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a DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 1 a DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 2 ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE O Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece uma série de normas relativas a proteção de direitos da criança e do adolescente de modo específico. A isso chamamos de doutrina da proteção integral. Nesse sentido, todos devem envidar esforços para que se tornem efetivos os direitos e os interesses de crianças e adolescentes. Mais do que isso. Substituiu-se a palavra menor por criança e adolescente, uma vez que a antiga denominação trazia consigo a pecha do menor abandonado. Para efeitos legais, criança é o ser humano que conte com até 12 anos incompletos. Adolescente é o ser que tenha doze anos completos e dezoito incompletos. Excepcionalmente, o Estatuto da Criança e do Adolescente pode ser aplicada a maiores de dezoito, desde que a situação se tenha originado antes de se atingir a maioridade. Exemplo disso é a possibilidade de aplicação da medida de internação até os vinte e um anos de idade, quando a liberação será compulsória. 1.1 DA FAMÍLIA NATURAL, DA FAMÍLIA EXTENSA OU AMPLIADA E DA COLOCAÇÃO EM FAMÍLIA SUBSTITUTA As disposições sobre colocação em família substituta foram modificadas no Estatuto da Criança e do Adolescente, em razão da priorização da mantença da criança e do adolescente na família natural, pela criação da família extensa ou ampliada, formada por parentes próximos que mantenham vínculo de afinidade ou afetividade com o menor. Importante destacar, ainda que o Estatuto da Criança e do Adolescente deu a oportunidade maior para que a criança e o adolescente sejam ouvidos sempre que possível, a fim de que o maior interessado possa falar sobre a sua situação que está sendo encaminhada. Assim toda vez que o juiz for contrariar a decisão da criança e do adolescente, deverá fundamentar e demonstrar as razões pelas quais está fazendo isso. Todas as condições que possam ser investigadas deverão ser objeto de análise, a fim de que se possa aquilatar as reais condições em que se pretende a colocação da criança ou o adolescente na família substituta. O Estatuto da Criança e do Adolescente sofreu importantes alterações em relação à família. Priorizou-se, sobretudo, a família natural em detrimento de eventual colocação em família extensa e família substituta. Nesse sentido, a nova lei determina que se faça um investimento absoluto na família natural, o que, sem dúvida, é a postura mais correta a ser adotada. O lugar da criança e do adolescente é junto à família natural. Destaque-se que as formas de colocação em família substituta são guarda, tutela e adoção. Estás duas últimas pressupõem a prévia suspensão ou destituição do poder familiar,l ao contrário do que ocorre com a guarda. A colocação em família substituta é a última solução apontada pela alteração legal, e mesmo assim, visando ao retorno à família natural. Existem tratamentos diferenciados à adoção, tutela e guarda. A partir de agora, acima dos 12 anos de idade, é imprescindível que se ouça o adolescente sobre a colocação em família substituta. Mais. a DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 3 Destaca-se, ainda, que é obrigatório nos processos de destituição e suspensão do poder familiar a realização de estudo social, tudo com o objetivo de garantir o melhor à criança ou ao adolescente. passa a ser obrigatória, da mesma forma, a ouvida dos pais, consoante o disposto no art. 161 do Estatuto da Criança e do Adolescente. O processo de adoção passará a ser mais fiscalizado, na medida em que se deve evitar, ao máximo, a ocorrência de quaisquer casos que envolvam valores em relação à colocação em família substituta. Para tanto, exige-se uma postura mais incisiva do Ministério Público. Foram criadas ainda novas infrações administrativas para que se resguarde a nova forma de colocação em família substituta prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente, com o acompanhamento próximo por parte das autoridades. Deve-se atentar, ainda, para o fato de que às crianças ou adolescentes cujos pais são desconhecidos, mortos, ou suspensos/destituídos do poder familiar, deverão ter nomeados tutores, na forma do art. 1734 do Código Civil. Os recurso que envolvam a matéria deverão ser julgados com a máxima urgência. Percebe-se, com o que foi dito, que as questões colocadas com as novas regras do Estatuto da Criança e do Adolescente são no sentido de priorizar o atendimento da criança e do adolescente ainda mais, de forma a garantir a legalidade de todo e qualquer procedimento que os envolva. Direito à convivência familiar. O novo CC não revogou os dispositivos do Estatuto sobre a matéria. Aparentes antinomias foram solucionada pela Lei 12.010/2009. As antinomias praticamente sumiram; hoje, praticamente todas as normas sobre adoção estão no Estatuto, e não mais no Código Civil. O CC permanece no seu lugar, na sua função. O CC é patrimonialista, só que, em alguns momentos, acaba afrontando inclusive disposições constitucionais sobre a proteção à família. Art. 1.611: o filho havido fora do casamento, reconhecido por um dos cônjuges, não poderá conviver no lar conjugal, sem o consentimento do outro cônjuge. Essa norma resguarda o casamento ou a união estável: indiretamente, o patrimônio do casal. Há uma quebra da prioridade do direito à convivência familiar e, também, há uma violação à isonomia entre os filhos. Prevalência da família natural sobre a família substituta. Toda criança e adolescente tem o direito de ser criada no seio de sua família natural; excepcionalmente, no seio de família substituta. A família substituta, por guarda, tutela ou adoção, é exceção. As medidas que são suscetíveis de aplicar aos pais/responsáveis sempre devem se orientar pela manutenção dos vínculos, de regra, ou pela reintegração na família natural. Todo o esforço, investimento, é esse. Os parágrafos do art. 19 tentam regulamentar: a) o tempo de permanência em família substituta; b) prazo para retornar à família natural. As medidas de acolhimento são medidas de afastamento da criança e do adolescente de sua família natural. Medidas de afastamento: colocação em abrigo ou em família substituta. Depende de decisão motivada do juiz. E é obrigatória a reavaliação a cada seis meses. Via de regra, essas medidas não devem ultrapassar o prazo de dois anos. Todavia, não há qualquer sanção para o caso de esse prazo ser ultrapassado. Mas o extrapolamento do prazo, p. ex., legitima os pais a pedirem a criança de volta. Princípio: não se retira uma criança sua família natural, apenas excepcionalmente. Se for necessário, deve se atentar para a manutenção, reavaliação e retorno à família. 1.2 DO ATO INFRACIONAL Criança e adolescente podem praticas ato infracional, mas apenas ao adolescente é que se poderão impor as medidas sócioeducativas. À criança somente se poderá impor as medidas de proteção previstas no art. 101 do ECA e que jamais poderão implicar privação da liberdade. a DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 4 Ao adolescente apreendido em flagrante de ato infracional deverá ser encaminhado à delegacia de polícia e apresentado ao promotor de justiça. Quando a apreensão decorrer de ordem judicial, deverá ele ser apresentado ao juiz de direito. Sempre que houver regressão da medida, o adolescente deveráser ouvido,não podendo a confissão do adolescente dar suporte à procedência da representação. Procedimento de apuração do ato infracional. Três fases: policial, ministerial e judicial. Policial. APREENSÃO EM FLAGRANTE. A autoridade faz: Boletim de ocorrência circunstanciado, se não for infração com violência ou grave ameaça. Auto de apreensão: se o ato infracional for praticado com violência ou grave ameaça. Se a autoridade policial liberar o adolescente aos pais ou responsável, determina que o adolescente se apresente ao MP; se não liberar, apresenta ao MP ou coloca em uma instituição que fica encarregada de apresentar. INDÍCIOS DE PARTICIPAÇÃO. A autoridade faz um relatório e junta documentos, mandando, depois, para o Ministério Público. Ministerial. A jurisprudência entende que a audiência de apresentação (oitiva informal) não é condição de procedibilidade. Procedimento judicial – Características. - Sistema acusatório; inquisitório na fase pré-processual. Em juízo, é acusatório porque se baseia nos pilares do sistema acusatório. Súmulas STJ: 265 (2002). Se o juiz quer substituir uma medida por outra mais grave em face do descumprimento da primeira, precisa, antes, ouvir o adolescente. O contraditório também deve ser observado quando o adolescente pleitear a progressão (o MP deve ser ouvido, porque pode discordar). 338 (2007). A prescrição penal é aplicável às medidas socioeducativas (prazos do art. 109). 342 (2007). Não basta a confissão para julgar procedente a ação. Essas súmulas protegem a liberdade do menor. Por isso, a medida socioeducativa não tem caráter eminentemente pedagógico. O bem jurídico tutelado pelo sistema é fundamentalmente a liberdade, e não a educação. 1.3 ENTIDADES E PROGRAMAS: Art. 90 e seguintes. Entidade: organização com personalidade jurídica própria, que tem autorização para cumprir medida socioeducativa, medida de proteção ou medida imposta aos pais/responsáveis. Programa: anúncio da atividade que será desenvolvida com vistas ao cumprimento da medida. É o desenvolvimento de uma determinada atividade. Unidade: onde funciona um programa de atendimento. A FASE, que é uma entidade, mantém unidades em todo o Estado, onde são desenvolvidos programas (ex.: núcleo feminino, em POA). As entidades não-governamentais precisam se registrar no Conselho Municipal de Direitos. O registro deve ser renovado, de quatro em quatro anos. a DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 5 Ex.: Pão dos Pobres. As entidades também devem inscrever os seus programas no Conselho Municipal. Ex.: a FASE, para realizar o núcleo feminino, teve que inscrevê-lo no Conselho. A inscrição deve ser renovada de dois em dois anos. 1.4 DO CONSELHO TUTELAR: Houve alterações significativas em relação ao Conselho Tutelar: O mandato passa a ser de quatro anos, permitida uma recondução, conforme artigo 132 do ECA. Ainda, os requisitos estão no art. 133 do ECA, destacando-se a idade mínima de superior a vinte e um anos. As atribuições estão no art. 136 do ECA. Já os impedimentos estão no art. 140 do ECA e costumam ser cobrados na prova objetiva. 1.5 INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS: Infrações administrativas. Arts. 245 a 258. No Estatuto, há tipos penais e tipos administrativos. São comportamentos que visam a proteção de direitos específicos de crianças e adolescentes. A sanção, geralmente, é a multa. Há outras penas acessórias. 1.6 CRIMES Importante destacar o art. 225 do Estatuto da Criança e do Adolescente, na medida em que toda vez que houver uma norma mais específica ainda do que a presente lei, deixa-se de aplicá-la e incide o princípio da especialidade. Exemplo é o caso de quem vende droga a criança ou adolescente. não incidirá o art. 243 do Estatuto da Criança e do Adolescente, mas o artigo 33, “caput”, da Lei n.º 11.343/06. O Estatuto da Criança e do Adolescente estabelece crimes em que são vítimas, primordialmente crianças e adolescentes, podendo, secundariamente, figurarem também como ofendidos o pai ou a mãe. Aos crimes previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente aplicam-se as normas da parte geral do Código Penal, por expressa disposição legal e também pelo art. 12 do Código Penal. De outro lado, todos os crimes são de ação penal pública incondicionada, algo, ademais, absolutamente desnecessário de ser dito, uma vez ser esta a regra. ARTIGO 228: Trata-se de crime omissivo próprio, sendo que duas são as condutas omissivas: deixar o encarregado de serviço de estabelecimento à gestante de manter os registros das atividades desenvolvidas pelo período de dezoito anos e não-fornecimento, à parturiente ou ao responsável, da declaração de nascimento com vida. Por esta razão, não se admite tentativa e tampouco co-autoria. Somente, por ser omissivo próprio, admite participação, segundo posição que prevalece. Mais do que isso. O art. 228 acaba sendo repetitivo, pois se faz menção ao art. 10 do Estatuto da Criança e do Adolescente e ainda são copiados trechos seus. Algo absolutamente dispensável. O crime também pode ser punido a título de culpa, segundo permite o parágrafo único. ARTIGO 229: a DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 6 Trata-se de crime omissivo próprio, portanto não admite tentativa e co-autoria. As duas condutas são a não-identificação da parturiente e do neonato por ocasião do parto e não-realização dos exames obrigatórios. O objetivo é a prevenção de futuros males físicos e psíquicos e evitar-se a troca de bebês em maternidades. Aqui o pai e mãe do neonato são vítimas também do crime. É o outro crime que admite a punição a título de culpa. ARTIGO 230: O artigo contempla a privação momentânea da liberdade de criança e de adolescente. Quando se tratar de privação duradoura da liberdade, incidirá o crime do art. 148, parágrafo primeiro, inciso IV, do Código Penal. De se salientar, ainda, que a criança jamais poderá ser privada validamente de sua liberdade, cabendo, tão-somente, a aplicação de medida de proteção. O adolescente é que poderá ser privado de sua liberdade em duas hipóteses: flagrante de ato infracional e ordem escrita e fundamentada de autoridade judicial competente. O parágrafo único só pode ter como vítima o adolescente, pois se trata da privação da liberdade sem as devidas formalidades legais. ARTIGO 231: Este crime apenas será admitido se praticado contra adolescente, pois a privação à liberdade de criança já é crime. Logo, não há o que se falar em ausência de comunicação da apreensão, se já é crime a própria apreensão. O art. 107 do Estatuto da Criança e do Adolescente fala somente em apreensão de adolescente. ARTIGO 232: Trata-se de um crime em que o sujeito ativo deve ter a autoridade, guarda ou vigilância sobre a criança ou o adolescente e que, valendo-se desta situação cause o vexame ou o constrangimento. Engloba tanto as relações perenes quanto as temporárias, como é o caso de babás, professoras, etc. ARTIGO 234: O crime somente será punido a título de dolo. É crime próprio, somente podendo ser praticado pela autoridade policial, juiz de direito ou promotor de justiça. Ocorre quando a autoridade deixa de liberar, sem justa causa, imediatamente, a criança ou o adolescente. por se tratar de crime omissivo, não admite tentativa. ARTIGO 235: Trata-se de norma penal em branco, pois os prazos a serem cumpridos devem ser buscados no próprio Estatuto da Criança e do Adolescente. Refere-se aos prazos que devem ser cumpridos pelo delegado de polícia, promotor de justiça e juiz da infância e da juventude. Exemplo.: prazo máximo de quarenta e cincodias para que o adolescente permaneça internado provisoriamente, conforme prevê o art. 183 do Estatuto da Criança e do Adolescente. ARTIGO 236: Trata-se de um tipo misto alternativo, ou seja, praticado mais de um verbo no mesmo contexto temporal, haverá crime único. a DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 7 O crime é meramente formal, desimportando que a finalidade tenha sido atingida. Independe, portanto, de resultado. ARTIGO 237: O artigo prevê a subtração de criança ou adolescente com a finalidade específica de colocação em família substituta. Pai e mãe podem ser sujeitos ativos, desde que desprovidos do poder familiar. Se não houver a finalidade de colocação em família substituta, ocorrerá o crime de subtração de incapazes do art. 249 do Código Penal. Trata-se, por fim, de crime meramente formal. ARTIGO 238: Na figura prevista no caput trata-se de crime próprio, pois apenas pode ser cometido por pai, mãe, tutores ou guardiães. Trata-se de crime bilateral, pois alguém somente entrega o filho ou pupilo a alguém mediante paga ou recompensa, existindo alguém que pague por isso. não havendo finalidade econômica, mas havendo a entrega de filho a pessoa inidônea, ocorrerá o crime do art. 245 do Código Penal. Por fim, o nascituro, segundo posição da jurisprudência, pode ser sujeito passivo do crime. ARTIGO 239: Trata de todo e qualquer ato que tenha por finalidade a remessa de criança ou adolescente ao exterior, de forma ilegal. Basta qualquer ato que vise à retirada de criança ou adolescente do Brasil. A competência será da Justiça Federal, pois incide4 o art. 109 da Constituição da República ao caso. Se o crime for cometido com violência, grave ameaça ou fraude, a pena será aumentada. Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito ou pornográfica, envolvendo criança ou adolescente: Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. § 1º Incorre nas mesmas penas quem agencia, facilita, recruta, coage, ou de qualquer modo intermedeia a participação de criança ou adolescente nas cenas referidas no caput deste artigo, ou ainda quem com esses contracena. § 2º Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o agente comete o crime: I – no exercício de cargo ou função pública ou a pretexto de exercê-la; II – prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade; ou III – prevalecendo-se de relações de parentesco consangüíneo ou afim até o terceiro grau, ou por adoção, de tutor, curador, preceptor, empregador da vítima ou de quem, a qualquer outro título, tenha autoridade sobre ela, ou com seu consentimento. Percebe-se que, com a alteração legislativa, foram incluídas as condutas de reproduzir, fotografar, filmar ou registrar. Efetivamente, antes da alteração legislativa, apenas estava sujeito à punição o dirigente ou o produtor das cenas que envolvessem criança ou adolescente. Tal responsabilidade, por vezes, era difícil de ser comprovada na ausência do diretor ao local do fato. Com efeito, em muitos casos, apenas estava presente o responsável pela captura das imagens, mas não o responsável pela organização das cenas. Claro que a responsabilidade seria verificada de acordo com o art. 29 do Código Penal, mas se não houvesse a função de direção, não haveria a responsabilização do executor material do crime, pessoa distinta, muitas vezes, do diretor. A lei não faz mais qualquer limitação à forma pela qual as imagens estão sendo registradas, uma vez que se utilizou da expressão por qualquer meio, embora os meios utilizados sejam filmagens e fotografias. a DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 8 A nova lei suprimiu a expressão vexatória, o que, na lei anterior, poderia abarcar ainda a exposição da criança ou adolescente, ainda que não em cena envolvendo sexo explícito ou pornografia, expusessem a nudez da criança, como em um comercial, por exemplo. A lei, agora, limita as condutas incriminadas a cenas de sexo explícito ou pornográfica, envolvendo, portanto, sexo. O consentimento dos pais é absolutamente dispensável e, caso exista, sujeitas os pais às penas previstas no artigo em tela, em razão do concurso de pessoas. A pena foi aumentada, devendo, portanto, ser observada a irretroatividade da lei penal mais grave. No parágrafo primeiro, tem-se a figura do intermediário, do agenciador, ou seja, da pessoa responsável pelo recrutamento das crianças e adolescentes. Enfim, a pessoa que possui a fundamental importância, para o sucesso do crime, no sentido de propiciar o contato das crianças e adolescentes com o filme ou as fotos que serão feitas com conteúdo pornográfico. Pune-se, ainda, a pessoa que contracena com as crianças e adolescentes, sem prejuízo, é claro (são objetividades jurídicas diversas) da responsabilização pelo crime contra a liberdade sexual, como atentado violento ao pudor, por exemplo. Por fim, no parágrafo segundo, a pena é aumentada em relação àquele que se vale do exercício de função pública ou cargo, na medida em que a conduta pode ser absolutamente facilitada em razão do cargo ocupado. Não importa que o agente faça no exercício da função, basta que dela se valha para o cometimento do crime. A norma visa, também, a tutelar o normal funcionamento da administração pública, pois a ela interessa que seus servidores garantam a normalidade de seu funcionamento. Ainda, pune-se de forma mais grave a conduta de quem se prevalece das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, até em razão de que a defesa da criança ou adolescente, nestes caso, acaba sendo absolutamente reduzida, e o crime executado de forma mais fácil. Por fim, a conduta de quem tenha algum tipo de vínculo com a criança ou adolescente, ainda que se trate de relação temporária, como por exemplo, de relações de emprego. Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente: Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa. O crime trata do comércio de material pornográfico envolvendo criança e adolescente. Trata-se de um tipo misto alternativo, ou seja, se praticada mais de uma conduta no mesmo contexto temporal, haverá o cometimento de apenas um crime. Se houver espaçamento temporal entre eles, haverá o reconhecimento de concurso de crimes. Vender pressupõe a existência de pessoa certa, determinada, de quem adquire o produto ilícito. Expor à venda pressupõe um número indeterminado de pessoas, ou seja, o material é oferecido de forma ampla a qualquer pessoa. A pena, em relação à antiga redação do art. 241 foi aumentada, de dois seis anos, para quatro a oito anos. Art. 2º A Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990, passa a vigorar acrescida dos seguintes arts. 241- A, 241-B, 241-C, 241-D e 241-E: Art. 241-A.. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive por meio de sistema de informática ou telemático, fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente: Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa. § 1º Nas mesmas penas incorre quem: a DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 9 I – assegura os meios ou serviços para o armazenamento das fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput deste artigo; II – assegura, por qualquer meio, o acesso por rede de computadores às fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput deste artigo.§ 2º As condutas tipificadas nos incisos I e II do § 1º deste artigo são puníveis quando o responsável legal pela prestação do serviço, oficialmente notificado, deixa de desabilitar o acesso ao conteúdo ilícito de que trata o caput deste artigo. Trata do intercâmbio de material pornográfico/sexual, envolvendo criança e adolescente. O tipo, no entanto, é bastante amplo, incriminando, inclusive, a conduta de quem oferece, seja a pessoa determinada ou indeterminada. Incrimina, inclusive, a conduta de quem envia mensagem eletrônica contendo material pornográfico envolvendo criança ou adolescente. No parágrafo primeiro, tem-se a incriminação da pessoa que é responsável pelo site, ou seja, que assegura os meios ou serviços para o armazenamento das imagens; Ainda, pune-se a conduta do responsável pelo provedor, ou seja, quem assegura o acesso à rede mundial de computadores das imagens criminosas. Em razão do disposto no parágrafo segundo, a conduta somente passa a ser punível quando houver a notificação do órgão oficial e, mesmo assim, não for desabilitado o acesso às imagens pornográficas. Trata-se de condição objetiva de punibilidade, ou seja, não se pode punir sem que tenha havido a notificação. A prescrição, da mesma forma, apenas terá início, quando houver o escoamento do prazo da notificação oficial para que o serviço seja desabilitado. Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente: Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. § 1º A pena é diminuída de 1 (um) a 2/3 (dois terços) se de pequena quantidade o material a que se refere o caput deste artigo. § 2º Não há crime se a posse ou o armazenamento tem a finalidade de comunicar às autoridades competentes a ocorrência das condutas descritas nos arts. 240, 241, 241-A e 241-C desta Lei, quando a comunicação for feita por: I – agente público no exercício de suas funções; II – membro de entidade, legalmente constituída, que inclua, entre suas finalidades institucionais, o recebimento, o processamento e o encaminhamento de notícia dos crimes referidos neste parágrafo; III – representante legal e funcionários responsáveis de provedor de acesso ou serviço prestado por meio de rede de computadores, até o recebimento do material relativo à notícia feita à autoridade policial, ao Ministério Público ou ao Poder Judiciário. § 3º As pessoas referidas no § 2º deste artigo deverão manter sob sigilo o material ilícito referido. Trata da punição relativa ao usuário do conteúdo pornográfico, a pessoa que adquire o material sexual envolvendo criança e adolescente. É o “usuário” do material pornográfico. Aliás, a pessoa para quem é feito o material pornográfico – apenas existe a produção de cenas de sexo e pornográficas envolvendo criança e adolescente em razão de que existem pessoas que vão adquirir este material. A grande inovação legislativa foi agora a punição de pessoa que mantém, em seu computador pessoal/particular, imagens contendo pornografia envolvendo criança e adolescente. A minorante se refere a pequena quantidade de material encontrado. O caso concreto é que vais dizer o que é pequena quantidade de material apreendido. Neste caso, o juiz deverá reduzir a pena na terceira fase de sua aplicação. O parágrafo segundo trata de uma causa de exclusão da ilicitude. Ou seja, a conduta é típica, mas lícita, pois a lei fala que não há crime, somente quando comunicada a existência de material por aquelas pessoas mencionadas nos incisos. O material, da mesma forma, não poderá ter sido objeto de a DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 10 divulgação. Mais uma vez perceba-se a vontade absoluta da lei de fazer com que o material pornográfico não circule. Art. 241-C. Simular a participação de criança ou adolescente em cena de sexo explícito ou pornográfica por meio de adulteração, montagem ou modificação de fotografia, vídeo ou qualquer outra forma de representação visual: Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem vende, expõe à venda, disponibiliza, distribui, publica ou divulga por qualquer meio, adquire, possui ou armazena o material produzido na forma do caput deste artigo. Trata, na verdade, de caso comum nos dias de hoje, em razão dos avanços tecnológicos existentes nos produtos que capturam as imagens e dos infindáveis programas de computador utilizados para este fim. O resultado final é o mesmo, pois a lei visa a impedir a participação, por qualquer modo, real ou por meio de montagem, de criança ou adolescente em cenas/conteúdo de sexo e pornografia. A eventual falsificação utilizada, como crime meio que é, resta absorvida por este tipo penal. Ou seja, a pessoa não produziu as imagens com crianças e adolescentes, mas pratica o crime em razão de que utiliza, por meio de montagem, criança ou adolescente, em cenas de sexo. Por fim, é crime, ainda que produto de falsificação ou adulteração, a pessoa que passa adiante o material pornográfico/de sexo explícito ou, de qualquer forma, permita ou faça circular o material pornográfico. Art. 241-D. Aliciar, assediar, instigar ou constranger, por qualquer meio de comunicação, criança, com o fim de com ela praticar ato libidinoso: Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem: I – facilita ou induz o acesso à criança de material contendo cena de sexo explícito ou pornográfica com o fim de com ela praticar ato libidinoso; II – pratica as condutas descritas no caput deste artigo com o fim de induzir criança a se exibir de forma pornográfica ou sexualmente explícita. Aliciar tem o sentido de trair, seduzir, angariar. Assediar possui o significado de perseguir com insistência, importunar, molestar. Instigar tem o sentido de incitar, estimular. Constranger possui o significado de forçar, coagir. Trata da incriminação de pessoa que, por qualquer meio de comunicação, desperte e incite a criança ou adolescente, por meio de convite, oferta, promessa de vantagem, com o fim especial de com ela praticar ato libidinoso. É preciso que o sujeito ativo tenha o fim especial de com a criança ou adolescente praticar ato libidinoso. Tal crime não exclui a pena que houver em razão da violência ou do crime contra a violência sexual eventualmente cometidos. No parágrafo único, tem-se a punição da pessoa que permita, seja por facilitação, seja por induzimento, o acesso de criança ao conteúdo ilícito, visando a facilitar a prática de ato libidinoso com a vítima. No inciso II tem-se a conduta de quem atrai/chama a criança para com ela praticar ato libidinoso, fazendo com que a vítima se exponha/exiba de forma a que exista a conotação sexual/pornográfica. Art. 241-E. Para efeito dos crimes previstos nesta Lei, a expressão “cena de sexo explícito ou pornográfica” compreende qualquer situação que envolva criança ou adolescente em atividades sexuais explícitas, reais ou simuladas, ou exibição dos órgãos genitais de uma criança ou adolescente para fins primordialmente sexuais.” A lei, mais uma vez, deixa claro que o objetivo da punição é a prática de qualquer ato relacionado com sexo/pornografia, ainda que não seja explícito, mas que importe em exibição de a DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 11 órgãos genitais de criança ou adolescente. Tanto isso é verdade que a própria lei explica o que se deve entender por atividade relacionada a sexo ou pornografia. O alcance da lei é somente para ato que tenha ou vise ao sexo e à pornografia. Oobjetivo é punir a pedofilia, desde a sua criação, passando pela circulação do material, principalmente pela internet, e chegando, finalmente, à punição do destinatário final, ou seja, o consumidor destes produtos, a razão de toda a atividade. Não houvesse o consumo deste material, não haveria a sua produção. ARTIGO 242: Este artigo foi derrogado pelo art. 16, parágrafo único, inciso V, do estatuto do desarmamento, pois resta apenas a figura, no Estatuto da Criança e do Adolescente, quando se tratar de arma branca ou de arremesso de gás. Evidentemente que o artigo em questão não abrange a omissão de cautela para evitar que menores se apoderem de armas, crime previsto no art. 13 da Lei n.º 10.826/03, que é culposo. ARTIGO 243: Trata da venda de produtos que não caracterizem droga, pois, do contrário, haveria a incidência do art. 33 da Lei de Drogas. Trata, por exemplo, da venda de cigarros a criança ou adolescente, de cola de sapateiro, etc. Segundo jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, a venda de bebida alcoólica a criança e adolescente é fato atípico. ARTIGO 244: Apenas haverá crime quando o explosivo tiver potencial ofensivo. Quando não houver qualquer risco à criança ou ao adolescente, o fato será atípico. Trata da venda, fornecimento ou entrega, de forma onerosa ou gratuita, de fogos de estampido ou de artifício. A consumação ocorre com a efetiva venda, admitindo, portanto, a tentativa. ARTIGO 244-A: Este crime foi revogado tacitamente pelo artigo 218-B do Código Penal, que tratou de forma posterior e mais ampla sobre a matéria. ART. 244-B: Artigo acrescentado pela recente reforma dos crimes contra a dignidade sexual, revogando a Lei n.º 2.252/54, que tratava da corrupção de menores. Coerente a reforma colocando o crime no Estatuto da Criança e do Adolescente, pois a vítima é a criança ou o adolescente. Atentar para a discussão sobre a ocorrência do crime quando o menor de dezoito anos já estiver corrompido, pois seria caso de crime impossível. O parágrafo primeiro trata da situação de que o crime ocorre por qualquer meio de comunicação, inclusive em salas de conversas, via internet, muito comum nos dias de hoje. Por fim, o parágrafo segundo trata de causa de aumento de pena quando a corrupção for para a prática de crimes hediondos o equiparados. a DELEGAÇÃO DE SERVIÇOS NOTARIAIS E REGISTRAIS DO RS ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 12
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