rede nacional de televisão, sobre a 
comercialização do útero4. Em finais dos anos 90, o anúncio da clonagem da ovelha 
 
3 Houve, é claro, a aparição de algumas vozes feministas sobre o tema. Os escritos de Marilena Corrêa, 
por exemplo, médica e socióloga com atuação no campo da reprodução social, são bons indícios da 
potencialidade do campo no Brasil (Corrêa, Marilena. A tecnologia a serviço de um sonho Um estudo sobre a 
reprodução assistida no Brasil Tese de Doutorado. Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado 
do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1997). 
4No artigo “Saúde Reprodutiva: mídia, ciência e humanidades”, Maria Teresa Citeli analisa essa relação 
da mídia brasileira com temas pontuais da saúde reprodutiva das mulheres. Guiada por uma ampla base 
de dados que mapeia os quatro principais jornais do Brasil, a autora traça um quadro comparativo 
elucidativo do impacto de cinco temas – aborto, câncer, Aids e DSTs, reprodução e cultura sexual – na 
mídia impressa. A categoria “reprodução”, por exemplo, onde se encontram representadas as novas 
tecnologias reprodutivas, representou cerca de 21% do total das matérias catalogadas pelo banco de 
dados (mimeo. 2000: 04). 
 3 
Dolly e as discussões em torno do uso da técnica em humanos consolidaram 
definitivamente o tema das tecnologias reprodutivas no imaginário popular do país5. 
Nesse contexto pouco crítico frente à medicina reprodutiva, a bioética não foi 
uma exceção. Os poucos estudos bioéticos sobre o tema confundem-se com análises 
jurídicas e normativas de situações específicas, tais como a comercialização de útero ou 
o descarte de embriões supra-numerários, quase não havendo análises teóricas ou 
mesmo etnográficas relacionadas à realidade brasileira6. O resultado desse desinteresse 
das ciências sociais pelas questões relacionadas à medicina reprodutiva é a 
preponderância de argumentos clínicos e jurídicos no debate legislativo nacional. Ao 
contrário de outros países, onde a discussão em torno das tecnologias reprodutivas 
envolveu diversos setores da sociedade, constituindo um amplo exercício de debate 
democrático, no Brasil o processo legislativo vem sendo controlado e conduzido por 
representantes dos interesses de três grandes classes, nesta ordem de influência: a 
Medicina, o Direito e a Igreja Católica. O mais significativo é o fato de que esses três 
grupos não se diferenciam no que se refere às moralidades fundamentais que procuram 
defender pela lei, fazendo com que haja uma espécie de sobreposição de interesses 
entre as três categorias. Essa harmonia de interesses entre a medicina, o direito e a 
igreja católica, três instituições de referência para a sociedade brasileira, torna o debate 
ainda mais hermético, dificultando o acesso de outras perspectivas críticas, tais como as 
teorias feministas. 
Nesse artigo, iremos analisar a condução do processo legislativo brasileiro em 
torno das novas tecnologias reprodutivas, tendo como principal contraponto o debate 
ocorrido no Reino Unido, especialmente com a publicação do Warnock Report e as 
sugestões feitas pela Human Fertilisation and Embryology Authority (HFEA)7 . Dentre o 
conjunto do material analisado, enfatizaremos os projetos de lei em tramitação no 
 
5 Ibiapina, Sergio & Diniz, Debora. “Mídia, Clonagem eBioética” In Cadernos de Saúde Pública. vol. 1, 
2000. 
6O fato é que grande parte dos estudos bioéticos sobre as novas tecnologias reprodutivas são antes 
apropriações indevidas do conceito da bioética que mesmo análises cuidadosas baseadas em referenciais 
teóricos já consolidados. 
 4 
Congresso Nacional brasileiro, as declarações públicas e oficiais feitas pelos legisladores 
envolvidos na questão e as regulamentações da classe médica que vêm influenciando o 
processo legislativo8. Além da análise das proposições legislativas, incluímos também a 
seção da Justificativa dos projetos, pois é nela que o legislador discorre sobre o que 
considera como sendo o embasamento moral do projeto. Antecipamos, contudo, que 
apesar de a influência do Warnock Report ter sido fundamental no início do processo 
legislativo brasileiro, especialmente para a promulgação da primeira resolução médica 
sobre o assunto, a discussão, atualmente, se distancia do debate britânico. Os temas em 
pauta no debate legislativo brasileiro não são os mesmos que motivaram a execução do 
comitê consultivo inglês, muito embora estes últimos tenham impulsionado o início da 
discussão no Brasil, como ocorreu, por exemplo, com a questão da pesquisa científica 
com embriões humanos. 
 
O INÍCIO DO PROCESSO LEGISLATIVO 
 
Considerando que o nascimento do primeiro bebê de proveta foi um marco 
histórico no uso das tecnologias reprodutivas no Brasil, o início do debate legislativo foi 
tardio, sobretudo se levarmos em conta o fato de que o país carece de uma 
regulamentação de caráter nacional. Durante os primeiros sete anos de uso das novas 
tecnologias reprodutivas, não houve qualquer norma de controle dos procedimentos, 
sendo raros os registros ou dados sobre esse período. Como já foi dito em relação aos 
estudos feministas, o curioso desse descaso legislativo frente à medicina reprodutiva é 
 
7 Warnock, Mary. Report of the Committee of Inquiry into Human Fertilisation and Embryology. Department of 
Health & Social Securty. July 1984. 
8 Em linhas gerais, o processo legislativo brasileiro é conduzido da seguinte maneira: os deputados e 
senadores, que são eleitos pelo voto direto e compulsório, propõem projetos de lei que serão discutidos 
e modificados por relatores, discussões temáticas, audiências públicas, etc. O tempo de tramitação varia 
na mesma razão da intensidade do tema. No caso das novas tecnologias reprodutivas, por exemplo, o 
primeiro projeto de lei foi proposto em 1993 e até hoje não se firmou em torno da questão um 
consenso argumentativo que permita a sua consolidação em lei. É possível que projetos semelhantes, 
mas de autores diferentes, tramitem na Câmara e no Senado ao mesmo tempo, processo que ocorre 
atualmente no caso da regulamentação das tecnologias reprodutivas. No total, são três projetos de lei 
que encontram-se em discussão no Congresso Nacional brasileiro: dois na Câmara Federal e um no 
Senado. 
 5 
seu descompasso frente à repercussão do tema na mídia e ao grande interesse 
despertado pelo assunto nos meios de comunicação em geral. Para se ter uma idéia do 
quanto o tema se constituía e ainda se constitui em um espetáculo midiático, em 1984 
uma equipe médica firmou um contrato com uma rede de televisão, para o 
financiamento da vinda de especialistas australianos para o Brasil, visando a formação 
de um pequeno grupo de médicos brasileiros e cujo propósito final seria a transmissão, 
ao vivo, dos procedimentos técnicos envolvidos na fertilização in-vitro. O acordo era 
no sentido de registrar a cena da produção do primeiro bebê de proveta brasileiro, 
garantindo à empresa de comunicação os direitos de posse das imagens. A segunda 
parte do projeto, no entanto, a transmissão dos procedimentos da medicina 
reprodutiva, foi abandonada devido à morte de uma mulher em conseqüência de 
complicações das manipulações da fertilização in vitro (Fiv)9. 
Somente em 1993 foi proposto o primeiro projeto de lei sobre o tema no país. 
Conduzido pela Câmara dos Deputados, este projeto foi o que mais diretamente 
inspirou-se no Warnock Report e o que mais intensamente representou os interesses da 
classe médica no país. Segundo palavras de seu autor, “...as questões relativas à 
fertilização in-vitro, inseminação artificial, ‘barriga de aluguel’ e outras correlatas, 
conhecidas técnicas de reprodução assistida, têm preocupado a sociedade sob vários 
aspectos...”, fazendo com que seja necessário “...transformar a Resolução n. 1.358/92 
do Conselho Federal de Medicina em norma legal, para fins de seu maior uso e 
respaldo social...”10. O Conselho Federal de Medicina (CFM) é a entidade da classe 
médica que estipula as normas para o exercício médico no país. Entre outras funções, 
tais como a de julgamento de erros médicos, o CFM estabelece critérios para o que se 
julga ser o padrão de prática profissional na medicina. De todos os médicos brasileiros 
é exigida a inscrição no CFM, pois só assim eles poderão exercer a profissão, muito 
 
9 Corrêa, Marilena & Diniz, Debora New Reproductive Technologies in Brazil: a debate awainting regulation. 
mimeo. 8pp. Reis, A R Gomes A fertilização in-vitro no Brasil - A história contada, as estórias, mimeo 
(fonte: Biblioteca do Senado Federal), Brasília 1985 
10Câmara dos Deputados. Projeto de Lei n. 3.638. 1993: 07. Autoria Deputado Luiz Moreira. Relator: 
Deputado Marcelo Deda. 
 6 
embora este seja um órgão privado e não seja o único que defenda os interesses dos 
médicos. 
O fato de ter sido o CFM a primeira entidade a regulamentar as novas 
tecnologias reprodutivas no Brasil não é sem justificativa. Por ser o órgão que define os 
preceitos da ética médica, isto é, as regras de conduta para o exercício da medicina, o 
CFM adquiriu força e legitimidade sociais muito acima de suas funções técnicas e 
administrativas. A responsabilidade pelo código de ética médica lhe conferiu uma 
suposta autoridade supramoral no campo da ética aplicada à saúde. Entretanto, ao 
regulamentarem os deveres e direitos do médico, as resoluções do Conselho estipulam 
também os deveres e direitos dos usuários dos serviços, fazendo com que as regras de 
conduta profissional dos médicos se tornem os parâmetros morais de julgamento para 
os casos de conflito moral. A forma como se iniciou o processo legislativo em torno 
das novas tecnologias reprodutivas não é apenas um exemplo do prestígio moral do 
CFM, mas também aponta para a idéia amplamente aceita de que, no campo da saúde e 
da doença, a autoridade técnica prevaleceria sob as crenças morais individuais. A crença 
de que a tarefa de mediação dos conflitos morais na medicina seria também da alçada 
do Conselho é pouco contestada no país, especialmente entre os usuários dos serviços 
médicos ou mesmo por outras profissões no campo da saúde. Considera-se que a ética 
profissional do médico deva ser também o padrão de conduta moral de todos os 
envolvidos no serviço de saúde, uma premissa que reforça a autoridade do médicos na 
estrutura sanitária nacional. 
Sendo assim, para o deputado autor do primeiro projeto de lei no país sobre 
tecnologias reprodutivas, basear-se na resolução do CFM foi, no mínimo, uma situação 
confortável. Na época, acreditava-se que não haveria problemas na transformação da 
resolução em projeto, nem tampouco na transformação deste, por conseguinte, em lei. 
A salvaguarda do CFM associada à pouca discussão do tema no país garantiriam a 
rapidez no processo. Como demonstraremos, o encaminhamento do processo não foi 
tão fácil assim, especialmente após o anúncio de experimentoscientíficos internacionais 
com embriões humanos, o que foi tornando o tema mais atrativo para os legisladores. 
 7 
Com a ampliação do debate no Legislativo, a Resolução do Conselho, apesar de ainda 
ser uma referência importante para a regulamentação, deixou de ser considerada a 
peça-chave para o processo, a tal ponto de este primeiro projeto ter perdido parte de 
sua força no debate nacional. 
 
 
OS PROJETOS DE LEI 
 
Atualmente, são três os projetos de lei em tramitação no Congresso Nacional 
brasileiro. Para fins deste artigo, iremos denominá-los pela ordem de proposição. O 
Projeto 1 foi proposto em 1993, e é de autoria de um deputado federal; o Projeto 2 foi 
proposto em 1997, também de autoria de um deputado federal e o Projeto 3 foi 
proposto em 1999 e é de autoria de um senador. O quadro a seguir é um resumo das 
principais proposições de cada projeto, as quais servirão de referência para a análise 
comparativa com o Warnock Report e as sugestões da HFEA11: 
 
 
 
Assunto Projeto 1 (1993) 
Público-Alvo Mulheres ou casais inférteis 
Clonagem Não menciona 
Consentimento Necessidade da autorização da 
mulher e do cônjuge 
Transferência de Embriões Máximo de 4 por tentativa 
Descarte de Embriões Proíbe 
Redução Embrionária Proíbe 
Pesquisa com Embriões Proíbe 
Doação Sigilo 
Comercialização Proíbe 
 
11 Quadro semelhante foi proposto inicialmente pelo Centro Feminista de Estudos e Assessoria 
(CFEMEA), de onde nos baseamos para a elaboração deste. Mimeo. Brasília. 2000. 
 8 
Assunto Projeto 2 (1997) 
Público-Alvo Mulheres ou casais inférteis 
Clonagem Proíbe 
Consentimento Somente da mulher 
Transferência de Embriões Máximo de 4 por tentativa 
Descarte de Embriões Permite após 5 anos 
Redução Embrionária Permite caso de risco de vida da 
gestante 
Pesquisa com Embriões Permite com ressalvas 
Doação Sigilo 
Comercialização Proíbe 
Assunto Projeto 3 (1999) 
Público-Alvo Mulher casada/idade reprodutiva 
Clonagem Não menciona 
Consentimento Necessidade da autorização da 
mulher e do cônjuge 
Transferência de Embriões Máximo 3 por tentativa12 
Descarte de Embriões Proíbe 
Redução Embrionária Permite em caso de risco de vida 
da gestante 
Pesquisa com Embriões Não menciona 
Doação Possibilidade de quebra de sigilo 
Comercialização Proíbe 
 
 
 
Vale pontuar algumas características gerais de cada projeto. O Projeto 1, por ter 
sido o pioneiro no país, é o mais superficial de todos. Caracteriza-se por ter adotado 
uma visão abrangente sobre o assunto, um dado que lhe imprime uma certa leveza 
quando comparado ao Projeto 3. É também o projeto que mais diretamente representa 
 
12 Algumas modificações do Projeto 3 foram decididas na última reunião da “Comissão de Constituição, 
Cidadania e Justiça” e ainda não foram incorporadas à versão disponibilizada do projeto. Os itens 
modificados foram o número de embriões transferidos por ciclo (reduzido de quatro para três) e a 
determinação da exclusão de penalidade para a redução embrionária em caso de risco de vida para a 
mãe. O relato completo da reunião encontra-se nas atas da comissão citada. Senado Federal. 
Secretaria-Geral da Mesa. Serviço de Comissões. Reunião Ordinária da Comissão de Cidadania e 
Justiça. 12/04/2000. 
 9 
os interesses dos médicos. O Projeto 2 é o que demonstra uma maior preocupação com 
a terminologia e os preceitos científicos, fazendo referências mais minuciosas a cada 
prática. Propõe a criação de uma “Comissão Nacional de Reprodução Humana 
Assistida”, um órgão com papel regulador e controlador da execução da lei, semelhante 
ao HFEA. O Projeto 3 é o que se encontra em uma fase mais avançada em termos de 
encaminhamento no Legislativo e o que vem suscitando maior debate social, muito 
embora tenha sido o último a iniciar a tramitação. É o projeto mais extenso entre os 
três e o que apresenta maior inspiração jurídica. 
 
 
WARNOCK REPORT, HFEA E OS PROJETOS DE LEI BRASILEIROS 
 
Para esta análise comparativa do processo legislativo brasileiro em relação ao 
britânico, vale lembrar as palavras iniciais de Mary Warnock ao introduzir as 
recomendações do comitê: “...in recommending legislation, then, we are recommending 
a kind of society that we can, all of us, praise and admire...”13. A admiração a que se 
refere Warnock não é uma mera relação contemplativa com um certo ideal de 
sociedade, e sim a busca da concretização desse ideal por intermédio da lei. A lei se 
torna, então, o instrumento legítimo e eficaz de imposição de determinada configuração 
social. Certas premissas morais sobre o ideal de sociedade subsidiam qualquer processo 
legislativo, especialmente em temas tão fundamentais como a reprodução biológica e 
social. Há, portanto, um jogo contínuo entre as moralidades que deverão ser defendidas 
pela lei e as moralidades passíveis de contestação. Neste contraste com o caso britânico, 
analisaremos os pressupostos morais de três categorias essenciais para o debate sobre as 
novas tecnologias reprodutivas no Brasil: o estatuto da criança resultante das técnicas; o 
número de embriões transferidos por ciclo (e seu correlato, a redução embrionária) e a 
questão da elegibilidade das mulheres a serem submetidas a tais técnicas. 
 
 
13Warnock, Mary. Report of the Committee of Inquiry into Human Fertilisation and Embryology. Department of 
Health & Social Securty. July 1984: 3. 
 10
 
 O Estatuto da Criança 
Os projetos 1 e 2 não mencionam a categoria criança, restringindo-se a expressões 
como pré-embrião, embrião ou feto. A criança foi uma entidade surgida com o Projeto 3, 
certamente influenciado pelas sugestões da última versão do Code of Practice da HFEA, 
onde temas como o bem-estar da criança são predominantes14. Boa parte da extensão 
do Projeto 3 representa uma incorporação de determinações feitas pela HFEA, em uma 
clara confusão de atribuições entre o papel do Legislativo e o que deveria ser 
determinado pelo CFM ou por uma comissão nacional de reprodução humana assistida. 
O fato é que, apesar do termo criança ter sido recentemente retirado do texto 
legislativo (mediante uma sugestão feita por um grupo de juristas que acompanham o 
Projeto 3), na seção da Justificativa se lê: “...chamamos mais uma vez a atenção para o fato 
de que, ao escolher a linha mestra de proteger a criança, este projeto fortalece o 
princípio da paternidade responsável...” (sem grifos no original) 15 . Obviamente, a 
própria escolha do termo criança em detrimento de embrião ou feto é intencional. O 
impacto afetivo da defesa dos interesses de uma criança quando comparado à de um 
embrião ou feto é muito maior, além do que retira-se de cena o debate sobre o estatuto 
do embrião, um tema ainda pouco explorado no país e, portanto, longe de um 
consenso. 
O curioso é que não se define a categoria criança no Projeto 3. A eficácia do conceito 
está exatamente nesta ambigüidade, pois ao pressupor um consenso prévio sobre seu 
sentido, a defesa de seu uso semântico torna-se mais simples. Ou seja, ao mesmo 
tempo que supostamente não se tem dúvidas sobre o que venha a ser uma criança e sua 
 
14HFEA Code of Practice. 4 ed. July 1998. Uma análise comparativa do sentido da categoria criança no 
processo legislativo brasileiro com a categoria embrião anglo-saxã seria interessante. Algumas das 
observações feitas por Sarah Franklin sobre o estatuto do embrião nas leis inglesas lembram a categoria 
criança no contexto brasileiro: “...this is why the embryo is ‘special’: it is connected to us... in this sense 
to debate embryogenesis isto debate humanity...” (“Making Representation: the parliamentary debate 
on the human fertilisation and embryology act”. Edwards, Jeanette et al (eds). Technologies of Procreation: 
kinship in the age of assisted conception. 2 ed. London/NY. Routledge. 1999: 141). 
15 Senado Federal. Projeto de Lei do Senado. n. 90, 1999: 23. Autoria: Senador Lúcio Alcântara. 
Relatoria: Senador Roberto Requião. 
 11
dignidade social, a ambigüidade do termo permite que o sentido se transmude a 
depender das situações. Ao discutir, por exemplo, a elegibilidade para as técnicas de 
reprodução assistida, não se enfrenta diretamente a questão da família heterossexual 
como a única elegível, mas sim faz-se insinuações às relações sociais da criança, como 
sendo a referência do julgamento: “...diante de todas essas possibilidades, a grande 
questão surgida a partir do desenvolvimento da reprodução assistida diz respeito 
exatamente a suas conseqüências para o estado de filiação da criança...” 16 . 
Deliberadamente, o Projeto 3 confunde filiação, consangüinidade e parentesco, fazendo 
com que as três categorias sejam sinônimas para a defesa do que se pressupõe serem os 
interesses da criança. 
Neste contexto, criança torna-se sinônimo de parentesco determinado pela 
consangüinidade de uma filiação legítima surgida a partir de um casamento 
heterossexual. A importância da consangüinidade e do vínculo genético entre a criança 
e seus genitores é tão intensa que, para desencorajar a doação heteróloga de gametas, o 
texto prevê a possibilidade da quebra do sigilo do doador após a maioridade da criança: 
“...em relação à utilização de gameta de um doador anônimo para possibilitar o 
nascimento de uma criança legalmente sem pai, o projeto propõe um meio efetivo 
de dissuasão: possibilitar à criança que vier a nascer que exerça o direito de exigir do 
doador o reconhecimento de paternidade, direito esse que também deve ser estendido 
ao doador que queira reclamar a paternidade da criança...” (sem grifos no original)17. Na 
verdade, a estratégia do risco da quebra de sigilo do doador é uma saída eficaz para 
coibir a possibilidade de que outros arranjos matrimoniais que não a família 
heterossexual tenham acesso às técnicas, uma vez que poucas pessoas se prontificarão a 
doar esperma ou óvulo diante do risco de identificação futura e das conseqüências 
jurídicas do ato. O que se desenvolve, no entanto, é um interessante subterfúgio 
argumentativo - o apelo à autonomia da criança em conhecer suas origens biológicas - 
 
16 Senado Federal. Projeto de Lei do Senado. n. 90, 1999: 12. Autoria: Senador Lúcio Alcântara. 
Relatoria: Senador Roberto Requião. 
17 Senado Federal. Projeto de Lei do Senado. n. 90, 1999: 8. Autoria: Senador Lúcio Alcântara. 
Relatoria: Senador Roberto Requião. 
 12
com o objetivo de limitar ao máximo a possibilidade de que mulheres solteiras ou casais 
de homossexuais tenham acesso à medicina reprodutiva por meio da doação anônima 
de gametas. 
Em outros momentos do Projeto 3, no entanto, criança torna-se sinônimo da 
essência do humano, de uma certa humanidade compartilhada que deve ser protegida 
contra abusos, tais como o risco do uso da técnica por mulheres solteiras ou 
homossexuais. Para argumentar o estatuto sagrado da criança, o texto propõe uma 
analogia com o meio ambiente que, apesar de extensa, transcrevemos: “...ainda que 
faltem postulados científicos ou constatações que possam ser estendidas para toda uma 
sociedade, é possível proceder a uma análise dos riscos a que se submetem as crianças 
nascidas com o emprego da reprodução assistida...assim sendo, da mesma forma como 
ocorre com um levantamento de impacto ambiental, se a avaliação relativa ao emprego 
da reprodução assistida trouxer à luz a possibilidade de sérios riscos para a criança... 
então deve-se recusar autorização ou idealizar mecanismos para desencorajar o recurso 
à reprodução assistida. Acreditamos ser preciso fazer pelas crianças do futuro o que 
hoje já se faz a respeito de qualquer inovação que se deseje implementar no ambiente: 
se existem sérios riscos, então as mudanças não serão feitas, mesmo que algumas 
pessoas as creiam vantajosas...”18 (sem grifos no original). As “crianças do futuro” 
representam a continuidade das moralidades defendidas pelo projeto, isto é, a garantia 
de que, assim como o meio ambiente é a condição necessária para a sobrevivência física 
da humanidade, a família heterossexual ou, segundo declaração do senador responsável 
pela revisão do projeto, a “família completa” se manterá como o núcleo básico da 
estrutura social 19 . O risco mencionado pelo projeto é o de que outros arranjos 
familiares tenham acesso à tecnologia reprodutiva e constituam famílias concorrentes à 
“família completa”. Sendo assim, a defesa dos interesses das “crianças do futuro” 
garante a manutenção do padrão heterossexual de família, bem como a esperança de 
que essas crianças garantirão a continuidade desses valores. 
 
18 Senado Federal. Projeto de Lei do Senado. n. 90, 1999: 14/15. Autoria: Senador Lúcio Alcântara. 
Relatoria: Senador Roberto Requião 
 13
O fato é que a categoria criança está relacionada à defesa dos valores patriarcais 
ameaçados pelas novas tecnologias reprodutivas, pois, em larga medida, a criança 
representa os interesses masculinos que precisam ser garantidos pela lei. Os dispositivos 
legais previstos pelo projeto, e especialmente a seção de crimes, visam assegurar a 
necessidade da figura paterna, impedindo todo e quaisquer acesso de mulheres 
desvinculadas de uma união heterossexual, isto é, sem um companheiro masculino, à 
medicina reprodutiva. Essa condição inalienável da figura paterna para a eticidade das 
tecnologias reprodutivas no Brasil é um princípio que se harmoniza com as 
recomendações da HFEA para o Reino Unido: “...the Human Fertilisation Act and 
Embryology Act (1990) requires that the welfare of the child must be taken in account 
before any treatment can commence at a licensed centre...”, “...including the need of 
that child for a father...” (sem grifos no original)20. Mas, conforme veremos adiante, 
na seção sobre a elegibilidade, não são todos os projetos que pressupõem a necessidade 
da figura masculina para o acesso à medicina reprodutiva. 
 
 Número de Embriões Transferidos 
No vocabulário normativo sobre as novas tecnologias reprodutivas, a categoria 
mulher parece inexistir, especialmente quando comparada à criança ou ao casal. Nos 
três projetos de lei analisados a mulher como uma entidade é raramente citada. Esse 
não parece ser um lapso legislativo exclusivo do Brasil, uma vez que no Code of Practice 
da HFEA, por exemplo, há seções específicas sobre o bem estar da criança, sobre 
doadores e clientes, não havendo, no entanto, nenhuma informação direcionada 
exclusivamente à situação das mulheres envolvidas na medicina reprodutiva. O Projeto 3 
foi o único que na Justificativa fez alguma menção à saúde das mulheres, ao considerar 
que: “...além das conseqüências físicas para as mulheres e das conseqüências jurídicas 
relacionadas à paternidade da criança...existe ainda a questão da baixa efetividade das 
 
19Parecer n. , 1999. Da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania sobre o Projeto de Lei do Senado n. 90. 
Senado Federal. Projeto de Lei do Senado. n. 90, 1999. 
20 HFEA Standard Patient Information.. July 1998: 1. 
 14
técnicas, contra seu alto custo em termos financeiros, psicológicos e biológicos...”21. 
Muito embora o Projeto 3 tenha mencionadoa possibilidade de danos à saúde da 
mulher, os riscos foram comparados aos desdobramentos jurídicos que os homens 
podem sofrer quanto à paternidade ou mesmo aos custos financeiros inerentes ao 
processo. Essa desconsideração dos direitos e da saúde reprodutiva das mulheres 
submetidas às novas tecnologias reprodutivas se torna mais acentuada no debate acerca 
do número de embriões a serem transferidos por ciclo reprodutivo e na discussão sobre 
a redução embrionária. 
Diferentemente de outros países que optaram por não delimitar na lei o número de 
embriões a serem transferidos por ciclo, no Brasil essa vem sendo uma questão 
fundamental, impossível de ser resolvida senão por meio da imposição de uma lei. 
Devido à legislação nacional proibitiva em relação ao aborto – a interrupção da 
gestação é considerada crime com penalidades previstas em lei, exceto em casos de 
risco de vida materna e de gravidez resultante de estupro e se executado nos três 
primeiros meses de gestação22 –, o tema da transferência embrionária e seu correlato, a 
redução embrionária, tornaram-se a pauta preferencial de discussões. Somente para ser 
ter uma idéia do quanto a discussão legislativa em torno do aborto é delicada no país, 
pouco mais de oitenta projetos de lei já foram apresentados em toda a história do 
Congresso Nacional brasileiro, desde iniciativas extremamente liberais até mesmo de 
retrocesso da lei. Atualmente, não existe sequer um único projeto em tramitação com 
relatoria ativa, ou seja, a tendência de todos os projetos de lei sobre o tema do aborto é 
serem arquivados pela impossibilidade de continuidade ou mesmo de diálogo 
legislativo. Isso não significa que o tema não venha suscitando debates acalorados na 
sociedade, especialmente entre representantes de comunidades religiosas e movimentos 
 
21 Senado Federal. Projeto de Lei do Senado. n. 90, 1999: 21. Autoria: Senador Lúcio Alcântara. 
Relatoria: Senador Roberto Requião. 
22 O debate sobre a interrupção seletiva da gestação em casos de má formação fetal vem se 
intensificando no país. Hoje, apesar de tal prática ainda ser considerada crime, estima-se que mais de 
400 interrupções seletivas de gestação já foram executadas no país, por meio de alvarás judiciais em 
nome da incompatibilidade do feto com a vida extra-uterina. Para uma análise das moralidades contidas 
nos primeiros alvarás judiciais brasileiros, vide: Diniz, Debora Selective Abortion in Brazil through juridical 
 15
feministas. Entretanto, o arquivamento de todos os projetos é um indicativo do quanto 
a discussão é considerada perigosa para a trajetória legislativa de um político. 
O tema da redução embrionária esteve presente desde o início do processo 
normativo brasileiro sobre a medicina reprodutiva, já com a resolução do CFM. Os 
projetos 1 e 2 prevêem a transferência de até quatro embriões por tentativa, ao passo 
que o Projeto 3 reduziu muito recentemente esse número para três. Todos os projetos 
proíbem a redução embrionária e alguns até mesmo sugerem severas penalidades para 
quem a praticar. Os projetos 2 e 3, no entanto, consideram a possibilidade de redução 
embrionária em casos em que não houver outro meio de salvar a vida da gestante. 
Durante os primeiros tempos de vigência da resolução do CFM, especialmente quando 
não havia regulamentações ou projetos concorrentes, eram comuns na mídia relatos de 
mulheres descrevendo a experiência da redução embrionária em decorrência de 
gestações múltiplas. Nesta fase, o discurso médico conseguiu ser soberano diante do 
princípio da santidade da vida do embrião, fazendo com que não se falasse em aborto, 
mas em seu correlato clínico, a redução embrionária. 
A medicalização da redução embrionária foi uma saída eficaz durante os primeiros 
tempos da medicina reprodutiva no Brasil, a despeito da Resolução proibitiva do CFM. 
Considerava-se a indicação da redução embrionária como parte necessária do 
tratamento reprodutivo e as clínicas que a praticavam não eram punidas23. O apelo a 
legislações de outros países, especialmente às recomendações do Warnock Report, onde 
não se estipulava o limite máximo de embriões a serem transferidos por ciclo ou 
mesmo não se deliberava diretamente sobre a redução embrionária, era um recurso de 
argumentação muito comum (especialmente no seguinte trecho do Warnock Report: 
“...though in some sense related, fell outside our terms of reference. Chief among these 
 
warrants. mimeo. 8pp (“O Aborto Seletivo nos Alvarás Judiciais Brasileiros”. In Bioética. vol.5, no1, 
pp.19-24, 1997). 
23 A sobreposição de categorias entre redução embrionária e aborto foi uma estratégia muito 
semelhante à narrado por Ana Teresa Ortiz sobre as práticas de “desengravidar” desempenhadas por 
médicos dos serviços públicos da República Dominicana. Ao invés de se referirem ao aborto, proibido 
sob todas as formas no país, os médicos da pesquisa de Ortiz defendiam-se dizendo estar 
“desengravidando” as mulheres (“Bare-Handed Medicine and its elusive patients: the unstable 
 16
were abortion and contraception...”24). Os grupos anti-abortistas demoraram um certo 
tempo para reverter essa ressimbolização tecnológica do aborto pela medicina 
reprodutiva, embora a vitória tenha sido relativamente fácil. Hoje, todos os projetos em 
tramitação partem do princípio da intocabilidade da vida do embrião. A tal ponto as 
legislações internacionais mais flexíveis sobre o assunto são desconsideradas, aqui 
incluídas as recomendações da HFEA, que um dos senadores, ao se referir às leis de 
outros países, afirmou: “...existem aberrações no mundo a respeito disso. O projeto 
espanhol, por exemplo, é de uma violência incrível. Por outro lado, um país como a 
Alemanha, que viveu os absurdos das experiências com os seres humanos e com a vida, 
tem um projeto extraordinariamente mais duro ou tão duro e rigoroso quanto o 
nosso...”25. Pelas expressões “duro e rigoroso”, entenda-se a impossibilidade de redução 
embrionária ou a proibição de experimentos com embriões humanos, tais como a 
clonagem. 
O fato é que a gravidez multigemelar (considerada pela literatura especializada no 
assunto um dos principais efeitos colaterais da reprodução assistida) e a redução 
embrionária têm sido questões analisadas à luz da legislação nacional sobre o aborto e 
não como questões básicas de saúde da mulher ou ainda como restrições científicas da 
técnica26. O silêncio em torno da saúde da mulher em casos de gestações múltiplas une 
representantes dos interesses da medicina reprodutiva e das comunidades religiosas, em 
uma harmonia que, muitas vezes, impede que se perceba a diferença entre as 
 
construction of pregnant women and fetuses in Dominican obstetrics discourse” In Feminist Studies 23, 
n. 2 (Summer 1997): 263-289. 
24 Warnock, Mary. Report of the Committee of Inquiry into Human Fertilisation and Embryology. Department of 
Health & Social Securty. July 1984: 5. 
25 Senado Federal. Secretaria-Geral da Mesa. Serviço de Comissões. Reunião Ordinária da Comissão de 
Cidadania e Justiça. 12/04/2000:5. 
26 Sobre o tema, vide por exemplo: Serour, Gamal I.; Aboulghar, Mohamed; Mansour, Ragaa, et ali. 
“Complications of medically assisted conception in 3.500 cycles”. In Fertility and Sterility, vol. 70, n. 4, 
October 1998: 638-642.; Martin, Peter M; Welch, Gilbert H. “Probabilities for Singleton and Multiple 
Pregnancies after in vitro Fertilization”. In Fertility and Sterility, vol. 70, n.3, September 1998: 478-481; 
Addor, Véronique; Santos-Eggimann, Brigitte; Fawer, Claire-Lise; Paccaud, Fred; Calame, André. 
“Impact of Infertility Treatments on the Health of Newborns”. In Fertility and Sterility, vol. 69, n. 2, 
February 1998: 210-215; Roest, Jan; van Heusden, Arne; Verhoeff, Arie; Mous, Harold; Zeilmaker, 
Gerard. “A Triplet Pregnancy after in vitro Fertilization is a Procedure-Related Complication that 
 17
particularidades de cada grupo. O resultado disso é a não discussão da relação entre o 
número de embriões a serem transferidos por ciclo, o risco da gravidez múltipla, a 
proibição da redução embrionária e a saúde da mulher, fases interdependentes das 
técnicas reprodutivas. Para os que defendem princípios religiosos, o que importa é a 
proibição da redução embrionária, ao passo que, para os praticantes da medicina 
reprodutiva, o importante é que não se alardeie a baixa eficácia das tecnologias 
reprodutivas. Ou seja, por razões diferentes, religiosas para uns e financeiras para 
outros, a conclusão legislativa vem sendo a mesma: não se toca no assunto da redução 
embrionária, um crime considerado bárbaro pelos legisladores, ao ponto de um deles, 
por ocasião da última discussão pública em torno do Projeto 3, referir-se ao tema da 
seguinte forma: “...não dá para continuarmos nessa discussão do tipo quem não quer 
punir a redução embrionária, porque são serial killers os defensores do aborto; porque 
a redução embrionária significa destruição de embriões que porventura significam 
vida...” (com grifos no original)27. 
Neste contexto de pressão religiosa e científica - de um lado, pela não redução 
embrionária e, por outro, para que se mantenha alto o número de embriões transferidos 
por ciclo em nome da baixa eficácia da técnica -, a saúde da mulher é um detalhe 
esquecido no debate. A diminuição de quatro para três embriões a serem transferidos 
por ciclo reprodutivo, uma sugestão inédita do Projeto 3, assim como a inclusão do 
excludente de penalidade para a redução embrionária em casos de risco de vida para a 
gestante, foram consideradas conquistas significativas pelos grupos que defendem a 
saúde reprodutiva das mulheres. 
 
 Elegibilidade das Mulheres 
Durante um longo período, essa questão não foi alvo de discussão legislativa. 
Mulheres solteiras e/ou casadas tinham o mesmo direito de acesso às tecnologias 
 
should be Prevented by Replacement of two embryos only”. In Fertility and Sterility, vol. 67, n. 2, 
February 1997: 290-295. 
27 Senado Federal. Secretaria-Geral da Mesa. Serviço de Comissões. Reunião Ordinária da Comissão de 
Cidadania e Justiça. 12/04/2000: 8. 
 18
reprodutivas, um passo inicialmente dado pela Resolução do CFM e incorporado pelos 
projetos de lei 1 e 2. O texto do Projeto 1 considera que “...toda mulher, capaz nos 
termos da lei, que tenha solicitado e cuja indicação não se afaste dos limites desta lei 
pode ser receptora das técnicas de reprodução assistida...”, ao passo que o Projeto 2 é 
ainda mais direto em sua indicação, “...toda mulher capaz, independentemente de seu 
estado civil, poderá ser usuária das técnicas de reprodução humana assistida...” (sem 
grifos no original) 28 . O Projeto 3, até muito recentemente, também considerava a 
possibilidade de mulheres solteiras virem a ter acesso às tecnologias reprodutivas, não 
sendo fundamental sua condição marital para a elegibilidade. Inesperadamente, no 
entanto, o Projeto 3, em uma linha argumentativa muito semelhante às proposições do 
Warnock Report e às recomendações da HFEA, retrocedeu. A nova versão do texto 
sugere que apenas as mulheres casadas ou em união estável poderão ter acesso às 
tecnologias reprodutivas: “...beneficiários aos cônjuges ou ao homem e à mulher em 
união estável...que tenham solicitado o emprego de reprodução assistida com o 
objetivo de procriar...” (sem grifos no original) 29 . Ou seja, mais do que exigir o 
consentimento do cônjuge ou companheiro, o projeto prevê a necessidade da união 
estável para a elegibilidade, um princípio de difícil mensuração e capaz de gerar sérias 
controvérsias sociais e morais, especialmente com a entrada das tecnologias 
reprodutivas no serviço público de saúde. 
Dentre outras possíveis interpretações para este retrocesso do Projeto 3 na questão 
da elegibilidade das mulheres, consideramos que duas razões foram fundamentais. A 
primeira delas é uma certa oposição e repulsa generalizadas às tecnologias reprodutivas 
por considerá-las “anti-naturais”, “desnecessárias” ou mesmo “ameaçadoras”, 
descrições regularmente utilizadas pelos legisladores responsáveis pelo projeto30. Em 
 
28 Câmara dos Deputados. Projeto de Lei n. 3.638. 1993: 02. Autoria Deputado Luiz Moreira. Relator: 
Deputado Marcelo Deda. Câmara dos Deputados. Projeto de Lei n. 2.855. 1997: 07. Autoria Deputado 
Confúcio Moura. Relatoria: Deputado Jorge Costa. 
29 Senado Federal. Projeto de Lei do Senado. n. 90, 1999. Autoria: Senador Lúcio Alcântara. Relatoria: 
Senador Roberto Requião. Senado Federal. Secretaria-Geral da Mesa. Serviço de Comissões. Reunião 
Ordinária da Comissão de Cidadania e Justiça. 12/04/2000. 
30 Senado Federal. Projeto de Lei do Senado. n. 90, 1999. Autoria: Senador Lúcio Alcântara. Relatoria: 
Senador Roberto Requião. 
 19
um debate com outros senadores acerca do tema, o relator responsável pela última 
versão do projeto, expressou da seguinte forma a sua indignação diante das técnicas 
reprodutivas: “...esse projeto refletiu a essência desses debates e a minha visão sobre 
esse problema...é um compromisso com a vida. Eu preferia que a reprodução 
assistida não ocorresse, mas ela ocorre e além de ocorrer está sem nenhuma 
disciplina...” (sem grifos no original) 31 . Em certo sentido, dificultar o acesso às 
tecnologias reprodutivas é uma estratégia eficaz de controle de algo considerado 
socialmente indesejável. O passo seguinte torna-se, então, o de tentar desvendar quais 
são as razões morais que sustentam essa repulsa pelas novas tecnologias reprodutivas. 
Como já foi dito anteriormente, a proteção da criança é a razão principal de tal 
repulsa pelas tecnologias reprodutivas. Mas, assim como a defesa dos interesses da 
criança pode ser um artifício para garantir certos privilégios e prerrogativas patriarcais 
dominantes na sociedade brasileira, a restrição da elegibilidade às mulheres em união 
estável garante que, com a popularização da medicina reprodutiva, não haverá o 
descarte da figura masculina. Por um lado, a criança estabelece a necessidade do pai 
para a composição da “família completa” e, por outro, a restrição da elegibilidade para 
as mulheres em união estável pressupõe a figura do cônjuge, uma exigência que 
imediatamente elimina a possibilidade de mulheres homossexuais recorrerem à 
reprodução assistida. Há um trecho da Justificativa do Projeto 3, onde se argumenta a 
proibição da comercialização de útero, que é elucidativo desse mal-estar patriarcal 
frente às tecnologias reprodutivas e à autonomia das mulheres. A rudeza expressiva do 
legislador, antes mesmo de ser um deslize de redação, demonstra a intensidade de seu 
temor diante da possibilidade da perda de controle sobre a reprodução das mulheres: 
“...se determinou um mecanismo para desencorajar mulheres, tanto as de meia-idade 
quanto aquelas que não sofram de infertilidade, de recorrerem à reprodução assistida 
pela vaidade de ter um filho fora da idade reprodutiva ou de não se submeter aos 
 
31 Senado Federal. Secretaria-Geral da Mesa. Serviço de Comissões. Reunião Ordináriada Comissão de 
Cidadania e Justiça. 12/04/2000: 5. 
 20
efeitos indesejados de uma gravidez...” (sem grifos no original)32. A vulgaridade do 
uso do termo “vaidade” neste contexto não foi ao acaso, ainda mais se lembrarmos que 
poucas são as ocasiões que o projeto se dirige diretamente às mulheres, tal como faz o 
legislador neste trecho. Ao contrário das crianças que são dignas de defesa por sua 
fragilidade e vulnerabilidade social, as mulheres são alvo do controle masculino em 
nome de uma suposta e inexplicada “vaidade”. Cabe, portanto, à lei coibir os exageros 
da “vaidade” feminina, segundo os termos do legislador. 
 
POSSÍVEIS DESDOBRAMENTOS DO DEBATE LEGISLATIVO NO BRASIL 
 
 Há um certo consenso de que é preciso regulamentar as tecnologias reprodutivas 
no Brasil, tanto no acesso quanto no exercício profissional relacionado às mesmas. Em 
nome dessa expectativa social e pelo desenrolar-se do processo legislativo, não nos 
restam dúvidas de que o país terá uma regulamentação de caráter nacional em um 
futuro próximo. Alguns temas, no entanto, deverão ser incorporados ou ao menos 
considerados nesta reta final. Considerando ser possível realizar projeções futuras 
acerca do debate legislativo, apontaríamos dois assuntos como emergentes. O primeiro 
será o da pesquisa científica com embriões e o segundo o da questão da alocação e das 
prioridades de recursos em saúde, especialmente com a disponibilização da medicina 
reprodutiva nos serviços públicos. Muito brevemente explicaremos o porquê da 
atenção futura a esses dois pontos. 
 Os projetos 1 e 2 consideram o tema da pesquisa científica com embriões, com 
uma clara influência do Warnock Report. O Projeto 2, por exemplo, o mais cauteloso no 
assunto, destina uma seção do texto legislativo ao assunto, intitulada Da Investigação e 
Experimentação, onde se lê: “...os gametas humanos poderão ser objeto de investigação 
básica ou experimental, exclusivamente para fins de aperfeiçoamento das técnicas de 
 
32 Senado Federal. Projeto de Lei do Senado. n. 90, 1999. Autoria: Senador Lúcio Alcântara. Relatoria: 
Senador Roberto Requião. 
 21
obtenção, amadurecimento de oócitos e crioconservação de óvulos...”33. O Projeto 3, por 
sua vez, adotou a perspectiva contrária, pois sequer menciona o problema, descartando 
a discussão, como não sendo da alçada do projeto ou mesmo como não sendo 
prioritária para o país neste momento. Temas como a clonagem, por exemplo, vêm 
sendo deixados à margem da discussão legislativa sobre as novas tecnologias 
reprodutivas, inseridos em projetos de lei específicos em tramitação no Congresso 
Nacional brasileiro. Os três projetos, vale ressaltar, mencionam a proibição do uso da 
medicina reprodutiva para a clonagem de seres humanos. Não nos restam dúvidas, 
especialmente em nome do compasso brasileiro com a pesquisa biomédica 
internacional, que a pesquisa científica com embriões humanos será um tema 
emergente das discussões legislativas em torno dos projetos citados 34 . Vale ainda 
lembrar que essa apartação da pesquisa científica do debate legislativo sobre as técnicas 
reprodutivas diferencia o caso brasileiro do anglo-saxão, onde esta junção foi 
considerada fundamental, senão a questão mais importante. 
Por fim, a segunda projeção de tema é resultado da introdução da medicina 
reprodutiva no serviço público de saúde. Esta, provavelmente, será uma das questões 
que mais dificuldade trará para o debate legislativo nacional. Até então o debate em 
torno das tecnologias reprodutivas no país esteve imerso em valores burgueses, tais 
como a reprodução da família heterossexual ou a determinação da filiação. Esse foi um 
viés resultante dos dilemas enfrentados pelos praticantes e usuários das técnicas, grosso 
modo um universo de pessoas com valores morais semelhantes. Até pouco tempo, a 
medicina reprodutiva era um serviço e um conjunto de técnicas somente acessíveis aos 
usuários dos serviços privados de saúde, ou seja, um grupo muito restrito de pessoas 
habilitadas a pagar os altos custos financeiros dos tratamentos. A novidade, no entanto, 
é a pressão que vem sendo feita, especialmente por parte de médicos interessados em 
 
33 Câmara dos Deputados. Projeto de Lei n. 2.855. 1997: 05. Autoria Deputado Confúcio Moura. 
Relatoria: Deputado Jorge Costa. 
34 A Lei de Biotecnologia, n. 8.974/1995, entre outras questões, regulamenta “...as experiências com 
embriões humanos, células reprodutivas, material genético...”, propondo o princípio da 
indisponibilidade de material biológico e da pessoa. Esta lei, no entanto, não é referenciada pelos 
 22
legitimar o campo da medicina reprodutiva no país, no sentido de que as novas 
tecnologias reprodutivas sejam também oferecidas pelo sistema público de saúde. Em 
algumas cidades brasileiras alguns poucos hospitais especializados em saúde da mulher 
já oferecem este tipo de serviço, um tema digno de um estudo etnográfico, 
especialmente se contrastado aos serviços e valores da medicina reprodutiva privada. 
Indiferente ao fato de se a entrada da medicina reprodutiva no sistema público 
de saúde brasileiro representará ou não um passo para a democratização do 
conhecimento científico (um tema intensamente debatido por vários setores da 
sociedade brasileira e de fundamental importância para a bioética), a conseqüência 
imediata dessa transferência de tecnologia será a questão sobre as prioridades em saúde 
e, particularmente, sobre quais devam ser as prioridades no campo da saúde 
reprodutiva das mulheres. A relação custo/benefício das tecnologias reprodutivas é, 
hoje, um dos debates mais acalorados no campo da medicina reprodutiva em todo o 
mundo, especialmente porque toca nos interesses das companhias de seguro de saúde35. 
No Brasil, onde as carências e desigualdades do sistema sanitário nacional são imensas, 
este será um tema que definitivamente não poderá ser ignorado. Entretanto, como o 
movimento de introdução da medicina reprodutiva no serviço público de saúde vem 
sendo conduzido por médicos diretamente interessados na institucionalização definitiva 
da técnica, essa discussão tem sido até agora desconsiderada pelo debate legislativo. 
 
RESUMO 
Nesse artigo, analisamos a condução do processo legislativo brasileiro em torno 
das novas tecnologias reprodutivas, tendo como principal contraponto o debate 
ocorrido no Reino Unido, especialmente com a publicação do Warnock Report e as 
sugestões feitas pela Human Fertilisation and Embryology Authority (HFEA). Dentre o 
 
projetos de lei (Corrêa, Marilena & Diniz, Debora. Novas Tecnologias Reprodutivas no Brasil: um debate à 
espera de regulamentação. mimeo. 8pp. 2000). 
35 Sobre o tema vide, por exemplo: Wallach, Edward. “Cost-Effective Treatment of the Infertile 
Couple” In Fertility and Sterility, vol. 70, n. 6, December 1998: 995-1005; Griffin, Martha; Panak, William 
F. “The Economics Cost of Infertility-Related Services: an examination of the Massachusetts infertility 
insurance mandate”. In Fertility and Sterility, vol. 70, n. 1, July 1998: 22-29; The Ethics Committee of the 
American Society for Reproductive Medicine. “Shared-Risk or Refund Programs in Assisted 
Reproduction”. In Fertility and Sterility, vol. 70, n. 3, September 1998: 414-415. 
 23
conjunto do material analisado, foi dada ênfase aos projetos de lei em tramitação no 
Congresso Nacional brasileiro, as declarações públicas e oficiais feitas pelos legisladores 
envolvidos na questão e as regulamentações da classe médica que vêm influenciandoo 
processo legislativo. Muito embora o uso das tecnologias reprodutivas não seja 
novidade no Brasil, o país ainda carece de uma regulamentação de caráter nacional 
sobre o assunto. A análise do material legislativo demonstrou que pouca atenção vem 
sendo dada à saúde e aos direitos reprodutivos das mulheres submetidas às tecnologias 
reprodutivas, sendo três questões consideradas moralmente prioritárias: os direitos e 
interesses da criança; a redução embrionária e a elegibilidade das mulheres.

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