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ANOTAÇÕES DE FILOSOFIA GERAL E JURÍDICA

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1  
  
ANOTAÇÕES DE FILOSOFIA GERAL E JURÍDICA 
PROFESSOR CARLOS HENRIQUE PEREIRA DE MEDEIROS 
 
I – QUESTÕES INTRUDOTÓRIAS AO ESTUDO DA FILOSOFIA .............................. 4 
1. Para que a Filosofia? ........................................................................................................... 4 
2. O que vem a ser uma atitude filosófica? ........................................................................... 4 
3. Qual é a reflexão da filosofia? ............................................................................................ 5 
4. O que é filosofia? ................................................................................................................. 6 
5. O pensamento filosófico enquanto pensamento sistemático ........................................... 7 
 
II – A FILOSOFIA COMO EXPRESSÃO CULTURAL DO OCIDENTE ...................... 7 
1. Origem da filosofia .............................................................................................................. 7 
2. O nascimento da filosofia ................................................................................................... 8 
a) Condições históricas ........................................................................................................... 8 
b) Mito e filosofia ..................................................................................................................... 8 
3. Os primeiros filósofos ......................................................................................................... 9 
4. A Escola Jônica da Ásia Menor ......................................................................................... 9 
a) Tales de Mileto .................................................................................................................. 10 
b) Anaxímenes de Mileto ...................................................................................................... 10 
c) Anaximandro de Mileto .................................................................................................... 10 
5. A Escola Itálica .................................................................................................................. 10 
a) Pitágoras de Samos ........................................................................................................... 10 
6. A Escola Pluralista ............................................................................................................ 11 
a) Empédocles de Agrigento ................................................................................................. 11 
b) Anaxágoras de Clazômena ............................................................................................... 11 
c) Leucipo de Abdera ............................................................................................................ 11 
d) Demócrito de Abdera ....................................................................................................... 12 
 
III – A FILOSOFIA ENTRE PARMÊNIDES E HERÁCLITO ...................................... 13 
1. A Escola Eleata .................................................................................................................. 13 
2. Parmênides de Eléia .......................................................................................................... 13 
a) Lógica ................................................................................................................................. 14 
b) Ontologia ........................................................................................................................... 14 
3. Zenão de Eléia ................................................................................................................... 15 
a) Aquiles e a tartaruga ........................................................................................................ 15 
b) A flecha lançada ................................................................................................................ 15 
4. Heráclito de Éfeso ............................................................................................................. 16 
a) O mundo como um devir eterno ...................................................................................... 16 
b) A luta dos contrários ........................................................................................................ 16 
c) A unidade e a multiplicidade ........................................................................................... 17 
d) O fogo primordial como phýsis ....................................................................................... 17 
e) O conhecimento verdadeiro ............................................................................................. 17 
 
IV – SÓCRATES E OS SOFISTAS .................................................................................... 17 
1. Os Sofistas .......................................................................................................................... 17 
a) Introdução ......................................................................................................................... 17 
b) O direito na filosofia dos sofistas ..................................................................................... 18 
2. A filosofia de Sócrates ....................................................................................................... 18 
a) Introdução ......................................................................................................................... 18 
b) Direito em Sócrates ........................................................................................................... 19 
 
2  
  
V – FILOSOFIA E DIREITO EM PLATÃO ..................................................................... 20 
1. Platão: vida e obra ............................................................................................................ 20 
2. A Política: O Estado ideal e o governante-filósofo ......................................................... 20 
3. Justiça geral e Justiça parcial: a cidade justa ................................................................ 21 
4. As formas de governo em Platão ..................................................................................... 22 
5. Considerações finais .......................................................................................................... 23 
 
VI – ÉTICA, POLÍTICA, DIREITO: ARISTÓTELES ................................................... 23 
1. Vida e obra de Aristóteles ............................................................................................... 24 
2. O homem na Política ......................................................................................................... 24 
3. A Teoria das Formas de Governo: a Política .................................................................. 25 
4. Justiça na Ética a Nicômaco ............................................................................................. 25 
5. Considerações finais .......................................................................................................... 28 
 
VII - ESTOICISMO, EPICURISMO E ROMA ................................................................ 29 
OS EPICURISTAS ............................................................................................................... 29 
Doutrina Geral ...................................................................................................................... 29 
A Ética epicurista .................................................................................................................. 29 
Estado e Direito ..................................................................................................................... 29 
2. OS ESTÓICOS.................................................................................................................. 30 
Doutrina geral ....................................................................................................................... 30 
Ética estóica ........................................................................................................................... 30 
Direito e Estado ..................................................................................................................... 30 
3. FILOSOFIA DO DIREITO EM ROMA ........................................................................ 31 
Direito Natural de Cícero ..................................................................................................... 31 
Direito em Marco Aurélio, Sêneca e Epíteto ...................................................................... 31 
 
VIII - FILOSOFIA E DIREITO NO MEDIEVO ............................................................. 32 
1. O CRISTIANISMO .......................................................................................................... 32 
Fatores que permitiram o cristianismo ............................................................................... 32 
Conseqüências do cristianismo ............................................................................................ 32 
Justiça e Direito Natural ....................................................................................................... 33 
Períodos do cristianismo ....................................................................................................... 33 
2. SÃO PAULO ..................................................................................................................... 33 
3. SANTO AGOSTINHO ..................................................................................................... 34 
Biografia ................................................................................................................................. 34 
A Ética e a Política ................................................................................................................ 34 
O Estado e o Direito .............................................................................................................. 34 
Fundamentação do Poder ..................................................................................................... 35 
4. SÃO TOMÁS DE AQUINO ............................................................................................. 36 
Biografia ................................................................................................................................. 36 
Filosofia de Tomás ................................................................................................................ 36 
As leis (eterna, natural, humana e divina) .......................................................................... 36 
a) lei eterna ............................................................................................................................ 37 
b) lei natural .......................................................................................................................... 37 
c) lei humana .......................................................................................................................... 37 
d) lei divina ............................................................................................................................ 38 
Teoria do Direito ................................................................................................................... 38 
Teoria da Justiça ................................................................................................................... 39 
 
 
3  
  
IX – DIREITO E FILOSOFIA NA IDADE MODERNA ................................................. 40 
1. QUESTÕES INTRODUTÓRIAS .................................................................................... 40 
A) A reforma protestante ..................................................................................................... 40 
B) A contra-reforma católica ............................................................................................... 41 
C) O Renascimento ............................................................................................................... 42 
2. PENSAMENTO FILOSÓFICO E JURÍDICO MODERNO ........................................ 42 
A) Maquiavel ......................................................................................................................... 42 
B) Bodin ................................................................................................................................. 44 
C) Grócio ................................................................................................................................ 45 
3. Hobbes e o Leviatã ............................................................................................................ 46 
O pacto social em Hobbes ..................................................................................................... 47 
O direito natural em Hobbes ................................................................................................ 47 
 
X - PENSAMENTO POLÍTICO E JURÍDICO NA MODERNIDADE CLÁSSICA ..... 48 
1. Locke e a Sociedade Civil ................................................................................................. 48 
O contrato social em Locke .................................................................................................. 48 
A propriedade privada em Locke ........................................................................................ 49 
O direito natural em Locke .................................................................................................. 50 
O governo injusto (o direito de resistência) ........................................................................ 50 
2. Rousseau e a Vontade Geral ............................................................................................ 51 
Contrato Social de Rousseau ................................................................................................ 52 
A vontade geral ...................................................................................................................... 52 
Requisitos da Lei e Soberania .............................................................................................. 53 
Direito Positivo e Direito Natural ........................................................................................ 53 
3. O pensamento político-jurídico de Kant ......................................................................... 54 
A filosofia crítica (a razão pura) .......................................................................................... 54 
A filosofia prática .................................................................................................................. 55 
A filosofia do Direito ............................................................................................................. 56 
A liberdade ............................................................................................................................. 57 
Direito e Moral ...................................................................................................................... 57 
Para a Paz Perpétua .............................................................................................................. 58 
 
XI – FILOSOFIA E DIREITO NA CONTEMPORANEIRDADE: HEGEL ................. 59 
1. Pensamento político e jurídico de Hegel: introdução .................................................... 59 
2. A Filosofia Jurídica de Hegel ........................................................................................... 60a) a identidade entre o real e o racional .............................................................................. 60 
b) a Dialética de Hegel .......................................................................................................... 61 
3. A Filosofia do Direito de Hegel ........................................................................................ 63 
4. A Teoria Política de Hegel ................................................................................................ 64 
a) a sociedade civil ................................................................................................................. 64 
b) o Estado Político ............................................................................................................... 65 
propriedade e liberdade ........................................................................................................ 65 
liberdade concreta ................................................................................................................. 66 
 
XI – TEXTOS PARA REFLEXÃO ..................................................................................... 67 
 
XII – QUESTÕES PARA ESTUDO .................................................................................... 82 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................ 87 
 
 
 
4  
  
I – QUESTÕES INTRUDOTÓRIAS AO ESTUDO DA FILOSOFIA 
 
1. Para que a Filosofia? 
Como, a princípio, não se pode “ver”, “palpar”, “inalar”, “degustar”, “ouvir”, enfim “sentir” os 
resultados da filosofia, uma suposta finalidade prática da filosofia, costuma-se dizer que a 
filosofia “não serve para nada”. Será esta uma afirmativa verdadeira? 
Comumente, somente se atribui valor a algo se este algo apresentar uma finalidade prática 
perceptível. Logo, como os resultados da ciência podem ser sensorialmente perceptíveis, 
diferentemente do que ocorre com a Filosofia, à Ciência atribui-se estatuto de legitimidade. O 
mesmo se pode dizer das artes, que podem ser compradas, apreciadas, servirem de adorno para 
empresas, etc. O mesmo não parece dar-se com a Filosofia; daí porque comumente se afirmar 
que a Filosofia de nada serve. 
Mas se as ciências pretendem conhecimentos verdadeiros, que somente podem ser adquiridos 
mediante procedimentos criteriosos, que buscam a racionalidade dos conhecimentos. Logo, se 
as Ciências pretendem conhecimentos que são válidos não só pela explicação fática, mas 
principalmente porque permitem, pela racionalidade da explicação, sua correção e seu 
aperfeiçoamento, para, enfim, alcançar um progresso evolutivo. 
No entanto, “verdade, pensamento racional, procedimentos especiais para conhecer fatos, 
aplicação prática de conhecimentos teóricos, correção e acúmulo de saberes: esses objetivos e 
propósitos das ciências não são científicos, são filosóficos e dependem de questões filosóficas. 
Os cientistas partem delas como questões já respondidas, mas é a Filosofia quem as formula e 
busca resposta para elas.” (CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 13ª Edição. Editora Ática, 
2004, p. 19). Sendo assim, o trabalho científico deve pressupor como condição o trabalho 
filosófico. 
Somente por esta razão, portanto, já se afirmar que a premissa de que partimos inicialmente não 
se mantém diante de um questionamento inicial. Mas isto é algo que não pode facilmente ser 
alcançado pelo senso comum. E para não se manter na ignorância, manter-se nos limites do 
senso comum, faz-se necessária a adoção de uma atitude filosófica diante das questões que se 
apresentam. Mas, o que vem a ser a atitude filosófica? 
 
2. O que vem a ser uma atitude filosófica? 
A adoção de uma atitude filosófica pressupõe que o sujeito assuma, antes, uma atitude crítica. 
Mas o que vem a ser uma atitude crítica? Pois bem, a atitude crítica pressupõe as duas faces, a 
negativa e a positiva, da atitude filosófica: a face negativa consiste em rejeitar os pré-conceitos 
e os juízos pré-estabelecidos; a face positiva, por sua vez, conduz a uma interrogação sobre as 
coisas, as idéias, os acontecimentos, os comportamentos, os valores, etc., questionando-os sobre 
o que são, como são e por que são. Em síntese, a atitude crítica é integrada por uma atitude 
filosófica que se apresenta em duas faces: 
5  
  
Atitude Negativa: rejeição dos valores pré-concebidos; e, 
Atitude Positiva: indagar a algo: a) o que é? b) como é? c) por que é? 
Mas o que significa a palavra crítica? Três sentidos podem ser apresentados: 1) como a 
capacidade de julgar, discernir e decidir corretamente acerca de algo. 2) ou como um exame 
racional de algo; um exame que pressupõe a face negativa da atitude filosófica. 3) ou como uma 
atividade de examinar e avaliar detalhadamente uma idéia, um valor, um costume, um 
comportamento, uma obra artística ou científica. Quando conforma estes três sentidos, a atitude 
filosófica ganha o status de atitude filosófica crítica. 
A atitude filosófica crítica inicia-se quando o homem, negando as crenças e aos juízos pré-
estabelecidos, dirige indagações ao mundo que o rodeia, na busca por conhecer. Por isso 
mesmo, a atitude filosófica deve conduzir ao próprio pensamento e ao próprio pensar. Então, 
não há como não questionar: o que é pensar? Por que há o pensar? Como é pensar? Este é o 
momento em que a Filosofia passa a interrogar a si mesma, uma volta que o pensamento faz 
sobre si mesmo; daí porque a Filosofia se deve realizar como uma reflexão crítica. Mas em que 
sentido isto se dá? 
 
3. Qual é a reflexão da filosofia? 
A esta pretensão de uma volta sobre si mesma, dá-se o nome de reflexão filosófica. Nesta 
reflexão, o pensamento examina o que por ele é pensado e se volta a si mesmo como fonte do 
que é pensado. É o movimento pelo qual o pensamento interroga-se a si mesmo, pensa-se a si 
mesmo, para conhecer-se a si mesmo. Este movimento reflexivo busca a raiz mais profunda do 
pensamento. Por isso, costuma-se dizer que a reflexão filosófica é radical. 
Mas a reflexão filosófica não se restringe ao pensamento em si mesmo, em voltar-se apenas ao 
pensamento enquanto objeto, pois, o ser humano não apenas pensa, mas vive e interage no 
mundo. Logo, a reflexão filosófica deve voltar-se também para a compreensão do homem no 
mundo, olhar para as relações que existem neste viver no mundo. Por isso, a reflexão filosófica 
deve organizar-se em três grandes conjuntos de questões: 
1) “Por que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos” Isto é, quais os motivos, as 
razões e as causas para pensarmos o que pensamos, dizer o que dizemos, fazer o que fazemos? 
2) “O que queremos pensar quando pensamos, o que queremos dizer quando falamos, o que 
queremos fazer quando agimos? Ou seja, qual o conteúdo ou o sentido do que pensamos, 
dizemos ou fazemos? 
3) Para que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos, fazemos o que fazemos? Isto 
é, qual a intenção ou a finalidade do que pensamos, dizemos e fazemos? 
Estas são perguntas que se direcionam a noção mesma de conhecimento de si, na medida em 
que se dirigem ao pensamento, à linguagem e a ação; E um saber que vai mais além da realidade 
exterior do pensamento (objeto da atitude filosófica), pois se volta para o próprio pensamento 
6  
  
e o indaga sobre a capacidade e a finalidade para conhecer, falar e agir, própria dos seres 
humanos. 
 
4. O que é filosofia? 
O que podemos saber? O que podemos fazer? O que podemos esperar? Estas três perguntas 
formuladas por Kant, filósofo alemão do século XVIII (1724-1804), nos conduzem ao 
questionamento “o que é filosofia”. 
Neste contexto podemos chegar a dizer que a filosofia não é uma ciência propriamente dita, 
pois se apresenta como uma reflexão sobre os fundamentos da ciência; também não deve ser 
compreendida como religião,mas uma reflexão sobre seus fundamentos; não é arte, mas uma 
reflexão sobre os fundamentos da arte; Não é sociologia ou psicologia, mas interpretação e 
avaliação crítica sobre os métodos de ambas. Não é política, mas interpretação, compreensão e 
reflexão sobre sua origem; Também não é história, mas a reflexão sobre o sentido dos 
acontecimentos enquanto inseridos no tempo e compreensão do que é o próprio tempo. 
Ora, posso discorrer acerca do que não é filosofia, mas ainda me falta responder o que pode ser 
filosofia. Pois bem, podemos conceber como uma boa definição aquela que vê a filosofia como 
uma fundamentação teórica e crítica dos conhecimentos e das práticas. 
Explicitada de modo bem geral, pode-se assentir a esta definição porque cabe à filosofia ocupar-
se de encontrar uma base sólida – o fundamento – para todas as teorias – atividade intelectual 
do conhecimento – que criticamente – a capacidade de julgar e discernir e decidir corretamente, 
sem pré-conceitos ou pré-julgamentos – desenvolve. 
Neste sentido, portanto, pode-se afirmar que a filosofia ocupa-se com princípios, causas e 
condições de um conhecimento que pretenda ser racional e verdadeiro. È por isso que a filosofia 
deve voltar-se para o estudo das várias formas de conhecimento (percepção, imaginação, 
memória, linguagem, inteligência, experiência, reflexão) e dos vários tipos de atividades 
interiores, bem como dos comportamentos externos dos seres humanos, enquanto expressão de 
vontade, desejo, paixões. 
Se a atividade filosófica é uma análise, uma reflexão e uma crítica, esta atividade deve 
investigar e interpretar os significados de idéias gerais, como a realidade, o mundo, a natureza, 
a cultura, a história, a verdade, a falsidade, a humanidade, a temporalidade, a espacialidade, a 
quantidade, a qualidade, a subjetividade, a objetividade, a diferença, a repetição, a semelhança, 
o conflito, a contradição, a mudança, a necessidade, a possibilidade, a probabilidade, etc. 
Três atividades – a análise, a reflexão e a crítica – que devem orientar-se pela elaboração 
filosófica de idéias gerais sobre a realidade e sobre os seres humanos; que para se realizarem, 
faz-se necessário que a filosofia seja definida como a busca do fundamento (princípios, causas 
e condições) e do sentido (significação e finalidade) da realidade em suas múltiplas formas, 
indagando-as como são, o que são e por que são, para que se encontrem as causas que as fazem 
existir, permanecer, mudar, desaparecer. 
7  
  
5. O pensamento filosófico enquanto pensamento sistemático. 
As indagações fundamentais da atitude filosófica e da reflexão filosófica devem se realizar de 
modo sistemático. Isto significa que as indagações filosóficas se pautam em enunciados 
precisos e rigorosos, que buscam encadeamentos lógicos entre estes enunciados, que operam 
com conceitos ou idéias obtidas por procedimentos de demonstração de prova e que exigem 
fundamentação racional do que é enunciado e pensamento. 
Por isso se pode afirmar que o conhecimento filosófico é um trabalho intelectual; sistemático 
porque exige que a as respostas e as questões colocadas sobre exame sejam válidas e 
verdadeiras, estejam relacionadas entre si e que esclareçam umas às outras, para formar um 
conjunto coerente de idéias e significações e sejam demonstradas e provadas racionalmente. 
 
 
II – A FILOSOFIA COMO EXPRESSÃO CULTURAL DO OCIDENTE 
 
1. Origem da filosofia 
Antes mesmo da filosofia, já que a palavra philosophia, como tradicionalmente é aceito, verá 
seu surgimento apenas no século V a.C, já se pode ver na Grécia antiga um princípio de 
racionalização do modo de pensar 
Os gregos são os responsáveis pela filosofia. A palavra é atribuída a Pitágoras de Samos, quem 
nega o nome de filósofo (sophós, sábio) e atribui à palavra o sentido de aquele que possui amor 
pelo saber, amizade pelo saber. 
Para os historiadores da filosofia, esta tem data de nascimento: nasceu entre o final do século 
VII a.C e o início do século VI a.C., nas Colônias gregas da Ásia Menor, particularmente na 
Jônia. O primeiro filósofo seria, então, Tales de Mileto. Ao nascer, a filosofia possui um 
conteúdo preciso: a cosmologia (de kosmos, universo). Apresenta-se, pois, a filosofia 
inicialmente como uma tentativa de explicação racional da origem do mundo. 
Tradicionalmente se atribui o nascimento da filosofia na Grécia arcaica (divide-se a sociedade 
grega: 
 a) Período homérico: entre 1200 e 800 aC, as histórias narradas por Homero na Ilíada e na 
Odisséia, quando os aqueus, os jônios e os dórios conquistaram e dominaram Micenas, Tróia e 
Creta, e trouxeram para as costas do Egeu o regime patriarcal e pastoril; 
b) Período arcaico: época dos Sábios (entre o final do século VIII e V a.C), período em que 
os agrupamentos constroem cidadelas ou fortalezas para sua defesa e, à sua volta, começam a 
surgir cidades como sedes de governos das comunidades (Atenas, Tebas, Megara, no 
continente; Esparta e Corinto no Peloponeso; Mileto e Éfeso na Ásia Menor; etc.); 
8  
  
c) Período clássico: Época de Sócrates e Platão (séculos V e IV a.C), quando com as reformas 
de Clístenes e, mais tarde, de Péricles, Atenas se põe a frente de toda a Grécia: nasce a 
democracia e surge o império marítimo ateniense. O porto de Atenas, o Pireu, torna-se o centro 
para onde todas as coisas se direcionam: idéias do mundo todo: o apogeu da vida urbana; e, 
d) Período helenístico: quando a Grécia passa para o domínio da Macedônia, com Filipe e 
Alexandre, e depois para o domínio de Roma. Surge uma integração de mercado mundial. 
Segundo esta periodização, portanto, a filosofia nasce na Grécia arcaica, tem seu apogeu 
no período clássico e se expande além das fronteiras gregas no período helenístico. 
 
2. O nascimento da filosofia 
a) Condições históricas 
Portador de um bom desenvolvimento histórico, o povo grego dispõe de comércio e navegação 
espalhados por todo o mundo mediterrâneo. As colônias gregas já haviam se estabelecido por 
toda a costa do mar mediterrâneo. E os colonos gregos, estabelecidos desde o estreito de 
Gibraltar, ao poente, até o Mar Negro, ao nascente. Existiam cidades gregas no litoral da 
Espanha, França Meridional, África Setentrional e, sobretudo, no sul da Itália e da Sicília, assim 
como no litoral ocidental da Ásia Menor. Todas ligadas à metrópole grega pela cadeia de ilhas 
do Mar Egeu. 
A prosperidade da navegação e o comércio trouxeram a estas cidades costeiras um ambiente 
propício para a formação geral. Além disso, as condições geográficas e sociais favoreceram os 
gregos, que desde há muito mantinham algum contato com as antigas culturas do Oriente e 
estavam livres de dominações externas, na elaboração original de um pensamento novo e 
completamente original. 
Deve-se ainda acrescentar a disposição do povo grego a uma rica dotação espiritual e artística, 
seu senso de realidade a uma abertura para o individual e um sentido de ordem e de medida. 
Tudo isso, tradicionalmente se afirma, conduziu para a criação de condições necessárias ao 
florescimento do pensamento filosófico. 
 
b) Mito e filosofia 
Pelos imortais poemas de Homero conhece-se o período áureo dos gregos; um tempo já 
desaparecido. Sobretudo com Hesíodo – especialmente com sua “Teogonia: a origem dos 
deuses” – pode-se conhecer a religião dos gregos. Mas já aqui se pode encontrar uma noção de 
princípio de racionalização, quando da hierarquização do panteão. Nas obras homéricas 
também se pode já notar um princípio de ação dos deuses na vida dos homens. Um mundo de 
deuses com traços humanos, em que os gregos se relacionam com muita naturalidade e 
liberdade. 
9  
  
Os cultos mistéricos (mistérios eleusinos, culto de Dioniso, culto orféico) já apresentavam aqui 
um caráter de doutrinas secretas. Na filosofia, os elementos provenientes destasdoutrinas 
chegaram muitas vezes a ter muita importância, como ocorre com os pitagóricos, com Platão e 
mais tarde com o platonismo. 
Quando o espírito grego começa pouco a pouco a se desvincular da religião tradicional 
[homérica], com críticas ferrenhas ao seu mundo imaginário, dá-se uma tentativa de explicar o 
mundo por meio de um pensamento racional, que parte de causas naturais (physis). Os mitos 
já não se mostram mais suficientes para a explicação dos questionamentos humanos, e são 
substituídos pela razão (Logos). Surgem aí vários pensadores que se desvinculam das 
explicações míticas, de idéias teológicas, para uma tomada de posição nova, que busca explicar 
a natureza (physis) com base na noção de matéria primordial. Surgem, pois, os primeiros 
filósofos: 
 
3. Os primeiros filósofos 
Não se dispõe das obras inteiras destes grandes pensadores. O que há, são poucos fragmentos 
diretos e algumas fontes diretas. Em sua grande maioria, as referências são citações de 
pensadores posteriores – fontes indiretas –, como com freqüência se pode notar em Aristóteles 
ou a obra de Diógenes Laércio (historiador que viveu em Roma por volta de 220 d.C) 
As obras mais antigas não chegaram senão por meio de fontes indiretas. Mas a posteridade e o 
grande trabalho dos exegetas nos possibilitaram de algum modo um conhecimento – ainda que 
fragmentário – possível destas sistematizações. 
 
4. A Escola Jônica da Ásia Menor 
O que há de comum entre os três sábios de Mileto, parece ser uma tentativa de explicar o 
surgimento de todos os seres a partir de uma matéria primordial última, ou de um 
princípio último materialmente entendido. Para todo o restante da filosofia grega, a 
importância reside no fato de terem sido eles os primeiros que aproximaram esta tentativa de 
explicação da origem primeira de todas as coisas a um pensamento científico e livre de 
preconceitos1. Três são os principais pensadores desta escola: Tales de Mileto, Anaximenes de 
Mileto e Anaximandro de Mileto. 
 
a) Tales de Mileto: Tales ficou conhecido como um dos Sete Sábios da Grécia arcaica. Segundo 
Diógenes Laércio, seria o primeiro a ser chamado de sábio. Ganhou fama após prever um 
eclipse solar entre aproximadamente 597 ou 548 a.C. Tales não deixou nada escrito; daí a 
dificuldade de se conhecer seu pensamento. Duas passagens, uma em Aristóteles, outra em 
                                                                                                                          
1 STÖRIG, Hans Joachimn. História Geral da Filosofia, p. 104. 
10  
  
Cícero, podem ajudar a conhecê-lo. Para este, a origem das coisas é a água. Água ou úmido 
é, pois, em Tales, o princípio de todo o universo. 
 
b) Anaxímenes de Mileto:Contemporâneo de Anaximandro (considera-se que tenha morrido 
em 527 a.C), considerou como matéria primordial o ar, não no sentido literal que conhecemos 
hoje, já que tal palavra servia também para designar a alma, como hálito vivificante. Propunha, 
assim como Anaximandro, uma alternância periódica como origem e destruição do mundo. 
 
c) Anaximandro de Mileto: Pouco se sabe sobre Anaximandro. Afirma-se que foi discípulo e 
sucessor de Tales. Foi geógrafo, matemático, astrônomo e político. Suas obras não chegaram 
até nós. A ele se atribui o primeiro mapa-múndi, com descrição de todo o mundo habitado; 
inventou o relógio de sol pelo qual se poderia verificar a obliqüidade do zodíaco; introduziu o 
uso do esquadro, a medição da distância entre as estrelas e o cálculo de magnitudes, sendo por 
isso considerado o iniciador da astronomia grega. Segundo Aristóteles (no tratado Do Céu), 
Anaximandro teria explicado porque a terra permanece em seu lugar, flutuando livremente no 
Universo. 
Para Anaximandro, a phýsis é o apeíron: algo indeterminado e ilimitado. Do indeterminado 
e ilimitado, de acordo com a lei eterna, sempre surgem novos mundos, que a ele retornam 
novamente, “castigando-se e penitenciando-se mutuamente pela injustiça segundo a ordem do 
tempo”2 
 
5. A Escola Itálica 
a) Pitágoras de Samos: Atribui-se a Pitágoras a fama de haver criado a ciência grega. Viveu 
entre 580 e 500 a.C. Atuou como professor e criador de uma ordem religiosa em Cróton, na 
atual Crotona, Sul da Itália. Pitágoras está associado à matemática, sobretudo por seu teorema: 
o quadrado construído sobre o lado maior de um triângulo retângulo é igual à soma dos 
quadrados construídos sobre os dois outros lados. Também a soma dos ângulos de um triângulo 
deve ser igual a dois retos. 
O segredo da teoria de Pitágoras está nos números; é aqui que Pitágoras vê o verdadeiro 
segredo do mundo. Cada número básico de 1 a 10 possui sua força e significado próprios, 
acima de todos, a perfeição e abrangência do número dez. A harmonia do mundo se baseia 
em que nele e tudo está organizado de acordo com as relações numéricas. A harmonia 
musical é reencontrada na construção do universo: como todo corpo que se move procura um 
ruído, que depende do tamanho do corpo e da rapidez do movimento, assim também os corpos 
                                                                                                                          
2 STÖRIG, Hans Joachimn. História Geral da Filosofia, p. 103. 
11  
  
celestes, enquanto percorrem suas trajetórias, provocam uma verdadeira música das esferas que, 
no entanto, não pode ser percebida pelos homens. 
Pitágoras não procura encontrar o mistério do mundo em uma matéria primordial, mas em uma 
lei primordial, em relações numéricas imutáveis entre os componentes do nosso mundo. Com 
a teoria dos números estão ligadas profundas idéias religiosas e místicas – que atribuem 
origem ao oriente –, como a crença na migração das almas. 
 
6. A Escola Pluralista 
a) Empédocles de Agrigento: Nascido por volta de 490 a.C em Akragas, na Sicília. Estadista, 
poeta, professor de religião, profeta, médico, taumaturgo e filósofo. Para a história possui vital 
importância, já que sistematizou as idéias anteriores e procurou organizá-las de um modo novo. 
Denominado um eclético. Empédocles coloca os quatro elementos, o fogo, a terra, a água e o 
ar em pé de igualdade, uma matéria ao lado da outra. 
Forças impulsionadoras e organizadoras do mundo são encontradas em Empédocles como uma 
que une e outra que separa, como amor e ódio (atração e repulsão). No desenvolvimento do 
mundo predomina alternadamente uma e outra força; em dado momento todos os elementos 
são reunidos em uma unidade pelo “amor”, em outro momento eles se separam uns dos 
outros pelo “ódio”. 
Para Empédocles, a origem dos seres vivos ocorreu de tal maneira que primeiro surgiram os 
organismos inferiores e depois os mais elevados, até surgirem os homens. O conhecimento 
baseia-se no princípio de que todo elemento do mundo exterior é reconhecido por um 
elemento da mesma natureza que se encontra em nós. 
 
b) Anaxágoras de Clazômena: Nasceu por volta de 500 a.C, em Clazômenas, na Ásia Menor. 
O primeiro a levar filosofia para Atenas. Em seu tempo, contudo, a filosofia ainda não 
encontrava terreno propicio. Somente com Sócrates Atenas vai alcançar seu apogeu filosófico. 
Aproxima-se dos outros filósofos da natureza. Mas Anaxágoras admite uma quantidade 
ilimitada de matérias-primas qualitativamente diferentes umas das outras, que ele chama 
de “sementes” ou “germes” das coisas. Anaxágoras é quem introduz pela primeira vez um 
princípio abstrato, o nous, um princípio pensante, racional e onipotente. 
 
c) Leucipo de Abdera: Pouco se sabe de Leucipo (que teria vivido entre 470 e 360 a.C), o 
criador do mais importante sistema de filosofia da natureza antiga grega. Proveniente de Mileto 
ou Abdera, na Trácia, situada no litoral do norte do Egeu, onde teria nascido aproximadamente 
na metade do século 5ª a.C. O único fragmento que se conservou de sua doutrina diz: “Coisaalguma surge do acaso, tudo surge com sentido e por necessidade”. Primeira formulação – 
reconhece-se – da lei de causa e efeito é atribuída, por isso, a Leucipo. 
12  
  
 
d) Demócrito de Abdera: Demócrito, proveniente de Abdera, discípulo de Leucipo, gastou sua 
considerável fortuna viajando pelo mundo. Teria conhecido o Egito, a Pérsia e a Índia, de onde 
teria trazido muito conhecimento e experiência. Depois do retorno, levou uma vida tranqüila, 
longe dos debates públicos e das discussões, e se dedicou ao estudo e à reflexão. Sua teoria 
baseia-se: Demócrito, em oposição a Parmênides, decide pela existência de um não-ser, um 
vazio; por isso, o mundo para ele é o que enche o espaço, o ser, e de um não-ser vazio, o 
espaço. Demócrito é materialista e é considerado um filósofo da natureza. 
Os átomos: O cheio que enche o espaço não é uno, consiste de inúmeros crepúsculos que, dada 
sua pequenez, não podem ser percebidos. Estes não têm em si nenhum vazio, mas preenchem 
por completo o seu espaço. Também não são divisíveis, pelo que são chamados “átomos”. 
Qualidades primárias e secundárias: Todas as qualidades das coisas baseiam-se na diferença 
de forma, posição, tamanho e ordem dos átomos de que são compostas. Somente as 
propriedades do peso, densidade (impenetrabilidade) e dureza são atribuídas às coisas em si: 
são as qualidades primárias. 
O movimento dos átomos: Desde a eternidade os inúmeros átomos movem-se no espaço 
segundo a lei do peso. Dos seus choques e ricochetes surgem os movimentos de torvelinho, nos 
quais os átomos se reúnem em concentrações e complexos atômicos. Dessa forma, iguais 
juntam-se a iguais, e surgem as coisas visíveis, assim desde a eternidade surgem e desaparecem 
inúmeros mundos a que nós pertencemos. 
A alma do homem. O homem consiste, em seu corpo e alma, em átomos. Neste sentido, a alma 
é corpórea, embora muito tênue. Após a morte, os átomos se espalham. 
Ética: A felicidade que os homens podem alcançar consiste na serenidade do espírito 
(ataraxia). O caminho, portanto, deve ser a moderação, o desprezo pelos prazeres dos sentidos, 
mas acima de tudo o apreço aos bens espirituais, mas acima de tudo o apreço aos bens 
espirituais. “Eu preferiria descobrir uma única prova (na geometria) a ganhar o trono da Pérsia”. 
A força corporal é boa para os animais de carga, mas a nobreza do homem é força da alma. 
 
 
 
 
 
 
III – A FILOSOFIA ENTRE PARMÊNIDES E HERÁCLITO 
 
1. A Escola Eleata 
2. Parmênides de Eléia: Filho de Piros, nascido em Eléia (Vélia, Itália meridional, ao sul de 
Salerno), no século VI a. C. Participou ativamente da vida política, inclusive, como o primeiro 
13  
  
legislador de sua Cidade. Segundo os daxógrafos, anualmente os magistrados de Eléia faziam 
os cidadãos jurar que guardariam as leis dadas por Parmênides. 
Escreveu suas idéias em Verso. Restaram alguns fragmentos de seu poema, no qual se apresenta 
como o Escolhido, conduzidos pelas filhas do Sol à presença da Musa que, com a permissão da 
Justiça, passa a revelar-lhe a Verdade, toda a Verdade (alétheia). Seu poema está dividido em 
duas partes: a primeira, conhecida como a Via da Verdade; e a segunda, como Via da Opinião 
(dóxa). 
apresentavam-se a enviar-me, as filhas do Sol, para a luz, 
deixando as moradas da Noite, retirando com as mãos os véus. 
É lá que estão as portas aos caminhos de Noite e Dia 
[...] 
Destes, Justiça de muitas penas tem chaves alternantes. 
[...] 
E a Deusa me acolheu benévola, e na sua a minha 
mão direita tomou, e assim dizia e me interpelava: 
Ó jovem, companheiro das aurigas mortais, 
tu que assim conduziu chegas à nossa morada, 
Salve!... 
[...] 
É preciso que de tudo te instruas 
do âmago inabalável da verdade (alétheia) bem redonda 
e das opiniões (dóxai) dos mortais, em que não há fé verdadeira. 
[...] 
eu te direi, e tu, recebe a palavra que ouviste, 
os únicos caminhos de inquérito que são a pensar: 
o primeiro, que é; e, portanto, que não é não ser, 
de Persuasão, é caminho, pois à verdade acompanha. 
O outro, que não é; e, portanto, que é preciso não ser. 
Eu te digo que este último é atalho de todo não crível, 
pois nem conhecerias o que não é, nem o dirias... 
[...] 
Pois o mesmo é a pensar e portanto ser. 
[...] 
Necessário é o dizer e pensar que o ente é; pois é ser. 
E nada não é. Isto eu te mando considerar3 
 
O que está a dizer Parmênides? a) que o “ser” é e o “nada” não é; b) que o ser pode ser pensado 
e dito, e o nada não pode ser pensado nem dito; c) pensar e ser são o mesmo, portanto, o nada 
é não-ser e impensável; d) que dizer e ser são o mesmo e que, portanto, o nada é não-ser e 
indizível. 
A filosofia de Parmênides se apresenta como uma resposta à Filosofia de Heráclito (o fluxo 
perpétuo e a identidade do uno e do múltiplo) e a Filosofia dos Pitagóricos (a dualidade par-
ímpar como origem da ordem do mundo). 
 
                                                                                                                          
3 Tradução de José Cavalcante de Sousa. 
14  
  
a) Lógica: Parmênides é considerado o primeiro a fundamentar os dois princípios lógicos 
fundamentais de todo o pensamento: o princípio de identidade – o ser é o ser – e o princípio 
de não-contradição – o ser é, e seu contrário, o não-ser, não é. Se o ser pode ser pensado e 
dito, o ser deve ser ele mesmo, idêntico a si mesmo e sempre tornará impossível que seu 
negativo, o nada ou não-ser, que não é, também possa ser pensado e dito. A afirmação do ser 
deve exigir a negação do seu oposto, o não-ser. 
 
b) Ontologia: Parmênides seria o pai da ontologia: o estudo do ser ou o pensamento do ser. 
Parmênides se mostra radical ao afirmar que não podemos pensar e dizer o que não existe, mas 
apenas o que existe. Afirma-se aqui uma identidade entre ser, pensar e dizer, ou entre 
mundo, pensamento e linguagem. Esta identidade deve ser entendida como o núcleo da 
ontologia parmenidiana ou a Via da Verdade. 
Prossegue o poema afirmando os ensinamentos sobre o “ser”. Sua premissa deve ser aquela que 
afirma que o ser é e o não-ser não é. Dessa premissa vem a afirmação de que o ser é imóvel, 
uno, eterno, único, indivisível, indestrutível e pleno ou contínuo. 
Que o ser não é engendrado, e também é imperecível: 
com efeito, é um todo, imóvel, sem fim e sem começo. 
Nem outrora foi, nem será, porque é agora tudo de uma só vez, 
uno, contínuo. Que origem buscarás para ele? 
Como e onde teria crescido? Do não ser, não te permito 
Dizê-lo nem pensá-lo: não é possível dizer nem pensar 
O que não é [...] 
E nem sequer do ser concederá a força da crença veraz 
que nasça algo diferente dele mesmo; por esta razão, nem o nascer 
nem o morrer lhe concedeu Diké [...] 
E como poderia existir o ser no futuro? E como poderia nascer? 
Se nasce, não é; e tampouco é, se é para ser no futuro. 
E assim se apaga o nascer e desaparece o perecer. 
[...] 
Nem existe não-ser que lhe impeça alcançar a plenitude 
Nem pode ser ora mais pleno, ora mais vazio porque é todo inteiro inviolável, 
igual a si mesmo em todas as partes 
[...] 
Todas as coisas são meros nomes 
dados pelas crenças dos mortais: 
nascer e perecer, ser e não ser, 
mudar de lugar e mudar de luminosa cor. 
 
Se a experiência sensorial pode fazer parecer que tudo está em movimento, o pensamento puro 
dever permitir que se obtenham as conseqüências racionais da premissa “o ser é, o não-ser não 
é”. O pensamento puro deve, então, argumentar o ser: 
imóvel e imutável, pois se pudesse mover, mudaria e tornar-se-ia aquilo que não é; 
o ser é eterno e indestrutível (não tem origem, não nasce, não parece, não está no futuro), pois 
se tivesse começado haveria algo antes dele; 
15  
  
o ser é uno, pois não pode haver outro ser, já que este seria um não-ser; mas o não-sernão pode 
ser pensado. 
o ser é indivisível e contínuo, porque se pudesse ser dividido em partes, estas partes não 
poderiam ser “ser”, tampouco “não-ser”, porque o ser é uno e o não-ser não pode ser pensado. 
o ser é pleno, pois não pode possuir intervalos em seu interior, pois nada haveria neles, e o 
vazio, por ser não-ser, não pode existir. 
Na segunda parte do poema, dedicado à cosmologia, Parmênides procura demonstrar que o ser 
deve ser limitado, por isso afirma que o ser é a esfera, o volume circular perfeito, sem começo 
e sem fim, indivisível, pleno e contínuo. Nesta segunda parte, Parmênides dedica-se também 
à crítica das cosmologias anteriores, principalmente de Heráclito, para quem o ser é 
unidade e multiplicidade, eternidade e devir, luta dos contrários. 
São os mortais que tomam o não-ser pelo ser, já que a Via da Opinião prende-se à 
aparência e à mutabilidade das coisas; mas pluralidade e multiplicidade, mudança e 
movimento, oposições e contrariedades são irreais, impensáveis e indizíveis. A opinião é a 
via da experiência sensorial; a Via da Verdade, do puro pensamento, separa o intelecto das 
sensações. 
 
3. Zenão de Eléia: Discípulo de Parmênides, nascido aproximadamente em 490 a.C, Zenão de 
Eléia dedicou-se a afastar as objeções à teoria de seu mestre. Com isto, desenvolveu uma arte 
de raciocínio muito sutil e que lhe rendeu o título de pai da dialética. Zenão parte da 
contrariedade para provar que, se admitida a pluralidade do ser e uma realidade de movimento, 
caímos em insolúveis contradições. Para afirmar sua tese, utiliza dois Paradoxos: 
 
a) Em uma corrida entre Aquiles e uma tartaruga, se esta receber uma vantagem, mesmo 
pequena, Aquiles jamais poderá ultrapassar-lhe. Quando Aquiles alcança um 
determinado ponto A em que a tartaruga se encontrava no momento imediatamente 
anterior, esta já terá avançado para o ponto B. Quando Aquiles alcançar o ponto B, a 
tartaruga já estará no ponto C, e assim por diante. A vantagem pode diminuir, mas a 
tartaruga nunca será alcançada. 
 
b) Uma flecha que foi lançada, quando considerada em qualquer momento de seu 
percurso, encontra-se em um determinado local do espaço, onde neste exato momento está 
em repouso. Mas, se em cada momento de seu percurso ela está em repouso, estará em 
repouso como um todo; quer dizer, a flecha lançada não se move. Logo, não existe 
movimento. 
 
16  
  
4. Heráclito de Éfeso 
Filho de Blóson, nascido em Éfeso (por volta de 540 a.C), na Jônia, de família aristocrática, 
teria renunciado em favor de seu irmão ao direito de usar os títulos políticos. Chegaram a nós 
aproximadamente 132 ou 135 fragmentos, nos quais se tornam claras críticas a Homero e 
Hesíodo e aos plebeus supersticiosos, ironia a Pitágoras. Ficou conhecido como o obscuro, 
viveu solitário, como eremita nas montanhas. 
Em suas críticas, argutas, Heráclito poupa o deus Apolo e Sibila: “O Senhor a quem pertence o 
oráculo de Delfos não manifesta nem oculta seu pensamento, mas faz ser visto por sinais”; 
“Com seus lábios delirantes diz coisas sem alegrias, sem ornatos e sem perfumes”. 
Para Heráclito, conhecer é decifrar e interpretar os signos e que a verdade é a alétheia 
(verdade, realidade). A verdade, provém do Logos: “è sábio escutar não a mim, mas ao 
Logos que por mim fala e escutar que tudo é um”. Os sinais da verdade são enviados pelo 
Logos: pelo pensamento e pela palavra, que provém de uma razão e uma linguagem cósmicas 
ou universais. 
 
a) O mundo como um devir eterno. “Nos mesmos rios entramos e não entramos, somos e não 
somos”; “Não podemos entrar duas vezes no mesmo rio: suas águas não são nunca as mesmas 
e nós não somos nunca os mesmos”. O mundo é mudança contínua e incessante de todas as 
coisas e a permanência é ilusão. Tudo muda: o úmido seca, o seco umedece, o quente esfria, 
o frio esquenta, o dia anoitece, a noite amanhece, etc. O movimento deve, portanto, ser a 
realidade verdadeira. 
 
b) A luta dos contrários. “A guerra (pólemos) é o pai e o rei de todas as coisas”; “É necessário 
saber que a guerra é a comunidade; a justiça é a discórdia; e tudo acontece conforme a discórdia 
e a necessidade”. É a guerra que deve colocar as coisas juntas para formar um mundo 
comum, portanto, a luta dos contrários é harmonia e justiça. 
A harmonia do mundo nasce da tensão entre os opostos. “O que se opõe a si mesmo está em 
acordo consigo mesmo; harmonia e tensões contrárias como as do arco e da lira”. Engana-se, 
pois, quem crê que a realidade é tranqüila e inerte: ela é inquieta e móvel, tensa, 
concordante porque discordante, e da guerra nasce a ordem ou o cosmo, equilíbrio 
dinâmico de forças contrárias que coexistem e se sucedem sem cessar. A unidade do 
mundo deve estar na multiplicidade. 
c) A unidade e a multiplicidade. “Tudo é um”. Cada oposto deve exigir seu oposto, já que 
unidade é multiplicidade e a multiplicidade, unidade, já que cada contrário nasce de seu 
contrário e faz nascer o seu contrário: os contrários são inseparáveis: a noite traz dentro de 
si o dia, e o dia traz a noite; o frio o quente, e o quente o frito; a necessidade traz em si o 
acaso, e o acaso, a necessidade; a saúde traz dentro de si a doença e a doença, a saúde. O 
uno é múltiplo e o múltiplo é um. 
17  
  
 
d) O fogo primordial como phýsis. “Este mundo, o mesmo e comum para todos, nenhum dos 
deuses e nenhum homem o fez; mas era, é e será um fogo sempre vivo, ascendendo-se e 
apagando-se conforme a medida”. Phýsis e Logos, o fogo primordial, uma chama eterna, 
acendendo-se a apagando-se sem cessar. O devir, esse acender e apagar contínuo do fogo 
primordial, é o que assegura a permanência. Como medida é moderação dos contrários, a guerra 
dos contrários não é violenta. 
 
e) O conhecimento verdadeiro. O mais sábio dos homens, se comparado ao deus, não passa 
de um símio, mas o mais belo símio é feio se comparado a um homem. A sabedoria verdadeira 
é aquela que pertence à divindade. Os homens comuns não ouvem o Logos. Conhecer é 
decifrar e interpretar a natureza que ama ocultar-se. O conhecimento é um movimento 
espiritual da alma que sabe usar os olhos e os ouvidos quando aprendeu a “pensar a si 
mesma”. O senso comum se parece com o sono e a embriaguez, com a alma “bárbara” que não 
sabe ouvir, falar nem pensar. 
 
IV – SÓCRATES E OS SOFISTAS 
 
1. Os Sofistas 
a) Introdução 
Quando a filosofia grega passa do período cosmológico ao que podemos chamar de período 
antropológico, aproximadamente no século V a.C, encontram seu lugar os chamados Sofistas: 
cidadãos cultos, bons oradores, que ensinavam arte, técnicas políticas e retóricas em troca de 
pagamento. 
Pouco se conhece acerca dos sofistas. Primeiro porque se conhece apenas alguns fragmentos 
dos mais conhecidos: Protágoras de Abdera e Górgias de Leontini. Segundo porque as fontes 
indiretas foram recolhidas de seus inimigos: Tucídides, Aristófanes, Xenofonte, Platão e 
Aristóteles. Estes transmitem relatos desfavoráveis, nos quais os sofistas aparecem como 
impostores, mentirosos e demagogos. 
O termo sofista deriva da palavra grega sophistai,que pode ser compreendida como “mestre da 
sabedoria”. Com os sofistas, a discussão passa para as questões propriamente humanas; por 
isso, são chamados individualistas e subjetivistas. Protágoras, por exemplo, afirmará que o 
homem deve ser a medida de todas as coisas. 
 
b) O Direito na Filosofia dos Sofistas 
18  
  
Justo e injusto são noções modificáveis pelos sofistas. Com efeito, justo e injusto não se fundam 
nas natureza das coisas, mas nas opiniões e nas convenções humanas, já que a moral, Justiça, 
religião e política são valores convencionados pelos homens. 
Como os sofistas enfocam uma distinção entre phýsis e nomos, natureza e lei humana, as 
distinções servem para estabelecer uma oposição, onde a distinção servepara justificar as leis 
vigentes. Esta posição produz no campo gnosiológico a negação da verdade supra-sensível, já 
que a torna algo relativo ao sujeito cognoscente. No campo ético, sede lugar ao relativismo 
subjetivista a opinião pública geral: toma-se um subjetivismo coletivo que não reconhece 
nenhuma verdade objetiva. 
Para os sofistas, o Direito e Justiça teriam apenas um caráter relativo e seriam contingentes de 
expressão convencional. 
Protágoras e Górgias foram os mais conhecidos. Mas outros formularam críticas acerca do 
direito. Com efeito, para Trasímaco, a justiça deveria ser a expressão do direito dos mais fortes. 
Cálicles dizia que as leis eram uma habilidade dos fracos para embaraçarem os direitos dos 
fortes. Licófron considerava o Estado como produto convencional da vontade humana. 
É com os sofistas que a filosofia jurídica propriamente dita tem início. E para a filosofia 
geral, são eles que pela primeira vez desviam o olhar da natureza, para direcioná-lo ao homem. 
Além disso, foram os primeiros a firmar um pensamento objetivo do pensamento. Por fim, 
submeteram os valores éticos a uma reflexão racional. Ocuparam-se, ainda, com o estilo e com 
a eloqüência. 
 
2. A filosofia de Sócrates 
a) Introdução 
Com Sócrates tem início o período ático da filosofia grega. Sócrates atraia ouvintes e com eles 
se reunia em praças públicas. Combatia os sofistas, quem acusava de desconhecimento da 
verdade. Por seu método, Sócrates busca investigar a verdade das coisas em si. 
Sócrates nada escreveu. Mas os relatos de Xenofonte, Platão e Aristóteles nos dão boa conta de 
sua obra. Sócrates ficou conhecido por sua técnica, a maiêutica e a dialética – que 
posteriormente será aprimorada por Platão. 
Possível afirmar que Sócrates, de certo modo, teria identificado justiça com lei, quando afirma 
que “quem obedece às leis do Estado obra justamente, quem as desobedece, injustamente”, e 
“o que é legal é justo”. 
 
b) Direito em Sócrates 
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No diálogo Hípias, Sócrates desdobrará a idéia de leis não escritas de caráter universal e que 
seriam de origem divina. 
Sócrates constrói, segundo Platão, fala sobre a ternura das leis de Atenas. Trabalha uma 
gigantesca teoria política, que pode ser tida como a mais monumental da Antiguidade, 
abrangendo entre família, economia, educação, guerra e paz, poder político, as formas de 
governo e as leis. 
Sócrates foi injustamente condenado à morte. Negou-se a fugir e morreu com a afirmação de 
que os homens bons devem cumprir mesmo leis más, para que os homens maus respeitem 
leis sábias. 
“CONHECE-TE A TI MESMO”; “SEI QUE NADA SEI”. Diferentemente dos sofistas, para 
Sócrates, o conhecimento não pode ser um estado, mas um processo, uma busca, pelo 
verdadeiro conhecimento. Sócrates não se apresenta como professor, como faziam os sofistas: 
Sócrates não pergunta, não responde; indaga, não ensina. 
Sócrates diferencia opinião e verdade, aparência e realidade, percepção sensorial e pensamento. 
A busca de Sócrates passa da multiplicidade de aparências opostas, da multiplicidade de 
opiniões contrárias, da multiplicidade das percepções divergentes para a unidade da idéia (que 
deve ser a definição universal e necessária da coisa procurada). 
Quando considera que nada sabe, Sócrates abre caminho para indagação do conhecimento 
verdadeiro. E a Justiça, consiste em um conhecimento verdadeiro e, por conseguinte, na 
observância das verdadeiras leis que regem as relações entre os homens. 
Sócrates propõe sempre a observância incondicionada às leis da cidade, mas o justo não deve 
ficar reduzido e esgotado nas leis, pois acima da justiça humana deve existir uma justiça natural 
e divina, a justiça em si. 
Sócrates refuta o conhecimento de justiça da época ao afirmar que fazer o mal não pode se 
revelar justo de modo algum. Para ele, existem leis não escritas fundadas na vontade reta da 
divindade e que se refletem na consciência. Nas leis não escritas devem se basear as leis 
positivas. 
Para Sócrates, ao contrário dos Sofistas, o Estado não pode ser um produto da vontade humana, 
porque a lei da vontade humana, expressa no Estado e no direito, está ligada a um princípio 
intelectivo da razão. Os homens não podem viver fora do Estado e não seria possível nenhum 
Estado se os homens não devessem obediência incondicional às suas leis. 
 
V – FILOSOFIA E DIREITO EM PLATÃO 
1. Platão: vida e obra 
Nascido em 427 a.C, Platão, descendente de uma família aristocrática (uma das mais influentes 
de Atenas), cruzou-se com Sócrates quando tinha aproximadamente 20 anos de idade. Este 
20  
  
encontro marca em seu espírito uma mudança drástica: a desistência da vida literária e a 
assunção da vida filosófica. 
Como discípulo, seguiu Sócrates por aproximadamente oito anos. Após a condenação e a 
execução do mestre, Platão dirigiu-se para Megara e, posteriormente, para o Egito, onde, 
provavelmente, tomou contato com doutrina e religião ali praticadas. Há toda uma discussão 
no sentido de que Platão teria avançado ainda mais em suas viagens, e, em direção ao Oriente, 
teria conhecido a sabedoria da Índia. 
Permaneceu por muito tempo na Itália Meridional e na Sicília colonizada pelos gregos, onde 
manteve estreito contato com algumas escolas pitagóricas e delas provavelmente acolheu 
pontos importantes para seu pensamento. 
Foi preceptor do tirano Dionísio de Siracusa. No ano de 387 a.C inaugurou em Atenas a sua 
“Academia”, onde ensinava gratuitamente a um grupo de discípulos. Morreu aos oitenta anos 
de idade. 
Grande parte de seus escritos mantiveram-se conservados e chegaram até nossos dias. Embora 
não intactos, já que, por evidente, sofreram por vezes acréscimos de posteriores anotações de 
copistas, muitos dos escritos são atribuídos a Platão com certa segurança. Sua doutrina – a que 
ensinava a seus discípulos –, afirma-se, não sobreviveu, já que se dedicara, quase com 
exclusividade, à oralidade. O que nos restam são os diálogos escritos ao grande público. 
Sobre seu nome foram redigidos 34 diálogos, sendo que uma parte desta obra é considerada não 
autêntica. Seja como for, consideram-se para nossa disciplina como os diálogos mais 
importantes: 1) do período mais antigo: A Apologia (recomposição do discurso de defesa de 
Sócrates) e Críton (sobre o respeito às leis); 2) do período de maturidade: A República (Sobre 
o Estado); e, 3) do período de velhice: O Político (trata do estadista); e, As Leis (obra não 
concluída por Platão, trata das bases morais do Estado). 
 
2. A Política: O Estado ideal e o governante-filósofo 
Platão parece ter sido profundamente marcado pela condenação e execução de Sócrates. Por 
conta disto, dedicou-se a conceber um Estado perfeito. Tal Estado, por isso mesmo, isto é, para 
alcançar sua perfeição, deve ser governado pelos mais sábios entre os homens, pois somente 
assim a Justiça poderia prevalecer. E quem além do filósofo poderia ser mais sábio? 
Ora, a Justiça, segundo Platão, é a virtude por excelência que deve comportar as outras três 
virtudes cardeais (sabedoria, coragem e temperança), por exercer sobre tais preeminências. Tal 
se deve ao fato de ser atributo da justiça ordenar as três primeiras, para manter o perfeito 
equilíbrio em cada uma das faculdades da alma humana, para que cada uma destas faculdades 
limite-se ao que lhe é peculiar. 
A alma possui três partes ou potências: a racional, que permite o conhecimento das idéias; a 
irascível, que corresponde aos impulsos e afetos; e, a concupiscente, que está vinculada às 
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necessidades elementares. Se a potência racional é regida pela sabedoria ou prudência (sophia, 
phrónesis), e a irascível, que tem em seu norte a coragem (andréia), e a concupiscente devem 
se submeter à temperança e à moderação (sophrosyne), para que se produza na alma uma 
relação de amizadee acordo. Esta mesma estrutura Platão utiliza ao passar do indivíduo à cidade 
(macroántropos), isto é, estabelece um paralelo entre a teoria da alma e a teoria da cidade. 
Por isso, a sociedade política deve ser composta de três classes distintas por suas funções: a) os 
governantes; b) os guardiães, ou guardiões; c) os artesãos e agricultores. Os primeiros são 
guiados e regidos pela sabedoria. Os segundos, aqueles que cultivam a coragem. Os 
terceiros, os que constituem a base econômica da sociedade e apenas vivem para satisfazer 
suas necessidades. As duas últimas classes devem aceitar o governo dos primeiros, que 
representam a sabedoria, e é aí que deve estar a temperança: que impede o afã de 
dominar. 
 
3. Justiça geral e Justiça parcial: a cidade justa 
No contexto da cidade ideal de Platão, então, a Justiça corresponderá a manter cada classe em 
sua atribuição peculiar, cada um fazendo aquilo que lhe corresponde: os filósofos devem 
governar; os guardiões ou guardiães devem defender a cidade das desordens internas e 
dos ataques externas; os artesãos e agricultores devem produzir. 
No contexto da República de Platão, cada classe deve fazer aquilo que lhe é atribuído, e sem 
intromissão no que a outra corresponde, porque aí está o desígnio de justiça: a cada um o que 
lhe é cometido, sem intromissão na seara dos demais. Injustiça será a ruptura desta ordem 
estabelecida, a sedição das potências inferiores contra a razão. 
Por isso, a justiça deve ser incondicionalmente preferível à injustiça. Do mesmo modo que 
a saúde corporal reside no perfeito equilíbrio da função governante da razão e as funções dos 
apetites inferiores, de modo que a justiça será a saúde, a beleza e o bem-estar da alma. 
Inversamente, a injustiça será a enfermidade, a fealdade e a debilidade da alma. A justiça 
deve, portanto, ser a lei da alma. 
A justiça em Platão deve, pois, elevar-se à posição de virtude universal. Esta conceituação, 
cumpre observar, faz referência ao conceito de justiça estabelecido pela doutrina pré-socrática, 
especialmente a doutrina pitagórica. Mas Platão a aprofunda com vigor, pois, para Platão, a 
justiça não é algo apenas da ordem metafísica ou da ordem física, tampouco a ordem e a 
harmonia, mas a causa de toda ordem e harmonia, que conduz que cada parte cumpra 
seu papel sem, contudo, interferir no que não lhe compete, aquilo a que se atribui aos 
outros. A justiça deve, pois, ser o fundamento do Estado ideal e da Cidade ideal. 
Mas, juntamente com a grande justiça unificadora de todas as virtudes há a justiça referente 
às relações entre os indivíduos: justiça parcial. Ora, em uma ordem naturalmente justa, a 
virtude das relações intersubjetivas consiste em não alterar esta ordem, com a usurpação do 
alheio ou com a privação do que lhe pertence. 
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A injustiça deve ser entendida como a negação da justiça, já que agir justamente significa 
abster-se de cometer alguma injustiça: inverter a ordem das coisas. Justiça, pois, deve ser 
a não subversão da situação originária da ordem. Justiça, portanto, deve ser a 
manutenção da justa situação originária, e não em remediar a injustiça. 
 
4. As formas de governo em Platão 
Em a República, Platão desenvolve cinco formas de governo. Entre estas cinco formas, apenas 
uma delas pode ser considerada justa: o governo dos sábios, que pode assumir a forma de 
monarquia. Todas as demais devem ser consideradas degenerações da forma pura de governo, 
onde a justiça não pode se efetivar. 
A timocracia consiste na forma de governo derivada da usurpação do poder por parte dos 
guardiães. Este é um governo em que se prezam as honrarias. 
Na oligarquia, o governo dos ricos, fica acentuada a distinção entre duas classes de cidadãos: 
os ricos e os pobres. 
A democracia provém do desequilíbrio provocado pela oligarquia. Ora, como a oligarquia 
produz excessivo enriquecimento, o desequilíbrio, com a cidade dividida em duas, é sua natural 
conseqüência. Além do desequilíbrio, produz degeneração, o que faz surgir o governo da 
multidão, a democracia. Na democracia impera a desordem. 
A desordem proveniente da democracia, quando aproveitada por um indivíduo escravo dos mais 
sórdidos prazeres, faz nascer a tirania, a forma de governo que mais se opõe à justiça. 
Já no Político, Platão apresentará três formas legítimas e três formas ilegítimas de governo. 
Legítimas: monarquia, aristocracia e democracia moderada. Ilegítimas: democracia turbulenta, 
oligarquia e tirania. Destas formas, entre as legítimas, a monarquia é melhor e a democracia 
a pior. Entre as ilegítimas: a democracia turbulenta é a menos corrupta e a tirania, a pior. 
Em As Leis uma nova forma de governo é apresentada: a forma mista: uma aproximação 
entre monarquia e democracia. 
 
5. Considerações finais. 
Platão modifica suas considerações ao longo de sua obra. Com efeito, em As Leis, ao invés de 
três categorias de indivíduos, reconhece quatro, baseadas na renda individual. Aceita o 
casamento monogâmico em todas as classes e reconhece, não sem restrições, o direito à 
propriedade sobre a terra. Seja como for, com Platão tem seu ápice o pensamento ocidental. 
Sua pesquisa apresenta uma envergadura tamanha que não haverá pensamento posterior que a 
ele não volte, seja para tentar desenvolver suas idéias, retomá-las ou, de algum modo, negá-las. 
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Platão foi quem postulou que os homens devem buscar uma vida virtuosa. Para ele, a vida dos 
homens somente pode encontrar seu fim último na Pólis, pois somente aqui é que o homem se 
pode tornar virtuoso, já que em outro lugar não se encontram as condições necessárias para o 
aprimoramento pessoal. Esta concepção pauta sua Paidéia: a educação da alma deve conduzir 
ao Bem Absoluto. E ao Estado cabe a educação das almas para esta busca. 
Por isso, a educação deve ser pública, para proporcionar que o Estado melhor aproveite seus 
cidadãos e os cidadãos melhor aproveitem o Estado. Por isso mesmo, Justiça, Ética e Política 
movimentam-se em uma mesma ordem, harmônica, derivada da idéia primordial do Bem. 
A filosofia platônica exerce grande influência em sua época e na posteridade. O neoplatonismo 
de Plotino é exemplo disso. Sua doutrina influenciará os padres da Igreja. Santo Agostinho 
incorporará a obra de Platão ao cristianismo. No Renascimento e na Modernidade autores se 
voltam com entusiasmo para a obra de Platão. E na contemporaneidade, também, muitos autores 
estão a retomar sua obra. 
 
VI – ÉTICA, POLÍTICA, DIREITO: ARISTÓTELES 
1. Vida e obra de Aristóteles 
Aristóteles (384-322, 321 a.C), nascido em Estagira (hoje Sarvos), Macedônia povoada por 
gregos, de boa educação na infância, entre os dezessete e dezoito anos vai para Atenas e ingressa 
na Academia de Platão – este já sexagenário –, onde permanece até a morte do grande mestre, 
por cerca de 20 (vinte) anos. Na Academia, onde o pensamento de Platão o influencia 
decisivamente, foi Aristóteles aluno e professor. Com a morte de Platão, Aristóteles deixa a 
Academia, que ficara sob o comando de um dos discípulos mais próximos de Platão: Eupeusipo. 
Com o jugo da Macedônia sobre a Grécia no governo de Filipe da Macedônia, Aristóteles é 
chamado a ser preceptor de Alexandre Magno (Alexandre o Grande). Com a assunção ao reino 
por Alexandre, após a morte de Filipe, Aristóteles permaneceu com Alexandre por algum 
tempo. Mas, após a sentença de morte do historiador Calístenes, Aristóteles transfere-se para 
Atenas. Na Cidade-Estado, em 335 a.C, em um bosque dedicado às musas e à Apolo Lício, 
situado entre o monte Licabetos e o Ilissos, Aristóteles funda o Liceu (dirigido por Aristóteles 
entre 335 e 323 a.C). 
No período do Liceu, Aristóteles produz suas obras mais importantes. Mas, com a morte de 
Alexandre em 323 a.C, como Aristóteles tinha ligações com a Macedônia, o Liceu não era bem 
visto tanto pelaAcademia como Escola retórica de Isócrates, os gregos consideraram 
Aristóteles suspeito de traição e o acusaram de impiedade. Aristóteles deixa, então Atenas e se 
instala em Cálcis, na Eubéia. 
Morre entre o fim de 322 e o início de 321 a.C, em decorrência de uma doença do estômago. 
Está com setenta e três anos de idade. 
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As obras de Aristóteles (aproximadamente 300 livros ou mais) são divididas em exotéricas, isto 
é, aquelas abertas ao grande público e acromáticas, os ensinamentos dedicados aos discípulos 
no Liceu. As obras exotéricas se perderam. As acromáticas são divididas em cinco grupos: 
Sobre filosofia; Escritos de Lógica; Escritos de Metafísica; Escritos sobre física ou filosofia 
natural; Escritos de Ética e Política. 
Diferentemente de Platão, Aristóteles não considerará o mundo sensível um mundo 
aparente, mas um mundo verdadeiro e real em que a essência consiste na incessante 
mudança e na multiplicidade dos seres. 
 
2. O homem na Política 
O homem aristotélico somente pode se constituir na Pólis; por isso, é um animal da Pólis: o 
zôom politikón. O homem é chamado a viver na Pólis, pois assim o exige sua natureza, já que 
é na Pólis que o homem se realiza por completo. Isto porque a ação do homem é política e a 
Pólis é onde age o homem. Portanto, a Pólis é tão natural ao homem que o homem somente é 
homem na medida em que o é na Pólis; fora dela, não pode existir o homem comum, mas 
somente monstros. 
O desenvolvimento da razão somente se pode dar quando o homem está integrado à Pólis. Sem 
a Pólis o homem não pode tornar-se bom e justo e não pode alcançar sua dignidade, porque 
estas qualidades somente podem ser alcançadas pela determinação humana e na Pólis, já que 
tais finalidades devem ser inseparáveis da vida em sociedade. 
Sendo assim, a política deve ser algo a ser almejado primordialmente pelos homens, já que o 
bem da cidade deve ser superior ao bem individual. Além disso, o bem da cidade deve ser algo 
primordial ao desenvolvimento e ao aperfeiçoamento humano. Somente na Pólis o homem pode 
ser um ser completo, pois é na polis que os homens encontram as condições necessárias para 
sua completude: ordem, paz e justiça. 
Um ponto deve ser colacionado: para Aristóteles a escravidão deve ser aceita por ser uma 
instituição natural. Para ele, a justificativa da escravidão repousa no fato de alguns homens não 
possuírem capacidade de governarem a si mesmos; por isso, devem conseqüentemente se 
submeter ao governo de outros homens. Logo, segundo Aristóteles, há homens que nascem 
livres e homens que nascem escravos. Os escravos devem ser necessários para a manutenção 
da ordem de produção dos bens dos homens livres. 
 
3. A Teoria das Formas de Governo: a Política 
Calcado na teoria das formas de governo de Platão, Aristóteles estabelece sua teoria das formas 
de governo, dividida em três formas puras, ou legítimas, e três impuras, ou ilegítimas. As três 
formas que compõem a primeira categoria são: monarquia, aristocracia e democracia. As que 
compõem a segunda categoria: tirania, oligarquia e democracia radical, ou demagogia. 
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Como a sabedoria deve ser o único título legítimo de governo, o ciclo do governo, 
corrompendo-se, toma a seguinte ordem: a monarquia corrompida passa à tirania; da tirania 
retoma-se a ordem para a aristocracia; com a corrupção da aristocracia tem-se a oligarquia; 
desta à democracia em suas formas: moderada e radical. Trata-se de um esquema lógico, 
hipotético e racional, e não histórico. Por isso, uma construção filosófica que não encontra 
respaldo na experiência política grega. 
Esta corrupção se dá porque tirania, aristocracia, oligarquia e democracia não pretendem o ideal 
de supremo bem, que somente se pode dar na Cidade: o bem comum da cidade e dos homens. 
Como a sociedade política encontra sua finalidade em propiciar aos homens uma vida melhor, 
a boa vida (eudaimonía), e não apenas a sobrevivência, e como a eudaimonía somente pode ser 
alcançada com o cultivo em comunidade da vida virtuosa, estes governos, por não cultivarem 
todas as virtudes, tendem a corromper a Pólis. 
 
4. Justiça na Ética a Nicômaco 
As virtudes dividem-se em duas categorias: as dianoéticas (disposições intelectuais) e as éticas 
(ou disposições morais). As dianoéticas podem ser acessadas pela via teorética; já as segundas, 
encontram sua morada na vontade humana e são alcançadas pela deliberação que permite a 
escolha de atos virtuosos: a doutrina do justo meio, ou do meio-termo 
 
A prudência 
Por isso, antes da Justiça, cumpre falar da prudência (phrónesis), e do homem prudente 
(phrónimos) em Aristóteles: 
“Quanto à prudência, poderíamos apreender [o que ela é] considerando quais homens 
qualificamos como prudentes. É nossa opinião que é prudente aquele que é capaz de bem 
deliberar sobre as coisas boas e úteis para si, e isso não de maneira parcial, como, por exemplo, 
que coisas são boas para a saúde e para a força física, mas com respeito ao bem-viver em sua 
totalidade. São também prudentes aqueles que sabem calcular em vista de algum fio honesto 
relativamente ao qual não há nenhuma arte. De maneira, geral, o homem prudente é aquele que 
sabe deliberar [...]. A prudência não é uma ciência nem arte. Não é ciência porque o objeto do 
agir pode ser diferentemente do que ele é; não é uma arte porque agir e fabricar são coisas 
diferentes quanto ao gênero. A prudência é uma disposição prática, estável e razoável 
concernente às coisas boas e más para o homem”. 
Já que a virtude é o justo meio, a prudência é o coroamento de todas as virtudes: sabedoria 
prática que lida com o contingente e com o tempo, com aquilo que pode ser de outra maneira e 
com aquilo de que não há arte, isto é, as regras pré-estabelecidas. 
O Prudente não delibera sobre este ou aquele bem, mas possui disposição prática para bem 
deliberar em qualquer das circunstâncias porque delibera sobre a totalidade do bem viver. 
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Por isso, é ele capaz de dar regras, normas e preceitos de conduta. A prudência, em outras 
palavras, deve ser a condição de todas as outras virtudes, pois possibilita a escolha do 
justo meio termo: o equilíbrio entre razão e paixão. 
É a prudência que deve orientar a deliberação racional, porque é capaz de discernir o bom e o 
mau nas coisas e nas relações conviventes entre os meios e os fins. 
Na prudência, podemos perceber a melhor finalidade da ética: tornar um homem auto-
suficiente. Ela garante a um agente a autárkeia (independência, liberdade), oposta à passividade 
ou à paixão, já que nesta somos dirigidos por algo que não nós mesmos. Isto porque observa 
três regras para a escolha do ato virtuoso: 
1) O sujeito conhece ou sabe o que faz 
2) O sujeito escolhe a ação e a executa por si mesmo, isto é, o sujeito é o princípio da ação 
3) O sujeito realiza a ação, graças a uma disposição interior e permanente, isto é, por 
virtude, e por isso, a excelência do agente é o fim da ação. 
A prudência, segundo Aristóteles, tem a ver com as coisas humanas e com aquelas que se 
referem à deliberação, pois a obra do prudente é a boa deliberação. A obra do prudente é a 
moderação: encontrar a medida e a regra correta (orthós lógos) para a escolha virtuosa. 
Sendo da ordem da ação, a obra do prudente depende, do ponto de vista político, de uma 
disposição legislativa ou normativa. Estabelecido está, para Aristóteles, o vínculo entre a Ética 
e a Política. 
Este vínculo está constituído pela subordinação a bens individuais e, principalmente, ao bem 
comum; mas também pela identidade de disposição do prudente e do político. 
 
A Justiça 
A virtude ética que diz respeito diretamente à lei é a Justiça: “o justo é o que é conforme à lei 
e respeita a eqüidade; o injusto é o que viola a lei e a falta de eqüidade” (Livro V). 
A justiça se relaciona com o meio-termo

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