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TERCEIRIZAÇÃO NO DIREITO DO TRABALHO

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1 
TERCEIRIZAÇÃO NO DIREITO DO TRABALHO 
 
INTRODUÇÃO 
 
EVOLUÇÃO HISTÓRICA E TERCEIRIZAÇÃO NO ÂMBITO MUNDIAL 
1. Modelo Taylorista/ Fordista de Divisão do Trabalho 
2. Modelo Toyotista de Divisão do Trabalho 
 
A TERCEIRIZAÇÃO NO PROCESSO PRODUTIVO BRASILEIRO 
Conceito de terceirização 
O que significa terceirizar 
Relação jurídica trilateral 
Finalidade da terceirização 
Quarteirização 
 
ESPÉCIES DE TERCEIRIZAÇÃO DO PROCESSO PRODUTIVO BRASILEIRO 
1. Quanto ao grau de evolução das atividades terceirizadas: 
a) Terceirização da atividade-meio 
b) Terceirização da atividade-fim 
2. Quanto a forma de desenvolvimento do processo: 
a) Terceirização de Serviços ou Terceirização de Mão-de-Obra 
b) Terceirização de Atividades 
3. Quanto a licitude do processo: 
a) Terceirização Lícita 
b) Terceirização Ilícita 
 
FORMATO JURÍDICO DA TERCEIRIZAÇÃO 
1. A Terceirização e o Trabalho Temporário 
2. A Terceirização e os Serviços de Vigilância e de Conservação e Limpeza 
3. A Terceirização das Atividades-meio e Atividades-fim do Tomador 
4. A Terceirização e a Administração Pública 
 
TERCEIRIZAÇÃO E FRAUDE 
1. “Marchandage”: 
2. Outras formas de fraude à lei: 
2.1 - Subordinação Jurídica e Pessoalidade no Trabalho Terceirizado 
2.2 - A Falta de Especialização e Idoneidade da Empresa Prestadora de Serviços 
 
 
 
 2 
RESPONSABILIDADE DO TOMADOR DE SERVIÇOS EM DECORRÊNCIA DA TERCEIRIZAÇÃO 
1. Responsabilidade Subsidiária: 
2. Reconhecimento do Vínculo de Emprego: 
3. Responsabilidade Solidária: 
4. Responsabilidade da Administração Pública: 
 
VANTAGENS E DESVANTAGENS DA TERCEIRIZAÇÃO 
1. Vantagens da Terceirização: 
2. Desvantagens da Terceirização: 
 
FORMAS DE PREVENÇÃO DOS RISCOS TRABALHISTAS 
1. Quanto ao relacionamento com as pessoas contratadas 
2. Quanto ao objeto da terceirização 
3. Quanto aos aspectos do contrato 
4. Quanto à regularidade da prestadora de serviços 
5. Quanto à fiscalização do trabalho 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 3 
INTRODUÇÃO 
 
 
O contrato de trabalho possui natureza jurídica e características próprias, o que o torna tão 
diverso das demais espécies de contratos, a ponto de merecer um ramo do direito especializado na 
sua regulamentação. 
 
A especificidade do contrato de trabalho se verifica na ocorrência de 02 (duas) obrigações 
recíprocas: de um lado a obrigação do empregado, que tem por objeto a prestação de serviços e, de 
outro, a obrigação do empregador, que se perfaz no pagamento da remuneração. 
 
O contrato de trabalho ainda caracteriza-se por um terceiro elemento, qual seja a 
subordinação jurídica, que significa o direito do empregador de fiscalizar e direcionar as atividades de 
seus empregados, de acordo com seus interesses. 
 
No entender de Otávio Pinto e Silva, a subordinação e o poder de direção são verso e 
reverso da mesma medalha: a subordinação é a situação em que fica o empregado e o poder de 
direção é a faculdade conferida ao empregador. Ambas se completam, de modo que em um processo 
judicial é recomendável seguir uma diretriz para se concluir se há ou não subordinação, tal como a 
verificação da quantidade e intensidade de ordens permanentes de serviço a que está sujeito o 
trabalhador
1
. 
 
Essa subordinação do empregado aliada ao poder de direção do empregador enfocam a 
presença de uma desigualdade entre as partes no âmbito da relação de emprego, o que caracteriza a 
diferença entre o contrato de trabalho e os demais contratos privatísticos. 
 
Assim, na tentativa de restabelecer o equilíbrio entre as partes, numa relação 
originariamente desigual, o legislador trabalhista amparou o trabalhador com um elenco de normas 
protetivas, submetendo o empregador a inúmeros deveres e obrigações, de tal modo a garantir aos 
empregados, parte hipossuficiente, uma série de direitos e acomodações. 
 
A máxime proteção se justifica, quando retornamos à época de criação e estabelecimento 
de tais normas protetivas (CLT – ano 1943). Naquele momento, a economia brasileira passava por 
um período de transação. Os trabalhadores rurais começavam a deixar o campo para ir trabalhar na 
cidade. Aos poucos, o país, até então agrícola, fincava suas estacas no desenvolvimento econômico 
da indústria, por meio de incentivo à entrada de capital e empresas estrangeiras. 
 
 
1
 Otávio Pinto e SILVA. Subordinação, Autonomia e Parassubordinação nas Relações de Trabalho. Ed. LTr. São 
Paulo. 2004. p. 16. 
 4 
Com o passar dos anos, a economia mundial ganhou nova conotação. “O fenômeno da 
globalização despertou na classe empresarial a necessidade de dinamizar seus mecanismos de 
reprodução de riquezas, de criar novas respostas para a sempre presente pergunta feita pelo capital 
àquela que o detém: „Como você fará para me reproduzir em maior quantidade e em maior 
velocidade”
2
. 
 
O processo de globalização da economia alterou e continua a alterar as relações de 
trabalho, especialmente em virtude do uso constante de inovações tecnológicas que resultam na 
adoção de diversas formas de reestruturação produtiva. A precarização das relações de trabalho 
passa a ganhar espaço, seja com o aumento do número de trabalhadores autônomos, seja com a 
ampliação das formas de subcontratação de trabalho (terceirização, cooperativas), seja com a 
simples informalidade ou clandestinidade
3
. 
 
Originou-se, então, o entre choque da realidade econômica com as normas jurídicas 
trabalhistas. 
 
“... no Direito do Trabalho há demasiada proteção e pouca liberdade e a preocupação 
do Direito do Trabalho clássico foi muito mais a de proteger o trabalhador e muito 
menos de cuidar da viabilidade econômica da empresa que afinal é sua fonte de 
trabalho. O que hoje está acontecendo é (...) o direito do trabalho na atualidade 
passará de um direito de distribuição de riqueza a ser um direito de produção de 
riqueza. Da hipertrofia de demasiada proteção nasceu rigidez não só gravosa para as 
empresas, mas indiretamente para os trabalhadores, cuja frente de trabalho se vê 
solapada ou então não cresce”. (Cássio Mesquita de Barros, Flexibilização do direito 
do trabalho, LTr, n° 58, v. 2, p. 1038)
4
. 
 
A fragmentação do mercado e a elevação da taxa de desemprego demonstram a 
necessidade de redefinição do direito do trabalho. 
 
Nesta seara, a terceirização se mostra como a saída encontrada pelos empregadores para 
contornar o rigorismo das normas trabalhistas e possibilitar o enquadramento de suas empresas na 
nova era da economia. Em contrapartida, aos empregados somente restou se adaptar a este novo 
molde de relação trabalhista e, infelizmente, aguardar até que seja feita uma releitura dessa proteção 
e autonomia nas relações empregatícias, que busquem melhor adequar o direito do trabalho à 
realidade concreta. 
 
 
2
 José Janguiê Bezerra DINIZ. A Terceirização e o Direito do Trabalho. Revista Jurídica nº 21. Trabalho & 
Doutrina. Ed. Saraiva. São Paulo. Junho de 1999. p. 7. 
3
 Otávio Pinto e SILVA. Subordinação, Autonomia e Parassubordinação nas Relações de Trabalho. Ed. LTr. São 
Paulo. 2004. p. 9. 
4
 José Janguiê Bezerra DINIZ. A Terceirização e o Direito do Trabalho. Revista Jurídica nº 21. Trabalho & 
Doutrina. Ed. Saraiva. São Paulo. Junho de 1999. p. 6. 
 5 
O presente módulo tem a função de desenvolver a análise do processo de terceirização, 
iniciando por sua evolução histórica, conceito e classificações. Dada sua tendência de contrapor-se 
ao princípiode proteção do trabalhador, será feita a análise, também, de seu formato jurídico, as 
possibilidades de fraudes e as espécies de responsabilidades inerentes a esta figura. Por fim, se 
demonstrarão as vantagens e desvantagens do serviço terceirizado, bem como outras formas de 
contratação de prestação de serviços e, ainda, as formas de prevenção de eventuais riscos 
trabalhistas. 
 
 
EVOLUÇÃO HISTÓRICA E TERCEIRIZAÇÃO NO ÂMBITO MUNDIAL 
 
No mundo antigo, a escravidão caracteriza-se como sendo a situação predominante de um 
trabalhador. Os escravos tinham o status não de homens, mas de “coisas”. Eram destituídos de 
vontade própria, sendo considerados, pura e simplesmente, como propriedades dos grandes 
detentores de terra. 
 
A Idade Média foi marcada pelo regime do feudalismo, com a presença da servidão e de 
algumas corporações de ofício. Os servos (trabalhadores rurais) estavam presos a terra em que 
trabalhavam, não gozando, portanto, de autonomia nas relações de produção. Em troca dos trabalhos 
prestados, recebiam tão-somente a proteção dos donos das glebas. 
 
No final da Idade Média, a partir da crise do modelo feudal, novas formas de organização 
produtiva foram surgindo. A primeira forma que surgiu foi a chamada “corporação de ofício”, que 
dividiu os trabalhadores em três classes: aprendiz, companheiro e mestre. Os poderes de 
organização e disciplina dessa relação concentravam-se nas mãos do respectivo mestre, todavia, 
sem haver qualquer relação jurídica entre este e seus empregados, mas tão-somente uma sociedade 
de direitos e deveres recíprocos. 
 
Entretanto, somente com a decadência total do feudalismo e o surgimento da burguesia, é 
que as relações de trabalho se intensificaram. Iniciava-se, então, a consolidação do capitalismo. Com 
o surgimento da indústria, a burguesia se firmou como classe hegemônica. 
 
Na Idade Contemporânea (marcada pela Revolução Francesa e Revoluções Industriais), o 
regime capitalista (assalariado) viveu seu apogeu. Tal época foi marcada pela livre concorrência e 
liberdade de trabalho, sem qualquer interferência do Estado, conhecido por “Estado Liberal”. 
 
O trabalhador era juridicamente livre para contratar as condições que deveriam regular o 
seu contrato de trabalho; mas essa liberdade era apenas formal, porque a lei da oferta e da procura 
impunha-lhe a aceitação das piores condições de trabalho, inclusive salários aquém do indispensável 
para a própria subsistência. Nesta fase de exacerbação do liberalismo econômico e jurídico, o 
 6 
trabalho humano nada mais representava do que mercadoria cujo preço oscilava em face da 
disponibilidade de braços.
5
 
 
O capitalismo exagerado, com a concentração de renda nas mãos da minoria, exploração 
de mão-de-obra e jornada de trabalho excessiva, acentuou o empobrecimento dos trabalhadores pela 
insuficiência competitiva em relação à indústria que florescia, situação esta que acabou por gerar 
uma séria perturbação social. Formaram-se, assim, duas classes sociais de interesse antagônico: a 
proletária e a capitalista. 
 
O sentimento de solidariedade e a construção da consciência de classe foram pressupostos 
inevitáveis para a formação do associativismo
6
. Houve, então, a intensificação das discussões em 
torno da questão social do trabalho e o início de transição do Estado Liberal para o Estado de Bem-
Estar Social. 
 
A necessidade da intervenção estatal, com a imposição de barreiras à liberdade contratual, 
em nome do interesse coletivo e da justiça social, com a criação de normas de amparo ao 
trabalhador, foi considerada a melhor estratégia para regular o desequilíbrio entre as classes sociais 
proporcionados pelo Estado Liberal. 
 
Como pondera Gabriela Delgado, “o ramo juslaboral passou a ser considerado „[...] 
progressista, irrenunciável, irreversível, [...] sempre arrancando novas concessões ao capital‟. Por 
conseguinte, o empregado, parte hipossuficiente na relação empregatícia, estava envolto numa 
redoma protetiva composta por princípios, regras e institutos jurídicos específicos, todos 
essencialmente teleológicos ou finalísticos. Foi nessa conjuntura que surgiu o princípio da “proteção, 
tuitivo ou tutelar”, sustentáculo do Direito do Trabalho, „[...] inspirador amplo do complexo de regras, 
princípios e institutos que compõem esse ramo jurídico especializado”
7
. 
 
Pois bem. A influência das teorias surgidas a partir do século XIX contribuiu para o 
surgimento de diversas normas de proteção dos trabalhadores dos países de todo o mundo. Em 
1919, foi criada a Organização Internacional do Trabalho (OIT), destinada a realizar estudos sobre os 
problemas relacionados ao trabalho no âmbito mundial. 
 
Após a Segunda Guerra Mundial, as indústrias retomaram sua fase de crescimento e a 
concretização de um novo avanço do capital. Todavia, com a queda das taxas de lucros, aumento do 
preço da força de trabalho, desigualdade acentuada na distribuição de rendas, crescimento das 
empresas multinacionais, aumento de privatizações e a crise do Estado do Bem-Estar Social, fizeram 
 
5
 Arnaldo SUSSEKIND. Instituições de Direito do Trabalho. Ed. LTr. São Paulo. 2004. Vol. I. p. 324. 
6
 Gabriela Neves DELGADO. Terceirização - Paradoxo do Direito do Trabalho Contemporâneo. Ed. LTr. São 
Paulo. 2003. p. 41. 
7
 Gabriela Neves DELGADO. Terceirização - Paradoxo do Direito do Trabalho Contemporâneo. Ed. LTr. São 
Paulo. 2003. p. 50. 
 7 
da década de 70 e 80 mais um momento de crise do capitalismo. Surgiu-se, então, o chamado 
“Estado Liberal” ou “Estado Mínimo”, com redução acentuada na forma de regulamentação das 
questões sociais e econômicas. 
 
A “era da globalização”, pode ser analisada em várias acepções, configurando-se como um 
fenômeno que ora provoca o encurtamento das distâncias do mundo pela maior acessibilidade 
proporcionada pelos modernos meios de transporte e comunicações; ou ora provoca o fenômeno da 
internacionalização comercial, produtiva, financeira, tecnológica e cultural, através do chamado 
movimento de “transnacionalização”
8
. Em qualquer de suas acepções, verifica-se que a falta de 
instrumentos sofisticados de análise macroeconômica acrescida da falta de uma forte estrutura social, 
econômica e jurídica, fará com que o referido fenômeno incremente a taxa de desemprego dos 
países que convivem com tais condições. 
 
A competitividade entre as pessoas em detrimento da solidariedade e a competitividade 
empresarial mediante a organização dos modos de produção e redução dos custos, provocaram a 
descentralização das atividades empresariais, o que possibilitou não só a fragmentação da cadeia 
produtiva como também o surgimento de novas relações de trabalho, como a terceirização. 
 
Insta ressaltar que, em meio a esta evolução história citada, 02 (dois) modelos de 
organização do trabalho merecem destaque: 
 
 
1. Modelo Taylorista/ Fordista de Divisão do Trabalho: 
 
Elaborado pelo americano Frederick Taylor no final do século XIX, o taylorismo 
desenvolveu-se como alternativa a ser empregada para o aumento da produtividade no trabalho, por 
meio da adoção da teoria dos tempos e movimentos, a fim de aprimorar a acumulação de capital. 
 
No Brasil, o referido modelo passou a ser utilizado a partir dos anos 30, obtendo grande 
repercussão na industrialização nascente. 
 
Preocupado com o esbanjamento de tempo, que significava para ele o tempo morto na 
produção, Taylor iniciou uma análise racional, do tipo cartesiana, por meio da cronometragem de 
cada fase do trabalho, eliminando os movimentos muito longos e inúteis. Desta forma, conseguiu 
dobrar a produção. Infelizmente, estemétodo, bastante lógico do ponto de vista técnico, ignorava os 
efeitos da fadiga e os aspectos humanos, psicológicos e fisiológicos, das condições de trabalho
9
. 
 
8
 Ancelmo César Lins de GÓIS. A flexibilização das normas trabalhistas frente a globalização. Disponível em 
www.jus.com.br. Acesso em 03 de julho de 2004. 
9
 Ing. Néri dos SANTOS. Condições Organizacionais do Trabalho. Aula 07. Disponível em: www.eps.ufsc.br. 
Acesso em: 17 de junho de 2005. 
 8 
Através do “taylorismo”, o controle do tempo somente foi possível mediante a separação e 
fragmentação das atividades de planejamento das de execução. Cada trabalhador era fixado em 
determinado posto de trabalho, sendo treinado para cumprir as tarefas impostas no tempo-padrão de 
produção, segundo sistematizado pela direção empresarial
10
. 
 
Pois bem. Por este modelo, o homem foi reduzido a gestos e movimentos, sem qualquer 
oportunidade de desenvolvimento de suas habilidades mentais. Era considerado como máquina. 
 
O aprimoramento do sistema taylorista adveio com o processo de divisão do trabalho criado 
por Henry Ford, após a Segunda Guerra Mundial, denominado de modelo fordista. 
 
Ford verticalizou a empresa. Possibilitou a máxima racionalização das operações realizadas 
pelos trabalhadores, combatendo o desperdício na produção, reduzindo o tempo e aumentando o 
ritmo de trabalho, visando a intensificação das formas de exploração
11
. 
 
No Fordismo, a segmentação dos gestos do taylorismo tornou-se a segmentação das 
tarefas, o número dos postos de trabalho foi multiplicado, cada um recobrindo o menor número de 
atividades possíveis. Falava-se, então, de uma parcelização do trabalho, que se desenvolverá 
igualmente no setor administrativo. 
 
 
2. Modelo Toyotista de Divisão do Trabalho: 
 
Desenvolvido no Japão, o modelo toyotista teve seu processo de implantação na empresa 
Toyota, pelo engenheiro Ohno, por volta de 1945, pós-guerra mundial. 
 
Adotado pela maior parte dos empresários de todo o mundo, após a década de 70, o 
toyotismo vem sendo utilizado em larga escala como alternativa de adequação da empresa ao 
mercado de trabalho globalizado, onde imperam a necessidade de redução de custos e o aumento de 
competitividade. 
 
Como bem elucida Gabriela Delgado, o toyotismo utiliza algumas técnicas para fazer 
funcionar a nova lógica do capital, o que somente é possível em virtude do exercício de controles 
internos e externos da produção, além da imposição de mecanismos mais modernos de relações 
interempresariais
12
. 
 
 
10
 Gabriela Neves DELGADO. Terceirização - Paradoxo do Direito do Trabalho Contemporâneo. Ed. LTr. São 
Paulo. 2003. p. 44. 
11
 Ibid. p. 52. 
12
 Ibid. p. 94. 
 9 
Segundo a autora, o controle interno decorre de mecanismos de “produção enxuta” (lean 
production) ou da “queima de gorduras” (dowsizing) e do “pronto atendimento” (just in time), tendo por 
fim inserir a qualidade total em todo o processo produtivo. A produção enxuta torna-se rentável na 
medida em que as empresas passam a não estocar mercadorias – produzidas com alto grau de 
especialização, porém em pequena escala – atendendo, tão-somente, às demandas de públicos 
específicos. Ou melhor, a demanda do mercado é que define o que será fabricado pelas empresas
13
. 
 
Por outro lado, o controle externo se verifica pela imposição de novos mecanismos de 
relações interempresariais, mediante a estratégia de implemento das “demissões em massa” (fire) e 
da “criação de empregos” (hire)
14
. Neste interregno, é que surgem os serviços terceirizados. 
 
Em suma, como lembra Carolina Pereira Marcante, o referido modelo de organização de 
produção tem como características básicas: a produção vinculada a demanda, ao contrário da 
produção em massa do fordismo; trabalho operário em equipe, como multivariedade de funções, 
processo produtivo flexível, que possibilita ao operário manusear simultaneamente várias máquinas; 
presença do just in time (melhor aproveitamento do tempo de produção); estoques mínimos; senhas 
de comando para a reposição de peças e estoque; estrutura horizontalizada – apenas 25% (vinte e 
cinco por cento) da produção é realizada pela própria empresa, o restante é realizado por empresas 
terceirizadas; organização de círculos de controle de qualidade, compostos de empregados, que são 
instigados a melhorar seu trabalho e desempenho
15
. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13
 Ibid. 
14
 Ibid. p. 100. 
15
 Carolina Pereira MARCANTE. A responsabilidade subsidiária do Estado pelos encargos trabalhistas 
decorrentes da contratação de serviços terceirizados. Disponível em: www.jus.com.br. Acesso em 15 de março 
de 2005. 
 10 
A TERCEIRIZAÇÃO NO PROCESSO PRODUTIVO BRASILEIRO 
 
Orlando Gomes e Elson Gottschalk afirmam que a história do Direito do Trabalho no Brasil 
deve ser dividida em 03 (três) fases: uma pré-histórica e duas históricas. A primeira, que abrange o 
período de 1822 (Independência) à 1888 (abolição da escravatura). A segunda, que se inicia com a 
abolição da escravatura e termina com a Revolução de 1930. E, a terceira e última fase, que se 
principia com a Revolução de 1930 e estende-se ao longo de todo o século XX
16
. 
 
Antes da Revolução de 1930, as relações de emprego no país eram de pouca relevância, 
uma vez que o país caracterizava-se por uma economia essencialmente agrícola. As poucas 
indústrias que existiam eram compostas em sua grande maioria por imigrantes europeus, que se 
concentravam sobre tudo em São Paulo e na região sul do país. 
 
Somente em meados do século XX é que a população brasileira passou a integrar a massa 
de trabalhadores urbanos do Brasil. Entretanto, os efeitos do capitalismo sobre os obreiros (péssimas 
condições no ambiente de trabalho, miserabilidade de salários e jornadas excessivas, má distribuição 
de renda, etc.) também marcaram o mercado de trabalho brasileiro. 
 
Tendo em vista tais condições de trabalho neste período, se fez necessário a adoção de 
medidas destinadas a proteção eficaz dos trabalhadores urbanos brasileiros, vez que até então 
existia, tão-somente, legislações trabalhistas esparsas, destinadas a proteção de determinados 
grupos (ex.: trabalho do menor). 
 
Em 1943 foi a provada a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), pelo Decreto n° 
5.452/43, que nada mais fez senão proteger minuciosamente cada trabalhador inserido em uma 
relação de emprego existente no país naquela época. 
 
No ano de 1988, pós-fase do regime militar, o legislador constituinte sob a influência do 
estabelecimento de uma sociedade democrática e cidadã, promulgou a Constituição Federal de 1988, 
hoje vigente. A Carta Magna tem como objetivo primordial a defesa e garantia dos direitos dos 
cidadãos, enquanto seres humanos, através da concretização de direitos individuais (de cunho social, 
político, civil e cultural) e direitos coletivos. 
 
Neste interregno, tem-se a década de 60, onde as primeiras noções sobre serviços 
terceirizados foram enfatizadas no Brasil, pelas empresas multinacionais que naquele período aqui se 
estabeleciam. 
 
Os decretos-leis n° 1.212 e 1.216, ambos de 1966, autorizavam a utilização de serviços de 
segurança terceirizado. O decreto 62.756/68 legalizou a locação de mão-de-obra através de agências 
 
16
 Orlando GOMES e Élson GOTTSCHALK. Curso de direito do Trabalho. Ed. Forense. São Paulo. 1995. p. 6. 
 11 
especializadas. Odecreto 1.034/69 regulou os serviços de vigilância em bancos, diretamente ou 
através de empresas intermediadoras. Na década de 70, passou-se a terceirizar o setor de serviços, 
principalmente, os serviços de limpeza e de segurança/ conservação para estabelecimentos 
bancários. Elaborou-se a Lei 6.019/74, que trata do trabalho temporário. Posteriormente, veio a Lei 
7.102/83, regulamentada pelo decreto 89.056/83, permitindo a terceirização de serviços de vigilância 
e de transporte de valores
17
. 
 
A partir da década de 70, o sistema terceirizado foi implementado e, posteriormente, 
consolidado no país, através da adoção do modelo toyotista de divisão de trabalho. Não havendo 
uma legislação específica sobre o assunto, mas apenas legislações esparsas regulamentando 
determinados serviços e casos, as empresas impulsionaram novas técnicas de estratégias produtivas 
(just in time), programas de qualidade e a terceirização dos serviços. 
 
As taxas de desemprego aumentaram e a defasagem do salário saltava aos olhos. A 
competição empresarial fundava-se na redução dos custos. Visando conter tais abusos, o Tribunal 
Superior do Trabalho, no ano de 1986, editou o Enunciado 256 que, na tentativa de conter o avanço 
da terceirização, tornou-se um obstáculo ao desenvolvimento econômico nacional. 
 
Em virtude do rigor excessivo com que o citado Enunciado tratava os serviços terceirizados, 
em 1993, o TST o revisou (para permitir a terceirização de determinados serviços) e, ato contínuo, 
elaborou o Enunciado 331, posteriormente alterado pela Resolução n° 96, de 11 de setembro de 
2000. 
 
Não há como fechar os olhos para a terceirização, que dia-a-dia se consolida como a 
melhor saída encontrada pelas empresas para sustentar a competitividade das relações de produção. 
Entretanto, conforme poderá se observar nos capítulos seguintes, em virtude de não haver legislação 
específica sobre o tema e dado o rigor inerente a proteção das relações de emprego, tal sistema é 
passível de várias críticas ante aos reais problemas que causa aos empregados. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
17
 Carolina Pereira MARCANTE. A responsabilidade subsidiária do Estado pelos encargos trabalhistas 
decorrentes da contratação de serviços terceirizados. Disponível em: www.jus.com.br. Acesso em 15 de março 
de 2005. 
 12 
CONCEITO 
 
1. O que significa terceirizar? 
 
A expressão terceirização resulta de neologismo oriundo da palavra terceiro, compreendido 
como intermediário, interveniente. Não se trata seguramente, de terceiro, no sentido jurídico, como 
aquele que é estranho a certa relação jurídica entre duas ou mais partes. O neologismo foi construído 
pela área de administração de empresas, fora da cultura do Direito, visando enfatizar a 
descentralização empresarial de atividades para outrem, um terceiro à empresa
18
. 
 
Sob esta mesma lógica de raciocínio, Otávio Pinto e Silva, define a terceirização como 
sendo uma técnica de administração que reflete a tendência de transferir a terceiros atividades que 
anteriormente estavam a cargo da própria empresa
19
. Em outras palavras, terceirização é a 
transferência de segmento ou segmentos do processo de produção da empresa para outras de 
menor envergadura, porém de maior especialização na atividade transferida
20
. 
 
Como aponta Marcelo Augusto Souto de Oliveira, “a terceirização tem múltiplas e variadas 
definições. Para alguns conformados com o fenômeno, apontam para sua disseminação, e afirmam 
que a terceirização é a „horizontalização da atividade econômica, segundo a qual muitas grandes 
empresas estão transferindo para outras uma parte das funções até então por elas diretamente 
exercidas, concentrando-se, progressivamente, em rol de atividades cada vez mais restrito‟. Para 
outros, preocupados em limitar seu campo de incidência, é a „contratação, por determinada empresa, 
de serviços de terceiro, para suas atividades-meio‟. Há ainda, os que definem como sendo o 
„processo de repasse para a realização de complexo de atividades por empresa especializada, sendo 
que estas atividades poderiam ser desenvolvidas pela própria empresa‟, fazendo crítica à „exclusão, o 
apartamento e a fragmentação da classe trabalhadora pela terceirização como intermediação de 
mão-de-obra‟”
21
. 
 
Em posição divergente, Arion Sayão Romita conceitua a terceirização a partir do 
neologismo criado pela palavra terciário, manifestando sua preferência, portanto, pelo uso da 
expressão “terciarização”. 
 
Como cita Maranhão, Romita ensaia a preferência pelo vocábulo “terciarização”, recordando 
os setores em que a atividade econômica está subdividida: setor primário, correspondente aos 
recursos naturais (agricultura, pecuária); setor secundário, onde reside um processo de 
 
18
 Maurício Godinho DELGADO. Curso de direito do trabalho. Ed. LTr. São Paulo. 2004. p. 428. 
19
 Otávio Pinto e SILVA. Subordinação, Autonomia e Parassubordinação nas Relações de Trabalho. Ed. LTr. 
São Paulo. 2004. p. 60. 
20
 José Augusto Rodrigues PINTO e Rodolfo Pamplona FILHO. Repertórios de Conceitos Trabalhistas. Ed. LTr. 
São Paulo. 2000. Vol. I. p. 500. 
21
 Marcelo Augusto Souto de OLIVEIRA. Terceirização: Avanço ou Retrocesso?. Disponível em: 
www.ibcbrasil.com.br Acesso em 15 de março de 2005. 
 13 
transformação (indústria); e o setor terciário, ligado essencialmente a serviços. Esta segmentação 
econômica adquire a expressão de linha divisória para significar, por exclusão, que os setores 
primários e secundários da economia estão infensos a repasse de terceiros. A possibilidade desse 
desmembramento ocorrer tem lindes no próprio setor terciário (serviços)
22
. 
 
Entende-se que a conceituação empregada pelo nobre jurista supracitado não deve 
prosperar, uma vez que os termos “terceirização” e “terciarização” não se confundem. A primeira 
expressão tem origem no ramo de Administração de Empresas e consiste em um modo de organizar 
a empresa e a força de trabalho, através da desconcentração produtiva. O segundo vocábulo retrata 
um segmento da economia (setor terciário), onde também se encontram trabalhadores terceirizados. 
 
Em suma, o vocábulo “terceirização” deve ser entendido como uma técnica administrativa 
de desconcentração produtiva, que provoca uma relação jurídica trilateral, por meio da qual o 
trabalhador presta serviços a um tomador de serviços, apesar de possuir contrato laborativo com uma 
empresa interveniente ou fornecedora. 
 
 
2. Relação Jurídica Trilateral: 
 
Ao invés de uma única relação jurídica, envolvendo as partes, temos agora três sujeitos e 
dois contratos: o interempresário e o de trabalho. O primeiro, entre a empresa fornecedora e a cliente. 
O segundo, entre a fornecedora e o trabalhador
23
. 
 
Os sujeitos dessa relação trilateral são: o trabalhador, prestador de serviços, que possui 
vínculo de emprego (relação jurídica trabalhista) com a empresa fornecedora, mas que executa seu 
trabalho junto a empresa tomadora de serviços; a empresa terceirizante, que contrata empregados 
especializados para laborar para as empresas tomadoras, possuindo com estas um contrato 
interempresário, de natureza civil; a empresa tomado de serviços, que recebe a prestação de 
serviços, mantendo com os empregados da primeira uma relação econômica de trabalho e não 
jurídica. 
 
 
 
 
 
 
 
 
22
 Délio MARANHÃO. Instituições de Direito do Trabalho. Ed. LTr. São Paulo. 2004. Vol. I. p. 277. 
23
 Gabriela Neves DELGADO. Terceirização - Paradoxo do Direitodo Trabalho Contemporâneo. Ed. LTr. São 
Paulo. 2003. p. 140. 
 
 14 
Ilustrativamente, tem-se: 
 
 
 
Cumpre mencionar que o referido gráfico vislumbra as hipóteses de terceirização lícita, 
devendo ser desconsiderado para as situações de serviços terceirizados ilegais, casos em que 
ocorrem a formação de vínculo de emprego direto entre empregado e tomador de serviços 
(configuração da relação jurídica trabalhista). 
 
 
2. Finalidade: 
Conforme já explanado, a década de 60 marcou o início do estabelecimento da 
terceirização no Brasil. A competitividade entre as empresas nacionais e internacionais, instaladas no 
país, obrigaram a adoção do modelo toyotista de divisão de trabalho para a conquista do mercado. 
 
Por meio da consecução do controle externo inerente ao modelo toyotista, as empresas 
buscaram a terceirização, como forma de concentrar-se na realização das atividades em que se 
especializaram e delegar a outros a execução de certos serviços diferenciados ou a produção de 
determinados bens. 
 
Segundo informa Robortella, a terceirização permite a dedicação e emprenho da empresa 
em seu foco ou objetivo final. Ela provoca um desmonte da estrutura organizacional clássica, que 
concebia a empresa como uma entidade auto-suficiente, autárquica, que se responsabilizava por 
todas, ou quase todas, as fases do processo produtivo. Em verdade, ela se movimenta no sentido da 
desconcentração produtiva, sendo o fornecimento de serviços buscado fora da empresa, em mãos de 
terceiros
24
. 
 
Em outras palavras, a terceirização tem a função de dinamizar a relação produtiva, vez que 
é o meio pelo qual uma empresa obtém trabalhos específicos de quem não é seu empregado, mas 
 
24
 Luiz Carlos Amorim ROBORTELLA. Terceirização. Tendência em doutrina e jurisprudência. Revista Jurídica 
nº 21. Trabalho & Doutrina. Ed. Saraiva. São Paulo. Junho de 1999. p. 33. 
Relação Jurídica Civil 
Cí
 
 
Empresa 
Terceirizante vil 
Relação Jurídica 
Trabalhista 
Relação Econômica 
de Trabalho 
Empresa 
Terceirizante 
 
Trabalhador 
 
Empresa 
Tomadora 
 15 
que pertencente ao quadro de trabalhadores de empresa especializada no ramo almejado pela 
contratante. 
 
 
3. Quarteirização: 
 
“Quarteirização” ou “terceirização gerenciada”, segundo definição de Sérgio Pinto Martins, 
vem ser a contratação de uma empresa especializada que se encarrega de gerenciar as empresas 
terceirizadas, as parceiras. Normalmente se contrata uma empresa completamente distinta das 
terceirizadas e especialista no mercado num determinado ramo de serviços ou de administração de 
serviços. Esta empresa passa a administrar os fornecedores da terceirizante, em função do grande 
número deles
25
. 
 
Através da quarteirização, tem-se uma maior qualidade e segurança na execução dos 
serviços especializados, uma vez que o trabalho prestado pelo terceiro, que configura o processo de 
terceirização, será fiscalizado e administrado por outra empresa, caracterizando, assim, a 
“quarteirização” de serviço. 
 
Como esclarece Polônio, os efeitos comerciais, trabalhistas ou fiscais, da chamada 
“quarteirização” em nada difere do que se verifica no processo de terceirização, pois todo e qualquer 
serviço prestado por pessoa não vinculada à empresa contratante, independentemente da posição 
em que se encontra, gera os mesmos efeitos do processo de terceirização, dependendo da forma 
como ela se opera. Dessa feita, as conseqüências de um processo de quarteirização serão as 
mesmas do processo de terceirização
26
. 
 
 
ESPÉCIES DE TERCEIRIZAÇÃO DO PROCESSO PRODUTIVO BRASILEIRO 
 
O processo de terceirização, de acordo com o critério para sua classificação, pode ser 
subdivido em diversas espécies, dentre as quais: 
 
1. Quanto ao grau de evolução das atividades terceirizadas: 
 
a) Terceirização da atividade-meio 
Atividade-meio é aquela tarefa que não se relaciona com o objeto principal desenvolvido 
pela empresa tomadora de serviços, ou seja, é aquela atividade que corre paralelamente a atividade 
principal, sendo, portanto, acessória desta. 
 
 
25
 Sérgio Pinto MARTINS. A Terceirização e o Direito do Trabalho. Ed. Malheiros. São Paulo. 1995. p. 19. 
26
 Wilson Alves POLONIO. Terceirização – Aspectos legais, trabalhistas e tributários. Ed. Atlas. São Paulo. 
2000. p. 127. 
 16 
b) Terceirização da atividade-fim 
 
Atividade-fim é aquela função relacionada ao objeto principal da empresa, ou seja, que se 
ajusta ao núcleo essencial do processo produtivo desenvolvido pelo tomador de serviços. 
 
Em virtude da polêmica sobre tais tipos de terceirização, cumpre-nos mencionar que o tema 
em questão será minuciosamente analisado em capítulo próprio. 
 
 
2. Quanto a forma de desenvolvimento do processo: 
 
a) Terceirização de Serviços ou Terceirização de Mão-de-Obra (terceirização para 
dentro da empresa tomadora de serviços) 
 
Por essa forma de terceirização, entende-se que a empresa tomadora incorpora em seus 
quadros o trabalhador terceirizado (contratado pela empresa terceirizante). Essa forma de 
terceirização, conforme veremos adiante, esta disciplinada pelo nosso ordenamento jurídico através 
da Súmula 331 do TST. 
 
b) Terceirização de Atividades (terceirização para fora da empresa tomadora de serviços) 
Também denominada de subcontratação, por alguns autores, essa espécie de terceirização 
tende a dar origem a parceria entre empresas, cada qual especializada em determinada atividade, 
direta ou indiretamente ligada ao ciclo produtivo, como seus próprios empregados ou prestadores de 
serviços, sem qualquer relação subordinante entre elas, mas com divisão e definição de 
responsabilidades. Da mesma forma, os empregados da empresa contratada não se sujeitam ao 
poder de comando da empresa contratante
27
. 
 
Nessa espécie de terceirização verifica-se com bastante clareza a desconcentração do 
processo produtivo, dada a horizontalização da organização da produção pela tomadora de serviços, 
através da transferência de certas atividades para outras empresas, cuja prestação será realizada no 
âmbito destas. 
 
A título de ilustração, têm-se as indústrias automobilísticas que, pela desconcentração 
produtiva, delegam à determinadas empresas de pequeno e médio porte a fabricação de peças a 
serem utilizadas no veículo. 
 
 
 
 
27
 Gabriela Neves DELGADO. Terceirização – Paradoxo do direito do trabalho contemporâneo. Ed. LTr. São 
Paulo. 2003. p. 120. 
 17 
3. Quanto a licitude do processo: 
 
a) Terceirização Lícita 
 
Por terceirização lícita entende-se a terceirização cujo objeto contratual é a transferência 
das atividades-meio do ente tomador de serviço para empresas que as desenvolvam como sua 
atividade-fim
28
. 
 
As hipóteses de terceirização lícita vêm expressas pela Súmula 331 do TST: situações 
empresariais que autorizem contratação de trabalho temporário; atividades de vigilância; atividades 
de conservação e limpeza; serviços especializados ligados à atividade-meio do tomador. 
 
b) Terceirização Ilícita 
 
A terceirização ilícita configura-se justamente na intermediação de mão-de-obra por 
empresa interposta, onde a empresa terceirizada fica responsável por transferir o objeto do contrato 
ao trabalhador
29
. 
 
Como bem salienta Maurício Godinho Delgado, excluídas as quatro hipóteses de 
terceirização lícita, não na ordem jurídica do país preceito legal a dar validade trabalhista a contratosmediante os quais uma pessoa física preste serviços não-eventuais, onerosos, pessoais e 
subordinados a outrem (art. 2°, caput, e 3°, caput, CLT), sem que esse tomador responda 
juridicamente, pela relação laboral estabelecida
30
. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
28
 Desireé de Araújo PIMENTEL. O Enunciado n° 331, IV, do TST e o regime próprio da Administração 
Pública. Disponível em: www.jus.com.br. Acesso em 14 de fevereiro de 2005. 
29
 Ibid. 
30
 Maurício Godinho DELGADO. Curso de Direito do Trabalho. Ed. LTr. São Paulo. 2004. p. 442. 
 18 
FORMATO JURÍDICO DA TERCEIRIZAÇÃO 
 
 
Nos dias atuais, a terceirização configura-se como sendo uma prática consagrada pelo 
sistema econômico e jurídico. Considerada pelos empregadores como alternativa encontrada à 
dinamizar as relações de produção frente a rigidez da legislação pátria trabalhista, dizem que a 
terceirização tornou-se medida hábil para a solução de problemas como o desemprego. 
 
Nesta seara, salienta Luiz Carlos Amorim Robortella, que o direito do trabalho tem a função 
de organizar e disciplinar a economia, podendo ser concebido como verdadeiro instrumento da 
política econômica. Deixou de ser apenas um direito de proteção do mais fraco para ser um direito de 
organização da produção. Em lugar de somente direito de proteção ao trabalhador e redistribuição da 
riqueza, converteu-se em direito da produção, com especial ênfase para a regulação do mercado de 
trabalho. A revisão dogmática do direito do trabalho é hoje uma realidade concreta. O protecionismo 
deixou de ser sua preocupação maior, para não dizer exclusiva
31
. 
 
 Todavia, em que pese essa realidade, a terceirização não está regulamentada por norma 
específica. As hipóteses de terceirização lícitas permitidas pelo ordenamento jurídico brasileiro 
encontram-se previstas tão-somente na Súmula n° 331 do TST (revisão do Enunciado n° 256
32
 do 
TST), nos seguintes termos: 
 
“I – A contratação de trabalhadores por empresa interposta é ilegal, formando-se o 
vínculo diretamente com o tomador dos serviços, salvo no caso de trabalho 
temporário (lei 6.019, de 03.01.1974). 
II – A contratação irregular de trabalhador, mediante empresa interposta, não gera 
vínculo de emprego com os órgãos da administração pública direta, indireta ou 
fundacional (art. 37, II, da CF/1988). 
III – Não forma vínculo de emprego com o tomador a contratação de serviços de 
vigilância (lei 7.102, de 20.06.1983) e de conservação e limpeza, bem como a de 
serviços especializados ligados à atividade-meio do tomador, desde que inexistente a 
pessoalidade e a subordinação direta. 
IV – O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do empregador, implica 
a responsabilidade subsidiária do tomador de serviços, quanto àquelas obrigações, 
inclusive quanto aos órgãos da administração direta, das autarquias, das fundações 
públicas, das empresas públicas e das sociedades de economia mista, desde que 
hajam participado da relação processual e constem também do título executivo 
judicial (art. 71 da Lei 8.666, de 21.06.1993).” 
 
31
 Luiz Carlos Amorim ROBORTELLA. Terceirização. Tendência em Doutrina e Jurisprudência. Revista 
Jurídica Trabalho & Doutrina. Ed. Saraiva. São Paulo. Junho de 1999. p. 32. 
32
 “Salvo os casos de trabalho temporário e de serviço de vigilância, previstos nas Leis n° 6019, de 3.1.74 e 
7102, de 20.6.83, é ilegal a contratação de trabalhadores por empresa interposta, formando-se o vínculo 
empregatício diretamente com o tomador dos serviços.” 
 19 
O inciso I constante da Súmula n° 331 do TST consagra o princípio basilar referente a 
intermediação de mão-de-obra, qual seja: “a contratação de trabalhadores por empresa interposta é 
ilegal, formando-se vínculo diretamente com o tomador de serviços”. 
 
Pois bem. Como exceção à regra geral, tem-se a terceirização lícita, composta por 04 
situações-tipo, quais sejam: situações empresariais que autorizem a contratação de trabalho 
temporário, atividades de vigilância, atividades de conservação e de limpeza e serviços 
especializados ligados à atividade-meio do tomador. Além dessas 04 hipóteses, ainda merece 
destaque a terceirização dos serviços inerentes à Administração Pública. 
 
 
1. A Terceirização e o Trabalho Temporário 
 
Segundo definição constante no artigo 2°, da Lei 6.019/74, “trabalho temporário é aquele 
prestado por pessoa física a uma empresa, para atender à necessidade transitória de substituição de 
pessoal regular e permanente ou a acréscimos extraordinários de serviços”. 
 
Por este conceito pode-se concluir que o contrato de trabalho temporário, embora regulado 
por lei especial, configura-se como sendo um contrato de emprego por prazo determinado, nos 
termos que dispõe o artigo 443, § 1°, da CLT: 
 
“Considera-se como de prazo determinado o contrato de trabalho cuja vigência 
dependa de termo prefixado ou da execução de serviços especificados ou ainda da 
realização de certo acontecimento suscetível de previsão aproximada”. 
 
Essa espécie de contrato, por se tratar de uma exceção ao princípio da continuidade da 
relação de emprego - concretizado pela vigência de contratos a prazo indeterminado – apenas será 
válido diante das hipóteses consignadas pelo § 2°, do artigo 443 da CLT: “a) de serviços cuja 
natureza ou transitoriedade justifique a predeterminação do prazo; b) de atividades empresariais de 
caráter transitório; c) de contrato de experiência;” e diante das hipóteses autorizadas pela Lei 
6.019/74. 
 
A Lei 6.019/74 menciona as hipóteses de terceirização de mão-de-obra no trabalho 
temporário. Estabeleceu-se, portanto, a relação jurídica trilateral entre trabalhador temporário, 
empresa de trabalho temporário e empresa tomadora de serviços. Assim, tem-se o vínculo de 
emprego do trabalhador temporário com a empresa de trabalho temporário, embora preste o primeiro 
serviços para a empresa tomadora de serviços; entre o trabalhador temporário e a empresa tomadora 
de serviços, tem-se tão-somente uma relação econômico-trabalhista, sendo certo existir uma relação 
jurídica de natureza civil entre esta e a empresa de trabalho temporário. 
 20 
A empresa de trabalho temporário, portanto, compreende “a pessoa física ou jurídica 
urbana, cuja atividade consiste em colocar à disposição de outras empresas, temporariamente, 
trabalhadores, devidamente qualificados, por elas remunerados e assistidos”
33
. 
 
Sob a mesma ótica, trabalhador temporário é toda pessoa física vinculada a uma empresa 
de trabalho temporário (vínculo empregatício), de quem recebe suas parcelas salariais e de quem é 
subordinado, para prestar serviços a outra empresa, seja para atender alguma necessidade 
transitória em decorrência de substituição de pessoal ou para atender acréscimo extraordinário de 
serviço. 
 
Neste interregno, importante mencionar, que o trabalhador temporário não se confunde com 
a figura do trabalhador contratado a prazo determinado, vez que este último encontra fundamento nas 
hipóteses constantes do artigo 443 da CLT. O trabalhador temporário é regido por legislação especial 
enquanto que outro tem seu contrato regido pelas normas celetistas. 
 
Com relação às hipóteses de cabimento do trabalho temporário, o legislador especial 
consagrou duas situações-tipo: a primeira para atender as necessidades transitórias de substituição 
de pessoal regular e permanente da empresa tomadora e, a outra, para atender a necessidade 
resultante de acréscimo extraordinário de serviços dentro da empresa tomadora. 
 
Segundo esclarece MaurícioGodinho Delgado, a primeira dessas hipóteses diz respeito a 
situações rotineiras de substituição de empregados originais da empresa tomadora (férias; licença-
maternidade; outras licenças previdenciárias, etc.). A segunda abrange situações de elevação 
excepcional da produção ou de serviços da empresa tomadora. Ilustrativamente, elevação 
excepcional de vendas, em face de nova e excepcional contratação; elevação de vendas em face de 
períodos de festas anuais, etc
34
. 
 
Insta ressaltar que, fora tais hipóteses de cabimento, não há o que se falar em licitude 
acerca da existência do trabalho temporário. Por conseqüência, uma vez desrespeitadas tais 
situações, configurado estará o vínculo de emprego entre o trabalhador temporário e o tomador de 
serviços, em atenção ao que dispõe a regra geral constante do inciso I, da Súmula 331 do TST. 
 
Ademais, outras formalidades ainda devem ser observadas quanto a celebração dos 
contratos de trabalho temporário. Os contratos que ligam os sujeitos da relação trilateral devem ser 
necessariamente escritos, não havendo possibilidade para contratação meramente tácita ou verbal, 
conforme se verifica pela leitura dos artigos 9° e 11 da Lei 6.019/74: 
 
 
33
 Artigo 4°, da Lei 6.019, de 03 de janeiro de 1974. 
34
 Maurício Godinho DELGADO. Curso de Direito do Trabalho. Ed. LTr. São Paulo. 2004. p. 451. 
 21 
“O contrato entre a empresa de trabalho temporário e a empresa tomadora de serviço 
ou cliente deverá ser obrigatoriamente escrito e dele deverá constar expressamente o 
motivo justificador da demanda de trabalho temporário, assim como as modalidades 
de remuneração da prestação de serviços.”
35
 
 
“O contrato de trabalho celebrado entre a empresa de trabalho temporário e cada um 
dos assalariados colocados à disposição de uma empresa tomadora ou cliente será, 
obrigatoriamente, escrito e dele deverão constar, expressamente, os direitos 
conferidos aos trabalhadores por esta Lei.”
36
 
 
Como bem salienta Maurício Godinho Delgado, a ausência desses requisitos formais do 
contrato temporário implica sua automática descaracterização, dando origem a um contrato 
empregatício clássico, por tempo indeterminado, com respeito ao trabalhador envolvido
37
. 
 
Por fim, o artigo 10 da mencionada Lei, determina o prazo máximo de vigência do contrato 
temporário, qual seja: 03 (três) meses com relação a um mesmo empregado e a empresa tomadora 
de serviços, salvo autorização conferida pelo Ministério do Trabalho. Excedido este prazo, a relação 
de trabalho consagrada pela Lei 6.019/74 estará descaracterizada, formando-se o vínculo 
empregatício clássico celetista com o tomador de serviços. 
 
Diante de todo o exposto, pode-se concluir que a contratação de trabalhador por intermédio 
de empresa de trabalho temporário, portanto, nos estritos termos da Lei n° 6.019/74, afasta a 
possibilidade de caracterização de vínculo direto com o tomador dos serviços, isto porque a 
especificidade do contrato de trabalho temporário reside no fato de não transferir ao contratante 
nenhuma responsabilidade sobre o trabalho alheio, salvo nas hipóteses de insolvência da empresa 
prestadora de serviços. Pelo que se percebe, o inciso I do Enunciado parece ter endereço certo: as 
terceirizações fraudulentas ou simuladas utilizadas no intuito único de evitar a contratação de 
funcionário e o correspondente pagamento das verbas trabalhistas, previdenciárias e demais 
encargos sociais
38
. 
 
 
2. A Terceirização e os Serviços de Vigilância e de Conservação e Limpeza 
 
A Súmula n° 331, inciso III, do TST, arrolou como forma de terceirização lícita as hipóteses 
de serviços de vigilância, não somente referente ao segmento bancário, mas quaisquer modalidades 
 
35
 Artigo 9°, da Lei 6.019, de 03 de janeiro de 1974. 
36
 Artigo 11, da lei 6.019, de 03 de janeiro de 1974. 
37
 Maurício Godinho DELGADO. Curso de Direito do Trabalho. Ed. LTr. São Paulo. 2004. p. 453. 
38
 Wilson Alves POLONIO. Terceirização – Aspectos Legais, Trabalhistas e Tributários. Ed. Atlas. São Paulo. 
2000. p. 28. 
 22 
do mercado de trabalho, que contratem esta espécie de atividade através de empresas 
especializadas. 
 
O Enunciado n° 256 do TST admitia apenas a terceirização de atividades de vigilância 
ligadas ao setor bancário (Lei 7.102/83
39
). Entretanto, com a revisão efetuada pela Súmula n° 331, a 
situação-tipo foi ampliada, ao passo que, atualmente, é permitida a terceirização de serviços de 
vigilância para quaisquer segmentos do mercado de trabalho. 
 
Nesta seara, como bem salienta Maurício Godinho Delgado, vigilante não é vigia. Este é 
empregado não especializado ou semi-especializado, que se vincula ao próprio ente tomador de seus 
serviços (trabalhando, em geral, em condomínios, guarda de obras, pequenas lojas, etc.).Vigilante é 
membro de categoria especial, diferenciada – ao contrário do vigia, que se submete às regras da 
categoria definida pela atividade do empregador. O vigilante submete-se a regras próprias não 
somente quanto à formação e treinamento da força de trabalho como também à estrutura e dinâmica 
da própria entidade empresarial
40
. 
 
No que se refere às atividades de conservação e limpeza, a Súmula n° 331, inciso III, do 
TST também é bastante clara ao consagrar como possível a terceirização de tais serviços. Desde a 
década de 70, essa situação-tipo preponderava no mercado de trabalho brasileiro, ao ponto do 
legislador ordinário elaborar semelhante rol, mediante a Lei 5.645/70
41
, permitindo a prática do 
processo terceirizante destes serviços à Administração Pública. 
 
Apesar de considerados como atividades de apoio semelhantes, intenta-se traçar alguns 
aspectos que lhes são distintivos. As atividades de conservação caracterizam-se pelo “conjunto de 
medidas e práticas, periódicas e permanentes, que visam à proteção e à manutenção em bem estado 
de bens, monumentos e objetos pertencentes a instituições públicas ou privadas”. De cunho genérico, 
materializam-se especialmente por meio das atividades de limpeza, com a devida “exclusão de 
substâncias indesejáveis, purificação, depuração” de lugares, bens, monumentos e objetos. Como 
exemplos de atividades de asseio e conservação, citem-se: a faxina, a detetização, a limpeza de 
vidros, os serviços de copeira, etc
42
. 
 
 
 
39
 Artigo 2°, § 2°, da Lei 7.102/83: “As empresas especializadas em prestação de serviços de segurança, 
vigilância e transporte de valores, constituídas sob a forma de empresas privadas, além das hipóteses previstas 
nos incisos do caput deste artigo, poderão se prestar ao exercício das atividades de segurança privada a pessoas; 
a estabelecimentos comerciais, industriais, de prestação de serviços e residenciais; a entidades sem fins 
lucrativos; e órgãos e empresas públicas.” 
40
 Maurício Godinho DELGADO. Curso de Direito do Trabalho. Ed. LTr. São Paulo. 2004. p. 439. 
41
 Artigo 3°, da Lei 5.645/70: “As atividades relacionadas com transporte, conservação, custódia, operação de 
elevadores, limpeza e outras assemelhadas serão, de preferência, objeto de execução indireta, mediante contrato, 
de acordo com o artigo 10, § 7°, do Decreto-lei 200/67 (que regulamenta as atividades da Administração 
Federal)”. 
42
 Gabriela Neves DELGADO. Terceirização. Paradoxo do Direito do Trabalho Contemporâneo. Ed. LTr. São 
Paulo. 2003. p. 145. 
 23 
3. A Terceirização das Atividades-meio e Atividades-fim do Tomador 
 
A parte final do inciso III, da Súmula n° 331 do TST permite uma outra forma de 
terceirizaçãolícita, que diz respeito a “serviços especializados ligados à atividade-meio do 
tomador...”. 
 
Entretanto, antes do aprofundamento do tema, cumpre-nos identificar a dualidade existente 
entre as atividades-meio e atividades-fim de uma empresa, destacando a dificuldade que doutrina e 
jurisprudência têm em caminhar de forma convergente. 
 
Segundo aponta Wilson Alves Polônio, os estudos sobre a referida polêmica desdobram-se 
em duas correntes de opinião. Para alguns, a atividade-fim está relacionada à essencialidade do 
serviço, o que permitiria a conclusão absurda de que atividade-meio não seria essencial. Outros 
doutrinadores propugnam que a atividade-fim está intrinsecamente relacionada com o objeto social 
da pessoa jurídica, o que permitiria dizer, por outras palavras, que as demais atividades, ainda que 
ligadas indiretamente a seu objeto, e todas são, salvo casos específicos e isolados, não seriam 
caracterizadas como atividades-fim
43
. 
 
Nesta seara, tem-se o conceito trazido por Maurício Godinho Delgado, em sua obra Curso 
de Direito do Trabalho, que retrata sua tendência pela adoção da primeira corrente doutrinária, senão 
vejamos: 
 
“Atividades-fim podem ser conceituadas como funções e tarefas empresariais e 
laborais que se ajustam ao núcleo da dinâmica empresarial do tomador dos serviços, 
compondo a essência, dessa dinâmica e contribuindo inclusive para a definição de 
seu posicionamento e classificação no contexto empresarial e econômico. São, 
portanto, atividades nucleares e definitórias da essência da dinâmica empresarial do 
tomador de serviços. Por outro lado, atividades-meio são aquelas funções e tarefas 
empresariais e laborais que não se ajustam ao núcleo da dinâmica empresarial do 
tomador dos serviços, nem compõem a essência dessa dinâmica ou contribuem para 
a definição de seu posicionamento no contexto empresarial e econômico mais amplo. 
São, portanto, atividades periféricas à essência da dinâmica empresarial do tomador 
de serviços”
44
. 
 
Por outro lado, Wilson Alves Polônio, defensor da segunda corrente, prefere diferenciar as 
atividades sob a ótica dos sistemas operacionais da empresa, de tal modo que a atividade-fim se 
configure como aquela concernente ao objetivo principal da empresa, expresso em contrato social ou 
 
43
 Wilson Alves POLONIO. Terceirização – Aspectos Legais, Trabalhistas e Tributários. Ed. Atlas. São Paulo. 
2000. p. 34. 
44
 Maurício Godinho DELGADO. Curso de Direito do Trabalho. Ed. LTr. São Paulo. 2004. p. 440. 
 24 
no registro de firma individual, enquanto que a atividade-meio se caracterize pela atividade acessória 
da empresa, ou seja, aquela que corre paralela à atividade principal. 
 
Segundo o autor, na primeira linha de pensamento reside certa dificuldade em visualizar, na 
prática, a aplicação do critério de identificação da atividade-fim por ela sustentada, uma vez que a 
essencialidade está intrinsecamente relacionada à necessidade. Em contrapartida, pela adoção da 
segunda corrente, a identificação das atividades seria mais coerente. Na área administrativa, por 
exemplo, todo e qualquer tipo de serviço poderia ser terceirizado, de vez que não estaria diretamente 
ligado ao objeto social
45
. 
 
Pois bem. Teoricamente, a conceituação e, conseqüente, distinção entre atividades-meio e 
atividades-fim é sempre possível de ser efetuada, independente da corrente adotada pelo 
doutrinador. Entretanto, na prática (na análise de cada caso concreto), há uma séria dificuldade em 
classificar e identificar tais atividades, mesmo adotando como base os preceitos exarados pela 
segunda corrente. 
 
A Súmula n° 331 do TST, ao mencionar expressamente que “não forma vínculo de emprego 
com o tomador a contratação de serviços especializados ligados à sua atividade-meio”, faz concluir, 
através de raciocínio inverso, que aqueles serviços não ligados a tal atividade (portanto, ligados a 
atividade-fim) gera vínculo de emprego entre o trabalhador e o tomador. 
 
A nosso ver, um posicionamento excessivamente radical, que se choca com a realidade 
concreta. Todavia, os tribunais assim têm decidido: 
TERCEIRIZAÇÃO. ATIVIDADE-FIM. IMPOSSIBILIDADE. Somente pode-se falar em 
terceirização válida quando é repassada atribuição que não se insere na atividade-fim 
do tomador do serviço. Aplicação dos incisos I e III do Enunciado nº 331 do C. TST. 
(TRT. 9ª Região. TRT-PR-24555-2000-007-09-00-0/RO-06792-2002. Relator: 
LISIANE SANSON PASETTI BORDIN. Publicado em 21-03-2003). 
TERCEIRIZAÇÃO IRREGULAR. Vínculo empregatício com a tomadora. A 
contratação de trabalhadores através de supostos empreiteiros, para a execução de 
serviços ligados à atividade-fim da tomadora de serviços, revela-se com o objetivo de 
fraudar a proteção trabalhista. Forma-se, assim, diretamente com a tomadora dos 
serviços o vínculo empregatício, inclusive por não se enquadrar na exceção a que se 
refere o Enunciado n° 331, III, do TST. (TRT. 20ª Região. RO n° 10614-2003-002-20-
00-4. Aracajú – SE. Relator: AUGUSTO CÉSAR LEITE DE CARVALHO. J. 
14/01/2004; maioria de votos). 
 
45
 Wilson Alves POLONIO. Terceirização – Aspectos Legais, Trabalhistas e Tributários. Ed. Atlas. São Paulo. 
2000. p. 35. 
 25 
Para muitos casos concretos, a clara distinção entre atividade-meio e atividade-fim 
desaparece. Em outros, a terceirização da atividade-fim se faz necessária. 
 
Ilustrativamente, tem-se a hipótese da indústria automobilística, que delega para outras 
empresas serviços inerentes a sua atividade-fim, como o fornecimento de peças usadas na 
composição dos veículos. Ou, então, o caso da indústria têxtil, que contrata com outras empresas 
serviços referentes à colocação de botões nas peças fabricadas, etiquetas, etc. Na área financeira, 
muitas vezes, se confunde a terceirização das atividades-fim e atividades-meio, principalmente 
quando há delegação de serviços no que toca ao processamento de dados referentes às contas 
bancárias e aplicações financeiras. 
 
E, para todas estas situações, a redação atual do inciso III, da Súmula n° 331 do TST, 
torna-se um contra-senso à dinamização da produção, gerando efeitos gravíssimos aos contratantes 
quando aplicada. 
 
Vislumbrando a ocorrência de tais hipóteses, comenta Robortella que, na dinâmica 
empresarial, a atividade-meio, considerando-se o grau de especialização atingido pelos novos 
métodos e tecnologias, nem sempre é de fácil conceituação. Há atividades-fim que, a depender da 
orientação tecnológica, podem converter-se em atividades-meio e vice-versa. Por essa razão, 
entende o autor que a terceirização das atividades-fim não pode ser necessariamente reputada ilegal, 
estando, pois, o Enunciado 331 (que só admite a terceirização na atividade-meio e não na atividade-
fim) em descompasso com a doutrina mais recente a respeito da matéria
46
. 
 
Acompanham o posicionamento do autor citado, Amauri Mascaro Nascimento, Pedro Vidal 
Neto, O Ministro Vantuil Abdalla, Sérgio Pinto Martins, José Janguiê Bezerra Diniz, Reginaldo 
Melhado, entre outros. 
 
“É verdade que não há parâmetros bem definidos do que sejam atividade-fim e 
atividade-meio e muitas vezes estar-se-ia diante de uma zona cinzenta em que se 
aproximam uma da outra. Quando tal ocorrer e a matéria for levada a juízo, ficará ao 
prudente arbítrio do juiz defini-la. E fá-lo-á, naturalmente, levando em conta as razões 
mais elevadas do instituto: a especialização; a concentração de esforços naquilo que 
é a vocação principal da empresa; a busca de maior eficiência na sua finalidade 
original; e não apenas a diminuição de custos”.(Ministro Vantuil Abdalla, do TST. 
Terceirização: atividade-fim e atividade-meio – responsabilidade do tomador de 
serviço, Revista LTr, São Paulo, LTr, 60(5): 588, maio de 1996)
47
. 
 
 
46
 Luiz Carlos Amorim ROBORTELLA. Terceirização. Tendência em doutrina e jurisprudência. Revista Jurídica 
Trabalho & Doutrina. Ed. Saraiva. São Paulo. Junho de 1999. p. 34. 
47
 Ibid. p. 35. 
 26 
“As características básicas da terceirização ou subcontratação de serviços são: a) 
especialização do trabalho; b) a direção da atividade pelo fornecedor; c) a sua 
idoneidade econômica e d) inexistência de fraude. Presentes estes elementos 
estamos com Luiz Carlos Amorim Robortella, que considera perfeitamente lícita a 
terceirização de qualquer parte do sistema produtivo, pouco importando se os 
serviços são realizados no estabelecimento da fornecedora ou da tomadora, ou se se 
trata de atividade-fim, essencial ou atividade-meio (acessória ou de apoio). Admitir-se 
a terceirização apenas na atividade-meio seria o mesmo que inadmiti-la, porquanto, 
na maioria das vezes, se torna impossível fazer essa distinção. (...) Apenas em caso 
de fraude à lei (CLT, arts. 9° e 444), inadimplemento ou inidoneidade financeira do 
fornecedor ou prestador, o tomador responderá subsidiariamente e não 
solidariamente pelas verbas dos empregados fornecidos ...”. (José Janguiê Bezerra 
Diniz. O fenômeno da terceirização. Revista LTr. São Paulo. LTr. 60 (2):209, fevereiro 
1996)
48
. 
 
Algumas decisões dos tribunais, ainda minoritárias, se adequam a esta nova leitura do 
processo de desconcentração produtiva, mediante a análise de caso a caso, de tal modo a retirar-lhe 
as amarras do inciso III, da Súmula n° 331 do TST. Vejamos: 
 
TERCEIRIZAÇÃO. LICITUDE. A empresa pode descentralizar a execução de 
determinadas tarefas utilizando-se, para isso, de convênios e contratos com 
empresas ou organizações prestadoras de serviços, sem que tal hipótese implique 
burla na aplicação da legislação trabalhista ou ilegalidade do que foi pactuado. Ainda 
que se diga que uma atividade é permanente ou essencial, tal não afasta a 
possibilidade de ela vir a ser executada de forma descentralizada, mediante a 
utilização de serviços prestados por terceiros, principalmente quando diz respeito à 
atividade-meio, e não à atividade-fim do contratante. (TRT. 9ª Região. RO 401/92. 1ª 
Turma. AC. 1.885/95. Relator: Armando de Souza Couto. DJ. 10.02.1995). 
 
Em que pese todos os argumentos expostos, para Jorge Luiz Souto Maior, o essencial para 
a validade da terceirização é a especialização da empresa prestadora de serviço, pois uma empresa 
que se constitua com o objetivo único de colocar mão-de-obra a serviço de outra não possui atividade 
empresarial alguma e, por isso mesmo, não pode ser considerada empregadora, formando-se, 
obrigatoriamente, o vínculo com a empresa tomadora dos serviços
49
. 
 
Nesse sentido, manifestamos concordância com o autor. O requisito da especialidade dos 
serviços prestados é fundamental para a distinção entre a terceirização lícita e ilícita, pois, se assim 
 
48
 Ibid. 
49
 Otávio Pinto e SILVA. Subordinação, autonomia e parassubordinação nas relações de trabalho. Ed. LTr. São 
Paulo. 2004. p. 69. 
 27 
não fosse, desnecessária seria a previsão contida na Súmula 331 do TST – “serviços especializados 
ligados à atividade-meio do tomador”. 
 
Serviços especializados são aqueles serviços que exigem certa habilidade ou conhecimento 
específico para a sua realização, que compete a profissionais especialmente treinados e experientes 
ou com formação acadêmica para tal. Por outro lado, os serviços sem especialização são aqueles 
que não necessitam de treinamento específico, embora possa exigir orientação para sua realização
50
. 
 
Atualmente, a verificação desse requisito torna-se muito mais apropriada e urgente para a 
caracterização da terceirização lícita ou ilícita do que propriamente a constatação da existência de 
terceirização na atividade-fim do tomador de serviços. Essa última hipótese, em virtude da dinâmica 
empresarial, vem se solidificando dia-a-dia e, na maioria das vezes, sem o intuito de fraudar os 
direitos dos trabalhadores, mas tão-somente dinamizar a produção para a competitividade. 
 
Portanto, uma coisa é certa. A tendência não é mais erigir-se a terceirização na atividade-
meio como critério absoluto de legalidade ou validade. Inexistente a intenção de fraudar direitos do 
trabalhador, a subcontratação na atividade-fim vai sendo lentamente admitida, reconhecida que é 
como instrumento do progresso econômico e geração de emprego
51
. 
 
 
4. A Terceirização e a Administração Pública 
 
O Poder Público está desacreditado pela sociedade. O sistema não funciona. Muitos já 
afirmam que o Estado está falido. Princípios como o da eficiência e moralidade, consagrados pelo 
texto constitucional (artigo 37, caput
52
) não são observados pelos administradores em geral. A 
burocracia e incompetência estatal se digladiam com a era da informação e informatização. 
 
Na tentativa de resgatar os preceitos fundamentais e na busca de seu enquadramento a 
modernidade, o Estado aderiu à prática do processo de desconcentração produtiva, para dividir com 
o particular a realização de determinadas obrigações públicas. 
 
Assim, com o intuito de reduzir o volume na sua estrutura estatal, inviável para o pleno 
desenvolvimento dos fundamentos e objetivos consagrados pela República Federativa do Brasil, a 
Administração Pública acabou por adotar o mecanismo utilizado pela empresa privada frente a 
globalização, qual seja: a terceirização. 
 
50
 Wilson Alves POLONIO. Terceirização – Aspectos Legais, Trabalhistas e Tributários. Ed. Atlas. São Paulo. 
2000. p. 34. 
51
 Luiz Carlos Amorim ROBORTELLA. Terceirização. Tendência em doutrina e jurisprudência. Revista Jurídica 
Trabalho & Doutrina. Ed. Saraiva. São Paulo. Junho de 1999. p. 37. 
52
 “A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal 
e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e 
eficiência...”. 
 28 
A terceirização, portanto, tornou-se um dos meios de modernização da estrutura estatal, na 
medida em que a Administração Pública busca a colaboração do setor privado para a realização de 
determinados serviços públicos relacionados as atividades-meio do Estado, permitindo ao órgão 
público se concentrar no desenvolvimento de suas atividades principais. 
 
Entretanto, diferentemente das situações de terceirização ilícita que ocorrem no setor 
privado, a terceirização no serviço público, quando irregular, não gera reconhecimento de vínculo 
empregatício com os entes da Administração Pública, em consonância com o que dispõe o inciso II, 
da Súmula n° 331 do TST ( “A contratação irregular de trabalhadores, mediante empresa interposta, 
não gera vínculo de emprego com os órgãos da administração direta, indireta ou fundacional”). Isto 
porque o Setor Público é regido pelo princípio da supremacia do interesse público e bem-estar 
coletivo sobre o particular. 
 
Tanto é assim, que o artigo 37, inciso II, da Constituição Federal, determina que: 
 
“II – a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovação prévia em 
concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com a natureza e a 
complexidade do cargo ou emprego, na forma da lei, ressalvadas as nomeações para 
cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação ou exoneração;”Como pondera Delgado, o que pretendeu a Constituição foi estabelecer, em tais situações, 
uma garantia em favor de toda a sociedade, em face da tradição fortemente patrimonialista das 
práticas administrativas públicas imperantes no país. Tal garantia estaria fundada na suposição de 
que a administração e patrimônios públicos sintetizam valores e interesses de toda a coletividade, 
sobrepondo-se, assim, aos interesses de pessoas ou categorias particulares
53
. 
 
Com relação ao posicionamento sedimentado pelo inciso II, da Súmula 331 do TST, Délio 
Maranhão afirma que este entendimento se mostra censurável em relação às sociedades de 
economia mista e empresas públicas, que não possuem “cargo ou emprego público” (artigo 37, II, da 
CF), que são criados por lei (art. 61, § 1°, II, a). Por não estarem submetidos ao Regime Jurídico 
único, aplicável aos servidores da Administração direta, autárquica e fundacional (lei 8.112), os 
empregados destas sociedades, exploradoras de atividade econômica, sujeitam-se ao regime jurídico 
próprio das empresas privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações (...) trabalhistas, por 
expresso comando constitucional (art. 173, § 1°, II). Logo, seus cargos ou encargos não são 
“públicos”. São privados, por extensão constitucional do direito de regência, o Direito do Trabalho
54
. 
 
Cumpre mencionar, a título de argumentação, que não obstante a regra acima (art. 37, II, da 
CF), o legislador constitucional trouxe uma exceção à contratação mediante concursos públicos, ao 
 
53
 Maurício Godinho DELGADO. Curso de Direito do Trabalho. Ed. LTr. São Paulo. 2004. p. 446. 
54
 Délio MARANHÃO. Instituições de Direito do Trabalho. ED. LTr. São Paulo. 2004.. Vol. I. p. 280. 
 29 
permitir em seu artigo 37, inciso IX, da Constituição Federal, a contratação por prazo determinado 
para o atendimento de necessidades temporárias de excepcional interesse público: 
 
“IX – a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo determinado para atender 
a necessidade temporária de excepcional interesse público.” 
 
A Lei que regulamenta a contratação por tempo determinado de servidores pela 
Administração Federal é a Lei 8.745/93, alterada pela Lei 9.849/99. Entretanto, entendemos não se 
tratar das hipóteses de terceirização, uma vez que se perfaz uma contratação direta entre o Estado e 
o trabalhador temporário, não havendo a intermediação da empresa de trabalho temporário. 
 
As normas jurídicas que fundamentam o processo de terceirização no serviço público 
brasileiro são: 
 
O artigo 10, § 7°, do Decreto-lei 200/67: 
 
“A execução das atividades da Administração Federal deverá ser amplamente 
descentralizada. 
§ 7°: Para melhor desincumbir-se das tarefas de planejamento, coordenação, 
supervisão e controle com objetivo de impedir o crescimento desmesurado da 
máquina administrativa, a Administração procurará desobrigar-se da realização 
material de tarefas executivas, recorrendo, sempre que possível, a execução indireta, 
mediante contrato, desde que exista, na área, iniciativa privada suficientemente 
desenvolvida e capacitada a desempenhar os encargos de execução.” 
 
Conforme se verifica pela leitura do dispositivo legal supracitado, o legislador permitiu ao 
Estado contratar serviços de empresas privadas especializadas em determinadas atividades. 
Entretanto, não mencionou quais as atividades que poderiam ser objeto de terceirização, função esta 
que ficou a cargo do artigo 3°, da Lei 5.645/70. 
 
“As atividades relacionadas com transporte, conservação, custódia, operação de 
elevadores, limpeza e outras assemelhadas serão, de preferência, objeto de 
execução indireta, mediante contrato, de acordo com o art. 10, § 7°, do Decreto-lei 
200/67.” 
 
A permissão para a contratação de empresas terceirizadas no âmbito do setor público 
sempre esteve limitada à execução de atividades-meio, atividades de apoio ou meramente 
instrumentais. 
 
 30 
A Lei que trata das licitações e contratos administrativos (Lei 8.666/93), em seu artigo 6° 
traz um rol exemplificativo de serviços que podem ser contratados pela Administração Pública, tais 
como: serviços de “demolição, conserto, instalação, montagem, operação, conservação, reparação, 
adaptação, manutenção, transporte, locação de bens, publicidade, seguro ou trabalhos técnicos-
profissionais”. 
 
Outra norma que diz respeito a terceirização no serviço público é a Lei 8.036/90 (Lei do 
FGTS), em seu artigo 15, § 1°: 
 
“Para os fins previstos nesta lei, todos os empregadores ficam obrigados a depositar, 
até o dia 7 (sete) de cada mês, em conta bancária vinculada, a importância 
correspondente a 8% (oito por cento) da remuneração paga ou devida, no mês 
anterior, a cada trabalhador, incluídas na remuneração as parcelas de que tratam os 
arts. 457 e 458 da CLT e a gratificação de Natal a que se refere a Lei 4.090, de 13 de 
julho de 1962, com as modificações da Lei 4.749, de 12 de agosto de 1965. 
§ 1°: entende-se por empregador a pessoa física ou a pessoa jurídica de direito 
privado ou de direito público, da administração pública direta, indireta ou fundacional 
de qualquer dos Poderes, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos 
Municípios, que admitir trabalhadores a seu serviço, bem assim aquele que, regido 
por legislação especial, encontrar-se nessa condição ou figurar como fornecedor ou 
tomador de mão-de-obra, independente da responsabilidade solidária e/ou subsidiária 
a que eventualmente venha obrigar-se.” 
 
O artigo 1° do Decreto 2.271/97, que regula a contratação de serviços pela Administração 
Pública Federal direta, autárquica e fundacional estabelece que podem ser executados indiretamente 
os serviços de conservação, limpeza, segurança, vigilância, transportes, informática, copeiragem, 
recepção, reprografia, telecomunicações, manutenção de prédios, equipamentos e instalações. Já o § 
2° da mesma norma prevê que não poderão ser objeto de execução indireta atividades inerentes às 
categorias funcionais abrangidas pelo plano de cargos do órgão ou entidade, salvo expressa 
disposição legal em contrário ou quando se tratar de cargo extinto, total ou parcialmente, no âmbito 
do quadro geral de pessoal. Mas há situações excepcionais a esta regra. É o caso da necessidade 
transitória de serviço ligado à atividade-fim. Exemplo: a contratação de um jurista consagrado para a 
elaboração de parecer técnico
55
. 
 
Por fim, cumpre citar a Lei de Responsabilidade Fiscal (Lei Complementar 101/00) que em 
seu artigo 18, § 1°, admite a terceirização no serviço público, nos seguintes termos: 
 
 
55
 Carolina Pereira MARCANTE. A responsabilidade subsidiária do Estado pelos encargos trabalhistas 
decorrentes da contratação de serviços terceirizados. Disponível em: www.jus.com.br. Acesso em: 15 de março 
de 2005. 
 31 
“Para os efeitos desta Lei Complementar, entende-se como despesa total com 
pessoal: o somatório dos gastos do ente da Federação com os ativos, os inativos e 
os pensionistas, relativos a mandatos eletivos, cargos, funções ou empregos, 
civis, militares e de membros de Poder, com quaisquer espécies remuneratórias, 
tais como vencimentos e vantagens, fixas e variáveis, subsídios, proventos da 
aposentadoria, reformas e pensões, inclusive adicionais, gratificações, horas 
extras e vantagens pessoais de qualquer natureza, bem como encargos sociais e 
contribuições recolhidas pelo ente às entidades de previdência. 
§ 1o Os valores dos contratos de terceirização de mão-de-obra que se referem à 
substituição de servidores e empregados públicos serão contabilizados

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